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Coffee Game: Um jogo de inclusão na aprendizagem de história para pessoas com deficiência intelectual

RC: 69254
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL  

ARAÚJO, Gabriel Dato de [1]

ARAÚJO, Gabriel Dato de. Coffee Game: Um jogo de inclusão na aprendizagem de história para pessoas com deficiência intelectual. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 11, Vol. 19, pp. 124-142. Novembro de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/coffee-game

RESUMO

Este trabalho apresenta uma reflexão e prática metodológica do ensino de história para pessoas com deficiência intelectual. Foi-se estudado a história do café durante o ano letivo de 2019 e como produto final das aulas houve o jogo que se chama “Coffee game”. Esses educandos tiveram aulas semanais, sobre o surgimento dessa bebida e toda sua trajetória até chegar em suas mesas todas as manhãs. Todo o processo de construção do jogo, desde as regras, os peões, a escolha do formato do tabuleiro, as cores desse tabuleiro, os materiais usados e a jogabilidade foram feitas em conjunto com os educandos, a fim de que os mesmos criem uma maior identificação com o produto final, facilitando assim o processo de aprendizagem do conteúdo. Sendo o principal objetivo, reviver as aulas de forma lúdica estimulando nos educandos o exercício da memória e o conhecimento histórico. O grupo é formado por jovens e adultos, na faixa etária de 20 anos até 50 anos, com deficiências intelectuais múltiplas, mas que variavam do grau leve ao moderado. O presente artigo tem como finalidade relatar a prática e levantar questionamentos sobre como o ensino de história tem sido abordado, sobre a necessidade do mesmo para um processo de maior autonomia e vivência cultural das pessoas com deficiência intelectual. A prática foi realizada em uma associação particular de pais, na cidade de Atibaia no estado de São Paulo. Não será citado nome da associação, nenhum educando ou pai, a pedido dos mesmos.

Palavras-chaves: Ensino de História, Educação Especial, História do Café.

INTRODUÇÃO

O presente estudo de caso, baseou-se na experiência vivenciada na instituição para jovens e adultos com deficiência intelectual na cidade de Atibaia, onde sou professor de História desde 2017. O método adotado é o trabalho por projetos interdisciplinares e a instituição oferece aos educandos diversas atividades, tais como: teatro, artes, cerâmica, marcenaria, música, ética, culinária e história. No ano de 2019 o projeto anual foi chamado “sensações”, com a premissa do aprender pelos cinco sentidos as diversas áreas do conhecimento. Nessa lógica o estudo de história encaminhou-se, não através da cronologia eurocêntrica que, por vezes, é trabalhada em instituições de ensino, mas sim por um eixo temático. A história do café então foi escolhida, por complementar a proposta anual da instituição pelos sentidos, afinal o café tem cheiro, gosto, textura, músicas falam da bebida, é um objeto visual e sua história perpassa o mundo todo até chegar na cidade de Atibaia e assim na mesa dos educandos todas as manhãs.

O jogo “Coffe Game” foi o objeto de construção durante as aulas e produto final apresentado e jogado por todos que compareceram no sarau da instituição no ano de 2019.

Quando falamos de ensino de História para pessoas com deficiência intelectual, ainda hoje, deparam-se com muitas barreiras e elitismos do conhecimento histórico. Não tem como esses educandos se situarem no universo sem o conhecimento histórico pois, como apresenta Morin (2011, p.43) “Conhecer o humano é, antes de tudo, situá-lo no universo, e não separá-lo dele.” Para existir inclusão é necessário, portanto, que esses indivíduos tenham acesso ás aulas de História e essas devem ser adaptadas, a fim  de gerar autonomia e um senso crítico. O público alvo do Coffe Game foram, como já mencionados, jovens e adultos com deficiência intelectual, logo, pessoas que não estão mais em idade escolar e que, durante seu processo no ensino escolar, não tiveram o conhecimento histórico adaptado, mas na instituição realizam atividades com a intencionalidade de promover seu desenvolvimento autônomo e vivências culturais. Pretende-se com esse artigo difundir uma prática que deu certo em seus objetivos principais: o conhecimento da história do café afim de incutir assuntos para socialização, o senso crítico e ter um produto final concreto em forma de jogo que qualquer pessoa pudesse jogar e compreender a história dessa bebida tão comum na vida desses educandos.

1. OS SABERES PRÉVIOS

A educação especial no Brasil, passou por mudanças durante as últimas décadas, desde a constituição de 1988 vemos uma ampliação nos estudos e práticas nesse eixo educacional. Tendo por objetivo, cada vez mais o relacionamento do educando com seus pares da mesma idade cronológica e estimulação das interações sociais, bem como sua autonomia mediante as limitações, isso vem de encontro, ao princípio da educação como um direito de todos os cidadãos.

