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Uma Análise Pedagógica Dentro Da Literatura: A Trajetória Escolar Do Personagem Cazuza De Viriato Correia

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

OLIVEIRA, Daniela Alves [1]

OLIVEIRA, Daniela Alves. Uma Análise Pedagógica Dentro Da Literatura: A Trajetória Escolar Do Personagem Cazuza De Viriato Correia. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 04, Vol. 15, pp. 136-150. Abril de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/analise-pedagogica

RESUMO

É possível estudar aspectos pedagógicos dentro de uma literatura. Embasado nessa afirmação foi realizado esse trabalho. Através dessa pesquisa foi perceptível que algumas literaturas brasileiras falam da atuação da escola na vida do aluno, como lembranças inauditas para a sociedade. Dentro desse contexto foi escolhido diante diversas obras, o livro Cazuza de Viriato Correia. Ele retrata que cada instituição representa um comportamento relacional entre o aluno e o professor. O livro trata de três escolas em tempo e lugares diferentes, o efeito e a influência do comportamento dos professores foi o sofrimento do aluno protagonista. E esse artigo objeta a relação que essa literatura possui com aspectos encontrados em alguns estudos pedagógicos, sendo estes, apresentar reflexões sobre a relação professor/aluno analisando o comportamento do Personagem Cazuza, seus professores e comunidade. A metodologia desse trabalho foi pautada através de um estudo bibliográfico dando ênfase num olhar pedagógico para Cazuza e seus docentes dentro e fora do convívio escolar. Com essa análise os pedagogos e demais leitores terão a oportunidade de conhecer um personagem literário maranhense, ter parâmetros das tendências escolares no passado e identificar quais eram seus resultados no discente. Deixando ao leitor a oportunidade de comparar sua aprendizagem através da análise dessa literatura com a escola do mundo real.

Palavras-chave: Escola, Tendências, Professor, Aluno.

1. INTRODUÇÃO

O foco desse artigo será pautado sobre uma análise pedagógica dentro da literatura, este tema que argui sobre a o percurso de um estudante na escola, e isso envolve a interação do Professor e aluno, afetos, família etc. Tudo dentro da literatura Maranhense Cazuza de Viriato Correa. Talvez pode-se dizer que essa literatura infanto juvenil será o local da pesquisa de campo deste trabalho. Por isso é relevante ler a mesma para entender melhor cada comentário. Ao leitor que ainda não teve contato com o campo de pesquisa dessa análise, com certeza se sentirá interessado pela leitura da mesma. Fica uma motivação.

Em alguns momentos, não se pode medir o quanto vale, uma simplória atitude do professor na vida do aluno. É de extrema relevância a forma como o docente atua em sua profissão. Essa literatura  é  como um campo de estudo pedagógico que explica através de livros literários  a Relação professor e aluno.

É fascinante, como o tema escola vem ocupando um espaço significativo na rotina diária de crianças e jovens há muito tempo. Sendo uma vivência partilhada pela maioria da sociedade, logo passou a beneficiar o ambiente fictício da arte literária. Existem diversas literaturas que tratam sobre o tema, e como o ambiente escolar em personagens que fascinam os olhos do leitor, percebe-se isso por exemplo no livro Matilda Roald Dahl, Coração de Edmund Amicis, Ateneu de Raul Pompéia e entre outros.

O livro Cazuza de Viriato Correia centraliza-se na vida escolar do protagonista, sendo o nome do livro, este se estrutura como um relato de memórias, sendo narrado em primeira pessoa, o interessante desse livro é a inovação do padrão, onde traz dois narradores e mostra três escolas em tempo e lugares diferentes.

É através destas três escolas agraciadas pelo personagem Cazuza, que se percebe um estudo pedagógico da relação do aluno com o professor, observe que ao longo da história, ou seja, ao decorrer do tempo, ocorreu uma evolução perceptiva através das tendências pedagógicas. E que com essas evoluções e consequentemente mudanças de comportamento para com o aluno, automaticamente o mesmo, por ser o mesmo em todas as partes, acabam mudando de atitudes e percepções para com a escola, formando assim uma trajetória de amadurecimento de afeições.

O livro Cazuza é uma literatura que mostra os traços históricos que essa instituição passou. Ele é divido em três partes, onde respectivamente analisam-se aspectos das tendências pedagógicas, desde a Tendência Tradicional, Liberal e Progressista crítico-social na qual vivemos. O protagonista vive as cenas de guisa intensa, fazendo com que a escola seja um aparato comparado á relevância da família.

