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Currículo e identidade na educação de jovens e adultos

RC: 25326
354
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/curriculo-e-identidade

CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

PAIVA, Edinei Canuto [1], VIANA, Luciana Soares Benício [2]

PAIVA, Edinei Canuto. VIANA, Luciana Soares Benício. Currículo e identidade na educação de jovens e adultos. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 01, Vol. 06, pp. 38-45 Janeiro de 2019. ISSN: 2448-0959

RESUMO

Esse artigo traz uma discussão sobre currículo, conceitos e tendências de mudanças com a fragmentação e o surgimento de novas identidades na atualidade. Considerando a fragmentação e o surgimento de novas identidades na Educação de Jovens e Adultos e a reformulação e ampliação do conceito de currículo que deixou de ser meramente grade curricular, uma questão a ser discutida é que a educação como parte do sistema não se adequou a esta realidade e os profissionais envolvidos neste processo ainda não conhecem as especificidades das questões que envolvem currículo.

palavras – chave: currículo, identidade, cultura, multiculturalismo.

INTRODUÇÃO

Muito se questiona a cerca de currículo ou mesmo do que foi formulado conceituando currículo. Numa sociedade moderna e globalizada a sensação do todo parece cobrir o sujeito que se torna apenas parte e é desconsiderado na sua individualidade. Como resultado deste processo de homogeneização a própria identidade do sujeito está se fragmentando. Com esta modernização e globalização há certo atropelamento de fatores essenciais aos sujeitos. Esse sujeito desde a sua formação está em constante mutação, construindo inclusive novas identidades e conceitos. Mas acompanhar estas novidades é o mais complicado, e quando se trata de educação é um processo quase estático. O currículo, que ainda é apenas assimilado ao conceito de grade curricular ou visto apenas como um documento bibliográfico com referências profissionais.

Estamos em um novo século, mas com situações similares, as discussões não conseguiram inserir o sujeito que no caso são os educandos da modalidade de Educação de Jovens e Adultos como elementos ativos e participativos do processo curricular.

Por outro lado discutir a inserção deste sujeito sem avaliar os pormenores como sua identidade torna-se um trabalho vago que não condiz com a realidade. No caso especifico dos educandos da modalidade jovens e adultos o peso desta consideração faz-se mais pertinente levando em consideração que o sujeito já está formado fazendo se necessário apenas um complemento ou ajuste desta formação.

Com a perspectiva de conhecer o conceito do currículo e vinculá-lo a identidade dos sujeitos e suas complexidades, valorizando sua história e o seu conhecimento prévio e levando em consideração que na modalidade educacional da Educação de Jovens e Adultos não se aplica simplesmente o processo de formação deste sujeito, mas sim a complementação de um sujeito formado é que se faz necessário um estudo aprofundando do real currículo e o velho conceito de grade curricular.

Refletir antigas práticas que desvinculam o sujeito e desconsidera sua importância na questão “currículo” e a identidade deste sujeito que muitas situações levam até um descumprimento da garantia básica de uma educação de qualidade.

Diante desta problemática há algumas perguntas que necessitam serem respondidas permeando o campo da identidade e o currículo da Educação de Jovens e Adultos.

CURRÍCULO: CONCEITOS, TENDÊNCIAS E CONTRADIÇÕES.

Questões importantes acerca do currículo estão vindo à tona atualmente e chamando a atenção de profissionais e estudiosos voltados a educação. Sabe-se que estudos sobre currículos só foram encontrados a partir de 1920, ainda assim com uma proposta totalmente voltada a satisfazer um mercado de trabalho da época, que via a escola com a visão empresarial. O currículo não surgiu com o intuito apenas de complementar a educação e sim de compactuar com a precariedade da formação profissional de uma época.

