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Diversidade Cultural e Aprendizagem Significativa na Construção da Cidadania

RC: 5236
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CONTEÚDO

PAVAN, Fabiana Cruz [1]

PAVAN, Fabiana Cruz. Diversidade Cultural e Aprendizagem Significativa na Construção da Cidadania. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 1. Vol. 9. Pp 632-647., outubro / novembro de 2016. ISSN. 2448-0959

RESUMO

O projeto de ensino Diversidade cultural e aprendizagem significativa na construção da cidadania, com a linha docência nas séries iniciais do ensino fundamental, foi elaborado com objetivos de valorizar a aprendizagem significativa, pois todo indivíduo necessita saber da sua história, reconhecer o seu meio cultural, assim como as diversidades presentes no dia a dia. Os profissionais da educação são responsáveis por mediar uma aprendizagem a partir da realidade, considerando as experiências de seus alunos. O objetivo deste projeto é levar o educando a reconhecer-se como sujeito histórico, que produz cultura e que seja agente transformador e construtor da sua história. Os conteúdos listados são a história e o hino da cidade, as manifestações culturais, os monumentos históricos, paisagem urbana e rural e suas modificações no tempo e uma aula de campo, para perceber as mudanças, questões de infra-estrutura, cuidados e limpeza. As atividades desenvolvidas serão bastante criativas e interativas. As propostas de leitura, produção textual, descrição de imagens, confecção de livros decorados, maquetes serão fundamentais para consolidação dos objetivos propostos. Para as atividades foram utilizadas folhas de papel A4, lápis de cor, canetinha, livros de pesquisa, cartolinas, materiais de artesanato e recicláveis. Os alunos serão avaliados de forma contínua, quanto ao desempenho e habilidade expressos na realização das tarefas. O tempo de realização será de acordo com o cronograma e a rotina. Contribuíram para este trabalho, importantes escritores entre eles Paulo Freire, Vera Maria Candau, José Gimeno Sacristán , Philippe Perrenoud, David Ausubel, Ana Maria Salgueiro Caldeira entre outros.

Palavras–chave: Diversidade, cultura, aprendizagem significativa, cidadania.

INTRODUÇÃO

O tema Diversidade cultural e aprendizagem significativa na construção da cidadania foi escolhido levando em consideração que a escola tem a função de fornecer instrumentos necessários para que o aluno faça a leitura compreensiva do mundo, afim de que ele possa assumir o controle da aquisição do saber e de sua formação contínua, baseada nas vivências cotidianas e históricas da qual sua comunidade construiu com o passar do tempo. Valorizando a diversidade cultural e compreendendo a sua importância na construção da cidadania como forma de comunicação para um aprendizado cotidiano. Esta temática foi desenvolvida na linha de docência para os anos iniciais do Ensino Fundamental, uma pesquisa cujo foco é ressaltar a importância do desenvolvimento integral do futuro cidadão.

A cidadania deve ser considerada o espírito de uma nação, somente um povo participante na luta e na efetivação dos direitos, na valorização da história, da cultura, da sua formação, é um povo comprometido com a soberania e prevalência dos direitos humanos. Este Projeto de Ensino propõe a valorização da cultura, da história construída e a influência que esta bagagem cultural tem na formação atual e futura da sociedade.

Então, o que é diversidade cultural? O que é cidadania? Qual a relação entre cultura e cidadania? A educação é um instrumento de formação da cidadania? O reconhecimento da cultura local tem importância para uma aprendizagem significativa? Aprender a ser cidadão é, entre outras coisas, aprender a agir com respeito, responsabilidade, justiça, não violência; aprender a usar o diálogo, estabelecer vínculos culturais e comprometer-se com o que acontece na vida da comunidade e do próprio país.

O objetivo deste projeto é levar o aluno a interagir com as práticas culturais da sua comunidade, com a sociedade diversificada em que está inserido a reconhecer-se como sujeito construtor da sua história e transformador da realidade, assumir princípios éticos que expressam situações reais. Desenvolver a capacidade de analisar e eleger valores, trabalhando o saber de forma prazerosa, enriquecendo e valorizando a diversidade, no processo de socialização.

