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A Importância do Papel do Professor na Inserção das TIC – Tecnologias da Informação e Comunicação no Ambiente da Sala de Aula.

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CONTEÚDO

GERALDI, Luciana Maura Aquaroni [1]

GERALDI, Luciana Maura Aquaroni. A Importância do Papel do Professor na Inserção das TIC – Tecnologias da Informação e Comunicação no Ambiente da Sala de Aula. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Edição 05. Ano 02, Vol. 01. pp 474-487, Julho de 2017. ISSN:2448-0959

RESUMO

Atualmente, a incorporação de algumas mídias como DVD, televisões e acesso à Internet em sala de aula já não gera surpresa e estranhamento aos profissionais que procuram dinamizar o ensino e não ficam totalmente presos ao livro didático. Mas, para que esses recursos gerem resultados positivos no ambiente da sala de aula, primeiramente, deve ser feito um planejamento referente ao conteúdo programático ministrado nas aulas, que contemple a inclusão dos novos recursos tecnológicos. Com isso, o aproveitamento será notório por parte dos professores que esperam o êxito como resultado, bem como dos alunos, que terão o retorno dessas respostas. Ainda nesse processo de planejamento da inserção das TIC na sala de aula, caso não aconteça como o esperado, o papel do professor torna-se relevante, pois ele será o responsável em repensar suas estratégias, identificar os pontos críticos e observar as reações que ocorreram no entorno daquele cenário em relação às mudanças propostas por essas tecnologias.

Palavras – Chave: Tecnologia, Professor, Sala de Aula.

1. INTRODUÇÃO

O professor não deve temer o novo. Santos (2010) afirma que o desenvolvimento das novas tecnologias na sala de aula não diminui o papel dos educadores, pelo contrário, ele deixa de ser o transmissor do saber, tornando-se um elemento do conjunto, organizando o saber coletivo.

Para Terry Evans (2002, p.3),

Uma peça de giz e quadro-negro ou mesmo um galho e um chão de areia são ferramentas nas mãos de um “mestre”. Tais educadores podem ser professores da escola primária, instrutores militares, idosos de uma tribo ou educadores de outdoors usando suas ferramentas para ensinar um aspecto de sua cultura aos aprendizes. De modo similar, equipamentos de videoconferência ou computadores pessoais podem ser usados como ferramentas educacionais por educadores que saibam (a tecnologia de) como usá-las para propósitos pedagógicos. Ferramentas e tecnologias são tão fundamentais para educação que é difícil imaginá-la sem eles; especialmente os sons e símbolos como ferramentas, e a escrita e a linguagem como tecnologias.

Takahashi (2000) defende que,

[…] a educação é o elemento–chave para a construção de uma sociedade da informação e condição essencial para que pessoas e organizações estejam aptas a lidar com o novo, a criar e, assim, garantir seu espaço de liberdade e autonomia. Isto porque a educação deve permanecer ao longo da vida para que o indivíduo tenha condições de acompanhar as mutações tecnológicas (TAKAHASHI, 2000, p.45).

Santos e Souza (2007, p.3) referem-se ao uso da tecnologia nas escolas como:

O uso da tecnologia nas escolas requer a formação, o envolvimento e o compromisso de todos os profissionais no processo educacional (educadores, diretores, supervisores, coordenadores pedagógicos), no sentido de repensar o processo de informações para transmitir conhecimentos e aprendizagem para a sociedade.

Por isso, é dever do professor assumir o papel de investidor da sua própria formação, enfrentando novos desafios, buscando refletir sobre sua prática pedagógica, no sentido de superar os obstáculos e aperfeiçoar o processo de ensino–aprendizagem (NOGUEIRA, 2010).

