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Pedagogia Do Oprimido

RC: 24055
1.017
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/pedagogia-do-oprimido

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

SBIZERA, Carmem Lucia [1], DENDASCK, Carla Viana [2]

SBIZERA, Carmem Lucia. DENDASCK, Carla Viana. Pedagogia Do Oprimido. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 12, Vol. 05, pp. 96-109 Dezembro de 2018. ISSN:2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/pedagogia-do-oprimido

RESUMO

O presente estudo teve o propósito de abordar a pedagogia do oprimido, obra na qual os ensaios freireanos se concretizam na relação teórico-prática e inovam-se associando o conceito de práxis à educação, a qual está a serviço da libertação, fundada na criatividade, no diálogo, na reflexão, na conscientização e em ações dos homens sobre a realidade visando a sua transformação. Para tanto, empregou-se como procedimento metodológico pesquisa realizada em materiais secundários compostos por livros e pesquisas acadêmico científicas. Assim, inicialmente adentrou-se no autor da obra “pedagogia do oprimido”, Paulo Freire, contextualizando sua trajetória de vida e as circunstância que o levaram a escrever este título, no qual defende que somente com uma pedagogia que possibilite que o oprimido reflita e se descubra enquanto sujeito detentor de seu próprio destino a expressão da prática da liberdade será efetiva. Na sequência abordou-se a “pedagogia do oprimido” de forma concreta, obra que foi escrita durante os primeiros anos de exílio do autor no Chile, na década de 60, e que foi publicada pela primeira vez em 1970, em um contexto histórico onde ocorreriam lutas dos movimentos feministas, antirracistas, antiditatoriais, anti-imperialistas e libertários, além de lutas de povos africanos por independência do domínio europeu. Por fim, pode-se concluir que Paulo Freire, através da obra estudada neste artigo, afirma que a educação deveria ter como objetivo a liberdade, a qual teria como resultado a transformação social e conhecimento crítico do mundo, e ressalta neste contexto a “educação bancária”, percebendo que a opressão é o objetivo da manipulação de pensamentos, e que novos conhecimentos devem ser usados para transformar e recriar o mundo.

Palavras-chaves: pedagogia do oprimido, Paulo Freire, Educação bancária.

INTRODUÇÃO

Por cumprir a missão de educar e de auxiliar no desenvolvimento da personalidade do ser humano, preparando-o para servir à sociedade, afirma-se que não há como discutir a importância do professor, bem como defende-se que esse é um profissional insubstituível.

Segundo a pedagogia do oprimido, apresentada por Paulo Freire, a libertação do Homem, com vistas a permiti-lo a compreender a realidade, é uma tarefa comum de educandos e educadores. Esse é o principal elemento para que a educação seja real.

Os debates sociais e educacionais foram permeados pelos temas apontados pela pedagogia do oprimido e, muito embora tenha sido muito criticada pela direita, sua relevância ainda é grande quatro décadas depois da primeira edição do livro. Cabe lembrar que, dentro desse período, o Brasil viveu anos de governo militar que coibia a leitura dessa obra de Paulo Freire, no entanto, seu legado político de mobilização e conscientização permaneceu presente por meio de leituras em círculos fechados e escondidos.

Sem ter consciência da realidade, sem ter auxílio para “pronunciar o mundo” e sem compreender que é capaz de modificar o seu redor não há como o homem ser um participante ativo na sociedade e na história. Isso porque, sem se dar conta de que a realidade é passível de mudança, sem descobrir sua capacidade como agente transformador e sem compreender as forças que devem ser combatidas, a luta não pode existir. De acordo com Freire (1978), primeiramente, é preciso conscientizar que toda educação libertadora tem o objetivo de provocar a reflexão e a crítica.

A obra desse autor é fruto da transdisciplinaridade e decorre da união da teoria com a prática. A visão humanista internacionalista é a base de Freire. Após o golpe militar de 1964, foi preso e, até 1969, permaneceu exilado no Chile, governado por Eduardo Frei, um democrata cristão. Foi lá que Paulo Freire estabeleceu seu pensamento político pedagógico e sua metodologia de alfabetização, que deu origem, inclusive, ao livro “Pedagogia do oprimido”, publicado na década de 70 do século XX (PRADO; SCHMIDT, 2016).

