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A Dança na Escola: Estudo de Caso

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CONTEÚDO

AMARAL, Cristiane do [1]

SANTOS, Marcelo Soares dos [2]

MARTINS, Selma Alves [3]

BORRAGINE, Solange de Oliveira Freitas [4]

AMARAL, Cristiane do. A Dança na Escola: Estudo de Caso. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Edição 04. Ano 02, Vol. 01. pp 714-732, Julho de 2017. ISSN:2448-0959

RESUMO

Esta pesquisa tem o objetivo de identificar e analisar como o conteúdo dança é compreendido pelos professores de Educação Física, quais as dificuldades apresentadas no contexto das aulas e discutir sobre sua importância e seus benefícios para alunos da Educação Básica. Para essa finalidade utilizou-se como metodologia o estudo de caso que, segundo Gil (2001), é o estudo profundo de um ou de poucos objetos, permitindo um amplo e detalhado conhecimento. Quanto a abordagem ela é quanti-qualitativa. Como instrumento de coleta de dados, foi utilizado um questionário, com questões fechadas e abertas que foi respondido por 11 professores de Educação Física de 05 escolas, sendo três municipais e duas estaduais de Itapevi e Carapicuíba, municípios da grande São Paulo. A pesquisa é baseada nos estudos de Oliveira (2014) e na fundamentação teórica de autores como Ferreira (2009) e Rohr (2012), dentre outros que discutem sobre a importância da dança nas aulas de Educação Física. Por meio da dança o aluno pode explorar a cultura corporal com os mais variados movimentos, os quais tendem a expressar sentimentos e valores que nem sempre são expressos de outra maneira. Inserindo a dança nas aulas, os alunos terão conhecimentos de movimentos corporais e vantagens para o bem-estar mental, físico, social e psicológico. O estudo nos indica que os professores entendem a Dança como um conteúdo importante a ser tratado nas aulas de Educação Física, no entanto ainda se percebe inúmeras controvérsias e dificuldades em relação a sua efetiva aplicação nas aulas.

Palavras-chaves: Dança, Conteúdos, Educação Física Escolar, Professor de Educação Física.

INTRODUÇÃO

Segundo Coletivo de Autores (1992) as aulas de Educação Física contemplam em si uma imensa variedade de conteúdos, atividades de manifestações corporais criadas pelo homem ao longo dos anos, podendo ser classificadas por: esportes, jogos, brincadeiras, danças, ginásticas, lutas e outros.

A Educação Física esteve presente na vida do homem, desde os tempos mais remotos, assumindo diferentes formas, conceitos e nomes. A Educação Física escolar tem como meta contribuir com o processo de formação do homem, tanto em seu aspecto físico como social, onde devem ser aperfeiçoados os movimentos naturais.

Desde o período pré-histórico, antes mesmo da fala, o homem já experimentava diferentes formas de movimentos e se utilizava do ritmo e/ou do movimento para expor suas emoções, como por exemplo, em seus rituais religiosos ou sagrados, podendo citar a dança da chuva, dança do acasalamento, dança do agradecimento, etc. (CARBONERA e CARBONERA, 2008).

Hoje a experimentação dos movimentos pelos alunos em fase escolar está diretamente ligada à Educação Física, levando o executante ao autodescobrimento e às possibilidades de expressarem-se corporalmente. Para isso, é importante que o educando goste de participar das aulas de Educação Física, sejam elas práticas ou não, que se sinta parte dela e não excluso. Para um maior aproveitamento e conhecimento é importante que o aluno tenha prazer em participar das aulas, entendendo os conteúdos da área como significativos para sua vida.

É muito importante que o profissional de Educação Física tenha o conhecimento dos benefícios proporcionados pelos diversos conteúdos da área, dentre eles, a dança, a fim de que possam incluí-las de forma mais eficiente em suas aulas. Essas vivências podem contribuir para uma melhor formação do indivíduo, partindo do princípio que haverá melhor convivência e respeito entre as diferenças culturais, religiosas, físicas, etc., além de possibilitar maior conhecimento sobre seu corpo.

