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Educação e ética digital: uma entrevista com Humberto de Faria Santos

RC: 85602
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/etica-digital

CONTEÚDO

ENTREVISTA

BRONZATO, Anderson [1]

BRONZATO, Anderson. Educação e ética digital: uma entrevista com Humberto de Faria Santos. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 04, Vol. 04, pp. 05-17. Abril de 2021. ISSN:2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/etica-digital, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/etica-digital

RESUMO

O presente relatório representa o conteúdo compartilhado pela entrevista de Humberto de Faria Santos, graduado em Teologia e Relações Internacionais com mestrado em sistemas de gestão. Santos já fez o curso de Economia e Ética Organizacional na Universidade de Harvard. A entrevista teve como objetivo colocar em discussão a relação entre ética no campo da tecnologia. Aqui, foi abordado (i) o papel das universidades, (ii) princípios e valores fundamentais, (iii) uma visão comparativa entre o mercado de trabalho e as organizações educacionais, (iv) as preocupações éticas nas organizações de formação não acadêmica, (v) privacidade, ética e o mundo digital, (vi) a criação de soluções que evitam problemas para a sociedade e, finalmente, (vii) a colaboração da tecnologia para o aumento da ética.

Palavras-chave: Ética, Tecnologia, Educação, Universidade, Valores.

1. INTRODUÇÃO

O presente estudo foi desenhado a partir de uma entrevista realizada com Humberto de Faria Santos, formado em Teologia e Relações Internacionais, mestre em sistema de gestão e atualmente fazendo doutorado. Um ponto adicional e interessante é que o Sr. Santos também tem um curso de Economia e ética organizacional na Universidade de Harvard.

Inicialmente, com base no relatório de John O’Brien intitulado “Digital ethics in higher education”, publicado em 2020, o autor expõe “as novas tecnologias, especialmente aquelas que dependem de inteligência artificial ou análise de dados são emocionantes, mas também apresentam desafios éticos que merecem nossa atenção e ação. O ensino superior pode e deve liderar o caminho” (O’BRIEN, 2020). Dessa forma, um dos objetivos da entrevista com o Sr. Santos trouxe para a discussão a relação entre viés ético no campo da tecnologia, uma vez que essa área oferece muitas aplicações e soluções digitais. Um ponto que é justo enfatizar é que a Ética foi adaptada ao mundo tecnológico, porém, é importante lembrar que ética é ética a qualquer momento.

2. FUNDAMENTOS

2.1 O PAPEL DAS UNIVERSIDADES NA DISCUSSÃO DE QUESTÕES ÉTICAS

Já se sabe que as universidades, recentemente, estão recebendo soluções tecnológicas e contratando consultores no mercado para encontrar soluções de coleta de dados, principalmente de seus clientes, que são seus alunos. Mesmo nos Estados Unidos da América e no Brasil, muitas universidades estão usando esses dados para descobrir quem tem grande potencial para se inscrever no próximo semestre para tirar boas notas e muitas vezes não pedem autorização dos dados do aluno. Neste ponto, é evidente o aumento da preocupação ética por parte dessas universidades. Além disso, essas instituições já devem se preocupar com a diversidade dos alunos – de uma forma que seja necessária uma combinação com qualidade e diversidade – por outro lado, existe a possibilidade, e a possibilidade mais provável é a preocupação com a questão econômica.

Segundo Santos, as universidades são um tipo tradicional de organização, o que reflete em sua lentidão. Os órgãos não têm que ser educativos, mas quando estão ligados à sociedade, tendem a ser mais lentos, também causando uma resposta lenta ao mercado. Ao mesmo tempo, mesmo sendo lento, coisas que acontecem nas universidades tendem a ganhar uma dimensão muito grande. Essas organizações são responsáveis por incorporar na discussão da vida cotidiana… Quando o tema das questões éticas de atração de estudantes é levantado, parece que as universidades ainda não estão assumindo isso com seu problema. Neste ponto, não há resposta hoje em dia, as universidades não têm esse tipo de preocupação, embora seja já que a área da educação deve ter participação e terá participação na resposta à sociedade, não apenas uma resposta normativa, mas uma resposta baseada no exemplo.

Está bem estabelecido que, nos últimos tempos, as universidades têm ajudado a melhorar a desigualdade social, oferecendo uma possibilidade de bacharelado. Nesse cenário, o aspecto da qualidade é levantado e questionado – o que inclui a qualidade do ensino, a qualidade dos alunos, já que todos têm a possibilidade de adquirir um diploma de uma faculdade/universidade – que o utiliza como instrumento para melhorar a qualificação das pessoas em seus países e regiões. O processo de conscientização ética dentro da área digital e dentro do mercado tecnológico pode ser iniciado pelas universidades, por um movimento da sociedade civil, do governo, ou até mesmo por uma mistura delas.