Confrontando algumas considerações atuais sobre o aspecto da tecnologia da informação e comunicação, autores como Pretto (1999) e Vargas (1994) afirmam, respectivamente:

Num país onde a escola ainda assume o papel de assistente social e perde de vista sua função de produzir e “reproduzir” o conhecimento, faz-se necessário resgatar sua função primordial de formar o cidadão para a sociedade atual, onde o próprio trabalho assume uma nova conceituação, como “trabalho informatizado, automatizado, escritórios virtuais em tempos, de menos deslocamentos e mais interação” (PRETTO, 1999, p. 105).

[…] na atualidade houve um alargamento do significado desse termo; ele acabou tendo vários enfoques visando a finalidades diferentes, em busca de solução para problemas específicos de áreas diferentes. Assim, o termo tecnologia tem sido usado para designar: a) técnica; b) máquinas, equipamentos, instrumentos, a fabricação, a utilização e o manejo dos mesmos, e c) estudos dos aspectos econômicos da tecnologia e seus efeitos sobre a sociedade. Segundo o autor, ambos os empregos do termo estão equivocados; para ele, tecnologia no sentido que é dado pela cultura ocidental é a “aplicação de teorias, métodos e processos científicos às técnicas” (VARGAS, 1994, p.225).

Em uma conjuntura ladeada de perspectivas positivas por parte dos docentes e discentes no uso das TIC estabelece-se uma concordância com a visão de Lévy (2000), quando comenta:

A tecnologia não é boa nem má, dependendo das situações, usos e pontos de vista, e “tampouco neutra, já que é condicionante ou restritiva, já que de um lado abre e de outro fecha o espectro de possibilidades”. Não se trata de avaliar seus impactos, mas de situar possibilidades de uso, embora, “enquanto discutimos possíveis usos de uma dada tecnologia, algumas formas de usar já se impuseram”, tal a velocidade e renovação com que se apresentam (LÉVY, 2000, p. 26).

Em relação às possibilidades de uso da tecnologia da informação e comunicação, como destacou Lévy, deve-se lembrar de que alguns contextos, como sociais, culturais e financeiros, estão relacionados entre o usuário e a tecnologia, no sentido de limitar ou ampliar as relações com as TIC na escola. Sendo o professor e o aluno usuários dessas TIC, pode-se perceber que muitas escolas, em especial as escolas da rede pública, ainda não estão preparadas para incorporar diferentes formas de aprendizagem através dessas tecnologias, pois se faz referência, nesses casos, a professores, alunos, coordenadores e diretores dessas escolas que podem ser considerados apenas telespectadores da tecnologia e não disseminadores de conhecimento por meio dela.

Para compreender esse contexto, Orozco (2002, p.65) afirma que:

O “tecnicismo por si só não garante uma melhor educação. […] se a oferta educativa, ao se modernizar com a introdução das novas tecnologias, se alarga e até melhora a aprendizagem; no entanto, continua uma dúvida”. Para o autor, cada meio e cada tecnologia exercem uma mediação particular nas pessoas e contextos com os quais interatuam, pressupondo transformações na organização do trabalho, nos seus componentes e, consequentemente, na instituição educativa que realiza o trabalho.

As tecnologias não substituem o professor, mas permitem que algumas das tarefas e funções dos professores possam ser modificadas (MORAN, 1998). A tarefa de passar informações pode ser deixada aos bancos de dados, livros, vídeos ou programas em CD-ROM, segundo Freire e Shor (1986).

Para Mitra (2012, p.3), o papel do professor com a inserção da TIC deve demonstrar que:

[…] o futuro da educação está na autoeducação, e o papel do professor do futuro seria o de apresentar questões que instigam a curiosidade das crianças, principalmente crianças com menos de 13 anos, mais abertas ao conhecimento e menos ligadas a questões como classes sociais. A reação de crianças abaixo dos treze anos é exatamente igual em qualquer lugar do mundo, afirma o pesquisador. O emprego dos professores não seria ameaçado. Seria diferente […]

Seguindo a concepção do autor em relação à tecnologia educacional,

Penso a tecnologia como meios e recursos poderosos, que podem certamente induzir, como já o fazem na escola e em outros ambientes frequentados por crianças, adolescentes e jovens, como nos games ou nas redes sociais […]. Oferecer acesso a computadores, dispositivos móveis e redes é indispensável para a educação, não há dúvida quanto a isso, no entanto, a orientação, o intercâmbio, a reflexão aprofundada e até mesmo o ritmo compassado e diferente dos mestres permanecem como um quesito fundamental (MITRA, 2013, p.1).

