REVISTACIENTIFICAMULTIDISCIPLINARNUCLEODOCONHECIMENTO

Revista Científica Multidisciplinar

Pesquisar nos:
Filter by Categorias
Administração
Administração Naval
Agronomia
Arquitetura
Arte
Biologia
Ciência da Computação
Ciência da Religião
Ciências Aeronáuticas
Ciências Sociais
Comunicação
Contabilidade
Educação
Educação Física
Engenharia Agrícola
Engenharia Ambiental
Engenharia Civil
Engenharia da Computação
Engenharia de Produção
Engenharia Elétrica
Engenharia Mecânica
Engenharia Química
Ética
Filosofia
Física
Gastronomia
Geografia
História
Lei
Letras
Literatura
Marketing
Matemática
Meio Ambiente
Meteorologia
Nutrição
Odontologia
Pedagogia
Psicologia
Química
Saúde
Sem categoria
Sociologia
Tecnologia
Teologia
Turismo
Veterinária
Zootecnia
Pesquisar por:
Selecionar todos
Autores
Palavras-Chave
Comentários
Anexos / Arquivos

Histórias Em Quadrinhos Na Aprendizagem Matemática E Sua Importância Como Instrumento De Inovação Pedagógica  

RC: 79263
1.722
4/5 - (2 votes)
DOI: ESTE ARTIGO AINDA NÃO POSSUI DOI
SOLICITAR AGORA!

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

VIANA, Suzana Nery [1], CAVALCANTE, Maria Suely Viana [2], CORREIA, Fernando Luís de Sousa [3]

VIANA, Suzana Nery. CAVALCANTE, Maria Suely Viana. CORREIA, Fernando Luís de Sousa. Histórias Em Quadrinhos Na  Aprendizagem  Matemática E Sua Importância Como Instrumento De Inovação Pedagógica. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 03, Vol. 09, pp. 141-159. Março de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/inovacao-pedagogica

RESUMO

O foco do presente artigo é discutir a importância das histórias em quadrinhos (HQ) para  ampliação do conhecimento matemático, como uma prática pedagógica inovadora. O estudo tem caráter bibliográfico, qualitativo e exploratório, resultante de um levantamento de obras  de alguns autores que abordam sobre a  temática. Além da importância  desse gênero textual nas demais disciplinas do currículo escolar, na matemática ela se torna fundamental como mais um recurso que pode contribuir para o melhoramento e ampliação das aprendizagens. A conclusão desse trabalho, confirma que, as histórias em quadrinhos permitem o desenvolvimento da criatividade, da autonomia, e contribuem para que os estudantes construam seus próprios conhecimentos, questionando e explicando determinados conteúdos matemáticos, que  por ora apresentam dificuldades, ao mesmo tempo que colabora para o professor inovar sua prática dentro da sala de aula.

Palavras – chave:  Histórias em Quadrinhos, Inovação Pedagógica, Matemática.

INTRODUÇÃO

A História em Quadrinhos (HQ), é um gênero textual  que  surgiu no século XIX através do artista americano Richard Outcault, o qual  desenhava sequências de imagens, trazendo a retrato pequenas histórias em balões apresentando diálogos de personagens em uma coluna de jornal (FEIJÓ, 1997).

No Brasil, Manuel de Araújo Porto-Alegre foi o primeiro quadrinista, que de início produzia seus  quadrinhos em litografia (processo de  impressão  sobre papel, por intermédio de prensa, com tinta graxenta sobre uma superfície calcária ou outros similares).

