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Xadrez em três tempos: uma ferramenta de socialização e valores humanos

RC: 20109
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CONTEÚDO

FERREIRA, Eliane Alves [1]

FERREIRA, Eliane Alves. Xadrez em três tempos: uma ferramenta de socialização e valores humanos. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 09, Vol. 04, pp. 40-55, Setembro de 2018. ISSN:2448-0959

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo analisar as contribuições que o xadrez em três tempos pode favorecer a socialização e a construção de valores humanos, na vida de crianças e adolescentes. A pesquisa foi realizada com educandos da faixa etária entre 12 a 14 anos, frequentadores da Fundação EPROCAD, que é uma ONG, cuja a sede está localizada no município de Santana de Parnaíba – São Paulo. Trata-se de uma pesquisa exploratória com levantamento bibliográfico, tendo como base um estudo de caso, de métodos qualitativos. Os principais autores utilizados para fundamentar a pesquisa foram: Miranda (2000), Martinelli (1999), Sarabia (2000), Silva (2002a), dentre outros. A partir dos resultados obtidos, foi possível constatar que houve mudanças significativas na conduta dos educandos. A presente pesquisa mostra que o xadrez quando agregado a metodologia dos três tempos, pode ser muito mais que um jogo de aspectos cognitivos, e sim com um poder de transformação social, onde é possível trabalhar valores humanos como honestidade, respeito e cooperação, além de contribuir com a socialização e outros fatores atitudinais.

Palavras chave: Xadrez em três tempos, Socialização, Valores humanos.

INTRODUÇÃO

O jogo de xadrez é um instrumento pedagógico lúdico que potencializa o ensino-aprendizagem dialógico, empático e impulsionador das competências e habilidades de forma interativa, envolvente e autônoma. O xadrez foi reconhecido como esporte pelo Comitê Olímpico Internacional, ele tem como principais benefícios o estímulo da memória, o aumento da capacidade de concentração, a velocidade de raciocínio, a tomada de decisões e entre outros.

Sabemos que o xadrez é conhecido como um esporte de caráter individual, porém, quando se insere a metodologia dos três tempos ele se torna uma ferramenta rica na promoção de valores educacionais, pois deixa de ser um esporte individual passando para o coletivo, onde as tomadas de decisões devem ser pensadas de forma conjunta, respeitando as opiniões divergentes, chegando juntos ao um acordo em comum.

Estudiosos como Sá (2002a) e Miranda (2000), afirmam que o ensino e a prática do jogo de xadrez quando utilizados como instrumento pedagógico pode trazer benefícios socioeducativos, tanto por provocar o exercício da sociabilidade, como o trabalho da memória, a autoconfiança e a organização metódica e estratégica do estudo.

O tema escolhido reflete na minha atuação como educadora social na Fundação Esportiva e Educacional Pró Criança e Adolescente, que é uma ONG que utiliza o esporte como ferramenta social para atender crianças e adolescentes entre a faixa etária de 06 a 17 anos, denominada EPROCAD,

A Fundação EPROCAD, utiliza a metodologia dos três tempos nas atividades de Futebol3, visando desenvolver nas crianças os valores: cooperação, solidariedade e respeito, além de proporcionar o protagonismo juvenil.

Após vivenciar a prática da metodologia e notar resultados significativos na parte da conduta dos educandos, pude perceber que a metodologia dos três tempos poderia ser incluída em várias atividades, não só apenas no futebol como vem sendo trabalhada. Refletindo sobre essa prática, inseri a metodologia nas atividades de xadrez, buscando desenvolver nos educandos os valores de: honestidade, respeito e cooperação, além de estimular o diálogo, os aspectos cognitivos, a tomada de decisão, autonomia e socialização.

Diante do exposto, o presente trabalho visa responder a seguinte problemática: O xadrez em três tempos pode contribuir com a socialização e a construção de valores humanos em crianças e adolescentes de 12 a 14 anos da Fundação EPROCAD?

Nessa pesquisa, optou-se por utilizar como instrumentos: o comparativo da avaliação por competências que os educadores respondem sobre o desenvolvimento dos educandos e depoimentos da equipe pedagógica do projeto. Para tanto, decidiu-se por uma pesquisa exploratória de cunho qualitativo, por se tratar de um tipo de pesquisa no qual, a pesquisadora tem contato direto com o grupo ou indivíduos a serem estudados.

O presente estudo buscou investigar as contribuições que o xadrez em três tempos pode favorecer a socialização e a construção de valores educacionais, na vida de crianças e adolescentes.

Os objetivos específicos foram: analisar se após a participação do projeto xadrez em três tempos houveram mudanças significativas no comportamento atitudinal das crianças e adolescentes.

O trabalho está dividido em três capítulos que abordam os seguintes temas:

No Capítulo 1, apresentam-se a fundamentação teórica, divididas em subtítulos: Metodologia aplicada no projeto “Xadrez em Três Tempos”, Histórico da metodologia em três tempos, o xadrez como ferramenta pedagógica e social e a importância dos valores humanos na formação do educando.

No Capítulo 2, apresenta a metodologia do trabalho aplicada a pesquisa.

No Capítulo 3, é apresentada a argumentação e discussão.

Ao final, as considerações finais encerram a pesquisa.

I. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. METODOLOGIA APLICADA NO PROJETO: “XADREZ EM TRÊS TEMPOS”

Iniciamos o projeto identificando os conhecimentos prévios dos educandos em relação ao xadrez, e ensinado a história e os benefícios do jogo, nome das peças, arrumação no tabuleiro, movimento e captura entre outros movimentos especiais como: roque, promoção do peão e en-passant. O primeiro passo é fazer com que a criança e o adolescente vejam o tabuleiro como um divertido campo de batalha onde cada um deverá criar estratégias para vencer seu adversário, para isso é mostrado vídeos de animações de xadrez onde as peças encenam uma divertida batalha.

