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Estágio supervisionado em biologia: relato da experiência na educação de jovens e adultos

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

CARVALHO, Larissa Santos de [1], OLIVEIRA, Rafaela Barros [2], MENEZES, Márcia de Oliveira [3]

CARVALHO, Larissa Santos de. OLIVEIRA, Rafaela Barros. MENEZES, Márcia de Oliveira. Estágio supervisionado em biologia: relato da experiência na educação de jovens e adultos. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 06, Vol. 02, pp. 57-71. Junho de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso:  https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/supervisionado-em-biologia

RESUMO

O estágio é uma ferramenta essencial nos cursos de formação de professores. Oportuniza ao licenciando fazer a conexão entre a teoria e a prática, promove o desenvolvimento no campo profissional e amplia o universo cultural. Além de possibilitar a reflexão sobre a própria prática. Norteado pela questão problema: quais vivências o estágio é capaz de proporcionar aos futuros licenciandos? O presente artigo tem como objetivo apresentar um relato de experiência no estágio supervisionado em biologia, no ensino médio, na Educação de Jovens e Adultos (EJA), especificamente, no turno noturno. Para isso, utilizou-se na sala de aula, atividades diversificadas no desenvolvimento do conteúdo proposto, visando aproximar os alunos ao conhecimento científico para uma melhor aprendizagem. A opinião dos alunos por meio de relatos orais e escritos foram utilizados como metodologia para auxiliar na construção desse trabalho, e principalmente como feedback para reflexão da prática na prática pelos futuros professores. Como conclusão, os dados mostraram que é possível alcançar a aprendizagem de forma mais dinâmica quando se constitui na sala de aula em lugar de respeito, diálogo e trocas necessárias para o ensino de biologia na relação ensino/aprendizagem.

Palavras-chave: Estágio Supervisionado, Formação de professores, Educação de Jovens e adultos, Ensino de Biologia.

INTRODUÇÃO

O estágio supervisionado integra o currículo dos cursos de licenciatura que tem como principal objetivo relacionar a teoria trabalhada nas disciplinas específicas com a realidade das instituições escolares (SOUZA e MARTINS, 2013). Dessa forma, ele promove uma série de fatores, como por exemplo: o resgate da aprendizagem de várias disciplinas cursadas anteriormente, oferta possibilidades de aprimorar o exercício da profissão docente e a troca de conhecimentos/experiência entre professor e aluno.

Desconsiderar essa dimensão da formação, ou mesmo a relegar a um segundo plano, é desacreditar na possibilidade de que o processo da formação inicial possa ser um espaço fértil e fecundo para unir fazeres e saberes, de forma reflexiva e instrumentalizar cada vez mais o educador como leitor e construtor da sua prática, da sua ação (OLIVEIRA, 2004, p. 138).

Pensar o estágio nessa dimensão é concebê-lo como um campo de conhecimento a ser investigado, desenvolvendo ações e configurando novas atividades a serem realizadas pelos alunos que aprendem no exercício da docência. Cabe a nós, enquanto educadores, promovermos práticas em prol da transformação da educação e dos indivíduos.

Para Silva e Gaspar (2018), o estágio deve ser entendido como um campo de construção da identidade profissional docente. Nesse processo são reveladas as certezas e incertezas da profissão docente, momento em que surgem as problematizações, angústias e busca de soluções. Sendo, portanto, um espaço que compreende um conjunto de reflexão e ação.

Nessa perspectiva, além de aproximar o acadêmico da realidade de sua área de formação, o estágio também possibilita uma reflexão sobre a atual realidade dos espaços escolares, vivência e percepção das diferentes realidades de ensino e das especificidades dos seus alunos, possibilitando assim, ao estagiário criar as suas próprias estratégias para driblar os possíveis obstáculos.

Considerando os diversos ambientes/modalidades de ensino de atuação do licenciando é preciso pensar na Educação de Jovens e Adultos (EJA), além de atender a legislação, fazer valer seu direito social contribuindo com o avanço da escolaridade nos níveis fundamental e médio, buscando melhores contribuições pessoais e profissionais. Dessa forma, fica evidente as inúmeras vivências que podem ser proporcionadas através do estágio. Neste contexto, levantou-se a seguinte questão norteadora: quais vivências o estágio é capaz de proporcionar aos futuros licenciandos?

Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos (DCNEJA) por meio do Parecer 11/2000 ao estabelecer conceitos e funções da EJA afirma que:

A média nacional de permanência na escola na etapa obrigatória (oito anos) fica entre quatro e seis anos. E os oito anos obrigatórios acabam por se converter em 11 anos, na média, estendendo a duração do ensino fundamental quando os alunos já deveriam estar cursando o ensino médio. Expressão desta realidade são a repetência, a reprovação e a evasão, mantendo-se e aprofundando-se a distorção idade/ano e retardando um acerto definitivo no fluxo escolar (BRASIL, 2000, p. 4).

Dessa forma, observa-se a necessidade de reflexões nas instituições de ensino do porquê da evasão escolar, onde muitos se matriculam em cursos e não concluem ou, desistem no meio do caminho. Para isso, as questões culturais e sociais desses alunos e a necessidade de políticas públicas para atendê-los necessitam ser consideradas.

Logo, entendemos o estágio como um campo extremamente importante para formação dos futuros professores, visto que, busca relacionar teoria e prática, e trazer o futuro profissional docente para mais perto do ambiente escolar, no sentido de proporcionar o melhor entendimento da complexidade dos fenômenos que lhe são inerentes e estão presentes de seu contexto. Nesse sentido vale destacar o que pontuam Corte e Lemke (2015, p. 313), que não deve entender o estágio como etapa final da sua formação, mas sim, criar mecanismos de entendimento para que o futuro profissional perceba também a profissão docente como um processo de formação constante.

Assim, a ideia de formação, de acordo Charlot (2005), está relacionada com a possibilidade de capacitação e assimilação de competências, que têm natureza e conteúdos variados segundo o momento histórico que se vive. Esse momento está apenas iniciando e para nós tem uma grande significação.

Nesse contexto, Carmo e Rocha (2016, p. 726) destacam que “ao realizar o estágio supervisionado, o estudante se insere no universo escolar, iniciando um movimento de reconhecimento profissional e, além disso, um processo de constituição de identidade docente”.

Nesse sentido, a legislação específica que regulamenta a educação brasileira e a formação de professores constitui como importantes conquistas para, dentre outras questões, reconhecer a EJA como modalidade de ensino da educação básica e a exigência de formação em licenciatura plena para atuar na educação básica (QUARESMA; PANTOJA e CORDEIRO, 2019).

Então, reconhecer a EJA como um espaço de atuação dos futuros professores de ciências e biologia é uma importante iniciativa na formação desses licenciandos. Sobre isso, a Resolução CONSEPE nº 98/2004 que regulamenta o Estágio Supervisionado Obrigatório (ESO) nos cursos de licenciatura da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) define o estágio como “prática pedagógica desenvolvida obrigatoriamente na modalidade projeto de ensino, em instituições de educação básica, preferencialmente públicas, em conformidade com o projeto pedagógico do curso”.

É nesse contexto que objetivamos relatar aqui a experiência no estágio supervisionado em biologia, no ensino médio, na Educação de Jovens e Adultos (EJA), especificamente, no turno noturno. Para isso, ponderamos a realidade dos alunos, o convívio social e profissional, associando a teoria com a prática na tentativa de contribuirmos para a redução da evasão escolar e repetência.

O ESTÁGIO E A FORMAÇÃO NO CONTEXTO DA EJA

O estágio supervisionado pode ser entendido como um momento bastante significativo para a formação docente, uma vez que aproxima o acadêmico em formação da realidade do seu futuro local de trabalho (CORTE e LEMKE, 2015.)

Além disso, essa prática é uma forma de instigar o licenciando a desenvolver suas habilidades, hábitos e ações relacionadas com a profissão docente. Sobre o termo formação inicial, Diniz-Pereira (2007, p. 86), citando Lortie (1975), faz a seguinte observação:

O termo “formação inicial”, como se sabe, é criticado […] pelo fato dessa formação iniciar-se muito antes da entrada em um curso ou programa que se desenvolve em uma instituição de ensino superior. Como se sabe, a profissão docente é suis generis, pois, mesmo antes da sua escolha ou de seu exercício, o futuro profissional já conviveu aproximadamente 12.000 horas com “o professor” durante o seu percurso escolar.

