ARTIGO ORIGINAL
VIANA, Suzana Nery [1], CAVALCANTE, Maria Suely Viana [2], CORREIA, Fernando Luís de Sousa [3]
VIANA, Suzana Nery. CAVALCANTE, Maria Suely Viana. CORREIA, Fernando Luís de Sousa. Histórias Em Quadrinhos Na Aprendizagem Matemática E Sua Importância Como Instrumento De Inovação Pedagógica. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 03, Vol. 09, pp. 141-159. Março de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/inovacao-pedagogica
RESUMO
O foco do presente artigo é discutir a importância das histórias em quadrinhos (HQ) para ampliação do conhecimento matemático, como uma prática pedagógica inovadora. O estudo tem caráter bibliográfico, qualitativo e exploratório, resultante de um levantamento de obras de alguns autores que abordam sobre a temática. Além da importância desse gênero textual nas demais disciplinas do currículo escolar, na matemática ela se torna fundamental como mais um recurso que pode contribuir para o melhoramento e ampliação das aprendizagens. A conclusão desse trabalho, confirma que, as histórias em quadrinhos permitem o desenvolvimento da criatividade, da autonomia, e contribuem para que os estudantes construam seus próprios conhecimentos, questionando e explicando determinados conteúdos matemáticos, que por ora apresentam dificuldades, ao mesmo tempo que colabora para o professor inovar sua prática dentro da sala de aula.
Palavras – chave: Histórias em Quadrinhos, Inovação Pedagógica, Matemática.
INTRODUÇÃO
A História em Quadrinhos (HQ), é um gênero textual que surgiu no século XIX através do artista americano Richard Outcault, o qual desenhava sequências de imagens, trazendo a retrato pequenas histórias em balões apresentando diálogos de personagens em uma coluna de jornal (FEIJÓ, 1997).
No Brasil, Manuel de Araújo Porto-Alegre foi o primeiro quadrinista, que de início produzia seus quadrinhos em litografia (processo de impressão sobre papel, por intermédio de prensa, com tinta graxenta sobre uma superfície calcária ou outros similares).
Devido aos novos contextos sociais e com a evolução crescente da tecnologia, como também as novas formas metodológicas de ensino, as histórias em quadrinhos(HQ) vêm ganhando espaço na prática pedagógica do professor, como um recurso que pode contribuir para atenuar algumas dificuldades encontradas pelos estudantes na disciplina de matemática. Esse entendimento é compreendido por muitos autores: (REZENDE, 2009); (VERGUEIRO e RAMA, 2010, 2014); (MCCLOUD, 2005), entre outros, que comungam com a ideia de que as HQs possibilitam a sintetização de diferentes processos cognitivos, favorecendo a compreensão de conteúdos muitas vezes difíceis de serem entendidos pelos estudantes. Nesse sentido, as HQ passam a ser opções atrativas, pois elas são: “obras ricas em simbologia – podem ser vistas como objeto de lazer, estudo e investigação. A maneira como as palavras, imagens e as formas são trabalhadas apresenta um convite à interação autor-leitor” (REZENDE, 2009, p. 126). Ao mesmo tempo, Vergueiro e Rama (2014) afirmam que a motivação dos estudantes, em relação ao conteúdo das aulas, é aumentada através das histórias em quadrinhos e que estas aguçam neles a curiosidade e desafiam o seu senso crítico. Já McCloud (2005, p. 05), diz que, as HQs são “imagens pictóricas e outras justapostas em sequência deliberada destinadas a transmitir informações e/ou produzir uma resposta no espectador”. Assim, ao utilizar as HQ na sala de aula, o professor deixa de ser tão somente o transmissor de conhecimentos, e passa a assumir uma posição de mediador, que inova a sua prática pedagógica, pois essa metodologia colabora para que os estudantes, como afirmam Onuchic e Allevato (2004), levantem ideias matemáticas, estabeleçam relações entre elas, saibam se comunicar ao escrever e falar sobre as mesmas, desenvolvam formas de raciocínio e estabeleçam conexões entre temas matemáticos como os que estão fora da matemática.