A dança educação traz benefícios e vantagens para o bem-estar mental, físico, social e psicológico do ser humano e pode abraçar a educação, a arte e a terapia ao mesmo tempo. Com isso, é possível entender a importância da Educação Física escolar como contexto de movimento corporal com seus desafios e avanços, também por meio da dança (ROHR, 2012).

Num país onde a diversidade cultural tem na dança uma de suas expressões mais significativas, ela se constitui em um amplo leque de possibilidades como fator de fundamental importância nas escolas. “A dança na escola pode contribuir para que os educandos adotem atitudes de valorização e apreciação das manifestações expressivas e culturais brasileiras”. (FERREIRA, 2009, p. 11).

Apesar da importância da dança na área da Educação Física escolar ainda ocorre tensões decorrentes de diferentes pensamentos a respeito do conceito e da sua prática. Infelizmente existem pessoas que acreditam que a dança sirva apenas para relaxamento, recreação, como instrumento de concentração ou ainda, que na escola a dança sirva apenas para os dias de eventos especiais.

Nosso trabalho, portanto, tem o objetivo de identificar e analisar como o conteúdo dança é compreendido pelos professores de educação física, quais as dificuldades apresentadas no contexto das aulas e discutir sobre sua importância e seus benefícios para alunos da Educação Básica.

Para essa finalidade utilizamos como metodologia o estudo de caso que, segundo Gil (2001), é o estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos para permitir um amplo e detalhado conhecimento. Sua abordagem é quanti-qualitativa e o instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário, com questões fechadas e abertas que foi respondido individualmente por11 professores de Educação Física de 05escolas da região de Carapicuíba e Itapevi. As perguntas contidas no questionário abordam aspectos para identificar: se o conteúdo dança é desenvolvido nas aulas de Educação Física; se existem dificuldades para se  trabalhar a dança na escola; como a dança nas aulas de Educação Física é compreendida pelos professores, entre outras.

A pesquisa será baseada nos estudos de Oliveira (2014) e na fundamentação teórica das autoras Ferreira (2009) e Rohr (2012), dentre outras, que discutem sobre a importância da dança nas aulas de Educação Física.

Por meio da dança, o aluno pode explorar a cultura corporal com os mais variados movimentos, os quais tendem a expressar sentimentos e valores que nem sempre são expressos de outra maneira. Inserindo a dança nas aulas, os alunos poderão adquirir conhecimentos de movimentos corporais e vantagens para o bem-estar mental, físico, social e psicológico.

1. A DANÇA

A dança é conhecida como a mãe das artes, uma vez que, assim como a música, acredita-se que tenha sido uma das primeiras manifestações artísticas do ser humano. De acordo com Rohr (2012) a dança sempre existiu, seja quando o homem dançava para si para agradar alguém ou para entreter uma plateia.

Segundo Carbonera e Carbonera (2008), na história é possível perceber as características de um povo por meio de sua dança, ficando claras as suas demonstrações de tristeza, ansiedade e necessidade cultural e pessoal. A dança possui muitos amantes e adeptos, pois é uma forma de arte que cativa e encanta a qualquer nível social. O interesse do ser humano pela dança acontece, também, por ser essa forma de arte que engloba a visão, a audição (geralmente vem acompanhada pela música) e, muitas vezes, o tato (dança de pares).

A dança apresenta distinção e a junção entre o corpo e a alma, físico e emoção, técnica e talento, utilizando-se da precisão, equilíbrio, domínio corporal, graciosidade, fluência, continuidade e experiência. (ROHR, 2012).

Para Vargas (2003) a dança é entendida como possibilidade de comunicação por gestos e posturas, tendo como características comuns a intenção explícita de expressão e comunicação por meio dos gestos, com presença de ritmos, sons da música na construção da expressão corporal, que pode ser trabalhado em grupo ou individualmente.

O autor supracitado ainda registra que a dança pode estar ligada às manifestações da cultura de um povo que tem como característica, a vontade de comunicar-se e expressar-se por meio de gestos, utilizando-se de estímulos sonoros como referência para o movimento do corpo. Desta forma, essas atividades apresentam vantagens no que diz respeito ao movimento, flexibilidade, noção espacial e temporal, equilíbrio e desenvolvimento cognitivo.

