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A relação do pedagogo com o teatro no curso de pedagogia da Universidade Federal Rural Do Rio De Janeiro – Instituto Multidisciplinar

RC: 34422
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

GOMES, Carla Nunes [1]

GOMES, Carla Nunes. A relação do pedagogo com o teatro no curso de pedagogia da Universidade Federal Rural Do Rio De Janeiro – Instituto Multidisciplinar. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 07, Vol. 10, pp. 43-55. Julho de 2019. ISSN: 2448-0959

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo compreender os efeitos da prática teatral na educação, refletindo sobre as possibilidades e limites de sua recente inserção como obrigatoriedade no currículo da educação básica. O estímulo para a pesquisa veio da minha jornada como atriz, resultado de um projeto desenvolvido pelo Grupo Nós do Morro que lecionava oficinas de teatro para as turmas do ensino fundamental em uma instituição de ensino também do município de Nova Iguaçu. Trabalhar o ensino de teatro na escola desperta o aluno para o mundo criativo, tornando-o pensante, ágil, além de propor mudanças na sua oralidade, escrita, comportamento, desinibição e interação. Essa importância da linguagem teatral na educação pôde ser constatada na pesquisa. Procurou-se analisar a atuação do pedagogo responsável por lecionar o teatro na educação infantil e primeiro segmento do ensino fundamental, refletindo sobre sua formação e conhecimentos em relação à linguagem teatral. Conclui-se que o teatro propicia um avanço no processo educativo e a presente pesquisa constatou a importância desse ganho na educação escolar, tanto para os alunos quanto para os educadores.

Palavras-chave: Teatro, educação, formação.

INTRODUÇÃO

O teatro é uma invenção humana capaz de perpetuar a todos, a completude da arte teatral está ligada ao fato de ser exteriorizada em todas as demais artes, isto é, na música, dança nas artes plásticas e artes visuais. Essas linguagens associam saberes que envolvem as práticas de criar, ler, produzir, construir, exteriorizar e refletir sobre formas artísticas (BNCC, 2016).

No que diz respeito à linguagem teatral a Base Nacional Curricular define o teatro como experiência artística multissensorial no encontro com o outro, possibilitando ao aluno consciência corporal, desenvolvimento cognitivo, conhecimento linguístico, crescimento cultural, além instigar o pensamento crítico. Sendo os processos de criação teatral calcados na criação coletiva e colaborativa, por meio de jogos, improvisações, encenações que perpetuem a interação entre atores e espectadores.

Em maio de 2016 foi aprovada a Lei 13.278/2016 que inclui o ensino obrigatório das linguagens que compõem a Arte (artes visuais ,dança, música e teatro no currículo da educação básica) dando um prazo de cinco anos para sua adaptação, com isso o ensino do teatro bem como as linguagens da arte atingem um importante espaço na educação, sobretudo no sentido de ofertar um ensino artístico completo não fragmentado mediado por profissionais devidamente qualificados. Sobre essa questão entende-se impossibilidades atuais na realidade escolar diante aos aspectos declarados na lei, tal como a BNCC que propõe diretrizes difíceis de serem alcançadas.

Quanto aos procedimentos metodológicos, trata-se de uma pesquisa documental com o uso bibliográfico de livros, artigos, legislações que pontuam o assunto e captação de dados por meio de questionários recolhidos junto aos alunos do curso de Pedagogia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Para a análise do relacionamento, contato, convivência e consideração sobre a linguagem teatral entre graduandos em pedagogia resolvi levantar dados por meio de um questionário no qual fosse possível analisar o conhecimento do futuro profissional sobre o teatro. O questionário foi composto por sete questões respondidas sem identificação entre estudantes do curso de pedagogia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. O documento foi idealizado por uma ferramenta online e compartilhado entre plataformas da universidade, obtendo vinte e cinto respostas.