É nessa perspectiva, que esse artigo se fundamenta, buscando dialogar sobre a importância do professor utilizar as HQ nas aulas de matemática e brotou a partir das diversas leituras que tratam da temática, levando-se a refletir que esse gênero textual, apesar de ser muito utilizado em outras disciplinas, na matemática ele surge como uma nova forma de aprender matemática, estimulando o estudante a atuar como protagonista, apresentando-se assim como uma prática pedagógica inovadora.
No desenvolvimento desse estudo, vários autores contribuíram para o alcance do objetivo proposto que foi dialogar sobre a utilização das HQ, como um recurso importante no melhoramento dos conteúdos matemáticos.
Nesse entendimento, tem-se como o problema central: as HQ contribuem para a contextualização dos conteúdos matemáticos?
Como percebido pelos relatos acima, a temática nos auxilia a compreender que as HQ se tornam viáveis a sua utilização no contexto matemático, como um recurso que possibilita a formação de estudantes críticos-reflexivos e atuantes numa sociedade em que a educação matemática tem sido vista por grande parte dos estudantes como um ”bicho de sete cabeças”. Sendo assim, optou-se por um enfoque qualitativo que busca entender o porquê de determinados comportamentos, estudando as suas particularidades e experiências individuais.
A IMPORTÂNCIA DA INOVAÇÃO DO FAZER PEDAGÓGICO NO ENSINO DE MATEMÁTICA
De forma muito repetitiva, é comum observar-se todos os anos, que a maioria dos estudantes ingressam no Ensino Médio (EM) apresentando várias dificuldades no tocante aos conteúdos matemáticos, tais como: dificuldades na resolução de problemas, incompreensão sobre o emprego do sistema de numeração decimal e de sistemas de medidas, dentre outros conteúdos básicos. Esse fato, tem prejudicado a vida acadêmica dos estudantes, na medida em que tem impossibilitado o aprendizado dos conteúdos seguintes. Se os estudantes não dominam as competências básicas, certamente encontrarão dificuldades em todo o seu processo escolar.
Contudo, é preciso pontuar que as dificuldades encontradas pelos estudantes podem estar atreladas, dentre outras coisas, também à forma como o professor aborda o assunto e sua metodologia, bem como os recursos didáticos empregados. Todavia, diante das transformações pelas quais vem passando a sociedade, tem implicado em mudanças no contexto educacional, e dentro desse processo, ensinar os conteúdos matemáticos vai além de realizar cálculos sem contextualização para os estudantes. Dessa forma, na realização da ação pedagógica, “o professor precisa ser instrumentalizado para ter clareza da importância de instigar os alunos a compreender melhor o conteúdo de ensino, desafiando-os, a fazer a interação com outras situações, onde a matemática não é tão evidente” (MAIOR e TROBIA, 2010).
Muitas vezes, alguns professores introduzem o conteúdo, apenas utilizando o livro, sem buscar outros recursos que contribuam para que os estudantes possam refletir sobre o que estão estudando. Quando isso acontece, o professor se priva de ser mediador do conhecimento, o tutor, aquele que ensina aprendendo. Essa prática é criticada por Freire(1996), ao citar que, ” o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é, assim, um desafio e não uma cantiga de ninar” (FREIRE, 1996, p. 96).
O ensino necessita ser contextualizado, trazendo significado para o estudante, requerendo do professor a criação de estratégias para que o aprendizado aconteça para todos e de forma igualitária no que tange às possibilidades.