De modo geral, a dança busca desenvolver o indivíduo como um todo, Garcia e Haas (2003) descrevem isso, quando apresentam que ela é capaz de:

Promover a melhoria e o aperfeiçoamento das qualidades físicas do ser humano, em especial, a coordenação motora, agilidade, equilíbrio, resistência e velocidade. Promover o desenvolvimento e a melhoria da natureza socioemocional e afetiva do ser humano, no sentido de despertar potencialidades sociais (positivas), como cooperação, socialização, solidariedade, liderança, compreensão, laços de amizade/de apego, etc. Promover o desenvolvimento e a melhoria da natureza cognitiva do ser humano no sentido de despertar potencialidades reflexivas, como raciocínio, atenção, concentração, criatividade, senso estético. (GARCIA e HAAS, 2003, p.38).

Nascimento (2011), em seus estudos, indica que a dança se utiliza do corpo em movimento como um meio de expressão, comunicação e criação, logo, o movimento é a possibilidade que o ser humano tem de transmitir seus sentimentos.

Garaudy (1980), citado pela autora acima, ao expressar sua ideia de dança como linguagem corporal, diz que ela nasce da necessidade de “se dizer o indivisível, revelando através dos gestos e da sua forma de expressão corporal estes sentimentos e emoções”. (p. 08).

Para Laban (1990), a Dança é uma forma desencadeadora de movimento, e é, como todas as artes, uma tentativa de resposta ás questões colocada por determinada época. Ela reflete o que os homens estão buscando em sua forma de vida, Dançar é um estado de espírito que conduz a realização de nosso íntimo. A Dança nos leva a transcender do cotidiano até a vida material. (Apud NASCIMENTO, 2011, p. 08).

Sobre a dança no contexto escolar, Ossona (1988) citado por Nascimento (2011) indica que ela é um campo de aprendizagem privilegiado, uma vez que é uma forma de arte que não necessita de grande diversidade de materiais para ser ensinada, já que envolve em grande parte, apenas o corpo e seus movimentos. Assim, é possível encontrar a dança em todos os lugares, uma vez que, para dançar não são necessários materiais específicos e, entende-se por isso, que ela tenha se tornado uma ação bastante popular.

2. A EDUCAÇÃO FÍSICA NO PROCESSO EDUCACIONAL

O termo Educação Física transmite a ideia de controle do corpo ou, ainda, de controle do físico. Educar, desde o século XVII, é uma ação que está intimamente relacionada à disciplina corporal e Freire citado por Dias (2014) discute esse ponto, quando sinaliza que o senso popular ainda entende que o corpo fica sentado e parado, sem atrapalhar o exercício de raciocínio e de aprendizado feito pela mente.

Quando foi inserida no currículo escolar, a Educação Física era entendida como um movimento para a prática da ginástica, com o objetivo de deixar o corpo saudável. Após inúmeras discussões e muitas reformas nas finalidades da Educação Física, ela é agora entendida como uma disciplina complexa que deve, além de trabalhar suas próprias especificidades, também deve se inter-relacionar com os outros componentes curriculares. (DIAS, 2010).

Segundo diretrizes apresentadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais–PCNs (BRASIL, 1997), documento oficial do Ministério da Educação, sendo disciplina curricular obrigatória na Educação Básica, a Educação Física deve ser constituída em três blocos:

Jogos, Ginásticas, Esportes e Lutas Atividades rítmicas e expressivas
Conhecimentos sobre o corpo

 

Esse documento indica que esses três blocos são relacionados entre si e podem ou não ser trabalhados em uma mesma aula. O primeiro bloco “jogos, ginásticas, esportes e lutas” pode ser compreendido por atividades como: ginástica geral, onde se envolvem atividades como o saltar, o equilibrar, o balançar e embalar, dentre outros; os esportes que envolvem modalidades como: voleibol, basquetebol, salto em altura, natação; as lutas, como exemplo pode indicara capoeira e judô e os jogos, onde se inclui os jogos e brincadeiras regionais, de rua, dentre outros.

O segundo bloco indicado por Brasil (1997) abrange as atividades relacionadas à expressão corporal, como a dança, objeto de nosso estudo. Este inclui as manifestações da cultura corporal que têm como característica comum a intenção de expressão e comunicação por meio dos gestos na presença de ritmos, sons e da música na construção da expressão corporal.