Os educandos começam a jogar apenas com a peça peão, fazendo uma batalha, onde o primeiro peão que atravessar o tabuleiro vence a partida, depois que todos já estão compreendendo bem o movimento e captura da peça é inseria outra peça no jogo e assim por diante.

Inicialmente são realizados jogos um contra um e dupla contra dupla. Para avaliar o nível de assimilação, buscamos jogar com cada educando, desta forma podemos orientá-los, tirar possíveis dúvidas e identificar se o educando compreendeu o que foi ensinado e se está pronto para aprender a nova peça.

Ao longo do projeto utilizamos diversas estratégias para que o conteúdo não se torne maçante. Realizamos a queimada de xadrez, gincanas e xadrez humano (os educandos se tornam as peças no jogo e então precisam trabalhar em equipe, criar estratégias juntos e saber lidar com opiniões divergentes).

Sabini (2002) enfatiza que as atividades grupais ajudam no processo de socialização e colaboram no aparecimento da reciprocidade e do respeito mútuo.

Após os educandos compreenderem o movimento e captura de todas as peças, eles começam a participar de jogos coletivos, utilizando o xadrez gigante como recurso. Neste momento é utilizado a metodologia dos três tempos, cuja finalidade é promover o trabalho em equipe e a autonomia da criança.

Uma planilha simples de controle é utilizada nas três etapas (descritas a seguir) para registrar questões relacionadas a valores humanos (respeito, cooperação e honestidade) que contam pontos nas atividades e somados a vitória no jogo são decisivos no resultado final da mesma. Dessa forma, não necessariamente a equipe que realiza o “xeque mate” é a vencedora, pois a conduta dos participantes de uma maneira geral, vale mais do que a vitória por “xeque mate”.

O objetivo principal vai muito além da vitória, contempla um processo de aprendizagem constante.

Nas situações de aprendizagem do xadrez o educando aprende a organizar seu pensamento verbalmente. O “problema” adquire um sentido importante, quando as crianças buscam soluções e discutem umas com as outras.

Nesse contexto o educador irá conduzir as atividades mediando eventuais conflitos, a partir disso, surgem os questionamentos das ações/atitudes dos participantes e principalmente de suas reações perante as mesmas, propiciando reflexões sobre si e do(s) outro(s) participante(s). Existe uma contextualização antes e depois de cada atividade, e os aspectos mais relevantes são debatidos sempre em conjunto.

Utilizando a metodologia apresentada, o jogo se desenvolve em três etapas:

Primeira etapa: há uma roda de conversa entre os participantes na qual são abordadas as regras do jogo, nesse momento eles poderão criar as regras de forma coletiva. Alguns exemplos de regras criadas pelos educandos: 1. “Peça tocada é peça jogada”; 2. “Palavrão perde a rainha”; 3. “Dois palavrões perde o jogo” entre outras.

Segunda etapa: é o jogo de xadrez propriamente dito. Não existe a presença de um árbitro, os próprios participantes possuem a responsabilidade de conduzir a partida e fazer valer os acordos pré-estabelecidos na primeira etapa. O educador é responsável pela observação e anotações das ações que ocorram neste momento.

Terceira etapa: os participantes se reúnem novamente para uma reflexão sobre a partida, quando serão analisados os comportamentos dentro do jogo, o número de peças capturadas, o cumprimento ou não das regras estabelecidas anteriormente. Nesta reflexão não são valorizados somente os resultados esportivos, existindo maior preocupação com os valores humanos. Utiliza-se uma planilha (Figura 1) para que o educador/mediador, em conjunto com os educandos, estabeleça a equipe vencedora, adotando os seguintes critérios:

Em relação ao desempenho na partida:

Vitória = 3 pontos

Empate = 2 pontos

Participação = 1 ponto

Em relação à conduta dos participantes, analisando respeito, solidariedade e cooperação apresentados durante a partida. Sendo estabelecido que se isso ocorreu:

Em todos os momentos = 3 pontos

Na maioria das vezes = 2 pontos

Em alguns momentos = 1 ponto

Figura 1: Planilha de mediação

Fonte: autor

 

O projeto “xadrez em três tempos”, nos permite trabalhar com os educandos, valores éticos e morais, quando praticam padrões sociais desejáveis de conduta do “saber ganhar e perder”, do respeito às regras e da sujeição às restrições que elas impõem, aceitando assim pontos de vistas diferentes, fatores estes essenciais para a formação humana do educando.

2.2 HISTÓRICO DA METODOLOGIA EM TRÊS TEMPOS

O marco inicial da metodologia dos três tempos ocorreu na Colômbia, logo após a Copa do Mundo de 1994, realizada nos EUA, quando a seleção colombiana foi eliminada ainda na primeira fase ao perder uma partida com a marcação de um gol contra do jogador Andrés Escobar. Logo após o regresso da seleção colombiana ao seu país, Escobar foi assassinado durante uma discussão provocada por esse fato.

A morte do jogador colombiano levou militantes sociais, professores e estudantes universitários da Colômbia e de outros países, que ali estavam residindo e trabalhando, a buscarem uma forma de praticar o futebol de modo mais educativo e não meramente competitivo. Objetivavam com essa iniciativa evitar o acirramento dos ânimos de atletas, torcedores e financiadores das equipes, de modo a evitar o fortalecimento de outras atitudes extremas como a que ocasionara o assassinato do atleta.

Esses militantes, professores e estudantes acreditavam no poder do futebol e em sua capacidade de mobilizar multidões. Tinham crença que poderiam mobilizar jovens para ações de combate à violência, ao preconceito e à intolerância.

Em decorrência dessa mobilização, em 1995 a organização colombiana Contexto Urbano concebeu o Projeto Futebol para a Paz. O projeto proporcionou as primeiras experiências com o futebol usando a metodologia dos três tempos, introduzindo ferramentas para que os jovens ampliassem sua capacidade e disponibilidade para o diálogo, o respeito e a construção coletiva de regras do jogo.

