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Ensino de empreendedorismo na percepção de estudantes de graduação sobre as metodologias ativas de ensino

RC: 62925
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

ARAKAKI, Arthur Teruo [1]

ARAKAKI, Arthur Teruo. Ensino de empreendedorismo na percepção de estudantes de graduação sobre as metodologias ativas de ensino. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 10, Vol. 19, pp. 44-58. Outubro de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/ensino-de-empreendedorismo

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo apresentar a percepção de estudantes de graduação sobre as limitações e potencialidades das práticas de ensino de empreendedorismo. Para se alcançar esse objetivo foi feita uma investigação bibliográfica da literatura sobre ensino de empreendedorismo e práticas de ensino com uso de metodologias ativas e passivas para reunir os principais apontamentos favoráveis e limitantes no processo de ensino de empreendedorismo. Trata-se de uma pesquisa quantitativa e descritiva. Como forma de aquisição de dados para a elaboração da pesquisa, fez-se uso de questionário estruturado aplicado em sala de aula para alunos de graduação que participaram da disciplina de empreendedorismo no primeiro semestre de 2019. Os resultados mostram pontos favoráveis em relação à percepção dos discentes em relação às práticas de ensino por meio de metodologias ativas. No total, 73,08 % dos alunos responderam que as contribuições práticas das atividades de ensino com uso de metodologias ativas foram positivas. Conclui-se que as metodologias ativas podem ser alternativas para as práticas de ensino de disciplinas práticas, como o empreendedorismo, as atividades que demandam a participação dos alunos e sua interação com os demais em sala de aula, são percebidas positivamente e bem aceitas e podem ajudar a estimular mais estudantes a participar e obter um maior aproveitamento do conteúdo transmitido.

Palavras-chave: Ensino, empreendedorismo, metodologias ativas.

1. INTRODUÇÃO

O tema empreendedorismo tem sido explorado de forma crescente dentro das instituições de ensino nos últimos anos e mais especificamente, seu conteúdo integrado à formação em ensino superior (LAVIERI, 2010; LIMA et al, 2015). Trata-se de um mecanismo de incentivo à cultura empreendedora, que encontra na graduação e pós-graduação um espaço para desenvolvimento (SILVA e PATRUS, 2017). Dado que o aperfeiçoamento do estudante e a possibilidade de criar um negócio sejam fatores motivadores do ensino de empreendedorismo, aspectos sobre as contribuições dessa formação têm sido explorada (BOYLES, 2012; ROCHA e FREITAS, 2014), especificamente para se compreender quais são os seus benefícios para o estudante.

Compreende-se, pois, que a atitude empreendedora é estimulada, primeiro por características intrínsecas à personalidade, como a sua propensão ao risco e autoconfiança (RIZZATO, 2013). Sobretudo, acredita-se que é possível promover o ensino de empreendedorismo para a formação do empreendedor, desde que observada a sua distinção em relação às disciplinas tradicionais dos cursos de graduação (GIOVANELA et al, 2010).

Embora, o ensino do empreendedorismo nas IES ainda esteja em fase de amadurecimento, mais recentemente tem-se aumentado os esforços científicos para se explorar a efetividade dos métodos de ensino utilizados, como em trabalhos de (VIEIRA et al, 2011; KRAKAUER et al, 2017; SILVA e PATRUS, 2017). Isto porque, ainda que a disseminação da educação empreendedora tenha favorecido o aumento da sua presença em cursos de graduação, para Cabral (2007) um desafio que se apresenta às instituições de ensino é definir uma metodologia de ensino com didáticas adequadas para a formação de pessoal suficientemente criativo e capaz de agregar valor para as empresas e para a sociedade, especificamente para a comunidade em que estão inseridas.

O ensino de empreendedorismo como discorre Lavieri (2010) está ligado aos cursos de administração de empresas, quase como uma necessidade prática. Ainda, sua origem se deu nos Estados Unidos em faculdades tradicionais pouco antes do fim da metade do século XX e, posteriormente, cursos mais específicos voltados para o empreendedorismo se espalharam pelo mundo.