Devido aos novos contextos sociais e com a evolução crescente da tecnologia, como também  as novas formas  metodológicas de ensino, as histórias  em quadrinhos(HQ)  vêm ganhando espaço na prática pedagógica do professor, como um recurso que pode contribuir para atenuar algumas dificuldades  encontradas pelos estudantes  na  disciplina de  matemática. Esse entendimento é compreendido por  muitos autores: (REZENDE, 2009);  (VERGUEIRO e RAMA, 2010, 2014); (MCCLOUD, 2005), entre outros, que  comungam com a ideia de que as HQs  possibilitam a  sintetização de  diferentes processos cognitivos, favorecendo a compreensão  de conteúdos muitas vezes difíceis de  serem entendidos pelos estudantes. Nesse sentido, as HQ passam a ser opções  atrativas, pois  elas são: “obras ricas em simbologia – podem ser vistas como objeto de lazer, estudo e investigação. A maneira como as palavras, imagens e as formas são trabalhadas apresenta um convite à interação autor-leitor” (REZENDE, 2009, p. 126). Ao mesmo tempo, Vergueiro e Rama (2014) afirmam que a motivação dos estudantes, em relação ao conteúdo das aulas, é aumentada através das histórias em quadrinhos e que estas aguçam neles a curiosidade e desafiam o seu senso crítico. Já  McCloud (2005, p. 05), diz  que,  as  HQs são “imagens pictóricas e outras justapostas em sequência deliberada destinadas a transmitir informações e/ou produzir uma resposta no espectador”. Assim, ao utilizar as  HQ na  sala  de  aula, o  professor  deixa de  ser  tão somente o  transmissor de conhecimentos,  e passa a assumir uma posição de mediador, que  inova a  sua  prática   pedagógica, pois  essa metodologia colabora  para  que os  estudantes, como afirmam Onuchic e Allevato (2004), levantem ideias matemáticas, estabeleçam relações entre elas, saibam se comunicar ao escrever e falar sobre as mesmas, desenvolvam formas de raciocínio e estabeleçam conexões entre temas matemáticos como os que estão fora da matemática.

É nessa perspectiva, que  esse  artigo se fundamenta, buscando dialogar sobre  a importância  do professor utilizar as HQ  nas aulas  de matemática e  brotou  a partir  das  diversas leituras que tratam da  temática, levando-se a refletir  que  esse gênero textual, apesar de ser muito utilizado em outras disciplinas, na  matemática ele surge como uma nova forma de aprender matemática, estimulando o estudante a atuar como protagonista, apresentando-se assim como uma prática  pedagógica  inovadora.

No desenvolvimento desse estudo,  vários  autores contribuíram para  o alcance  do objetivo proposto que  foi  dialogar  sobre  a utilização das HQ, como um recurso importante no melhoramento dos conteúdos  matemáticos.

Nesse entendimento, tem-se como o problema central: as HQ contribuem para a contextualização dos conteúdos  matemáticos?

Como percebido pelos relatos acima, a temática  nos auxilia a  compreender que  as HQ  se tornam  viáveis a sua  utilização no contexto matemático, como um recurso que possibilita a formação  de estudantes críticos-reflexivos e atuantes numa sociedade em que a educação matemática tem sido vista por grande  parte dos estudantes como um ”bicho de  sete  cabeças”. Sendo assim, optou-se por um enfoque qualitativo que busca entender o porquê de determinados comportamentos, estudando as suas particularidades e experiências individuais.

A IMPORTÂNCIA DA INOVAÇÃO DO FAZER PEDAGÓGICO  NO ENSINO  DE MATEMÁTICA

De  forma muito repetitiva, é  comum observar-se todos os anos,  que a maioria dos estudantes  ingressam no Ensino Médio (EM) apresentando várias dificuldades no tocante aos  conteúdos matemáticos, tais como: dificuldades na resolução de problemas,  incompreensão sobre o emprego do sistema  de  numeração decimal e de sistemas de  medidas, dentre outros conteúdos básicos. Esse fato, tem prejudicado a vida acadêmica dos estudantes, na medida em que tem impossibilitado o aprendizado dos conteúdos  seguintes. Se os estudantes não dominam as competências  básicas, certamente encontrarão dificuldades em todo o seu processo escolar.

Contudo, é preciso pontuar que as dificuldades encontradas pelos estudantes  podem estar atreladas, dentre outras coisas, também à forma como o professor aborda o assunto e  sua   metodologia, bem como os recursos didáticos empregados. Todavia, diante das transformações pelas quais vem passando a sociedade, tem implicado em mudanças no contexto educacional, e dentro desse processo, ensinar os conteúdos matemáticos  vai além de realizar cálculos sem contextualização para os  estudantes. Dessa forma, na realização da ação pedagógica, “o professor precisa ser instrumentalizado para ter clareza da importância de instigar os alunos a compreender melhor o conteúdo de ensino, desafiando-os, a fazer a interação com outras situações, onde a matemática não é tão evidente” (MAIOR e TROBIA, 2010).