Portanto, nessa perspectiva, a educação tem a libertação como uma condição fundamental. Essa libertação só é possível por meio de um diálogo democrático, que foge do autoritarismo que pode manipular a mente do aluno, adestrando-o e doutrinando-o.

Assim, o presente estudo objetivou abordar a obra “pedagogia do oprimido”, na qual os ensaios freireanos se concretizam na relação teórico-prática e inovam-se associando o conceito de práxis à educação, a qual está a serviço da libertação, fundada na criatividade, no diálogo, na reflexão, na conscientização e em ações dos homens sobre a realidade visando a sua transformação. Para tanto, empregou-se como procedimento metodológico pesquisa realizada em materiais secundários compostos por livros e pesquisas acadêmico científicas.

PAULO FREIRE

Nascido em Recife, Pernambuco, no ano de 1921, Paulo Reglus Freire é considerado um dos mais influentes pedagogos da contemporaneidade, com reconhecimento mundial. Apesar de também tenha sido alvo de críticas, é preciso reconhecer que ele ofereceu grandiosas contribuições no campo da educação popular. Entre as obras mais relevantes do autor, estão “Educação como Prática de Liberdade”, de 1967; “Pedagogia do Oprimido”, de 1968; “Cartas à Guiné Bissau”, de 1992; e “À sombra desta mangueira”, de 1995. Paulo Freire traz como diferencial o caráter político que destaca na educação, apontando que ela não serve unicamente para acumular conhecimentos, mas para o próprio ato de conhecer (BOMBOSSARO; PAVIANI, 2004).

Paulo Freire não se dedica a pensar em ideias, mas, sim, na existência, por isso, ele é comprometido com a vida. Enquanto educador, se dedica a formular uma pedagogia que tem como objetivo alcançar a “prática da liberdade”. O argumento é que, nas sociedades, a pedagogia predominante corresponde àquela das classes detentoras do poder, portanto, os métodos da pedagogia dominante não procuram libertar o oprimido, pelo contrário, ela conduz à dominação de consciências, postulando a “pedagogia do oprimido”. Nesses contextos, é necessário que haja uma “pedagogia do oprimido” – dele e não para ele – para que a educação seja tida como prática da liberdade. Isso significa que são os próprios oprimidos que precisam encontrar os caminhos para a libertação (FREIRE, 2013).

Paulo Freire iniciou seu trabalho educativo a partir da concepção de que, antes da leitura da escrita, viria a leitura do mundo. O primeiro grupo de alfabetização do pedagogo foi de pescadores pernambucanos. A metodologia para alfabetizar foi elaborada de acordo com as práticas sociais desses indivíduos, ou seja, primeiramente, Freire ouviu os relatos dessas pessoas para que a educação e conscientização oferecida fosse vinculada às atividades e saberes específicos desse grupo. Depois dos pescadores, atuou com camponeses e trabalhadores do campo (ROCHA; MARTINS, 2011).

Observa-se, então, que o processo de formação humana, para Freire, é uma aliança entre ciência e senso comum, cultura e trabalho, e teoria e prática. O autor também destacou que não se pode confundir a defesa pelo diálogo e pelo respeito com uma visão do “saber popular” sem críticas.

Segundo ele, é impossível que o intelectual não interfira, entretanto, a diferença de uma intervenção autoritária e uma democrática é que, na segunda, o outro também participa dessa intervenção. O pedagogo também relata que é importante que se entenda o senso comum apenas como ponto de partida, e não como ponto de chegada, ou seja, o senso comum deve ser respeitado e o educando deve conseguir ultrapassar sua ingenuidade (FREIRE, 1995).

