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A importância dos jogos e das brincadeiras na Educação Infantil

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

MARTINS, Marilza Hilário [1], COSTA, Tereza Cristina de Oliveira [2], SOUZA, Keli Cristiane Rodrigues de [3]

A importância dos jogos e das brincadeiras na Educação Infantil. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 11, Vol. 18, pp. 101-114. Novembro de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/a-importancia

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo identificar a importância dos jogos e brincadeiras na Educação Infantil, apontando para o fato de que o brincar pode propiciar o desenvolvimento integral das crianças em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social. A escolha desse tema como objeto de estudo tem por objetivo oportunizar ao educador a compreensão do significado e da importância das atividades lúdicas na Educação Infantil. A ludicidade é considerada fundamental na Educação Infantil, pois os jogos, brinquedos e brincadeiras contribuem de forma significativa para a construção de conhecimento dos alunos, bem como, para a socialização com os colegas e professores. Esse artigo justifica-se pela necessidade de um estudo aprofundado acerca da importância dos jogos e brincadeiras na vida das crianças, especialmente, na Educação Infantil, pois nessa etapa que a criança vai produzindo subjetividade. Nosso estudo apoiou-se em autores tais como: Levy Vygotsky (1991, 1979), Jean Piaget (1978), Tizuko Kishimoto (1997) e João Batista Freire (2005). Esses teóricos comentam que os jogos e brincadeiras são a base epistemológica da educação, sendo indispensáveis no processo de ensino-aprendizagem infantil.

Palavras-chave: Educação Infantil, brincadeiras, jogos, ludicidade, aprendizagem.

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem por objetivo refletir sobre a importância dos jogos e brincadeiras na educação Infantil. Sabemos que é imprescindível a importância dos jogos e brincadeiras na Educação Infantil, visto que através do lúdico a criança se desenvolve de forma integral nos aspectos físico, social, cultural, afetivo, emocional e cognitivo, bem como, adquire autonomia, habilidades e valores.

Apresentar questões envolvendo esse tema é de fundamental importância para que possamos refletir sobre a educação que estamos oferendo as nossas crianças nos dias atuais. Nesse sentido este artigo justifica-se pela necessidade de levar os educadores a terem consciência da importância de inserir o brincar no cotidiano infantil. Todavia, é preciso que tenham a clareza de que o lúdico, os jogos, as brincadeiras, o movimento e a interação podem possibilitar o encontro com aprendizagens significativas e fundamentais para o processo de desenvolvimento infantil.

Pensando nessa perspectiva é importante entender o que realmente queremos dizer quando falamos do brincar (em seu sentido amplo) e perceber que o brincar não é somente uma prática de diversão e lazer. Segundo Kishimoto (2002), o jogo não pode ser visto, apenas, como divertimento ou brincadeira para desgastar energia, pois ele favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, social e moral.

Os objetivos que buscamos atingir com a elaboração desse artigo é identificar a importância dos jogos e brincadeiras na Educação Infantil, apontando para o fato de que o brincar pode propiciar a aquisição de conhecimentos e contribuir para o desenvolvimento infantil no contexto escolar.

Com a finalidade de discutir e refletir sobre a importância dos jogos e brincadeiras na Educação Infantil apoiamos em autores que defendem uma educação de qualidade e valorizam uma aprendizagem significativa para a criança. Dentre os principais podemos citar: Levy Vygotsky, Jean Piaget, Tizuko Kishimoto e João Batista Freire. Não podendo nos esquecer da RCNEI que serviu como um guia, oferecendo orientações ao longo desse artigo.

EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Brincar com crianças, não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escolas, mais triste ainda é vê-los sentados sem ar, com exercícios estéreis sem valor para a formação do homem (Carlos Drummond de Andrade).

No momento em que falamos de temas pertinentes à Educação Infantil, devemos saber que se trata da primeira etapa da Educação Básica oferecida em creches e escolas que educam e cuidam de crianças de zero a cinco anos de idade. Até pouco tempo atrás o ensino da Educação Infantil tinha pouquíssima importância pois tinha como finalidade principal dar assistência aos pais que necessitam trabalhar e não tinha onde deixar os filhos, tornando a Escola um “depósito de crianças” onde eram apenas cuidadas deixando de lado o desenvolvimento integral da criança.