Durante a atuação é importante manter sempre uma boa relação com os seus alunos, tendo em vista que, somos seres humanos complexos, em constante formação, estando sempre dispostos a trocar de experiências, afinal o professor não é o detentor de todo conhecimento. Assim, como nos ensina Charlot (2014, p. 58):

A escola é um lugar que requer uma forma de distanciamento para com a experiência cotidiana. O que, nesta, é situação vivenciada e contextualizada, objeto do meio ambiente, torna-se na escola objeto de pensamento, de discurso, de texto.  Ademais, a escola fala aos alunos de objetos que não se encontram no mundo cotidiano deles e, às vezes, em nenhum mundo sensível, e leva-os para universos que apenas existem no pensamento e na linguagem.

Todo espaço educativo deverá contribuir para a melhoria do comportamento humano e sua relação com o saber a partir das interações que estabelecemos num determinado cenário. Mais que reconhecimento das normas e estratégias metodológicas para a produção de saberes, é preciso aproximações com o outro, da teoria com a realidade, ao invés do distanciamento.

Esse processo formativo em relação à EJA carece de ser encarado como uma ação necessária ao desenvolvimento dessa população jovem e adulta que não teve acesso a escolarização na idade regular (DANTAS; CARDOSO, 2019).

Para Barros e Carvalho (2019), citando Freire (2010, p. 23) destacam que formação de professores acontece nos processos de compartilhamentos de experiências e saberes e que “[…] quem forma se re-forma, e quem é formado forma-se e forma ao ser formado”, demonstrando assim o movimento contínuo e dinâmico que caracteriza a formação.

Nessa perspectiva, consideramos o estágio como um momento de aprendizado riquíssimo, contribuindo imensamente para a formação docente, percebendo as dificuldades postas pela realidade escolar e o que virá ao longo do exercício da nossa futura profissão. E esse estágio ocorrer na EJA se constituiu como um grande desafio, porque era uma turma de alunos trabalhadores, a maioria repetente com dificuldades de aprendizagem e alta incidência de evasão.

Partindo das considerações de Pimenta e Lima (2006), o estágio supervisionado tem por finalidade proporcionar aos licenciandos uma experiência da realidade profissional. Assim as autoras defendem uma nova postura dos estagiários, para que não ocorra uma imitação dos modelos tradicionais.

Deste modo, as contínuas e rápidas mudanças da sociedade trazem a necessidade de um novo perfil docente, como afirma Diesel; Baldez e Martins (2017, p. 2).

Daí a urgente necessidade de repensar a formação de professores, tendo como ponto de partida a diversidade dos saberes essenciais à sua prática, transpondo, assim, a racionalidade técnica de um fazer instrumental para uma perspectiva que busque ressignificá-la, com base numa postura reflexiva, investigativa e crítica.

Considerando os novos desafios que o professor encontra nos dias atuais no processo de ensino e aprendizagem é necessário obter outra forma de ensinar que promova a integração e maior interesse entre os alunos.

Faz-se necessário, então, desenvolver novas abordagens invertendo o tradicionalismo, ao utilizarmos diferentes metodologias articuladas as novas informações. Não se pode perder de vista que, teoria e a prática andam juntas, se misturam e complementam. A formação de professores requer deslocamentos: da leitura, dos pensamentos e da própria estratégia em seus contextos, de forma a potencializar os modos de existência no mundo.

Falar da formação de professores é também, trabalhar os artefatos culturais, sócio-históricos com os quais temos contato para a produção de processos subjetivos a partir de nossas conexões com os contextos vividos.

O processo educativo da EJA precisa envolver a reorientação do papel docente e sua dimensão do trabalho na escola com base no conhecimento do aluno e nas teorias de educação, bem como, metodologias de ensino aplicadas, gerando uma aprendizagem plural, marcada pelo desejo de contribuir para o processo de transformação.