A chave desse artigo está focada em estudar a escola dentro da literatura, respaldando um estudo entre os parâmetros da interação Professor e aluno na literatura Cazuza e pensamentos pedagógicos da escola real. O texto organiza-se em cinco partes: Introdução; a trajetória escolar da personagem Cazuza de Viriato Correia e pensamentos pedagógicos e Considerações finais.

2. A TRAJETÓRIA ESCOLAR DA PERSONAGEM CAZUZA DE VIRIATO CORREIA E PENSAMENTOS PEDAGÓGICOS

São diversas as obras que tratam sobre ESCOLA. Mas como diz a autora Vera Maria Tietzmann Silva em sua obra Literatura Infantil Brasileira um guia para professores e promotores de leitura:

(…), ainda que carregue nas tintas maniqueístas para acentuar o avanço que a escola da vila apresenta em relação á escola rural, Viriato Correia exalta a escola como instituição, reconhece que ela cumpre seu papel de formar o homem integralmente, inculcando-lhe conhecimentos formais e valores permanentes de amor ao próximo, justiça, civismo, tolerância. Ou seja, na trajetória escolar de cazuza, Viriato Correia mostra ao leitor que tanto o protagonista quanto a escola conseguem alcançar um patamar satisfatório.(SILVA, 2009, p. 27)

Nessa citação existe uma comparação que o livro mostra da escola rural em relação às escolas urbanas, hodiernamente isso também é muito frequente de ser contrastado. Além desse estudo de paradoxo educativo, observa-se a relevância que o educador possui para o aluno, o que torna a escola ser satisfatória ao decorrer do livro é a convivência do aluno com o seu docente e família.

Sabe-se que, desde os primórdios o homem sentiu a necessidade de perpassar seus conhecimentos aos seus sucessores. Se pararmos para analisar, a educação começa nesse contexto cultural, pois, no ponto de vista sociológico, Pérsio Santos de Oliveira em seu livro introdução á Sociologia da Educação, diz que:

A educação é uma das atividades básicas de todas as sociedades humanas, pois a sobrevivência de qualquer sociedade depende da transmissão de sua herança cultura aos jovens. Toda sociedade, portanto, utiliza os meios necessários para perpetuar sua herança cultural e ensinar aos mais jovens os costumes do grupo. (OLIVEIRA, 2002, p.11)

Nessa passagem a educação está definida como uma socialização de saberes que perduram, alguns filósofos estudavam embaixo de arvores, com o tempo o local de socializar as informações foi mudando, até que se tornou conhecido como escola, esta passou por diversas alterações para uma interação plausível de saberes.

Essa literatura infanto-juvenil  é dividida em três partes no qual cada parte é uma fase da vida do protagonista Cazuza, essa fase é especificada principalmente na escola, cada escola vivida pelo personagem tem peculiaridades, tempo e lugares distintos, que também se percebe traços  de algumas tendências pedagógicas.

Sua estrutura narrativa considera-se uma história dentro da história, sendo um memorial de relatos e experiências de um adulto quando fora criança. No inicio de sua obra é explicado o porquê do título Cazuza, onde o autor explica que recebeu um manuscrito de seu vizinho chamado pelo povo por Cazuza, o manuscrito era intitulado História Verdadeira de um Menino de Escola, o vizinho havia viajado, e o autor não viu mais o sujeito. Viriato lia o manuscrito para os sobrinhos, e os mesmos abreviaram carinhosamente o nome do livro para Cazuza para facilitar as petições de leitura. Assim o autor acabou colocando este nome por opinar ser mais curto, infantil e Brasileiro.

A primeira parte do livro, trata do desejo que o Cazuza tinha de ir para a escola, o mesmo tinha muita vontade de trocar suas vestes de crianças para usar calças, além disso, o protagonista diz: “(…) o primeiro contato que tive com uma escola foi através de uma festa. E ficou-me na cabeça a ideia de que a escola era um lugar de alegria.” (CORREIA, 1984, p. 13.) esse trecho deixa implícito a ideia de um engano, que logo foi comprovado quando ele explica que o nome dessa festa animada se chamava “festa da palmatória”. Neste dia festivo por ser o ultimo dia de aula. A escola amanhecia enfeitada com flores e os alunos quando o professor saía, aprontavam brincadeiras com anseio da morte do objeto.

