ARTIGO ORIGINAL
SILVA, Carolina Araujo da [1]
SILVA, Carolina Araujo da. A Segunda Guerra Mundial e as suas repercussões na Administração Contemporânea: transformações históricas, econômicas e organizacionais. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 10, Ed. 02, Vol. 01, pp. 93-112. Fevereiro de 2025. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/administracao/repercussoes-na-administracao, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/administracao/repercussoes-na-administracao
RESUMO
O presente artigo visa a exploração do passado como forma de evidenciar os efeitos da tragédia na história mundial nos mundos administrativo e corporativo. Subdividido em tópicos que permeiam os fatos, a história, a economia mundial, a metodologia, os resultados, a Administração pós-Guerra e as considerações finais, este artigo defende o estudo como forma de propagação de informação, uma vez que as transformações mundiais em termos econômicos e sociais estão presentes até hoje nas sociedades e é essencial entendê-las. Durante o conflito e a partir de 1945, datado o fim da Segunda Guerra Mundial, diferentes ideologias políticas foram criadas, a antiga ideia de Economia foi transformada e junto dela, novas abordagens econômicas, o conhecimento de geopolítica (aprimorado no após já que diversos territórios foram alterados) e a noção de Humanidade foi materializada e, com ela, leis que protegem os cidadãos. Todos esses acontecimentos influenciaram a Administração mundial e alguns comportamentos corporativos atuais são reflexos da Segunda Guerra. Por isso, traçar um paralelo entre o passado, o presente e o futuro são essenciais para a compreensão, a reflexão a respeito do comportamento do mercado de trabalho e do universo organizacional e para estudar as perspectivas futuras.
Palavras-chave: Administração, Segunda Guerra Mundial, Humanidade, Efeitos pós Guerra.
1. INTRODUÇÃO
A Segunda Guerra Mundial é um marco incontestável na história em termos políticos e sociais, já que estabeleceu relações concretas entre as empresas e os clientes e entre as empresas e a classe trabalhadora. Novos recursos instalados nas indústrias e a necessidade da demanda pelas fábricas estimularam o crescimento econômico, transformando países e gerando repercussões sociais e culturais perseverantes.
Durante o período de tensão (1939-1945), diferentes países precisaram desenvolver táticas de produção e de logística atreladas a sistemas econômicos diversos e temporários que visavam a sustentação da nação durante o conflito. Isso permitiu às empresas uma visão macroeconômica do mercado após a guerra e isso é refletido no comportamento empresarial até os dias atuais. As empresas começaram a analisar, de maneira ampla, a demanda do mercado, a alteração dos valores e dos preços (custo e lucro), o comportamento dos seus trabalhadores e as suas respectivas necessidades.
A dinâmica da Segunda Guerra Mundial exigiu aos países transformações nunca experienciadas antes e os crimes cometidos contra a Humanidade e contra os direitos humanos, também nunca vistos naquela proporção antes, mudaram a maneira como o universo corporativo enxerga e planeja as relações. Com o fim do conflito, algumas abordagens econômicas e sociais feitas pelas empresas foram revisadas e se mantém até hoje.
Buscando conectar eventos históricos e seus reflexos no comportamento corporativo atual, este artigo partiu da seguinte pergunta-problema: Como a Segunda Guerra Mundial influenciou as práticas administrativas nas empresas e quais são as novas perspectivas para a gestão organizacional no contexto contemporâneo?
Este trabalho tem como objetivo principal traçar um paralelo entre o impacto da Segunda Guerra Mundial e a evolução das práticas administrativas, analisando as transformações nos âmbitos econômico, social e organizacional. Dentre os objetivos específicos, destacam-se: compreender como os eventos históricos afetaram e moldaram o comportamento organizacional contemporâneo, investigar as práticas gerenciais originadas no pós-guerra e propor novas perspectivas para a gestão em um mundo econômico e social extremamente volátil.