No Brasil, o pioneirismo na oferta de cursos com essa abordagem se deu segundo Dolabela (2001) na Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, em 1981. Ainda para Dolabela (2001) ao longo dos anos, o ensino de empreendedorismo nos cursos de graduação e pós-graduação foi se tornando uma realidade nos principais centros educacionais do país.

Como reforça Salusse e Andreassi (2016) o objetivo principal do ensino de empreendedorismo é, em última instância, contribuir para a geração de emprego e renda. Sendo que, este último só é possível mediante a criação de novos negócios por parte dos empreendedores. E embora existam trabalhos nacionais que abordem os impactos dos cursos de empreendedorismo para os estudantes, estes consideram outras características como mais importantes – que não a abertura de empresas -, tais como a alteração no perfil empreendedor dos discentes após o curso (ROCHA e FREITAS, 2014).

Uma opção pela pesquisa da correlação entre ensino de empreendedorismo e alteração no perfil empreendedor é abordada em trabalho nacional de Rocha e Freitas (2014) que recebeu influência de trabalhos internacionais que defende maior eficiência na investigação de como o ensino do empreendedorismo na graduação impacta na alteração do perfil empreendedor e na intenção de criar empreendimentos por parte dos egressos (BOYLES, 2012). Este último, por sua vez, minimiza a abordagem da criação de empresas, como parâmetro para avaliar os resultados alcançados após a participação em curso de empreendedorismo, argumentando que seria mais raro para um egresso tornar efetiva a sua intenção de criar negócios de forma tempestiva (BOYLES, 2012).

Esse trabalho tem como objetivo de apresentar a percepção de estudantes de graduação sobre as limitações e potencialidades dos métodos de ensino de empreendedorismo utilizados em sala de aula. O trabalho segue uma estrutura, subsequente a esta introdução, composta por um tópico de referencial teórico, com seções sobre o ensino de empreendedorismo e seus métodos, as medidas de aprendizagem da educação empreendedora e estudos sobre o impacto do ensino de empreendedorismo para o estudante. Posterior a esta última, temos o tópico de métodos, com a descrição das especificidades da metodologia utilizada, a forma escolhida para a realização da coleta de dados, bem como a explicação sobre o ferramental que será utilizado para a manipulação e análise dos dados. Por fim, temos os tópicos: resultados, conclusão, e das referências bibliográficas utilizadas.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 ENSINO DE EMPREENDEDORISMO

O ensino de empreendedorismo está subjacente às perspectivas teóricas que fundamentam a ação empreendedora como um campo de pesquisa (SHANE, 2012; RIZZATO, 2013). E uma das primeiras considerações fundamentais na investigação sobre o empreendedor enfatizou as características intrínsecas à sua personalidade e as competências mais comumente encontradas nesses indivíduos como aponta (RIZZATO, 2013; OLAKITAN e AYOBAMI, 2011). Nesse caso, existe a valorização de uma exposição descritiva das competências do empreendedor modelo, como abordada em estudos de (TASIC e ANDREASSI, 2008; SCHMIDT e BOHNENBERGER, 2009) que investigam as características pessoais do empreendedor, fator que se tornou base para um dos primeiro métodos de ensino de empreendedorismo, que seriam segundo (SALUSSE e ANDREASSI, 2016; ROCHA e FREITAS, 2014) as aulas expositivas sobre as características do empreendedor, com o foco no indivíduo.

Os métodos de ensino são, segundo Libâneo (1991) as ações do professor pelas quais se organizam as atividades de ensino e dos alunos para atingir objetivos do trabalho docente e em relação a um conteúdo específico. O método de ensino se relaciona com o sistema pedagógico e para Libâneo (1991):

Eles regulam as formas de interação entre o ensino e aprendizagem, entre o professor e os alunos, cujo resultado é a assimilação consciente dos conhecimentos e o desenvolvimento das capacidades cognitivas e operativas dos alunos (LIBÂNEO, 1991, p.152).

A necessidade do aperfeiçoamento do empreendedorismo como área de conhecimento (SHANE, 2012; NECK et al, 2014) ultrapassou a abordagem dos aspectos de natureza essencialmente cognitiva do empreendedor (RIZZATO, 2013; OLAKITAN e AYOBAMI, 2011). Dessa forma novas perspectivas do empreendedorismo são apresentadas e novos componentes são considerados na ação empreendedora, tais como os fatores extrínsecos aos indivíduos e da relação dos atores com o ambiente externo, que agora são considerados como fatores relevantes pelos resultados alcançados (SARASVATHY e VENKATARAMAN, 2011; SALUSSE e ANDREASSI, 2016).