Observe que a escola dessa época é temida pelos alunos. As características físicas da escola simbolizavam a pobreza,

As escolas antigamente não tinham, às vezes, mobiliário que prestasse, material de ensino que servisse, professores que cuidassem das lições, mas… uma palmatória, rija, feita de boa madeira, não havia escola que não tivesse. (CORREIA, 1984, p.14)

A escola ficava no fim da rua, num casebre de palha com biqueiras de telha, caiado por fora. Dentro – unicamente um grande salão, com casas de maribondos no teto, o chão batido, sem tijolo. De mobiliário, apenas os bancos e as mesas estreitas dos alunos, a grande mesa do professor e o quadro-negro arrimado ao cavalete. (CORREIA, 1984, p.28)

Essa passagem mostra que a escola não tinha estruturas rebuscadas, pelo contrário, era simples e pacata. E isso também é uma vertente que auxiliava os alunos á não gostarem da escola.

Em diálogos com os amigos sobre a ida para a escola, o medo e comentários dos colegas de rua alerta o protagonista, porém em seu primeiro dia de aula ele logo muda suas alertas para verídicas decepções,

A minha decepção começou logo que entrei. Eu tinha visto aquela sala num dia de festa, ressoando pelas vibrações de cantos, com bandeirinhas tremulantes, ramos e flores sobre a mesa. Agora ela se me apresentava tal qual era: as paredes nuas, cor de barro, sem coisa alguma que me alegrasse a vista. Durante minutos fiquei zonzo, como a duvidar de que aquela fosse a casa que eu tanto desejara. E os meus olhinhos inquietos percorriam os cantos da sala, á procura de qualquer coisa que me controlasse, nada. As paredes sem caiação, a mobília polida de preto – tudo grave, sombrio e feio, como se a intenção ali fosse entristecer a gente.(CORREIA, 1984, p.28)

Procurei um rostinho alegre naqueles rostos. Nenhum. Os meninos pareciam condenados; olhos baixos, voz assustada e dolorosa expressão de terror na fisionomia. Tentei encarar o professor e um frio esquisito me correu da cabeça aos pés. O que eu vira era uma criatura incrível, de cara amarrada, intratável e feroz. Os nossos olhos cruzaram-se. Senti uma vontade louca de fugir dali. Pareceu-me estar diante de um carrasco.(CORREIA, 1984, p.29)

Após sair da escola a reação de ansiedade e alegria do cazuza mudou, observe a citação abaixo:

A Chiquinha perguntou-me, curiosa:

– Cazuza, você gostou?

Eu quis enganar a mim próprio, escondendo a minha decepção, mas o Vavá, que ainda tinha as orelhas a arder, respondeu prontamente:

– Gostou nada! Quem pode gostar daquilo?! É um inferno. (CORREIA, 1984, p.29)

Ao decorrer da obra ele confessa que a escola não devia ser como uma prisão. A partir dessas citações observa-se como era a escola, a afetividade negativa entre professor e aluno, Tudo nessa primeira escola dava medo aos alunos, o Professor João Ricardo não era um educador ideal, pois representava em todas as cenas de suas aulas, uma pessoa ameaçadora. Por isso Cazuza preferia estar doente a ir pra escola. E isso retrata exatamente o ensino tradicional, é priorizado o ensino no professor, os alunos são apenas receptores.

Augusto Cury fala que fazemos parte de uma sociedade doente e também somos, e com isso tem-se construído pessoas doentes, na primeira escola de Cazuza clarifica-se a linha de raciocínio do aluno, onde pelas suas entrelinhas do pensar do protagonista, o professor ideal gera um aluno ideal, João Ricardo, nesse caso não é ideal e por isso o aluno também não se sentia como um aluno com tais características, pelo contrário ele como um ser pensante preferia fugir dessa falta de idealização. Ellen G. White no seu livro Educação já dizia que

a verdadeira educação significa mais do que a prossecução de um certo curso de estudos. Significa mais do que a preparação para a vida presente. Entretanto (a escola ou) educação visa o ser todo, e todo o período da existência possível ao homem. Ou seja, é o desenvolvimento harmônico das faculdades físicas, intelectuais e espirituais. (WHITE, 2008, p.13)