Já o terceiro bloco, indicado como Conhecimentos sobre o corpo propõe ensinar ao aluno conceitos básicos sobre o corpo, que se estende desde a noção estrutural anatômica, até a reflexão sobre como as diferentes culturas lidam com esse instrumento. (BRASIL, 1997).

Se analisarmos uma aula em que o professor trabalha apenas os quatro esportes coletivos (voleibol, basquetebol, futebol e handebol), sob a ótica de uma Educação Física que visa à reflexão do aluno sobre si e sobre a sociedade em que está inserido, logo perceberá o quão pobre se torna a experiência sobre o corpo nessa aula. Nesse sentido, é fundamental que a compreensão entre si, de sua cultura e de outras culturas e de outras culturas sejam ampliadas, a fim de efetivar a disciplina Educação Física como um componente curricular educacional. (DIAS, 2010, p.02)

Quanto ao assunto conteúdos da Educação Física escolar, Gariba (2005) registra que a importância e o significado da Educação Física implica em reflexões sobre seus modelos, pois se vive numa sociedade dinâmica e entende-se que essa área deva contemplar inúmeros conhecimentos produzidos e usufruídos pela sociedade, a respeito do corpo.

3. A DANÇA COMO CONTEÚDO DAS AULAS: O PAPEL DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA

A Educação Física contempla uma imensa variedade de conteúdos, atividades de manifestações corporais criadas pelo homem ao longo dos anos. A dança escolar pode ser um dos conteúdos a ser tratado nas aulas e, neste contexto, pode beneficiar os alunos de várias formas, tanto em seu convívio social, quanto em sua expressão corporal. Segundo Rohr (2012 p.62) a dança pode abraçar a educação, a arte e a terapia ao mesmo tempo.

No que se refere à dança, os PCNs (BRASIL, 1997) afirmam que é um conteúdo a ser tratado nas aulas de Educação Física dentre outras temáticas, e deve ganhar reconhecimento como forma de conhecimento a ser ensinado na escola. Ainda ressalta que existem casos de danças que até estão desaparecendo, pois “não há quem as dance, quem conheça suas origens e significados” (p. 36). Conhecê-las, valorizá-las e revitalizá-las é algo possível de ser feito dentro das aulas de Educação Física no âmbito escolar.

É de muito tempo que a dança contribui com a educação do ser humano, e isso se confirma uma vez que ela faz parte das sugestões apresentadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para Educação Física. O seu ensino visa o desenvolvimento integral do aluno, possibilitando todo tipo de aprendizado que ele necessite, não só na sua vida escolar, como também na vida enquanto cidadão que, dentre inúmeros aspectos, necessita se expressar; conviver em grupo; aceitar opiniões; sentir-se valorizado; estabelecer contato com as pessoas sem preconceitos; refletir criticamente sobre as manifestações culturais que o cerca; vivenciar movimentos construídos e constituídos historicamente, ter noção de ritmo e musicalidade ou ainda sentir-se bem e com maior autoestima. (OLIVEIRA, 2014).

A visão de “disciplina” e bom comportamento na escola sempre foram entendidos como: “não movimento’’ e as crianças tidas como educadas e comportadas sempre foram identificadas como aquelas que simplesmente não se movem”. Nesse contexto, alguns professores ainda acreditam que, para ocorrer a aprendizagem, é preciso que o aluno esteja sentado e quieto, característica que não cabe quando no trabalho de ensino aprendizagem relacionado à Educação Física. Constata-se que a dança também está envolvida em uma série de preconceitos, e ainda é percebida de forma equivocada por muitos professores e gestores, que costumam utilizá-la somente em datas comemorativas e na forma de apresentações de coreografias prontas. (LIMA, 2010).

De acordo com Marques (1990) algumas das razões para a dança ser pouco compreendida e aplicada enquanto área de conhecimento é:

a ignorância daquilo que pode ser considerado dança, a falta de visão de que a dança não é necessariamente algo academizado, a falta de experiência das pessoas no que diz respeito à dança, uma concepção restrita de educação e, também, a dificuldade de lidar com o corpo durante tantos séculos condenado ao profano e ao pecado. (MARQUES, 1990, p. 14)

Brasil (1997) apresenta a dança como forma de promover o conhecimento dos movimentos rítmicos e expressivos, reconhecendo que ela, contribui de forma efetiva na formação e humanização dos alunos, auxiliando na exteriorização da imaginação, liberando sentimentos e emoções por meio dos movimentos.

