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Modelo Dinâmico Fleuriet: Uma Análise Das Empresas Com Pedidos De Recuperação Judicial Listadas Na Bovespa

RC: 29694
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

SILVA, Alessandra Siqueira da [1], FONSECA, Elizangela Passos [2], LITTIG, Renan Barros [3]

SILVA, Alessandra Siqueira da. FONSECA, Elizangela Passos. LITTIG, Renan Barros. Modelo Dinâmico Fleuriet: Uma Análise Das Empresas Com Pedidos De Recuperação Judicial Listadas Na Bovespa. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 05, Vol. 02, pp. 114-137 Maio de 2019. ISSN: 2448-0959

RESUMO

A saúde financeira da empresa pode impactar sua capacidade de sobrevivência, sendo cada vez mais importante a utilização de métodos de análise constante de desempenho econômico-financeiro. Um dos métodos utilizados como instrumento de análise da liquidez é o Modelo Dinâmico de Capital de Giro (Método de Fleuriet), que tem um enfoque mais dinâmico, objetivando analisar o desempenho econômico-financeiro da empresa. Este estudo teve por objetivo testar se o Modelo Dinâmico de Fleuriet poderia ser capaz de sinalizar uma possível situação de insolvência. Tendo sido utilizadas como amostras empresas com pedido de recuperação judicial listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Para isso foram feitas as análises dos balanços Patrimoniais Consolidados das empresas, especificamente dos últimos cinco anos que antecederam ao pedido de Recuperação das empresas analisadas.

Palavra-Chave: Modelo Dinâmico, Insolvência, Recuperação Judicial.

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos o Brasil vem passando por crises econômicas marcantes e, em consequência, muitas empresas tiveram diminuição do fluxo de caixa e o aumento de seu endividamento, ocasionando diversas dificuldades em se manter no mercado. De acordo com a Serasa Experian (2018), “753 empresas entraram com pedido de recuperação judicial no primeiro semestre de 2018, contra 685 casos registrados em 2017”. Esses dados mostraram um aumento de 10% dos pedidos em comparação com o mesmo período de 2017. Contudo, além da crise econômica, outros fatores também colaboram para que uma organização não consiga permanecer bem economicamente, tais como a gestão financeira ineficiente, falhas no plano de negócios, falta de controle de custos, investimentos sem planejamento, dentre outros.

Empresas com problemas financeiros graves recorrem à recuperação judicial como forma de liquidar todas suas dívidas e voltar a serem viáveis econômica e financeiramente. Mas nem sempre a recuperação é possível, conforme dados do Serasa Experian (2018), que apontaram que em 2017, das companhias que pediram recuperação judicial, somente 27% conseguiram livrar-se da falência efetivamente.

Neste cenário, é imprescindível que os gestores de uma instituição estejam atentos aos sinais que indicam uma situação de risco, para que tenham condições de tomar decisões rápidas e precisas. Contudo, torna-se necessária a utilização constante de métodos de análise financeira, atentando para um gerenciamento do fluxo de caixa e do capital de giro. Conforme afirma Sato (2007, p. 21) “a administração do capital de giro é uma variável estratégica fundamental para a própria continuidade das empresas, visto que a mesma pode conseguir sobreviver alguns anos de atividade sem lucro, mas efetivamente fracassará se não tiver liquidez”. Também em relação à administração dos recursos, Assaf Neto e Silva (2002, p. 19) declaram que “uma administração eficiente do capital de giro requer alta rotação (giro) ao circulante, proporcionando dinamismo em seu fluxo de caixa”. Deste modo podemos interpretar que através deste procedimento seria possível saber como a organização gerencia seus recursos de curto prazo, possibilitando um maior controle desses recursos e evitando um capital de giro baixo, que poderia comprometer as atividades da empresa, podendo ainda, levar a uma situação de insolvência.

Atualmente alguns modelos de previsão de insolvência são utilizados com o intuito de verificar a probabilidade de uma possível falência empresarial, tais como: Kanitz (1978), Altman (1979), Elizabetsky (1976), Pereira (1982) e Matias (1978), que têm como instrumento a análise discriminante dos dados. E, alguns estudos recentes, foram feitos com o objetivo de testar a eficiência e aderência destes sistemas, do qual resultaram na constatação de que parte dos modelos apresentaram situações diferentes de previsão de insolvência, e que dependendo do modelo utilizado na análise o resultado foi divergente para uma mesma instituição, concluindo ainda que alguns destes sistemas apresentaram um alto grau de predição e outros apresentaram alto índice de erro na estimativa, não sendo confiáveis em prever casos de insolvência (BARROS e BEIRUTH, 2016; SILVA, 2017; ANDRADE e LUCENA, 2018).

De outro modo, porém, ainda com objetivo de analisar o desempenho econômico através de um instrumento que verifica a liquidez das empresas, o Modelo Dinâmico de Capital de Giro, idealizado por Michel Fleuriet e mais conhecido como Modelo Dinâmico de Fleuriet, propõe uma análise com enfoque mais dinâmico, buscando uma administração voltada para a sustentabilidade financeira e econômica de curto e longo prazo. Segundo Braga (1995), “o modelo dinâmico fornece explicações mais complexas e organizadas sobre as causas da evolução financeira comparativamente aos indicadores tradicionais”, que pode permitir aos grupos de interesses avaliarem o perfil financeiro da empresa.