Santos acredita que é difícil ter resultados consistentes sem a participação da universidade, que deve ser de duas formas diferentes: (i) a mesma universidade que está formando/formando os estudantes de tecnologia, e (ii) a mesma universidade que deve levantar questões éticas. Se essas organizações não se posicionarem sobre as questões que estão acontecendo no mundo hoje, elas podem ser acusadas de serem a fonte de vários problemas éticos, como aconteceu e ainda acontece com as escolas de negócios. Isso é importante dizer que, em algum momento, tudo o que vemos na linguagem muito acadêmica será diluído para uma discussão com a sociedade, o que reflete a necessidade de ouvir a sociedade, a angústia que acontece dentro e ao redor da sociedade.

Hoje em dia, há um grande número de programas e documentários que expõem como lidar com essa questão. Nos próximos dois anos, preocupações éticas e consequências tecnológicas para a sociedade serão o tema discutido na reunião anual em Austin, Texas “South by Southwest”. O número de reportagens publicadas também teve um grande salto em termos de números nos últimos seis anos. Isso é um sinal de que a sociedade e a academia estão se movendo de forma a discutir questões éticas. No entanto, esse movimento deve ser mais rápido do que está acontecendo agora. Em outras palavras, recentemente, um novo profissional de tecnologia não tem mais uma resposta para algumas coisas, que muitas vezes a situação se torna maior que o desenvolvedor, que resultam em uma sensação de “Eu não sei o que está acontecendo com o algoritmo que eu projetei”. Essas situações precisam de uma resposta que venha tanto da universidade quanto da sociedade. A universidade desempenha um papel importante e fundamental nessas respostas. Não se espera que um fluxo normal venha da sociedade por si só, por isso a integração colaborativa entre organizações, indivíduos e universidades de comunicação precisa ser estudada e discutida para uma resposta eficiente e rápida em relação às preocupações éticas.

2.2 PRINCÍPIOS E VALORES: EXEMPLO BASEADO NA ÉTICA CRISTÃ E SUAS IMPLICAÇÕES

Quando os regulamentos éticos são analisados, observa-se que o continente europeu tem as regras e regulamentos mais atualizados e mais desenvolvidos em ética, quando comparado com a América do Norte, América do Sul e Ásia. Especula-se que as diferenças culturais entre o Oriente e o Ocidente reflitam sobre questões éticas e, por isso, uma questão vital levanta o desafio de uma regulação ética da convivência das questões éticas globais. Alguns conflitos culturais podem estar existindo; no entanto, discute-se se o padrão europeu e o padrão de regulamentações éticas podem ser aplicados globalmente de forma igualitária – ou se é essencial se adaptar a cada região da Terra.

Segundo Santos, é evidente a necessidade de adequar essas regulamentações a cada região, no entanto, é fundamental estabelecer temas inegociáveis nesse processo. Os valores não devem ser negociados, qual deles devemos preservar em um cenário global? É mais fácil adaptar, no entanto, tópicos periféricos. Por exemplo, a legislação brasileira tem usado a legislação europeia como base. No entanto, nem todos os países têm as mesmas questões, por isso é necessário considerar aspectos locais, que não cancelam uma discussão global de forma sistemática para definir o que não é negociável em relação a este tema.

Neste momento, uma questão levantada é: poderíamos considerar a privacidade como um valor? Alguns autores da literatura dizem que a privacidade não é um luxo, privacidade e autonomia são dois temas profundamente ligados, privacidade, autonomia e caráter. Interferir na privacidade de alguém também é uma intervenção com sua privacidade, autonomia e quem ela é – o que é completamente aceitável de ser discutido em um tema de regulação tecnológica. Voltando à interferência cultural, sempre haverá um choque cultural que é um trabalho hermenêutico que os intelectuais podem ser responsáveis pela discussão. É importante acreditar que essa discussão possa acontecer. No entanto, não é algo fácil e automático. Como característica da ética, não há lugar onde a resposta certa seja escrita, os argumentos podem ser discutidos a qualquer momento, e alguma resistência pode aparecer. É por isso que intelectuais, pessoas que estão estudando esse assunto, pessoas da área tecnológica, pessoas da filosofia, pessoas da área econômica podem trabalhar juntas de forma sistemática para conduzir a discussão.