A relevância do estudo reside na necessidade de compreender os impactos históricos que moldaram as práticas administrativas atuais, evidenciando as raízes de conceitos como a flexibilidade, a valorização do capital humano e a responsabilidade social corporativa. A pesquisa também se justifica pela sua contribuição ao entendimento das relações entre o passado e o presente, auxiliando gestores e pesquisadores a projetar práticas inovadoras e sustentáveis no futuro.
A compreensão completa dos fatos e o acesso à informação igualitário a todos é primordial para evitar que, nos próximos séculos, a massa populacional continue sendo oprimida, silenciada e manipulada. Por meio da análise de documentos, pesquisas e estudos, foram investigadas mudanças econômicas e sociais nos períodos anterior e posterior à guerra, assim como identifica-se as novas perspectivas para a gestão organizacional no futuro.
É comum no ambiente corporativo contemporâneo o setor chamado “RH” ou Relações Humanas, essa nova interação e metodologia foi criada após a guerra e é oriunda da Teoria das Relações Humanas, que prega um ambiente mais humano para os trabalhadores. Tal abordagem discordava das teorias já existentes na época, uma vez que essas buscavam o sucesso das corporações e a alienação e o desgaste do trabalhador, conforme afirma Chiavenato (2003). Evidencia-se, dessa forma, que alterações práticas e que afetam a vida dos trabalhadores foram realizadas após o conflito.
Pode-se perceber que os âmbitos processuais, gerenciais e trabalhistas foram transformados devido o conflito de 1939. A Administração Mundial teve que se volatizar e aprender com os ensinamentos cruéis da Segunda Guerra em prol da sobrevivência e da evolução de suas respectivas organizações.
Portanto, estudar as transformações é essencial, já que foram enraizadas na cultura administrativa e permeiam a rotina dos trabalhadores e das empresas até hoje, talvez de uma forma ainda exploradora.
2. UMA IMERSÃO NA HISTÓRIA
Com o fim da Primeira Guerra Mundial e, consequentemente, a sua devastação territorial, militar e econômica, cresceu-se, na Alemanha, uma onda política fortíssima que rapidamente ganhou visibilidade e seguidores – a Alemanha Nazista. Adolf Hitler chegou ao poder em 1933 e o seu grande projeto era reconstruir a dignidade alemã perdida na Primeira Guerra. Ao recuperar a economia, o líder iniciou o rearmamento do país, proibido devido o Tratado de Versalhes, para, posteriormente, desenvolver o expansionismo territorial, seu objetivo principal era tornar a Alemanha uma potência grandiosa.
O Tratado de Versalhes é um documento de 1919 assinado pelas potências europeias que pôs um fim na Primeira Guerra Mundial e, de acordo com a Alemanha, esse foi imposto a ela. Ao analisar o documento, percebe-se claramente que o objetivo do acordo era o enfraquecimento da Alemanha e sua limitação militar e econômica em prol da harmonia mundial. Seu objetivo não foi alcançado, Hitler rompe com o contrato em 1935. A seguir apresenta-se dois artigos retirados do Tratado que exemplificam a ideia:
“Art. 160 – O exército alemão não deverá ter mais do que sete divisões de infantaria e três de cavalaria. Em nenhum caso, a totalidade dos efetivos do exército deverá ultrapassar 100 mil homens.”
“Art. 171 – Estão proibidas na Alemanha a fabricação e a importação de carros blindados, tanques ou qualquer outro instrumento que sirva a objetivos de guerra.” (Tratado de Versalhes, 1921)
O plano ideal de Hitler começou com a invasão e anexação da Áustria, momento nomeado como “Anschluss” e que ocorreu em 1938. No ano seguinte, os alemães externaram ao mundo o seu desejo de invadir e anexar a região dos Sudetos, Tchecoslováquia, e após negociações mediadas por britânicos e franceses, os alemães receberam a permissão de anexar a região.
