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Jogos e brincadeiras africanas: possibilidades para trabalhar a africanidade e interdisciplinaridade na escola

RC: 127982
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CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

TROG, Scheila Daniele [1], BRASILEIRO, Laise Roseira Biscaia [2], EMILIANO, Célia Lima [3]

TROG, Scheila Daniele. BRASILEIRO, Laise Roseira Biscaia. EMILIANO, Célia Lima. Jogos e brincadeiras africanas: possibilidades para trabalhar a africanidade e interdisciplinaridade na escola. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 09, Vol. 06, pp. 32-42. Setembro de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/brincadeiras-africanas

RESUMO

No Brasil grande parte da população possui origens africanas, seus diferentes costumes fazem parte da cultura do nosso país, foram e são transmitidos ao longo das gerações. Exemplo disso, são as brincadeiras que eram passadas dos pais para os filhos e que existem até os dias atuais. Sabendo das dificuldades que o professor encontra em trabalhar o tema africanidade de maneira interdisciplinar e de forma que seja atrativo para o aluno, pergunta-se: quais as possibilidades de se trabalhar este tema em sala de aula? Ciente disso, este artigo tem como objetivo apresentar algumas alternativas de trabalhar este conteúdo usando como estratégia didática a ludicidade através dos jogos e brincadeiras. Além disso, busca-se valorizar a cultura africana e ainda reduzir os preconceitos velados que acontecem dentro das instituições de ensino. Esse trabalho caracteriza-se como pesquisa bibliográfica. Ao final, conclui-se que os jogos e brincadeiras são uma ferramenta do professor trabalhar a matriz africana dentro do espaço escolar de maneira não só a cumprir a lei, mas também conscientizar o personagem mais importante da escola: o aluno.

 Palavras-chave: Brincadeiras Africanas, Mancala, Labirinto, Terra/Mar, Matakuzana.

1. INTRODUÇÃO

É notório que o Brasil possui uma grande porcentagem da sua população de origem africana. Eles que vieram para o Brasil como escravos e trouxeram junto inúmeros costumes da cultura africana. Estes foram transmitidos ao longo das gerações, um exemplo de cultura são os jogos e brincadeiras praticadas em seu antigo continente (DIAS, 2011). Porém, esses costumes, ao longo do tempo, foram atribuídos muitas vezes à cultura de outros povos ou misturados a eles para continuar existindo.

O que nos leva a crer que o contexto da escravidão fez com que aceitasse as possibilidades lúdicas que o ambiente oferecia. Já que poucas eram as chances de transmitir suas brincadeiras se não mascaradas em outras já existentes na época.  Porém como evidência Alves (2021, p. 26) “mesmo que as crianças africanas não pudessem compartilhar e vivenciar a cultura de sua terra, estes sempre a carregam consigo, sempre eram lembradas e ensinadas pelas mães.”.

Outro fato importante e merece nosso enfoque são os inúmeros casos de preconceitos presentes na sociedade. Assim como mostrado por Ferreira e Camargo (2011) em nossa sociedade a população afrodescendente é considerada um grupo inferior e de cultura indigna, sofrendo com o chamado racismo. “Essa violência epistêmica é estabelecida a partir de um imaginário onde o outro, o não eurocêntrico, é representado como atrasado ou não representado (GONÇALVES, 2020, p. 28)”.

Essas atitudes mostram a quão inferiorizada é a cultura do povo africano, sendo que na escola eles ganham visibilidade apenas no período da escravidão, reforçando a ideia de um ser reduzido e trabalhador braçal (SANTOS E NETO, 2011).

Não se pode fechar o olho, frente às situações de preconceito, racismo e discriminação que ainda acontecem de forma individual e institucional. Ideias pré-concebidas estão enraizadas na sociedade e para desconstruí-las fazem-se necessárias, além de estudos, algumas ações.

Nesse sentido, a Lei nº 10.639 de 9 de janeiro de 2003 torna obrigatório o estudo da cultura afro-brasileira em todos os níveis e modalidades de ensino, porém estar no papel não significa que está acontecendo (BRASIL, 2003).