A Dança escolar tem como objetivo o desenvolvimento integral do aluno e deve ser ensinada na escola, direcionada ao contexto em que se insere enquanto conhecimento, artístico-cultural, social e educacional. (BRASIL, 1997, p. 36).

Estudos de Nascimento (2011) apresentam que é possível utilizar na escola todos os movimentos que fazem parte da construção da Dança como: de expressão, comunicação, sentimento e emoção, valorizando a sua riqueza enquanto patrimônio social e conteúdo componente da Educação Física Escolar.

A compreensão da dança, de acordo com Gariba (2005), vai muito além do ato de dançar, ou seja, no espaço escolar o conteúdo dança não se resume ao ensino de danças ou técnicas de movimentos, e sim deve auxiliar na formação do indivíduo, contribuindo com sua construção de conhecimento.

Dando continuidade às discussões, Lima (2010) cita que na visão de muitos professores, o ensino da dança é nulo, pois o corpo é visto como objeto e a execução dos movimentos estão vinculados a uma perfeição técnica e estética. No entanto, encontramos também a visão de que o ensino da dança pode unir conhecimento técnico e expressividade.

Para a autora, a dança trabalha a sensibilidade, a expressão e suas possibilidades de ampliação e comunicação corporal e não se afasta da aprendizagem das técnicas e de conteúdos formais, podendo ser trabalhada de forma ampla, favorecendo o nascer do corpo e automaticamente o processo ensino aprendizagem.

Lima (2010) indica que os professores devem refletir sobre o ensino de dança nas aulas de Educação Física, compreendendo que este ensino deve buscar o desenvolvimento da criatividade e expressividade, para que, como consequência se alcance a aprendizagem. O aluno deve ser visto como sujeito ativo e participante do processo ensino-aprendizagem e não apenas receber conhecimentos, como o depósito desses pelos professores. Estes precisam partir da realidade e da linguagem dos próprios alunos para promover esse ensino.

Oliveira (2014) corrobora com as discussões e indica que é de fundamental importância que a dança faça parte dos conteúdos de Educação Física, sendo incluída no cotidiano da escola, buscando resgatar os costumes da cultura local ou de cada região.

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O trabalho apresenta-se como estudo de caso que, segundo Gil (2001) é o estudo profundo de um ou de poucos objetos para permitir um amplo e detalhado conhecimento. Quanto à abordagem ela é quanti-qualitativa. Conforme Barbosa (1998), a pesquisa qualitativa envolve a detenção de dados descritivos obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatizando mais o processo do que o produto e se preocupa em relatar a perspectiva dos participantes.

Como instrumento de coleta de dados, foi utilizado um questionário, com questões fechadas e abertas, baseado nos estudos de Oliveira (2014), respondido por 11professores de Educação Física de 05 escolas da região de Carapicuíba e Itapevi, e entregue no mesmo dia para os pesquisadores.

4.1 Contexto Inicial

A pesquisa de campo foi aplicada em escolas estaduais e municipais da zona oeste do Estado de São Paulo, envolvendo escolas de Itapevi e Carapicuíba, municípios da grande São Paulo. Para melhor identificação e compreensão dos profissionais participantes da pesquisa, buscamos alguns dados em relação à faixa etária, sexo e tempo de trabalho na área. Pudemos constatar uma faixa etária bastante diversificada dos professores de Educação Física, que varia de 18 à 50 anos de idade, ficando a maioria, na faixa intermediária, de 31 à 50 anos. Quanto ao tempo de atuação, pudemos constatar que grande maioria já trabalha a mais de 3 anos, sendo constatado que existem professores com 12 e 20 anos de trabalho, levando-nos a perceber que a maioria já possui uma boa experiência na área. Quanto ao sexo, dos 11 professores participantes, 05 são do sexo feminino e 06 do masculino.

Todas as pesquisas foram realizadas após contato com a direção da escola, assinatura das autorizações dos responsáveis e dos professores que responderam ao questionário.