É com essa reflexão que se compreende que Cazuza por ser aluno, sentiu um impacto no físico por preferir está doente, no espiritual por ver que para seus amigos a escola era um inferno, e no intelectual é percebido na cena ‘A aposta de escrita’, aonde cazuza conta o relato no qual se sentiu injustiçado, pois como diz o título, era uma espécie de competição em dupla, onde quem tivesse a caligrafia mais bonita poderia receber o prêmio de esbofetear na mão do colega perdedor a palmatória com uma dúzia de “bolos”(nome dado a cada batida da palmatória na mão). A injustiça ocorreu por que o professor achou as duas letras parecidas, sem saber qual era melhor que a outra. Mas como mostra no diálogo abaixo, o julgamento não foi tão bom como o elogio:

E lançou o julgamento:

– Empate.

Respirei livremente.

O professor entregou-me a palmatória.

– Para que isso? Perguntei.

– Para que há de ser?! Disse-me. Os dois não empataram? Você dá seis “bolos” nele, e ele lhe dá seis “bolos”.

Achei aquilo um disparate. Olhei o velho com surpresa.

– Que é que você me está olhando? Roncou ele asperamente.

A minha língua destravou.

– Não posso compreender isso! Exclamei. Por que houve empate? Por que Doca tem letra boa e eu tenho letra boa, então quem tem letra boa apanha?

João Ricardo ergue-se da cadeira com um berro.

– Não quero novidades! Sempre e sempre foi assim. Atrevido! Quem é aqui o professor?

E entregou a palmatória ao Doca (CORREIA, 1984, p.52)

Especificamente nessa citação encontra-se além da injustiça, o autoritarismo do professor, e aversão a mudanças. Incontinenti analisa-se que em todas as passagens, as aproximações do aluno para perto do professor, o fazia tremer, isso demonstra o quanto o comportamento do professor tinha influências negativas sobre o aluno, pois tudo que fazia era por medo, e por isso, pouco era a sua motivação para aprender. Além disso, soma-se a repetição de exercícios e exigência de memorização nas atividades escolares, resultando em mais fatores que caracterizam a tendência pedagógica tradicional.

A primeira parte termina quando os pais dos alunos, após verem o resultado das mãos do filho depois de uma sabatina de tabuada o Cazuza não ia mais á escola, e com um diálogo com o tio Olavo que é a favor desse sistema de ensino, iria aprender em casa, e depois iria para vila. E com isso Cazuza sonhou com essa escola onde palmatória já não existia mais. Logo em seguida seus pais decidem partir para a Vila a procura de uma condição de vida melhor.

Na segunda parte já começa relatando sobre a vila, que para ele era um verdadeiro deslumbramento, e claro que o principal encantamento dele foi a escola. O estado físico da escola não era tão belo, pois como ele mesmo descreve, funcionava num velho casarão de vastas salas, que devia ter meio século, mas o carinho da Dona Janoca, diretora da escola, a escola da vila era bem diferente da escolinha da povoação como o dia o é da noite. Quem trabalhava na escola era mulheres, o afeto que possuía era maior, além disso, o atrativo na estrutura física também era notório, pois as professoras como voluntárias mão de obra pintaram as paredes, e nas mesmas tinha uma infinidade de quadros, bandeiras, mapas, fotografias, figuras recortadas de revistas, retratos de grandes homens e entre outros conhecimentos apaixonantes para as crianças que lá estudavam. O vislumbre era tão grande pra Cazuza, que ele deixava de brincar todo o tempo do recreio para admirar cada detalhe das paredes.

Sua professora Neném foi a primeira que entrou em seu coração, diferente do professor carrasco, ela era uma criatura doce, delicada, suavíssima. Uma facilitadora como se caracteriza o professor na tendência Renovadora progressista. Ficava numa sala com mais de trinta alunos, entre meninos e meninas. Diferente do Henrique do livro o coração de Edmundo Amices, livro no qual o autor Viriato Correia se inspirou, que também amava sua professora, mas só estudava com meninos. Entretanto  as histórias e lições de vida continuava em ambas as literaturas, mostrando temas sobre respeito, bondade etc.

A riqueza não dá superioridade a ninguém, esse e outros ensinos eram muito abordados nas vivências do Cazuza na Vila, parecido com Henrique do Coração, as diferenças sociais, a humildade, e as condições de vida de seus colegas são verdadeiras lições de vida que mechem com o desenvolvimento e com os pensamentos de Cazuza.. É nessa reflexão que se percebe que Cazuza já está começando a viver um pouco das tendências progressistas.