O projeto reunia gangues rivais que disputavam partidas de futebol com uma lógica diferente: em três tempos e sem árbitro. No primeiro tempo, os participantes se reuniam para definir as regras. No segundo, era a hora do jogo em si. E no terceiro, debatiam se as regras tinham sido cumpridas ou não e atribuíam pontos às mesmas. Tudo facilitado por meio de um mediador, que anotava os lances em uma planilha, sem interferir no andamento do jogo. Ninguém podia participar drogado ou portando armas. Com o tempo, mulheres foram convidadas a jogar, em grupos mistos, o que diminuía a violência das partidas. Foi assim que nasceu a metodologia dos três tempos conhecida como futebol3. De lá para cá, vários outros projetos surgiram, o que permitiu que a metodologia fosse disseminada em diferentes países, e sendo adaptada de acordo com cada realidade. No Brasil, ela é disseminada desde 2005, quando o Instituto Formação, com sede em São Luís (MA), e a Fundação Esportiva Educacional Pró Criança e Adolescente (EPROCAD), de Santana de Parnaíba (SP), ingressaram na rede streetfootballworld, a maior rede global de organizações que utilizam o futebol como ferramenta para o desenvolvimento. Nesses últimos nove anos, outras organizações também começaram a utilizar o futebol 3 em suas atividades e a disseminá-la para outras instituições e escolas públicas, com destaque para a Associação Cristã de Moços (RS), Instituto Bola pra Frente (RJ) e Instituto Fazer Acontecer (BA).

É importante ressaltar que existem diferentes visões e interpretações, não exatamente contraditórias, por vezes complementares, a respeito do desenvolvimento do futebol 3, pois com tantas pessoas e organizações envolvidas no seu desenvolvimento, as ideias vão se multiplicando cada vez mais em ruas espalhadas pelo mundo e têm sido sistematizadas em diferentes espaços de organizações e de redes.

2.3. O XADREZ COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA E SOCIAL

O xadrez é visto de diversas formas pela sociedade em que vivemos visão estas que podem ser desde um jogo supérfluo ao jogo que ajuda desenvolver várias habilidades intelectuais, ressaltando que existem muitas variáveis para esses tipos de visões, sendo a principal delas a cultura. Para iniciar quero deixar exposto aqui à definição de xadrez, criada pelo poeta GOETHE (1786, apud MACENA; LEITE,

2010, p.2):

O xadrez não passa de um punhado de tocos de pau, dispostos sobre uma tábua quadriculada, situada entre duas criaturas incompreensivelmente absortas, que, dominadas por uma espécie de autismo, desperdiçam inutilmente seu tempo, olhando para este brinquedo sem graça, enquanto o mundo ao seu redor pode desmoronar sem que se apercebam disso. Esta é a interpretação do homem vulgar, insensível e apático; incapaz de enxergar as essências, se conforma com uma visão superficial das coisas e se deixa seduzir pelas aparências de outras atividades menos belas e eloquentes.

Para o homem mediano, o xadrez é um mero acessório, útil tão somente porque contribui para desenvolver diferentes faculdades mentais, e melhora o desempenho escolar das crianças, intensifica a acuidade mental dos adultos e preservando por mais tempo a agilidade mental nos idosos.

Porém, para o homem espirituoso, criativo e empreendedor, o xadrez é uma das mais ricas fontes de prazer, um meio em que se encontram elementos para representar as mais admiráveis concepções artísticas, um campo pelo qual a imaginação pode voar livremente e produzir, com encantadora beleza, ideias deliciosamente sutis e originais. O xadrez é uma das raras e preciosas atividades em que o Homem pode explorar ao fundo suas emoções, atingir estados de prazer tão sublimes, ternos, e intensos que só podem ser igualados pelas sensações proporcionadas pelo amor e pela música.

Considerado o segundo esporte mais praticado no mundo, ficando atrás apenas do futebol, o xadrez tem o poder de estimular a imaginação contribuindo para o desenvolvimento da memória e da capacidade de concentração, bem como, da velocidade de raciocínio. O xadrez ainda tem o poder de promover a socialização entre as pessoas, é um esporte que ensina o jogador a aceitar a vitória e ou a derrota de modo que este as visualize não como sinônimo de sucesso e ou de fracasso.

O xadrez proporciona estímulos cognitivos e habilidades intelectuais nas crianças e adolescentes, ao mesmo tempo conduz ao pensamento lógico-formal. Por outro lado, é uma atividade recreativa que permite à criança assumir uma atitude própria, dando oportunidade à obtenção de satisfação pessoal e integrando-a plenamente em seu grupo social.

Para Giachini (2011, p. 10);

“O xadrez é conhecido por exercitar várias características e ter implicações educativas como: atenção, autoconfiança, raciocínio, criatividade, controle nas execuções, capacidade de observação, autocontrole e autonomia, acredito também que o xadrez tem grande influência e importância no desenvolvimento cognitivo, afetivo e social das crianças”.

Os aspectos elucidados pelo autor justificam o papel do xadrez e suas respectivas contribuições para o processo de ensino aprendizagem dos educandos, pois, percebe-se uma maior concentração e desenvolvimento da inteligência humana.

Além de contribuir para o ensino e aprendizagem da Matemática, a prática do xadrez, conforme descreve Silva (2002a), pode levar a outras implicações educativas, por exemplo, quando o educando é levado a analisar os lances antes de movimentar as peças, o que contribui para o desenvolvimento de competências e habilidades do pensar com abrangência e profundidade. É, pois, importante que o jogo de xadrez não seja utilizado apenas de forma lúdica, mas aliando a ludicidade aos exercícios de concentração, levando o educando a pensar, o que pode favorecer a aprendizagem dos diversos conteúdos curriculares.