Com o uso da tecnologia de informação e comunicação, professores e alunos têm a possibilidade de utilizar a escrita para descrever suas ideias, comunicar-se, trocar experiências e produzir histórias.

2. O PROFESSOR E AS TIC

De acordo com Takahashi (2000), alguns desafios são constatados com o intuito de destacar a estrutura formal do processo ensino-aprendizagem:

  • Alfabetização digital: precisa ser promovida em todos os níveis de ensino, do fundamental ao superior, por meio da renovação curricular para todas as áreas de especialização, de cursos complementares e de extensão, na educação de jovens e adultos, conforme a LDB e Bases da Educação Nacional de 1996.
  • Geração de novos conhecimentos: relacionada à formação em nível de pós-graduação. Viabiliza-se, ainda, pela formação profissional em nível de graduação em áreas diretamente relacionadas com tecnologias de informação e comunicação e sua aplicação.
  • Aplicação de tecnologias de informação e comunicação: pode ser objeto de formação desde o nível médio, sobretudo no âmbito de cursos técnicos. Direciona-se por ser o foco central de cursos de graduação que tratam de tecnologias de informação e comunicação. Geralmente é uma das preocupações dos cursos de pós-graduação em tecnologias de informação e comunicação e áreas correlatas, especialmente quando a aplicação de conhecimentos que se refere à produção ou ao aperfeiçoamento de bens e serviços na própria área, o que exige o domínio dos fundamentos conceituais básicos associados aos níveis mais elevados de ensino.
  • Aplicação de tecnologias de informação e comunicação em quaisquer outras áreas: outras áreas, como saúde, transportes, biologia, também inserem demandas das TIC para explorar a geração de conhecimento. A Figura 1 demonstra essa relação:
Figura 1 – Recursos humanos e a as TIC. Fonte:Socinfo (2000)
Figura 1 – Recursos humanos e a as TIC. Fonte:Socinfo (2000)

Normalmente, vê-se, nas mídias, o quanto os jovens estão familiarizados com a tecnologia e têm facilidade em seu manuseio. Veem e Vrakking (2009) denominaram jovens desta época de “geração Homo zappiens, que cresceram usando múltiplos recursos tecnológicos desde a infância”. Para esses autores, “a geração Homo zappiens é digital, e a escola ainda permanece analógica”. Idealizando essa afirmação, Mello e Vicária (2008, p.1) indagam:

Nativos digitais e imigrantes digitais, em que faz uma divisão entre aqueles que vêem o computador como novidade e os que não imaginam a vida antes dele, (…) sendo que os nativos digitais têm contato com a tecnologia logo após o nascimento.

Essa ideia vivenciada na sociedade contemporânea tem resultados tanto nas escolas de Educação Básica, Fundamental e de Nível Médio, quanto nas Instituições de Ensino Superior (IES), pois tratam dessa implicação como o novo perfil dos estudantes e dos acadêmicos no mundo (JAQUES RAMOS; FARIA, 2011).

De fato, o advento da Internet favoreceu o desenvolvimento de uma cultura de uso das mídias e, por conseguinte, de uma configuração social pautada num modelo digital de pensar, criar, produzir, comunicar, aprender, enfim, viver. Isso já permite pensar que a atualidade é pautada pela comunicação e pelo gerenciamento da informação e que isso se estabelece de forma totalmente diferenciada daquela dos tempos iniciais da Internet, na década de 90 (noventa), e da utilização dos computadores pessoais até a mesma época.