Na visita do voluntário do Paraguai, relacionado com o protagonista Henrique do livro o Coração, percebe-se um patriotismo, todavia o que mais chama a atenção é que aquele voluntário, chamado por Velho Honorato em uma conversa com a diretora Janoca não compreendia que a diretora não usasse castigar os alunos, e isso nos remete aos contextos históricos da educação referentes a troca da tendência tradicional da primeira parte do livro por novas tendências educativas. Pois para a educação extinguir essa base de castigos houve muitas oposições a serem vencidas. Aqui centra a tendência liberal renovadora, onde o papel da escola oscila entre adequar a necessidades individuais ao meio social, onde ocorre formação de atitudes, e onde a escola é modeladora do comportamento humano através de técnicas específicas.

O patriotismo da segunda parte do livro se encerra na citação abaixo, quando o velho Honorário pergunta ao padre se teve uma atitude certa em soltar um prisioneiro jovem oposto à sua pátria, e o padre em sua resposta nos ensina o valor de uma pátria.

(…) Nunca pode ser um ato mau aquele que é um ato de piedade humana. No mundo não deve haver povos amigos, povos inimigos; só deve haver irmão. O bom patriotismo é aquele que se pode praticar juntamente com a fraternidade. Por que o bom patriotismo não é o que vence as guerras, mas o que realiza a paz e a concórdia dos homens. (CORREIA, 1984, p.122)

Antes de terminar a segunda parte vê-se o aniversário da Dona Janoca, a diretora da escola da Vila, e o carinho que a comunidade tem por sua pessoa, gerando dessa forma um grande contraste com a aversão ao professor e diretor da primeira escola.Além disso, percebe-se uma lição de vida sobre o perdão, sua amada professora chamada Dona Neném lhes dita um conto que fala dos fortes e fracos no qual fala que,

Se os pequeninos e os fracos, mesmo sem querer, lhe causam um dano insignificante, mostra-se ofendida e vinga-se terrivelmente. Mas, se o dano é causado pelo fortes, finge não perceber.

E concluindo:

– Os verdadeiros valentes são aqueles que se batem com os Gaviões, mas que sabem perdoar os Mosquitos, ás abelhas e aos Besourinhos. (CORREIA, 1984, p.128)

Esse relato faz os alunos, e o ledor imbuir cognitivamente à relevância de perdoar e ter coragem. Ou seja, percebe-se que assim como o ledor obtém uma aprendizagem, Cazuza através das aprendizagens na escola tem a oportunidade de construir seu próprio caráter.

No ultimo capítulo da segunda parte o protagonista num dos últimos dias de dezembro, no fim do jantar, descobre que no começo de fevereiro, seu pai ia levá-lo para o colégio, em São Luís, algo se assemelha com a própria vida do autor, pois Viriato Correia também foi estudar no internato Liceu Maranhense. A escola quase toda o acompanhou para embarcar para ir á cidade, que logo era qualquer coisa parecida com ir para o céu. Isso mostra a idealização que a segunda escola gerou em Cazuza, ao invés de ser o doente que Cury disse que a sociedade doente gera, ele se tornou num aluno e ser humano amado, com aprendizagens que serviram para sua construção para um ser melhor. E com o apito do “gaiola” se encerra a segunda parte do livro.

A terceira parte começa com a chegada de Cazuza em São Luís. Aos olhos do protagonista que vinha da roça, São Luís era esplendor das cidades. Ele passou quinze dias na casa da Titia Calu, conhecendo a cidade, mas na manhã seguinte á partida do pai foi internado no colégio. Nesse colégio a primeira figura que aparece não é feminina como a anterior, mas é a figura paternal do diretor que o recepciona e logo o cativa. Mas o mais lhe mexeu na alma foi a saudade de sua mãe. Apesar dessa saudade, Cazuza conseguiu amigos de quarto.

Sobre a estrutura do colégio, assim como no livro Ateneu de Raul Pompéia era talvez o maior colégio da cidade, observa-se as descrições abaixo:

O colégio Timbira ficava no largo do palácio, num velho sobrado de azulejos, com a frente voltada para o mar.

Era um casarão imenso, de escadaria afidalga, com muitas janelas, muitas salas e muitos quartos. Embaixo funcionavam as aulas primárias e secundárias; em cima, a secretaria, a sala de estudos, o refeitório e o dormitório.(CORREIA, 1984, p.141)

Quanto aos professores, diz:

Havia os de todos os feitios, os ásperos, os pacientes, os bons, os desleixados, os que gostavam de dar cascudos e os que não sabiam ensinar senão com berros.

