REVISÃO SISTEMÁTICA
RODRIGUES, Emanoel Marcio da Silva [1], SOUSA, Rafael Menezes de [2]
RODRIGUES, Emanoel Marcio da Silva. SOUSA, Rafael Menezes de. Saúde mental na educação: revisão Sistemática. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 09, Ed. 07, Vol. 01, pp. 147-163. Julho de 2024. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/saude-mental-na-educacao, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/saude-mental-na-educacao
RESUMO
Esta pesquisa surge a partir de um questionamento: como a literatura aborda as questões de saúde mental no ambiente escolar? O seu objetivo é identificar pesquisas que definam o conceito de saúde mental entre profissionais da educação, além de descrever os aspectos estruturais subjacentes dessas pesquisas e os seus processos de elaboração. A revisão sistemática de literatura foi realizada no segundo semestre de 2022, com foco em artigos da SciELO e da Revista Subjetividades. Inicialmente, foram identificados 96 trabalhos, dos quais 16 foram selecionados após a aplicação de critérios de inclusão. A revisão final incluiu sete artigos científicos. Este estudo destaca como essa abordagem acadêmica contribui para avançar na compreensão atual da saúde mental, abrindo caminho para futuras pesquisas científicas.
Palavras-chave: Professores, Escola, Saúde mental.
1. INTRODUÇÃO
A presente pesquisa tem como foco de estudo as percepções de saúde mental no contexto educacional, reconhecendo que tanto os professores quanto outros profissionais enfrentam situações desconfortáveis ou desafiadoras. No entanto, é crucial que esse diálogo comece a ganhar espaço dentro do ambiente escolar. Compreender o conceito de saúde mental e reconhecer a importância do autocuidado pode auxiliar na identificação das principais fontes de angústia vivenciadas no ambiente escolar, permitindo a busca por abordagens interdisciplinares capazes de fazer intervenções significativas.
Partindo dessa perspectiva, analisa-se a seguinte questão: como a literatura aborda as questões de saúde mental no ambiente escolar? Reconhecemos que essas concepções exercem influência sobre nós e compreender o significado de “saúde mental” no contexto escolar pode revelar não apenas aspectos históricos, mas também estruturas que demandam mudanças. Para isso, são necessárias ações concretas que promovam a inclusão desses debates dentro das instituições educacionais.
O artigo é estruturado em três momentos para a sua organização. As informações apresentadas foram submetidas à seleção criteriosa de artigos científicos, que se basearam nas ideias de Galvão e Ricarte (2019) e utilizaram a metodologia de pesquisa de revisão sistemática de literatura. Essa abordagem desempenha um papel fundamental para aqueles que buscam aprofundar-se e acompanhar a evolução de determinado tema. Assim, este estudo é composto por três partes essenciais: a metodologia, que aborda a seleção e fundamentação deste estudo; os resultados, que destacam os dados selecionados de cada estudo, proporcionando percepções sobre onde e como essas discussões estão ocorrendo, bem como as discussões, que servirão de base para futuras pesquisas. Os dados transformados em conhecimento nos permitirão construir novos saberes.
A pesquisa surge da exploração da temática, originada a partir de observações nas instituições de ensino em Fortaleza. O enfoque recai sobre a interação entre os profissionais da unidade escolar e os do setor da saúde. O ideal da efetivação de uma parceria funcional abarca o desafio que os gestores de ambas as instituições enfrentam ao buscar implementar práticas educativas conjuntas e interdisciplinares.
Trata-se de uma Revisão Sistemática da Literatura (RSL), cujo propósito é abordar a questão central do estudo, visando compartilhar as produções científicas contemporâneas relacionadas à temática em foco. Segundo Galvão e Ricarte (2019), a revisão da literatura desempenha um papel fundamental ao fornecer a base teórica para a pesquisa, evitando a duplicação de obras e a análise redundante de trabalhos em diferentes contextos do manuscrito.