Em relação ao ensino da Matemática, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – PCNEM (2000), trazem a orientação de que:
O critério central é o da contextualização e da interdisciplinaridade, ou seja, é o potencial de um tema permitir conexões entre diversos conceitos matemáticos e entre diferentes formas de pensamento matemático, ou, ainda a relevância cultural do tema, tanto no que diz respeito às suas aplicações dentro ou fora da Matemática, como à sua importância histórica no desenvolvimento da própria ciência (BRASIL, 2000, p.43)
Nesse raciocínio, a contextualização deve ser entendida como a abordagem que o professor dá aos conteúdos, contribuindo para que os estudantes compreendam os atrelamentos estabelecidas entre a Matemática e o cotidiano desses estudantes. Assim, os mesmos aprendem significados e são capazes de utilizá-los em seu dia a dia. De tal modo, as atividades que o professor propõe devem ser uma prática que contemple as histórias de vidas dos aprendentes , projetando-os para o futuro, resgatando as suas experiências, fazendo uma relação com o conteúdo ensinado. Dessa forma, o professor torna o seu fazer inovador, levando os estudantes a criarem seus próprios conceitos e, ao mesmo tempo, possibilita-o a refazer outros.
No que diz respeito, à inovação pedagógico, Fino (2003, p. 2), diz que ela, “é abertura para a emergência de culturas novas, provavelmente estranhas aos olhares conformados com a tradição”. Nas ideias de Cunha (2008), a inovação pedagógica solicita uma ruptura das práticas, que consinta reconfigurar o conhecimento a além das regularidades alvitradas pela modernidade. Nesse viés, um dos maiores desafios postos ao professor em inovar a sua prática é, trazer à tona buscas por um novo ensino que se apresente embasado à realidade atual, que seja capaz de formar estudantes participativos, críticos, sujeitos responsáveis pelas suas aprendizagens, solidários, e comprometidos com o coletivo e com a transformação social (MARTINS, 2015).
Diante do que foi discutido, fica claro o quão importante se faz o ensino de matemática de forma contextualizada, contribuindo para o processo de inovação pedagógica e a dinamização dos meios pedagógicos.
A CONTRIBUIÇÃO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS (HQ) NA CONTEXTUALIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM MATEMÁTICA
O interesse pelas HQ, vai além das crianças, os jovens e os adultos também têm demonstrado grande gosto por esse gênero textual.
O trabalho com as histórias em quadrinhos na escola é reconhecido pela Lei de Diretrizes e Bases – LDB (BRASIL, 1996) e também pelos Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs – (BRASIL,1997), ao citarem em seus textos, a importância desse recurso como gênero adequado para se trabalhar a linguagem oral e escrita dos educandos.
Na matemática, esse recurso ( HQ) pode ser elaborado pelos próprios estudantes, por meio manual ou digital, com os conteúdos matemáticos que desejarem ou que sentirem mais dificuldades, seja explicando, criando ou questionando suas funções como no exemplo a seguir.
Figura N.º 1: Trabalhando matemática em quadrinhos

A historinha em quadrinho acima, pode ser criada com diversos conteúdos matemáticos, proporcionando o envolvimento dos estudantes, aprendendo de forma lúdica e colaborativa.
De acordo com Correia (2010, p.254), “a colaboração é uma estrutura social na qual duas ou mais pessoas interagem umas com as outras […]”. Como se pode perceber, o emprego das HQ, possibilita a troca de saberes coletivamente. Nessa perspectiva, para que essa metodologia ocorra, segundo, Araújo; Costa; Costa (2008, p. 33), é necessário que o professor tenha conhecimento, planejamento e desenvolvimento de seu trabalho nas atividades em que utilizarem as histórias em quadrinhos, independente da disciplina a ser ministrada. Desse modo, faz-se necessário que o professor conheça a função social desse gênero, para ajudar os estudantes a criarem seus contextos, suas histórias e seus aprendizados.
Recorrendo-se a Pereira (2014), a respeito das HQ, o autor as caracteriza como sendo: “sequências de imagens dentro de quadros criados proporcionalmente retratando pequenas Histórias, acompanhadas por balões representando diálogos de personagens, de modo a favorecer a sua compreensão” (PEREIRA, 2014, p.31). E sendo assim, seu uso no contexto matemático, vem aos poucos sendo inserido sendo considerado como uma ferramenta pedagógica eficiente, pois diverte, aguça a curiosidade e a criticidade, incentiva a leitura, entre outras questões (CARDOZO, 2016).