Mais do que simplesmente conhecer a História, é necessário que a mesma faça sentido para os educandos, que possam percebê-la em seu cotidiano, avistando assim como uma área do conhecimento que não está tão abstrata quanto tradicionalmente era colocada.  Como afirma Silva (2015, p. 12) “Trabalhar na área da deficiência intelectual requer a busca de alternativas pedagógicas por meio das quais os alunos sejam capazes de apropriar-se dos conhecimentos de forma dinâmica”. Portanto, cresce-se a demanda de práticas pedagógicas que proporcionem essa nova perspectiva sobre a disciplina nas escolas.

O presente trabalho, deu-se com educandos que estão fora da idade escolar, dado que a instituição tem como objetivo a socialização e autonomia cultural de jovens e adultos, são indivíduos com idades variantes, mas todos adultos, que completando ou não o percurso escolar, tiveram contato com a disciplina de História de uma forma tradicionalista. Segundo relatos dos próprios educandos e relatos dos responsáveis, a maioria passou pela vivência de classes especiais na escola, tendo momentos de interação com os demais alunos, somente em intervalos conjuntos ou datas comemorativas, em que eram realizadas atividades conjuntas. Ambientes que se caracterizavam pelas falas e práticas pedagógicas, sendo muito mais integracionistas do que efetivamente inclusivas. Quando questionados sobre como era tratada a disciplina de História, os educandos e responsáveis indicaram ter ocorrido uma forte infantilização do conhecimento, restringindo o ensino de História à realização de pinturas em comemorações de feriados, tendo assim pouca ou nenhuma contextualização, mesmo em períodos que as classes especiais seriam correspondentes ao Ensino Fundamental II e ao Ensino Médio.

Após essas informações recolhidas, tornou-se necessário saber mais a fundo as especificações de cada caso desses educandos, dado que é um grupo heterogêneo de doze pessoas, com deficiências intelectuais múltiplas.  Isso foi realizado por meio do estudo das anamneses de cada um dos atendidos da instituição, estas que já haviam sido realizadas quando cada um se matriculou na instituição e armazenadas no arquivo pela psicóloga e coordenadora do local. Foi um amplo trabalho, analisar e separar informações da área da saúde, como diagnósticos e suas especificações, de itens educacionais e vivências familiares que poderiam auxiliar durante as aulas. Esse processo foi importante e necessário para compreensão das potencialidades e dificuldades de cada um dos atendidos, pois como aponta Vygotsky (1997) o educador é:

É aquele orientado prospectivamente, atento à criança, às suas dificuldades e, sobretudo, às suas potencialidades, que se configuram na relação entre a plasticidade humana e as ações do grupo social. É aquele que é capaz de analisar e explorar recursos especiais e de promover caminhos alternativos: que considera o educando como participante de outros espaços do cotidiano, além do escolar; que lhe apresenta desafios na direção de novos objetivos; que o considera integralmente, sem se conter no “não”, na deficiência. (VYGOTSKY, 1997, p.196 apud OLIVEIRA PORTO, 2010, p.65).

As constatações que foram feitas no termino das análises foi que, a instituição atende casos leves á moderados, grande parte dos atendidos passaram o período da juventude em suas casas, isolados da interação mais aprofundada em sociedade, restringindo-se a experiência de vida ao ambiente escolar e ao núcleo familiar, esse último com um alto índice de tempo assistindo a televisão e itens da cultura pop infanto juvenil dos últimos 30 anos, como animes, desenhos, games, filmes, novelas, músicas e até produtos que eram vendidos nos comerciais televisivos , fator esse que auxiliou na elaboração das práticas pedagógicas pois, tornou-se necessário entender esse meio social que formou os indivíduos.

Partindo dessas constatações, necessitou-se de uma imersão por parte da equipe docente no universo de cada um dos membros desse grupo, entender seus interesses, suas angústias e modos de enxergar a História e a sua própria História. Salientando que, esse trabalho de ensino de história, com esse grupo específico, já havia sido iniciado em 2018, porém com outro projeto que, tratava-se de estudar grandes personalidades das artes em geral, que tinham deficiências. Trago isso no presente trabalho, uma vez que foi um dos pontos facilitadores do processo, eles já tinham começado a se compreender  como agentes da história, metodologia que foi baseada no estudo da Escola dos Annales, método de pesquisa e ensino chamado micro-história, ou seja, uma análise de baixo pra cima, partindo da vivência dessas pessoas (micro), para falar do que estava acontecendo ou está acontecendo no mundo (macro). Contribuindo assim, para o entendimento das práticas pedagógicas que tinham uma maior funcionalidade e das que não surtiam o mesmo efeito, com o grupo ou com alguns membros, necessitando-se de um planejamento com formas variadas de ministração das aulas como apresentado por Silva (2015).

Apresentar formas variadas para ministrar uma aula atrai a atenção do aluno e proporciona um excelente resultado na obtenção de conhecimento, é notório que a prática de adotar metodologias diversificadas distintas da tradicional, isto é, do famoso quadro e giz, possibilita ao aluno com deficiência intelectual uma maior aprendizagem. Apesar de apresentar atraso cognitivo e motor, este aluno necessita de atividades inovadoras, criativas que aticem a sua imaginação e curiosidade. (SILVA, 2015, p.40).