Esse aprendizado não só contribui para o processo de ensino aprendizagem nas escolas, como também é um fator primordial na vida social do educando, fortalecendo os laços familiares, o convívio social, a prática profissional, proporcionando um maior autocontrole na tomada de decisões, capacidade de adaptação ao meio, e desenvolvimento de novas aptidões. Sendo assim, o indivíduo aprende a agir, raciocinar, sua curiosidade é estimulada, adquire iniciativa e autoconfiança, proporciona o desenvolvimento da linguagem, pensamento e da concentração (VYGOTSKY 1989 citado por GIACHNI 2011 p. 3).

A prática educativa do jogo de xadrez também potencializa o convívio das diferenças e de aprendizagens recíprocas entre educador e educando. Atualmente, um dos maiores desafios da educação é aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros, respeitando-se mutuamente as diferenças (Delors, 2001).

Os jogos de estratégias, como o xadrez, aparecem ainda como um jogo que favorece a capacidade de aceitação das regras, desenvolvimento da memória, agilidade no raciocínio, o gosto pelo desafio e a construção de regras pessoais, que possibilitam desenvolver as competências necessárias para a resolução de problemas.

O xadrez apresenta-se como uma ferramenta multidisciplinar que além dos seus aspectos cognitivos, de raciocínio lógico, pode estar sendo desenvolvido ludicamente, permitindo que cada educando possa progredir segundo o seu próprio ritmo, capacidade e habilidades, que atendam aos objetivos da educação moderna.

Ribeiro (2008, p. 08) em seus estudos define que;

“O xadrez constitui-se em uma atividade indicada para um trabalho junto à população que apresentam dificuldade de adaptação social ou outros problemas. Ao ser incluído em população de baixo rendimento escolar, funciona como suporte pedagógico para que alunos alcancem à autoestima essencial para qualquer processo educativo”.

Através desses pressupostos podemos compreender os efeitos benéficos do xadrez na formação intelectual dos educandos, onde é possível favorecer o interesse e as habilidades necessárias para o bom desempenho nas demais disciplinas do currículo escolar. Pois, o xadrez apresenta-se como um importante instrumento de tomada de consciência, pois ele é interativo e pode ser executado por qualquer pessoa, independentemente de quaisquer divergências (DELORS, 2001, p.97).

O aprimoramento dessas habilidades cognitivas possibilita ao educando uma maior assimilação, analise e autonomia na realização das atividades propostas durante as aulas. O que é fundamental neste processo de transição, pois, melhora seu desempenho obedecendo ao seu próprio ritmo com uma maior motivação pessoal.

Pimenta (2008) aborda esse assunto e ressalta ser do conhecimento de todos, que o xadrez vem a enriquecer não só o nível cultural dos indivíduos, mas também várias outras capacidades apontadas, e uma outra, não menos essencial para o convívio social, o aprendizado na vitória e na derrota, salientando que:

“O ensino e a prática do xadrez têm relevante importância pedagógica, na medida em que tal procedimento implica, entre outros, no exercício da sociabilidade, do raciocínio analítico e sintético, da memória, da autoconfiança e da organização metódica e estratégica do estudo. O jogador de xadrez, constantemente exposto a situações em que precisa efetivamente olhar, avaliar e entender a realidade pode mais facilmente, aprender a planejar adequada e equilibradamente, a aceitar pontos de vista diversos, a discutir questionários e compreender limites e valores estabelecidos e a vivenciar a riqueza das experiências de flexibilidade e reversibilidade de pensamentos e posturas”. (op. cit. p.4)

O jogo é um elemento que atua na zona de desenvolvimento proximal e o educador é o mediador no processo de construção do conhecimento da criança.

O processo de construção do saber através do jogo como recurso pedagógico ocorria porque, ao participar da ação lúdica, a criança inicialmente estabelecia metas, construía estratégias, planejava, utilizando assim, o raciocínio e o pensamento. Durante o jogo ocorriam estímulos, obstáculos e motivações, momento em que a criança antecipa resultados, simboliza ou faz de conta, analisa as possibilidades cria hipóteses, e com esse processo constrói o saber. (Almeida, 2000).

O jogo como recurso pedagógico favoreceu a relação entre o processo de construção do conhecimento por parte da criança e a ação pedagógica do educador.

Piaget (1983) afirmava “o jogo é um tipo de atividade particularmente poderosa para o exercício da vida social e da atividade construtiva da criança”.

Aprender com o outro é mais rápido e mais efetivo, porque é mais prazeroso.

Uma das coisas que o jogo assegura é o espaço de prazer de aprendizagem.

Segundo Macedo (2000) “todo jogo contém uma situação problema (objetivo), devendo este obedecer a um sistema de regras que determinam os limitas de sua ação”.

O jogo de regras caracteriza-se por ser regulamentado por leis que asseguram a reciprocidade dos meios empregados. É uma conduta lúdica que supõe relações sociais ou interindividuais, pois a regra é uma ordenação, uma regularidade imposta pelo grupo sendo que sua violação é considerada uma falta. É um jogo de caráter social. Observa, ainda que o jogo organizado, ou o jogo de regras, tem como função desenvolver aspectos físicos aprimoram-se equilíbrio, os órgãos sensoriais e os músculos, e, quanto aos aspectos mentais, aperfeiçoam-se a atenção, a imaginação, a memória, o raciocínio, o espírito de cooperação e senso social. (Miranda,2000).

Segundo Miranda (2000) “os jogos de regras podem ser selecionados com uma tríplice finalidade, a saber, aumentar a resistência orgânica, fortalecer a vontade e formar o caráter, tudo para o fim último de proporcionar eficiência social à criança”.

Segundo os Referencias Curriculares Nacionais “apontam que trabalhar com o jogo é levar à criança a possibilidade de expressar e descobrir o mundo, estabelecendo relações com ele a fim de obter segurança”. Sendo o jogo um instrumento pedagógico que pode ser abordado em diferentes áreas do conhecimento.