A pesquisa torna clara a importância da obrigatoriedade do ensino de teatro no âmbito educacional, e da formação de profissionais devidamente qualificados para mediar o teatro em sua plenitude, a linguagem teatral adquire um avanço no processo educativo que ainda está em processo de desenvolvimento, tornando-se nítido diante a pesquisa a importância desse ganho na educação, e de seus benefícios tanto para os educandos quanto para os educadores, garantindo aos alunos um ensino de qualidade onde serão abordados as diferentes linguagens da arte, sobretudo do teatro.

O TEATRO NO BRASIL E A FORMAÇÃO DO PEDAGOGO

A história do teatro na educação brasileira ultrapassa ideais religiosos, políticos e sociais, diante a sua trajetória de conquistas gradativas que vão se firmando Neves e Santiago (2009). A Lei 13.278/16 de 2 de maio de 2016 é uma conquista sobretudo dos alunos que poderão ter em sua totalidade as linguagens constituintes das artes ( teatro, dança, música e artes visuais) na educação básica, conforme Art. 26 § 6°: “Art. 26 § As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as linguagens que constituirão o componente curricular de que trata o § 2º deste artigo.”

O ganho refere-se também aos profissionais que estarão em sala de aula, ou seja, professores formados de acordo com sua área, seja teatro, dança, música ou artes visuais. Educadores licenciados em artes cênicas são plenamentes capacitados a aplicar atividades teatrais nas escolas, e com a obrigatoriedade desse profissional nas instituições de ensino o quadro poderá ser modificado. Entretanto, a mudança não é tão completa e clara quanto parece.

Reflito sobre como funcionará a aplicação da Lei em prática, isto é, como se contemplará o ensino de artes em suas quatro linguagens com professores licenciados em uma área específica? Há coerência em pensar que se a proposta for possibilitar a professores licenciados em teatro, música, dança e artes visuais o acesso a ministrar aulas da disciplina arte, estes, não por culpa do educador e sua formação, provavelmente aplicarão conteúdos de seu conhecimento específico. Exemplificando: um professor graduado em teatro ao lecionar a disciplina de artes, tenderia a aplicar atividades teatrais, de acordo com sua formação. Portanto, as outras linguagens não serão desenvolvidas, e injustamente os alunos receberão mais uma vez o ensino de artes limitado a uma linguagem.

Contudo, em abril do mesmo ano (2016) foi divulgado a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em sua segunda versão, no qual complementando e revisando suas questões, publica a terceira versão meses depois. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. Aplica-se à educação escolar, tal como a define o § 1º do Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996)6, e indica conhecimentos e competências que se espera que todos os estudantes desenvolvam ao longo da escolaridade. (BNCC, 2016)

A BNCC portanto, regulamenta o conjunto de aprendizagens fundamentais para serem desenvolvidas nas etapas da Educação Básica, segundo o documento seu objetivo principal é garantir o direito dos alunos a aprender e se desenvolver, cooperando para o progresso pleno da cidadania. Referente ao norteamento sobre as linguagens da Arte o documento auxilia desde a educação infantil ao ensino médio dirigindo os caminhos a serem desenvolvidas em todas as linguagens que compete a Arte (teatro, música, artes visuais, dança).

No que diz respeito às propostas, as linguagens são apresentadas como subcomponentes por amplas e complexas proposições, essa questão é ligado ao discurso anterior quando reflito sobre a necessidade de profissionais específicos. Com relação a isso é proposto minuciosos requisitos no desenvolvimento das manifestações artísticas, de forma que o aluno consiga ter qualificadamente uma experiência e vivência artística concreta como prática social, portanto, diante o exposto em tese seria indispensável a presença de profissionais qualificados para cada linguagem devido a complexidade dos aspectos que são desenvolvidos nas linguagens da Arte. Em todo caso, é incerto as proposições serem totalmente praticadas devida sua complexidade que, afinal necessita admitir profissionais habilitados, apesar disso, saliento um ponto positivo que é a presença de propostas para a qualidade do ensino de Arte, em específico da linguagem teatral, visto ser um avanço considerável.