O ensino de empreendedorismo está embasado na possibilidade de transmissão e desenvolvimento das competências necessárias para a formação de um empreendedor através de metodologias de ensino adequadas (ROCHA e FREITAS, 2014; FAYOLLE e GAILLY, 2008). Dessa forma, os métodos de ensino disponíveis assumem caráter heterogêneo por possuírem abordagens teóricas e práticas diversificadas (GIOVANELA et al, 2010; ROCHA e FREITAS, 2014; SCHAEFER e MINELLO, 2016). A partir da necessidade de se compreender melhor as metodologias de ensino do empreendedorismo, do seu desenvolvimento e processo de transmissão das qualidades necessárias ao aluno, temos contribuições teóricas e metodologias que incentivam a análise do que tem sido proporcionado em termos de formação na área de empreendedorismo como em (FAYOLLE e GAILLY, 2008; LIÑAN, 2007).

A importância do ensino de empreendedorismo é uma realidade mundial e isso se deve ao seu potencial promotor de competências empreendedoras, o que é relevante em um país como o Brasil, por exemplo, que obteve no ano de 2017, segundo dados do (GEM, 2018) uma taxa total de empreendedorismo[2] de 36,4%, ou seja, para cada 100 brasileiros entre 18 e 64 anos, 36 deles estavam conduzindo algum tipo de atividade empreendedora, seja na criação ou aperfeiçoamento de um novo negócio, ou na manutenção de um negócio já existente. Ainda, segundo (GEM, 2018) isso representa dizer que é de quase 50 milhões o contingente de brasileiros que já empreendem e/ou realizaram, em 2017, alguma ação visando à criação de um empreendimento. Esses dados esclarecem a motivação pelo aprimoramento e promoção do ensino de empreendedorismo, que visa à capacitação de potenciais e futuros empreendedores para o país.

Atualmente o ensino de empreendedorismo já está presente em todos os estágios da educação formal, porém, existe uma tendência crescente da sua integração às disciplinas e demais atividades do ensino superior (LAVIERI, 2010; LIMA et al, 2015). Nesse processo, a responsabilidade e habilidade do educador em desenvolver nos estudantes a descoberta e a implementação de competências necessárias para capturar as oportunidades certas no momento certo são um desafio (NECK e GREENE, 2011).

A educação em empreendedorismo durante sua evolução caminhou por perspectivas centradas no indivíduo, seguindo para a ênfase no processo e, posteriormente, em direção ao método como forma de ensinar. Neste último, o estudante desenvolve um conjunto de práticas que podem ajudá-lo a pensar e agir de forma mais empreendedora (NECK et al, 2014; NECK e GREENE, 2011). E embora a educação empreendedora, segundo (WELSH et al, 2016, p.126) “siga em estado de transição”, estas diferentes perspectivas ainda tem o papel de auxiliar na reflexão e adequação de um ensino de empreendedorismo mais efetivo na função de capacitar estudantes para empreender.

2.1.1 MÉTODOS DE ENSINO DE EMPREENDEDORISMO

A finalidade do ensino de empreendedorismo é desenvolver e transmitir competências necessárias para que o indivíduo seja capaz de capturar as oportunidades de empreender (NECK e GREENE, 2011; NECK et al, 2014), e considerando que esse processo envolve fatores intrínsecos e extrínsecos ao indivíduo, existem como enfatiza Schaefer e Minello (2016), aspectos do empreendedorismo que podem ser mais fáceis de ensinar e outros não.

A educação empreendedora deve viabilizar o uso do capital humano do estudante de forma a desenvolver o seu potencial empreendedor através de metodologia própria, diferente da tradicional e que seja capaz de incentivar uma aprendizagem com foco pensamento independente por parte do estudante (DOLABELA e FILION, 2013; ROCHA e FREITAS, 2014; SCHAEFER e MINELLO, 2016).