Dessa forma, este estudo científico possui dois objetivos principais: a) identificar pesquisas que definem o conceito de saúde mental entre profissionais da educação e b) descrever os aspectos estruturais subjacentes dessas pesquisas e os seus processos de elaboração.
2. METODOLOGIA
Trata-se de uma Revisão Sistemática de Literatura (RSL), cujo propósito é abordar a questão central do estudo, visando compartilhar as produções científicas contemporâneas relacionadas à temática em foco. Segundo Galvão e Ricarte (2019), a revisão da literatura desempenha um papel fundamental ao fornecer a base teórica para a pesquisa, evitando a duplicação de obras e a análise redundante de trabalhos em diferentes contextos do manuscrito.
Galvão e Ricarte (2019) argumentam que as revisões sistemáticas devem seguir protocolos característicos da sua construção como gênero textual. A estrutura do texto começa por valorizar princípios fundamentais, incluindo a definição clara da questão, seleção das bases de dados, elaboração da estratégia de busca e a organização da seleção e sistematização da equipe.
A iniciativa de explorar a bibliografia existente sobre os nossos objetos de estudo, tanto no mestrado quanto no doutorado, surgiu durante a Disciplina de Produção Científica do Programa de Pós-graduação em Psicologia (PPGP), da Universidade de Fortaleza (Unifor). O desafio agora é construir a identidade do pesquisador, portanto, iniciar a análise do referencial teórico do Projeto de Pesquisa é uma etapa essencial para aprofundar o conhecimento sobre o tema. Durante a sistematização do manuscrito, os estudantes participantes dos programas Stricto Sensu podem identificar aspectos relevantes sobre o tópico abordado. Essa atividade serviu como a primeira avaliação da disciplina, realizada no segundo semestre de 2022.
Dessa forma, adotando o protocolo estabelecido, foram exploradas duas bases de dados para identificar os artigos científicos que constituem a base teórica desta investigação. Ao realizar a seleção dos estudos, será empregada uma abordagem qualitativa, que contribuirá para a formação de um pensamento crítico e reflexivo acerca da saúde mental dos profissionais da educação no contexto do Distrito de Educação 6, situado no município de Fortaleza, no estado do Ceará.
Para atender aos requisitos do protocolo da pesquisa da RSL, a primeira base de dados utilizada foi a Revista Subjetividades, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza (Unifor) e acessível pelo do link: https://periodicos.unifor.br/rmes. A escolha dessa revista se deu devido à sua relevância e afinidade com o escopo do estudo, abordando temas pertinentes nas áreas da Psicologia e Ciências Sociais. A Revista Subjetividades publica resultados de investigações, ensaios, comunicações e resenhas, tanto de âmbito nacional quanto internacional. A pesquisa foi focada nos artigos publicados entre 2020 e 2022.
A segunda base de dados empregada foi a SciELO (Scientific Electronic Library Online), disponível em: https://www.scielo.br. Nessa plataforma, foi realizada uma pesquisa avançada utilizando o operador booleano AND para refinar o mapeamento do assunto de forma mais específica. Os filtros utilizados foram cuidadosamente selecionados para direcionar a busca, de acordo com o tema estudado. A ordem dos filtros aplicados foi a seguinte: 1) Coleção: Brasil; 2) Periódico: Trabalho, Educação e Saúde; 3) Idioma: Português; 4) Ano de publicação: 2020 e 2021; 5) SciELO Áreas Temáticas: Ciências da Saúde e Ciências Humanas; e 6) Tipo de literatura: Artigo.
Mediante a utilização dessas bases de dados e a aplicação criteriosa dos filtros, buscamos assegurar que a literatura selecionada para a construção deste novo conhecimento tenha passado pelo escrutínio da reflexão crítica. A abordagem adotada na busca e na seleção dos artigos contribuirá para o aprofundamento da compreensão sobre o tema em questão.