Somente a partir da implantação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que o Ministério da Educação elaborou referenciais nacionais para um ensino de qualidade em todas as regiões brasileiras, denominado Parâmetros Curriculares Nacionais que servem de orientação para as escolas da rede municipal, estadual e privada de nosso país, bem como, servem para “ampliar e aprofundar um debate educacional que envolva país, governos e sociedade e dê origem a uma transformação positiva no sistema educativo brasileiro” (BRASIL, 1998, p. 5). A partir da recente definição da Lei Federal nº 11.114/05, de 16 de maio de 2005, é dever dos pais ou responsáveis matricular todos os educandos a partir dos seis anos de idade, no ensino fundamental. Com essa recente mudança, o Ministério da Educação (MEC), apresentou o documento Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil – Volume 1 e 2 (BRASIL, 2006) Espera-se que este documento se constitua em mais um passo na direção de transformar em práticas reais, adotadas no cotidiano das instituições, parâmetros de qualidade que garantam o direito das crianças de zero até seis anos à Educação Infantil de qualidade.

Desde então, a Educação Infantil tem-se revelado essencial para uma aprendizagem eficiente. Além de desenvolver habilidades, melhorar o desempenho escolar futuro, promover o lúdico e os laços afetivos, ela também, propicia a criança melhores rendimentos ao ingressar no ensino fundamental. Podemos perceber que a Educação infantil é a base da aprendizagem das crianças, é o lugar onde elas começarão a conhecer um mundo diferente do qual elas têm vivenciado, um mundo fora do seu seio familiar.  O encontro com pessoas diferentes, à criação de novos laços afetivos, o contato com outras crianças e as novas descobertas será de muita importância para a formação da criança nos seus primeiros anos de vida. Almeida (1995) relata, que na trajetória escolar a criança busca encontrar um amigo, um guia, um incentivador, um líder, alguém que seja consciente e atencioso, estimulando-a a pensar e a conhecer sobre si mesmo e o mundo, de alguém que seja capaz de dar-lhe as mãos para lhe ajudar a construir uma nova história e uma sociedade melhor.

Nesse sentido, é importante que a criança esteja em um ambiente favorável para o seu crescimento e a Educação Infantil permite essa possibilidade, fazendo com que a criança se desenvolva de forma espontânea. Os estímulos motores e as habilidades não cognitivas ou sócio emocionais, que podem e devem ser adquiridas na Educação Infantil, impacta a aprendizagem e são cruciais no desenvolvimento e sucesso escolar de nossas crianças. Sob a perspectiva de um novo século, as referências do Conselho Nacional de Educação (CNE) ressaltam que a escola deve exercer uma nova atitude, sendo esta capaz de contribuir para a formação da identidade e o desenvolvimento de um projeto de vida aos estudantes.

As chamadas habilidades não cognitivas ou características sócio emocionais – como perseverança, autocontrole, extroversão, protagonismo, curiosidade e  trabalho em equipe –, potencializadas no ambiente escolar, podem contribuir de forma decisiva para o sucesso  escolar e futuro de nossas crianças e jovens (BRASIL, 2013, p.2).

Portanto a partir dessas novas perspectivas a Educação Infantil começou a ser vista com outros olhos, não mais como apenas assistencialista, mas como uma proposta pedagógica indissociável ao cuidar e o educar propiciando o desenvolvimento integral da criança.

O LÚDICO COMO FACILITADOR DA APRENDIZAGEM

O presente artigo “A importância dos jogos e brincadeiras na Educação Infantil” ressalta como imprescindível o professor propiciar um ambiente lúdico onde a criança possa desenvolver suas potencialidades. Começamos, então, nossa problematização com os seguintes questionamentos: Por que trazer o lúdico para a sala de aula? Que vantagens isso trará? Para tentar responder tais questões trazemos as contribuições de estudiosos e pesquisadores que objetivam ampliar a discussão a respeito desse tema.