Muitas vezes, alguns professores  introduzem o conteúdo, apenas  utilizando o livro, sem buscar  outros recursos que contribuam  para que os estudantes  possam refletir sobre o que estão estudando. Quando isso acontece, o professor se priva de ser  mediador do conhecimento, o tutor, aquele que ensina aprendendo. Essa prática  é criticada por  Freire(1996), ao citar que, ” o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é, assim, um desafio e não uma cantiga de ninar” (FREIRE, 1996, p. 96).

O ensino necessita ser contextualizado, trazendo significado para o estudante, requerendo do professor a criação de estratégias para que o aprendizado aconteça para todos e de  forma  igualitária no que tange às possibilidades.

Em relação ao  ensino da Matemática, os Parâmetros  Curriculares Nacionais  para  o Ensino Médio – PCNEM (2000), trazem a orientação de que:

O critério central é o da contextualização e da interdisciplinaridade, ou seja, é o potencial de um tema permitir conexões entre diversos conceitos matemáticos e entre diferentes formas de pensamento matemático, ou, ainda a relevância cultural do tema, tanto no que diz respeito às suas aplicações dentro ou fora da Matemática, como à sua importância histórica no desenvolvimento da própria ciência (BRASIL, 2000, p.43)

Nesse raciocínio, a contextualização  deve  ser  entendida  como a abordagem que o professor dá aos conteúdos, contribuindo para que os estudantes  compreendam  os atrelamentos estabelecidas entre a Matemática e o cotidiano desses estudantes. Assim, os mesmos  aprendem significados e são capazes de utilizá-los em seu dia a dia.  De tal modo, as atividades que o professor propõe  devem ser uma prática que contemple as histórias de vidas dos aprendentes , projetando-os  para o  futuro, resgatando  as  suas  experiências, fazendo  uma relação com o conteúdo ensinado. Dessa forma, o professor torna  o seu fazer inovador, levando os estudantes a  criarem seus próprios   conceitos  e, ao mesmo tempo, possibilita-o  a  refazer outros.

No que diz respeito, à  inovação  pedagógico,  Fino  (2003, p. 2), diz  que ela, “é abertura para a emergência de culturas novas, provavelmente estranhas aos olhares conformados com a tradição”. Nas  ideias  de  Cunha (2008), a inovação pedagógica solicita uma ruptura das práticas, que consinta reconfigurar o conhecimento a além das regularidades alvitradas pela modernidade. Nesse viés, um dos maiores desafios  postos ao professor em  inovar a sua   prática   é, trazer à tona buscas por um novo ensino que se apresente embasado à realidade  atual,  que seja  capaz de formar estudantes  participativos, críticos, sujeitos  responsáveis pelas suas  aprendizagens,  solidários, e comprometidos  com  o  coletivo  e  com  a transformação  social  (MARTINS,  2015).

Diante do que foi discutido, fica  claro o quão importante se faz o ensino de  matemática de forma contextualizada, contribuindo para o processo  de inovação  pedagógica   e  a dinamização dos meios pedagógicos.

A CONTRIBUIÇÃO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS (HQ) NA CONTEXTUALIZAÇÃO DA  APRENDIZAGEM  MATEMÁTICA

O interesse pelas HQ, vai além das crianças, os  jovens   e os  adultos  também têm demonstrado  grande  gosto  por esse  gênero  textual.

O  trabalho com  as  histórias  em  quadrinhos   na  escola  é reconhecido pela Lei  de  Diretrizes e  Bases –  LDB (BRASIL, 1996)  e  também  pelos Parâmetros  Curriculares  Nacionais PCNs – (BRASIL,1997), ao citarem em seus textos,  a importância  desse  recurso   como  gênero  adequado  para  se trabalhar a linguagem oral e escrita dos educandos.