Conforme observado no parágrafo anterior, o recorte temporal definido no filtro da pesquisa na base de dados da SciELO abrange o período de janeiro de 2020 a dezembro de 2021. Esse intervalo engloba o contexto crítico vivenciado na área educacional, em que tanto os profissionais quanto os alunos da rede pública de ensino em Fortaleza enfrentaram vulnerabilidades sociais decorrentes da pandemia de Coronavírus (COVID-19). A análise desse cenário histórico é crucial e é responsabilidade do poder público estabelecer uma rede de apoio para a saúde emocional dos profissionais da educação.
Na busca realizada na base de dados da SciELO, foram procurados artigos científicos que contribuíssem para a fundamentação teórica acerca da saúde mental dos profissionais que atuam na docência da Educação Básica brasileira. Além disso, procurou-se identificar em quais regiões os pesquisadores estavam concentrando os seus esforços para desenvolver conhecimentos que pudessem ampliar a rede de suporte às pessoas que sofrem de transtornos mentais ou enfrentam dificuldades relacionadas ao uso de substâncias como crack, álcool e outras drogas. Mesmo com a existência da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), estabelecida pela Portaria nº 3.088/2011, ainda é necessário avançar na construção de uma rede de apoio específica para a saúde mental dos professores da rede pública de ensino.
Tabela 1 – Resultado dos artigos mapeados na base de dados da SciELO

Tabela 2 – Resultado dos artigos mapeados na base de dados da Revista Subjetividades

Com o propósito de identificar os estudos que apresentassem uma abordagem significativamente relevante para a questão investigada, foram desenvolvidos critérios de inclusão e exclusão para avaliar as obras acessíveis nas bases de dados da Revista Subjetividades e da SciELO. A tabela a seguir esclarece os princípios que nortearam essa seleção criteriosa.
Tabela 3 – Critérios de inclusão e exclusão

Foram identificados 96 trabalhos e mapeados 16 artigos, dos quais, após a aplicação dos critérios de inclusão – que envolveram a avaliação de título e resumo -, selecionamos sete estudos para análise, a saber:
- a) “Trabalho remoto docente e saúde: repercussões das novas exigências em razão da pandemia da Covid-19”;
- b) “Produção do cuidado em saúde mental: Práticas territoriais na rede Psicossocial”;
- c) “Apoio matricial como estratégia de ordenação do cuidado em saúde mental”;
- d) “Docência na Educação Infantil: Neoliberalismo, desumanidade e adoecimento na república inacabada brasileira”;
- e) “Depressão: Doença, sintoma, estrutura ou mal-estar contemporâneo?”;
- f) “Desafios das trabalhadoras mães de crianças pequenas durante a Pandemia Covid-19”;
- g) “Entrelaçamentos entre Psicanálise, Educação e Política: Experiências nos espaços escolares”.
Após a análise detalhada desses sete artigos científicos, esse procedimento de leitura e mapeamento dos achados contribui para o pesquisador no seu percurso de responder à pergunta central. Nesse estágio, o investigador assume um papel de protagonista, analisando e comentando em profundidade os elementos identificados durante a leitura.
Visando uma compreensão mais acessível ao leitor, organizamos a discussão dos artigos científicos em uma sequência que vai de AC1 a AC7, sendo “Artigo Científico” abreviado como “AC” e seguido pelo número do artigo. Para maior clareza, pode-se consultar a Tabela 4, para visualização dessa organização.
Tabela 4 – Artigos Científicos: Título, palavras-chave, ano e base de publicação

Pela análise da Tabela 4, é possível observar a organização dos estudos, identificando elementos cruciais nas suas descrições. Esses trabalhos mapeados constituíram a base teórica, que deram início à construção do pensamento sobre as relações entre escola, saúde mental e o fenômeno do adoecimento. Em um contexto educacional contemporâneo, os pesquisadores são instados a concentrar a sua atenção em situações prementes, contribuindo para integrar a discussão teórica sobre a interseção entre educação e saúde na rotina escolar.