A graduação em pedagogia habilita o educador à lecionar tanto na Educação Infantil quanto no primeiro segmento do Ensino Fundamental, portanto, a Lei 13.278/2016 que inclui as linguagens da Arte no currículo do ensino básico como obrigatoriedade, me fez refletir sobre como atualmente graduandos em pedagogia se relacionam com a linguagem Teatral em específico.

O prazo para que as escolas se adaptem a Lei são de cinco anos, considerando que um ano já se completou, é relevante questionar e salientar a importância da relação com o curso no que diz respeito às linguagens da Arte, em específico ao teatro, foco da pesquisa. O centro da discussão levantada consiste em tentar descobrir como encontra-se a relação do futuro profissional com a linguagem teatral, tendo em vista a necessidade de trabalhá-la em sala de aula.

A experiência com o teatro foi a primeira questão da pesquisa , pois dá início a reflexão

do estudante sobre seu relacionamento com a linguagem. Em algum momento da educação ou da vida utilizamos o teatro de maneiras diversas, não necessariamente por experiência concreta como atuantes, através do faz de conta na infância por exemplo em que representamos alguém e situações cotidianas, ou quando assistimos a professora encenar a história com intuito de entrarmos inteiramente ao universo apresentado. Segundo Granero (2011) existem vários momentos teatrais no cotidiano:

Nosso cotidiano está repleto de momentos teatrais, em que desenvolvemos uma ação para nós mesmos ou para os outros, em um determinado espaço e tempo, com um objetivo de comunicar desejos, sentimentos e emoções; transmitir informações e vivenciar experiências. São os momentos de comunicação, de expressão corporal, de intercâmbio de informações, de ações verbais e não verbais.(p. 11)

Na primeira questão além de perguntar se o estudante teve alguma experiência teatral solicito também que descreva onde, para compreender os meios e situações que identificam como uma experiência na linguagem.

Sobre a questão, sete responderam “Não” quanto a experiência teatral. E dezoito responderam “Sim” afirmando terem vivenciado o teatro. Portanto, a maior parte considera já ter experimentado a linguagem alguma vez na vida, e é interessante analisar as respostas quanto aos lugares. As respostas predominantemente se referem a igrejas e escolas, ou seja, o teatro como forma educativa vem sendo utilizado mesmo não entrando como obrigatoriedade no ensino anteriormente, reflito qual o tipo de experiência educacional tiveram nas escolas, será que a experiência se deu como complemento da aprendizagem escolar ampliando o desenvolvimento intelectual do aluno, ou como passatempo do currículo? (Spolin, 2015).

Sobre a questão religiosa o teatro como forma educativa é usado como ferramenta de transmissão dos conhecimentos religiosos desde o século XVI até os dias atuais, a fim de instruir jovens, adultos, crianças de maneira atrativa e eficaz. “Sim, escrevi e encenei uma peça teatral em uma comunidade católica, com enfoque na prevenção do uso de drogas” (Questionário n° 14); “Sim, no ensino fundamental I, 5°ano, onde apresentamos a peça A bruxinha que era boa”; “Foi uma experiência maravilhosa.” (Questionário nº 10); “Sim, em minha igreja (atuando em duas peças) e na escola (elaborei o cenário e já atuei em outra peça escolar).” (Questionário 02).

O segundo aspecto refere-se a utilização de recursos que o graduando considera como teatral em seu trabalho, caso já atue na área, através da descrição e justificativa.

Apenas quatro responderam sobre sua atuação na área descrevendo o recurso teatral e outros quatro responderam “Não”, os demais não atuam na área ainda.

“Geralmente, fantoches.” (Questionário n° 04): o teatro de fantoche é muito utilizado nas escolas principalmente na educação infantil, dependendo da proposta a criatividade vai desde a produção de bonecos (personagens) com intuito de desenvolverem eles mesmos, ao professor contar as histórias identificando os personagens por meio dos fantoches, propiciando produção coletiva, criatividade, percepção sobre a história, experiência de ações e emoções diferentes. Portanto, essa é uma ferramenta pedagógica que tange um recurso da linguagem teatral, onde o educador torna-se ator, que é quem dá vida ao boneco, logo cria-se um personagem, uma voz, movimentação, os alunos tornam-se platéia, qual interagem ativando a transmissão de energia e sentimentos.