Um exemplo de valores e princípios que poderiam ser aplicados em diferentes níveis de relacionamentos, negócios e culturas, são os valores e princípios judaico-cristãos. Por outro lado, porque a tecnologia trouxe uma sociedade polarizada, e porque existe uma sociedade heterogênea, torna-se um desafio usar os valores e princípios cristãos como modelo de ética global. Um dos princípios dos valores cristãos é a honestidade, que deve estar em qualquer visão de mundo, política, religiosa, econômica… nesse ponto de vista, há a possibilidade de adotar esse valor em um país inteiro. Por outro lado, os não-cristãos podem entender mal esses valores com fé e uma tentativa de interferência religiosa. A literatura já relatou alguns estudos de empresas e universidades utilizando princípios judaico-cristãos dentro de suas organizações, que refletiram positivamente em um ambiente de confiança muito maior do que aqueles que não implementam esses princípios, visando colaborar com os funcionários para trabalhar muito mais feliz, até mesmo ser mais produtivo para o negócio e se sente em um ambiente muito mais seguro e confiável.

No livro “A Ciência da diversidade”, Mona Sue Weissmark levantou uma explicação crucial sobre inclusão e diversidade. As pessoas devem ter muito cuidado com a linguagem que usam porque essa linguagem pode criar uma espécie de resistência e até ressentimento na outra parte. Por exemplo, a resistência pode ser criada com “Vidas negras importam”, por causa do ressentimento que pode ter surgido pelo uso indevido das palavras, embora seja completamente compreensível o que está por trás do movimento. Esse aspecto também afeta a necessidade da linguagem certa no caso da ética e dos princípios cristãos como possibilidade de disseminar uma prática ética ideal. Se esse aspecto for apresentado em trajes religiosos, pode criar resistência para aqueles que não são religiosos e ressentimento naqueles que pertencem a outra religião. Pode ser entendido como “minha religião tem a resposta que a sua não tem” – é por isso que a linguagem deve ser cuidadosamente selecionada em um lugar de oscilação entre valores e princípios.

Por definição, um princípio deve ser aplicado não apenas a qualquer situação, mas também responder a perguntas para todos os tempos – é exatamente isso que a ética cristã faz – no entanto, novamente, a linguagem correta mais buscar a conexão em outras religiões são vitais, uma vez que qualquer religião tem semelhanças e questões que convergem e a maioria delas envolve ética. Em resumo, um ponto comum entre as religiões pode ser encontrado para lidar com uma perspectiva cristã sem pregar o cristianismo.

2.3 TEM A UNIVERSIDADE PARA ESTAR PERTO DO MERCADO DE TRABALHO?

No cenário atual, os indivíduos estão mais envolvidos na tecnologia, que é um campo muito rápido. Frequentemente, alguém que tem 4 anos de graduação em ciência da computação, por exemplo, tem a possibilidade de ser obsoleto, tudo o que aprendi anteriormente não é mais praticável. Dessa forma, observa-se uma distância entre a universidade e o mercado de trabalho protagonizado pela tecnologia.

A universidade deve alegar ser parte integrante da sociedade, no entanto, às vezes pode-se supor que a sociedade e a universidade são duas entidades separadas. Na academia, as críticas são sempre bem-vindas, pois é um lugar onde os erros são criticados para conseguir uma melhora. Neste ponto, a universidade deve ter essa intenção não apenas de buscar o ranking de ser a melhor, mas o quanto ela está contribuindo para a sociedade – a universidade tem que estar sentada no meio da comunidade (a Universidade de Wisconsin implementou a ideia).

Dois pontos de vista legítimos são possíveis neste aspecto. O primeiro são os intelectuais, que fazem parte da sociedade, observam a sociedade e os comportamentos de fora, compreendendo suas dores, o que é necessário para fazer – como discussão – encontrar soluções. O segundo ponto de vista não vê a universidade como uma entidade externa que oferece uma solução, mas como uma vida nesse ambiente e que participa da discussão. Por essa razão, entender onde colocar a universidade é um ponto importante.