Sobre a aplicação do Modelo Dinâmico, muitos estudiosos já se propuseram a investigar a sua eficácia, utilizando-o como ferramenta de análise da situação financeira de diversas instituições de diferentes segmentos, empregando os conceitos deste modelo, que consiste no estudo de três variáveis – Necessidade de Capital de Giro (NCG), Capital de Giro (CDG) e Saldo de Tesouraria (ST), dos quais concluíram que o Modelo Dinâmico se mostrou eficiente e prático em analisar a situação econômica financeira das organizações estudadas, confirmando ser o método eficaz para auxiliar a gestão do capital de giro. (ASSIS, 2015; KISNER, 2013; AMBROZINI, et al, 2015; MENDES, 2016; FERREIRA, 2018; PRADO, et al 2018).

Além destas investigações, também é possível encontrar estudos que utilizam o Modelo Dinâmico de Fleuriet atrelando-o a outros métodos de exame, tais como: o Modelo de Valor Econômico Agregado (EVA), o Termômetro de Kanitz e também o método tradicional, que faz uso dos indicadores de liquidez, de forma a obter maiores contribuições para as análises. Estes estudiosos concluíram que cada método apresenta vantagens distintas, sustentando que a utilização de outros métodos em conjunto com o método de Fleuriet seria possível uma melhor evidenciação da situação econômica da empresa, possibilitando a compreensão de suas necessidades financeiras, podendo auxiliar os gestores no processo decisório, e na elaboração de estratégias que possam neutralizar impactos gerados pela crise financeira. (NETO, et al, 2015; SCHNEIDER, 2015; SANTOS e FRANCISCO, 2016;)

Em todo este contexto, esta pesquisa visa responder a seguinte questão: o Modelo Dinâmico de Fleuriet poderia sinalizar uma possível situação de insolvência? Logo, este artigo teve como objetivo principal avaliar se o Modelo Dinâmico seria eficaz em indicar problemas na situação financeira da empresa, alertando para um possível estado de insolvência, utilizando-se da análise das Demonstrações Contábeis. Mais especificamente, dos Balanços Patrimoniais das organizações com pedidos de recuperação judicial listadas na BOVESPA.

Desta forma, este trabalho promove a sua relevância enquanto documento teórico e literário, conceituando e discutindo sobre Insolvência Empresarial, Lei das Falências e Recuperação Judicial. De maneira prática, a contribuição visa fazer uma análise da importância da aplicação do Modelo Dinâmico para avaliar o desempenho do capital de giro, e sua sensibilidade em sinalizar a possibilidade de uma situação de insolvência empresarial, pois, quanto mais comprovada a sua eficácia, os investidores, credores e administradores poderiam utilizar deste método de análise para averiguar de forma clara e objetiva como está a situação financeira de suas empresas, propiciando assim a tomada de decisões importantes e eficientes, conforme os seus interesses. Para tanto, foram feitos o levantamento e a síntese de referenciais teóricos que abordam o tema de interesse, a fim de dar base e nortear o objetivo principal deste trabalho.

REFERENCIAL TEÓRICO

SOLVÊNCIA E INSOLVÊNCIA EMPRESARIAL

Solvência é um indicador de que a sociedade empresarial se encontra financeiramente capaz de fazer face de suas obrigações correntes, criando uma expectativa de lucro que garanta a sobrevivência da empresa. De acordo com Troacã (2013), a solvência é um dos indicadores fundamentais que possui a capacidade de evidenciar se a empresa possui equilíbrio financeiro, que é um fator necessário para sua continuidade.

Em conformidade, Assaf Neto (2010, p. 267-268) afirma que “[…] a solvência reflete sobre a capacidade da empresa em cumprir suas obrigações de prazos mais longos.”. De outro modo a insolvência ocorre quando a empresa fica impossibilitada de cumprir suas obrigações, não possuindo saldo para pagar suas dívidas (MATARAZZO, 2010), entrando num estado de insolvência, situação em que suas dívidas tornaram-se maiores que seus ganhos.

Há muito tempo que se pesquisa sobre os modelos de previsão de insolvência de empresas, visto que, a importância de se prever esse tipo de situação, evitaria transtornos futuros a possibilidade de uma falência da organização. Sabendo-se que quanto mais eficiente for o diagnóstico financeiro, a tomada de decisão e a ação preventiva serão efetivas, dada a importância que a situação gera para os responsáveis associados à empresa. Logo as pesquisas mais clássicas sobre modelos de previsão de insolvência, foram as de Beaver (1966) e Altman (1968).

RECUPERAÇÃO JUDICIAL

A recuperação judicial é o meio pelo qual a empresa que se encontra em dificuldades financeiras procura fazer uma reestruturação da dívida com credores. A lei que disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, é a Lei nº 11.101 e foi sancionada em 09 de fevereiro de 2005 pela Presidência da República.