Os sete artigos científicos destacados na tabela acima abrangem um período específico, correspondendo aos anos de 2020 e 2021, que englobaram o cenário da pandemia de COVID-19. Essa seleção atendeu ao protocolo estabelecido para a inclusão e exclusão dos estudos. É importante notar que todos os trabalhos foram mapeados a partir da mesma base de dados e pela mesma estratégia de busca e filtro. Este estudo, ao ser concebido sob a ótica de estabelecer uma parceria comunicativa entre as esferas de educação e saúde, busca promover a formação bi-setorial no contexto contemporâneo, aproximando esses dois campos do conhecimento, a partir de uma abordagem interdisciplinar.
3. RESULTADOS
De acordo com Galvão e Ricarte (2019), a Revisão Sistemática da Literatura (RSL) oferece a capacidade de identificar falhas ou lacunas nos estudos investigados, permitindo uma reflexão profunda sobre a elaboração de uma pesquisa que atenda às demandas dos profissionais de diversas áreas do conhecimento. Além disso, a RSL propicia a sugestão de modelos de investigação que contribuam para a formulação de bases teóricas sólidas, essenciais para o desenvolvimento de novos estudos científicos, com o intuito de gerar novos insights e conhecimentos.
Com o mapeamento dos sete artigos científicos, que corroboram significativamente com a fundamentação teórica requerida para a elaboração da tese de doutorado do PPGP, a Revisão Sistemática da Literatura (RSL) oferece ao pesquisador a capacidade de localizar, em bases de dados confiáveis, tópicos e pesquisadores que tenham contribuído para a análise e discussão da saúde mental dos profissionais da educação. A identificação de perspectivas linguísticas e ideológicas envolve uma reflexão crítica sobre os temas abordados, especialmente no contexto da parceria bi-setorial entre educação e saúde.
A escolha da base de dados da Revista Subjetividades e da SciELO, com um enfoque no período mais crítico da pandemia de COVID-19 entre 2020 e 2021, ressalta a importância da problemática da saúde mental dos professores que atuam na primeira etapa da Educação Básica, bem como nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental, que tem sido uma preocupação central para os pesquisadores.
As Tabelas 1, 2 e 3 desempenham um papel crucial no refinamento dos estudos selecionados, os quais fornecerão ao longo do desenvolvimento da escrita acadêmica as contribuições essenciais para a discussão sobre a saúde mental dos professores que atuam na Educação Básica. Ao mapear os artigos científicos presentes na base da Revista Subjetividades e SciELO, identificamos um total de 16 trabalhos publicados em Língua Portuguesa durante o período histórico crítico da disseminação do vírus SARS-CoV-2.
Essa análise e da avaliação dos títulos, resumos e descritores ou palavras-chave, resultou na seleção de sete trabalhos acadêmicos que se relacionam com a saúde mental dos profissionais da educação no cenário contemporâneo, representando um percentual de 43,75%. Ao utilizar os artigos da base de dados da Revista Subjetividades e SciELO em Língua Portuguesa do período de 2020 a 2021, identificamos um total de 16 artigos. Após a avaliação desses estudos, constatamos que sete deles abordam a temática da saúde mental dos profissionais da educação, tornando evidente a necessidade de pesquisas nesse campo para compreendermos as complexas relações entre o indivíduo e o ambiente de trabalho.