Há um consenso, no entanto, que defende o fato de que os intelectuais têm que entender as dores da sociedade, em sua rotina, em seu cotidiano dentro e fora da academia, para formular novas opiniões e regras como base para as diretrizes, como temos visto na Europa, que são capazes de lidar com os avanços tecnológicos para evitar profissionais não prontos para o mercado de trabalho , para evitar ser obsoleto. Por isso, estão sendo implementados cursos preparatórios e treinamentos dentro de algumas empresas, para ensinar jovens profissionais a fazer o trabalho, que retoma 4 anos de graduação em basicamente 6 meses. Entender a necessidade ética que o mercado digital exige diariamente é importante – por isso é necessário que os intelectuais não só se restringem na área educacional, mas se envolvam com a área digital. Ele pode começar mudando a mentalidade, entender como funciona a nova geração, as aplicações, soluções, o que e quem está por trás desses tópicos. Os envolvidos no desenvolvimento de alguma solução têm valores? Eles esperam trazer uma sociedade mais justa? Isso é importante porque as pessoas podem perder o controle dos algoritmos e é por isso que os acadêmicos devem ser treinados para entender a ética e corresponder às necessidades do mercado digital – mas a questão em aberto é: Como fazer isso?

2.4 PRIVACIDADE, ÉTICA E O MUNDO DIGITAL

Embora os filósofos discutem regularmente a ética, o cenário atual pede uma discussão sobre questões éticas no mundo digital. Corrupção, honestidade, privacidade. A privacidade é um ponto importante que merece ser considerado no mundo digital, já que todos os dados podem estar circulando sem sua mesada.

Segundo Santos, o paradigma do conhecimento poderia ser comparado com o paradigma da religião. Na Idade Média, havia uma resposta para tudo dentro da religião. Quando uma resposta não podia ser fornecida pela religião, duas possibilidades foram apontadas: (i) a pergunta não faz sentido ou (ii) a pergunta não foi bem formulada – o que pode ser classificado como paradigma religioso. Por outro lado, o paradigma do conhecimento vem com a pós-modernidade. A marca histórica por trás disso vem com Américo Vespúcio, que veio para as Américas e, quando voltou para a Europa, escreveu “Não sei onde estou, não sei o que é esse lugar, sei que não é a Ásia”. A Bíblia não falou nas Américas, a religião não falou nas Américas. Quando Vespúcio admitiu que não conhecia aquele lugar, iniciou uma revolução cognitiva e intelectual, baseada em respostas desconhecidas naquele momento. A partir daquele momento, a modernidade foi inaugurada e baseou-se em um pensamento de que “não tenho todas as respostas”.

Com base nesses paradigmas, é viável pensar que algumas respostas não podem mais ser úteis, e é quando as pessoas começam a pensar e falar sobre questões éticas, e uma vez levantadas questões éticas, estamos falando principalmente de seres humanos. Deveria ter ética para os seres humanos, mas é possível para máquinas? Por exemplo, já é possível argumentar que alguém pode pegar o cérebro de uma pessoa e carregá-lo no computador, se desligar isso no computador, é um crime? Eles mataram uma pessoa? A sociedade deve estar preparada para admitir que não tem todas as respostas.

2.5 PREOCUPAÇÕES ÉTICAS EM RELAÇÃO A ORGANIZAÇÕES DE FORMAÇÃO NÃO ACADÊMICA E SISTEMAS EDUCACIONAIS

O surgimento de organizações de treinamento sem monitoramento de alguns tipos de treinamento é de alguma forma preocupante. Por exemplo, há uma organização que ensina ciência de dados, análise de dados, alguns, codificação, python e tópicos semelhantes em apenas seis meses de programa. Ao final, o estudante graduado recebe 50% de todas as mensalidades pagas durante os seis meses de estudo e uma proposta de emprego com uma empresa que tenha convênio com a organização. Como essa organização não é uma instituição de ensino, não há agência monitorando esse tipo de treinamento.

De acordo com uma entrevista feita com um CEO de uma dessas organizações, um dos objetivos desse tipo de empresa de treinamento é oferecer algo ao mercado que a universidade não pode oferecer. O líder disse que os Estados Unidos estão falando sobre o mercado americano, “já existem muitos profissionais na área de geografia, história, sociologia” e que “os Estados Unidos não precisam mais de profissionais como este” precisam de cientistas de dados, engenheiro de software, analista de dados, analista de negócios e este módulo que ele criou para treinamento é o que os Estados Unidos precisam e que está atendendo diretamente o mercado. Nesse aspecto, a universidade precisa resolver essa questão da formação oferecendo um curso superior capaz de atender o mercado de forma rápida e um bacharelado poderia ser direcionado aos interessados para seguir a área acadêmica (KATHLEEN, 2017).