Somente com uma pedagogia que possibilite que o oprimido reflita e se descubra enquanto sujeito detentor de seu próprio destino a expressão da prática da liberdade será efetiva. Por mais que os educadores inseridos em uma prática educacional aliada à dominação tenham propósitos generosos, as possibilidades educacionais daqueles pertencentes a culturas marginalizadas serão cerceadas. De outra forma, uma pedagogia fundamentada na vida dessas subculturas, construída com elas e a partir delas, permite que esses indivíduos façam suas próprias reflexões e que tracem seus caminhos para a liberação. Por ser a prática da liberdade, não poderá ser utilizada para exercer o domínio, portanto, compreende-se que a pedagogia do oprimido liberta tanto o oprimido quanto o opressor. Recorrendo a Hegel, Freire (2013) afirma que, na consciência do oprimido, reside a verdade do opressor.

Dessa forma, para Paulo Freire, a construção de um projeto educativo que ultrapasse a ingenuidade, no entanto, sem deixar de lado o conhecimento tradicional e o conhecimento acumulado e sistematizado, deve ter como bases a experiência, a prática política e social e o senso comum. Para um processo de emancipação, é muito importante ultrapassar a ingenuidade, levando em conta que, nas classes populares, também existem práticas demasiadamente conservadoras. Nesse sentido, além de reconhecer a dominação que vem do outro, é preciso compreender as formas pelas quais o oprimido também participa da cultura dominante (FREIRE, 2005).

A PEDAGOGIA DO OPRIMIDO

A filósofa Hannah Arendt (1987) afirma que quando o ser humano é impossibilitado de frequentar o espaço público, ele recolhe-se a um lugar em que a sua liberdade não pode ser censurada: seu pensamento. Um exemplo disso é o próprio Paulo Freire que, em decorrência do golpe militar de 1964, foi impedido de estar no espaço público brasileiro e exilado, levando-o ao espaço privado de seu próprio pensamento. Foi nessa introspecção que nasceu o livro Pedagogia do oprimido, como mencionado anteriormente (LIMA, 2011).

A referida obra foi escrita durante os primeiros anos de exílio do autor no Chile, na década de 60 do século XX, e foi publicado pela primeira vez na língua inglesa, nos Estados Unidos, em 1970. Depois, foi traduzida para mais de 30 idiomas. O contexto social, histórico e subjetivo no qual foi escrito era marcado por sujeitos que buscavam o que Freire chamou de “vocação ontológica” do ser humano, ou seja, uma busca por “ser mais”. Nesse tempo, no mundo inteiro, ocorreram lutas dos movimentos feministas, antirracistas, antiditatoriais, anti-imperialistas e libertários, além de lutas de povos africanos por independência do domínio europeu. Exemplo marcante das movimentações da época são as manifestações que ocorreram na França, em maio de 1968 (STRECK; REDIN; ZITKOSKI, 2010).

É importante ressaltar que as propostas de Paulo Freire não eram enfraquecidas pelo fato de ele defender uma educação fundamentada na realidade dos grupos menos favorecidos, muito pelo contrário, sua insistência em uma educação diferenciada, embasada na cultura e na vida popular foi o que chamou a atenção de educadores do mundo inteiro para seus escritos.

Também é relevante pontuar que Paulo Freire sempre deixou claro que não era um especialista em alfabetização, fato que salientou desde seus primeiros envolvimentos com a questão. A metodologia de alfabetização surgiu como uma demanda de sua atuação no Movimento de Cultura Popular de Recife. Por isso mesmo, os procedimentos estabelecidos em seu método visavam atender as definições mais amplas e apontadas em “Educação e atualidade brasileira”. Para as questões mais específicas da alfabetização, Paulo Freire contava com a ajuda de Elza, sua esposa e professora do ensino primário. Como último esclarecimento, destaca-se que a vinculação de Freire à alfabetização de adultos se deu ao longo de todo o restante de sua carreira, mas o autor também se dedicou a outras questões (BEISEGEL, 2018).