É preciso dar acesso aos professores e aos alunos às vivências lúdicas da cultura africana e afro-brasileira. Reduzindo assim equívocos e preconceitos em relação às questões raciais e concretizar os objetivos antidiscriminatórios da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), no 9.394/96 (CUNHA, 2016).

Pensando nisso, quais as possibilidades de trabalhar este tema na escola? Mediantes ao exposto o presente artigo tem como objetivo apresentar algumas possibilidades de trabalhar o conteúdo africanidade de maneira interdisciplinar, usando como estratégia didática a ludicidade através dos jogos e brincadeiras africanas.

Esse trabalho caracteriza-se como pesquisa bibliográfica, pois segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 47), este tipo de pesquisa se baseia em bibliografias já tornadas públicas, tendo em vista o tema a ser estudado.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 A APLICAÇÃO DA LEI

Um pequeno passo foi dado no sentido com a criação da lei 10.639/03, que trata de incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”. Em 2008 veio a lei 11.645/08 reforçando sua obrigatoriedade e também colocando no rol de obrigações escolares o estudo da História e da Cultura Indígena no Brasil (BRASIL, 2010).

Essas mudanças foram realizadas com muita luta e reinvindicações do Movimento Negro Unificado, que organizava uma série de ações e projetos em prol ao reconhecimento dos negros no Brasil (GONÇALVES, 2020).

Aliado a esse avanço as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, afirmam que:

O parecer procura oferecer uma resposta…no sentido de políticas de ações afirmativas, e de reconhecimento e valorização de sua história, cultura, identidade. Propõe a divulgação e produção de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial, descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos (BRASIL, 2004, p. 10).

Cabe lembrar que os Parâmetros Curriculares Nacionais de 1997, indicam como um dos objetivos do ensino fundamental, que o aluno possa apropriar-se de “…valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como de outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais. (BRASIL, 1997)”.

Em concordância com a lei e os parâmetros curriculares, vem à criação em 16 de setembro de 2015 a 1ª versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) disponibilizada e amplamente discutida até a chegada da sua terceira versão em 2018. Apenas em 14 de dezembro de 2018 foi homologada pelo ministro da Educação, Rossieli Soares, assim o Brasil tem um norteamento para as aprendizagens previstas para toda a Educação Básica (BRASIL, 2018).

Tanto a BNCC quanto os currículos têm a missão de desenvolver o homem integralmente, a vida do ser humano é constantemente afetada pelo meio social em que vive, o sistema de ensino não pode ficar alheio a este conceito. Consequentemente, todas as esferas de ensino têm a obrigação de trabalhar temas que estão permeando o dia a dia das pessoas. Estes temas devem estar interligados e acontecer de forma interdisciplinar.

Alguns exemplos de temas expostos são: direitos da criança e do adolescente (Lei nº 8.069/1990) … educação das relações étnico-raciais e ensino de história e cultura afro-brasileira, africana e indígena (Leis nº 10.639/2003 e 11.645/2008, Parecer CNE/CP nº 3/2004 e Resolução CNE/CP nº 1/2004) (BRASIL, 2018, p. 19).

Além disso, a BNCC estabelece como objeto de conhecimento desde o 3º ao 5º ano “jogos e brincadeiras e dança populares de matriz indígena e africana” onde a habilidades a serem trabalhadas são:

(EF35EF01) Experimentar e fruir brincadeiras e jogos populares do Brasil e do mundo, incluindo aqueles de matriz indígena e africana, e recriá-los, valorizando a importância desse patrimônio histórico cultural. (EF35EF02) planejar e utilizar estratégias para possibilitar a participação segura de todos os alunos em brincadeiras e jogos populares do Brasil e de matriz indígena e africana. (EF35EF03) Descrever, por meio de múltiplas linguagens (corporal, oral, escrita, audiovisual), as brincadeiras e os jogos populares do Brasil e de matriz indígena e africana, explicando suas características e a importância desse patrimônio histórico cultural na preservação das diferentes culturas. (EF35EF04) Recriar, individual e coletivamente, e experimentar, na escola e fora dela, brincadeiras e jogos populares do Brasil e do mundo, incluindo aqueles de matriz indígena e africana, e demais práticas corporais tematizadas na escola, adequando-as aos espaços públicos disponíveis (BRASIL, 2018, p. 229).