Essa consulta já esteve em discussão ao longo da história da educação e tende a ser permanente: Qual é o papel da educação? É treinamento para o mercado de trabalho ou “artes liberais”, como dizem nos Estados Unidos, ou é treinar as pessoas a participar da sociedade e formar pessoas como indivíduos e formar individualidade das pessoas? Qual é o mercado de trabalho? É desenvolvimento pessoal? É participação na sociedade? Na área de TI e no programa de TI, não se discute questões éticas de privacidade, permanecendo restrita a questões técnicas. Como resultado, indivíduos recém-formados estão trabalhando no mercado de trabalho sem noção de implicações éticas e não estão preparados para entrar e enfrentar a sociedade como pensadores chefes, uma vez que não são treinados para isso. Isto é particularmente preocupante nos Estados Unidos, não é difícil pensar nos jovens. No ensino médio, os jovens americanos são treinados e preparados para passar em exames, para manter o ranking escolar e prepará-los para entrar em uma universidade, que é basicamente focada em desempenho, nada resultado. Diferentemente, no Brasil, mesmo com todos os erros e problemas intrínsecos deste país é comum encontrar um Professor formando jovens para pensar, dando uma pergunta aberta.

Algumas universidades estão tentando preparar os alunos que vêm do ensino médio para ter uma visão mais analítica e crítica do mundo, para isso, essas instituições estão oferecendo uma disciplina obrigatória para qualquer curso na tentativa de reduzir as consequências individuais e sociais dos alunos envolvidos em um curso puramente técnico. A preocupação é considerar que esses jovens são responsáveis por criar soluções para o mundo. O que é uma consequência disso?

2.6 COMO CRIAR UMA SOLUÇÃO E EVITAR NOVOS PROBLEMAS PARA A SOCIEDADE?

Uma série coreana chamada “startup” apresentou duas situações. Um grupo de jovens passa três anos em uma grande empresa. Neste grupo, um gênio de 25 anos em codificação criou um programa para deficientes visuais. O celular com um computador na frente – a pessoa pede à inteligência artificial o que está à sua frente. Ao apontar o celular na frente do sujeito, aparece um monitor que fala com o direito dos deficientes visuais. Essa criação foi feita porque a avó de sua namorada estava ficando cega, e ele queria uma solução para conhecer a vovó. De uma forma muito bem-intencionada, ele cria essa solução, mas não pensa mais nas implicações éticas por trás dela, nem sequer levanta as iscas de comercializar isso, porque cria a solução, mas precisa comercializar, precisa de investidores, os investidores nem sempre têm esse olhar ético. A motivação é diferente, e a sociedade enfrenta um grande risco com jovens sem experiência do mundo e, como consequência, sem preparação para questões éticas.

Uma segunda situação na série “startup” era a criação do carro autônomo – uma tecnologia que cortaria várias vagas de motorista, já que as pessoas não precisariam mais de um motorista. O pai desse cara era motorista de uma empresa e foi a um evento discutir com a CEO da empresa, de 29 anos, explicando que muitas famílias perderiam seus empregos … não apenas pessoas, mas famílias. O que pode ser concluído com esta situação? Algumas soluções podem colocar as pessoas em situações difíceis economicamente. O mercado, ao usar a tecnologia, se projeta para acabar com a resposta. Isso traz à discussão a necessidade de encontrar um meio-termo entre evitar a estagnação do processo e evitar um processo rápido que potencialmente culmina em desemprego generalizado. Ou seja, é necessário encontrar um meio-termo entre uma geração análoga e uma geração totalmente digital, visando evitar a criação de problemas tentando resolver um inicial.

O conceito de encontrar uma solução pode ser substituído pelo conceito de modelos para pensar em uma solução específica. Para alcançar uma responsabilidade social corporativa, a criação de um projeto com alguns erros corrigidos após a liberação deve ser trocada por um plano sólido para estabelecer possíveis questões antes da liberação do projeto – especialmente no que se refere aos impactos sociais e ambientais (DWOSKIN, 2019).

No entanto, a responsabilidade e a preocupação da empresa vieram desde o início do processo, em cada etapa, com foco em termos ambientais e sociais.

Ao expandir esse conceito para empresas tecnológicas, o campo corporativo precisa começar a entender quais são as implicações de cada processo e solução – para trazer perspectiva e multiplicar a discussão (MIT NEWS OFFICE, 2018).