Segundo Fazzio Junior (2005), a recuperação judicial tem o intuito de oportunizar a manutenção da fonte produtora e proteger o emprego, que é a função social da empresa. A falência é o reconhecimento jurídico da inviabilidade da empresa. Representa o estágio final de sua existência (FAZZIO JUNIOR, 2005).

De acordo com esta ordem, no seu artigo 47, o objetivo da recuperação judicial é possibilitar que a empresa salde suas dívidas, superando a crise econômica, permitindo assim que a mesma siga com sua produção, e desta forma, continue gerando empregos, preservando a sua função social e atendendo aos interesses dos credores, como estimulo a atividade econômica. No artigo 48 da Lei 11.101 (BRASIL, 2005) encontram-se relacionados todos os requisitos necessários para que se possa entrar com pedido de recuperação judicial.

Desta forma, uma empresa entra com pedido de Recuperação Judicial quando está em uma situação de insolvência, ou seja, suas dividas com credores, fornecedores, funcionários e obrigações fiscais, são maiores que suas receitas, o que torna impossível a geração de lucro e o cumprimento de suas obrigações. Esse pedido é feito com a intermediação da justiça, para evitar sua falência. Após o pedido de Recuperação Judicial, é feito o Plano de Recuperação, no qual a empresa devedora apresenta uma proposta aos seus credores para conseguir liquidar suas dívidas. O objetivo principal é planejar o pagamento de todas as obrigações com os credores, para possibilitar que a empresa consiga se reestruturar financeiramente, identificando os erros cometidos que levaram ao estado de insolvência, oferecendo sugestões para a correção das falhas, evitando a falência, para que organização volte a gerar lucro, fomentando a economia através da geração de novos empregos.

Conforme determinação no artigo 51 da Lei de Recuperação Judicial (BRASIL, 2005), a empresa devedora precisará expor, em sua petição inicial de recuperação judicial, as causas concretas da situação patrimonial e as razões pelas quais está passando pela crise financeira. Deverá ainda, anexar as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido. Estes demonstrativos devem ser confeccionados com estrita observância da legislação societária aplicável, e compostos obrigatoriamente de Balanço Patrimonial, Demonstração de Resultados Acumulados, Demonstração do Resultado desde o último exercício social, e Relatório Gerencial do Fluxo de Caixa e de sua projeção.

Esta mesma Lei (BRASIL, 2005) destaca que o plano de recuperação judicial deverá ser apresentado em juízo no prazo 60 (sessenta dias) a partir da publicação da decisão que deferir o processamento da recuperação judicial, não podendo ser prorrogado, sob a pena de convocação em falência, caso descumpra o prazo estipulado. De acordo com o artigo 50 da Lei 11.101/2005, o documento deverá conter a discriminação detalhada dos meios de recuperação a serem empregados e seu resumo; bem como, o laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada e demonstração da sua viabilidade econômica.

Posteriormente a apresentação do plano de Recuperação, o juiz ordenará a publicação de edital contendo aviso aos credores sobre o recebimento do plano de restabelecimento, além de fixar o prazo para a manifestação de eventuais objeções, observando o artigo 55 da Lei 11.101/2005. Qualquer credor poderá manifestar a sua impugnação ao plano de recuperação judicial no prazo de 30 (trinta) dias contados da publicação da relação de credores. Depois de cumpridas as exigências da Lei, o togado concederá a retomada judicial e o devedor permanecerá em reassunção até que se cumpram todas as obrigações previstas no plano com vencimento de até 2 (dois) anos depois da concessão da recuperação judicial (BRASIL, Lei 11.101, 2005).

MODELO DE FLEURIET

O modelo dinâmico de Fleuriet foi desenvolvido no Brasil na década de 80, pelo professor francês Michel Fleuriet. O autor propôs um método de análise dinâmica da situação financeira das empresas, a partir da necessidade das instituições brasileiras, de ter métodos que se adaptassem a realidade do Brasil na época, visto que, neste período, o país passava por um rápido crescimento, mas ao mesmo tempo com altas taxas de inflação.

Segundo Fleuriet e Zeidan (2015), antes do método de Fleuriet, a análise da situação financeira das empresas era feita somente com base contábil e estática, medidas pelos índices de liquidez seca, corrente e geral e era considerado apenas o aspecto da solvência.

O modelo dinâmico de Fleuriet propõe que essa análise seja feita destacando os aspectos financeiros de liquidez, o que segundo os autores poderia permitir observar os impactos das mudanças na estrutura financeira das empresas. Fleuriet e Zeidan (2015) também enfatizam que “para uma melhor compreensão, as contas de ativo e passivo devem ser consideradas de acordo com a realidade dinâmica das empresas, relacionando-as com o tempo, conferindo estado de permanente movimentação e fluxo contínuo de produção”.

Segundo Fleuriet e Zeidan (2015), o Balanço Patrimonial deve ser dividido em elementos de curto e longo prazo. O Ativo Circulante se subdivide em Ativo Circulante Financeiro (ACF) ou Errático, constituído pelas contas relacionadas às atividades financeiras (caixa, bancos, aplicações financeiras e títulos de curto prazo) e o Ativo Circulante Operacional (ACO) ou Cíclico, formado pelas contas relacionadas às atividades operacionais (estoques, duplicatas a receber e provisão para créditos de liquidação duvidosa). Desta forma, o Ativo Realizável à Longo Prazo e o Ativo Permanente, passam a ser classificado no grupo Ativo Permanente ou Não-Cíclico. Já o Passivo Exigível à Longo Prazo, e o Patrimônio Líquido, constituem o Passivo Permanente ou Não Cíclico.