O planejamento das aulas teve por objetivo ser diversificado, interligado aos itens de interesse dos educandos, criando uma maior identificação com o conteúdo estudado, que  a cada aula fosse instigado neles a autonomia e o senso crítico. Atentando-se para incentivar às potencialidades desses jovens e adultos, que por um amplo período de tempo, em suas vidas, tiveram acesso somente a uma pedagogia, que enfatizava suas dificuldades. Logo, careceu que as perguntas disparadoras das aulas fossem previamente pensadas em uma lógica de aprendizagem sem erro, como apresentado por Haase (2016).

Para modificar crenças é necessário programar de forma cuidadosa experiências de teste de realidade ou de aprendizagem sem erro. Aprendizagem sem erro consiste em programar o nível de dificuldade das tarefas de modo que o indivíduo não tenha oportunidade de errar. O grau de dificuldade das tarefas propostas é calibrado de modo que estejam ao alcance do cliente por meio de um pequeno esforço. (HAASE, et al. 2016, p.18).

Essa programação das aulas foi feita de forma conjunta aos educandos, através de conversas, foram expostos itens que gostariam de saber sobre a história do objeto de estudo, apelidado pelo grupo como “cafezinho”.

2. SEQUÊNCIA METODOLÓGICA

A respeito da sequência das aulas, estas seguiram o planejamento feito previamente, organizado de maneira interdisciplinar, com as demais áreas oferecidas aos educandos pela instituição, arte terapia, cerâmica, musicoterapia, teatro e marcenaria, todas pegando o eixo do estudo da História do café. para trabalhar a integração sensorial. A história do café foi um objeto de estudo anual, portanto, esse planejamento foi dividido em quatro partes, quatro bimestres, pois além de se estudar a História do café, era necessário intercalá-la com as demais áreas e apresentar  o  ciclo do café, ou seja, estudar desde o grão e como é a árvore, até o resultado final, que é a bebida presente na casa dos educandos, todos os dias. Sentindo sua textura, gosto e cheiro, visando dessa maneira uma educação holística, que tenha por objetivo aguçar as percepções críticas e também sensoriais dos atendidos.

O primeiro bimestre teve por objetivo estudar a origem do café, logo, o ponto de partida foi o mito de Kaldi, um pastor de cabras etíope que, certo dia, depara-se com suas cabras extremamente agitadas. O mito diz que o café foi descoberto por volta do século IX. A escolha de iniciar os trabalhos por esse mito foi baseado no forte impacto que o universo lúdico tem na educação desses educandos, muitos sabem histórias infanto-juvenis de cor e com riqueza de detalhes. Outro ponto importante dessa experiência, foi o educador estar caracterizado como o Kaldi possibilitando o estudo dos elementos culturais de sua roupa, turbante africano, cajado, camadas de roupa, pois no mito, fala-se de um deserto, fato esse que levantou conexões com a presente história, reflexões como a da forte presença cultural africana no Brasil, como o simbolismo daquele turbante africanop e como o povo preto é tratado ainda hoje no Brasil, já que seus ancestrais detinham grande sabedoria.

O formato em roda manteve uma proximidade entre os atendidos e o educador, notou-se na fala deles um sentimento de igualdade. O educador não é maior que seu educando, esse processo é uma troca de conhecimento enriquecedora para ambos. Este formato foi desafiante nas primeiras aulas, então para tornar mais afetuoso e mais acolhedor, houve-se a inserção de um elemento do cotidiano dos atendidos na instituição, os tapetes de EVA que utilizam nas atividades físicas, colocados em círculo. Isso aumentou a aceitação do novo formato. O uso do globo terrestre, antes item de decoração foi importante, bem como uso de imagens para exemplificar a fala e o processo do mito e das reflexões dele extraídas.

Neste processo foi apresentado aos estudantes os grãos do café em natura, como as folhas da árvore, puderam sentir o gosto do grão e a textura das folhas.  Trago isso pois foi um episódio marcante para os alunos que tem uma maior sensibilidade no tato. Observou-se que, tirar o conteúdo do abstrato e trazer ao concreto foi crucial para um maior entendimento do que estava sendo trabalhado. Outro recurso muito utilizado foi o aparelho televisor, onde se colocavam imagens referentes ao que se estava falando, método esse também, embasado pela leitura das anamneses já mencionadas. Eles tinham uma forte conexão com a televisão em casa e ver as imagens da aula sendo reproduzida em um aparelho de TV foi algo que se provou funcional e muito produtivo.

Finalizando essa sequência sobre o mito do surgimento do café e um estudo cultural sobre os africanos, os educandos foram convidados, quem se sentisse a vontade,  se vestirem como um pastor de cabras, o método de se colocar como o personagem, trabalhou-se em outras situações pela professora de teatro da instituição e se mostrou eficaz e atrativo, ao ponto de todos terem aceitado se vestir.