Na  matemática, esse recurso ( HQ)  pode ser  elaborado  pelos  próprios  estudantes, por meio manual ou digital, com os conteúdos matemáticos que desejarem ou que sentirem mais dificuldades, seja explicando, criando ou questionando suas funções  como  no exemplo a seguir.

Figura  N.º 1: Trabalhando matemática  em quadrinhos

Fonte: Própria autora (software: HAGÁQUÊ)

A historinha em quadrinho acima, pode ser criada com diversos  conteúdos  matemáticos, proporcionando o envolvimento  dos estudantes, aprendendo de forma lúdica e colaborativa.

De acordo com Correia (2010, p.254), “a  colaboração é  uma estrutura social  na qual duas  ou mais  pessoas interagem umas  com as  outras […]”. Como se pode perceber, o emprego das HQ, possibilita  a troca de  saberes coletivamente. Nessa perspectiva, para que essa metodologia ocorra,  segundo, Araújo; Costa; Costa (2008, p. 33), é necessário que o professor tenha conhecimento, planejamento e desenvolvimento de seu trabalho nas atividades em que utilizarem as histórias em quadrinhos, independente da disciplina a ser ministrada. Desse modo, faz-se necessário que o professor conheça a função social desse gênero, para  ajudar os estudantes a criarem seus contextos, suas  histórias  e seus aprendizados.

Recorrendo-se a Pereira (2014), a respeito das HQ, o autor  as caracteriza como sendo: “sequências de imagens dentro de quadros criados proporcionalmente retratando pequenas Histórias, acompanhadas por balões representando diálogos de personagens, de modo a favorecer a sua compreensão” (PEREIRA, 2014, p.31).  E sendo assim, seu uso no contexto matemático, vem aos poucos  sendo  inserido sendo considerado como uma ferramenta pedagógica eficiente, pois diverte, aguça a curiosidade e a criticidade, incentiva a leitura, entre outras questões (CARDOZO, 2016).

As HQ  podem ser utilizadas pelos professores  para todas as  turmas e ano escolar, em todas as  disciplinas da grade curricular.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs de  Matemática, sugerem que o professor  deve  desenvolver  metodologias que  incentivem a  criação, e o desenvolvimento da autonomia do  discente de modo que  contribua para a sua  formação, ”que enfatizem a construção de estratégias, a comprovação e justificativa de resultados, a criatividade, a iniciativa pessoal, o trabalho coletivo e a autonomia advinda da confiança na própria capacidade de enfrentar desafios” (BRASIL, 1997, p. 27).

Nesse sentido, as HQ, são recursos  importantes  no desenvolvimento  do raciocínio  lógico, da  criatividade  e da  aptidão artística. Por meio  de  uma  diversidade de formatos, cada  um com um tipo de função, conforme apresenta-se  a seguir:

Figura  N.º 2: Tipos de balões para elaboração de HQ

Fonte: http://www.eraumavezbrasil.com.br/voce-sabia-que-existem-diversos-tipos-de-baloes/

Com essa variedade de balões  podem  ser  trabalhados a partir dos anos  iniciais, proporcionando os estudantes  a  perceberem  qual deles  se encaixa na  sua  historinha.

A  IMPORTÂNCIA DOS ESTUDANTES  NA  CRIAÇÃO DAS SUAS HISTÓRINHAS  EM QUADRINHOS

As Histórias em Quadrinhos  (HQ), são  elaboradas a partir  de um contexto, e se dá  por meio de diálogos de  forma sequenciada, com lógica e  coesão de um tema ou  assunto que acontece no interior de balões.

Recorrendo a Vergueiro e Rama (2010), no tocante ao quadrinho das historinhas, os autores  nos dizem que ele constitui a representação de uma sequência interligada de instantes ou mesmo de um instante específico  , através de uma imagem fixa. Ainda, de acordo com tais autores, esses instantes são essenciais na compreensão de determinado acontecimento ou ação.