2.2 OS JOGOS DE MATRIZ AFRICANA E SUA INFLUÊNCIA NO BRASIL

Sabemos que a escola é um espaço que se encontram diferentes variantes culturais e é nela que a formação e aprendizado dos alunos de fato devem acontecer.

Nesse contexto destacamos a grande influência africana na cultura brasileira, não apenas com jogos e brincadeiras, mas também através da culinária, vocabulário, danças, músicas, religião e mais. Algumas contribuições não são relacionadas à cultura africana devido à aculturação, onde ocorre a mistura que, a certa altura, é difícil saber de onde vieram, é o caso por exemplo das brincadeiras.

Porém a aculturação dos jogos e brincadeiras pode ter sido um fenômeno conhecido de resistência cultural. A persistência da existência desses jogos foi fruto da tradição oral e da transmissão de conhecimento entre as gerações (KISHIMOTO, 2013). Dessa forma, as atividades desenvolvidas não podem ser isoladas buscando de maneira prazerosa unir as disciplinas teóricas com a ludicidade.

Sendo assim, trabalhar com os jogos africanos no dia a dia da escola trará inúmeros benefícios, pois a criança aprenderá de maneira divertida e educativa, estimulando a competitividade e ainda valorizando a origem da brincadeira demonstrando que a prática está no imaginário popular de todos os povos.

[…] um método eficaz que possibilita uma prática significativa daquilo que está sendo aprendido. Até mesmo o mais simplório dos jogos pode ser empregado para proporcionar informações factuais e praticar habilidades, conferindo destreza e competência (SILVEIRA; BARONE, 1998, p. 02).

Ao fim o professor só tem a lucrar utilizando os jogos e brincadeiras africanas, seja para simples divertimento e/ou como forma didática de introduzir um novo assunto, pois partindo das brincadeiras poderá aguçar a curiosidade nos alunos, buscando assim proporcionar um conhecimento que muitas vezes não é abordado adequadamente nos espaços escolares, contribuindo significativamente para o avanço dos seus discentes.

Portanto, os jogos possibilitam aos alunos apropriarem-se de conteúdos brincando. Conforme Vygotsky (1987):

…jogos e brincadeiras são excelentes formas de aprendizado. Através deles pode-se simular situações, desenvolver a criatividade, a imaginação, a interação e a socialização. O brincar, é mais do que diversão, é uma forma de interagir com a realidade, principalmente para as crianças.

2.3 A ORIGEM DAS BRINCADEIRAS COMO JOGAR E SUAS APLICABILIDADES 

2.3.1. BRINCADEIRA TERRA/MAR

Para a autora Cunha (2016) essa brincadeira teve origem no país Moçambique.  Faz parte da cultura desse povo que foi transmitida de geração para geração e se espalhou pelo mundo sendo adaptada no Brasil. É uma brincadeira simples que exige concentração dos participantes (PERSIGUELO, 2015, p. 20).

Tem como objetivo desenvolver a concentração, atenção auditiva, pois o participante necessita estar focado e atento no comando que será dado, bem como a motricidade ampla. Bem simples de brincar, porém muito fascinante para as crianças de todas as idades.

Para iniciar, risca-se uma linha reta no chão, onde de um lado está o “MAR” e de outro a “TERRA”. No começo todas as crianças ficam do lado da TERRA, escolhe-se uma terceira pessoa para falar: ao ouvirem MAR todos pulam para o lado do MAR, o mesmo acontece quando se grita TERRA. Quem pular para o lado errado sai da brincadeira, vencendo o último que ficar.

Partindo desta brincadeira o professor pode trabalhar o espaço geográfico de Moçambique, pois seu território ao sul e a leste é banhado pelo Oceano Índico, bem como as características e a cultura do povo, valorizando assim a diversidade e contribuindo para a construção do conhecimento e a criticidade no aluno.

2.3.2 BRINCADEIRA LABIRINTO

Também teve origem no país Moçambique (CUNHA, 2016). Pode ser brincada em qualquer lugar, seja na quadra ou pátio da escola.