A obra Pedagogia do oprimido trata do assunto em um nível de abstração diferente. Os sujeitos das experiências realizadas com camponeses, com trabalhadores, com jovens universitários, com adultos analfabetos, entre outras dessas figuras visíveis, agora, aparecem como construções abstratas, ou seja, como educadores-educandos e educandos-educadores, opressores e oprimidos, educação problematizadora e educação bancária, diálogo opressor e diálogo libertador. Pode-se afirmar com certeza que as experiências anteriores permitiram a elaboração da Pedagogia do oprimido, até porque essas vivências estão presentes ao longo dos capítulos do livro. Da mesma forma, pode-se dizer que o conteúdo dessa obra também já estava incluído nas realizações do passado, de forma implícita, no entanto, agora, essas experiências se apresentam como mais do que ações de um educador empenhado em realizar transformações sociais em seu próprio país (BEISEGEL, 2018).

Foram diversos os movimentos que contestavam o status quo e denunciavam a opressão que impossibilitava que os seres humanos conseguissem ser mais, entre eles os movimentos estudantis contra a ditadura, a Primavera de Praga, etc. Em Pedagogia do oprimido, Freire demonstrava preocupação com a situação da América Latina, marcada pela expansão de regimes ditatoriais iniciada na década de 1960, e que vivenciava a dominação imperial e grandes desigualdades sociais (LIMA; PERNAMBUCO, 2018).

Com a publicação de Pedagogia do oprimido, Paulo Freire

Ultrapassou a intenção de elaborar uma obra alarmante sobre a educação. Ele incentivou educadores e educandos a buscarem mudanças em si mesmos e transformações nos métodos de ensino. Pode-se dizer que, para muitos, esse livro foi um espécie de guia para enfrentar o autoritarismo no campo educacional. A partir dele, nasceu um movimento internacional de educadores que desejam modificar as sociedades as quais pertencem (SHOW, 1996, p. 566).

Paulo Freire incluiu em sua obra alguns elementos vivenciados por ele no Brasil e durante seu exílio no Chile, que são: o respeito ao contexto ao qual está inserido; o respeito às culturas distintas; e a crítica à invasão cultural (CARVALHO; PIO, 2017). De acordo com Beisiegel (2010), esse livro foi escrito em um momento em que Freire passava por inquietações intelectuais, buscando explicações mais amplas para os desafios educacionais.

Ao propor uma educação que não se submete a qualquer forma de opressão, dominação e subalternidade, a “Pedagogia do oprimido” incitou inflexões nas teorias e nas práticas da pedagogia no meado do século XX. A partir dela, tornava-se possível recorrer à educação enquanto um projeto político que poderia eliminar as diferentes formas de desumanização e colonização. A discussão passou a permear práticas educacionais que valorizavam a liberdade, a dignidade humana e a justiça social.

A pedagogia do oprimido, segundo Freire (2005, p. 34),

É aquela que precisa ser elaborada não para o oprimido, mas com ele, reconhecendo-os enquanto sujeitos que lutam por sua humanidade. Essa pedagogia deve fazer da própria opressão um objeto de análise, para que esses indivíduos reconheçam a realidade e se engajem na luta pela libertação.

O próprio autor da obra diz que a pedagogia do oprimido é mais do que um livro, se mostrando como uma prática pedagógica que parte do amor ao ser humano e a favor da luta do oprimido por sua liberdade, o que ele chama de uma opção ético-humanística (FREIRE, 2013b). Quem compõe os grupos dos seres humanos oprimidos são aqueles excluídos e marginalizados no Brasil e no mundo, tais como os índios, os negros, as mulheres, o condenado, entre outros. Freire os chama de oprimidos porque esses indivíduos acabam por internalizar o opressor, agindo eles mesmos contra suas liberdades.

Mas deve-se advertir que não pode-se compreender a pedagogia do oprimido como um roteiro que deve ser aplicado por pessoas solidárias que desejam libertar esses indivíduos. Essa pedagogia pretende possibilitar o oprimido de encontrar os caminhos para a liberdade ele mesmo, resgatando o seu ser livre e transformando sua história. Isso deve ser feito através do diálogo de todos com todos, facilitando o amor, a solidariedade e a fraternidade (FREIRE, 2013b).