Nesse sentido, destacamos que em muitos casos, numa história em quadrinho, os próprios  desenhos/figuras podem falar mais que os próprios diálogos, através de seus gestos, feições, cores, entre outros elementos. Vai depender  de que mensagem o escritor quer passar para o seu público.

Existe no mercado, uma  gama de  softwares  que auxiliam os estudantes  a  confeccionarem sua própria história, dentre  eles encontra-se: Pixton, ToonDoo, StripCreator, Marvel Kids, Chogger, Witty Comics, Make Beliefs Comix, Comic Master, HagáQuê, entre  outros,  de fácil  compreensão. Porém para aqueles, estudantes que não têm acesso à tecnologia, ou mesmo não possuem o domínio da  mesma, as  HQ  podem ser  criadas, a punho, com lápis e  caderno,  e se  preferir, podem ser pintadas com lápis colorido.

Por  esse  viés  é que,  ao criarem suas próprias histórias em quadrinhos,  os estudantes compreendem melhor os  conteúdos,  por  meio  de questionamentos e  pesquisas,  colaborando para  quebra de  preconceitos  em relação à  utilização desse  recurso  em matemática, além de  aumentarem “[…] a motivação dos estudantes para o conteúdo das aulas, aguçando sua curiosidade e desafiando seu senso crítico” (BARBOSA et al., 2004, p. 21). É  nessa perspectiva,  que nesse artigo é salientada a  relevância  da  construção desse  gênero pelas mãos  dos próprios  estudantes, porque de acordo com  Carvalho (2021), as HQ podem ser utilizadas para provocar discussões e debates em sala de aula, além de trazer o estudante ao universo da leitura; bem como serem apresentadas como um complemento de um conceito trabalhado anteriormente pelo professor. Nesse contexto levantado por Carvalho, pode-se perceber a grande relevância do uso das HQ no contexto escolar.

METODOLOGIA

O  presente estudo, se caracteriza com o enfoque qualitativo; pois, conforme Richardson (1999, p.79)  “não pretende numerar ou medir unidades ou categorias homogêneas”, e por  esse motivo, o  método utilizado é de caráter exploratório, tendo “como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores” (GIL, 1999, p.43). Dentro desse contexto, esse artigo, tem como objetivo,  dialogar  sobre  a utilização das histórias em quadrinhos em matemática, como uma prática pedagógica inovadora.

No tocante aos procedimentos técnicos utilizados, a pesquisa é bibliográfica,  que  conforme Moroz e Gianfaldoni (2006), consiste na realização de um levantamento bibliográfico versando na seleção de obras que se revelam como importantes e afins no tocante ao que se deseja conhecer. Ainda de acordo com tais autores (2006, p.31), tal pesquisa  se dá “a partir do levantamento de referências teóricas publicadas por meios escritos e eletrônicos”. Fazendo-se jus à pesquisa  bibliográfica, foram utilizados para esse estudo:  livros, artigos, periódicos e  teses de  doutorado cujos  autores  contribuíram significativamente  para  o desenvolvimento do tema  elencado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesse trabalho, foi  debatida  a  importância  das HQ  no fazer pedagógico, e  tal  afirmação leva-nos  a compreender  que  esse recurso contribui  também para o aprimoramento da aprendizagem na disciplina  de  matemática. Todavia,  nem todos os professores se dispõem a inserir no seu planejamento esse  gênero textual, não por  não saber utilizá-lo, mas, pelo simples  fato  de  não  entenderem ainda  a  sua   importância e  de não acreditarem  no potencial desse recurso.  Dessa forma, volta-se àquela concepção  de  que “[…] o professor  era visto como um transmissor de informações adquiridas na sua formação acadêmica, e o estudante um ser passivo desse  processo[…] (VIANA; CORREIA e MARTINS, 2021, s/p). Contudo, as  HQ, possibilitam apresentar “condições para provocar o espírito crítico, a imaginação e o pensar próprio, ainda que a argumentação, a defesa de uma ideia ou a proposição de um problema, via de regra, sejam feitas de maneira diferente daquela do discurso acadêmico” (SANTOS; NETO, 2015, p.21). Corroborando com os autores, é necessário frisar  que  o professor  pode e deve propor esse tipo de  metodologia  na sala de aula,   principalmente direcionando-a  para um trabalho coletivo, no qual, os estudantes  possam criar  seus  próprios  questionamentos e  respostas  nos  balõezinhos, além de  proporcionar aos estudantes o ato de colocar-se em posição de construtor e crítico do que construiu.