Para jogar precisa apenas de dois jogadores. O professor traça no chão com giz um labirinto, o jogo inicia com as crianças na extremidade externa do labirinto. Após escolher quem inicia o jogo, o participante esconde uma tampinha na mão para que o adversário possa adivinhar onde está, caso acerte avança uma casa para a posição seguinte. Devendo se repetir várias vezes. Vence o jogo quem percorrer todo o caminho.

Existem algumas variações desse jogo, podendo trocar as tampinhas por pedrinhas. Outra alternativa para que se possa avançar no labirinto, é o jogo “jo ken po”. Pode–se também incluir uma terceira pessoa que será o juiz e poderá auxiliar caso alguém não jogue corretamente ou infrinja alguma regra.

Nesta brincadeira é importante destacar que desenvolve a concentração, bem como a atenção e a valorização da cultura africana, contribuindo assim para o aprendizado dos alunos.

2.3.3  JOGO MATACUZANA

Segundo Maranhão (2009) o jogo matacuzana permite explorar um pouco da história de Moçambique, aspectos geográficos e as semelhanças com alguns jogos desenvolvidos no Brasil. Aqui no Brasil, especialmente no Sul, este recebe o nome de CINCO MARIAS. Em Moçambique é utilizado a semente de uma planta sazonal o que propicia o jogo somente em algumas épocas do ano, uma vez que está diretamente relacionado com a colheita desta semente.

A matacuzana veio com os escravos de Moçambique, onde também se fala a língua portuguesa. Junto a ele vieram também outros jogos que se utilizam de pedrinhas. Uma brincadeira simples onde se usam algumas pedrinhas e um buraco no chão. Pode ser improvisado também com tampas de garrafas e bolinhas de papel. No lugar do buraco no chão é possível também improvisar com uma cartolina abrindo um círculo no meio.

Para jogar é necessário no mínimo dois jogadores. Cada um deve ter uma pedrinha na mão e dentro do buraco no chão uma porção delas.  O jogo consiste em jogar a sua pedrinha para cima, retirar quantas puder do buraco e ainda pegar a pedrinha que jogou sem deixar cair no chão.

Cada um deve ir jogando até tirar todas as pedras do buraco. Se errar perde a vez. Ganha quem conseguir o maior número de pedrinhas.

Para que o jogo se torne mais interessante podem combinar outras variações, como por exemplo, tirar duas pedrinhas de cada vez do buraco, determinar a cor que deve ser pega, jogar duas pedrinhas para cima, virar a mão para receber a pedrinha e outras que permitam a sua criatividade.

Ao conhecer esse jogo os alunos terão a oportunidade de aprender sobre a cultura afro-brasileira dos jogos e brincadeira, além de indiretamente melhorar a coordenação motora ao tentar pegar as pedrinhas. Também contribuirá para o conhecimento geográfico sobre as origens da brincadeira.

2.3.4 JOGO MANCALA

O jogo Mancala possui tradição milenar. Há registros arqueológicos de que o tabuleiro mais antigo dos jogos de semeadura foi achado em escavações no Egito no templo de Karnak. (SANTOS e NETO, 2011, p. 13).

Consiste em um jogo de tabuleiro, praticado em diversas partes do mundo, embora variem as regras, a forma de jogar é basicamente a mesma. Está diretamente relacionada com a colheita e semeadura. Segundo Santos e Neto (2011) esta é uma das brincadeiras das mais antigas, sendo até mesmo impossível especificar sua origem.

Para jogar Annunciato (s.d.) descreve que são necessárias duas pessoas e 36 sementes, um tabuleiro contendo 12 cavas e dois oásis (para guardar as sementes ganhas).  Cada cava deverá ter três sementes e os dois Oásis ficarão vazios. Os participantes do jogo ficam de frente uma para o outro. Para iniciar o jogo um participante escolhe uma das cavas do seu lado, pegará todas as sementes que estão nela e distribuirá no sentido anti-horário. Caso passe por seu Oásis, deixará uma semente e continuará semeando nas cavas do adversário, caso a última semente seja semeada no seu Oásis o jogador poderá jogar novamente. Se semear em uma casa vazia sua, poderá pegar todas do adversário que estão do outro lado. Quando não for mais possível semear no campo do adversário, os jogadores recolhem todas as sementes de suas cavas juntam com a do Oásis e contam, quem possuir o maior número ganha o jogo.