(…) João Câncio era, no entanto, o melhor professor do colégio.

Não havia ninguém mais tolerante, como não havia ninguém mais justo. O que dizia tinha sempre um tom de novidade. As coisas difíceis tornavam-se fundo do entendimento como um raio de sol atravessa uma vidraça. (CORREIA, 1984, p.142)

Apesar de uma aparência a primeira vista desagradável e amedrontadora para Cazuza, aos poucos foi entrando ao coração um apego ao Professor. Principalmente quando num domingo fez um gesto de apreço por uma velhinha negra, aquele professor era um deleite em pessoa, pois até mesmo quando não estava na sala de aula, atraia as crianças para aprender sobre os valores da vida. Aqui encontramos o professor Ideal.

Freire (1996), em seu livro Pedagogia da Autonomia, nos deixa claro que nenhuma pessoa é educada sozinha. Sempre para aprender algo, existirá alguém que ensina. Mesmo que seja a família, amigos ou um professor. O professor Câncio era ideal por ter como característica a comunhão educativa, que atraía o saber dos alunos. A amizade e inimizade também é um tema muito pautado por Cazuza, afinal ninguém é uma ilha. Pois relacionamento é algo extremamente útil para a vida de todo ser humano.

Dando seguida a vivências de Cazuza, percebe-se que o patriotismo da terceira parte assemelha-se com o do livro coração, o professor incitava os alunos a realizar composições acerca do Brasil. Câncio também falava história do Brasil e sobre personagens do mesmo. E o professor também incitava os alunos a realizar composições acerca do Brasil. Essas lições levava os alunos a honrar a essência de cada detalhe de seu país e a admirar mais ainda seu professor.

Com relação ao afeto dos alunos ao professor Cazuza diz em uma visita a catedral, no dia de Corpus Christi,

Naquele ano, a não ser o diretor( que sempre estava ao nosso lado nos dias de formatura), João Câncio foi o único professor que nos acompanhou á igreja. De pernas muito compridas e andar desengonçado, dava a impressão exata de um macaco. Com aquele andar esquisito, qualquer outro professor provocaria, em nós, um verdadeiro ataque de gargalhadas. Mas João câncio apenas nos fazia sorrir. No fundo, nenhum de nós o tinha como professor. O bem que lhe queríamos era um bem de companheiro e de irmão. (CORREIA, 1984, p.175)

A afetividade entre o protagonista para com o Professor, é um laço que facilita o processo cognitivo dos alunos, o respeito dos alunos motivava atenção para o saber. Ana Ignez e Rosemary (2011) no livro psicologia da aprendizagem parafrasearam La Rosa, p.79, no qual completa essa linha de pensamento em relação á aprendizagem escolar, dizendo

É importante que o professor ofereça, constantemente, diferentes modelos de observação para o aluno, considerando a “adequação destes às capacidades dos alunos e a valência afetiva do professor, ou seja, a atratividade do professor como modelo para os alunos”. (NUNES e SILVEIRA, 2011, p.74)

No final do ano letivo é feito cerimônia de encerramento, e é entre uma medalha ao melhor aluno, houve empate e desempate. Cazuza não foi quem disputou o desempate da medalha de ouro, mas recebeu a medalha de prata, e isso repercutiu positivamente na família, tio Eugênio e Tia Calu, o parabenizaram, e ele pensava na alegria que o pessoal da vila sentiria quando visse a medalha. Até que em um passeio ao centro, seu primo Julinho comentou que ele já tinha terminado o primário. E assim se encerra a terceira e última parte da trajetória escolar de Cazuza, com a transformação de uma criança em um Homenzinho, provando assim o gostinho da última tendência, sendo ela progressista Crítico-social dos conteúdos, a qual alinha e encaminha o discente para o mundo adulto. De fato pela narrativa do livro foi isso que ocorreu.

Por conseguinte, pelo comportamento dos professores com o aluno destaca-se a relevância de que ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando, pois o respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros. (FREIRE, 1996 p.31)

Embora se tratando de uma literatura infanto-juvenil, “Cazuza” não se demonstra pequenez, ao contrário, incita crianças e adultos a refletirem sobre as diversas construções e fronteiras que são criadas em nossa sociedade. De acordo com a pesquisa de Marianne Machado denominada A construção feminina em Viriato Corrêa, Artigo do 18º Redor (2014),é necessário estudar Cazuza de acordo com o cotidiano escolar,

Embora seja uma narrativa da década de 1930, observamos que estas representações repercutem na atualidade.