Desde o início das aulas, os educandos souberam que o produto final seria um jogo de tabuleiro (em que se jogaria um dado para avançar as casas), resultante do conteúdo estudado, portanto, por escolha dos mesmos o personagem Kaldi se tornou um personagem jogável durante o jogo, um peão que representasse o jogador  no tabuleiro, assim como uma representação de suas cabras. O processo de realização das peças do jogo, fez-se em parceria com a professora de cerâmica, durante as aulas incentivou que eles criassem no barro as formas como imaginavam esses personagens. Fator de extrema importância para a concretização do conhecimento trabalhado e para valorização da aprendizagem de cada um dos educandos. Após, as várias peças do Kaldi  e da “cabrinha” estarem prontas, levantou-se uma votação, afim de escolher duas peças, uma para cada representação de personagem,  para serem as representantes dos personagem em questão no jogo, sendo que as outras ficariam em estoque, caso quebrassem, por algum motivo, essas principais,  teriam como ser repostas, as demais também seriam expostas no sarau ao final do ano letivo da instituição.

Figura 1 – Kaldi.

Fonte: Arquivo Pessoal/ 2019.

Figura 2 – Cabrinha.

Fonte: Arquivo Pessoal/ 2019.

Ainda no primeiro bimestre, estudou-se a importância da influência árabe na história do café, alguns métodos nessa sequência de aulas foram reutilizados dado seus efeitos positivos, então eles ainda estiveram em roda, localizaram o irã no globo terrestre, que  fez parte do império persa e viram as imagens dos utensílios de invenção árabe para transformar aquele grão em bebida na televisão, durante esse processo os alunos tiveram oportunidade, nas aulas de arte terapia, de confeccionar tinta com a borra do café. Café esse que é feito na própria instituição todos os dias, fato enfatizado para mostrar a presença da história e do objeto de estudo no dia a dia dos educandos. A borra de café esteve presente durante as aulas de História em uma oportunidade que tiveram para sentir como sua textura é diferente se comparada ao pó do café e ao grão do café, bem como seu cheiro. Analisou-se no filme Aladdin, presente na infância de todos os educandos, muitos elementos trabalhados nas aulas anteriores sobre a cultura árabe foram levantados pelos mesmos, como por exemplo o fato do Aladdin, no início do filme, não poder tomar café, considerado tesouro dos sultões e ele era pobre, mas que quando ele se veste de príncipe Ali com a ajuda do gênio da lâmpada ele poderia, pois era rico. Esse fato mostra como a absorção do conteúdo se deu de forma eficaz, pois, partindo-se da realidade do educando, este pode realizar mais facilmente conexões com o conteúdo apresentado e o objeto de estudo.

Os educandos pediram para que esse período também tivesse um peão, então foi feito em cerâmica, peças representando o camelo, animal muito utilizado nas viagens dos comerciantes árabes e como nos dois peões anteriores houve votação, sendo escolhido pelo grupo, o exemplar que iria entrar no jogo e os que iriam ser expostos e serviriam de reserva.

Figura 3 – Camelo.

Fonte: Arquivo Pessoal/ 2019.

Ao término do primeiro bimestre, com o intuito de valorizar a micro história dos estudantes, foram indagados sobre suas relações com o café, se tomavam ou não, se gostavam ou não. Esse material foi documentado e arquivado, a fim de apresentar a história de cada um juntamente com o jogo, dado que eles foram os autores do jogo, tornando-se necessária uma biografia dos autores, com ênfase no café em suas vidas.

O estudo permeou o café e suas relações com o continente europeu, se atendo a não cair em uma visão eurocêntrica de mundo, contudo, percebendo a importância da Europa na disseminação da bebida.

De primeiro momento, necessitou-se uma recapitulação sobre o conteúdo estudado até o determinado momento, através dos slides passados na televisão, os próprios educandos iam relembrando o que foi estudado. Em seguida o uso do globo terrestre se deu para localizar esse continente europeu, pois foi perceptível que os estudantes tinham uma perspectiva pronta do que era a Europa. Segundo as palavras dos mesmos, um lugar “chique”, “para viajar”, “terra dos cavaleiros”, frases notoriamente eurocêntricas e com forte disseminação no senso comum e na grande mídia. Mas não muito real, quando questionados a respeito da localização eles não apresentaram conhecimento, então mais uma vez o globo terrestre foi de extrema importância para esse processo de localização do que está sendo estudado.

Passa-se então nesse momento a estudar a cultura holandesa, pois foram os primeiros povos a terem contato com uma muda de café graças as trocas comerciais com os árabes. Nesse período por não haver tantos elementos de origem holandesa na cidade de Atibaia, utilizou-se imagens de outra cidade do interior de São Paulo, a cidade de Holambra, em que alguns dos educandos já haviam visitado além de manter forte influência holandesa.