Finalmente, o evento mais esperado por Hitler, já que esse guardava forte rancor do cenário passado, veio a Polônia, país do Leste Europeu que foi criado no final da Primeira Guerra Mundial em territórios que anteriormente pertenciam à Alemanha e à Rússia. Além disso, a Conferência de Munique foi crucial para o início da Segunda Guerra. Os ingleses e os franceses exigiram que as ambições de Hitler fossem limitadas à Tchecoslováquia e após a invasão alemã no território polonês, descumprindo as exigências, a Inglaterra e a França oficialmente declaram guerra à Alemanha.
Neste momento, as potências mundiais estão divididas em dois grupos: os Aliados: Reino Unido, França, União Soviética e Estados Unidos e o Eixo: Alemanha, Itália e Japão.
Entre 1939 e 1941, os alemães conquistaram grande parte da Europa: a Polônia, a Dinamarca, a Noruega, a Holanda, a Bélgica, a França, a Iugoslávia e a Grécia e essas conquistas aconteciam em um ritmo avassalador. Em 1941, a Alemanha parecia invencível e os alemães planejaram o seu pensamento mais ousado e desafiador de toda a guerra: a Operação Barbarossa.
Essa tinha como objetivo invadir e dominar o principal inimigo dos alemães: o bolchevismo soviético. Até então, as duas nações mantinham uma relação pacífica, uma vez que, em 1939, haviam assinado um pacto de não agressão, comprometendo-se a não entrar em conflito durante um período de 10 anos.
A invasão ocorreu no dia 22 de junho de 1941, e essa data marca outro início de um marco crucial na Guerra: na cidade de Stalingrado, a Alemanha sofreu a derrota que deu esperanças aos Aliados e deu partida para a reviravolta. Os números das mortes em apenas uma batalha são aterrorizantes, são cerca de 2 milhões de corpos deixados em Stalingrado.
Em 1943, a Alemanha Nazista lutava externa e internamente, uma vez que encarava um colapso no exército, na economia e na indústria e nesse mesmo ano, diversas perdas ocorreram que enfraqueceram mais a potência nazista. Em junho de 1944, britânicos e americanos lideraram, no dia 6, o desembarque de tropas conhecido como o Dia D. Essa operação estava inserida nos planos de reconquista da França, que estava ocupada pelos alemães desde 1940. Em seu livro “O Dia D – A batalha que salvou a Europa.”, o historiador Antony Beevor (2012), disserta sobre esse evento histórico e as experiências das tropas militares britânicas e americanas.
Nesse momento histórico, aproximadamente 150 mil soldados desembarcaram em cinco praias da Normandia e simultaneamente, no mesmo ano, o exército soviético libertou a Polônia em janeiro de 1945. Ainda em 1944, os soviéticos avançaram sobre a Alemanha, derrotando o III Reich, assim, o conflito na Europa chegou ao fim em 8 de maio de 1945, com a rendição da Alemanha Nazista.
Já no Pacífico, onde a guerra estava longe de ter um fim, os Estados Unidos intensificaram a pressão sobre o Japão e, no final de 1944, conquistaram as ilhas Marshall, Carolinas, Marianas e as Filipinas. Em 1945, a Birmânia foi invadida e a ilha de Okinawa foi ocupada.
Sem a possibilidade de se render aos EUA, o Japão enfrentou um dos ataques mais mortais e imperdoáveis da história. Em 6 de agosto de 1945, os Estados Unidos lançaram uma bomba atômica na cidade de Hiroshima, e, três dias depois, em 9 de agosto, repetiram o mesmo ataque, agora em Nagasaki. O acordo feito pelos políticos e responsáveis dos EUA era que as bombas caíssem em cidades militares ou industriais, porém ambas caíram sobre cidades muito populosas. A rendição do Japão foi formalizada em 2 de setembro de 1945, colocando um ponto final no conflito no Pacífico.