“Creio que a expressão corporal usada como forma de autoconhecimento do corpo, relaxamento ajuda no cotidiano escolar, essa visualização, a participação em

todos os sentidos, viver a história é enriquecedor para o aprendizado.” (Questionário n° 10): de acordo com a resposta o educador utiliza a expressão corporal com instituto de promover o autoconhecimento do corpo, explicando que tal exercício ajuda na participação durante as aulas. Para o teatro a consciência corporal é elemento base, e o professor como mediador é capaz de ajudar o aluno a despertá- la, Granero (2011) salienta:

A consciência corporal, seus limites e superações estão ligados à psique do indivíduo, e essa consciência é importante para se iniciar qualquer exercícios ou jogo teatral. Perceber o próprio corpo é também de essencial importância para vida. (p. 50)

“Uso muito o teatro no meu trabalho, para tirar um pouco do peso da sala de aula.” (Questionário n°16): alguns educadores trabalham o teatro ainda com ideia de passatempo vendo a linguagem como solução para amenizar a carga do ensino básico, ligado a mesmice das aulas sobre a ausência criativa na aplicação de conteúdos, sempre limitados ao professor transmitindo-os e o aluno ouvindo copiando sentado dentro da sala. É ótimo reafirmar a ideia de que o teatro é utilizado como ferramenta (ainda que pouco) em sala de aula, mas precisa-se refletir sobre qual maneira e o porquê de ser utilizado. O teatro não deve ser colocado como um recurso de “animação” para suprir carências, e sim como recurso que possa dilatar junto aos conteúdos trabalhados um complemento para a aprendizagem escolar, no qual amplifique o desenvolvimento intelectual dos alunos. Em vista disso, teatro ainda fica a margem do currículo apesar de sua obrigatoriedade.

“No momento de cantar uma música ou contar histórias aos alunos, mudo minha voz de acordo com os personagens, represento algumas das ações da estória como andar, correr, gritar. Acredito que quando fazemos assim os alunos retêm mais a atenção ao que está sendo contado e se divertem mais, tanto aluno quanto professor.” (Questionário n° 20): o professor ao ler uma história conseqüentemente lê o diálogo dos personagens, os acontecimentos assombrosos ou felizes, é impossível não interpretá-los e lê-los conforme o contexto. Logo, se o educador lê modificando a entonação vocal para diferenciar personagens, situações, representando ações, cria-se uma representação dramática; os estudantes como platéia, ouvintes, por meio do recurso de representação na contação de histórias conservam-se atentos, e participativos durante a contação. E o professor traz o teatro para sua prática, que mais uma vez é afirmado como ator fundamental no ensino aprendizagem dos alunos.

A terceira questão diz respeito a ida ao teatro:

Gráfico 1 – Com que frequência você vai ao teatro?

Fonte: Dados do questionário aplicado

Identifica-se que somente 8% (oito por cento) dos graduandos vão ao teatro constantemente, enquanto 16% (dezesseis por cento) nunca foram ao teatro, e outros 60% (sessenta por cento) vão raramente. Com isso, percebemos que apesar do ato de ir ao teatro ser fundamental para a formação cultural de qualquer pessoa, é minimamente praticado entre os estudantes do curso de pedagogia.

Reflito sobre a formação dos profissionais que carecem dessa experiência estética, experiência que deve ser fomentada durante a sua formação na universidade. Se o educador precisa ter conhecimento da linguagem teatral para aplicá-la, visto que ingressou como obrigatoriedade no currículo da educação básica, de que modo trabalhará o teatro sem ter tido uma experiência concreta sobre a arte? Será aplicado superficialmente sobre definições ouvidas e não vivenciadas. Não me referindo somente ao teatro, mas as outras linguagens que compõem o quadro de obrigatoriedade atual, as artes plásticas, por exemplo, como mediar conteúdos, definições sem ter visitado uma exposição artística e concretizado as teorias aprendidas sobre o conceito na prática?