Para exemplificar o tamanho que as mudas de café podem crescer, que é cerca de três metros de altura, variando mediante plantações, o docente citava isso, subindo no banco e falava, do alto, a informação. Esse fato foi de grande impacto para os estudantes, estando sempre presente nas suas falas ao decorrer das  outras aulas e quando perguntados da altura das arvores de café.

As aulas se constroem em conjunto com os educandos, logo incentivá-los a trazer materiais é de suma importância, uma estudante em questão tem consultas com seu médico de rotina na cidade de Socorro, cidade essa que é próxima de Atibaia, em uma dessas viagens a educanda notou uma plantação de café, segundo relatos da mesma e de seu responsável, ela fez o pai parar o carro e tirou foto da plantação, enviando logo em seguida ao professor. Ao ver sua foto na televisão em um slide, exemplificando sobre como as técnicas para plantação dos cafezais holandeses tem ainda na atualidade continuidades, a educanda ficou extremamente feliz e relembrava esse fato sempre que o assunto era levantado na aula.

Na sequência o assunto tratado foi sobre os franceses, novamente utilizando o globo terrestre para localização, mas dessa vez antes de se iniciar a sequência de aulas foi perguntado aos educandos quais as características que eles lembravam ao se referir à França. As respostas foram, perfumes, torre Eiffel e que o filme o corcunda de Notre-Dame se passava em território francês.

Partindo-se desse ponto de conhecimento deles, pensando em uma educação pelos sentidos, nessa sequência de aulas foram trabalhados mais que a visão, audição e tato, incluiu-se o olfato no experimento “Tenho cheiro de quê”. O experimento consistiu em vendar os educandos, colocar itens aromáticos em algodões, dentro de pequenos copos descartáveis de café, devendo os educandos cheirar um pote por vez e dizer que cheiro tinha aquilo e que lembrança ele trazia.

As fragrâncias escolhidas para experimentação, foram baseadas no cotidiano da instituição, o perfume do professor de História, produto de limpeza com aroma de lavanda, usado na limpeza do local frequentemente, repelente usado pelos mesmos quando saem em passeios, cerveja, presente na vida dos responsáveis, perfume da professora de arte terapia e o café usado na instituição todos os dias. Os resultados dessa experimentação foram os mais diversos possíveis, porém alguns educandos se mostraram mais aguçados em identificar os cheiros. Todos os resultados foram anotados para serem usados durante as aulas seguintes.

Nesse processo de estudo cultural da França, os educandos se depararam com um trecho do livro “Perfume- a história de um assassino” de Patrick Süskind em que o autor retrata como Paris no século XVIII não tinha esse cheiro agradável presente no imaginário dos educandos e no senso comum.

Na época de que falamos, reinava nas cidades um fedor dificilmente concebível por nós, hoje. As ruas fediam a merda, os pátios fediam a mijo, as escadarias fediam a madeira podre e bosta de rato; as cozinhas, a couve estragada e gordura de ovelha; sem ventilação, salas fediam a poeira, mofo; os quartos, a lençóis sebosos, a úmidos colchões de pena, impregnados do odor azedo dos penicos. Das chaminés fedia o enxofre; dos curtumes, as lixívias corrosivas; dos matadouros fedia o sangue coagulado. Os homens fediam a suor e a roupas não lavadas; da boca eles fediam a dentes estragados, dos estômagos fediam a cebola e, nos corpos, quando já não eram mais bem novos, a queijo velho, a leite azedo e a doenças infecciosas. Fediam os rios, fediam as praças, fediam as igrejas, fedia sob as pontes e dentro dos palácios. Fediam o camponês e o padre, o aprendiz e a mulher do mestre, fedia a nobreza toda, até o rei fedia como um animal de rapina, e a rainha como uma cabra velha, tanto no verão quanto no inverno. Pois à ação desagregadora das bactérias, no século XVIII, não havia sido ainda colocado nenhum limite e, assim, não havia atividade humana, construtiva ou destrutiva, manifestação alguma de vida, a vicejar ou a fenecer, que não fosse acompanhada de fedor. (SÜSKIND, 1985, p.5).

Segundo relatos dos educandos após o experimento e a leitura dramatizada do texto, foi-se possível eles sentirem os cheiros de Paris. Dado isso, houve um estudo através das imagens das roupas francesas e de como, presenteados pelos holandeses com o café, os franceses vão começar a plantar em suas colônias e dominar parte desse mercado cafeeiro.

Finalizando a sequência de aulas sobre os franceses, tiveram uma sessão de cinema na instituição, com o filme o Corcunda de Notre- Dame, focando nas vestimentas da época, no funcionamento da cidade, religião e em como tratavam o deficiente, esse último fato gerou uma discussão muito interessante pois muitos estudantes compartilharam que sentem na sociedade atual muitos daqueles comportamentos de repulsa representados no filme por serem deficientes intelectuais.