De acordo com Santos (2000), o termo lúdico tem como significado a palavra brincar, na qual,  este brincar compõe-se por jogos, brinquedos e brincadeiras, identificando ser relativo à conduta de quem joga, brinca e se diverte. Assim, essas atividades lúdicas fazem parte da vivência do ser humano, sobretudo, na infância, desde o  início da humanidade. Contudo, pôr muitos séculos elas eram tidas como uma conotação pejorativa, sem qualquer importância. Culturalmente somos configurados para não sermos lúdicos. Assim, os jogos e os brinquedos só começaram a ganhar valor a partir dos anos 50, quando estudos da psicologia sobre a criança, retratando a respeito das atividades lúdicas começaram a surgir, visto que o brinquedo era a essência da infância (SANTOS, 2000).

Dentre as atividades realizadas na educação pré-escolar, a ludicidade é uma das mais importantes, tanto que é citada nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010) através do artigo 3°, inciso I (BRASIL, 2010, p. 5), “as propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil devem respeitar os seguintes fundamentos norteadores: c) “os princípios estéticos da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e de manifestações artísticas e culturais”.

Portanto, a escola como principal intercessor no processo de desenvolvimento infantil deve proporcionar a criança o contato com o universo lúdico, afim de que elas possam aprender em um ambiente rico e prazeroso.  Dessa maneira, o professor deve ter a compreensão do significado e da relevância das atividades lúdicas realizadas na Educação Infantil. Para Almeida, 1995, “a educação lúdica é uma ação inerente na criança e aparece sempre como uma forma transacional em direção a algum conhecimento, que se redefine na elaboração constante do pensamento individual em permutações constantes com o pensamento coletivo.”

Uma das ações a serem realizadas pelo professor é inserir o brincar no cotidiano infantil, tendo a clareza, a intencionalidade e a consciência dos objetivos a serem adquiridos com essa atividade lúdica. Conciliar o lúdico ao cotidiano escolar é de muita valia para o processo de desenvolvimento das crianças, em razão da mesma facilitar o processo de socialização, comunicação, expressão e construção do pensamento (CEBALOS et al., 2011). Conforme o Referencial Curricular Nacional Para Educação Infantil (RCNEI)  a realização das atividades lúdicas por meio de brincadeiras favorece a autoestima das crianças ajudando-as a superar, de maneira progressiva e criativa, suas aquisições (BRASIL, 1998). O brincar, portanto, ensina regras, linguagens, desenvolve diferentes habilidades e competências que são de muita relevância para o processo de ensino e aprendizagem. Assim sendo, é de primordial importância à inserção do lúdico no cotidiano infantil, pois possibilita que a criança conheça, compreenda, construa conhecimentos e se desenvolva de forma saudável e harmoniosa.

Muitos autores relacionam o lúdico aos jogos, brinquedos e brincadeiras atentando-se a sua importância na educação. Para Sneyders (1996, p.36) “Educar é ir em direção à alegria”. Nesse contexto, a RCNEI identifica que as brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de construir e montar algo, aqueles que possuem regras, como os jogos de tabuleiro, jogos tradicionais, didáticos, corporais, entre outros, possibilitam a ampliação dos conhecimentos infantis através da atividade lúdica. Assim, na instituição infantil, o professor é responsável por ajudar na estruturação do âmbito das brincadeiras na vida das crianças. E consequentemente, o mesmo é quem organiza a sua própria base estrutural, através da oferta de determinados objetos, fantasias, brinquedos ou jogos, de acordo com a limitação do espaço e do tempo para brincar. É através dessas atividades que o professor pode observar e construir sua visão a respeito dos processos de desenvolvimento das crianças, de forma coletiva ou individual, registrando as capacidades do uso de linguagens, as capacidades sociais e os recursos afetivos e emocionais de cada um dos seus alunos (BRASIL, 1998).

Cabe ressaltar que a sala de aula é um lugar de brincadeiras, portanto, compete ao professor conciliar os objetivos pedagógicos com os desejos das crianças. Possibilitando um ambiente que propicia prazer, diversão e a construção do conhecimento.