4.2 Análise e discussão de dados.

As perguntas do questionário foram respondidas em nossa presença e obtiveram os resultados que serão apresentados a seguir:

Gráfico 1 - Como considera a proposta pedagógica da EF no tocante a Dança ao que se propõem os PCNs?
Gráfico 1 – Como considera a proposta pedagógica da EF no tocante a Dança ao que se propõem os PCNs?

De acordo comas respostas do questionário do gráfico 1, 60% dos professores consideram a prática boa, 30% desconhecem 5% acha ótima e 5% acha razoável. Isso significa que mesmo fazendo parte dos PCNs, alguns professores desconhecem a prática e os que conhecem acreditam de alguma forma nessa proposta.

Gráfico 2 – O conteúdo Dança é desenvolvido nas aulas de EF?
Gráfico 2 – O conteúdo Dança é desenvolvido nas aulas de EF?

De acordo com a pesquisa, 80% dos professores informam que utilizam a dança nas suas aulas de Educação Física. Identifica-se que a dança é um conteúdo curricular importante na aprendizagem concreta e significativa dos alunos, no entanto, entendemos como Verderi (2000), que existem lacunas na abordagem desse conteúdo no interior das escolas. Brasil (1997) reforça sua importância nas aulas de Educação Física escolar e indica que a dança é uma prática da cultura corporal a ser desenvolvida na escola, fazendo parte dos programas da Educação Física. De acordo com os dados, constata-se que os professores entendem a dança como conteúdo da Educação Física e a desenvolvem em suas aulas.

Gráfico 3 – O conteúdo Dança aparece com que frequência nas suas aulas?
Gráfico 3 – O conteúdo Dança aparece com que frequência nas suas aulas?

De acordo com os dados coletados, 20% dos professores informam que não utilizam a dança em suas aulas, 30% utilizam em menos de 05 aulas e 50% deles utilizam a dança entre 05e 10 aulas no ano letivo. Observa-se que os professores percebem a importância do conteúdo, no entanto, diante dos dados, verifica-se que nem todos desenvolvem o conteúdo em suas aulas.

É necessário que o professor compreenda que a dança faz parte dos conhecimentos que possibilitam o desenvolvimento global dos alunos, favorecendo todo tipo de aprendizado que necessitam, logo, ainda é percebido que a dança é um conteúdo nem sempre explorado o suficiente para o aproveitamento nas aulas.

A dança é conteúdo fundamental a ser desenvolvida na escola, ela pode levar os alunos a conhecerem a si próprios e os outros; a explorarem o mundo da emoção e da imaginação; a criarem; a explorarem novos sentidos, e movimentos. (BRASIL, 1997).

Gráfico 4 – A Dança, na perspectiva da Educação Física, pode ser compreendida como:
Gráfico 4 – A Dança, na perspectiva da Educação Física, pode ser compreendida como:

Nesta questão é interessante registrar que foram apresentadas 06 alternativas para que os professores assinalassem as que julgassem pertinentes à pergunta, no entanto dessas 06, uma foi apontada com grande vantagem. A questão, portanto, foi assim definida: 80% dos professores compreendem a dança como proposta cultural do movimento em suas aulas e 20% deles utiliza a dança como recreação ou nos eventos festivos da escola ou em atividades que desenvolve a atenção dos alunos.

Em relação aos dados desta questão, podemos citar Verderi (2000) que apresenta que mesmo a dança sendo um conteúdo importante na aprendizagem concreta e significativa dos alunos, os estudos ainda aponta lacunas na sua abordagem no interior da escola, uma vez que ainda existe o preconceito no seu ensino e a utilização de metodologias que a empregam apenas com caráter recreativo, e a preocupação quanto a fundamentação teórica ainda é um desafio.

Gráfico 5 – Que práticas pedagógicas são utilizadas em uma aula com dança?
Gráfico 5 – Que práticas pedagógicas são utilizadas em uma aula com dança?