Existe uma tendência à heterogeneidade nos métodos pedagógicos do ensino de empreendedorismo como evidenciado em trabalhos de (SCHAEFER e MINELLO, 2016; ROCHA e FREITAS, 2014). No momento em que uma área aborda a educação sobre o empreendedorismo, outra área tem foco na educação para o empreendedorismo (LAUTENSCHLÄGER e HAASE, 2011). Uma perspectiva análoga pode ser feita através das abordagens passiva e ativa do ensino de empreendedorismo e enfatizam que uma abordagem pedagógica de ensino mais prática e ativa pode ser mais apropriada (ROCHA e FREITAS, 2014; SILVA e PATRUS, 2017). Dessa forma, segundo Schaefer e Minello (2016), a aula tradicional expositiva pode ser utilizada para repassar aspectos teóricos e culturais do empreendedorismo, porém, deve direcionar os demais aspectos da ação empreendedora para métodos e recursos pedagógicos mais dinâmicos.

No que diz respeito ao ensino de empreendedorismo no ensino superior uma estrutura simples e completa contendo os objetivos pedagógicos estruturados é a proposta da European Commission Enterprise and Industry Directorate-General[3] do ano de 2008 utilizada em trabalho de (Rocha e Freitas, 2014). Para European Commission (2008), no ensino superior, o objetivo principal deve ser desenvolver capacidades e mentalidade empreendedora. Dessa forma, para European Commission (2008):

Os programas de educação para o empreendedorismo podem ter objetivos diferentes: desenvolver o espírito empreendedor entre os estudantes (promovendo sua conscientização); treinar os alunos no que é necessário para montar um negócio e gerenciar seu crescimento; desenvolver as habilidades empreendedoras necessárias para identificar e explorar oportunidades de negócios. (EUROPEAN COMMISSION, 2008, p.23).

A formação do estudante de empreendedorismo abrange características multidisciplinares (BOYLES, 2012; RIZZATO, 2013; ROCHA e FREITAS, 2014). E para se alcançar os objetivos de ensino propostos os educadores lançam mão de métodos de ensino diversos (SCHAEFER e MINELLO, 2016; GIOVANELA et al, 2010). Após elencar os métodos disponíveis, segundo Rocha e Freitas (2014) faz-se necessário traçar um plano de ensino que adapte a metodologia pedagógica ao contexto da aprendizagem esperada. O Quadro 1 apresenta uma relação de métodos utilizados no ensino de empreendedorismo:

Quadro 1 – Relação de métodos de ensino de empreendedorismo

Fonte: Adaptado de Rocha e Freitas (2014)

Em contrapartida a aplicação dos métodos de ensino de empreendedorismo encontra-se a iniciativa de se entender os resultados obtidos da sua prática buscando formas de medir a aprendizagem do estudante (ROCHA e FREITAS, 2014; MORAES et al, 2018). Estas pesquisas para Rocha e Freitas (2014) em sua maioria, tentam medir o resultado dessa aprendizagem, relacionando-a com o ato de abertura do negócio próprio ou a intenção disso e embora “este modelo avaliativo seja comumente utilizado por pesquisadores nesta área do conhecimento, seu enfoque tende a ultrapassar as barreiras das Instituições de Ensino Superior (IES)” (ROCHA e FREITAS, 2014, p. 471). Todavia, é sugerida e incentivada a busca de outras formas de avaliação do produto do ensino de empreendedorismo para graduandos (BOYLES, 2014; ROCHA e FREITAS, 2014).

2.2 MEDIDAS DE APRENDIZAGEM DA EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA

Um aspecto importante para o processo de ensino de empreendedorismo é a investigação dos resultados dessa atividade para os alunos, bem como as formas de se medir a efetividade desse aprendizado, que tem sido realizada com diferentes abordagens como em estudos de Moraes et al (2018).

Uma proposta de medida da aprendizagem de estudantes seria através da alteração no perfil empreendedor como em estudo de Rocha (2014). Nesse sentido, tomando como base no trabalho de Schmidt e Bohnenberger (2009), os pesquisadores elaboram uma base conceitual do perfil empreendedor e elencam as principais características do perfil empreendedor.  Segundo Schimidt e Bohnenberger (2009), as características propostas para identificar o perfil empreendedor foram: autoeficácia, capacidade de assumir riscos calculados, planejador, detecta oportunidades, persistência, sociável, inovação e liderança.