Desenvolvido para uma linha de docência nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, o projeto traz conteúdos como a História local; manifestações culturais, monumentos históricos; fotos e fatos que retratam e resgatam momentos da sua vida em família no decorrer dos anos; hino local; reconhecimento da comunidade, necessidades e expectativas futuras.

O primeiro momento será trabalhado a História da cidade de São José de Ubá,RJ, através pesquisas. Na segunda etapa serão apresentadas, manifestações culturais da cidade, que serão representadas em um grande livro ilustrado. Na terceira parte serão listados os monumentos históricos da cidade e os alunos os representarão através de maquetes. No quarto momento, através de fotos antigas e atuais trazidas pelos alunos trabalhar a construção da sua história no decorrer do tempo na comunidade e a transformação das paisagens. O quinto momento, sobre o hino local. A sexta fase do projeto será realizada uma aula de campo, uma caminhada nas proximidades da escola para que os alunos registrem com anotações e fotos o que poderia ser melhorado na localidade. Após, cada aluno irá fazer um texto descrevendo a realidade e o que gostariam que mudasse, este texto será guardado em uma cápsula do tempo, durante dez anos e aberta por eles, em um encontro futuro. O projeto culminará com a apresentação dos trabalhos realizados.

Os recursos utilizados serão livros, folhas de papel A4, emborrachado, botões, tecidos, vários tipos de papéis e texturas, fitas, colas, tesoura, caixas de vários tamanhos, tintas, pincéis, celulares e máquinas fotográficas.

O aluno será avaliado de maneira contínua, nas ações durante as atividades propostas, no envolvimento e habilidades desenvolvidas.

Para Candau (2003) a cultura é um componente ativo na vida do ser humano. Já Forquin (2003), para educar e ensinar é necessário estar no meio cultural. Gimeni Sacristán (2001) esclarece que o conhecimento cultural não é um padrão a ser seguido. McCarthy (1998) estabelece a importância do cruzamento de culturas e Paulo Freire (2006) descreve esta valorização nas relações com o outro. E assim Ausubel destaca a aprendizagem significativa, Perrenoud e Santos (2002) fala da importância do trabalho do professor mediante a aprendizagem, promovendo a valorização cultural e formação ética e social.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

A formação do ser humano começa na família e nela se inicia o processo de humanização e libertação, caminho que busca fazer da criança um ser civilizado, e bem cedo a escola participa desse processo. Com o conhecimento adquirido na escola, o aluno se prepara para a vida, passa a ter o poder de transformar e modificar o mundo a sua volta. Educar é um ato que visa à convivência social e cultural, a cidadania e a tomada de consciência política.

A educação escolar, além de ensinar o conhecimento científico, deve preparar as pessoas para o exercício da cidadania. A cidadania é entendida como o acesso aos bens materiais e culturais produzido pela sociedade, e ainda significa o exercício pleno dos direitos e deveres previstos pela Constituição da República.

Mais do que uma característica essencial de uma sociedade, a cultura pode ser considerada como o elemento principal que difere uma nação da outra. Os costumes, a música, a arte e, principalmente, o modo de pensar e agir, fazem parte da cultura de um povo e devem ser preservados para que nunca se perca a característica que os diferencia, que os torna singulares.

Cada pessoa pertence a uma determinada nação, agrega valores culturais, os quais a levarão a expressar-se de forma específica e tornando um mecanismo de adaptação importante, pois se alia a fatores cumulativos. As modificações que se desenvolveram e que foram trazidas por uma geração, passam para uma geração seguinte, e se complementam ao melhorar aspectos para futuras gerações.