As HQ podem ser utilizadas pelos professores para todas as turmas e ano escolar, em todas as disciplinas da grade curricular.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs de Matemática, sugerem que o professor deve desenvolver metodologias que incentivem a criação, e o desenvolvimento da autonomia do discente de modo que contribua para a sua formação, ”que enfatizem a construção de estratégias, a comprovação e justificativa de resultados, a criatividade, a iniciativa pessoal, o trabalho coletivo e a autonomia advinda da confiança na própria capacidade de enfrentar desafios” (BRASIL, 1997, p. 27).
Nesse sentido, as HQ, são recursos importantes no desenvolvimento do raciocínio lógico, da criatividade e da aptidão artística. Por meio de uma diversidade de formatos, cada um com um tipo de função, conforme apresenta-se a seguir:
Figura N.º 2: Tipos de balões para elaboração de HQ

Com essa variedade de balões podem ser trabalhados a partir dos anos iniciais, proporcionando os estudantes a perceberem qual deles se encaixa na sua historinha.
A IMPORTÂNCIA DOS ESTUDANTES NA CRIAÇÃO DAS SUAS HISTÓRINHAS EM QUADRINHOS
As Histórias em Quadrinhos (HQ), são elaboradas a partir de um contexto, e se dá por meio de diálogos de forma sequenciada, com lógica e coesão de um tema ou assunto que acontece no interior de balões.
Recorrendo a Vergueiro e Rama (2010), no tocante ao quadrinho das historinhas, os autores nos dizem que ele constitui a representação de uma sequência interligada de instantes ou mesmo de um instante específico , através de uma imagem fixa. Ainda, de acordo com tais autores, esses instantes são essenciais na compreensão de determinado acontecimento ou ação.
Nesse sentido, destacamos que em muitos casos, numa história em quadrinho, os próprios desenhos/figuras podem falar mais que os próprios diálogos, através de seus gestos, feições, cores, entre outros elementos. Vai depender de que mensagem o escritor quer passar para o seu público.
Existe no mercado, uma gama de softwares que auxiliam os estudantes a confeccionarem sua própria história, dentre eles encontra-se: Pixton, ToonDoo, StripCreator, Marvel Kids, Chogger, Witty Comics, Make Beliefs Comix, Comic Master, HagáQuê, entre outros, de fácil compreensão. Porém para aqueles, estudantes que não têm acesso à tecnologia, ou mesmo não possuem o domínio da mesma, as HQ podem ser criadas, a punho, com lápis e caderno, e se preferir, podem ser pintadas com lápis colorido.
Por esse viés é que, ao criarem suas próprias histórias em quadrinhos, os estudantes compreendem melhor os conteúdos, por meio de questionamentos e pesquisas, colaborando para quebra de preconceitos em relação à utilização desse recurso em matemática, além de aumentarem “[…] a motivação dos estudantes para o conteúdo das aulas, aguçando sua curiosidade e desafiando seu senso crítico” (BARBOSA et al., 2004, p. 21). É nessa perspectiva, que nesse artigo é salientada a relevância da construção desse gênero pelas mãos dos próprios estudantes, porque de acordo com Carvalho (2021), as HQ podem ser utilizadas para provocar discussões e debates em sala de aula, além de trazer o estudante ao universo da leitura; bem como serem apresentadas como um complemento de um conceito trabalhado anteriormente pelo professor. Nesse contexto levantado por Carvalho, pode-se perceber a grande relevância do uso das HQ no contexto escolar.
METODOLOGIA
O presente estudo, se caracteriza com o enfoque qualitativo; pois, conforme Richardson (1999, p.79) “não pretende numerar ou medir unidades ou categorias homogêneas”, e por esse motivo, o método utilizado é de caráter exploratório, tendo “como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores” (GIL, 1999, p.43). Dentro desse contexto, esse artigo, tem como objetivo, dialogar sobre a utilização das histórias em quadrinhos em matemática, como uma prática pedagógica inovadora.