Além de inserir as TIC nas escolas, é necessária sua integração com a cultura digital, para oportunizar a todos que nela atuam, a participação na cibercultura, que é constituída como o “conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores” (LÉVY, 2000, p. 17). Ainda para Lévy (2000), isso deve ocorrer por meio da exploração das funcionalidades e serviços oferecidos pelas TIC, em especial pela Internet, como: a comunicação todos-todos a qualquer momento e de qualquer lugar em que se tenha conexão disponível; os distintos caminhos de navegação através de nós e ligações que compõem as redes hipermidiáticas, a autoria; a expressão e publicação de ideias que incorporam diferentes linguagens e o desenvolvimento de produções em coautoria.

Para Neves (2009, p. 18), o professor pode promover uma pedagogia de autoria e coautoria onde,

A convergência de mídias, inclusive a que já se encontra nos novos celulares e smartphones, adiciona elementos que revolucionam ainda mais a produção, a distribuição de conteúdos educacionais, a comunicação e a interatividade. Com o uso intencional de todas as tecnologias disponíveis, o professor pode promover uma pedagogia de autoria e coautoria, ancorada em um ambiente educacional tecnológica e pedagogicamente rico, favorecendo a adoção de atitudes autônomas, criativas, colaborativas e éticas, tão necessárias à vida em um mundo complexo, em contínua e acelerada evolução.

Ainda para Neves (2009), o professor, na atualidade, assume o papel de gestor em sala de aula, principalmente quando decide usufruir dos recursos demandados pelas TIC. Nesse sentido, pode-se identificar que:

  • O professor deve ser motivador: muitas vezes, o professor em sala de aula não utiliza uma TIC, pois acredita que os alunos já as dominam de forma facilitada. Nesses casos, em virtude desse conhecimento projetado pelos alunos, cabe ao professor permitir que eles façam uso das TIC para beneficiar-se em função do conteúdo programático apresentado, como, por exemplo: se os alunos têm dificuldades na escrita, por que não usar um editor de textos para realizar um ditado?
  • O professor deve ser um líder: o professor deve conhecer a TIC inserida para transmitir o conhecimento de um determinado conteúdo. Ele deve agir estrategicamente e buscar junto aos alunos soluções colaborativas e que permitam a participação deles. É necessário lembrar que ser um líder também requer ser aprendiz.
  • O professor deve planejar: o docente deve conhecer seus conteúdos programáticos e planejar o uso das TIC em relação a eles. De nada adianta utilizar uma TIC sem o planejamento adequado, pois a intenção de uma ferramenta como esta é auxiliar o professor no processo ensino-aprendizagem e não torná-la um recurso isolado para ajudar o docente, quando este não possui suas aulas previamente preparadas.
  • O professor deve gerenciar o tempo: muitos usuários acreditaram que as TIC poderiam realizar a demissão de diversos trabalhadores. Pode-se dizer, nesse sentido, que essa informação é um conceito intagível e inadequado. O professor deve conhecer o momento certo de trazer para o ambiente escolar a relação entre a teoria e a prática, e nada mais concreto do que gerenciar o fator tempo para essa finalidade. Impor a condição de que a TIC é uma forma de aprendizado rápida, é um conceito errôneo, pois mesmo com a inserção da tecnologia, o tempo de aprendizado é relevante para que o docente ensine e o aluno aprenda o conteúdo.
  • O professor deve harmonizar os conteúdos e as tecnologias: em um ambiente, o docente deve ser o responsável pela escolha das tecnologias com que irá trabalhar no processo ensino-aprendizagem. Para isso, é preciso que o professor conheça as TIC disponíveis na escola em que se insere e, dessa forma, saiba utilizá-las de acordo com os conteúdos ministrados por ele em sala de aula.
  • O professor deve fazer a avaliação: o propósito da avaliação com o uso da TIC, deixa de ser aquela que está apenas no papel. Com o uso da tecnologia, os processos de interação e a construção do conhecimento por parte do aluno permitem que esse construa suas habilidades e demonstre competências de acordo com a evolução do aprendizado.