O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Vygotsky (1979) afirma que a criança aprende muito brincando, visto que este ato desenvolve a sua capacidade cognitiva, emocional, social e psicológica, enquanto aparentemente ela o realiza para se distrair e gastar a sua energia. Piaget (1998) caracteriza o brincar como uma atividade que reflete os estados internos do sujeito diante de uma realidade vivida ou imaginada. Nessa perspectiva, a criança vai se constituir como sujeito a partir do brincar: é brincando que a criança pode se tornar uma chefe, um pai, um professor e um general. (VELASCO, 1996). Através dessas significações atribuídas ao brincar, Santos (1995) aponta que este ato é uma atividade natural, espontânea e necessária a criança, no qual representa uma peça importantíssima ao seu desenvolvimento. Sua função transcende o mero controle de habilidades, sendo muito mais abrangente. A importância do brincar é evidente, uma vez que através desse ato a criança constrói o seu próprio mundo.

Devemos assim, considerar que as brincadeiras lúdicas representam uma fonte rica de aprendizagem, que estabelece o conhecimento de si (da criança consigo mesmo) e do próximo (da criança com o outro).

Por conseguinte, cabe salientar que as emoções expressadas através das brincadeiras dependem muito dos estímulos que as crianças recebem no cotidiano escolar. À vista disso, acreditamos que para a criança externar o que sente, ela necessita de incentivos. É importante, então, que o professor intervenha nessas atividades, pois através das brincadeiras as crianças constroem, de forma particular, seus conhecimentos, suas emoções, sua autonomia e identidade. Cabe também às escolas oportunizar e valorizar as atividades lúdicas na Educação infantil, ajudando a criança a “formar um bom conceito de mundo, em que a afetividade é acolhida, a sociabilidade é vivenciada, a criatividade estimulada e os seus direitos respeitados” (DALLABONA; MENDES, 2004, p.9). Percebemos através das palavras dos autores que o contato com o brincar é muito significante na vida da criança, bem como, a necessidade de ser respeitada enquanto brinca.

Partindo desse pressuposto, cabe trazer um dos focos principais de nosso estudo: os jogos na Educação Infantil. Sabe-se que uma das atividades que desperta e muito o interesse e o entusiasmo das crianças é o jogo. O mesmo contribui para a formação das crianças e na maioria das vezes são direcionados para turmas de Educação Infantil, embora tenha sido usado como ferramenta de ensino nos anos iniciais e finais do ensino fundamental. Falkembach (2006) afirma que os jogos voltados a fins educacionais vão além do entretenimento, servindo como ferramentas instrucionais eficientes ao ensino e a educação.

De forma semelhante os PCNs (1998) vêm nos dizer que os jogos compõem um meio interessante para se propor problemas, ao passo que permitem a apresentação destes de uma forma mais atrativa, favorecendo a criatividade no processo da elaboração de soluções e estratégias de resolução. Os jogos fornecem uma simulação de situações-problema, nas quais demandam soluções vivas e imediatas, estimulando assim o planejamento das ações, bem como permitem a construção de uma postura positiva perante os erros, visto que as situações são constantes, podendo ser corrigidas de modo natural, durante a ação, sem deixar qualquer marca negativa (BRASIL, 1998).

Piaget (1978) acredita que os jogos não são apenas uma forma de desafogo ou entretenimento para gastar a energia das crianças, mas sim meios que enriquecem o desenvolvimento intelectual e que podem contribuir significativamente para o processo de ensino-aprendizagem e no processo de socialização das crianças. Em consonância Kishimoto (1997) aponta que o jogo tem papel fundamental no desenvolvimento da criança pré-escolar, pois ela aprende de modo intuitivo, adquirindo noções espontâneas, que envolvem o ser humano por inteiro em todos os aspectos: cognitivo, afetivo, corporal e nas interações sociais.