A cultura pode ser entendida como tudo que é produção humana, ou seja, é a maneira que cada indivíduo possui de falar, vestir, comer, manifestar-se. Candau (2003) afirma que a cultura é um fenômeno plural, multiforme que não é estático, mas que está em constante transformação, envolvendo um processo de criar e recriar. É por sua vez um componente ativo na vida do ser humano e manifesta-se nos atos mais corriqueiros da conduta do indivíduo e não há indivíduo que não possua cultura, pelo contrário cada um é criador e propagador de cultura. E na escola, ocorre o encontro das culturas produzidas na sociedade, nas comunidades das quais os alunos fazem parte e eles chegam ao ambiente escolar carregados de informações e estas irão ao encontro do saber institucional, acrescentando e transformando. A abertura da escola à cultura de seu território, a escolha de um currículo que valorize a pluralidade e a diversidade cultural local, o intercâmbio da escola com produções e produtores de cultura na sociedade são alguns caminhos para unir educação e cultura.

Educação e cultura estão ligadas uma a outra, pois se partir do pressuposto de que educar é formar e socializar o indivíduo, ou se ver a educação como maneira de dominação escolar, sempre essa educação será de alguém para alguém, que para acontecer necessita de comunicação, transmissão e aquisição do conteúdo da educação (crenças, conhecimentos, hábitos, valores, entre outros). Forquin, 2003 afirma essa idéia:

Educar, ensinar, é colocar alguém em presença de certos elementos de cultura a fim de que este alguém deles se nutra, os incorpore à sua substância e construa sua identidade intelectual e pessoal em função deles. (p. 24)

O cotidiano escolar, onde ocorre o desenvolvimento da aprendizagem também permite uma afetiva reconstrução do conhecimento quando se dá espaço para a integração entre as diferentes maneiras de expressão, abrindo possibilidades de a escola reconhecer efetivamente o aluno como sujeito da reconstrução do conhecimento. Todos os conceitos educacionais são renovados a cada geração, visto que em cada momento e época histórica os indivíduos têm uma determinada visão de mundo, bem como um conjunto de conhecimentos e de valores. Essa renovação não quer dizer que se esqueça o velho conceito, mas que esteja considerando as novas maneiras de viver que caracteriza um grupo ou sociedade.

As relações entre escola e cultura fazem parte do processo educativo, não havendo educação que não esteja imersa na cultura da humanidade e particularmente do momento histórico em que se situa. Esta é uma reflexão que faz parte do desenvolvimento do pensamento pedagógico. Forquin afirma “a cultura é o conteúdo substancial da educação (…) a educação não é nada fora da cultura e sem ela. Mas, reciprocamente, dir-se-á que é pela e na educação (…) que a cultura se transmite e se perpetua (p. 14)

A escola é uma instituição construída historicamente, em diferentes contextos culturais e sempre foi considerada como mediadora ao desenvolver a primordial função social: transmitir cultura. Surgem indagações quanto a esse saber, essa cultura transmitida. O que se entende por produções culturais significativas? Quem define os aspectos da cultura, das diferentes culturas que devem fazer parte dos conteúdos escolares? Como as mudanças e valores no decorrer do tempo são transmitidos? O que é considerado cultura pela sociedade, que vem sendo reproduzida na escola?

Segundo Gimeno Sacristán (2001, p. 21),

“A educação contribuiu consideravelmente para fundamentar e para manter a idéia de progresso como processo de marcha ascendente na História; assim, ajudou a sustentar a esperança em alguns indivíduos, em uma sociedade, em um mundo e em um porvir melhores. A fé na educação nutre-se da crença de que esta possa melhorar a qualidade de vida, a racionalidade, o desenvolvimento da sensibilidade, a compreensão entre os seres humanos, o decréscimo da agressividade, o desenvolvimento econômico, ou o domínio da fatalidade e da natureza hostil pelo progresso das ciências e da tecnologia propagadas e incrementadas pela educação. Graças a ela, tornou-se possível acreditar na possibilidade de que o projeto ilustrado pudesse triunfar devido ao desenvolvimento da inteligência, ao exercício da racionalidade, à utilização do conhecimento científico e à geração de uma nova ordem social mais racional. ”