Observe a definição de Saviani (2005):

O currículo diz respeito à seleção, seqüência e dosagem de conteúdos da cultura a serem desenvolvidos em situações de ensino-aprendizagem. Compreende conhecimentos, idéias, hábitos, valores, convicções, técnicas, recursos, artefatos, procedimentos, símbolos etc. Dispostos em conjuntos de matérias/disciplinas escolares e respectivos programas, com indicações de atividades/experiências para sua consolidação e avaliação. (p. 1)

Se o currículo contempla linhas como valores, hábitos e cultura esta diretamente relacionada à identidade. E com a fragmentação e o surgimento de novas identidades na atualidade é perceptível que o currículo tornou de certa forma arcaico, pois não acompanha as tendências atuais.

Stuart Hall já afirmou essa tendência quando disse: “as sociedades modernas são, portanto, por definição, sociedades de mudança constante, rápida e permanente. Esta é a principal distinção entre as sociedades “tradicionais” e as “modernas”.”

Diante destas descobertas o currículo precisa ser visto como um processo dinâmico e por isso é tão discutido na atualidade. Faz-se necessário o uso de elementos que facilitem o elo entre currículo, identidade, cultura e modernidade.

A própria lei não se define a respeito do conceito de currículo quando diz nas Leis de Diretrizes e Bases (nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.) que: “Art. 26º. Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela.” É nítido que neste momento trata-se apenas do conceito de grade curricular e não de currículo como um processo. Este conceito confirma-se no caput que vem em seguida: “§ 1º. Os currículos a que se refere o caput devem abranger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil”.

Segundo Silva (2001):

No fundo das teorias do currículo está, pois, uma questão de “identidade” ou de “subjetividade”. Se quisermos recorrer à etimologia da palavra “currículo”, que vem do latim curriculum, “pista de corrida”, podemos dizer que no curso desta “corrida” que é o currículo acabamos por nos tornar o que somos. Nas discussões cotidianas, quando pensamos em currículo está inextricavelmente, centralmente, vitalmente, envolvido naquilo que somos, naquilo que nos tornamos: na nossa identidade, na nossa subjetividade. Talvez possamos dizer que, além de uma questão de conhecimento, o currículo é também uma questão de identidade. É sobre esta questão, pois, que se concentrem também as teorias do currículo. (p. 15 – 16).

É possível perceber ainda que quando está se tratando da Educação de Jovens e Adultos o conceito de identidade e currículo se distancia mais ainda como pode ser observado que em nenhum momento a palavra identidade ou diversidade é se quer mencionada nas linhas das leis. Um único detalhe que sobressalta, mas não deixa claro a que veio está no inciso dois do artigo 37 que diz: “§ 2º. Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames.”

CURRÍCULO: O PODER

Dentre as teorias de currículo levantadas por estudiosos há sempre uma certeza: o currículo define ideologias e demanda poderes. O modelo adotado por uma entidade de educação seja ela voltado para a Educação de Jovens e Adultos ou para outra modalidade de ensino transmite ideologias, crenças, etc., muitas vezes modificando uma dinâmica social existente e propendem pessoas há um determinado modo de pensar e agir, perfazendo-se assim o poder de outrem em uma realidade. Neste contexto ainda é preciso levar em consideração os currículos implícitos que vêm arraigados e que tem a entidade educacional e os profissionais envolvidos no processo como principais perpetuadores, mesmo que sem perceber, de ideias e conceitos que alteram o processo. Na realidade, a entidade, os profissionais envolvidos e os próprios estudantes não têm noção de que estão participando de um processo atuante de dominação e que são os dominados. O simples ato de escolher um conteúdo para compor a grade curricular, que é parte da dinâmica do currículo é em si um ato de dominar. O fato de conhecimentos importantes serem eliminados desta grade e não serem consideradas as opiniões de parte de atuantes desta decisão é um ato de dominação.