(…) Diante disso, faz-se necessário uma maior discussão sobre esta narrativa no espaço escolar. Segundo Ferro (2010), Viriato Corrêa se propôs a escrever para um público em formação, sobretudo, a formação da conduta moral e cívica das crianças. Percebe-se que ele cumpre seu objetivo com a difusão de ideias e ideais de sua época. Seria pertinente ainda, investigarmos os usos que são feitos dessa literatura no cotidiano escolar. (MACHADO, 2014, p.13)

O que terá mudado na escola brasileira, sobretudo a pública, desde a experiência de Cazuza até nossos dias? a resposta é encontrada na semelhança do personagem com alunos hodiernos.   É certo dizer que houve muitas mudanças. Porém também vale destacar que apesar dessas variações, ainda existe resquícios de atitudes de professores parecidas com os de Cazuza, ainda existe casos de escolas rurais com situações precárias, E entre outros fatores. Mas, Com certeza a evolução das tendências pedagógicas na vida do protagonista é o que se destaca.     As tendências pedagógicas visualizadas na vida escolar do protagonista, revelam que a escola naturalmente busca uma evolução, e esse progresso beneficia tanto o aluno quanto o professor.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A literatura que foi estudada nesse artigo nos ensina várias particularidades da escola, é certo que deleitar-se na vida da personagem gera muita alegria para cada leitor. É uma literatura infanto-juvenil que além de cativar seus leitores, faz um resgate histórico de como a escola era.

Esse resgate que nos revela o caminho que a escola trilhou, e também incentiva a quem leu o estudo revelado no artigo a pesquisar como a escola está atualmente, e com isso criar comparações. Essa trilha pedagógica especifica as tendências. Que nada mais é que retratos de como foi a história na época.

Antes, para ser um bom educador, bastava saber transmitir conhecimentos e exercer autoridade em sala de aula. Hoje, o perfil desse educador mudou. Com relação ao conhecimento, ele não deve mais transmiti-lo, apenas. Deve interagir, discutir e aprender junto com o educando.

Com essa pesquisa percebeu-se o quanto é relevante a família e a relação do aluno com o professor. Tudo isso é um fator de extrema importância para o processo de aprendizagem do aluno, no caso, foi visualizado isso em Cazuza.

REFERÊNCIAS

CANAL DO EDUCADOR. BRASIL ESCOLA. Tendências Pedagógicas Brasileiras. Disponível em: https://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-docente/tendencias-pedagogicas-brasileiras.htm Acesso em: 20 de novembro de 2019.

CORREIA, Viriato. Cazuza. 32. ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1984.

CURY, Augusto. O código da inteligência: A formação de mentes brilhantes e a busca pela excelência emocional e profissional. Rio de janeiro: Thomas Nelson / Ediouro, 2008

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

MACHADO, Marianne.  A construção feminina em Viriato Corrêa.  Artigo do 18º REDOR, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife – PE, 2014.

NUNES, Ana Ignez Belém Lima. Psicologia da aprendizagem: processos, teorias e contextos. 3. ed. Brasília:  Liber livro, 2011.

OLIVEIRA, Pérsio Santos. Introdução á Sociologia da Educação. 3.ed. São Paulo: Ed. Ática, 2002.

SILVA, Vera Maria Tiertzmann. Literatura infantil brasileira: um guia para professores e promotores de leitura.2. ed.Goiãnia: Cânone Editorial, 2009.

WHITE, Ellen Gould. Educação. Ed. Casa Publicadora Brasileira, 2008.

[1] Graduada em Pedagogia (Faculdade Futura) e Letras. Licenciatura em Língua Portuguesa e suas literaturas (UEMA). Pós-graduada em Administração Escolar e Supervisão Escolar. Pós-graduada em Metodologia De Ensino De Língua Portuguesa, Literatura E Língua Espanhola. Pós-graduada em Informática Da Educação e Docência Do Ensino Superior. (ambas na Faculdade Futura).

Enviado: Novembro, 2021.

Aprovado: Abril, 2021.

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Daniela Alves Oliveira

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