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Livros Acadêmicos

3.2 Desafios da pesquisa científica desenvolvidas na graduação no cenário “pós-pandemia”

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Fernanda Ribeiro Marins [1]

Marcelo Limborço-Filho [2]

 Patrick Costa Ribeiro Silva [3]

DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/livros/700

 

A ideia de transformar a realidade das pessoas é um dos valores do ensino superior e consequentemente das instituições que o ofertam já que, apesar do clichê, a educação é a melhor maneira de se tornar uma pessoa crítica.

Nesse contexto mais do que inovação estrutural, as instituições precisam educar e ensinar de maneira disruptiva, seguindo os princípios de igualdade e respeitando a diversidade, acessibilidade e tecnologia.

A pandemia da COVID-19, ainda que se trate de uma questão de saúde pública, afetou o cenário mundial em seus mais diversos campos, ocasionando consistentes mudanças econômicas, políticas, sociais e, também, ao campo educacional. Diante da paralisação compulsória foi imprescindível discutir no contexto educacional o uso das tecnologias educacionais para realização de atividades escolares não presenciais. É importante frisar que, logo no primeiro momento, houve uma busca das instituições superiores por disponibilizar ferramentas online para a realização de atividades não presenciais, distanciando-se do conceito de Educação a Distância (EAD), com aulas síncronas e equipe para atender aos alunos. Contudo, diante da situação emergencial, houve a necessidade de concentrar esforços dos professores em reaprender, possibilitando o desenvolvimento de situações de aprendizagem remota, sendo a tecnologia, uma das principais ferramentas. Diante disso, foi demandada, por parte dos docentes, a capacidade de experimentar, inovar, sistematizar e avaliar os conhecimentos, fazendo o melhor uso possível dessas ferramentas, cujo uso, para muitos, era até então desconhecido. Esse período provocou também muitas reflexões – ou lições, ainda que iniciais – acerca do que precisará ser mudado no Ensino Superior no “pós-pandemia”.

A primeira destas reflexões refere-se ao fato de que quem apenas segue currículos, sem estabelecer relações diretas com seu público e com a realidade que o cerca, não entendeu o mandato educacional. Ou seja, não é prática viável apenas transpor os conteúdos dos documentos curriculares, prescindindo dos pilares do que constitui o fazer docente: o planejamento, a seleção de conceitos e objetos de conhecimento, a reflexão acerca do que, a quem e para que queremos ensinar. É necessário ter claro que, ainda neste momento ocorram de forma não presencial, estas são práticas de ensino e possuem, portanto, caráter intencional. Ademais, é necessário buscar novas adequações didático-metodológicas. São diferentes tempos, diferentes espaços, ambientes diferentes de aprendizagem e, além disso, os estudantes possuem condições desiguais de formação e de conhecimento. Diante disso, revela-se a segunda reflexão: cabe ao Ensino Superior, neste momento, provar que a flexibilidade trazida pela pandemia precisa deixar como legado projetos adaptados à situação, envolvendo a leitura, vídeos, situações de aprendizagem vinculadas à experiência social e enfrentamento de dinâmicas que desenvolvam Hard e Soft Skills de maneira conjunta e complementar. O terceiro ponto refere-se ao fato da necessidade de individualização do ensino e dos processos avaliativos para que as avaliações mensurem não somente o conhecimento técnico da disciplina, mas também a capacidade de aplicação dele. Adicionalmente, é imprescindível que seja atribuído maior enfoque na parte prática da formação discente, destinando um olhar atento ao que o mercado exige dos egressos. O enfoque prático da formação dos egressos pode ser construído através da leitura crítica, aprendizado da escrita clara e consistente e pesquisa de campo e bibliográfica que deve estar associada as necessidades das empresas e da sociedade que cerca a instituição. Os projetos de pesquisas devem ir além dos planejamentos convencionais, pensando em como reinventar as aprendizagens de forma a proporcionar autonomia e inovação aos nossos alunos, sem prejuízo pedagógico promovendo um ensino ativo.

Contextos de execução da pesquisa científica por alunos de graduação no pós- pandemia

Ferreira, Morais e Carpes (2020), em um relato de caso apontam a importância da adequação dos métodos científicos e das orientações às tecnologias e ao contexto dos rigores científicos. Destacam ainda que apesar desafiadora a importância da curiosidade sobre as linhas de pesquisa ser despertadas por todas as disciplinas independente do período do estudante de graduação, já que participação em grupos de estudos, seminários, reuniões, orientação e aulas com convidados externos (brasileiros e também internacionais), fomentando a troca de conhecimentos e experiências.

Por sua vez, Serafim e Leite (2021) destacam que a formação acadêmica e profissional devem estar atrelados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), sendo 4 deles conectados ao ensino superior e consequentemente ao exercício dos egressos em suas funções profissionais, no tecido social e produtivo de uma sociedade. Para tanto, a Universidade deve estabelecer o tripé ensino, a função de criação (pesquisa) e a terceira missão (extensão). Entre os ODS a interface com as políticas públicas é de precioso interesse pois se estabelece a partir de diagnósticos, embasados em evidências empíricas geradas no rigor científico de pesquisas acadêmicas. Essa construção de pesquisas buscando temas entrelaçados com a necessidade da sociedade e conceitos pré-estabelecidos são importantes vertentes da pesquisa a ser explorados pelas Instituições de ensino superior no cenário pós-pandêmico.