De acordo com Freire (1992), o conteúdo e sua exposição estão implicados no diálogo pedagógico. Tendo em vista que a comunicação possibilita a troca de informações, a sala de aula deve ser embasada na união, no diálogo, na colaboração e na organização.

Freire chama a concepção tradicional da educação de “educação bancária” e, fazendo frente a ela, está a “educação problematizadora”, que é esta que leva a essência humana em consideração, incentivando a compreensão da realidade e pautada segundo uma sociabilidade fundada na prática. Conforme Carvalho e Pio (2017), a desmitificação e a revelação da realidade deve ser um esforço constante na educação problematizadora, em uma busca contínua para que os homens percebam o mundo e como estão inseridos nele (FREIRE, 2013).

Nesta obra, defende-se uma educação que tem seu fundamento em um contexto concreto com o objetivo de atender suas necessidades. Outra proposta reveladora de práxis levantada em Pedagogia do Oprimido é que a teoria deve servir como fornecedora do entendimento crítico e profundo (CARVALHO; PIO, 2017).

Freire (2013) baseia sua proposta educativa na ação e na reflexão, em uma práxis autêntica para a libertação. Para tanto, ele ultrapassa a visão do homem enquanto um ser isolado do mundo e das relações sociais, enquanto abstrato e teórico. Quando situa o homem e o fenômeno educacional conjuntamente à história da sociedade e às relações sociais, há uma aproximação dos escritos de Marx (2007). A principal intenção é ressaltar a natureza do homem de se humanizar, ação essa que é um processo contínuo e infindável de formação, construção e reconstrução, buscando sempre ser aquilo que ainda não é.

Alguns conceitos chaves são importantes para que se compreenda de forma efetiva o Método Paulo Freire de Alfabetização:

  • Sociedade Fechada: Conceito que aborda a organização da sociedade que recorre a diversos meios para alienar o povo e manter os privilégios das elites. A democracia, o diálogo e a participação não são permitidas nesse tipo de sociedade, impedindo o método de alfabetização.
  • Democratização fundamental: Para que uma verdadeira democracia seja alcançada, alguns princípios básicos precisam ser desenvolvidos e é disso que trata esse conceito, que diz respeito ao processo participativo de todos os indivíduos de uma sociedade.
  • Consciência crítica: Diz sobre a detenção do conhecimento das causas reais e de como elas funcionam, proporcionando a interpretação de uma realidade verdadeira. Aqueles que a possuem são mais capazes de dialogar criativamente e de raciocinar em busca da verdade a favor da construção do sujeito humano.
  • Conscientização: Por meio do processo de conscientização, o homem consegue compreender sua realidade de forma crítica, o que possibilita as transformações.
  • Educação libertadora: É aquela educação que entende o homem enquanto real, que nasce dele e que pretende guia-lo a uma humanização plena. A libertação não ocorre de outra forma que não seja pelo diálogo e pela interação com a realidade.
  • Alfabetização: Diz respeito à metodologia pela qual o homem consegue se entender enquanto detentor de sua história e de seu mundo. É a partir desse reconhecimento que o sujeito humano se reconhece e se compromete com a humanização.
  • Educação bancária: É aquela que nega a dignidade humana, que entende os homens unicamente como receptores e replicadores do processo. Também é chamada de educação tradicional.
  • Educação problematizadora: Oposta à educação bancária, é aquela que reconhece o homem e respeita o seu processo educativo através de um diálogo constante e com respeito. Aqui, não existem estudantes ou professores, mas estudantes-professores e professores-estudantes. Seu objetivo maior é auxiliar o homem a compreender sua dignidade e a sua função na construção da sociedade e da libertação, para, assim, conseguir criar rupturas no esquema social estabelecido (TEIXEIRA, 2008).