Este é um modelo de educação que seleciona saberes, valores e práticas que considera adequado ao seu desenvolvimento. Modelo que seleciona e que dá idéia à falsa igualdade de direitos e de acesso a informação, à escola. Esta padronização do conhecimento não atinge a todos que dele necessitam, esta maneira equivocada de que o conhecimento cultural é um padrão a ser seguido desmerece a toda cultura produzida por todas as classes sociais. Percebe-se a existência de uma visão homogênea e padronizada dos conteúdos e dos sujeitos presentes no processo educacional. E como ficam aqueles sujeitos que não estão adequados a esta prática monocultural da educação?  A escola é na verdade um espaço de cruzamento, conflitos e diálogos entre diferentes culturas. Assim Pérez Gómez (1998) propõe que entendamos hoje a escola como um espaço de “cruzamento de culturas”, por isso torna-se importante que o profissional da educação veja o universo escolar como um lugar onde as culturas se entrelaçam, permitindo que haja uma comunicação entre elas e que as mesmas sejam respeitadas e de maneira construtiva este saber seja alavanca para a aquisição de novos conhecimentos.

Reconhecer os diferentes sujeitos socioculturais presentes no contexto escolar, abrir espaços para manifestações e valorização das diferenças é o grande desafio a enfrentar. Desconsiderar a diversidade cultural na prática educativa é negar o multiculturalismo presente e evidente, para McCarthy (1998), em sua discussão sobre o processo de hibridização cultural, trocas de informações entre as culturas, é essencial que nos situemos, na prática pedagógica multicultural, além da visão das culturas como interrelacionadas, como mutuamente geradas e influenciadas, e procuremos facilitar a compreensão do mundo pelo olhar do subalternizado.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), é função da escola, abordar a pluralidade cultural com as crianças logo nas primeiras séries do ensino fundamental. Do primeiro ao quinto ano, elas estão começando a formar opiniões e a adotar valores. É preciso que pais e professores estejam cientes de que eles influenciam o modo de agir e de pensar das crianças. O professor exerce papel fundamental na construção da identidade do aluno; é um sujeito sócio-cultural no espaço educacional, devendo ser um profissional que busque uma formação acadêmica e humana melhor, para que na escola ele busque a humanização das pessoas, devendo assumir um caráter de desenvolvimento das práticas e não uma ruptura com a história e com a realidade. Ao discutir os temas propostos pelos PCNs, fica claro que ao explorar ideias e diferentes opiniões, os alunos interagem entre si, com o professor, com a comunidade escolar e com a sociedade. Essa troca de conhecimento permite que os discentes tenham uma aprendizagem bastante significativa, pois eles conseguem traçar um paralelo entre a teoria discutida em sala de aula com a prática, ou seja, com as suas experiências adquiridas fora do ambiente escolar. Assim, a teoria e a prática são trabalhadas em conjunto a fim de alcançar um equilíbrio que beneficie a convivência em sociedade e faça do aluno um cidadão consciente, de que a diversidade cultural é importante para a interação entre as pessoas. As variadas concepções de mundo, o compartilhar de idéias, sonhos e princípios provenientes de diferentes culturas se somam e se complementam resultando na formação de identidades.

Segundo Paulo Freire:

É preciso que a educação esteja – em seu conteúdo, em seus programas e em seus métodos – adaptada ao fim que se persegue: permitir ao homem chegar a ser sujeito, construir-se como pessoa, transformar o mundo, estabelecer com os outros homens relações de reciprocidade, fazer a cultura e a história […] uma educação que liberte, que não adapte, domestique ou subjugue. (2006, p. 45)

Toda educação assim construída, na valorização das trocas do saber cotidiano e da realidade do aluno, das relações com o outro, torna a aprendizagem e a construção do conhecimento, cheias de significados. Práticas pedagógicas assim desenvolvidas conseguem atingir relevantes resultados na vida social, intelectual, política e cultural do aluno. A postura do profissional da educação a frente desta aprendizagem é fator fundamental, pois uma das grandes preocupações da educação escolar diz respeito à aprendizagem dos alunos, visto que é necessário que eles apropriem de novos conhecimentos, resultando no seu desenvolvimento cognitivo. Nem sempre este processo é tão simples, pois pode acontecer de o aluno aprender mecanicamente, sem ter noção do real significado das informações que estão sendo passadas. Por isso é importante possibilitar a aprendizagem significativa, sendo mais facilmente internalizada com menor probabilidade de ser esquecida.