As atividades que competem ao terceiro bimestre, iniciaram após o período de recesso das atividades na instituição em julho. Necessitou-se uma revisão de todo o conteúdo com os educandos, para que ela fosse mais eficaz, começamos pelas decisões dos detalhes do produto final o jogo. Então, na aula inicial desse bimestre fora apresentado aos estudantes, em uma lousa comum, três formatos para o tabuleiro, o primeiro: sendo uma espiral, em que os jogadores iniciam na ponta e tem a finalização no centro do tabuleiro, o segundo: um caminho com curvas, em que os jogadores começam de cima e vão através do caminho, até a parte inferior do tabuleiro e o terceiro sendo:  trajeto reto tendo o início em uma extremidade do tabuleiro e a chegada na extremidade oposta. Enfatizo que foi de extrema importância à todos os envolvidos, esse processo de votação, a fim de valorizar sua individualidade, mas de se verem como membros pertencentes a um grupo, esse método, repetiu-se em todas as decisões pertinentes ao jogo. Sendo assim, decidiu-se pelos educandos que o formato seria em espiral e confeccionado por eles nas aulas de arte terapia. Feita em uma folha de papel paraná, tendo seus cantos reforçados com madeira pinus. O nome do jogo, também foi decidido dessa maneira, o professor apresentou três opções e os educandos votaram, sendo elas “Café histórico”, “Jogo do Café” ou “Hora do Café”, através da votação dos educandos o vencedor foi o nome “Jogo do Café”, mas os mesmos optaram por colocar em inglês, dado que segundo eles esse nome era mais atrativo, então decidiu-se o nome Coffee Game.

Na aula seguinte, o foco foi iniciar o trabalho de elaboração das perguntas que seriam correspondentes a cada casa do tabuleiro. Essa estratégia serviu para revisar o conteúdo de uma forma mais contínua e lúdica.

Os estudantes escolhem primeiro se a casa é positiva ou negativa, ou seja, se ela vai auxiliar o jogador no percurso ou prejudicar. Após isso caso ela seja positiva quantas casas ele vai avançar, isso define a dificuldade da questão, caso negativa se esse jogador irá retroceder e quantas casas ou permanecer na casa necessitando decidir quantas rodadas. Nessa aula, definiu-se as cinco primeiras casas e suas questões pertinentes ao mito do surgimento do café e cultura etíope, as casas que o jogador devia responder, efetivamente questões para obter o benefício, foram elaboradas com quatro alternativas de resposta, sendo essas alternativas e a pergunta elaborada em cima do conteúdo pelos estudantes.

Identificou-se a partir dessa experiência que, para obter melhores resultados, não se tornar cansativo e maçante aos educandos, o conteúdo deveria ter um período a partir desse bimestre em todas as aulas que se destinariam às elaborações das perguntas de cada casa. Portanto, foi chamado de “Hora da Criação”, os momentos que serviriam para essa atividade, bem como, para uma retomada dos conteúdos.

Os estudos do café continuam tratando sobre a Guiana Francesa, vizinho do Brasil, mas pouco conhecida, foi de extrema importância para que o café chegasse em solo brasileiro. Dado que, foi Francisco de Melo Palheta, então sargento-mor no Pará, em viagem diplomática à Guiana Francesa, responsável por trazer ao Brasil, sementes e cinco mudas de café clandestinamente, pois era proibido pelo governo francês o comércio desses itens. Possibilitando ao Brasil, anos mais tarde, ser um dos maiores exportadores de café do mundo, esta parte da História foi de grande interesse dos educandos pois haviam muitas suposições de como o “senhor Palheta”, como apelidado pelo grupo, teria conseguido esses recursos, um possível adultério por parte da mulher do governador estava entre as suspeitas e boatos diziam que as sementes estavam em um buquê de flores.

Para concretização dessa sequência de aulas, utilizou-se o globo terrestre como anteriormente para localizar a Guiana Francesa (isso causou grande espanto em alguns dos educandos, dado que, não sabiam que o local era tão próximo ao Brasil), os slides com imagens do “senhor Palheta” e a caracterização do professor com um grande chapéu representando a vestimenta da época. O grupo escolheu fazer nas aulas de cerâmica uma flor com uma semente de café em cima, como peão para representar esse trecho da história.

Figura 4 – Flor com semente de café.

Fonte: Arquivo Pessoal/ 2019.

Tendo a chegada do café ao Brasil e os primeiros plantios sendo datados do século XVIII,  o verdadeiro auge comercial tendo sido atingido no século XIX, tratou-se de falar sobre Campinas, cidade do estado de São Paulo, essa que veio à se tornar grande produtora de café (muito conhecida dos educandos na atualidade, pois muitos tem consultas médicas na cidade, além de irem muito aos shoppings nas horas de lazer). Trabalhou-se o desenvolvimento da cidade, como o café era transportado pelos trens, aula em que os alunos foram apresentados à “maria fumaça”, tiveram seus olhos vendados e tinham que descobrir que som seria aquele, a maioria identificou rapidamente pois está sempre muito presente nas telenovelas que os estudantes consomem em suas casas.