A pesquisa aponta que 18% dos professores desenvolvem a dança como práticas indicadas pelo PCNs de Educação Física; 45% deles utilizam como coreografias; 35% utilizam como ensaios para apresentações de eventos escolares e 2% não utilizam a dança. Até esse momento observa-se que as respostas dos professores convergiram na importância de se tratar o conteúdo dança nas aulas de Educação Física, no entanto, os relatos já nos indica que essa ainda é desenvolvida de forma bastante restrita e, muitas vezes utilizadas apenas como elemento para apresentação em eventos.

Gráfico 6 – Qual a dificuldade para você trabalhar dança na escola?
Gráfico 6 – Qual a dificuldade para você trabalhar dança na escola?

O gráfico aponta que 49% dos professores relatam falta de apoio pedagógico para o desenvolvimento da dança nas aulas de Educação Física, 49% apontam falta de formação específica e capacitação, 1% cita a falta de interesse dos alunos e 1% informa a falta de recursos da escola. Notam-se, nos relatos, diversas barreiras que dificultam o desenvolvimento da dança nas aulas, Entendemos que apesar dos apontamentos dos professores como: falta de recursos físicos, materiais como som, nada impede que esse conteúdo seja abordado,

Diante das argumentações, apontamos o que diz Ossona (1988) citado por Nascimento (2011) que a dança é um campo de aprendizagem facilitada, é uma forma de arte que, na verdade, não necessita de uma grande diversidade de materiais e espaços para ser ensinada, uma vez que apenas o corpo e seus movimentos, já possibilitam desenvolvê-la.

Gráfico 7 – Considerando o ensino e prática da dança para os alunos, você considera que este pode ser:
Gráfico 7 – Considerando o ensino e prática da dança para os alunos, você considera que este pode ser:

Dados da pesquisa apontam que 98% dos professores consideram a dança, prática de fácil execução; 2% acreditam que ela exige mais atenção quanto à proposta pedagógica. Nessa questão entendemos certa contradição em relação aos apontamentos anteriores, uma vez que, se o trabalho do conteúdo dança é considerado prática de fácil execução, não é pertinente a identificação dos apontamentos sobre a sua não inclusão.

Gráfico 8 – Para que a dança possa ser utilizada nas aulas de Educação Física com qualidade é necessário:
Gráfico 8 – Para que a dança possa ser utilizada nas aulas de Educação Física com qualidade é necessário:

Segundo a pesquisa, 50% dos professores acreditam que precisam de motivação para desenvolver o conteúdo, 20% acreditam que é necessário que os alunos se interessem, 20% acreditam que precisam planejar mais; 4% dos educadores apontam a necessidade de recursos materiais, 4% acreditam na formação dos professores e 2% citam a necessidade de recursos físicos.

Os dados colhidos nos permitem registrar que muito ainda se tem que caminhar em estudos para que possamos compreender as causas efetivas das dificuldades de se trabalhar a dança na escola. Os resultados apontados nos fazem refletir sobre a necessidade da continuidade desta pesquisa para o esclarecimento dos pontos indicados aqui pelos professores participantes.

No mais, o que julgamos relevante registrar são alguns pontos de Marques (1997) citado por Nascimento (2011), quando apresenta que a escola é local apropriado para o ensino da dança com qualidade, profundidade, compromisso, amplitude e responsabilidade, no entanto para que isso aconteça, ela não pode ser apenas sinônima de eventos escolares. A dança na escola deve assumir seu papel, não podendo ser negado enquanto construtora de conhecimento. Ela pode ser uma ferramenta preciosa para o professor enquanto gestor de conhecimento (p. 15).

Os PCNs da Educação Física apresentam a dança como forma de promover o conhecimento dos movimentos rítmicos e expressivos, reconhecendo que ela, pode contribuir na formação e humanização, auxiliando na exteriorização da imaginação, liberando sentimentos e emoções através dos movimentos. (NASCIMENTO, 2011, p. 15).

O objetivo deste trabalho foi ressaltar a importância da dança nas aulas de educação física, e buscar compreender a percepção dos professores quanto a essa prática como conteúdo a ser desenvolvido nas aulas de Educação Física.

Realizando uma síntese da pesquisa verifica-se que 80% dos professores aplicam a dança nas aulas, no entanto, apenas 50% deles dedicam de 5 a 10 aulas no ano letivo para esse conteúdo, período bastante restrito, no nosso entendimento, em relação aos inúmeros assuntos pertinentes a serem tratados.