A importância da pesquisa e, também, o desafio de realizar pesquisa científica no Brasil foi destacado por inúmeros meios de comunicação, incontáveis vezes durante a pandemia. Apesar de ser um país de mentes brilhantes, grandes cientistas e pesquisadores nas mais diversas áreas, o Brasil enfrenta uma desvalorização dessa profissão o que pode se tornar um fator que diminui a adesão dos alunos de graduação aos departamentos de pesquisa. Pesquisa precisa ser planejada e pesquisadores precisam ser formados. Assim como destacado no editorial Tonelli e Zambaldi (2020) a pesquisa pós-pandemia será reconstruída: revistas científicas, em várias áreas, já fazem chamadas para artigos que tratem desse novo cenário; centros de pesquisas nacionais e internacionais se associam para desenvolver projetos comuns e órgãos financiadores propõem verbas para projetos ainda distantes do necessário, mas são perspectivas de um futuro melhor. Os autores sugerem como caminhos as colaborações e o pensamento crítico.

Adicionalmente é essencial lembrar a importância da mudança de perfil do professor do ensino superior.  O ensino superior está em um período de transição, de apropriação e de compreensão sobre as necessidades que estão surgindo frente aos desafios do contexto pós-pandemia, no qual é importante a ressignificação dos processos educacionais e reorganização curricular (SANTOS e COLABORADORES, 2020)

No mesmo sentido, Gatti, Shaw e Pereira (2021) destacam as possibilidades de ação das universidades, nesse cenário e a necessidade de repensar a formação de professores e da pesquisa no país.

Conclusões

A interação é ponto primordial das relações de ensino-aprendizagem na pesquisa é espaço de atuação autônoma e coletiva, de vivências e interação, mas também onde as tecnologias podem e devem cumprir o importante papel de apoio dos processos de ensino e de aprendizagem. Acompanhar as rápidas transformações da sociedade moderna que trazem significativos impactos nas formas de ensinar e aprender; promover o protagonismo dos acadêmicos, de forma a assumir um papel ativo frente ao processo de aprendizagem; promover uma aprendizagem para o ser, o fazer, conhecer e conviver conforme preconiza a proposta da UNESCO para a Educação do século XXI.

Referências

FERREIRA, Vitória; MORAIS, Ana Carolina Lamberty; CARPES, Felipe Pivetta. A inserção na iniciação científica em tempos de pandemia: um relato de experiência. Anais do Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão, v. 12, n. 1, 20 nov. 2020.

GATTI, Bernardete Angelina; SHAW, Gisele Soares Lemos; PEREIRA, Jocilene Gordiano Lima Tomaz. Perspectivas para formação de professores pós pandemia: um diálogo.  Revista Práxis Educacional, ISSN-e 2178-2679, Vol. 17, Nº. 45, 2021 (Ejemplar dedicado a: Dossiê: Educação e cultura digital na Covid-19 (abr/jun)), 25 págs

SANTOS, G. M. T. dos; REIS, J. P. C. dos; MÉRIDA, E. C.; RANGEL, E. L. F.; FRICH, A. A. Educação superior: reflexões a partir do advento da pandemia da COVID-19. Boletim de Conjuntura (BOCA), Boa Vista, v. 4, n. 10, p. 108–114, 2020. DOI: 10.5281/zenodo.4073037. Disponível em: https://revista.ioles.com.br/boca/index.php/revista/article/view/58. Acesso em: 26 dez. 2022.

SERAFIM, Milena Pavan e LEITE, Juliana Pires de Arruda. O papel das Universidades no alcance dos ODS no cenário do “pós”-pandemia. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior (Campinas) [online]. 2021, v. 26, n. 02 [Acessado 26 Dezembro 2022], pp. 343-346. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1414-40772021000200001>. Epub 19 Jul 2021. ISSN 1982-5765.

TONELLI, Maria José e ZAMBALDI, Felipe. Pesquisa em tempos de pandemia. Revista de Administração de Empresas [online]. 2020, v. 60, n. 2 [Acessado 26 Dezembro 2022], pp. 82-83. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0034-759020200201>. Epub 15 Maio 2020. ISSN 2178-938X. https://doi.org/10.1590/S0034-759020200201.

[1] Fisioterapeuta; Residência Pós-doutoral em Fisiologia e Farmacologia UFMG; Professora e Pesquisadora da Faculdade UNIS São Lourenço. Diretora Acadêmica da Faculdade UNIS São Lourenço. Vinculada ao Departamento de Pesquisa Fundação de Ensino e Pesquisa do Sul de Minas (FEPESMIG/UNIS).

[2] Biólogo; Doutor em Fisiologia e Farmacologia UFMG.

[3] Profissional de Educação Física; Doutor em Ciências do Esporte; Professor e pesquisador na Fundação de Ensino e Pesquisa do Sul de Minas (FEPESMIG); Pesquisador no Departamento de Pesquisa da Fundação de Ensino e Pesquisa do Sul de Minas (FEPESMIG/UNIS); Líder do Núcleo de Pesquisa da Faculdade Unis São Lourenço (FUSAL).

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Capa do Livro

Reflexões, Proposições e Desafios na Construção do Conhecimento Acadêmico e Científico no Brasil: 2022

DOI do Capítulo:

10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/livros/

700

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10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/livros/

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