No tocante aos procedimentos técnicos utilizados, a pesquisa é bibliográfica, que conforme Moroz e Gianfaldoni (2006), consiste na realização de um levantamento bibliográfico versando na seleção de obras que se revelam como importantes e afins no tocante ao que se deseja conhecer. Ainda de acordo com tais autores (2006, p.31), tal pesquisa se dá “a partir do levantamento de referências teóricas publicadas por meios escritos e eletrônicos”. Fazendo-se jus à pesquisa bibliográfica, foram utilizados para esse estudo: livros, artigos, periódicos e teses de doutorado cujos autores contribuíram significativamente para o desenvolvimento do tema elencado.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nesse trabalho, foi debatida a importância das HQ no fazer pedagógico, e tal afirmação leva-nos a compreender que esse recurso contribui também para o aprimoramento da aprendizagem na disciplina de matemática. Todavia, nem todos os professores se dispõem a inserir no seu planejamento esse gênero textual, não por não saber utilizá-lo, mas, pelo simples fato de não entenderem ainda a sua importância e de não acreditarem no potencial desse recurso. Dessa forma, volta-se àquela concepção de que “[…] o professor era visto como um transmissor de informações adquiridas na sua formação acadêmica, e o estudante um ser passivo desse processo[…] (VIANA; CORREIA e MARTINS, 2021, s/p). Contudo, as HQ, possibilitam apresentar “condições para provocar o espírito crítico, a imaginação e o pensar próprio, ainda que a argumentação, a defesa de uma ideia ou a proposição de um problema, via de regra, sejam feitas de maneira diferente daquela do discurso acadêmico” (SANTOS; NETO, 2015, p.21). Corroborando com os autores, é necessário frisar que o professor pode e deve propor esse tipo de metodologia na sala de aula, principalmente direcionando-a para um trabalho coletivo, no qual, os estudantes possam criar seus próprios questionamentos e respostas nos balõezinhos, além de proporcionar aos estudantes o ato de colocar-se em posição de construtor e crítico do que construiu.
Com base nessa metodologia, ainda é possível criar grupos diferentes na sala de aula, que enquanto um faz sua historinha, o outro utiliza a complementação com questionamentos e responde por meio de outra historinha. Nesse sentido, há uma troca de saberes, em que um pode ajudar o outro. Essa prática, pode ser adotada pelo professor utilizando outros tipos de estratégias, (seminários, exposições, feiras de conhecimento, projetos) dentre outros. Tudo isso, só terá eficácia se o professor construir um planejamento prévio, conhecendo sua importância, para poder apresentar com segurança aos estudantes a dinâmica da sua função.
Para Estaqueira (2010), os estudantes aprendem melhor, em clima de cooperação, experiências e partilha de saberes, todos ganham a medida em que aprendem juntos e constroem relações de tolerância, confiança, respeito e apoio mútuo. Nesse direcionamento dado pelo autor (2010), o professor quando tem propriedade do precioso papel das HQs, busca instruir o estudante não apenas a criá-las, mas o estimula a questionar numa interação real em que os conteúdos sejam apreendidos, isso porque a função social da escola é preparar o estudante “para torná-lo um cidadão participativo e ao mesmo tempo crítico na sociedade em que vive” (VIANA; CORREIA e MARTINS, 2021, s/p).
Dentro dessa ótica, a exploração didática das HQ, oportunizará um trabalho voltado à formação do leitor, trabalhando também com a interdisciplinaridade. Embora se possa afirmar que uma parcela dos professores ainda não consegue trabalhar interligando as disciplinas, pela própria dificuldade de entender essa prática, Quinta e Costa et al (2015), esclarecem que: ”A interdisciplinaridade define-se como o encontro e a cooperação entre duas ou mais disciplinas, cada uma das quais empregando ao nível da teoria ou da investigação empírica os seus próprios esquemas conceptuais […]”, ( p.780).
A nosso ver, trabalhar com HQ, contempla o entrelace de outras disciplinas do currículo escolar, uma vez que o estudante necessitará de conhecimentos prévios para empregar em seus diálogos. Dessa forma, as HQ passam a ser vistas como um poderoso recurso no processo de ensino de matemática, porque elas abordam uma linguagem aberta, demonstrando várias possibilidades de conhecimento.