Tabela 5 – Concepção de saúde mental nos trabalhos acadêmicos contemporâneos

Esses conceitos nos convidam a uma reflexão profunda sobre a discussão da saúde mental no contexto educacional, destacando a necessidade de promover diálogos abertos que permitam aos profissionais da educação compreender plenamente essa temática. A implementação de rodas de conversa, que possam abordar e elucidar essa questão, assume uma importância crucial. Práticas pedagógicas que preencham essa lacuna no ambiente institucional da educação se tornam imperativas para a construção de políticas públicas eficazes, que integrem discussões sobre saúde mental na formação contínua dos professores. Mesmo com esses dois conceitos em mente, ainda é essencial programar atividades que garantam a realização de debates, a identificação dos processos de adoecimento e o encaminhamento adequado para a rede de atendimento.
A Tabela 5 foi elaborada com o objetivo de apresentar os conceitos fundamentais para o desenvolvimento de uma pesquisa voltada a contribuir com a formação bi-setorial, unindo educação e saúde, na temática da saúde mental dos profissionais da educação. A análise dessas concepções de saúde mental nos permite explorar as fontes que abordam esse assunto no seu contexto textual, oferecendo uma base sólida para orientar as nossas futuras abordagens. Para os leitores, é de suma importância compreender como essas concepções são incorporadas nas nossas propostas de escrita, valorizando o processo de construção do conhecimento pela ação comunicativa e da formação acadêmica.
AC1 estabelece o seguinte objetivo: “Analisar a perspectiva dos profissionais dos centros de atenção psicossocial sobre o apoio matricial como estratégia de cuidado psicossocial em saúde mental.” De acordo com o estudo, os profissionais descrevem aspectos que definem o cuidado psicossocial. A atenção em rede é um dos primeiros elementos destacados. Essa perspectiva enfatiza que a colaboração em equipe pode auxiliar na organização das ações. É ressaltada a necessidade de centrar essas ações no usuário e abordar o cuidado abrangente a partir de uma postura receptiva e de apoio contínuo (Lima; Gonçalves, 2020).
AC2, como o seu principal objetivo, busca “Analisar a percepção de professores de uma unidade escolar de educação infantil em um município catarinense sobre a produção de dignidade pelo trabalho”. Paula e Lima (2020) destacam que os educadores vivenciam angústia ao buscar fomentar uma educação formativa que empodere os indivíduos. No entanto, as suas condições de trabalho frequentemente os forçam a assumir papéis que não condizem com o seu escopo profissional, levando ao esgotamento mental e físico.
O objetivo do AC3 é “Analisar as práticas de cuidado territoriais em saúde mental realizadas pelos profissionais do CAPS e da APS”. Campos, Bezerra e Jorge (2020) afirmam que o território é inquestionavelmente um cenário que vale a pena investigar. Para profissionais de saúde, entender esses contextos elucida os desafios que cada profissional enfrenta ao tentar implementar intervenções. A RAPS (Rede de Atenção Psicossocial) utiliza a territorialização como uma das suas ferramentas, permitindo que os profissionais compreendam as necessidades locais de saúde mental e adaptem as suas abordagens, possibilitando um engajamento mais proativo.
O objetivo do AC4 é “Descrever características do trabalho remoto, estado de saúde mental e qualidade do sono durante a pandemia da Covid-19 em docentes na Bahia”. O estudo explora as experiências dos educadores durante a transição para atividades remotas – um período histórico sem precedentes provocado pela pandemia de COVID-19 e pelas medidas de isolamento social subsequentes. Como resultado, repensar o papel do ensino nos leva a examinar a profunda reestruturação do processo de ensino e aprendizagem devido à pandemia do Coronavírus. Refletir sobre as condições de trabalho, o impacto da vida familiar, o medo, os padrões de sono, as mudanças na rotina e o bem-estar mental e físico, incita a contemplação sobre como os relacionamentos profissionais foram vivenciados durante o isolamento social e as consequências subsequentes para os educadores (Pinho et al., 2021).