A aprendizagem profunda acontece quando o aluno busca entender o significado do que estuda, fazendo relação com o que aprendeu anteriormente, compreendendo e interagindo com os mesmos. Dessa maneira torna-se fundamental que o professor seja suporte para os alunos, organizando o trabalho e o tempo pedagógico de forma que os alunos se sintam motivados a entrarem no mundo do conhecimento.

A escola, na perspectiva de construção da cidadania, precisa assumir a valorização da sua cultura, ultrapassando limites, propiciando aos alunos o acesso ao saber. É na escola que professores e alunos interagem e constroem conhecimentos, como espaço de formação que leve à aprendizagem de conteúdos que venham a favorecer ao aluno no dia-a-dia, dando oportunidade de desenvolver capacidades, habilidades, para compreender os fenômenos sociais, culturais, econômicos e, além disso, poder intervir para promover o desenvolvimento e a socialização. A prática escolar constitui de forma sistemática, planejada e contínua, a escola precisa de ter uma prática a fim de contribuir para que o aluno se aproprie dos conteúdos de maneira crítica e construtiva e é no cotidiano escolar que o professor adquire saberes essenciais para desenvolver uma prática pedagógica eficiente.

Perrenoud (2002) afirma que o professor em seu trabalho deve criar situações que estimulem a capacidade de raciocínio de seus alunos, utilizando métodos alternativos para facilitar e desenvolver o conhecimento, as habilidades destes. Observa-se que cada momento histórico o professor tem uma tendência, constrói sua prática e docência.

As constantes transformações no mundo, culturais, científicas, sociais, enfim, refletem na educação e no modo de educar, de ensinar e de formar futuros cidadãos. O professor não pode ficar estático, pois o modo de ensinar de anos atrás nem sempre vai ser eficaz nos tempos atuais e se não está preparado é preciso que se capacite.

O professor necessita estar conectado com o processo educativo, percebendo nas suas vivências, metodologias e as formas de promover a aprendizagem que realmente podem funcionar como estratégias para mediar à construção do conhecimento de seu aluno. Outro fator, é que no decorrer do tempo, ocorrem mudanças estruturais e históricas, em que o docente deve estar atento, enfim, nem tudo tem continuidade.

Construir a cidadania, fortalecer os vínculos dos futuros cidadãos na construção da sua história e da sociedade é trabalho fundamental. Trabalhar a cultura e suas multiplicidades atreladas a uma aprendizagem significativa, em que o trabalho do professor é de primordial importância, pois ele conduz e media as relações entre o saber prévio e o novo saber, e promover o desenvolvimento de atividades que despertem a formação de uma consciência crítica e reflexiva.

O “preparo para o exercício da cidadania” (BRASIL, 1996 art. 2), segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) é uma das finalidades da Educação Brasileira. Dessa forma, a cidadania está inclusa em um dos objetivos apresentados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), o qual destaca a necessidade dos alunos serem preparados para o exercício da cidadania. Cidadania que aponta o sujeito como titular de direitos e deveres e coloca todos os indivíduos como iguais perante a lei. Então, cidadão é aquele que mediante suas ações busca sua inserção efetiva na sociedade. Sendo a escola uma instituição que possibilita a formação deste cidadão e local de aprendizagem e de convivência social, promover ações que fomentem relações éticas e democráticas de respeito às diferenças e a diversidade, é sua função.