Outra proposta que teve utilidade em estudos de medida da aprendizagem foi em relação à intenção de empreender explorada em estudo de Moraes et al (2018), na qual uma das relações feitas pelos pesquisadores diz respeito à relação entre o ambiente empreendedor[4] proporcionado pela instituição de ensino superior e a intenção de empreender. Especificamente uma das hipóteses testadas foi se “o ambiente universitário influencia positivamente na intenção empreendedora” (MORAES et al, 2018, p.233).

Além das duas métricas de aprendizagem empreendedora apresentadas nos estudos de Rocha e Freitas (2014) e Moraes et al (2018), que abordam respectivamente as modificações no perfil empreendedor e intenção de empreender do estudante após a participação em atividades de educação empreendedora, incentiva-se ao refinamento desse tema através da investigação de novas formas de medir o quão efetivo os métodos de ensino disponíveis tem sido na formação de estudantes para o empreendedorismo.

3. METODOLOGIA

Para cumprir o objetivo de pesquisa foi utilizado o método exploratório para dar suporte ao entendimento das potencialidades e limitações dos métodos de ensino de empreendedorismo. A pesquisa exploratória para Gil (2002) tem como objetivo, promover a familiaridade com o problema de pesquisa com o objetivo de torná-lo explícito e construir hipóteses. Como forma de abordagem do problema de pesquisa, utilizou-se o método quantitativo optando-se por realizar um estudo de frequência. A pesquisa quantitativa conforme Creswell (2007) envolve o processo de investigação, levantamentos e coleta de dados que geram dados estatísticos. Ainda, para auxiliar na investigação desse trabalho fez-se uso da pesquisa bibliográfica. A pesquisa bibliográfica conforme Marconi e Lakatos (2009) abrange toda a bibliografia pública que existe sobre a temática pesquisada.

A aquisição dos dados foi feita por meio de preenchimento de questionário estruturado, respondido por 26 estudantes da disciplina de Empreendedorismo do curso de graduação em administração de uma universidade brasileira, cujo nome para fins de pesquisa ficou representado por: Universidade brasileira. O preenchimento do questionário aconteceu em 13/06/2019. O questionário aborda aspectos sobre a percepção dos alunos participantes de atividades do grupo de metodologia ativa de ensino, em relação à relevância do conteúdo abordado e sobre a contribuição prática desse tipo de atividade. Os respondentes tiveram que indicar se as impressões que tiveram sobre uma atividade (estudo de caso) utilizando metodologia ativa de ensino, realizada em sala de aula foi classificada como: ótima; boa; regular; ruim.

4. RESULTADOS

O presente trabalho teve como resultado a percepção de 26 discentes do curso de graduação em Administração de uma universidade brasileira, sobre as limitações e potencialidade de uma atividade de ensino do curso de empreendedorismo onde foi utilizada a metodologia ativa de ensino, sendo esse método conduzido com a participação dos alunos de forma dinâmica dentro de sala de aula. A frequência das respostas são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1 – Frequência da percepção dos alunos sobre as atividades

Respostas dos Alunos Ótimo (%) Bom (%) Regular (%) Ruim (%)
Relevância do conteúdo 9 (34,62%) 14 (53,85 %) 3 (11,54 %) 0%
Identificação da situação-problema 14 (53,85%) 11 (42,31 %) 1 (3,85% ) 0%
Contribuição prática 6 (23,08%) 13 (50,00%) 7 (26,92 %) 0%

Fonte: Elaborado pelo autor

Na Tabela 1, são apresentadas as frequências relativas à percepção dos discentes sobre uma atividade da disciplina de empreendedorismo no curso de graduação de administração que foi realizada com a utilização de metodologias ativas. Nessa atividade buscou-se a participação ativa dos discentes através de um estudo de caso simulando a tomada de decisões no ambiente empreendedor.