Com base nessa metodologia, ainda  é possível  criar  grupos diferentes  na sala de aula, que enquanto um faz sua historinha, o outro utiliza a complementação com   questionamentos  e  responde  por  meio de outra  historinha.  Nesse  sentido, há uma  troca de  saberes, em que  um pode ajudar  o outro. Essa prática, pode ser adotada pelo professor utilizando outros  tipos de  estratégias, (seminários, exposições, feiras de  conhecimento,  projetos) dentre  outros.  Tudo isso, só terá eficácia se o professor construir um planejamento prévio, conhecendo  sua  importância,  para  poder apresentar  com segurança  aos estudantes   a  dinâmica  da sua função.

Para Estaqueira (2010), os estudantes  aprendem  melhor, em clima de cooperação, experiências e partilha de saberes, todos ganham a medida em que aprendem juntos e constroem relações de tolerância, confiança, respeito e apoio mútuo. Nesse direcionamento dado pelo autor (2010), o professor  quando tem propriedade do precioso papel  das  HQs, busca  instruir o estudante não apenas a criá-las,  mas o estimula a questionar numa interação real em que os  conteúdos  sejam apreendidos, isso porque  a função social da escola é preparar o estudante  “para torná-lo um cidadão participativo e ao mesmo tempo crítico na sociedade em que vive” (VIANA; CORREIA  e MARTINS, 2021, s/p).

Dentro dessa ótica, a exploração didática  das HQ,  oportunizará  um trabalho voltado à formação do leitor, trabalhando também com a  interdisciplinaridade.  Embora se possa afirmar que uma parcela dos professores  ainda não consegue trabalhar  interligando as  disciplinas, pela  própria dificuldade de entender essa prática,  Quinta  e Costa et al (2015), esclarecem  que: ”A interdisciplinaridade define-se como o encontro e a cooperação entre duas ou mais disciplinas, cada uma das quais empregando ao nível da teoria ou da investigação empírica os seus próprios esquemas conceptuais […]”, ( p.780).

A nosso ver, trabalhar  com HQ,  contempla  o entrelace de  outras disciplinas do currículo  escolar, uma  vez que  o estudante  necessitará  de conhecimentos  prévios   para  empregar  em seus  diálogos. Dessa  forma, as  HQ  passam a ser vistas como um poderoso recurso no processo de ensino de matemática, porque elas abordam uma linguagem aberta, demonstrando várias possibilidades de  conhecimento.

Trabalhar   com as  HQ   na escola  se torna  relevante, pois  elas se apresentam como grandes contribuições proporcionando momentos de reflexões dos estudantes,  bem como,  para  o  aprendizado sobre diversos  conteúdos, principalmente o matemático, propiciando estímulos, imaginação  e momentos ricos de socialização  do  que se  propõem a criar, além de proporcionar momentos  de  descontração.

Quanto a importância das HQ,  estudos apontam que: ”Já existem professores no Brasil elaborando e aplicando bons projetos envolvendo o uso de quadrinhos em sala de aula, mas essas práticas precisam ser mais divulgadas para que haja troca de ideias entre os profissionais da educação” (VERGUEIRO e RAMOS, 2009, p. 98).

É  importante que essa prática  seja  uma  ação constante  na  sala de aula,  e  divulgada  no meio acadêmico, pois, ela colabora  para que o professor possa inovar  o seu fazer pedagógico. Nos  estudos de  Vergueiro e Rama  (2009), o uso das histórias em quadrinhos no currículo escolar é  reconhecido em muitos  países. No Brasil, apesar da LDB (BRASIL, 1996) e dos PCNs (BRASIL, 1997) apontarem para essas construções, esses documentos  norteadores das práticas didáticas apenas  sugerem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos dias atuais, as  Histórias em Quadrinhos, ainda têm sido pouca utilizadas no ambiente escolar. Contudo, esse  recurso possui  um  valor pedagógico muito importante, uma vez que contribui para o estímulo da  criatividade e da produção textual matemática.