A quarta questão relaciona-se com a terceira, diz respeito ao conhecimento de atividades teatrais na localidade do estudante interferindo seu contato com a linguagem. Em geral no município de Nova Iguaçu temos três lugares destinados ao teatro especificamente, “destinado” no sentido de ter um espaço para apresentações e movimentos de atividades que envolvam a prática: Espaço Cultural Sylvio Monteiro, Sesc Nova Iguaçu, e a Escola Livre F.A.M.A. No entanto, algumas programações são mal divulgadas não obtendo procura e conhecimento por parte dos moradores, esse quadro de ausência na programação ocorre predominantemente na Baixada Fluminense. Essa discussão engloba a justificativa da não habitual prática de ir ao teatro por parte dos moradores do município, que geralmente precisam-se deslocar-se.

Gráfico 2 – Você conhece algum espaço cultural que forneça apresentações de peças teatrais no seu bairro/cidade?

Fonte: Dados do questionário aplicado

A minoria (24% – vinte e quatro por cento) dos estudantes responderam desconhecer uma unidade que ofereça teatro na localidade, no entanto, apesar da maioria (40% – quarenta por cento ) marcar alternativa “sim”, o número é contraditório no que diz respeito ao Gráfico 1 (Com que frequência você vai ao teatro?) em que maior parte relata ir ao teatro raramente (60% – sessenta por cento), mesmo tendo conhecimento de unidades que ofereçam a linguagem. Conclui-se portanto que embora haja a predominância do conhecimento sobre lugares que ofereçam amostras de trabalhos teatrais não há entre os estudantes o hábito de frequentar unidades que articulem a linguagem.

A próxima questão destaca a experiência escolar do estudante, pergunto se vivenciou durante a prática escolar alguma atividade teatral:

Gráfico 3 – Você lembra de alguma atividade teatral desenvolvida na escola em que estudou?

Fonte: Dados do questionário aplicado

Predominam assim (setenta e seis por cento), os estudantes responderam ter tido alguma atividade teatral na escola, e é importante perceber que apesar da linguagem ser englobada ao currículo escolar recentemente é notório o uso do teatro como recurso para transmissão de conteúdos. O teatro é uma ferramenta interdisciplinar, por meio de jogos o professor pode articular e adaptar diversas formas de transmitir conteúdos em sua disciplina. Conforme Granero (2011) o teatro pode aparecer como recurso pedagógico em disciplinas relacionadas ao aprendizado do Português, bem como, Matemática, Física, Ciências, entre outros. Dessa forma, o teatro é capaz de colaborar na aprendizagem do aluno quando usado de maneira coerente e não como um passatempo:

[…] o teatro pode dar sua colaboração facilitando, aprofundando, criando sentido e marcando na memória dos participantes o assunto abordado. Isso porque o teatro cria magia e prazer no ensinar e aprender – qualidades intrínsecas da matéria do teatro. (p.35)

Ainda sobre o Gráfico 3, solicito que o estudante ao responder “Não” explique se acha relevante ter participado de uma atividade teatral na escola. Recebi somente uma resposta negativa: “Não, tenho pavor de palco.” (Questionário n° 22); pensando sobre essa justificativa reflito sobre a ideia equivocada de alguns sobre o teatro na escola, a função de encenar histórias ou apresentações no encerramento de semestre? O teatro vai muito além disso, a preparação para acontecimento de tal questão deve ser realizada também, e talvez o estudante quebraria esse medo sobre a ideia do teatro na escola, mediante a preparações e jogos que desenvolvessem sua timidez e insegurança.