O historiador britânico Eric Hobsbawm, nascido em 1917, afirmou e refletiu sobre a temática em 2002 em uma entrevista:
“Vivi a I Guerra Mundial, quando entre 10 milhões e 20 milhões de pessoas morreram. Naquela época, britânicos, franceses e alemães acreditavam ser necessário. Eu discordo. Na II Guerra Mundial, 50 milhões morreram. Valeu a pena o sacrifício? Eu sinceramente não consigo pensar que não tenha valido. Não posso dizer que o mundo teria sido melhor se fosse governado por Adolf Hitler.” (Hobsbawm, 2002)
3. O HOLOCAUSTO
Quando se estuda a respeito da Segunda Guerra Mundial, é inevitável entender sobre o Holocausto. No momento em que o partido nazista surgiu, em 1920, o antissemitismo era uma característica que já estava enraizada na filosofia do partido e na mente dos que o seguiam. A presença do antissemitismo no Nazismo era notória no escopo do partido e nunca temeram em esconder que pregavam o pensamento de que nenhum judeu poderia ser um verdadeiro alemão.
Ao assumir o poder, Adolf Hitler pôs em prática diversas medidas que excluíam cada vez mais os judeus da sociedade, assim como propagavam no partido e, com o início da Segunda Guerra, esse começou a discutir intervenções de como tratar a “questão judia” na Europa. Com o início da guerra, os judeus no Leste da Europa começaram a ser inseridos em guetos, áreas específicas nas cidades, isoladas pelas tropas nazistas, onde eram forçados a coexistir, sem outra alternativa.
Esses guetos serviam como lugares de concentração temporária, uma vez que os judeus seriam deportados para os campos de concentração e extermínio. O plano de exterminar todos os judeus, que se intensificou durante a guerra, é descrito pelo historiador Timothy Snyder (2018) como uma “utopia” de Hitler, que foi reformulada por dois membros do Partido Nazista à medida em que os rumos do conflito não correspondiam às expectativas do regime. Os responsáveis pela reconfiguração desse plano foram Reinhard Heydrich e Heinrich Himmler, razão pela qual ambos são considerados os principais arquitetos do Holocausto.
Acreditava-se que os judeus que não eram úteis para a mão-de-obra deveriam morrer e, por isso, os grupos de extermínio foram criados e com o nome bem sugestivo, o objetivo era fazer uma limpeza das áreas por fuzilamento. Com o tempo, essa solução, além de demorar mais do que os nazistas gostariam, trouxeram aos soldados graves questões psicológicas, o que levou os nazistas a pensarem em outra alternativa.
Os campos de concentração começaram a adotar o extermínio por câmaras de gás. Dentre os crimes cometidos nos campos de concentração, destacam-se a jornada de trabalho extenuante, os maus-tratos diários e as péssimas condições de higiene. Os prisioneiros viviam em alojamentos que ultrapassavam sua capacidade máxima e eram mal alimentados, quando eram, e as execuções aconteciam como forma de manipulação psicológica dos prisioneiros, além das execuções nas câmaras de gás.
Em seu livro chamado “É isto um homem?”, o escritor italiano Primo Levi relata em primeira pessoa os horrores vividos por ele em um dos campos de concentração e traz a reflexão sobre a fragilidade humana e o limite da crueldade: “Entreolhávamo-nos sem dizer uma palavra. Tudo era incompreensível e louco, mas entendêramos algo: aquela era a metamorfose que nos esperava. Amanhã, nós também estaríamos assim.”. (Levi, 1947, p. 19)
Os primeiros a encontrar um campo de concentração foram as tropas soviéticas, que descobriram o campo de Auschwitz no dia 27 de janeiro de 1945. O oficial ucraniano Anatoliy Shapiro foi o primeiro a entrar no campo e abriu os portões do campo principal. Estima-se mais de 2,9 milhões de vítimas brutalmente mortas, segundo o jornal BBC (2015).
4. METODOLOGIA
A revisão sistemática, uma metodologia que elabora um sistema geral de referência, contribui para o estudo e para o desenvolvimento de projetos, indicando investigações e métodos. Logo, para se desenvolver uma lógica e uma pesquisa completas, pergunta-se: Como a Segunda Guerra Mundial transformou as práticas de administração nas empresas, e quais são as novas perspectivas para a gestão organizacional?