Assim, para dar início à análise segundo o método de Fleuriet, Vieira (2008) afirma ser necessária uma reclassificação das contas do Balanço Patrimonial, reorganizando as contas em Ativo e Passivo erráticos, que estão relacionados às contas de natureza financeira; Ativo e Passivo cíclicos, de natureza Operacional e Ativo e Passivo Permanente, contas de natureza estratégica.

Desta forma no ativo circulante errático estariam relacionadas todas as contas de natureza financeira da organização, como caixa, bancos e aplicações de curto prazo, e no passivo circulante errático as fontes de financiamento, assim como as demais operações que possuem relação direta com o ciclo operacional da empresa, tais como, duplicatas descontadas, empréstimos de curto prazo e dividendos a pagar. Enquanto que o ativo circulante operacional seria composto por todas as contas resultantes das atividades de investimento da organização, como as decorrentes das atividades de compra, estoques, vendas, adiantamentos a fornecedores e despesas antecipadas, e o passivo circulante operacional compreendido pelas contas relacionadas ao funcionamento da empresa como fornecedores, salários a pagar, encargos sociais, impostos e taxas.

Após o Balanço reestruturado seria possível obter informações quanto à discrepância de entradas e saídas de caixa, sobre as necessidades de capital de giro da empresa, por meio de três variáveis, NCG (Necessidade de Capital de Giro), CDG (Capital de Giro) e ST (Saldo de Tesouraria).

Posteriormente a reestruturação do Balanço Patrimonial, de acordo com a proposta do Modelo de Fleuriet, as contas ficariam classificadas conforme mostra o Quadro 1 abaixo:

Quadro 1 – Reclassificação do Balanço Patrimonial

Fonte: Fleuriet e Zeidan (2015).

Com o balanço reordenado, faz-se necessário relacionar as contas descritas e a partir de então calcular os indicadores que são a base do Modelo: Necessidade de Capital de Giro (NCG), Capital de Giro (CDG) e Saldo de Tesouraria (ST).

A Necessidade de Capital de Giro é o resultado da diferença entre as contas cíclicas do Ativo Circulante e do Passivo Circulante. A (NCG) mostra-se muito sensível às modificações que ocorrem no ambiente econômico em que a empresa opera.

NCG = Ativos cíclicos – Passivos cíclicos

O Capital de Giro (CDG) ou Capital Circulante Líquido (CCL) é representado pela diferença entre o Passivo Não Circulante e o Ativo Não Circulante. Também podendo ser calculado pela soma do Saldo em Tesouraria (T) e a Necessidade de Capital de Giro (NCG). Segundo Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003), “o capital de giro pode ser negativo, quando há recursos de curto prazo financiando ativos não circulantes. Porém, apesar do maior risco de insolvência, a empresa poderá se desenvolver, desde que sua NCG também seja negativa”.

CDG = Passivo Não Circulante – Ativo Não Circulante

CCL = Ativo Circulante – Passivo Circulante

Quanto ao Saldo de Tesouraria (ST), ele corresponde à diferença entre o Capital de Giro (CDG) e a Necessidade de Capital de Giro (NCG). Também pode ser obtido pela diferença entre Ativo financeiro circulante (Ativo Errático) e Passivo Financeiro circulante (Passivo Errático). Quando positivo indica que a companhia tem dinheiro suficiente para lidar com obrigações financeiras de curto prazo, sem reduzir os recursos alocados no ciclo operacional. Todavia sendo o Capital de Giro insuficiente para financiar a Necessidade de Capital de Giro, ou seja, o passivo financeiro maior que o ativo financeiro, o Saldo de Tesouraria será negativo, indicando um alto risco de insolvência, pois mostra que a empresa está financiando parte da NCG e o Ativo Permanente com recursos de curto prazo.

ST = Capital de Giro (GDG) – Necessidade (NCG)

De outro modo, se a empresa não conseguir fazer com que o seu Capital de Giro (CDG) aumente no mesmo ritmo em que sua Necessidade de Capital (NCG) aumenta, acontece o “Efeito Tesoura”, que é um termo utilizado quando a NCG é maior do que o CDG, provocando visualmente em um gráfico um efeito de cruzamento que se assemelha às laminas de uma tesoura. Esse efeito indica que o saldo de tesouraria encontra-se progressivamente negativo, o que mostra que há uma dependência marcante de seus recursos de curto prazo, para financiar suas atividades empresariais.

Após a análise e a combinação dessas variáveis (CDG), (NCG) e (ST), é possível verificar como está à situação financeira da empresa no tocante a liquidez e solvência em determinado período de tempo. Cada combinação representa uma situação financeira que foi estruturada por Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003) e Braga (1991). Conforme o quadro a seguir:

Quadro 2 – Tipos de Situação Financeira

Tipo CDG NCG ST Situação
1 + + Excelente
2 + + + Sólida
3 + + Insatisfatória
4 + Péssima
5 Muito ruim
6 + Alto risco

Fonte: Adaptado de Marques e Braga (1995).