Os jogos quando são bem organizados permitem que as crianças enriqueçam a sua identidade pessoal/coletiva e realizem novas descobertas. Tais pontos são fundamentais porque é jogando que se aprende, e extrai conhecimento de suas vivências é essencial para o desenvolvimento integral da criança. Então, os jogos na Educação Infantil não são utilizados apenas para o divertimento, entretenimento e lazer das crianças, mas também para que a criança supere suas dificuldades, saiba respeitar regras, se relacione com o mundo, seja autônoma e crítica, bem como, “desenvolva a consciência corporal, aprenda a se conhecer, a conhecer as pessoas que estão a sua volta, estabelecendo relações entre os sujeitos e os papéis que estes assumem” (VEIGA; CASTELEINS, 2006, p. 667). É importante ressaltar que os jogos na Educação Infantil são sinônimos de prazer e alegria, sendo um fator indispensável à formação de nossa cultura (FREIRE, 2005).

Esses conceitos, trazidos por esses autores, permitem concluir que tentar definir o jogo não é tarefa fácil (KISHIMOTO, 1997), pois ela pode ser interpretada de maneiras distintas. Quando nos referimos ao jogo podemos ter diferentes interpretações, por exemplo, jogo é sinônimo de jogar bola, brincar de mamãe e filhinha, jogar dominó e até mesmo brincar na areia. Entretanto, cada jogo tem suas especificidades e benefícios distintos para o processo de ensino e aprendizagem.

Existem vários tipos de jogos que podem ser vivenciados na Educação Infantil, sendo eles: jogos motores; jogos sensoriais; jogos criativos; jogos recreativos; jogos simbólicos, jogos intelectivos; jogos sociais; jogos mentais; jogos esportivos; jogos competitivos e jogos aquáticos. Dentre eles o mais significativo e estudado por Piaget é o jogo simbólico, cujo é uma atividade própria para que a criança crie e imagine o seu próprio mundo imaginário, no qual, a realidade e a fantasia se entrelaçam. Piaget (1978) afirma que é através do uso da imaginação que a criança representa papéis, comportamentos e situações, bem com compara um elemento dado a um elemento imaginado, e uma imaginação fictícia, visto que essa comparação consiste em uma assimilação deformante. O mesmo autor cita como exemplo de situação, uma criança que deslocar uma caixa, imaginando ser simbolicamente um veículo, identificando que esse veículo “entre o significante e o significado permanece inteiramente subjetivo” (PIAGET, 1978. p. 146).

Assim, o jogo simbólico exerce um papel fundamental na vida da criança. Piaget ressalta a importância desse papel quando afirma que ele é “indispensável ao seu equilíbrio afetivo e intelectual que possa dispor de um setor de atividade cuja motivação não seja a adaptação ao real senão, pelo contrário, a assimilação do real ao eu, sem coações nem sanções” (PIAGET, 1978, p. 55-56). O jogo é, então, uma atividade que transforma o real, sobre assimilação quase ingênua às necessidades da criança, por causa dos seus interesses afetivos e cognitivos (FONTANA; CRUZ) Por tais razões, o jogo contribui fortemente para a construção do conhecimento infantil.

Para entendermos as indagações referentes à variedade de fenômenos considerados como jogo, trazemos as palavras de Kishimoto (1997) para tentar distingui-los:

O vocábulo “brinquedo” não pode ser reduzido à pluralidade de sentidos do jogo, pois conota criança e tem uma dimensão material, cultural e técnica. Enquanto objeto, é sempre suporte de brincadeira. É o estimulante material para fazer fluir o imaginário infantil. E a brincadeira? É a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras do jogo, ao mergulhar na ação lúdica. Pode-se dizer que é o lúdico em ação. Desta forma não se pode confundir jogo com brinquedo e brincadeira os quais se relacionam diretamente com a criança (KISHIMOTO, 1997, p.111, grifo do autor).

Na visão da autora, todo jogo acontece em um tempo e espaço, com uma sequência própria da brincadeira. Após as distinções entre jogo, brinquedo e brincadeira, vamos buscar explorar o termo brincadeira, analisando a sua importância na Educação Infantil.

Sabe-se que, muitas vezes, as brincadeiras não fazem parte do currículo escolar e são ignoradas no planejamento de ensino dos professores. Tal questão nos faz indagar: Será que os professores estão realmente qualificados para trabalhar com as crianças da Educação Infantil? Trazer essa questão é uma forma de refletir e discutir sobre a educação que estamos oferendo as nossas crianças atualmente. Nesse contexto, o professor deve ter consciência da importância de inserir o lúdico no cotidiano escolar, mais especificamente, inserir procedimentos metodológicos que envolvam brincadeiras no dia a dia das crianças. Para comprovar essa importância apresentaremos alguns referenciais teóricos que lidam com essa abordagem.