De outra parte, observações de especialistas e professores em geral têm demonstrado que o jogo de xadrez estimulava o sujeito social a incorporar em seu comportamento e condutas sociais, a capacidade de fortalecer a disciplina pessoal, a concentração intelectual e a responder mais eficientemente aos desafios a aprendizagem que o mundo contemporâneo coloca para as crianças.

Jogar é uma função indispensável à criança. Jogar com ela, junto com ela, deixá-la jogar com seus parceiros e em grupos é de um compromisso que todo o educador deveria ter com a criança, uma vez que o jogo favorece o seu desenvolvimento cognitivo e sócio afetiva, como também é um ótimo recurso no processo de aprendizagem.

Silva (2002a) afirma que o ensino e a prática do Jogo de Xadrez quando utilizados como instrumento pedagógico pode trazer benefícios socioeducativos, tanto por provocar o exercício da sociabilidade, como o trabalho da memória, a autoconfiança e a organização metódica e estratégica do estudo. Diante de tantos benefícios que o jogo de xadrez contribui ele passar ser uma ferramenta poderosa e uma grande aliada ao ensino e aprendizagem.

O xadrez, de uma forma lúdica – já que não deixa de ser um jogo – é um excelente treinamento neste sentido, pode ajudar os educandos a disciplinar sua capacidade de concentração para poder aplicá-la nos momentos necessários.

O jogo é uma atividade que tem valor educacional intrínseco. Lei (1978) diz que “jogar educa, assim como viver educa: sempre sobra alguma coisa”.

O que Lei queria dizer é que para um jogo ser uma boa ferramenta pedagógica não pode perder de vista suas características lúdicas.

A utilização de jogos traz muitas vantagens para o processo de ensino e aprendizagem, entre elas: o jogo é um impulsor natural da criança, funcionando assim como um grande motivador.

2.4. A IMPORTÂNCIA DOS VALORES HUMANOS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO

A educação em valores humanos é uma exigência da sociedade atual inserida no mundo globalizado e marcado, por tantas mudanças e novos paradigmas políticos, culturais e educacionais, que são debatidos por diferentes agentes sociais. Alguns valores são de suma importância na formação dos cidadãos, para que convivam de forma harmoniosa em sociedade. Esses valores devem serem trabalhados tanto no ambiente escolar como também no não escolar, pois as crianças se constituem como sujeitos interativos que constroem suas próprias identidades.

Os valores humanos são essenciais para a formação do educando, pois é por meio deles que se formam cidadãos cientes de que o respeito mútuo e a solidariedade, bem como as leis que regem a organização das relações de grupos, são os pilares de uma sociedade democrática. (CORIA-SABINI e OLIVEIRA, 2002, p. 47).

Os valores humanos são concebidos como fundamentos morais da consciência humana. Consiste num conjunto de qualidades que nos qualifica como seres humanos e estão presentes em cada um de nós. São eles que determinam o comportamento e a inteligência (MARTINELLI, 1999). Muitos conflitos que afligem hoje a humanidade são motivados pela negação desses valores.

De acordo com Martinelli os valores humanos, são os princípios que fundamentam a consciência humana.

Eles estão presentes em todas as religiões e filosofias, independente de raça, sexo ou cultura. São inerentes à condição humana. Os valores humanos dignificam a conduta humana e ampliam a capacidade de percepção do ser como consciência luminosa que tem no pensamento e nos sentimentos sua manifestação palpável e aferível. Eles unificam e libertam as pessoas da pequenez do individualismo, enaltecem a condição humana e dissolvem preconceitos e diferenças. […] São inerentes ao homem as qualidades: Paz, Amor, Verdade, Ação Correta e Não Violência que constituem a concepção de excelência humana […] (MARTINELLI, 1999, p. 17).

Segundo Sarabia (2000), os valores são “princípios éticos com respeito aos quais as pessoas sentem um forte compromisso emocional e que empregam para julgar as condutas” (p.127). Para Coll (2000) este construto referência e norteia a conduta do indivíduo, dando sentido e orientando a tomada de decisões. Eles são construídos socialmente e, portanto, estão atrelados ao contexto cultural em que o indivíduo está inserido.

Ao pensarmos no contexto educacional, Sarabia (2000) afirma que no currículo os valores são facilmente identificáveis e isso é muito positivo, pois somente com a explicitação desses valores que orientam o planejamento educativo é que eles poderão ser submetidos ao debate, estabelecendo desta forma, as bases para uma convivência em que os valores e princípios individuais serão compartilhados e na qual todos possam assumir as responsabilidades, atingindo, assim, a autonomia. Dessa forma os valores se constituem em um projeto ou ideal a ser compartilhado que dá sentido e orienta a formação de atitudes na escola, como opções pessoais adquiridas livre e refletidamente. ” (Sarabia, 2000, p.128)

Os princípios de solidariedade, cooperação, fraternidade estão cada vez mais distantes das formas de sociabilidade humana. Muitas dessas mudanças contribuem para que o ser humano isole-se cada vez mais.

Sobre os valores essenciais para a formação do educando Sabini (2002, p. 48), argumenta “[…] o indivíduo torna-se inteiramente humano através das interações e do envolvimento com outras pessoas […]”. Tanto na área de lazer, como na produção de trabalho e na vida em comunidade o individualismo impera, e esses conceitos não são recomendáveis para a construção de um mundo pautado na verdade e justiça social. Sobre esse aspecto, podemos refletir sobre o que diz Moran:

As diversas manifestações sociais de agressão e violência não são gratuitas, advêm de uma formação universal que exilou o coração. A falta de afetividade, de companheirismo e de amor embruteceu as pessoas, que parecem insensíveis aos problemas de conflito e injustiça social. O capitalismo selvagem do ter superou a formação do ser, e este processo tem subsidiado conflitos relevantes sobre o direito dos injustiçados, que não são atendidos com dignidade para morar, alimentar-se e educar-se. Por isso, torna-se essencial saber pensar, refletir, para não ser engolido pela obtenção material em detrimento da formação pessoal e grupal. Agrega-se a aprendizagem de viver juntos com a de aprender a ser, quando se buscam processos que aflorem a sensibilidade, a afetividade, a paz e o espírito solidário, que precisam ser resgatados sob pena de os homens se destruírem uns aos outros (MORAN, 2000, p. 83-84).