Desta forma, existem seis classificações de situação financeira de acordo com o nível em que se enquadra a empresa.

No Tipo 1, a combinação de CDG positivo, NCG negativo e ST positivo, indica uma situação financeira excelente. A empresa com este padrão de estrutura patrimonial possui grande capacidade de liquidar suas obrigações, ou seja, as origens de capital são maiores que as saídas de caixa.

No caso do Tipo 2, a organização revela uma sólida situação financeira, com sua liquidez (T>0) garantida pela existência de financiamento estratégico líquido (CDG>0) superior à sua necessidade de investimento operacional em giro (NCG>), logo o Capital de Giro é suficiente para atender as necessidades da empresa com saldo disponível em tesouraria.

Já no Tipo 3, esse nível indica que a empresa analisada está em situação financeira insatisfatória, pois não possui recursos financeiros para investimentos, e utiliza os recursos de curto prazo para financiar os seus ativos, (T<0, CDG>0 e NCG >0). O Tipo 4 mostra uma situação financeira péssima. Uma empresa com este padrão de estrutura patrimonial revela situação financeira com alto risco de insolvência. O seu saldo Tesouraria (ST) está financiando parte dos ativos permanentes, os imobilizados e a Necessidade de Capital de Giro (NCD). Este é o perfil financeiro que apresenta um maior risco de insolvência.

No Tipo 5, a empresa que possui este padrão de estrutura patrimonial revela situação financeira muito ruim, pois precisa estar utilizando dívida
liquida onerosa (T<0) e sobra de financiamento com passivos operacionais (NCG<0), na cobertura de seu investimento líquido em ativos estratégicos (CDG>0).

Por fim o Tipo 6 é quando a estrutura patrimonial revela situação de pré-insolvência, uma vez que financia todas as suas necessidades de capital (NCG>0 e CDG<0) usando, exclusivamente, dívida líquida onerosa (ST<0).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa se caracteriza como sendo descritiva e quantitativa, visto que foram feitas análises de um grupo de empresas que entraram com pedido de recuperação judicial, sendo utilizada a análise das demonstrações contábeis, através da técnica do modelo Dinâmico. Conforme afirmam Prodanov e Freitas (2013, p52), uma pesquisa descritiva procura observar, registrar, analisar e ordenar os dados, sem o uso de manipulação. “… utiliza-se de técnicas específicas, dentre as quais se destacam a entrevista, o formulário, o questionário, o teste e a observação” (PRODANOV e FREITAS, 2013, p. 52). Para tanto, os dados necessários para o estudo foram coletados da base de dados do software Economática®, que disponibiliza as demonstrações contábeis de companhias de capital aberto de todo o mundo, inclusive de empresas brasileiras. Esse banco de dados encontra-se disponível na Fucape Business School do Espírito Santo.

A amostra deste estudo corresponde a trinta e oito empresas de capital aberto listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) que entraram com pedido de recuperação judicial entre os anos de 2000 e 2018. As empresas objeto de pesquisa são compostas por diversos ramos de atividades dentre as quais temos: Comércio Varejista, Serviços, Holding, Indústria, Energia Elétrica, Indústria e Exportação, Indústria e Comércio e Distribuição Farmacêutica. Os dados foram transferidos para uma planilha Excel para facilitar o cálculo das variáveis necessárias para a aplicação do método.

Optou-se por estudar os cinco últimos anos anteriores ao pedido de recuperação judicial, pois desta forma seria possível uma melhor visão da evolução da situação financeira das empresas.

Logo abaixo, a Tabela 1 contém a relação de todas as empresas que fazem parte da amostra a ser analisada.