O objetivo do AC5 é “Analisar a depressão a partir dos autores clássicos Freud e Lacan, até elaborações de autores contemporâneos”. Segundo Herculano e Danziato (2022), engajar-se em um diálogo sobre a depressão e suas bases teóricas pode fomentar o desenvolvimento de uma trajetória reflexiva. Explorar as primeiras conceituações de Freud sobre a depressão ajuda a compreender a sua abordagem sobre o tema. Da mesma forma, investigar as contribuições de Lacan permite traçar como esses autores influenciaram as discussões contemporâneas, enriquecendo o discurso em curso sobre a depressão.
O objetivo do AC6 é “Compreender as experiências de 10 mães trabalhadoras de crianças de zero a seis anos, envolvidas em formas alternativas de trabalho”. Segundo Rossini e Messias (2022), o confinamento imposto pelas medidas de isolamento social da COVID-19 provocou mudanças nas rotinas diárias. Essas mudanças inevitavelmente se estenderam ao local de trabalho, causando agitação econômica e emocional. As rotinas familiares e profissionais se entrelaçaram, com o teletrabalho transcendendo fronteiras territoriais e geográficas. As famílias se adaptaram às novas rotinas, necessitando de discussões inovadoras sobre convivência.
O objetivo do AC7 é “Explorar as interconexões entre os campos da psicanálise, educação e política”. A partir da combinação de três relatos de pesquisa, emergiu uma compreensão mais clara de como as relações escolares se cruzam com a dinâmica dos grupos. Nenhum aspecto permanece isolado e elementos inconscientes contribuem para experiências coletivas, desencadeando conflitos de interesse. A vida é marcada por experiências únicas que evoluem à medida que os indivíduos se desenvolvem. A psicanálise auxilia na compreensão e acolhimento dos outros, oferecendo apoio para variações emocionais que não podem ser tratadas de forma superficial. No que diz respeito ao bem-estar dos professores, reavaliar políticas públicas que apoiem sua saúde mental é fundamental (Maciel; Sousa; Pedroza, 2022).
4. DISCUSSÕES
Ao começarmos a nossa discussão sobre saúde mental e como essa temática permeia o ambiente escolar, é crucial reconsiderar como as abordagens pedagógicas transversais são implementadas nas redes de ensino. Dessa forma, ao abordar questões de saúde que atravessam de maneira interdisciplinar o currículo escolar, é imperativo entender a profundidade do conteúdo a ser ensinado. Após o período de isolamento social, os profissionais da educação apresentam traços de medo ou tristeza, perda de interesse ou prazer, sentimentos de culpa ou baixa autoestima, distúrbios do sono ou apetite, fadiga e falta de concentração (OMS, 2017).
Conforme observado por Pinto et al. (2012), uma das dificuldades enfrentadas é a participação dos profissionais da saúde no mapeamento das dificuldades ou mesmo na implementação de atividades terapêuticas/educativas. Isso nos leva a considerar que, ao tentar estabelecer uma parceria bi-setorial entre educação e saúde, com o objetivo de aproximar essas duas áreas, é crucial repensar abordagens para evitar que o ativismo profissional prejudique o diálogo entre os envolvidos.
Para Paula e Lima (2020), os desafios enfrentados pela saúde pública são muitos e superar as dificuldades impostas pelo sistema neoliberal pode ser o desafio mais árduo que o Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta. O desmantelamento do SUS resultaria na sobrecarga das redes de atenção à saúde do povo brasileiro, agravando ainda mais as condições de trabalho dos profissionais da saúde.
A visão de saúde mental de Campos, Bezerra e Jorge (2020) exige que os profissionais possuam conhecimento sobre o território. A ferramenta de territorialização possibilita que o profissional possa interagir no seu ambiente de atuação, identificando as necessidades de saúde mental específicas de cada local.
Pinho et al. (2021) relatam que durante o período de isolamento social, os professores enfrentaram diversas dificuldades, incluindo a sobrecarga de trabalho para as mulheres, a adaptação dos espaços para atividades laborais, a falta de suporte tecnológico e a inclusão de situações atípicas nas agendas de trabalho. A saúde mental dos professores que trabalharam durante a pandemia de Coronavírus precisa ser repensada, já que o acolhimento é um passo importante em direção à terapia.