O enriquecimento do barões do café às custas do trabalho de pessoas escravizadas, para exemplificar melhor, apresentou-se em uma sequência de aulas sobre a escravização no Brasil, utilizando fotos de pontos da cidade de Atibaia, como a igreja do Rosário e a casa paroquial, esta última que ainda se preserva um pelourinho. Os educandos apresentaram reconhecer os pontos, mas não suas origens e segundo relatos dos responsáveis após a sequência dessas aulas eles sempre contavam ao familiares a História do lugares estudados. Isso serviu de gancho para trabalhar o assunto de racismo na contemporaneidade com o grupo. O porto de Santos foi trabalhado da mesma forma que a cidade de campinas, através de imagens e sonorização dos navios.

O grupo decidiu, manter os quatro peões já feitos, uma vez após algumas experimentações optaram pelo jogo ter até quatro jogadores, ou, oito podendo serem quatro duplas. A partir desse momento, o maior foco foi na confecção do tabuleiro, pintura, customização e das questões de cada casa.

Figura 5 – Um dos testes realizados com mais de quatro peões.

Fonte: Arquivo Pessoal/ 2019.

Abrindo as atividades do quarto bimestre, os educandos foram desafiados a conversarem com suas famílias e buscarem informações sobre de qual lugar seus avós e bisavós vieram, algo necessário era aumentar esse diálogo dos educandos com seus familiares de forma autônoma, dado que previamente nas anamneses, o professor  já obtinha as informações. Através desse diálogo foi constatado que neste grupo haviam descendentes de imigrantes italianos, espanhóis, portugueses, alemães e japoneses.

Seguindo essa primeira aula, os estudantes analisaram quais cidades já conheceram ou ouviram falar que estão presentes no mapa da região sudeste, mais especificamente o Vale do Paraíba, região que o café esteve muito presente. Analisaram através de imagens na televisão, a história de Nicolau de Campos Vergueiro, pioneiro em contratar europeus durante o século XIX para trabalharem em suas plantações de café, a concretização veio por parte de imagens de comidas típicas trazidas pelos imigrantes europeus nesse período que na contemporaneidade estão presentes no dia a dia dos estudantes.

Avançando no assunto da imigração, foi estudado a imigração japonesa, tendo sua primeira viagem realizada em 1908, sendo notório, nos estudantes com essa ancestralidade, a empolgação com o conteúdo, inclusive um dos mesmos se ofereceu em uma aula para falar sobre as comidas japonesas que são apreciadas fortemente pelos demais. Tratou-se da cidade de Atibaia e de como essa cultura está fortemente presente, principalmente da tradicional festa das flores e dos morangos, (todo ano a cidade tem e desde a fundação da instituição os educandos vão em todas as edições). Enfatizando ainda nessa sequência de aulas, que algumas palavras presentes no senso comum, podem ser ofensivas e diminuir a cultura diferente, aula essa que foi realizado em forma de roda de conversa,  a fim de suscitar a ideia que para o respeito e uma sociedade igualitária existirem é necessário ouvir quem se sentiu ofendido e mudar algumas concepções preconceituosas que todos carregamos.

Finalizando essas aulas os educandos analisaram a história do café Atibaiense, este tendo produção iniciada na metade do século XX, na cidade de Atibaia, presente até hoje nos supermercados da região e na mesa dos educandos que manifestaram já terem tomado do mesmo. Devido a metodologia das aulas em roda terem dado bons resultados anteriormente, foi-se feito novamente, com o objetivo agora de discutir se o café ainda tem as mesmas características sociais que o envolviam em seu início, os educandos apresentaram diversos argumentos comprovando que “não” e sendo assim atingindo propósito desta análise, levá-los a concepção que a História é viva e presente no seu cotidiano.

Com as perguntas finalizadas e digitadas pelo docente, os estudantes colaram as impressões durante as aulas de arte terapia, em cartas feitas de embalagens de café reaproveitadas. Com todas as partes físicas do “Coffee Game” prontas. Surgiu a necessidade de elaboração das regras, feitas pelos próprios educandos apenas transcritas pelo educador, as regras são respeitar os colegas jogadores, não sendo permitido, ofender, falar palavrão, brigar ou ter qualquer tipo de provocações. Ocorrendo algum item do que já foi falado, o jogador será advertido e se tiver reincidência o mesmo não poderá jogar mais. A rigidez é reflexo de como são tratados, mas foi interessante notar nas falas, que eles queriam um jogo muito mais cooperativo em que as pessoas se ajudassem do que competitivo.

Para concretização, visitou-se o Museu do Café na cidade de Santos, visita essa preparada em conjunto com os educadores de ambas as instituições e personalizada ao grupo, ponto esse crucial na finalização do projeto, os educandos durante a visitação, mostraram-se empolgados e completavam as falas da guia sobre a história do café, por vezes até a interrompendo com afirmações que já tinham visto aquilo e outras que demostraram a internalização do conteúdo. Ainda sobre a visitação, foi notório que educandos que apresentavam ser muito retraídos para socializar com pessoas desconhecidas, tendo como assunto a história do café socializavam tranquilamente com a guia do museu e os demais funcionários nunca antes vistos por eles.