2.7 A COLABORAÇÃO DA TECNOLOGIA PARA A ÉTICA SOBE

Várias empresas exibem um código de ética muito definido e rígido, usando-o como marketing para seus negócios. No entanto, essas empresas nem sempre praticam as diretrizes. Um exemplo clássico é a “operação Carwash” no Brasil, envolvendo a empresa Odebrecht. Nesse cenário, a tecnologia está cada vez mais limitando as ações de corrupção, especialmente a corrupção arcaica, no entanto, a corrupção do hacking de dados é um problema que leva o assunto a um nível mais sofisticado. Estamos em uma nova era, uma era em que surgirão empresas mais éticas?

Para responder a essa pergunta, é importante entender e estabelecer se as pessoas se importam, o quanto elas se importam e o quanto as pessoas se preocupam com preocupações éticas – por exemplo, privacidade. Neste ponto, é justo dizer que a educação não é uma panaceia. Educação não é a solução para tudo. Para ilustrar, no Museu da Tolerância, na Cidade do México, parte do museu é dedicada ao holocausto, e a maioria das partes dos principais carrascos tinha um título acadêmico. No entanto, a educação é um caminho – e a reivindicação deve ser bem definida, educação para quê? – que é um paradigma da Educação. Assim, o quanto a sociedade se importa e o quanto a educação ajuda são dois aspectos que merecem reflexão.

De acordo com Edward Snowden, as pessoas devem pagar o preço em um nível pessoal para mudar a sociedade (GOLDBERG, 2020). Então, quanto estamos dispostos a pagar o preço em um nível pessoal, é uma tentativa de orientar uma resposta para o que você me pediu, as empresas vão ser mais éticas? A sociedade vai dar o tom em relação a isso, com uma tendência a atingir o nível individual – quem quer que você esteja sofrendo angústia sobre isso?

No nível individual, nessa questão tecnológica, além das pessoas que poderiam estar sofrendo de alguma forma, os profissionais são uma categoria que precisa se manter atualizada com a nova realidade tecnológica. O pensamento exponencial poderia resolver pelo menos parte do problema, no entanto, apenas as máquinas processam exponencialmente. Assim, voltamos à ética. Como isso surge como uma questão ética? A sociedade está tratando as pessoas como uma máquina, esperando dos profissionais de TI pensamento exponencial, mas elas continuam sendo um ser humano. É uma implicação ética para os profissionais da área, eles têm que se preparar para dar uma resposta a isso. Dois movimentos poderiam representar angústia dentro da sociedade, conhecer “FOMO” – medo de perder, e “JOMO”, que é “Eu tenho alegria de perder”, representando o outro extremo.

Para finalizar, é essencial refletir sobre as implicações éticas de uma demanda que existe sobre os profissionais para pensar exponencialmente, ter que se atualizar de forma quase impossível e qual é a resposta que eles darão à sociedade, às organizações que a exigem deles, que podem ser classificadas como uma demanda sobre-humana.

3. CONCLUSÃO

A tecnologia e as soluções derivadas dela avançaram rapidamente. Esse cenário exige que os intelectuais e a sociedade como um todo se adaptem e comprometam no desenvolvimento de tecnologias que possam melhorar seu cotidiano sem causar danos aos trabalhadores e suas famílias que dependem deles. Nesse sentido, cabe à discussão de valores e princípios em nível global, que permeiam pontos centrais da ética humana.

OBRAS CITADAS

DWOSKIN, Elizabeth. Stanford Helped Pioneer Artificial Intelligence. Now the University Wants to Put Humans at its Center. Washington Post, March 18, 2019; Amy Adams, “Stanford University Launches the Institute for Human-Centered Artificial Intelligence,” Stanford News, March 18, 2019.

GOLDBERG, Emma. Techlash’ Hits College Campuses. New York Times, updated January 15, 2020. [In addition, Crawford et al., AI Now 2019 Report, details many examples of students organizing against ethical lapses].

KATHLEEN, Manning. Organizational Theory in Higher Education. Routledge, 2017, 232 p., 2nd ed.

MIT News Office. MIT reshapes Itself to Shape the Future. MIT News, October 15, 2018.

O’BRIEN, John. Digital Ethics in Higher Education: 2020, Educause Review, May 18, 2020, Access on 28 Mar. 2021. Available at: <https://er.educause.edu/-/media/files/articles/2020/5/er20_2103.pdf>

[1] Candidato ao Mestrado em Tecnologia da Informação, Pós-Graduação Lato Sensu em Perícia Judicial e Práticas Atuariais com docência em Ensino Superior, Pós-Graduação Lato Sensu em Controladoria e Finanças e Bacharel em Ciências Contábeis.

Enviado: Março de 2021.

Aprovado: Abril de 2021.

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