A iniciativa de incluir teóricos como Freud e Lacan no debate sobre a depressão, conforme proposto por Herculano e Danziato (2022), demonstra a importância de explorar a inclusão desse tema em outros espaços, especialmente nas instituições escolares. Após o isolamento, os professores que se adaptaram às mudanças no cenário educacional também enfrentam os seus próprios desafios. Portanto, abrir espaços formativos para abordar a depressão como um aspecto de cuidado de saúde no ambiente escolar fortalece a parceria bi-setorial entre educação e saúde.
Na realidade do isolamento social, conforme destacado por Rossini e Messias (2022), as mulheres continuaram a enfrentar a dupla jornada de trabalho, lidando com as demandas interpessoais impostas a elas. Além disso, as mulheres que são mães de crianças pequenas enfrentaram desafios adicionais. O ambiente de trabalho muitas vezes não considera suas responsabilidades pessoais, sobrecarregando-as e levando a um esgotamento físico e mental. Considerar as condições de trabalho e a saúde mental dessas professoras no pós-isolamento é essencial.
Maciel, Sousa e Pedroza (2022) ressaltam que a escola é um espaço de aprendizado e criação. Estabelecer uma parceria entre educação e saúde é um passo importante para abordar questões que muitas vezes são negligenciadas nas instituições educacionais. No entanto, a busca por essa aproximação exige dedicação e enfrenta diversos obstáculos, como a falta de pessoal adequado para atender à demanda, a criação de espaços de formação contextual ou em serviço, a escassez de recursos financeiros e a falta de comprometimento por parte dos gestores das instituições. Portanto, é crucial enfatizar a contribuição de ações educacionais que incorporem no currículo escolar momentos de troca de experiências entre a atenção primária e as questões de saúde presentes em cada contexto escolar. Isso permite uma abordagem de redução de danos à saúde da população, com orientação e acolhimento ocorrendo no próprio território.
5. CONCLUSÕES
Diante do exposto, ao empreender um estudo de Revisão Sistemática de Literatura (RSL), a busca inicial teve como objetivo mapear estudos que contribuam para a construção de um conhecimento mais profundo sobre a saúde mental dos professores e como essa discussão tem sido abordada na pesquisa acadêmica. É crucial ressaltar que o ambiente escolar contemporânea demanda a exploração de questões que interligam educação e saúde. Os pesquisadores, ao conduzirem esse tipo de estudo, não apenas traçam um panorama abrangente das investigações existentes, mas também valorizam e incorporam os trabalhos prévios de outros estudiosos.
Esse processo abriu caminho para a formulação de novos saberes, reconhecendo que os dois objetivos delineados foram alcançados. Ainda que cada pesquisador possa enfatizar os aspectos que mais lhe despertam interesse, o estudo proporcionou uma compreensão mais ampla de diversos conceitos, permitindo identificar áreas que podem ser aprimoradas e aprofundadas nas pesquisas futuras a serem conduzidas.
REFERÊNCIAS
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[1] Doutorando em Psicologia pela Universidade de Fortaleza (Unifor). Mestre em Ensino na Saúde pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Licenciado em Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), Bacharel em Enfermagem pela Faculdade de Ensino e Cultura do Ceará (FAECE). Especialista em Educação Infantil pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1401-9488. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7027826537366831.
[2] Especialista em Gestão Escolar pela Faculdade Educacional da Lapa (FAEL). Graduado em Pedagogia (Licenciatura) pela Universidade Paulista (UNIP). ORCID: https://orcid.org/0009-0000-2997-048X. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8908052763154468.
Material recebido: 12 de fevereiro de 2024.
Material aprovado pelos pares: 01 de julho de 2024.
Material editado aprovado pelos autores: 15 de julho de 2024.