Tabela 1 – Empresas em recuperação judicial

Empresas Data do Pedido Ramo de Atividade
Agrenco Ltda 01/09/2008 Comércio Varejista
Atom Empreend. e Participações S/A 01/09/2014 Serviços
Bombril Holding 08/11/2005 Holding
Botucatu Têxtil S/A 07/02/2008 Indústria
Brasil Pharma S/A 10/01/2018 Distr. Farmaceutica
Buettner S/A Indústria e Comercio 18/05/2011 Indústria. e Comércio
Centrais Elétricas do Para S/A 28/02/2012 Energia Elétrica
Cerâmica Chiarelli S/A 09/01/2009 Indústria. e Comércio
Clarion S/A Agroindustrial 07/06/2013 Indústria
Conpel Companhia Nordestina de Papel 21/08/2017 Indústria
Construtora Beter S/A 15/09/2008 Serviços
Dommo Energia S/A 19/09/2014 Indústria. e Comércio
Eneva S/A 09/12/2014 Energia Elétrica
Eternit S/A 20/03/2018 Indústria
Fabrica de Tecidos Carlos Renaux 12/12/2011 Indústria
Fiação Tecidos São José S/A 12/07/2010 Indústria
Fibam Companhia Industrial 07/11/2014 Indústria
GPC Participações S/A 17/05/2013 Indústria
Hoppi Hari S/A 26/08/2016 Serviços
IGB Eletrônica S/A 09/12/2009 Indústria
Inepar Equipamentos e Montagens S/A 01/09/2014 Serviços
Inepar S/A 01/09/2014 Indústria
Lupatech S/A 13/12/2014 Indústria
Mangels Industrial S/A 01/11/2013 Indústria
Metalúrgica Duque S/A 03/02/2014 Indústria. e Comércio
MMX Mineração Metálicos S/A 25/11/2016 Indústria
Oi S/A 20/06/2016 Serviços
Óleo e Gás Participações S/A 19/11/2013 Indústria
PDG Companhia Securitizadora 23/02/2017 Serviços
PDG Realty S/A Empreedimentos e Participações 23/02/2017 Serviços
Pomifrutas S/A 24/01/2018 Comércio e Expor.
Recrusul S/A 25/01/2006 Indústria. e Comércio
Rede Energia Participações S/A 23/11/2012 Indústria
Refinaria Petróleo Manguinhos S/A 28/01/2013 Indústria
Sansuy Indústria de Plásticos S/A 22/12/2005 Indústria
Tecnosolo Engenharia S/A 06/08/2012 Serviços
Teka Tecelagem Kuehnrich S/A 26/10/2012 Indústria
Wetzel S/A 03/02/2016 Indústria

Fonte: Adaptado pelas autoras em (2018)

Primeiramente, foram coletados os dados necessários para a análise das Demonstrações Contábeis, mais especificamente do Balanço Patrimonial Consolidado dos últimos vinte trimestres anteriores ao pedido de recuperação judicial de cada empresa. Das 38 (trinta e oito) empresas, foi necessário descartar 06 (seis), por possuírem dados insuficientes e/ou faltantes, que impossibilitaria a aplicação do método.

A próxima etapa da pesquisa foi reorganizar os Balanços Patrimoniais de cada empresa, de acordo com o método de Fleuriet, dividindo o Ativo e Passivo Circulante em Financeiro (contas erráticas) e Operacional (contas Cíclicas) conforme Quadro 1. Com o Balanço Patrimonial devidamente organizado foi possível calcular as variáveis Necessidade de Capital de Giro (NCG), Capital de Giro (CDG) e o Saldo de Tesouraria (ST). Com os dados obtidos após a analise dos três indicadores permitiu-se a classificação dos tipos de situação financeira em cada trimestre, de acordo com o modelo dinâmico.

Após os cálculos das variáveis, Capital de Giro (CDG), Necessidade de Capital de Giro (NCG) e Saldo de Tesouraria (ST), transferiram-se os resultados para gráficos, conforme orientação do método de análise dinâmica de Michel Fleuriet o que possibilitou verificar o comportamento financeiro de cada organização, permitindo assim uma melhor visualização da situação econômico-financeira, no decorrer de cada trimestre.

ANÁLISE DOS DADOS

O objeto da análise foi as empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA), que entraram com pedido de recuperação judicial no período de 2000 a 2018.

O resultado da análise dessas variáveis está demonstrado nos gráficos de cada empresa abaixo:

Figura 1: Gráficos Análise Dinâmica de Fleuriet

Fonte: Dados da Pesquisa

Os gráficos acima apontaram que as empresas Cerâmica Chiarelli, Fabrica de Tecidos Renaux, Teka Tecelagem, Buettner S/A e a Fiação São Jose, em quase todo período analisado permaneceram com saldo tesouraria (ST), capital de giro (CDG) e Necessidade de capital de giro (NCG) negativos, ou seja, classificadas na situação muito ruim (Tipo 5).

De outro modo, as empresas Botucatu Têxtil, Conpel Cia Nordestina de Papel e IGB Eletrônica estavam com Capital de Giro (CDG) negativo, Necessidade Capital de Giro (NCG) positivo e saldo tesouraria (ST) negativo no vigésimo trimestre, indicando uma situação péssima (Tipo 4), mas próximo ao pedido de recuperação passaram para uma situação classificada como muito ruim (Tipo 5), sendo considerada uma pequena melhora, mas ainda assim continuaram com uma situação financeira preocupante.

Com a Necessidade de Capital de Giro (NCG) positiva, Capital de Giro Negativo (CDG) negativo e Saldo Tesouraria (ST) negativo, indicando situação péssima (Tipo 4), do vigésimo ao primeiro trimestre que antecedeu o pedido de recuperação, ficaram classificadas as empresas GPC Participações e Inepar Equipamentos e montagens S/A.

As empresas Eternit S/A e Fibam Cia Industrial S/A permaneceram de forma constante, com a Necessidade de Capital de Giro (NCG) positiva, o Capital de Giro (CDG) positivo e o Saldo de Tesouraria (ST) negativo, ou seja, situação considerada insatisfatória em todo período analisado.

Os gráficos também mostram que algumas empresas apresentaram o “Efeito Tesoura”, que ocorre quando a Necessidade de Capital de Giro (NCG) é maior do que o Capital de Giro (CDG), evidenciado nas empresas Brasil Pharma S/A (17º trimestre), Eternit S/A (15º trimestre) e Eneva S/A onde foi possível verificar, com maior clareza no gráfico, o “Efeito Tesoura” no 11º trimestre.