Segundo Silva (2000):

O domínio simbólico, que é o domínio por excelência da cultura, da significação, atua através de um ardiloso mecanismo. Ele adquire a sua força precisamente ao definir a cultura dominante como sendo a cultura. Os valores, os hábitos e os costumes, os comportamentos da classe dominante são aqueles que são considerados como constituindo a cultura. Os valores e hábitos de outras classes podem ser qualquer outra coisa, mas não são a cultura. Agora é que vem o truque. A eficácia dessa definição da cultura dominante como sendo a cultura depende de uma importante operação. Para que essa definição alcance a sua máxima eficácia, é necessário que ela não apareça como tal, que ela não apareça justamente como o que ela é, como uma definição arbitrária, como uma definição que não tem qualquer base objetiva, como uma definição que esta baseada apenas na força, (agora propriamente econômica) da classe dominante. É essa força original que permite que a classe dominante possa definir a sua cultura como a cultura, mas nesse mesmo ato de definição oculta-se a força que torna possível que ela possa impor essa definição arbitrária. Há, portanto, aqui, dois processos em funcionamento: por um lado, a imposição e, por outro, a ocultação de que se trata de uma imposição, que aparece, então, como natural. (p. 34 – 35).

As novas teorias críticas de currículo que são as teorias pós-críticas permeiam suas ideias enfatizando: identidade, alteridade, cultura, gênero, diferença, saber-poder, multiculturalismo entre outros, e o que se percebe é que estes conceitos e ideias ainda não fazem parte do contexto atual e discutem com antigas teorias que são as tradicionais (ensino, aprendizagem, organização, planejamento, metodologia, didática, etc.) e as críticas (ideologia, reprodução cultural e social, poder, classe social, currículo oculto, capitalismo, etc.), que como podem ser observadas não são tão antigas, tendo em vista, que o que há de predominante no modelo atual de currículo.

Na tendência curricular atual faz-se necessário a inclusão do sujeito para que complete o processo do currículo e ao mesmo tempo haja uma quebra de poder e de dominação. O sujeito precisa ser ativo e participativo, consciente do seu papel, com ideias e ideais, só assim o conceito de currículo poderá vir a ser utilizado em sua totalidade.

CURRÍCULO OCULTO E A DOMINAÇÃO

A ideia de uma sala de aula perfeita, com alunos organizados e um trabalho linear, planejado e executado tal como ele foi definido é um mito. Ao adentrar uma sala de aula, o professor se depara com contextos e realidades que se chocam e convivem ao mesmo tempo. A diversidade de identidades e o contraste não constam nos planejamentos e nos planos de aulas perfeitos. Com a realidade globalizada podemos pensar em uma sala de aula com a mesma ideia, global. O sujeito da sala de aula seja ele uma estudante da modalidade da Educação de Jovens e Adultos ou um estudante de outra modalidade, é além de integrante desta realidade, um sujeito atuante em outros contextos, como: família, trabalho, religião, amigos, entre outros. Assim, também o profissional atuante como professor naquele instante. A própria entidade em que estão inseridos estes sujeitos não tem muitas vezes uma face definida, pois ela é a junção de todos estes aspectos que trazem os que compõem esta entidade.

Neste contexto não há como seguir linhas planas e planejadas alheios a uma realidade diversa. Faz-se necessário uma atualização diária. Não quer dizer, no entanto, que deve-se abandonar a grade curricular oficial, mas neste processo dinâmico do currículo há espaço para o currículo oculto.

“O currículo oculto é constituído por todos aqueles aspectos do ambiente escolar que, sem fazer parte do currículo oficial, explícito, contribuem, de forma implícita, para aprendizagens sociais relevantes”. (Silva, 2001).

Este currículo oculto não si dá simplesmente através de palavras, mas podem ser repassados através de comportamento, de ideias, ideologias e outros.

Neste espaço para o currículo oculto há também os traços de dominação. Silva mostra de forma sucinta esta situação: “Entre outras coisas, o currículo oculto ensina, em geral, o conformismo, a obediência, o individualismo. Em particular, as crianças de classes operárias aprendem as atitudes próprias ao seu papel de subordinação, enquanto as crianças das classes proprietárias aprendem os traços de dominação.