O ser humano convive com outras pessoas com os mesmos direitos e deveres, porém com características diferentes e é nesse contexto que a cidadania instala-se como ferramenta primordial para a vida em sociedade, na busca pela harmonia entre os demais. Direitos e deveres de um cidadão devem fazer parte do contexto social, devem ser ensinados desde a infância, devem ser compreendidos como respeito mútuo, como regras, limites, pressupostos básicos para o convívio.

Exercer a cidadania é uma atitude que depende da cultura e está relacionado à economia e política de uma sociedade. Para que o indivíduo possa lutar por seus direitos, ele precisa primeiramente conhecê-los. Para o exercício de uma cidadania ativa é necessário educar os indivíduos para a liberdade de pensamento, para o senso crítico, para a não passividade diante das informações, para a não repetição daquilo que é imposto, para a construção de novos conceitos. A educação media a construção para a cidadania, pois oferece instrumentos para a plena realização desta participação motivada e competente, na união dos interesses pessoais e sociais.

[…] criar situações de aprendizagem interdisciplinar; desencadear situações para a acção em situações reais que ponham os alunos em contacto com o processo de resolução de problemas – estratégia privilegiada na identificação e formulação de soluções para os problemas; relevar aspectos éticos, econômicos, sociais e políticos dos problemas tratados; trazer para o ensino das ciências valores relacionados com os contextos da acção […] (SANTOS, 2002, p. 60)

A formação integral do ser humano compreende educar para a ética e solidariedade, para a vida em comunidade e a participação ativa na sociedade, desenvolver o pensamento crítico, criativo e reflexivo. A cidadania desenvolve-se e estimula-se desde a infância, fazendo parte da cultura de uma sociedade e prepara o indivíduo a priorizar o bem comum, para que as pessoas vivam de maneira fraterna, com hábitos de solidariedade, justiça, partilha, verdade e respeito às diferenças.

Portanto, a escola possui todas as ferramentas para iniciar e estimular essa educação cidadã, não só debater e formar opiniões, mas como também combater os preconceitos, assim como conscientizar seus agentes da necessidade de promover ações concretas em busca de uma participação ativa. Ela deve ter projetos que envolva não só a equipe escolar, como a comunidade, integrando realidades, confrontando culturas, formando em seus discentes o espírito de cidadania.

Pensar no papel da escola, refletir na valorização da cultura local, como ponto de partida e como parte do currículo, devendo este ser flexível, de acordo com as demandas e as necessidades culturais relacionadas ao contexto escolar. É preciso valorizar a cultura local no currículo escolar, muitas vezes a escola não tem conhecimento da realidade cultural a qual está inserida, assim como estar atento ao que se passa na comunidade, suas lutas e suas conquistas. Então, como incentivar a cultura local se a própria escola e seus profissionais não participam ou não reconhecem que eles fazem parte deste processo cultural?

Entre muitos fatores importantes frente à formação cidadã, partindo do pressuposto de que se necessita de uma aprendizagem significativa para que esse aluno construa uma história real de sua atuação na sociedade, o reconhecimento da história local, das referências culturais que constituem a memória e identidade de uma comunidade, de um país, permite a construção de um sentimento de pertencimento e o interesse em resolver questões significativas para sua própria vida pessoal e coletiva.

Sendo assim, trabalhar a Educação Patrimonial tem entre muitos, o objetivo de levar os alunos a um processo ativo de reconhecimento crítico, apropriação consciente na valorização de sua herança cultural, além de:

Estabelecer relações entre o patrimônio histórico e cultural preservado do lugar em que vivem e as memórias e identidades locais, regionais, nacionais e mundiais, percebendo e criticando a predominância dos marcos históricos ligados às histórias dos grupos sociais dominantes, como critério de seleção e configuração do patrimônio a ser preservado. O educando reconhece, desse modo, a necessidade de ampliação do próprio conceito de patrimônio histórico e cultural, de maneira a abarcar a produção dos diferentes grupos sociais e os marcos que façam lembrar os acontecimentos significativos para esses grupos. (PCN, 2002, p. 75)

Desta forma, torna-se um instrumento que possibilita o indivíduo fazer uma leitura do mundo em que vive, compreendendo o universo sociocultural e a trajetória histórica no tempo em que está inserido. Neste contexto, a escola torna-se lugar privilegiado para estas ações, já que nela ocorre o encontro de múltiplas culturas, saberes, fazeres, ou seja, da diversidade humana.