O Quadro 4 a seguir, mostra como ficaram classificados os tipos de situação financeira de cada empresa, seguindo a classificação de acordo com o Quadro 2, do primeiro trimestre anterior ao pedido de recuperação até o vigésimo trimestre.

Quadro 4 – Classificação dos tipos de Situação Financeira

Fonte: elaborado pelas autoras

Conforme Quadro 4, a média das situações e de acordo com os gráficos acima, houve uma piora gradual do tipo de situação até o segundo trimestre anterior ao pedido, sendo que, no primeiro trimestre que antecedeu a recuperação judicial ocorreu uma pequena melhora, pois passa da situação péssima (Tipo 4) para uma situação muito ruim (Tipo 5). Também foi possível observar que num total de trinta e duas empresas estudadas, vinte e duas apresentaram um nível de situação constante, durante a maior parte período analisado.

De acordo também com a média, no primeiro trimestre anterior ao pedido, a classificação das situações ficou acima do tipo 4, variando em 0,72 conforme indica o desvio padrão. Essa classificação apontou de fato um nível condizente com a situação real da empresa analisada. Ao mesmo tempo nota-se que esta informação aparentemente não foi útil para que se pudessem definir ações para evitar tal situação, uma vez que em muitos casos o nível de classificação da empresa mudou abruptamente, como podemos verificar nas empresas Óleo e Gás participações, Refinaria Petróleo Manguinhos e a Oi S/A.

Fica evidente que a presença de qualquer tipo de situação de forma constante não funciona como um indicativo de possível insolvência. Como exemplo pode citar as empresas Botucatu Têxtil, Óleo e Gás Participações, Mangels Industrial S/A, Inepar Equipamentos e Montagens S/A, Fibam Cia Industrial e Fiação Tecidos São José, Eternit S/A, Chiarelli, Fabrica de Tecidos Carlos Renaux S/A, que se mantiveram em situação excelente, insuficiente ou muito ruim por um longo período e mesmo quando em nível excelente não impediu que a empresa entrasse com o pedido de recuperação judicial.

A tabela 2 apresenta a frequência em que cada empresa permaneceu em uma determinada situação, ou tipo de situação, no período dos vinte trimestres, como segue:

Tabela 2 – Frequência das Tipologias no Período da Amostragem

Empresas Situações
Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3 Tipo 4 Tipo 5 Tipo 6
Botucatu Têxtil S/A 0% 0% 0% 95% 5% 0%
Brasil Pharma S/A 0% 20% 0% 40% 40% 0%
Buettner S/A Indústria e Comercio 0% 0% 0% 0% 100% 0%
Centrais Elétricas do para S/A 0% 5% 20% 75% 0% 0%
Cerâmica Chiarelli S/A 0% 0% 0% 5% 90% 5%
Clarion S/A Agroindustrial 0% 5% 75% 10% 10% 0%
Conpel Cia Nordestina Papel 0% 0% 0% 80% 20% 0%
Construtora Beter S/A 0% 60% 25% 10% 5% 0%
Eneva S/A 45% 0% 0% 35% 20% 0%
Eternit S/A 0% 10% 90% 0% 0% 0%
Fab Tecidos Carlos Renaux S/A 0% 0% 0% 5% 95% 0%
Fiação Tecidos São Jose S/A 0% 0% 0% 0% 100% 0%
Fibam Companhia Industrial 0% 0% 100% 0% 0% 0%
GPC Participações S/A 0% 0% 0% 100% 0% 0%
IGB Eletrônica S/A 0% 0% 40% 5% 55% 0%
Inepar Equip. e Montagens S/A 0% 0% 0% 100% 0% 0%
Lupatech S/A 0% 20% 25% 55% 0% 0%
Mangels Industrial S/A 0% 85% 0% 10% 5% 0%
Metalúrgica Duque S/A 0% 0% 0% 85% 15% 0%
MMX Mineração e Metálicos s/a 0% 10% 15% 60% 10% 5%
Oi S/A 15% 55% 20% 10% 0% 0%
Óleo e Gás Participações S/A 95% 0% 0% 0% 5% 0%
PDG Companhia Securitizadora 0% 0% 70% 30% 0% 0%
PDG Realty S/A 70% 20% 0% 0% 0% 10%
Pomifrutas S/A 0% 10% 30% 55% 5% 0%
Recrusul S/A 0% 0% 30% 70% 0% 0%
Rede Energia Participações S/A 0% 0% 30% 70% 0% 0%
Refinaria e Petróleos Manguinhos 15% 10% 20% 0% 40% 15%
Sansuy Indústria de Plásticos 0% 0% 5% 95% 0% 0%
Tecnosolo Engenharia S/A 0% 15% 80% 0% 5% 0%
Teka Tecelagem Kuehnrich S/A 0% 0% 0% 0% 100% 0%
Wetzel S/A 0% 0% 25% 75% 0% 0%
MÉDIA 8% 10% 22% 37% 23% 0

Fonte: Elaborado pelas autoras

Observa-se que em todo o período considerado, em média, as empresas permaneceram 37% dos trimestres em situação péssima (Tipo 4). De acordo com o Modelo de Fleuriet uma situação péssima indica que a empresa financiou suas necessidades de capital de giro utilizando exclusivamente o saldo de tesouraria negativo (ST). Organizações que mantém o saldo de tesouraria negativo fazem uso excessivo de empréstimos de curto prazo para conseguir manter-se financeiramente, mas essa dependência pode leva-las ao estado de insolvência.