Enfim, essa é uma preocupação que engloba diferentes instâncias de nossa sociedade, e é uma problemática sobre a qual a escola também deve refletir. A introdução de valores humanos no currículo escolar está relacionada com a melhoria do ensino. Como argumenta Alfayate:

Relacionar a educação com os valores tem muito a ver com a qualidade de ensino. Qualidade não significa apenas mais salas de aula, mais bibliotecas, mais recursos tecnológicos, mais laboratórios – aspectos estes quantitativos e mais caros -, mais também uma educação em valores humanos, embora seja a parte mais barata e às vezes mais altruísta da educação (ALFAYATE, 2002, p. 52). (MORAN, 2000, p. 83-84).

A formação em valores humanos busca construir novos modelos de sociedade, através do resgate da ética, da solidariedade, da justiça e, com isso, tornar os seres humanos mais felizes, criativos e transformadores.

A escola como espaço de formação sistemática entre os conhecimentos acadêmicos, é reconhecida, através do artigo segundo da LDB (Lei 9.394/96) que: “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Ou seja, é preciso desenvolver no aprendiz a formação integral, proporcionar atividades que desenvolvam, além dos conteúdos acadêmicos, habilidades de autoconhecimento, auto realização, desenvolvimento da ética, respeito às diferenças e a afetividade dos grupos. Respaldamo-nos no pensamento de Delors apud Behrens, (2000, p.82), este assevera que:

A educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa, espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade. Todo o ser humano deve ser preparado, especialmente, graças à educação que recebe na juventude, para elaborar pensamentos autônomos e críticos e para formular os seus próprios juízos de valor, de modo a poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes circunstancias da vida.

O ambiente escolar é um espaço de convivência comunitária e está propenso a problemas e conflitos dada a sua diversidade cultural, sendo comum às vivencias dos professores, funcionários, administradores e dos próprios colegas, além dos familiares, comunidade em geral. A criança entra em contato com uma diversidade de crenças, juízos e valores que acabam interferindo em sua formação. Acreditamos que uma intervenção de forma sistemática a partir das abordagens direta e indireta utilizadas para o desenvolvimento do trabalho em valores humanos poderá contribuir para a formação de virtudes, possibilitando a interação e a vivenciar práticas de autoconhecimento e a convivência em grupo que irão possibilitar ao aprendiz fazer suas próprias escolhas.

Existem diferentes estratégias para a aprendizagem de valores e atitudes, algumas demonstram maior adequação ao propósito, como apresentar e esclarecer quaisquer dúvidas sobre quais as normas reguladoras da sociedade; criar situações-problema para que o educando possa julgar e decidir a maneira como deve atuar; valorizar os comportamentos apresentados pelos educandos, o retorno do que foi proposto; promover debates e diálogos constantes para que ocorra a troca de informações, valorizando os conhecimentos prévios. Coll (2000) aponta que técnicas concretas como jogos de simulação e estudos de caso são ideais para o ensino de valores e atitudes, pois, como afirma Sarabia (2000), as atitudes são geradas a partir da matéria concreta.

À medida que a criança se desenvolve seus valores e atitudes tornam-se cada vez mais sólidos e estáveis, tornando-se, assim, mais independente do que é externo. A criança passa a compreender suas ações e pensamento a partir do seu interior e começa a elaborar seus próprios valores e atitudes, este processo denomina-se internalização.

Este processo de formação de atitudes é algo bastante lento e exige uma transformação de atitudes por parte do educador também.

Desta forma, o educador se torna peça fundamental no processo de aprendizagem, pois ele influencia diretamente na formação de opiniões, valores e atitudes dos educandos. Tornando-se responsável por promover a educação, devendo possuir visão ampla, em que, além de informar o educando, deve também formar cidadãos dentro da escola.

A partir desse quadro teórico a respeito do desafio na formação de valores, foi baseado na leitura de autores trazem um aporte teórico que foi fundamental e que contribuíram para o desenvolvimento do mesmo.

A intenção aqui foi mostrar a importância dos valores humanos na formação do educando, como a alegria, a solidariedade, o respeito, a honestidade entre outros, podem ser fundamentais para a formação de sujeitos comprometidos com a finalidade plena para a vida em sociedade.

II. METODOLOGIA DO TRABALHO

Este trabalho caracterizou-se como uma pesquisa exploratória de caráter qualitativo, pois considera a existência de uma relação dinâmica entre o problema e o sujeito e os procedimentos técnicos utilizados na pesquisa para a coleta de dados foram à observação e a pesquisa bibliográfica. Para tanto, foi realizado um levantamento bibliográfico, enfatizando aspectos importantes sobre as principais contribuições que a metodologia do xadrez em três tempos pode contribuir na vida de crianças e adolescentes.

A população utilizada para a pesquisa foram educandos de 09 a 12 anos, moradores do município de Santana de Parnaíba – SP, em estado de vulnerabilidade social, matriculados na Fundação EPROCAD, que é uma ONG que presta atendimento em média a 300 crianças e adolescentes nos seus diversos locais de atuação. Tendo como sua missão: “Contribuir com a inclusão social de crianças, adolescentes e suas famílias, por meio do esporte, educação e cultura, possibilitando autonomia de participação na sociedade”. A Fundação EPROCAD utiliza o esporte como ferramenta educacional na formação integral de crianças e adolescentes, os educandos participam de diversas atividades como: Informática, Futebol 3, Educação Física, ATC (Atividades Transversais Complementares), Xadrez, entre outras.

A observação é a técnica utilizada para levantar hipóteses preliminares sobre o comportamento e registros fatos e ações relacionadas com o objetivo da pesquisa.