Em relação ao estudo de caso, a percepção que os discentes tiveram sobre a relevância do conteúdo foi considerada ótima para 9 (nove) discentes ou (34,62%) dos participantes e considerado bom para 14 (quatorze) discentes ou (53,85 %). Em relação à Identificação da situação-problema durante a realização do estudo de caso, 14 discentes (quatorze) ou (53,85%) do total, o classificaram como ótimo e 11 (onze) ou (42,31 %) dos participantes a classificou como bom. Sobre a contribuição prática do ensino 6 (seis) ou (23,08%) dos alunos classificaram como ótimo, 13 (treze) ou (50,00%) do total a classificaram como bom e 7 (sete) ou (26,92 %) do total de participantes classificou como regular a contribuição prática da atividade realizada.

Ao considerar a contribuição prática da atividade de ensino usando a metodologia ativa, entende-se que 19 (dezenove) ou 73,08 % dos alunos entenderam que a contribuição foi relevante ao classificá-la de forma positiva. Para Moran e Bacich (2017) as metodologias ativas constituem alternativa pedagógica que colocam o foco do processo de ensino e de aprendizagem no aprendiz, envolvendo-o na aprendizagem por descoberta, investigação ou resolução de problemas. Como contraste de uma abordagem ativa, tem-se uma metodologia mais passiva e que seria segundo Moran e Bacich (2017) a abordagem pedagógica do ensino tradicional centrada no professor que é quem transmite a informação aos alunos.

O formato da metodologia ativa aplicada a atividades de ensino de empreendedorismo busca promover a participação dos alunos e tem como foco a interação em sala de aula. Entende-se que são necessárias melhorias constantes, no objetivo de atingir a satisfação do discente por ter maior contato com a prática e ao participar mais ativamente das atividades. Tais promoverão aprendizados úteis para a tomada de decisão na ação empreendedora que irá realizar.

5. CONCLUSÃO

O trabalho teve como objetivo apresentar a percepção de discentes do curso de graduação sobre as limitações e potencialidades da metodologia ativa de ensino aplicada na disciplina de empreendedorismo, em uma universidade brasileira. De maneira geral, na percepção dos alunos, as contribuições práticas da atividade usando a metodologia ativa de ensino foram positivas.

As contribuições teóricas trazidas pelo trabalho estão relacionadas à literatura na área ensino de empreendedorismo, dado os resultados empíricos produzidos. Esse trabalho refina o conhecimento sobre a percepção de discentes sobre as contribuições práticas das metodologias ativas de ensino.

Como contribuições práticas, o trabalho dá suporte ao conhecimento sobre a satisfação dos discentes com as atividades de ensino que fazem uso de metodologias ativas e pode ser fundamento para a escolha da didática mais adequada para a promoção de atividades mais dinâmicas e satisfatórias na área de empreendedorismo no ensino superior.

Entre as limitações desse trabalho, tem-se a quantidade de instituições pesquisadas. Considerou-se no estudo, apenas uma instituição de ensino e o caso de uma turma de graduação cursando a disciplina de empreendedorismo. Também apenas uma atividade utilizando a metodologia ativa foi considerada, sendo que não foi explorada a metodologia passiva, para fins de contraste.

Para trabalhos futuros, sugere-se considerar mais de uma instituição no escopo para a realização de investigação sobre as limitações e potencialidades dos métodos de ensino. É interessante também que mais do que uma turma faça parte do estudo. Por fim, seria interessante investigar também a percepção dos discentes sobre as atividades conduzidas por meio das metodologias ativas e fazer uma comparação do nível de satisfação dos dois tipos de métodos, bem como explorar mais atividades que representem as metodologias passivas e ativas de ensino na área de empreendedorismo.

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APÊNDICE – REFERÊNCIAS DE NOTA DE RODAPÉ

2. TTE – Taxa total de empreendedorismo, vide (GEM, 2018).

3. European Commission (2008)

4. Ambiente empreendedor – Utilizado por Moraes et al (2018) para conceituar os diferentes espaços em ensino, pesquisa e extensão que os alunos têm à sua disposição em uma instituição de ensino superior.

[1] Pós graduado em Direito Tributário pela Unitins, Pós graduado em Direito Penal e Processual Penal pela Unitins e graduação em Direito pela Universidade Federal do Tocantins.

Enviado: Outubro, 2020.

Aprovado: Outubro, 2020.

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Arthur Teruo Arakaki

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