As possibilidades adquiridas por esse jogo vão além da cultura afro-brasileira, pois envolve o raciocínio lógico e criação de estratégias. Além disso, o aluno terá a oportunidade de aprender sobre os Faraós egípcios já que o jogo surgiu com a realeza e ainda envolve técnicas agrícolas de semeadura.

2.3.5 BRINCADEIRAS AMARELINHA AFRICANA

Originária do país Moçambique, é diferente das amarelinhas tradicionais não possui vencedores e utiliza música e ritmo para brincar (PERSIGUELO, 2015).

Essa brincadeira tem sua origem em Moçambique, um país do continente africano. É um jogo usado como forma de trabalhar a diversidade, que traz a cultura de outra região na linguagem das crianças. A brincadeira africana desenvolve também a coordenação e a cooperação. E quando há mais crianças, o trabalho em equipe é fundamental para que todas estejam pulando no quadrado, sem dar encontrões.

Ela é uma brincadeira que utiliza o ritmo marcado para sua realização e isso pode ocorrer com música tocada, cantada ou apenas com o ritmo das palmas

Como comentado por Marques (s.d.), a amarelinha africana, também pode ser conhecida com o nome de teca-teca. Para brincar o participante precisa de um quadrado de 4×4 com um total de 16 quadrados menores. A marcação dos saltos precisa ser definida antes pelos participantes para então iniciar a brincadeira. A maneira mais simples de jogar é quando um jogador se posiciona de frente para o primeiro quadrado do lado esquerdo, em seguida salta com um pé em cada quadrado da primeira fila, então saltará lateralmente para a esquerda e retornará sempre deslocando-se com um pé em cada quadrado. Na sequência, saltará para a fileira da frente e fará o mesmo, nesse instante o próximo jogador já pode entrar. Dessa forma segue a brincadeira deslocando-se, então, para as demais fileiras.

É importante ressaltar a importância dessa brincadeira, pois desenvolve nos alunos a cooperação e a coordenação, principalmente quando há muitas crianças, o trabalho em equipe é essencial para o bom andamento da amarelinha. Destacamos também a criticidade e o ritmo, visto que as crianças podem criar seus próprios movimentos.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabe-se que jogos e brincadeiras são fundamentais no desenvolvimento infantil, dessa forma devem estar presentes nos espaços educacionais, sendo de extrema relevância que os professores trabalhem com efetividade e qualidade tal tema.

Sendo assim, buscando oportunizar a igualdade entre as pessoas de todas as raças, faz-se necessário construir uma educação que venha de encontro com o que está presente na atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Contudo, para alcançar esse objetivo os docentes devem trabalhar em sala de aula a cultura do povo africano, e também abordar essa temática através dos jogos e brincadeiras.

O uso dos jogos como meio didático pode ajudar para uma aprendizagem significativa, desde que os alunos sejam envolvidos neste processo como protagonistas. Assim é possível enfatizar as brincadeiras como sendo uma ação específica do ser humano, possibilitando um aprendizado efetivo promovido no espaço escolar mediante a participação ativa do aluno, como menciona Vygotsky (1987), a brincadeira é uma atividade prazerosa onde as crianças usam a sua imaginação e fazem novas conexões e ressignificando a construção de novos saberes.

Nesse contexto, os jogos e brincadeiras de origem africana são uma importante ferramenta no espaço escolar, vindo a somar significativamente com as demandas atuais do currículo, contribuindo para a formação de um ser humano capaz de valorizar a diversidade étnica-cultural, trabalhar a autoestima do aluno negro, bem como reduzir o preconceito institucional.

REFERÊNCIAS

ALVES, Luiza. Maíres Silva. Brincadeiras e jogos de raízes africana e indígena em poço redondo (se). Monografia (Graduação em Educação Física) – Centro Universitário AGES. Paripiranga, 2021.