- Critérios de inclusão na pesquisa:
– Trabalhos acadêmicos que tratam das Teorias da Administração;
– Artigos que abordam do efeito histórico e social na Administração;
– Estudos que discutam as práticas organizacionais contemporâneas.
- Critérios de exclusão na pesquisa:
– Trabalhos que não abordam a questão histórica;
– Estudos com o foco nas questões militares e não administrativas.
4.1 AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS ESTUDOS
Após a análise dos documentos escolhidos, pode-se perceber algumas semelhanças e padrões entre as dissertações. Todos os três estudos destacam a flexibilização do sistema bem como a mudança para um sistema orgânico.
Enquanto Araujo (2007) disserta sobre o quanto o conjunto de configurações institucionais emergentes no novo modelo de Administração têm como fim responder de maneira mais adequada às exigências sociais, econômicas e políticas, o estudo de Abrucio (1997) disserta a respeito da experiência internacional e compara de forma menos lúdica o antes e o depois dos comportamentos administrativos sobre as influências internacionais.
Ao discorrer sobre a cultura organizacional, Motta (2002) aborda os primórdios dos pensamentos e das abordagens. Ao conectar esses conhecimentos aos artigos sobre a Administração Contemporânea pós-burocrática e sobre as influências internacionais, nota-se que a história mundial teve um papel essencial para a formação da cultura organizacional atual, não apenas a Segunda Guerra, mas também a Primeira Guerra e as Revoluções Industriais.
A estrutura política brasileira, bem como o setor público, teve mudanças significativas quando se trata na Administração. Essa foi fortemente influenciada pelo passado histórico mundial e os conflitos internacionais. Dentre as transformações do universo corporativo no Brasil, os estudos destacam a busca pela qualidade do serviço, juntamente com a personalização desses, a ênfase na mudança e na inovação e um ambiente de cooperação entre os colaboradores.
A respeito das perspectivas futuras, não há certezas absolutas, mas algumas tendências estão crescendo e podem se tornar grandes potências de metodologias em um futuro próximo. Dentre elas estão a desburocratização, ou seja, a simplificação de processos e a descentralização de poder e políticas que prezam pela sustentabilidade e pela responsabilidade social, percebida nos estudos.
Entretanto, há uma lacuna entre os fatos históricos e as práticas no dia a dia das organizações, percebida durante a análise dos documentos, não há uma conexão explícita entre os efeitos e as consequências da Segunda Guerra Mundial na Administração. Desenvolver um paralelo entre a cultura administrativa atual e as influências históricas sobre ela, especialmente durante a Segunda Guerra Mundial é essencial para se ter a compreensão total dos fatos.
Por isso, o presente artigo, através de artigos científicos, documentários, livros publicados, estudos detalhados e da análise matemática busca desenvolver uma linha tênue dos fatos, das influências e das consequências, para que assim, não haja mais intervalos na propagação da informação.
5. MUDANÇAS ECONÔMICAS
Em termos matemáticos, estima-se um gasto de 4,1 trilhões de dólares no final da Segunda Guerra, dividido entre os 72 países envolvidos de acordo com a revista Forbes (2017). É preciso entender que, quando se trata de Economia, os acontecimentos históricos servem de combustíveis para episódios monetários.
Logo, para tornar algo didático, deve-se entender, em primeira instância, que os Estados Unidos assumiram um protagonismo, ou seja, tudo reflete diretamente em sua economia e em seu mercado acionário.
A 2ª Guerra Mundial, de uma certa forma, teve como um dos impulsos os reflexos da crise econômica de 29, originada nos EUA tendo como estopim a quebra da bolsa de Nova York. Nesse contexto, na medida em que os desdobramentos indicavam a derrota do Eixo em meados de 1945, o índice Dow Jones (Um estudo que analisa o mercado de ações nos EUA) respondeu positivamente, mostrando uma valorização considerável no intervalo entre o início e o fim do conflito, apesar de quedas mais acentuadas no início do conflito.