Trabalhar com as HQ na escola se torna relevante, pois elas se apresentam como grandes contribuições proporcionando momentos de reflexões dos estudantes, bem como, para o aprendizado sobre diversos conteúdos, principalmente o matemático, propiciando estímulos, imaginação e momentos ricos de socialização do que se propõem a criar, além de proporcionar momentos de descontração.
Quanto a importância das HQ, estudos apontam que: ”Já existem professores no Brasil elaborando e aplicando bons projetos envolvendo o uso de quadrinhos em sala de aula, mas essas práticas precisam ser mais divulgadas para que haja troca de ideias entre os profissionais da educação” (VERGUEIRO e RAMOS, 2009, p. 98).
É importante que essa prática seja uma ação constante na sala de aula, e divulgada no meio acadêmico, pois, ela colabora para que o professor possa inovar o seu fazer pedagógico. Nos estudos de Vergueiro e Rama (2009), o uso das histórias em quadrinhos no currículo escolar é reconhecido em muitos países. No Brasil, apesar da LDB (BRASIL, 1996) e dos PCNs (BRASIL, 1997) apontarem para essas construções, esses documentos norteadores das práticas didáticas apenas sugerem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos dias atuais, as Histórias em Quadrinhos, ainda têm sido pouca utilizadas no ambiente escolar. Contudo, esse recurso possui um valor pedagógico muito importante, uma vez que contribui para o estímulo da criatividade e da produção textual matemática.
Paradoxalmente, o uso desse recurso ainda é entendido por alguns professores como apenas uma forma de divertimento, sem valor didático, e ferramenta de aprendizagem. Porém, o gênero textual HQs, é mais do que páginas multicoloridas, engraçadas. Ela é uma ferramenta potente que contribui de forma positiva para o despertar dos estudantes tanto em matemática como na possibilidade de se tornarem desenhistas, roteiristas e criadores, enaltecendo a validade desse recurso dentro do ambiente escolar.
Na matemática, ela possibilita que sejam trabalhados uma gama de conteúdos pelos professor e estudantes com o objetivo principal de melhorar a aprendizagem dos estudantes de forma contextualizada, contribuindo para a significação dos conteúdos de ensino.
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[1] Mestranda em Ciências da Educação – Inovação Pedagógica – na Universidade da Madeira – Funchal – Portugal, Pós – Graduada em Programação do Ensino de Matemática (2005) pela Universidade de Pernambuco – UPE, Bacharel em Engenharia de Pesca (2006) pela Universidade do Estado da Bahia- UNEB, Licenciada em Ciências com habilitação em Matemática (2002) pela Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde-AESA/Centro de Ensino Superior de Arcoverde-CESA.
[2] Especialização em Programa do Ensino de Matemática (2005) pela Universidade de Pernambuco-UPE; Licenciada em Ciências com habilitação em Matemática (2002) pela Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde – AESA/ Centro de Ensino Superior de Arcoverde – CESA.
[3] Doutor em Ciências da Educação – Inovação Pedagógica (2011) pela Universidade da Madeira – Funchal – Portugal; Mestre em Ciências da Educação – Supervisão Pedagógica (2004) pela Universidade da Madeira – Funchal – Portugal; Diploma de Estudos Superiores Especializados – Curso de Estudos Superiores Especializados em Educação Especial – Educação Pré-Escolar e Ensino Básico (1º Ciclo), na área de especialização de Problemas Motores Profundos (1998) pela Escola Superior de Educação de Lisboa – Lisboa – Portugal; Curso de Especialização – Curso de Formação de Professores do Ensino Especial com incidência em Deficiência Motora (1986) pelo Instituto António Aurélio da Costa Ferreira – Lisboa – Portugal; Bacharelato – Curso do Magistério Primário (1979) pela Escola do Magistério Primário do Funchal – Funchal – Portugal.
Enviado: Fevereiro, 2021.
Aprovado: Março, 2021.