A alfabetização, na proposta de Paulo Freire, resulta de um processo que substitui por elementos simbólicos os reais: primeiro simbólicos figurados, como cartazes; em seguida, a discussão, ou seja, elementos verbalizados oralmente; por fim, chega-se à leitura, caracterizando a etapa de sinais escritos padronizados. Essa sequência se difere daquela que é aplicada em crianças, em que o elemento instrumental de construção das representações mentais é a leitura (FREIRE, 1979).

Estas representações já existem de forma abundante para os adultos, mas a maior dificuldade é deixa-las de formas figuradas para que haja uma operacionalidade psicológica maior, o que só dá para fazer por meio de sinais e símbolos. A alfabetização aparece como consequência da conscientização, portanto, não sendo algo estranho ao mundo do não letrado. A leitura tem sido o maior instrumento para a consciência crítica, justamente por permitir que se adentre em um novo mundo cultural o qual a linguagem escrita simboliza. A proposta não é outorgar ao analfabeto uma técnica sem que ele a deseja ou a reconheça, na verdade, o que se pretende é apresentar uma solução para seus problemas, oferecendo um instrumento que ele pode utilizar por si só (TEIXEIRA, 2008).

De forma resumida, pode-se dizer que existem três fases dialéticas e entrelaçadas de maneira interdisciplinar no Método Paulo Freire. A primeira dela é a investigação temática, na qual haverá a busca na sociedade em que o aluno está inserido e em seu universo vocabular por temas e palavras centrais que lhe tenham significados.

Nessa etapa, que é o ponto inicial do processo educativo, realiza-se um esforço de autoconsciência e de consciência da realidade. A procura por esses temas exigem que haja o diálogo e a problematização, reconhecendo que toda a comunidade está envolvida na história e na cultura (FREIRE, 1978).

Segundo Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2002), a investigação temática envolve a pesquisa sobre as condições da localidade, da descoberta de suas potencialidades sociais, culturais, ambientais, bem como a investigação de sua relação com o sujeito, com a realidade existencial e com o mundo.

Então, é a realidade dos sujeitos que gerará a identificação dos temas. Nesse sentido, é por meio do diálogo e de conversas nas quais os sujeitos podem discorrer acerca das situações reais e concretas de sua vida que acontecerá a problematização (HEIDEMANN, 2017).

A segunda fase trata da codificação e descodificação dos temas e das palavras, em busca dos significados sociais para que se alcance uma consciência sobre o mundo em que se vive. Essa teoria foi criada acompanhando o desenvolvimento da pesquisa participante (MONTEIRO; VIEIRA, 2010).

A terceira fase é a da problematização, que tem como objetivo criar uma visão crítica que substitui a primeira visão sobre o assunto. É aqui que se dá a transformação do contexto.

O que se busca, portanto, é que o diálogo e a teoria ajudem o concreto a superar o empírico. É um processo que incentiva a ação (FRANCO, 2016). Freire (1979) diz que a educação nesses moldes é capaz de levar a sociedade à uma transitividade crítica que intenta a responsabilidade política e social. Ainda segundo o autor, é a interpretação aprofundada dos problemas e a aplicação de princípios causais no lugar de explicações mágicas que caracterizam essa transitividade.

Na educação libertadora, todos têm o direito à palavra e à leitura e representação do mundo. O Círculo de Cultura é um espaço de pesquisa, de dinâmicas, de trabalho, de exposição de práticas e vivências que auxiliem na criação de um conhecimento coletivo (FREIRE, 1999).

Acrescenta-se que outra contribuição da pedagogia do oprimido é possibilitar uma compreensão conjunta acerca dos processos educativos vigentes na educação tradicional. Sobre a educação bancária, Freire diz que a educação não passa de um ato de depositar, na qual os professores depositam e os educandos são os depositários. Neste ponto, confunde-se a necessidade de reforço escolar com precisar depositar a mais (AFONSO et al., 2018).

Assim, uma formação política efetiva não resulta de uma formação que tem como foco apenas as técnicas e os métodos de aprendizagem, ao passo que é imprescindível que o educador tenha condições de questionar aquelas propostas pedagógicas que não beneficiam aos sujeitos, mas unicamente ao sistema (COSTA; FURTADO, 2015).