A revisão bibliográfica ocorreu mediante uma leitura sistemática, com a elaboração de fichamentos e resenhas de cada obra, de modo a ressaltar os pontos pertinentes ao assunto em estudos abordados por diferentes autores sobre a temática em questão.

Para a instrumentalização da pesquisa foi utilizada a avaliação por competências realizado pela instituição, onde os educadores avaliam semestralmente se houveram mudanças significativas na conduta e participação dos educandos.

A avaliação proposta deve levar em consideração o trabalho desenvolvido com os educandos, a partir da sistematização dos valores trabalhados em aulas, considerando os valores que já possuem e as mudanças de procedimentos e atitudes que vivenciam em casa, na escola e na comunidade. Como enfatiza Martinelli no exercício da prática pedagógica de avaliação do educador (1999, p. 45):

A avaliação dos alunos leva em conta os aspectos e o grau de ajuda proporcionado pelo programa. Isso significa considerar a construção dos conceitos, procedimentos e atitudes, o desenvolvimento do potencial criativo e a internalização dos valores e observar as mudanças de comportamento na vida familiar e nos relacionamentos de modo geral. Professores, pais e alunos participam da avaliação analisando e acompanhando o processo durante um período letivo ou depois de um ano escolar.

III. ARGUMENTAÇÃO E DISCUSSÃO

Segundo GOETHE (1786), o xadrez é a ginástica da inteligência. Percebe-se que o indivíduo alcança a fase das operações concretas, tornando-se capacitado a saber jogar atento a normas, nascendo então os jogos de regras, passando a se habituar-se a um código comum, partindo de um incentivo próprio ou sendo dirigido por terceiros, respeitando limites e regras afastando do indivíduo o seu egocentrismo e partilhando a ideia da interação social, sabendo que ao infringir as regras a serem cumpridas terão danosas implicações. É relevante destacar que o jogo do xadrez vira uma atividade complicada à medida que os empecilhos não são superados, sendo um esporte que aborda diversos campos dos procedimentos das pessoas.

DEPOIMENTOS

A seguir apresento alguns depoimentos, feitos pela equipe pedagógica da Fundação EPROCAD, a respeito do projeto Xadrez em Três Tempos, com intuito de mostrar as contribuições que o projeto pode oferecer:

Educadora A:

“O projeto de xadrez tem contribuído no processo de ensino aprendizagem dos educandos que participam do mesmo. Segundo a avaliação das educadores, os educandos têm se mostrado mais atentos e com poder de concentração maior nas aulas. Notou-se também mudanças no relacionamento. Tornaram-se mais companheiros, solidários e respeitaram-se mutuamente. ”

Educadora B:

“O Projeto Xadrez foi positivo, pois favoreceu a aprendizagem. Através do xadrez os educandos puderam socializarem-se e foi possível a interdisciplinaridade. A metodologia da educadora possibilitou as crianças usarem o raciocínio, a criatividade, a imaginação e o senso crítico dos papéis sociais que envolvem o jogo.

Supervisor Pedagógico:

“Achamos muito válido o projeto pois o xadrez fornece possibilidades de reconhecer que existem inúmeras maneiras de resolver um problema para chegar-se a uma solução, juntos os educandos chegam a um comum acordo, eles se organizam, estabelecem as regras, desta forma estimulamos o protagonismo juvenil.

AVALIAÇÃO POR COMPETÊNCIAS

A avaliação de competência foi realizada por todos os educadores, levando em consideração o desenvolvimento dos educandos durante as atividades, visando assim conhecer melhor o perfil dos beneficiados e podendo trabalhar as características individuais com maior ênfase. Visando uma análise que atenda os objetivos da Fundação EPROCAD, separamos as questões em blocos que atendam aspectos como participação e conduta. Analisamos todos os educandos, buscando mensurar o desenvolvimento das competências: pessoais (autonomia); cognitivas (resolução de problemas); relacionais (sociabilidade); produtivas (trabalho em equipe). Através desses resultados conseguimos visualizar as evoluções durante o processo de ensino aprendizagem, além de dar subsídios aos educadores com relação as suas ações, colaborando como ferramenta de monitoramento da evolução comportamental do educando.

Os dados da avaliação por competências foram analisados através de estatística descritiva, onde os resultados obtidos são demonstrados graficamente com seus respectivos percentuais.

Autonomia:

O desenvolvimento dessa atividade contextualizada através de aulas expositivas, voltadas para as discussões sobre a origem, evolução, conceitos, objetivos e benefícios do xadrez, bem como, através da abordagem geral sobre posição e composição das peças no tabuleiro, a estipulação específica do objetivo a ser alcançado, a prática de jogos pré-enxadristicos, os tipos de composições e jogadas/lances, a confecção de tabuleiros de xadrez com materiais recicláveis e a organização e participação de torneios, possibilitou observar um desenvolvimento pessoal e coletivo pela autodescoberta e pela autonomia, se descobrindo, se respeitando, percebendo suas habilidades, potencialidades e seus limites, transcendendo o jogo em si. Desta forma, o caráter lúdico contribuiu para que os educandos se tornassem sujeitos autônomos e críticos a partir da premissa que as jogadas se efetuavam por suas próprias ações, das suas escolhas e reconhecimento de seus acertos e erros como sinônimo de novo aprendizado.

Fonte: autor

Trabalho em Equipe:

Na metodologia dos três tempos os educandos precisam chegar a um acordo em comum, decidir juntos a tomada de decisões, ou seja, trabalhar juntos em um objetivo comum.

Os jogos lúdicos permitem uma situação educativa cooperativa e interacional, ou seja, quando alguém está jogando está executando regras do jogo e ao mesmo tempo, desenvolvendo ações de cooperação e interação que estimulam a convivência em grupo. FRIEDMAN (2000, p. 41).