Paradoxalmente, o uso desse recurso ainda é entendido por alguns professores  como apenas  uma  forma de  divertimento, sem  valor didático, e ferramenta  de  aprendizagem.  Porém, o gênero textual HQs, é mais do que páginas multicoloridas, engraçadas. Ela  é uma ferramenta  potente que contribui  de forma positiva  para o despertar  dos estudantes tanto em matemática como na possibilidade de se tornarem  desenhistas, roteiristas  e  criadores, enaltecendo  a validade desse  recurso  dentro do ambiente escolar.

Na  matemática,  ela possibilita  que sejam  trabalhados  uma gama  de  conteúdos pelos  professor e  estudantes com o objetivo  principal de melhorar  a  aprendizagem  dos estudantes  de forma contextualizada, contribuindo  para a significação dos conteúdos de ensino.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, G. C. de; COSTA, M. A. da; COSTA, E. B da. As histórias em quadrinhos na educação: possibilidades de um recurso didático-pedagógico. A MARgem, Estudos, Uberlândia   MG, ano 1 n.2  , jul./dez. 2008.

BARBOSA, A. et al. Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2006.

BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB. 9394/1996, Brasília,1996.

_____. Secretaria de Educação Fundamental – Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997.

______.  Ministério da Educação. Secretaria de Ensino Médio e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacional para o Ensino Médio (PCNEM): Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília. MEC, 2000.

Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Arte

CARDOZO, D. A. (2016).  O ensino e aprendizagem de Matemática utilizando História em Quadrinhos (Trabalho de conclusão de curso). Curso de Licenciatura em Matemática, Universidade Estadual Vale do Acaraú, Sobral, CE, Brasil.

CARVALHO, L. História em quadrinhos como incentivo à leitura. Disponível em: https://educador.brasilescola.uol.com.br/orientacoes/historia-quadrinhos-como-incentivo-leitura.htm. Acesso em jan.de  2021.

CORREIA, F. Aprendizagem colaborativa. In A. Mendonça & A. V. Bento (Orgs.). Educação em Tempo de Mudança (pp. 253-260). Funchal: CIE-UMa; ISBN: 978-989-95857-0-6, 2008.

CUNHA, M. I. Inovações pedagógicas: o desafio da reconfiguração de saberes na docência universitária. Cadernos Pedagogia Universitária, USP, 2008.

ESTANQUEIRO, A. Boas Práticas na Educação – O Papel dos Professores (2ªed.). Lisboa: Editorial Presença, 2010.

FEIJÓ, M. Quadrinhos em Ação: Um Século de História. São Paulo: Editora Moderna, 1997.

FINO, C. N. A Etnografia enquanto método: um modo de entender as culturas (escolares) locais. Universidade da Madeira. Portugal. 2003

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

MAIOR, L; TROBIA, J. Tendência metodológica no processo de ensino aprendizagem de matemática: resolução de problemas. Governo do Paraná. PDE, 2010

MARTINS, C. M. Educação no âmbito escolar: limites e possibilidades de práticas pedagógicas inovadoras, 2015. Dissertação (Mestrado em Ciências da Educação – Inovação Pedagógica). Universidade de Madeira, Funchal

MCCLOUD, S. Desvendando os quadrinhos. Trad. Helcio de Carvalho e Marisa do Nascimento Paro. São Paulo: M. Books, 2005.

MOROZ, M; GIANFALDONI, M, H. T.A. O processo de pesquisa: iniciação. 2. Ed. Brasília: Líber Livro, 2006. 122 p. – (Serie Pesquisa, v.2).

ONUCHIC, L. R.; ALLEVATO, N. S. G. Novas reflexões sobre o ensino-aprendizagem de matemática através da resolução de problemas. In: BICUDO, M. A. V.; BORBA, M. C. (Org.). Educação Matemática – pesquisa em movimento. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2004, p. 213-231.