Nesse sentido, Freire (2011) afirma que a prática educativa crítica e radical se torna mais internalizada conforme a vivência das pessoas vai se tornando crítica e, dessa forma, compreende-se que o aprender não pode ser desvinculado do ensinar. Essa é a comprovação de que o educador da EJA precisa de uma formação política e comprometimento com a reinvenção (COSTA; FURTADO, 2015).

CONCLUSÃO

Em Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire ultrapassa a pedagogia, focando os aspectos psicológicos do sujeito oprimido e que, muitas vezes, carrega o opressor dentro de si mesmo. O autor analisa de forma aprofundada a questão do oprimido e do opressor e propõe que a solução só é possível através da consciência.

A maior lição trazida pela pedagogia do oprimido é a compreensão de que a mudança é necessária, muito embora seja difícil, e que ela só pode acontecer por meio da ação conjunta, ética e amorosa em prol da vida da natureza, da convivência fraterna, dos seres vivos. O que faz com que os seres humanos se tornem cidadãos autônomos é a esperança inquieta.

Paulo Freire trabalha com os conceitos de homem, de conscientização, de práxis, de cultura, de diálogo, de emancipação, de educação libertadora e bancária, de oprimido e de opressor e de Círculo de Cultura. O itinerário de pesquisa é o método utilizado por ele, passando por três etapas – investigação temática; codificação e descodificação; e desvelamento crítico – que, muito embora sejam diferentes, estão dialeticamente ligadas.

Por fim, conclui-se que a sociedade vive um momento que pede que os olhares estejam atentos e que as ações sejam baseadas na generosidade, no respeito, na compreensão e na amorosidade para que as transformações aconteçam, para que seja construída uma educação humana e ética e para que o direito à autonomia seja assegurado, com vistas a edificação de uma sociedade igualitária, justa e que respeite o sujeito em sua busca por ser mais.

REFERÊNCIAS

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BEISEIGEL, Celso de Rui. Prefácio para a reedição de Pedagogia do oprimido, de Paulo Freire. Estudos Avançados, v. 32, n. 93, p. 13-24, 2018.

BEISIEGEL, C. R. Paulo Freire. Recife: Fundação Joaquim Nabuco; Massangana, 2010. (Coleção Educadores).

BOMBOSSARO, Luiz Carlos; PAVIANI, Jayme. As fontes do humanismo latino. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.

CARVALHO, Sandra Maria Gadelha; PIO, Paulo Martins. A categoria da práxis em Pedagogia do Oprimido: sentidos e implicações para a educação libertadora. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 98, n. 249, 2017.

COSTA, Clarice Gomes; FURTADO, Eliane Dayse Pontes. Situações limites na pedagogia do oprimido e da esperança: possibilidades para a formação do educador da EJA. V Seminário Nacional sobre Formação de Educadores da EJA, 2015.

FRANCO, Maria Amélia Santoro. Pesquisa-Ação Pedagógica: práticas de empoderamento e de participação. ETD-Educação Temática Digital, v. 18, n. 2, p. 511-530, 2016.

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HEIDEMANN, Ivonete Terezinha Schülter Buss et al. Reflexões sobre o itinerário de pesquisa de Paulo Freire: contribuições para a saúde. Texto & Contexto-Enfermagem, v. 26, n. 4, 2017.

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LIMA, José Gllauco Smith Avelino de; PERNAMBUCO, Marta Maria Castanho Almeida. Horizontes pós-coloniais da Pedagogia do Oprimido e suas contribuições para os estudos curriculares. Revista Brasileira de Educação, v. 23, 2018.

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[1] Teóloga. Licenciada em História. Docente de História e Geografia do Curso de Bacharel em Teologia na Universidade Santanna em São Paulo – SP. Mestranda em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

[2] Teóloga. Licenciada em História. Docente de História e Geografia do Curso de Bacharel em Teologia na Universidade Santanna em São Paulo – SP. Mestranda em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Enviado: Dezembro, 2018

Aprovado: Dezembro, 2018

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Carla Dendasck

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