Fonte: autor
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Respeito:

Apesar de se caracterizar como jogo individual, o desenvolvimento cooperativo torna-se presente pela necessidade de conviver harmonicamente com situações de liderar e ser liderado, do respeito e cordialidade presentes nas regras e no comportamento dos jogadores nos lances do xadrez.

Através do xadrez, os educandos podem aprender a sentir respeito e um pouco de empatia pelo adversário que perdeu, sobretudo se ele for conhecido, ou se demonstrar reações de tristeza. Todos os educandos aprendem o que é ganhar e perder e também devem aprender a não manifestar reações exageradas em caso de vitória, respeitando assim o adversário que perdeu, respeitando também as opiniões divergentes e o tempo de jogo de cada equipe.

Fonte: autor
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Socialização/Entrosamento com o grupo:

O jogo de xadrez reforça de sobremaneira para o desenvolvimento da memória, da capacidade de concentração e da velocidade de raciocínio. É comprovado que o Xadrez desempenha um importante papel de socialização, visto que ensina a lidar com o limite entre a derrota e a vitória, doutrinando que a derrota nem sempre representa o fracasso e muito menos a vitória significa o sucesso.

Fonte: autor
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Os gráficos acima, mostram um quadro comparativo entre o primeiro semestre e o segundo semestre, é notório a evolução na conduta dos educandos participantes do projeto. Participar do projeto proporcionou o educando diversas situações referentes a autonomia, ao trabalho em equipe, ao respeito e entrosamento com o grupo, podemos notar que houveram evoluções em ambos quesitos.

As práticas pedagógicas do jogo de xadrez baseadas em um processo discursivo e dialógico são capazes de provocar mudanças quando compreendido como processo dinâmico, ativo e singular quando o sujeito internaliza seus preceitos, os transforma e intervém no universo que o cerca.

Portanto, devemos levar em consideração que esta ferramenta pode ser inserida no processo de interdisciplinaridade, haja vista ela provocar mudança que refletiram de forma direta nas atitudes e no comportamento dos envolvidos neste novo cenário educacional, pois como descreve Oliveira (2010 apud Melman 2001-2002, pág. 201) tendo em vista, a perspectiva de transformar a realidade brasileira no âmbito educacional, num local de crianças e adolescentes interessados em aprender e gostar e querer estudar, mostra nos que o xadrez pode ser uma peça importante nesta longa caminhada de encontro da própria educação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente trabalho podemos destacar que o prazer da aprendizagem foi uma constante nessa observação e reflexão, tive a oportunidade de observar, analisar e registrar, sendo estes procedimentos importantes para a minha formação e futura atuação como professora.

O trabalho com valores iniciou primeiramente em constatar se a metodologia do Xadrez em Três Tempos pode contribuir com a socialização e a construção de valores.

Durante esse trabalho esteve sempre presente a preocupação no sentido de desenvolver uma atitude de busca, de observação, de registros, de análise crítica da realidade vivida e da ideia de proposição visando à solução de problemas. A prática de observação nos aproximou de saberes, sejam eles metodológicos, procedimentais, atitudinais e aqueles referentes aos conteúdos específicos das áreas do conhecimento. O desenvolvimento desse trabalho me possibilitou experimentar o fazer pedagógico orientado por um método, de maneira que tornou mais sensível para atuar no meio social visando desenvolver a atividade como pesquisadoras em função de necessidades postas pela realidade.

A metodologia dos três tempos de acordo com o que foi proposto, alarga o campo de visão das relações, e das possibilidades de administrar conflitos de maneira respeitosa com o outro nas diversas situações. Pois, esse trabalho é permeado de práticas que permite que o educando vivencie dentro do jogo de xadrez ocasiões diária que para elas podem apresentar-se como de difícil resolução.

A intervenção permitiu observar que algumas crianças mudaram de comportamento e posturas. A inserção de valores humanos com crianças em desenvolvimento educativo contribui para a aprendizagem de condutas sociais. A avaliação por competências realizadas pelos educadores, pode mostrar que houveram mudanças significativas na parte da conduta dos educandos: trabalho em equipe, respeito, autonomia e socialização. As observações e os relatos da equipe pedagógica podem mostrar que as crianças e os adolescentes tornaram-se mais afetivas com o grupo, mais concentradas durante as atividades pedagógicas, apresentavam comportamento honesto diante dos jogos e atividades, demonstravam ter mais paciência, além de mais solícitos e respeitosos.

Sendo, assim, o projeto: “Xadrez em Três Tempos” se constitui em uma ferramenta de socialização, de aprendizado e convivência com os valores que estão presentes na sociedade e que contribuem para convivência harmônica desde relações mais próximas como familiares e escolares até as relações mais substancialmente distantes do indivíduo.

Portanto, a metodologia dos três tempos quando inserida no xadrez, não visa favorecer apenas os aspectos cognitivos, mas formar cidadãos, críticos e conscientes, visando o desenvolvimento de valores para a existência de uma vida social mais equilibrada e que de alguma maneira contribuam para uma sociedade mais justa e igualitária.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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STREETFOOTBALLWORLD BRASIL. Futebol 3 – História do uso dessa metodologia no Brasil: uma publicação da streetfootbllworld Brasil. Rio de Janeiro, 2014.

STREETFOOTBALLWORLD, g Gmbh Waldenserstr. Manual de Futebol 3: Como utilizar o futebol para a mudança social, 2 – 4 10551 Berlim – Alemanha.

SILVA, W. Apostila do curso de xadrez básico. Curitiba: Secretaria do Estado da

Educação e Federação Paranaense de Xadrez, 2002a.

[1] Pós-graduada em tecnologia da aprendizagem

 

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2 respostas

  1. Tenho uma proposta de xadrez humano onde num tabuleiro gigante as pessoas são convidadas individualmente a assumirem o papel das peças do jogo político brasileiro atual para brincar e tirar uma onda, fazer piada da situação/condição política brasileira atual. O que preciso fazer?

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