Também foi possível verificar que a média das empresas que encontravam-se em situação muito ruim (Tipo 5) foi de 23%, o que demonstra que as mesmas financiaram os seus ativos de longo prazo utilizando-se de recursos de curto prazo, podendo comprometer a saúde financeira e tornando-as suscetíveis às mudanças abruptas de prazos de pagamentos e crises econômicas, que podem reduzir significativamente essas fontes de financiamento.

Numa situação considerada insatisfatória (Tipo 3), verificou-se que 22% das empresas apresentaram esse resultado em maior número dos trimestres, indicando que essas empresas necessitaram de recursos de terceiros de curto prazo para honrar com seus compromissos. Empresas nesse tipo de situação tornam-se muito vulneráveis e com risco de liquidez de acordo com o modelo de Fleuriet.

Dentre as empresas que permaneceram em maior frequência numa situação considerada equilibrada, temos a Óleo e Gás Participações S/A e a Mangels Industrial S/A, que até o segundo trimestre que antecedeu o pedido de recuperação judicial, permaneceram numa situação financeira excelente e sólida, respectivamente, porém no trimestre anterior ao pedido apresentaram piora significativa. No caso da empresa Óleo e Gás Participações S/A, por se tratar de exploração de petróleo e gás, uma atividade que envolve altos investimentos com pouca garantia de retorno, não obteve êxito nas suas prospecções, diferente da empresa Mangels Industrial S/A, onde a piora na situação financeira deveu-se a crise financeira que se instalou no país.

Entretanto, de forma oposta sà citadas anteriormente, outras empresas estiveram em uma situação não muito favorável, de forma contínua, durante todo período analisado, estando em nível muito ruim ou alto risco.

As duas situações acima, embora diametralmente opostas, fluíram no final para um resultado muito semelhante, porém, ficando perceptíveis que se tornaram insolventes provavelmente por fatores muito diferentes umas das outras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi analisar se o Modelo de Fleuriet poderia sinalizar uma possível situação de insolvência. Para o estudo optou-se analisar as empresas que entraram com pedido de recuperação judicial listadas na BOVESPA, no período dos anos 2000 a 2018.

Após a aplicação do método dinâmico, foi possível verificar a estrutura financeira das empresas estudadas nos vinte trimestres anteriores ao pedido de recuperação judicial, e concluiu-se que o método é bastante eficiente, e pode sinalizar para uma instabilidade na situação econômico-financeira da organização. Porém, não é seguro para sinalizar uma provável situação de insolvência, visto que algumas empresas que apresentavam uma situação excelente em um determinado trimestre, e no seguinte apresentaram uma situação muito ruim, que levou ao pedido de recuperação.

Conforme foi observado, as empresas Óleo e Gás Participações S/A e Mangels Industrial S/A, estiveram em situação excelente e sólida respectivamente em praticamente todo o período que antecedeu os pedidos de recuperação judicial, porém devido a vários fatores internos e/ou externos entraram em situação de insolvência, demonstrando que o método possui pouca ou nenhuma eficácia em detectar a situação futura de uma empresa, uma vez que está pode eventualmente se tornar insolvente por fatores econômicos ou políticos alheios ao seu controle.

Fica claro pelas análises que o método também não seria indicado para a utilização por possíveis investidores externos como ferramenta de verificação da possibilidade de crescimento de uma determina empresa, visto que apenas sinaliza a situação que a empresa se encontra no momento atual, pois conforme visto nas análises, mesmo as empresas que estavam por vários trimestres em situação muito boa, por motivo de força maior, não conseguiram evitar uma situação crítica a ponto de entrarem com pedido de recuperação judicial.

Desta forma entendemos que o método serve para sinalizar a situação financeira da empresa no momento atual, servindo aos administradores como ferramenta para avaliar a tomada de decisões estratégicas, que possam evitar uma situação de insolvência futura.

Pelo presente exposto espera-se que esse estudo sirva como base de conhecimento para pesquisas futuras, sugere-se a aplicação do método juntamente com outros métodos, usando outras variáveis, em grupos de atividades específicas.

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Artigo Científico aprovado pelo Instituto de Ensino Superior Blauro Cardoso de Mattos, no curso de Graduação em Ciências Contábeis, como exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em Ciências Contábeis.

[1] Formanda em Ciências Contábeis pela Faculdade de Ensino Superior Blauro Cardoso de Mattos.

[2] Formanda em Ciências Contábeis pela Faculdade de Ensino Superior Blauro Cardoso de Mattos.

[3] professor especialista do Instituto de Ensino Superior Blauro Cardoso de Mattos.

Enviado: Março, 2019

Aprovado: Maio, 2019

 

 

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Alessandra Siqueira da Silva

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