Nessa linha de pensamento, os fatores extraescolares, são de grande relevância para o rendimento dos alunos, onde o professor deverá estar atento ao porquê do baixo rendimento e aproveitamento da avaliação deles. Percebe-se claramente a parceria da escola no sentido de propor estratégias dinâmicas e interessantes para garantir o bom aproveitamento dos alunos e diminuir sua reprovação ou desistência.

De um modo geral, a necessidade de começar a se pensar em outras formas de educar, está trazendo novas ferramentas e, consequentemente, o surgimento de educadores mais reflexivos e capazes de fazer a mudança, já que a sociedade como um todo vem passando por profundas transformações tanto na maneira de agir, quanto na forma de pensar e sentir.

Há de se considerar também as mudanças nos meios de comunicação e nas tecnologias e, tudo isso, nos leva a aperfeiçoarmos as nossas práticas pedagógicas. Em nossas práticas, o olhar às experiências que carregamos ao longo da vida, conforme ensina Josso (2004) na tentativa de melhor compreender os desejos, as emoções que constituem o ser humano em sua essência.

A originalidade da metodologia de pesquisa-formação em Histórias de Vida situa-se, em primeiro lugar, em nossa constante preocupação com que os autores de narrativas consigam atingir uma produção de conhecimentos que tenham sentido para eles e que eles próprios se inscrevem num projeto de conhecimento que os institua como sujeitos (JOSSO, 2004, p. 25).

No estágio observamos que, um dos fatores que afeta o contexto educacional é a condição socioeconômica das famílias. Essa problemática educacional é ainda mais evidente na EJA, uma vez que a maioria dos educandos são trabalhadores, muitos são repetentes e outros abandonaram a escola no passado, por não terem tido oportunidades de estudar em séries regulares, pelo fato de ter que optar pelo mundo da sobrevivência, assim, enxergam o retorno para a escola como uma forma de recuperar o tempo perdido para transformar a sua vida.

Josso (2004) busca pensar a formação a partir dos procedimentos oriundos das histórias de vida, o que dá legitimidade a uma história de vida com saberes da experiência, intercruzando os conhecimentos científicos com os culturais, incorporando os dilemas dos adultos vivenciados como processo de formação.

Na tentativa de potencializar situações formativas entre a prática e o saber, a autora (2004, p. 44) destaca que “[…] assim como a história dos povos pode ser reescrita com a felicidade e as desgraças que conhecemos, a história da nossa formação e a compreensão dos nossos processos de formação e de conhecimento podem ser transformadas por meio de uma leitura original”.

Para conhecermos um pouco desses alunos, ouvimos algumas histórias de vidas permeadas por lutas e perseveranças; outros, por alegrias e sonhos, narrativas que nos tocaram e ensinaram muito naquele momento, com as quais pudemos moldar nossas atividades, deixando-as mais interessantes e atrativas para o aluno da EJA.

Utilizamos dessas histórias de vida como meio de aproximação à prática docente, uma vez que, participamos da sua vivência, valorizando seus conhecimentos para o crescimento educacional. Naquele contexto, mostramos-lhes a importância da escola no sentido de oportunidade de um trabalho melhor, de superação das adversidades e de resgate dos sonhos.

Todos esses aprendizados perpassam pela concepção freireana ao versar a necessidade de um novo projeto de escolarização da espécie humana pautada na dignidade da vida e na superação das realidades sociais que tanto lhes atrofiam num mundo histórico movido pela competição capitalista.

O sentido da educação em Freire decorre da ideia de incompletude dos seres humanos, pois, é preciso refletir a respeito da educação para se pensar o ser humano em sua essência, pois nele, reside o “cidadão do mundo”, que por sua vez, fundamenta o processo educativo. Para tanto, uma educação para a humanização significa pensar e agir em princípios éticos, responsáveis, com determinações interventivas, ao encontro da criatividade, dos saberes experienciais e do caráter sensível na concepção de homem e sociedade.

Iluminado por esse pensamento freireano, Gadotti expressa: “O que um educador pode deixar como legado? Em primeiro lugar, pode deixar uma vida, uma biografia. E Paulo nos encantou, em vida, com sua ternura, doçura, carisma e coerência, compromisso e seriedade”. (GADOTTI, 2001, p. 52).