Não obrigatoriamente o aluno precisa subir ao palco, alguns conforme Granero (2011) durante o processo de montagem interessam-se pela função da produção (materiais, confecção de acessórios, cenário, etc.). E sobre o medo da participação segundo Spolin (2015), deve ser respeitado e trabalhado:

Um aluno, exercitando o direito de jogar ou não jogar, pode estar com medo de participar. O medo de desaprovação e a incerteza de ganhar aprovação podem estar paralisando o jogador. […] Aquele alunos que não quer jogar deve ser mantido à vista, de forma que o medo possa ser diminuído e a participação eventual encorajada. (p. 45)

O penúltima aspecto pesquisado relaciona o conhecimento do graduando sobre a Lei 13.278/2016 que inclui as artes visuais, a dança, a música e o teatro nos currículos dos diversos níveis da educação básica:

Gráfico 3 – Você sabia que foi instaurada a Lei 13.278/2016, que inclui as artes visuais, a dança, a música e o teatro nos currículos dos diversos níveis da educação básica. Dando um prazo de cinco anos para que os sistemas de ensino promovam a formação de professores para implantar esses componentes curriculares no ensino infantil, fundamental e médio?

Fonte: Dados do questionário aplicado

De acordo com o gráfico acima percebe-se que a informação sobre a Lei 13.278/2016 está equilibrada entre os estudantes, e esse conhecimento é importante, pois serão os responsáveis por lecionar tais linguagens na educação infantil e primeiro segmento do ensino fundamental. No entanto, preocupa o fato de 48% dos entrevistados não saberem nada sobre a Lei, e essa questão deve ser abordada durante sua formação, bem como precisa haver uma preparação ampla desse pedagogo sobre as linguagens da Arte numa relação de teoria e prática onde a carga horário estabelecida seja o suficiente para aplicação dos conhecimentos em sala de aula após sua formação.

Por último pergunto ao estudante qual a relação entre o teatro e a educação, com intuito de compreender sua perspectiva sobre aspectos que vinculam a linguagem teatral a prática escolar. Colhi 23 respostas e acerca das perspectivas elucidadas:

“Os dois caminham juntos e o teatro ajuda no desenvolvimento da aprendizagem do educando (Questionário 01). A concepção tratada pelo graduando refere o teatro ligado diretamente a educação como uma das peças principais para o avultamento da aprendizagem do aluno e esse aspecto foi abordado pela maioria das respostas, em concordância com tal visão, amplio a concepção apontando o papel do teatro na vida dos estudantes, bem como no processo de aprendizagem: auxilia o desenvolvimento do aluno como um todo no qual estimula o gosto pela leitura, a socialização, além do melhoramento na aprendizagem dos conteúdos na escola. Granero (2011) salienta:

A aula de teatro motiva a criação, desenvolve a comunicação verbal, gestual e visual e estimula a busca por novas formas de expressão; ela carrega em seu âmago a sabedoria dos filósofos grego do “saber viver” e , ao tratar conceitos relativos ao currículo escolar, articula abstrações do pensamento, da ação e do tempo […] (p. 14)

“Desenvolvimento do corpo, da criatividade, da expressão.” (Questionário 03) é interessante encontrar na visão do estudante a conexão do teatro como processo educativo na relação da expressividade corporal, a consciência corporal é elemento importante no processo de aplicação do jogo teatral, além de ser significativo na prática escolar. Observar a si e ao outro propicia ao aluno conteúdos emocionais, estéticos e sociais importantes, Granero (2011). Outras respostas também utilizam elementos corporais na relação do teatro e educação: “Acredito que ajude muito, na interação e na desenvoltura dos alunos.” (Questionário 09), a desenvoltura pode estar ligada ao corpo, a postura, comportamento, e por meio do trabalho com a corporeidade torna-se possível promover o desenvolvimento sobre a conscientização e autotransformação corporal do aluno.