Na mesma linha de pensamento de Almeida, Jaques Ramos e Faria (2011) comentam que o uso das TIC exige planejamento, acompanhamento e avaliação da tecnologia selecionada, a fim de contextualizá-la ao tipo de aluno, aos objetivos da disciplina, ao modelo teórico-referencial educacional adotado. Complementando esse segmento, as autoras descrevem,

[…] a tecnologia educacional deve auxiliar o aluno na sua aprendizagem e não dificultar como também deve propiciar melhores condições de ensino e não assustar o professor, já tão sobrecarregado de atividades educacionais. No entanto, sabemos que o início de uma nova atividade é sempre difícil, por isso deve ser implantada aos poucos, passo a passo, para ter sucesso. Enfatiza-se que, […] estes docentes, por sua vez, aplicando adequadamente esta Tecnologia educacional e digital no cenário contemporâneo, sensibilizarão e ensinarão seus alunos a aderirem e a se movimentarem bem neste contexto tecnológico. Desta forma, faremos não só a inclusão digital desta parcela da população que encontrará alunos nativos digitais em suas futuras aulas, como tornar-se-ão usuários conscientes da importância da aplicação da tecnologia na educação […] (JAQUES RAMOS; FARIA, 2011, p.16-17)

Silva (2000, p.360) demonstra que educar com as TIC exige mudanças na gestão da escola e das redes de ensino:

[…] num ambiente de comunicação e conhecimento baseado na liberdade, na pluralidade e na cooperação. Algo diferente da socialização cultivada pela escola-fábrica baseada no falar-ditar do mestre e nas lições-padrão que deveriam formar o ser social […].

A ideia de Neves (2009) reforça que educar com TIC não se restringe a investimentos em infraestrutura física e tecnológica. Implantar essa nova arquitetura pedagógica exige, ainda, um conjunto amplo e articulado de ações que contemplam investimentos, primeiramente em profissionais das escolas e dos sistemas de ensino para domínio de linguagens e tecnologias; em oficinas e discussões organizadas para estabelecer princípios e políticas de trabalho, adequação dos projetos pedagógicos e avaliação; em revisão de currículo, desenho e estratégias tecnológicas dos cursos e, por fim, em sistemas de gestão e logística informatizada, entre outros.

Ao planejar a escolha da tecnologia apropriada, tem-se a oportunidade de melhorar a qualidade das atividades de sala de aula, pois um plano de tecnologia está relacionado a “pessoas e tecnologia, e prevê ações visando à aprendizagem dos alunos, mas para isso é essencial que preveja ações de formação e desenvolvimento dos professores” (ALMEIDA, 2004).

Retratando as premissas de Lévy, Barros (2007, p. 105 e 106) afirma que não somente as tecnologias devem ser exploradas em sua funcionalidade, mas a preparação dos professores é um ponto decisivo no que tange à propriedade do ensino, pois os alunos estão quase sempre prontos para a utilização das tecnologias, enquanto a maioria dos professores não. Ainda para Barros (2007), as aulas dadas tradicionalmente estão gerando desinteresse e atualização de informações pelas tecnologias por parte dos alunos, o que está abalando o conhecimento “inquestionável” dos docentes; sendo assim, o “grande desafio consiste em integrar os professores com a cultura tecnológica para o processo de ensino e aprendizagem”.

Para Moran et al. (2000, p.56),

[…] cada docente pode encontrar sua forma mais adequada de integrar as várias tecnologias e os muitos procedimentos metodológicos. Mas também, é importante que amplie, que aprenda a dominar as formas de comunicação interpessoal/grupal e as de comunicação audiviosual/telemáticas […] haverá uma integração maior das tecnologias e das metodologias de trabalhar com o oral, a escrita e o audiovisual. Não precisaremos abandonar as formas já conhecidas pelas tecnologias telemáticas, só porque estão na moda. Integraremos as tecnologias novas e as já conhecidas. Iremos utilizá-las como mediação facilitadora do processo de ensinar e aprender participativamente.