Figura 1: Índice Dow Jones durante e depois da Guerra

A figura 1 mostra uma resposta positiva, uma vez que os Estados Unidos, durante e depois da Guerra, abasteceram o mercado interno e forneceram aos seus aliados equipamentos e suprimentos, dessa forma, além de colaborar com a sua economia, tal estratégia os ajudou a estabelecer ótimas relações internacionais.
De maneira geral, as duas ou três décadas do pós-guerra foram um período de mudanças generalizadas e de duradouro crescimento econômico. A ideia de um verdadeiro desenvolvimento com distribuição de renda que significasse melhorias concretas no padrão de vida das populações parecia estar se convertendo em realidade, independentemente do modelo político adotado.
A partir disso, pôde-se refletir que a economia brasileira se beneficiou da Segunda Guerra e se encontrava em um período de prosperidade. Isso porque a participação do Brasil na Guerra intensificou as relações comerciais com os Aliados, principalmente os EUA, que investiram na infraestrutura nacional. A diminuição das importações permitiu que os industriários brasileiros, inclusive os cafeicultores, investissem no setor industrial, o Brasil acumulou superávits comerciais e reservas em dólares e em 1946, a indústria cresceu 18,5% e o PIB, 11,6%.
Nesse cenário, com o trágico fim da Segunda Guerra Mundial e a ascensão das economias do ocidente, as organizações de diferentes setores tiveram que se adaptar para sobreviver a esse novo mundo que estavam submetidas, por isso, diferentes abordagens econômicas e sociais foram desenvolvidas e permeiam as culturas das empresas até a contemporaneidade.
6. A ADMINISTRAÇÃO NO PÓS-GUERRA
O Darwinismo empresarial baseia-se na teoria da Evolução de Darwin, em que a empresa que melhor se adapta às transformações do mercado e de forma eficiente, usa seus mecanismos em prol dos seus objetivos, sobrevive. De acordo com Batista ([s.d.]), valores como a flexibilidade, a colaboração e a sustentabilidade são priorizadas nos dias atuais.
Para Batista ([s.d.]), isso ocorre devido ao novo conceito de “Capitalismo Consciente”, um paradigma que simultaneamente desenvolve diversos tipos de bem-estar para todas as partes interessadas. Por isso, atualmente, empresas conscientes são mais valorizadas e sucedidas, já que enxergam os trabalhadores como colaboradores. Tais vertentes de pensamento surgiram durante o conflito, onde as organizações tiveram que adaptar seu mercado e suas produções em prol do lucro.
O comportamento organizacional atual reflete bastante o passado econômico e social vivido. Elton George Mayo (1980), o pai da Teoria das Relações Humanas que foi pensada e desenvolvida em 1940 nos Estados Unidos e mais recentemente com novas ideias com o nome de Teoria do Comportamento Organizacional foi o movimento de reação à Teoria da Administração Clássica, com ênfase concentrada nas pessoas.
Naquela época, Mayo (1980) percebeu a necessidade de tornar a Administração mais democrática a partir de seu experimento chamado “Experiência de Hawthorne”. Concluiu-se que o nível de produção é determinado pela expectativa do grupo, ou seja, os trabalhadores esperavam ser reconhecidos pelos seus esforços e que as organizações deveriam funcionar como engrenagens.
Com os resultados avassaladores do conflito, leis que protegem a integridade humana e a materialização da Humanidade foram criadas, o objetivo da época era humanizar o sistema. Com isso, a partir de 1950, foi criada a Teoria Estruturalista e o seu objetivo era integrar todas as teorias das escolas. Esse pensamento se iniciou com a Teoria da Burocracia, desenvolvida por Max Weber (2012) que se inspira na racionalidade, na adequação dos meios aos objetivos, para que se tenha o máximo de eficácia e eficiência.