O Teatro instaura a experiência artística multissensorial de encontro com o outro em performance. Nessa experiência, o corpo é lócus de criação ficcional de tempos, espaços e sujeitos distintos de si próprios, por meio do verbal, não verbal e da ação física. Os processos de criação teatral passam por situações de criação coletiva e colaborativa, por intermédio de jogos, improvisações, atuações e encenações, caracterizados pela interação entre atuantes e espectadores. (BNCC, 2016)

“A relação é totalmente necessária pois o teatro, assim como outras linguagens artísticas, possibilita o desenvolvimento do ser humano como um todo e a ampliação dos processos de aprendizagem.” (Questionário 13); percebe-se na prática teatral e nas linguagens da Arte em si, um enlace a educação a respeito do desenvolvimento cultural e crescimento pessoal do aluno, sendo possível pensar que tais linguagens em sua aplicação atinja instâncias terapêuticas num sentido de favorecimento da aprendizagem.

“Um encontro de artes”(Questionário 14) o teatro como arte que exige a presença completa do indivíduo, tal como: o corpo, a fala, o raciocínio e emoção, também aponta sua completude na forma de se manifestar em todas as artes, estando elas também presentes na linguagem teatral, de acordo com Neves; Santiago (2009), a música, a dança, a literatura (o texto), as artes plásticas (o cenário) e até mesmo as artes visuais como recurso, compõem o sistema cênico, pode-se a vista disso afirmar o teatro como fonte de outras atividades não só artística, mas também campo educacional.

“Acredito que o teatro e seus recursos tornam os processos de aprendizagem mais fáceis, pois não limitam o aprendizado, tornando o momento mais prazeroso.” (Questionário 22), o teatro na resposta é visto como uma método prazeroso, torna o processo de aprendizagem mais fácil e leve, o “não limitar” o processo de aprendizagem vem da liberdade pessoal que o teatro permite na liberdade de se expressar corporalmente, gestualmente e verbalmente, de maneira criativa e espontânea. O recurso do teatro na educação vem na descoberta livre de criar estimulando a criatividade e senso crítico

“Considero o teatro como uma ferramenta importantíssima tanto para o discente quanto para o docente, pois melhora o diálogo dos que o praticam, bem como a confiança, espontaneidade, melhora da fala, melhora da interação e afins. É importante que a escola mantenha uma relação estreita entre a arte e a educação, pois dessa forma, o processo de crescimento intelectual e pessoal de todos será maior.”. (Questionário 25) essa consideração têm reflexos das respostas discutidas anteriormente com relação a importância no processo de aprendizagem pessoal e escolar do estudante, e de forma mais explicitada menciona-se a relação do teatro e educação como processo importante para o docente, o que me fez refletir sobre como forma-se o pedagogo em relação ao teatro durante a graduação. A linguagem teatral estará sendo abordada de maneira ampla a atender demandas práticas na sua atuação; será que a ferramenta teatral está sendo orientada por conteúdos suficientes que propiciem a abordagem do teatro na escola com domínio amplo e não superficial.

Com base nas informações acima expostas concluo parcialmente que o teatro é visualizado por alguns graduandos como recurso de passatempo na escola, e outras têm ciência do quão importante o teatro é no sentido de recurso e atualmente componente do currículo escolar. A vivência dos estudantes sobre a linguagem durante a formação deve salientar tanto o processo teórico quanto o prático, sua experiência estética, bem como as outras linguagens da Arte necessitam de atenção e fomento na graduação.

A linguagem é identificada e trabalhada por alguns estudantes que atuam na área da educação e é importante refletir o porquê de estarem sendo utilizados, contudo, seu propósito deve estar calcado na contribuição para aprendizagem do aluno em seu processo amplo e não limitado.

Para o fim das considerações , crio diante todas as respostas uma definição conjunta para o que venha ser a relação do teatro e educação, identificando a relação dos graduandos conforme visões apresentadas: o teatro é relação que perpassa entre as formações autônoma, criativa, construtiva devendo ser levado em consideração tanto pelo educando quanto ao educador, sua prática consiste num processo de aprendizagem que propicia ao aluno um desenvolvimento humano que capacita sua interação coletiva por um processo prazeroso, de amor. O teatro é ferramenta nova e eficaz no ensino aprendizagem, no qual oferece um encontro artístico.