De acordo com Buzato (2001, p.18),

Professores que creem, por exemplo, que seu papel no processo ensino-aprendizagem é o de fornecer informação, e que concebem os computadores como máquinas de armazenar informação podem sentir-se extremamente ameaçados, pois em sua visão, o computador seria um professor eletrônico capaz de tomar-lhes o emprego.

Ponte (2000, p. 2) destaca que o processo de apropriação das TIC, além de ser necessariamente longo, envolve duas facetas que não se podem confundir: a tecnológica e a pedagógica:

Alguns olham-nas com desconfiança, procurando adiar o máximo possível o momento do encontro indesejado. Outros usam-nas na sua vida diária, mas não sabem muito bem como as integrar na sua prática profissional. Outros, ainda, procuram usá-las nas suas aulas sem, contudo, alterar as suas práticas. Uma minoria entusiasta desbrava caminho, explorando incessantemente novos produtos e ideias, porém defronta-se com muitas dificuldades como também perplexidades (PONTE, 2000, p. 2).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como se nota, o docente é um importante elemento nesse novo processo de interação da tecnologia com a Educação. Assim, é necessário que os professores “saibam incorporar e utilizar as novas tecnologias no processo de aprendizagem, exigindo-se uma nova configuração do processo didático-metodológico tradicionalmente usado em nossas escolas” (MERCADO, 2000, p. 14).

Para Mercado (2002, p.131),

O uso das TICs como uma ferramenta didática pode contribuir para auxiliar professores na sua tarefa de transmitir o conhecimento e adquirir uma nova maneira de ensinar cada vez mais criativa, dinâmica, auxiliando novas descobertas, investigações e levando sempre em conta o diálogo. E, para o aluno, pode contribuir para motivar a sua aprendizagem e aprender, passando, assim, a ser mais um instrumento de apoio no processo ensino-aprendizagem […]

De acordo com Almeida, permite-se com o uso da tecnologia de informação e comunicação que,

[…] temos assim a oportunidade de romper com as paredes da sala de aula e da escola, integrando-a à comunidade que a cerca, à sociedade da informação e a outros espaços produtores de conhecimento, aproximando o objeto do estudo escolar da vida cotidiana e, ao mesmo tempo, nos transformando em uma sociedade de aprendizagem e também da escrita (ALMEIDA, 2001, p. 2-3).

Greenfield (2009, p. 69-71) aponta que, embora exista uma correlação positiva entre a utilização de tecnologia e o desenvolvimento cognitivo, por outro lado, não se deve desequilibrar seu uso, pois,

[…] o desenvolvimento da mente humana ainda precisa de uma dieta de mídia balanceada, que não utilize apenas recursos virtuais, mas que também permita um amplo tempo para a leitura e para outras experiências que conduzam a importantes qualidades da mente (GREENFIELD, 2009, p. 69-71).

Para Azeredo Rios (2013), considerando recursos, plataformas e ferramentas utilizadas atualmente, vislumbram-se novos desafios. É necessário utilizar novas linguagens em favor dessas novas oportunidades de ensino-aprendizagem. Várias especialidades precisarão ser integradas para que o resultado seja consistente, ofereça desafios e possibilite saltos de aprendizagem. A autora ainda argumenta:

Aprender é algo precioso. Mas é necessário também estar disposto a reaprender, a rever o que sabemos e, as vezes, até mesmo desaprender e desligar-se de um determinado jeito de agir e de pensar que pode estar desgastado, inconsistente, fechado demais. Para isso, há que ousar, enfrentar novas ignorâncias e, então, buscar novos modos de relacionar-se, trabalhar junto, descobrir caminhos ainda não trilhados (AZEREDO RIOS, 2013, p. 43).