Rosa (2002) afirma que quando a criança constrói seu conhecimento através de suas brincadeiras e fantasia a sua realidade, ela transforma suas inseguranças em algo seguro e prazeroso, ao passo que ela constrói seus conhecimentos sem qualquer limitação.

L”O momento da brincadeira oportuniza a vivência de novas experiências, logo, abrem espaço para a arte de criação. Com base no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998), as brincadeiras contribuem com desenvolvimento de algumas capacidades importantes, como a atenção, a imitação, a memória e a imaginação, bem como amadurecem algumas capacidades sociais através da interação e da prática e experimentação de regras e papéis sociais.

A RCNEI aponta que no ato de brincar a criança transforma os seus conhecimentos adquiridos anteriormente em conceitos gerais com os quais brincam, assim, como exemplo, quando a criança precisa assumir um determinado papel em uma brincadeira, a mesma precisa conhecer alguma de suas características. Neste sentido, os seus conhecimento partem da imitação de alguém ou de algo conhecido (BRASIL, 1998).

Nesse sentido, percebemos que a brincadeira não é um ato espontâneo da criança, mas sim uma aprendizagem social que se constrói a partir da interação com o outro. Podemos notar que as brincadeiras podem contribuir para a formação de atitudes como cooperação, socialização, respeito mútuo, interação, lideranças e personalidade, favorecendo a construção do conhecimento do aluno (BUENO, 2010). Além disso, a brincadeira também ensina hábitos necessários para o desenvolvimento das crianças, como por exemplo, a persistência, perseverança, raciocínio, criatividade, criticidade, companheirismo, entre outros.

Segundo o RCNEI (1998), ao experienciar as brincadeiras imaginativas, criadas por elas mesmas, as crianças tornam-se capazes de acionar seus pensamentos, a fim de solucionar os problemas que lhes são importantes e significativos. Desde modo, quando se propicia a brincadeira, um novo espaço surge, no qual as crianças podem conhecer o mundo e desenvolver uma compreensão particular em relação as pessoas, os sentimentos e os diversos conhecimentos (BRASIL, 1998).

Ao analisar essas considerações podemos afirmar que as brincadeiras são indispensáveis e complementares à saúde física, emocional e intelectual das crianças. Além de ser uma ferramenta que auxilia na prática docente, a mesma contribui para o fortalecimento dos conteúdos a serem trabalhados pelos professores. Pela importância que a brincadeira apresenta no aprendizado das crianças, é imprescindível que o professor explore tais atividades envolvendo brincadeiras lúdicas. Conforme aponta o RCNEI (1998), […] a intervenção intencional baseada na observação das brincadeiras das crianças oferecendo-lhe material adequado, assim como espaço estruturado para brincar permite o enriquecimento das competências imaginativas, criativas e organizacional.

Sendo assim, é dever do estado à inserção de políticas públicas voltadas para a educação de nossas crianças, principalmente, da Educação Infantil, assegurando espaços, materiais e equipamentos didáticos de qualidade. Por fim, os jogos e as brincadeiras são fontes de felicidade e prazer e devem ser assegurados na pré-escola.

Os jogos e as brincadeiras permitem que a criança vivencie regras preestabelecidas. Por meio delas, as crianças aprendem a esperar a sua vez, assim como a ganhar e a perder. Além de estimular a auto avaliação da criança, constatando de si para si, a sua capacidade de avanço, o que fortalece por fim a sua autoestima (SANTOS, 2013).