PEREIRA, A. C. C. A utilização de quadrinhos no ensino da matemática. In: A. C. C. Pereira (Org.). Educação Matemática no Ceará: os caminhos trilhados e as perspectivas (pp. 28-39). Fortaleza: Premius, 2014.

QUINTA e COSTA, M., RIBEIRO, V., & MONTEIRO, I. (2015). A promoção da atitude interdisciplinar no ensino do estudo do meio – um projeto de investigação. In I Seminário Internacional Educação, Territórios e Desenvolvimento Humano (pp. 1274-1280). Porto: UCP. ISBN 978-989-96186-7-1.Disponivel em: http://repositorio.esepf.pt/bitstream/20.500.11796/2252/1/Promocao%20da%20atitude.pdf Acesso em 29 de jan. 2021.

REZENDE, L. A. Leitura e formação de leitores: vivências teórico-práticas. Londrina: EdUEL, 2009.

RICHARDSON, R.J. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

SANTOS, R.; NETO, E. S. In: NETO, E. S.; SILVA, M. R. P. (org). Histórias em quadrinhos e práticas educativas. Volume II: os gibis estão na escola, e agora?. 1 ed. São Paulo: Criativo, 2015. p. 15–25.

VERGUEIRO, W.; RAMOS, P. OS quadrinhos (oficialmente) na escola: dos PCN ao PNBE. In: VERGEURIRO, W.; RAMOS, P. (Orgs.). Quadrinhos na Educação. São Paulo: Editora Contexto, 2009, p. 9 – 42.

______ . A linguagem dos quadrinhos: uma “alfabetização” necessária. In: RAMA, Ângela; VERGUEIRO, Waldomiro. (Orgs.). Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2010.

______ .Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. 3ed. São Paulo: Contexto, 2014.

VIANA, S.N; CORREIA, F. L. de S. MARTINS, J.  M. de  L. Jogos digitais e sua relação como o conhecimento matemático. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 01, Vol. 08, pp. 68-84. Janeiro de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/conhecimento-matematico. Acesso em  fev.2021.

[1] Mestranda em Ciências da Educação – Inovação Pedagógica – na Universidade da Madeira – Funchal – Portugal,  Pós – Graduada em Programação do Ensino de Matemática (2005) pela Universidade de Pernambuco – UPE, Bacharel em Engenharia de Pesca (2006) pela Universidade do Estado da Bahia- UNEB,  Licenciada em Ciências com habilitação em Matemática (2002) pela Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde-AESA/Centro de Ensino Superior de Arcoverde-CESA.

[2] Especialização em Programa do Ensino de Matemática (2005) pela Universidade de Pernambuco-UPE; Licenciada em Ciências com habilitação em Matemática (2002) pela Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde – AESA/ Centro de Ensino Superior de Arcoverde – CESA.

[3] Doutor em Ciências da Educação – Inovação Pedagógica (2011) pela Universidade da Madeira – Funchal – Portugal; Mestre em Ciências da Educação – Supervisão Pedagógica (2004) pela Universidade da Madeira – Funchal – Portugal; Diploma de Estudos Superiores Especializados – Curso de Estudos Superiores Especializados em Educação Especial – Educação Pré-Escolar e Ensino Básico (1º Ciclo), na área de especialização de Problemas Motores Profundos (1998) pela Escola Superior de Educação de Lisboa – Lisboa – Portugal; Curso de Especialização – Curso de Formação de Professores do Ensino Especial com incidência em Deficiência Motora (1986) pelo Instituto António Aurélio da Costa Ferreira – Lisboa – Portugal; Bacharelato – Curso do Magistério Primário (1979) pela Escola do Magistério Primário do Funchal – Funchal – Portugal.

Enviado: Fevereiro, 2021.

Aprovado: Março, 2021.

4/5 - (2 votes)
Suzana Nery Viana

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POXA QUE TRISTE!😥

Este Artigo ainda não possui registro DOI, sem ele não podemos calcular as Citações!

SOLICITAR REGISTRO
Pesquisar por categoria…
Este anúncio ajuda a manter a Educação gratuita