Nesta ótica, a educação é significativa na medida em que propõe uma análise crítica da realidade e da sua transformação. Na sua maioria, os trabalhadores-alunos carregam marcas de uma profunda disparidade social, oriundos do contingente de subempregados e desempregados do país.

São, em sua maioria, mulheres e homens que, com sua experiência histórica, política, cultural e social, retornam às escolas para dar continuidade a seus estudos. Muitas dessas lembranças estão guardadas na memória e no corpo, demarcando aspectos que elucidam as aprendizagens que refletem no social sobre assuntos variados que caracterizam sua vida diária.

CAMINHOS TRILHADOS NA ESCOLA

O desenvolvimento do estágio supervisionado nasce a partir da aplicação do projeto de Biologia com o tema: Filo Arthropoda com ênfase no Subfilo Hexapoda, durante três dias, numa turma do 2° ano, ensino médio na modalidade EJA, composta de 30 alunos. A referida escola é o Centro Integrado de Educação Luiz Navarro de Brito (CIENB), que foi fundada em 1970 para atender ao crescimento da população do lado Oeste da Cidade de Vitória da Conquista – BA. Atualmente conta com turmas apenas para Ensino Médio do 1º ao 3º ano.

Para execução do projeto, inicialmente foi realizado um levantamento bibliográfico sobre a modalidade EJA e especificidades do currículo bem como, discussões em grupos sobre a formação docente e a realidade escolar.

Certamente, essa experiência precedente tem uma importância para a construção de modelos didáticos e concepções teóricas a serem discutidas e avaliadas em relação ao ensino na EJA. Para alcançarmos todas essas contribuições, a realização do estágio compreendeu as seguintes etapas: observação, coparticipação e regência.

Durante o período de observação (quatro dias) constatamos a metodologia tradicional, onde o conteúdo é exposto no quadro, seguido de um esclarecimento para posterior resolução de questões. Percebemos a utilização de materiais didáticos, como a sala de vídeo para demonstração de imagens e aulas expositivas.

Na segunda etapa (coparticipação), foi possível a interação com a turma, mediante a aplicação de uma atividade sobre bactérias elaborada pelo professor regente que consistia na resolução de questões do livro didático. Esse momento propiciou uma aproximação e autonomia, além de nos permitir vivenciar um pouco do que seria a regência de classe. Assim sendo, adquirimos experiência de como seriam preparadas a regência, analisando principalmente a realidade dos alunos, conforme afirmam Zinke e Gomes (2015, p. 4), “realizar essa leitura da realidade é essencial para a formação de um professor reflexivo”, pois, permite que durante a sua formação construa-se uma compreensão da pluralidade que existe na escola.

A partir dessas etapas, observação e coparticipação, foi possível conhecer o espaço escolar, a dinâmica da sala de aula e a relação entre professor e aluno. Além de atividades complementares que possibilitam uma aproximação entre o estagiário e os educandos.

Por fim, a regência é a fase de atuação, que abrange a oportunidade de transmitir os seus conhecimentos de maneira a facilitar o processo de ensino e aprendizagem e acrescentar ensinamentos na profissão docente. Lima (2006, p. 35) afirma que “o mundo atual requer um novo tipo de profissional, cujos saberes sejam polivalentes e, sobretudo, amplos e sólidos, para corresponder às peculiaridades e ao caráter multifacetado da prática pedagógica”.

Nessa perspectiva, ao encarar as singularidades educacionais como os atrasos e o cansaço dos alunos, a partir do conhecimento dos sujeitos que constituem a EJA, propomos atividades que permitiram a associação da teoria e prática, e que despertassem o interesse, curiosidade e maior participação dos mesmos.

Além disso, após as atividades realizadas no dia, propomos aos alunos que escrevessem relatos curtos, retratando a opinião deles sobre o que mais gostou e/ou o que não gostou. Essa iniciativa foi livre e realizada por alguns alunos e objetivou valorizar a opinião deles e ao mesmo tempo avaliar nossa atuação como professores iniciantes.