Pensando nesse processo, trouxemos algumas propostas de jogos e brincadeiras para utilizar na Educação Infantil. Devries (2004) citado por Gusso e Schuartz (2005) destaca exemplos de atividades que podem ser aplicadas em sala de aula, envolvendo jogos e brincadeiras. Dentre elas destacam-se:

a) os jogos de grupos: Quem é? – Cobrindo quadro com uso de dados – Formando famílias; b) os jogos de faz-de-conta: criar uma loja – histórias – 245 criando jogos com os temas já estudados; c) os jogos artísticos: preparar receitas – experiências – escultura – pintura / utilizando as mais diversas linguagens artísticas; d) os jogos de matemática e raciocínio espacial: blocos – tangrans, – gráficos; e) os jogos de alfabetização: diários – histórias – cartas – bilhetes (GUSSO; SCHUARTZ, 2005, p. 244).

Outro exemplo de exercícios que podem e devem ser propostos de maneira divertida, prazerosa e lúdica, é apontado por Castro (2016):

Algumas brincadeiras estimulam o desenvolvimento integral da criança e ajudam na aprendizagem infantil, como exemplo: a bolinha de gude, o dominó, o jogo de boliche, o fazer roupas de boneca, a perfuração de papel, trabalhos com jornal, recortes, bordados, pinturas, modelagem, papel, revistas, colagens, desenhos, jogos de quadra, malabarismos, danças, competições, lego, bambolê, blocos lógicos, gato e rato, futebol de botão, oficina de sucatas, peteca, dobraduras, pega varetas, bingo, maquetes, jogo da velha, cruzadinhas, desafios, leituras diversificadas, dramatização, fantoches e músicas (CASTRO, 2016, p. 11).

É fundamental acreditarmos no brincar como um elemento essencial no que tange ao aprendizado. Propor um trabalho dinâmico, criativo e diferenciado, através de atividades e experiências práticas no cotidiano escolar, é acreditar em uma práxis criadora e transformadora da educação.

Em vista de todos esses aspectos tão relevantes, podemos concluir que o brincar e o jogar, na Educação Infantil, são importantíssimos para o processo de escolarização. Estes devem ser vistos como ferramentas metodológicas essenciais para o trabalho em sala de aula e devem privilegiar o lúdico no cotidiano infantil, dando lugar de destaque no planejamento pedagógico dos professores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscou-se apresentar ao longo deste trabalho reflexões relevantes referentes à importância dos jogos e brincadeiras na Educação Infantil. Acreditamos que esse artigo pode propiciar mudanças nas práticas dos educadores quanto à inserção de atividades lúdicas com intencionalidade, objetivando o desenvolvimento integral das crianças em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social.

Diante dos fundamentos teóricos discutidos nesse artigo, foi possível perceber o quão importante é à inserção do lúdico e do brincar no processo de ensino-aprendizagem infantil. É preciso que os educadores intervenham de maneira apropriada para que a criança se desenvolva e adquira um aprendizado de forma significativa e prazerosa. Tais considerações são fundamentais para que a criança perceba, descubra e interprete o mundo agindo sobre ele. Logo, a vivência de boas experiências é base para um desenvolvimento saudável e harmonioso.

As discussões propostas tiveram o intuito de ressaltar os jogos e brincadeiras como um meio de aprendizagem para a criança. Podemos perceber que através do lúdico, a criança vai adquirindo conhecimentos, valores, habilidades e atitudes cruciais para que desenvolvam suas atribuições e competências com êxito. Portanto, no que diz respeito ao ato de brincar, devemos ter em mente que independente do lugar em que ocorra este deve ser valorizado e respeitado, pois através de acontecimentos significativos, a crianças se apropriam de conhecimentos diversos contribuindo, assim, para a formação de cidadãos críticos e autônomos na sociedade.

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[1] Pós-graduação em Psicopedagógico Clínica e Institucional. Pedagoga.

[2] Pós-graduação em Psicopedagógico Clínica e Institucional. Pedagoga.

[3] Pós-graduação em Psicopedagógico Clínica e Institucional. Pedagoga.

Enviado: Setembro, 2020.

Aprovado: Novembro, 2020.

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Marilza Hilário Martins

2 respostas

  1. Este trabalho foi briante,então tenho prazer de meditar nele para ter conhecimento e aproveitar algumas capacidades lúdica nesse trabalho, muito obrigado.

  2. Adorei o texto do artigo, muito bom maravilhoso. Parabéns pelo excelente trabalho.

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