ANNUNCIATO, Pedro; KRAUSE, Maggi. Um jogo para semear, colher e contar. Nova Escola, s.d. Disponível em https://novaescola.org.br/conteudo/9104/um-jogo-para-semear-colher-e-contar. Acesso em: 29/01/2022.

BRASIL, Diretrizes curriculares nacionais para educação das relações étnicas-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Brasília, DF: SECAD, 2004.

BRASIL, Ministério da Educação, 1997. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Brasília, MEC/SEF.

BRASIL. Lei 10.639/2003, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9. 394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília.

BRASIL. Lei 11.645/08 de 10 de março de 2008. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, 18 de abril de 2010.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.

CUNHA, Débora Alfaia da. Brincadeiras africanas para a educação cultural. Edição do autor Castanhal, PA, 2016.

DIAS, Filhos Antônio Jonas. Africanidades: Jogos, brincadeiras e cantigas. São Paulo – SP: Ciranda Cultural, 2011.

FERREIRA, Ricardo Frankllin; CAMARGO, Amilton Carlos. As relações cotidianas e a construção da identidade negra. Psicologia: Ciências e Profissão, vol. 31, n. 2, p. 374-389, 2011. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1414-98932011000200013 Acesso: 28/01/2022.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2003.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida (Org.). O Brincar e suas teorias. São Paulo: Cengage Learning, 2013.

MARANHÃO, Fabiano. Jogos Africanos e Afro-Brasileiros nas Aulas de Educação Física: Processos Educativos das Relações Étnico-Raciais. São Carlos: UFSCar, 2009.

MARQUES, João Paulo. Amarelinha Africana. Todo estudo, s. d. Disponível em https://www.todoestudo.com.br/educacao-fisica/amarelinha-africana. Acesso em 05/02/2022.

GONÇALVES, Vanessa Oliveira. Relações étnico-raciais no ensino de ciências da natureza – Uma análise dos livros didáticos dos anos finais do ensino fundamental. Anápolis, 2020. Dissertação (Mestrado – Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Ensino de Ciências) — Câmpus Central – Sede: Anápolis – CET, Universidade Estadual de Goiás, 2020. Disponívelem:<https://www.bdtd.ueg.br/bitstream/tede/735/2/1_Dissertacao_Vanessa_2020.pdf> Acesso em 23/01/2022.

PERSIGUELO, Adriana Leite; IVANO, Rogério. Jogos e brincadeiras na formação das culturas africana e afro-brasileira: integração e valorização da história. Governo do ParanáOs Desafios Da Escola Pública Paranaense Na Perspectiva Do Professor Pde. p. 1-13. 2013. Disponível em: <http://www.diadiaeducação.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2013/2013_uel_his_artigo_adriana_leite_persiego.pdf> Acesso em 15 de outubro de 2021.

SANTOS, Marzo Vargas; NETO, Vicente Molina. Aprendendo a ser negro: a perspectiva dos estudantes. Caderno de pesquisa, v. 41, n. 143, p. 516-537, 2011. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/cpv41n143/a10v41n143.pdf> Acesso em: 15 de outubro de 2021.

SILVEIRA, Sidnei Renato; BARONE, Dante Augusto Couto. Jogos Educativos computadorizados utilizando a abordagem de algoritmos genéticos. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Informática. Curso de Pós-Graduação em Ciências da Computação. 1998.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1987.

[1] Graduada em Educação Física-Licenciatura pela Unicentro, Graduada em Educação Física-Bacharelado pela Unicentro, e Pós-Graduada em Fisiologia do Exercício Aplicada a Atividade Física PUC-PR. ORCID: 0000-0003-4465-3225.

[2] Pós-graduação – Gestão escolar: supervisão e orientação. Graduação – Pedagogia – magistério para a educação básica. ORCID: 0000-0001-5578-8534.

[3] Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Especialista em magistério 1º e 2º graus; Especialista em Educação a Distância. Professora da Educação Básica pela Secretaria Municipal de Educação de Ponta Grossa. Tem experiência na área de tutoria pelo Núcleo de Tecnologia em Educação a Distância (NUTEAD) – UEPG.

Enviado: Março, 2022.

Aprovado: Setembro, 2022.

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Scheila Daniele Trog

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