RESULTADOS OBTIDOS

As atividades utilizadas no decorrer da docência variaram de aulas expositivas dialogadas no quadro branco até o uso de imagens e dinâmicas no intuito de motivá-los. No primeiro dia, após a explicação do projeto, seguido da dinâmica do presente para interagir com a turma, fizemos um levantamento prévio dos conhecimentos dos alunos sobre Artrópodes por meio de perguntas direcionadas aos mesmos.

Em seguida, escrita no quadro de tópicos referentes ao conteúdo, exposição dialogada com o uso de imagens para representar a diversidade do Filo Arthropoda. Posteriormente, os alunos resolveram uma cruzadinha. E por fim, realizamos uma atividade prática com representantes do Filo Arthropoda, com o objetivo de que os alunos pudessem identificar e reconhecer as diferentes morfologias e características dos grupos a partir do roteiro proposto previamente.

A atividade com o tema “morfologia dos artrópodes”, objetivou demonstrar as diferenças morfológicas do Filo Arthropoda. Para isso, dispomos representantes dos filos na bancada conhecidos popularmente como (caranguejo, escorpião, camarão, gafanhotos, baratas, borboletas etc.) bem como placas de petri, microscópio digital, pinças, luvas e álcool em gel para manipulação adequada, os alunos foram até a bancada e escolheram um exemplar para analisarem através do microscópio digital. Durante a análise e com posse do roteiro xerocopiado, os alunos foram motivados a seguir o roteiro para desenvolver as atividades propostas: desenhar o exemplar escolhido e observado no microscópio; anotar as principais características observadas (cor; quantidade de pernas, quantidade de olhos); identificar a presença ou não do órgão copulador de veneno. Posteriormente, a escrita e a entrega do relatório da aula prática a partir das orientações das estagiárias.

A atividade desenvolvida neste dia foi bastante interessante porque possibilitou maior integração com os alunos, além de permitir o primeiro contato deles com algumas espécies do filo estudado, bem como produção escrita de um relatório sobre a prática. Esse tipo de atividade é importante também porque se constitui como “um movimento de reconhecimento profissional e, além disso, um processo de constituição de identidade docente” destacados por Carmo e Rocha (2016, p. 726).

Importante destacar que na busca de uma relação dialógica no processo de ensino e aprendizagem, propomos aos alunos, no final das atividades, expressar individualmente e de forma voluntária, a opinião sobre o trabalho desenvolvido na sala de aula. A expressividade dos alunos, seus relatos e participação foi positiva, conforme demonstra algumas falas dos alunos:

Gostei muito de conhecer os insetos e saber da grande quantidade deles na terra.

Não gostei muito da cruzadinha, pois foi a primeira vez que fiz uma.

Adorei ser sorteado para ganhar o presente.

Tem bicho que eu não sabia que era inseto.

Pegar no bicho deu medo, mas fiquei muito feliz.

Os relatos demonstram o interesse dos alunos quando eles participam na construção da aprendizagem. Assim, foi possível perceber a importância de o professor estar mais próximo do aluno e dar atenção a ele, principalmente nas turmas da EJA, cujo saberes e experiências foram compartilhados pelos alunos e estagiários, demonstrando um pouco do que aprendemos com Freire sobre formar e formar-se.

No segundo dia do estágio, as atividades trabalhadas foram: atividade prática com representantes da Classe Insecta (observação das diferentes morfologias e características dos insetos); realização de uma atividade escrita (caça-palavras para encontrar as palavras que completam corretamente as frases); a realização de um bingo individual.

A atividade prática possibilitou aos alunos distinguir com maior propriedade os insetos nas classes que constituem o Filo Arthropoda e reconhecê-los como um dos Filos de maior representatividade e tão comuns na diversidade animal. Assim, além das características e morfologias foram abordadas também o enfoque filogenético e a visão antropocêntrica que associam a ideia de úteis e nocivos.

Nesse sentido, as Ciências Biológicas, apesar de compor conhecimentos abstratos à aprendizagem, também possibilita um conhecimento mais voltado às experiências, vivências e cotidiano dos alunos, facilitando assim a interação entre professor e aluno, assimilação do conteúdo, como também um distanciamento de ensino baseado na memorização de conteúdo.