Para trabalhar a cultura local na sala de aula, o professor precisará não só ter domínio do conteúdo a ser abordado, mas também de como abordá-lo. Desta forma, necessita de elaborar atividades não apenas para conhecer objetos e fatos da cultura de uma sociedade, mas atividades que levem a uma análise crítica do contexto sócio-histórico e cultural no qual ele se insere. A Educação Patrimonial na sala de aula deve acontecer de forma permanente e não de forma isolada e pontual. Não excluindo a possibilidade de elaboração e execução de projetos mais específicos.

A escola possui uma ação educativa e esta significa que a sua função não é só a instrução, é também a educação, de forma a aumentar a capacidade do indivíduo de ser sujeito, enquanto sujeito de direitos e deveres para com a sociedade.

Além dos conteúdos básicos considerados universais é papel da escola trabalhar o conhecimento que permita ao indivíduo situar-se na condição de sujeito social, o que requer, também, trabalhar valores, hábitos, atitudes e comportamentos que possibilitem o pleno exercício da cidadania. Sendo assim a escola deve:

“Contribuir para desenvolver a tolerância em relação às minorias (…); proporcionar abertura às outras culturas, a igualdade dos homens e das mulheres, a participação democrática na vida política, a solidariedade para os menos favorecidos, a integração dos deficientes, o respeito pelo meio ambiente, a defesa dos direitos humanos, a rejeição das discriminações de todo gênero” (Lan 2000, c’est demanin, p.p.9-10. In: Philipe Perrenoud, 1994, p.21)

A construção da cidadania está ligada diretamente aos conteúdos do cotidiano escolar, na formação de atitudes, seja pela proposta da instituição escolar, família ou sociedade. Todos fazem parte para assegurar aos futuros cidadãos os direitos, assim como ensinar-lhes o dever, e para se constituírem como pessoas de bem. Oficializa-se, assim registrado na LDB em seu artigo 2º, Dos Princípios e Fins da Educação Nacional:

Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

A educação para a cidadania é dever de todos, mesmo a escola sendo um lugar privilegiado para o seu desenrolar, cabe a toda sociedade fazer parte deste processo. Educação, cultura e cidadania, assim como outros direitos fundamentais também se encontram assegurados no artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

3. PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DE ENSINO

O Projeto de Ensino “Diversidade cultural e aprendizagem significativa na formação da cidadania, com a linha de docência nos anos iniciais do Ensino Fundamental, fala sobre a importância da valorização cultural e sua diversidade como forma de promover uma aprendizagem significativa, valorizando os saberes prévios e partindo da realidade do educando, levando novos conhecimentos ao encontro do saber que cada um traz consigo, modificando e construindo, adquirindo novos conceitos. A temática favorece o reconhecimento histórico cultural presente na formação de um povo e na formação de um futuro cidadão, atuante, consciente e reflexivo quanto a sua atuação na sociedade.

A formação acadêmica é de suma importância para a construção e produção de habilidades no trabalho cotidiano, favorecendo o desenvolvimento do tema abordado. Estabelecendo conexão dos conteúdos disciplinares, dando suporte bibliográfico e contribuindo assim, não só para o crescimento profissional como para o pessoal.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este projeto preocupou-se em mostrar a escola como um espaço onde ocorre a educação intencional, por isso precisa contribuir para uma sociedade melhor. A escola torna-se produtora de cidadania e gera mudanças, quando as práticas desenvolvidas nela venham a valorizar a história e a diversidade cultural presente na comunidade na qual está inserida, quando estas práticas criticam ações excludentes muitas vezes construídas historicamente, e tem a perspectiva de construir uma convivência entre os diferentes.