A finalização de todo o projeto, deu-se durante o sarau de realização anual da instituição, podendo todos os envolvidos e visitantes jogar o “Coffee Game” e apreciar as demais produções realizadas durante o ano pelo grupo de educandos.

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

O trabalho foi destinado à adultos com deficiência intelectual, deparou-se com sujeitos que, em sua maioria, já passaram por algum processo educacional, seja o regular, doméstico ou modelos integrativos. Demandou-se uma forma diferente do que eles já haviam se deparado ao estudar História. Buscando-se partir do mundo conhecido desses sujeitos, ou caso partir do desconhecido, fazer conexões com o conhecido deles, mas valorizando o conhecimento que ele adquiriu com seus anos de vida e acrescentando novos, pois eles só irão, por vezes, desconstruir estereótipos e até preconceitos quando se depararem por si mesmos com essa necessidade, isso pode ser facilitado pelo educador, colocando-os em situações de teste, no entanto é um processo interno.

Inicialmente, o primordial foi conhecer o universo de cada educando, ressalto o ponto da análise das anamneses, contudo é necessária uma maior profundidade que o relatório de diagnósticos não se atinge sozinho, deve-se sempre conversar com os estudantes, com seus responsáveis, com os demais integrantes da vida desse sujeito, bem como, com o restante dos especialistas que os atendem, para assim poder traçarem planejamentos. O engajamento dos educandos no projeto foi gradual. Conforme o produto final, o Coffee Game, tomava forma eles iam se interessando mais. A interdisciplinaridade foi de extrema importância no projeto, todos os profissionais da instituição, desde a equipe de limpeza, corpo docente e diretoria estavam engajados, com uma visão inclusiva da educação e tinham acesso ao planejamento das aulas uns dos outros facilitando assim a comunicação, podendo gerar, como gerou, grandes contribuições para o processo. Isso ocasionou que, o assunto “História do cafezinho” estivesse presente no dia a dia da instituição, por consequência, os educandos mesmo em dias que não tinham aula de História tinham contato ou acabavam por retomar esse conhecimento.

Por último, destaco a necessidade de exibir os projetos realizados para o restante da sociedade, seja em forma de sarau como é realizado na instituição, ou em apresentações. Esse ato de exibir, acarreta grande impacto nos educandos, bem como no restante da sociedade. Ao se ir prestigiar o trabalho, é levada à refletir e quebrar seus preconceitos internalizados. Durante esses eventos, possibilitam-se trocas de informações, estes educandos podem conversar, podem mostrar, apontar, mas estão fazendo isso sobre algo que eles mesmo produziram, seja fisicamente ou intelectualmente e é justamente nesses  momentos que pode-se notar a inclusão acontecendo, em situações que eles são levados à poder contar sobre suas realizações, seus processos, o que deu ou não deu certo nesse meio de tempo, ou seja, podendo expressar, do seu modo, a sua  própria História. E este é o objetivo maior de todo esse processo educacional: torná-los conscientes de que fazem parte da sociedade e são sujeitos históricos.

REFERÊNCIAS

ABUD, Kátia Maria; DE MELO SILVA, André Chaves; ALVES, Ronaldo Cardoso. Ensino de história. Cengage Learning, 2011.

BAQUERO, Ricardo. Vygotsky e a aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Medicas Sul, 1998.

DE CASSIA CRISTOFOLETI, Rita. A criança com deficiência intelectual e a aprendizagem da escrita: Um estudo sobre os processos de alfabetização de alunos que frequentam as salas de recursos multifuncionais. Linha Mestra, n. 36, p. 392-396, 2018.

HAASE, Vitor Geraldi Haase Geraldi. Como a neuropsicologia pode contribuir para a educação de pessoas com deficiência intelectual e/ou autismo?. Pedagogia em Ação, v. 8, n. 1, 2016.

MORIN, Edgar et al. Os setes saberes necessários à educação do futuro. Cortez Editora, 2014.

PAJARES, Frank; OLAZ, Fabián. Teoria social cognitiva e auto-eficácia: uma visão geral. Teoria social cognitiva: conceitos básicos. Porto Alegre: Artmed, v. 97, p. 114, 2008.

SILVA, Daianne Maria Barbosa da. O deficiente intelectual e o ensino de história no Centro de Ensino Especial de Planaltina-DF. 2015.

SÜSKIND, Patrick et al. O perfume: história de um assassino. Lusomundo, 2006.

[1] Pós graduado em Educação Especial com ênfase em Deficiência Intelectual e Graduado em Licenciatura plena em História.

Enviado: Outubro, 2020.

Aprovado: Novembro, 2020.

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Gabriel Dato de Araújo

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