O argumento destacado por Azeredo Rios (2013) permite que seja feita uma análise do problema relacionado ao uso de tecnologia nas escolas: a resistência do professor em propor mudanças. Nesse sentido, percebe-se que o conhecimento disponibilizado pela Internet faz com que o docente seja subtraído da posição de detentor único do conhecimento. Para tanto, esse professor precisa lidar com uma nova realidade, que pressupõe aprender novamente, desde conhecer e exercitar práticas usando os novos recursos tecnológicos até estimular a participação do aluno de outras formas, bem como reorganizar o ambiente na sala de aula para permitir tal interação.

No que se refere ao processo ensino-aprendizagem, é preciso destacar o que identifica Bittencourt et al.  2004, p. 1-5):

O uso das metodologias tecnológicas em sala de aula leva o aluno a aprimorar a sua capacidade de aprender e de trabalhar de forma colaborativa, solidária, centrada na rapidez e na diversidade qualitativa das conexões e das trocas, aspectos essenciais para a boa convivência na atual sociedade modernizada. Portanto, para o educador conseguir permanecer inserido nesta nova realidade escolar, marcada pelo uso e evidente destaque das tecnologias, o passo inicial é a busca de capacitação e preparo para utilizar tais ferramentas em sala de aula.

Demo (1993, p.19), afirma sobre a postura do professor no atual contexto educacional:

Elemento humano responsável pelo ambiente de aprendizagem, origem das interações e inter-relações entre os indivíduos participantes do ambiente educacional, testemunhas de outras mudanças e experiências, condicionado por uma educação do passado e marcado por ela (…) o professor deverá firmar um novo compromisso com a pesquisa, com a elaboração própria, com o desenvolvimento da crítica e da criatividade, superando a cópia, o mero ensino e a mera aprendizagem, uma postura que deverá manter quando estiver trabalhando num ambiente informatizado.

Com o intuito de buscar informações que diferenciem o ensino tradicional e o processo ensino-aprendizagem com a inserção de novas tecnologias, autores como Pinheiro e Gonçalves (2001) idealizaram o Quadro 1, o qual reflete essa comparação.

Quadro 1 – Diferenças entre o ensino tradicional e com o uso das TIC

Ensino Tradicional Ensino com uso das TIC
Professor
  • O professor é o centro do processo ensino-aprendizagem.
  • Não estimula a participação ativa do aluno.
  • Impõe a disciplina pela autoridade.
O professor atua como incentivador da

Aprendizagem.

Adapta o ensino às capacidades e limitações dos alunos.

Promove a cooperação e a iniciativa dos alunos em sala de aula.

Aluno O aluno é predominantemente passivo.

Não é estimulado a desenvolver iniciativas.

O aluno é essencialmente ativo.

Tem autonomia para criar seus próprios esquemas de investigação e resolução de problemas.

Prática Pedagógica Objetivo de ensino: assimilação dos conteúdos.

Conteúdos: sequência lógica, exposição predominantemente verbal.

Procedimentos: execução passiva das instruções/informações do professor por parte do aluno.

Avaliação: destina-se a averiguar quanto os estudantes aprenderam do que lhes foi ensinado para que possa atribuir notas no final do processo.

Objetivo de ensino: capacidade de análise, síntese, relação, comparação e avaliação.

Conteúdos: atividades diversificadas variando conforme o interesse dos alunos.

Procedimentos: aluno incentivado a refletir sobre as informações recebidas.

Avaliação: finalidade de contribuir para a formação do aluno.

Fonte: Adaptado de Pinheiro e Gonçalves (2001)

Assim, as TIC tornam-se parte de um sistema de relações, dificultando a demarcação do que é tecnológico e do que é social. Considerando essas ideias, Bruce (1997) indica que é difícil imaginar um mundo atual em que haja ausência de tecnologia ou, ainda, em que ela possa ser vista como algo inacessível.

REFERÊNCIAS

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VEEM, W.; VRAKKING, B. Homo Zappiens: Educando na era digital. Porto Alegre: Artmed, 2009. 139p.

[1] Doutora em Educação Escolar

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