Oitenta por cento dos professores compreendem a dança como proposta cultural, 30% utilizam como recreação, eventos ou atividades para chamar a atenção dos alunos. Apesar do número expressivo de professores que apontam a dança como proposta cultural observa-se, diante os outros relatos, que ela ainda é pouco aplicada nas aulas de Educação Física

Em se tratando das praticas pedagógicas, a grande maioria utiliza a dança como coreografia e apresentações em eventos escolares e informam que a maior dificuldade é a falta de apoio pedagógico, falta de informação e capacitação aos professores. Dos fatores apresentados, o que nos chama a atenção é o número expressivo de respostas em relação a falta de apoio pedagógicos, fato que nos desperta o interesse de novas pesquisas que nos permitam compreender melhor o que essa indicação efetivamente significa para os professores.

Observamos que 98% dos professores acreditam que a dança é uma prática de fácil execução, o que nos faz também questionar o porquê destes não desenvolverem esse conteúdo, apesar desse relato.

Outro ponto interessante verificado na pesquisa é que, quanto a aplicação da dança nas aulas, os professores informam a necessidade de mais motivação para desenvolver o conteúdo, além de apresentarem que falta interesse dos alunos para a prática da dança nas aulas e melhores condições em relação aos materiais e espaços físicos exclusivos para as aulas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dado o exposto, entendemos que os professores que responderam ao questionário acreditam na importância da dança nas aulas de Educação Física, porém não estão estimulados a desenvolver a prática como uma ferramenta para aprimoramento das habilidades dos seus alunos.

Consideramos que esta pesquisa se torna muito pequena em relação aos inúmeros questionamentos e reflexões pertinentes ao assunto. Podemos aqui apontar alguns fatores possíveis de serem futuramente tratados para a discussão do conteúdo dança nas aulas de Educação Física, dentre eles relacionamos: quais são as dificuldades dos professores para tratar a dança na escola? A formação inicial do professor reflete a condição atual quanto às dificuldades de se propor aulas de dança? O que os professores entendem e podem apresentar quando informam a falta de apoio pedagógico para a realização das aulas de dança escolar? Esse apoio estaria relacionado ao que eles recebem nos cursos de formação ou a necessidade da escola oferecer subsídios para cursos de reciclagem e aperfeiçoamento? Será que para a aplicação deste conteúdo o professor necessita, realmente, espaços físicos e recursos muito específicos? O que leva o professor a não estar motivado para tratar o conteúdo dança? Qual seria o motivo para o aluno não ter interesse em participar de vivências da dança na escola?

Apesar dos pontos apresentados, compreendemos a dança como prática necessária, logo, deve ser pensada como parte integrante indispensável das aulas de Educação Física escolar, e os professores devem buscar meios para propiciar aos alunos a construção deste conhecimento.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, E. F. Instrumentos de coleta de dados em pesquisas educacionais. Educativa, out. 1998.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Educação física, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.

CARBONERA, D.; CARBONERA, S. A. A importância da dança no contexto escolar. 2008. 61 f. Monografia (Pós Graduação em Educação Física Escolar) – Faculdade Iguaçu, ESAP. Cascavel, 2008. Disponível em http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/ File/2010/artigos_teses/EDUCACAO_FISICA/monografia/DANCA_ESCOLA.pdf. Acesso em 18 de outubro de 2015.

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da educação física. São Paulo: Cortez, 1992.

DIAS, I.R. Educação física e sua importância como componente curricular. Portal Educação, 2014. Disponível em  <http://www.portaleducacao.com.br/educacao-fisica/artigos/56255/educacao-fisica-e-sua-importancia-como-componente-curricular>. Acesso em 26 de março de 2016.

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[1] Graduada em Educação Física Habilitação Licenciatura (Estácio / FNC)

[2] Graduado em Educação Física – Habilitação Licenciatura. (Estácio / FNC)

[3] Discente do curso de Educação Física – Habilitação Licenciatura (Estácio / FNC)

[4] Graduada em Educação Física (UNISA), Pós-graduada em Administração Esportiva (FMU), Mestre em Psicopedagogia (UNISA). Docente da Faculdade de Educação Física – Estácio / FNC

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Solange de Oliveira Freitas Borragine

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