A aprendizagem significativa fundamentada na leitura vinculada ao conhecimento de mundo, ou seja, na origem dos alunos, que representam os vários grupos étnicos, raciais, religiosos e culturais da sociedade, é uma alternativa para uma formação consciente e que desfavorece a uma aprendizagem de massa. Considera que o reconhecimento deste contorno histórico realizado, com levantamento de histórias, manifestações, o hino local, os monumentos antigos venham favorecer uma comunicação com a vivência do aluno.  E que este encontro de informações permita que construa uma aprendizagem regada de significados e sentidos. A aula de campo, não só permite uma interação com a localidade de forma diferenciada, mas também proporciona uma maneira diferente de tratar da realidade do aluno, conduzindo-o a se sentir como parte integrante e capaz de perceber as necessidades das quais a sua comunidade necessita.

Entende-se que as atividades que levam o aluno a comparar, a levantar suposições, identificar as necessidades e formalizar soluções é uma das formas de permitir que ele se envolva com as questões sociais da sua comunidade e isto é construir cidadania. Percebe-se que, se faz necessário promover atividades onde ocorra interação entre os alunos, pois desta forma permitirá que aconteça trocas de conhecimentos, opiniões, conceitos, vivências, enfim, e que tudo isso venha florescer idéias e a vontade de tornar o seu ambiente de convívio cada vez mais prazeroso, rico em informações. Informações estas que favoreçam o estabelecimento da cultura local, para que esta seja passada de geração em geração, para que seja respeitada e valorizada pelos seus sujeitos.

Diante da proposta deste projeto, ressalto que a escola é ponte de ligação, é encontro, é recanto, é fortaleza, é história, é liberdade, é consciência, é atitude, é respeito ao próximo. E ainda concluo que a memória, tão importante para manter viva a história de um povo, compõe a nossa identidade e que, ao construir a memória, contribuímos com a lembrança que para existir precisa do outro e necessita ser compartilhada.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília: MEC, 2005.

BRASIL. Ministério da  Educação. Secretaria  de  Educação Fundamental.  Parâmetros  Curriculares Nacionais. Ética e Pluralidade Cultural, 1998.

CANDAU, Vera Maria( Org.). Sociedade, Educação e Cultura(s): questões e propostas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

CANDAU, Vera Maria (org.), (2003). Somos tod@s iguais? Escola, discriminação e educação em direitos humanos. Rio de Janeiro: DP&A

FORQUIN, Jean Claude. Escola e Cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1993.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. 13ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006.

GIMENO SACRISTÁN, José, (2001). A educação obrigatória. Porto Alegre: Artmed

McCARTHY, Cameron, (1998). The uses of culture : education and the limits of ethnic affiliation. New York: Routledge.

MEC. PCN+ ensino médio: orientações educacionais complementares aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC, 2002. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php. Acesso: 19 de novembro de 2010.

PEREZ GÓMEZ, Angel, (1998). La cultura escolar en la sociedad neoliberal. Madrid: Morata.

PERRENOUD, Philippe; THURLER, Mônica Gather. A Escola e a Mudança. Lisboa, Escolar Editora, 1994.

SANTOS, Maria Eduarda do Nascimento Vaz Moniz dos. Aprender a pensar através de “reinvenções” curriculares: da aprendizagem conceptual à preparação para o exercício da cidadania. In: ROSA, Dalva E. Gonçalves;

SOUZA, Vanilton Camilo de (Orgs.). Didáticas e práticas de ensino: interfaces com diferentes saberes e lugares formativos. Rio de Janeiro: DPA, 2002.

PORTAL.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/pluralidade.pdf.

[1] Professora em São José de Ubá, Mestre em Educação.

4.4/5 - (27 votes)

2 respostas

  1. A DIVERSIDADE É LEI E TEM QUE SER RESPEITADA NÃO SÓ NAS ESCOLAS, MAS EM TODA SOCIEDADE. BELO TRABALHO.

  2. Bonito trabalho. Através do respeito à diversidade no ambiente escolar, convivemos em harmonia com diferenças de gênero, raça ou religião.

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