Portanto, predominantemente entre os graduandos o teatro é positivo no âmbito da educação, sendo um enlace indispensável que possibilita o desempenho escolar e desenvolvimento ligado à espontaneidade, criatividade, auto- conhecimento, senso crítico, e consciência corporal do educando.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na pesquisa percebe-se que o ensino de teatro no âmbito educacional ainda é recente, e com a lei que inclui o ensino das linguagens da arte como obrigatoriedade impulsiona um grande avanço artístico na educação. É notório o avanço, no entanto, são casos que ainda precisam ser trabalhados e concretizados mediante aos cinco anos do processo de adaptação da lei às instituições.

Anteriormente o ensino de arte sofria um forte preconceito, o que ainda infelizmente é enfrentado, pois não vêem a arte como disciplina significativa no processo ensino-aprendizagem do aluno, os professores usam, em específico o teatro como forma de passatempo. Em contrapartida, o teatro é usado como instrumento pedagógico desde o século XVI por ser uma arte completa no sentido de desenvolver aspectos corporais e psíquicos que propiciam um complemento educacional na aprendizagem do aluno. O principal mediador desse processo de atribuir a linguagem as práticas educativas é o professor, sobretudo o pedagogo, que atende o primeiro segmento do ensino fundamental, bem como a educação infantil.

É importante refletir sobre a formação questionando como o ensino das linguagens da arte estão sendo abordados no curso de Pedagogia, é indispensável o conhecimento integral assim como a experiência sobre a linguagem. Nesse caso é necessário que os conteúdos sejam ensinados e instigados de forma que os profissionais alcancem conhecimentos suficientes práticos e teóricos durante a graduação. Conclui-se que respectivamente os graduandos possuem ciência da importância do teatro na educação, no entanto, não demonstram conhecimentos aprofundados, nem mesmo um relacionamento com a linguagem.

Trabalhar o ensino de teatro na escola desperta o aluno para o mundo criativo, tornando-o pensante, ágil, além de propor mudanças na sua oralidade, escrita, comportamento, desinibição, interação, portanto, é clara a importância da linguagem teatral na educação.

A pesquisa torna clara a importância da obrigatoriedade do ensino de teatro no âmbito educacional, bem como a formação de profissionais devidamente qualificados para mediar o teatro em sua plenitude, reflete-se também sobre a adequação da nova lei tornando o ensino das linguagens da arte como obrigatoriedade no currículo e suas implicações diante a realidade escolar, guiadas pela BNCC que expõe propostas longe da atual situação educacional, elucidando orientações difíceis de serem concretizadas.

Por fim, a linguagem teatral adquire um avanço no processo educativo, tornando-se nítido diante a pesquisa a importância desse ganho na educação, de seus benefícios tanto para os educandos quanto aos educadores, garantindo aos alunos um ensino de qualidade onde serão abordados as diferentes linguagens da arte, sobretudo do teatro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

______. Lei 13.769, 18 de agosto de 2008. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11769.htm> Acesso em 20 de fevereiro de 2017.

GRANERO, Vic Vieira. Como Usar o Teatro na Sala de Aula. São Paulo: Contexto, 2011.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida (ORG). Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Educação. 14° ed. São Paulo: Cortez, 2011.

Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular – BNCC 3ª versão. Brasília, DF, 2016.

NEVES, Libéria Rodrigues & SANTIAGO, Ana Lydia B. O Uso dos Jogos Teatrais na Educação. Possibilidade diante do fracasso escolar. 1 ed. Campinas S.P: Papirus, 2009.

SPOLIN, Viola. Jogos Teatrais na Sala de Aula. 3 ed. Tradução: Ingrid Dormien Koudela. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2015.

[1] Graduada em Pedadogia pela UFRRJ, Cursando graduação em bacharelado de Teatro.

Enviado: Julho, 2018.

Aprovado: Julho, 2019.

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Carla Nunes Gomes

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