Desta forma, a sistematização dos saberes dos professores transformados em saberes da ação pedagógica corrobora com as ideias de Freire ao afirmar que:

Este saber necessário ao professor – que ensinar não é transferir conhecimento – não apenas precisa ser apreendido por ele e pelos educandos nas suas razões de ser – ontológica, política, ética, epistemológica, pedagógica, mas também precisa ser constantemente testemunhado, vivido (FREIRE, 1996, p. 27).

No terceiro e último dia desse período da regência no ensino médio, a atividade principal foi uma revisão geral contendo brincadeiras e jogos que envolviam o conteúdo trabalhado (Filo Arthropoda com ênfase na classe Insecta), demonstrando a aprendizagem, os alunos foram capazes de participar com êxito e responder questões propostas em uma avaliação impressa individual.

Os relatos dos alunos permitiram perceber que situações que valorizam a prática docente, oportunizando a construção do conhecimento por meio da reflexão, análise e problematização favorecem a ambos, os estagiários e os alunos do ensino médio.

Me sentir feliz durante esses 3 dias.

Nunca imaginei que eu iria aprender alguns nomes científicos de animais, ou melhor, de insetos.

O inseto também é importante para a vida das pessoas.

Gostaria que vocês continuassem aqui na escola ensinando pra gente.

Esses relatos associados ao que vivenciamos na sala de aula demonstram a importância do papel do professor para aqueles alunos e o quanto aulas um pouco diferenciadas são capazes de envolver a turma na construção do conhecimento. Assim, o papel da formação inicial vivenciado pelo estágio supervisionado como forma de proporcionar aos licenciandos uma experiência da realidade profissional e exigir uma nova postura dos estagiários, para que não ocorra uma imitação dos modelos tradicionais é possível e se caracterizou na nossa experiência (PIMENTA; LIMA, 2006).

Embora não se encontre ainda na legislação educacional brasileira uma formação adequada para a EJA, salientamos que as emoções e alegrias vivenciadas durante todas as etapas do estágio em Biologia, sentida naquela sala de aula e ouvida pelas histórias de vidas que alguns relataram só os nossos corações são capazes de contar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da experiência vivenciada no estágio supervisionado, e respondendo à questão norteadora de pesquisa, foi possível constatar que este é um componente curricular de fundamental importância para o futuro professor, pelo fato de proporcionar diferentes visões da realidade educacional e das necessidades dos sujeitos que vivenciam esse ensino, os alunos da EJA.

Portanto, durante o estágio, a utilização de metodologias diversificadas despertou maior interesse por parte dos discentes, e consequentemente, houve uma maior participação nas atividades propostas. Além disso, nos permitiu conectar a teoria com a prática, tendo em vista que, na universidade não é muito comum relacionar o conteúdo com a prática na sala de aula em turmas da EJA e no turno noturno.

Nos cursos de licenciaturas é uma atividade indispensável, já que aperfeiçoa a formação profissional do docente, possibilitando então, que este desenvolva uma visão mais crítica a respeito do exercício da sua profissão, assim como também, do cenário das instituições educacionais em que vão atuar.

Cabe aqui, também, reconhecer a importância da formação de professores, na articulação universidade-escola, tão necessária atualmente ao estágio, sendo esse, uma experiência que proporciona lidar com os possíveis problemas das instituições escolares e buscar formas para solucioná-los. Assim, passamos então, a entender melhor o papel do educador na vida dos discentes e a maneira como lidarmos com a sala de aula.

Nesse cenário, aprendemos a cultivar as paixões diante dos encontros com a Educação de Jovens e Adultos. Por esse caminho, tornamo-nos pesquisadoras dotadas de emoção com as representações vividas, acrescentando tamanho respeito às pessoas, a vida e aos professores que tivemos e que teremos durante a nossa existência.

REFERÊNCIAS

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[1] Graduanda em Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB, campus Vitória da Conquista-Ba.

[2] Graduanda em Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB, campus Vitória da Conquista-Ba

[3] Orientadora. Mestre em Ensino de Ciências e Matemática com área de concentração em Ensino de Biologia pela PUC/MG.

Enviado: Dezembro, 2021.

Aprovado: Junho, 2022.

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Larissa Santos de Carvalho

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