É óbvio que há uma contribuição deste currículo para a organização, o seguimento de regulamentos, normas, entre outros. Mas o que deve ser levado em consideração é o que predomina na entidade escola com o currículo oculto? Há evidências benéficas ou maior evidência de domínio?

CURRÍCULO E MULTICULTURALISMO

Há muitos termos relacionados a multiculturalismo, mas o conceito de identidade está muito próximo do que predomina dentre eles. Diante desta predominância de aproximação o que surge como questão volta diretamente ao currículo.

Perpassando pelo currículo como um processo dinâmico há que se questionar sobre a postura multicultural neste processo, levando-se em consideração o sujeito multicultural que faz parte desta dinâmica.

As teorias curriculares pós-críticas traz como uma de suas vertentes o multiculturalismo, mas há o que questionar sobre qual multiculturalismo está diretamente vinculado ao processo curricular, se uma cultura de domínio ou de dominados.

Silva (2000) ressalta esta observação:

É nesse contexto que devemos analisar as conexões entre currículo e multiculturalismo. O chamado “multiculturalismo” é um fenômeno que, claramente, tem a sua origem nos países dominantes Norte. O multiculturalismo, tal como a cultura contemporânea, é fundamentalmente ambíguo. Por um lado, o multiculturalismo é um movimento legítimo de reivindicação dos grupos culturais dominados no interior daqueles países para terem as suas formas culturais reconhecidas e representadas na cultura nacional. O multiculturalismo não pode ser separado das relações de poder que, antes de qualquer coisa, obrigaram essas diferentes culturas raciais, étnicas e nacionais a viverem no mesmo espaço. A final, a atração que movimenta os enormes fluxos migratórios em direção aos países ricos não pode ser separada das relações de exploração que são responsáveis pelos profundos desníveis entre as nações do mundo. ( p. 87 – 88).

Contudo, estas contradições e complexidade que cercam o multiculturalismo são fundamentais para fortalecer a questão da diversidade e da identidade no mundo moderno.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O currículo e o seu conceito de grade curricular se confundem e geram necessidades emergentes de se desvincularem. O conceito de currículo precisa ser expandido e entendido pelos profissionais envolvidos no processo, pois, a discussão faz-se necessária quando há o entendimento que definitivamente currículo demanda poder e dominação.

Valorizar este processo dinâmico e difundi-lo tende a favorecer e facilitar o trabalho da educação, já que a educação se propõe a um processo de formação de cidadãos e consequentemente o fortalecimento de identidades e culturas.

Olhar o currículo com novas formas nos permite enxergar além das fronteiras que a escola possa dominar: “Currículo é trajetória, viagem, percurso. O currículo é autobiografia é nossa vida.” (Silva, 2001).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm>. Acesso em 03/11/2018 às 15:20.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 4. Ed. Rio de Janeiro: DP&A. 2000.

SAVIANI, Nereide. Currículo: um grande desafio para o professor. In: Revista de Educação. N. 16. São Paulo: APEOESP. 2003.

SILVA, T. T. da. Teorias do currículo: uma introdução crítica. Belo Horizonte: Autentica Editora. 2000.

SILVA, T. T. da. Documentos de identidade: Uma introdução às teorias de currículo. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 1999.

[1] Doutor em engenharia Agrícola. Mestre em física Aplicada. Graduado em física.

[2] Possui graduação em letras – Inglês pela Universidade Estadual de Monte Carlos. Servidora efetiva do quadro de servidores técnicas administrativos do instituto federal de Educação Ciência e tecnologia no Norte de Minhas Gerais. Atua na secretaria de registros acadêmicos e atualmente como coordenadora de pesquisa e inovação de campos Arinos. Tem experiência na área de educação, com ênfase em educação.

Enviado: Dezembro, 2018

Aprovado: Janeiro, 2019

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Edinei Canuto Paiva

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