É evidente que as empresas precisaram transformar seus métodos e suas logísticas, em especial as que participaram ativamente do conflito. Essas tiveram seus nomes manchados com o fim trágico da guerra e precisaram se reerguer de forma ágil. Dentre elas estão:
- a Hugo Boss, que providenciou os uniformes nazistas;
- a Volkswagen, que colaborou com os meios de transporte durante a guerra, foi nesse momento em que o famoso “Fusca” foi criado;
- a Bayer, que fabricava o gás das câmaras dos campos de concentração;
- a BMW, que solicitou escravos judeus para ajudar nas fabricações.
Após o conflito, algumas empresas fizeram compensações aos trabalhadores forçados, como a Volkswagen e outras tentaram silenciar o assunto e se distanciar das ações, como a BMW, mas no geral, houve pouca responsabilização imediata e substancial, e a compensação para as vítimas foi demorada e, em alguns casos, insuficiente.
Por isso, políticas atuais como o RH, dinâmicas entre as equipes em prol do objetivo final e a semana de quatro dias foram adotadas para tornar o ambiente de trabalho um lugar menos exploratório, pelo menos aos olhares dos trabalhadores, aqueles que, na perspectiva das empresas, não devem se rebelar.
Para tornar visual e didático a teoria do presente artigo, um quadro comparativo foi realizado com o intuito de ludificar as transformações do mundo empresarial e do mundo social, bem como a evolução da Administração.
Quadro 1: Principais mudanças nas práticas administrativas
Aspecto | Antes da Segunda Guerra Mundial | Após a Segunda Guerra Mundial | Impactos Contemporâneos |
Modelo de Gestão | Administração Clássica: foco na eficiência e no lucro | Teoria das Relações Humanas: foco nas pessoas | Valorização do capital humano e práticas de ESG |
Organização do Trabalho | Estrutura rígida e hierarquizada | Maior flexibilidade e adaptação às mudanças | Implementação de políticas de trabalho flexíveis |
Tecnologia e Produção | Baixa industrialização e métodos tradicionais | Expansão tecnológica e otimização da produção | Automação e Indústria 4.0 |
Economia Global | Cenário fragmentado e nacionalista | Consolidação de economias globalizadas | Globalização e interdependência econômica |
Políticas Sociais e Trabalhistas | Pouca proteção ao trabalhador | Criação de leis humanitárias e direitos trabalhistas | Adoção de práticas de responsabilidade social |
Cultura organizacional | Ênfase na autoridade e no controle | Cultura de inovação e flexibilidade | Liderança transformacional e cultura colaborativa |
Papel do Estado | Mínima intervenção estatal | Estado de bem-estar social | Regulação econômica e promoção de políticas sociais |
Fonte: Resultados da pesquisa, elaborado pela autora, 2024.
O Quadro 1 apresenta uma análise comparativa das transformações nas práticas administrativas, destacando o impacto de eventos históricos, como a Segunda Guerra Mundial, e suas repercussões contemporâneas. A transição do modelo de Administração Clássica, com foco na eficiência e no lucro, para a Teoria das Relações Humanas, que valoriza o papel das pessoas nas organizações, reflete uma evolução significativa na gestão, culminando atualmente na ênfase no capital humano e nas práticas de ESG (Ambiental, Social e Governança).
Outro ponto relevante foi a transformação na organização do trabalho, que migrou de estruturas rígidas e hierarquizadas para configurações mais flexíveis e adaptáveis às mudanças do mercado, evidenciando a implementação de políticas que atendem à necessidade contemporânea de conciliação entre trabalho e qualidade de vida.
Adicionalmente, os aspectos ligados à tecnologia e à produção destacam o salto da baixa industrialização para a automação e a Indústria 4.0, marcando a crescente dependência de tecnologias digitais e inteligentes para a eficiência produtiva. A economia global, antes fragmentada, evoluiu para uma interdependência entre países, com a globalização exigindo das empresas estratégias que equilibrem competitividade e sustentabilidade.
As mudanças nas políticas sociais e trabalhistas, impulsionadas pela criação de direitos humanitários e pela maior proteção ao trabalhador, ilustram o avanço das práticas de responsabilidade social nas empresas, enquanto a cultura organizacional se deslocou de uma abordagem controladora para uma cultura colaborativa e de inovação, essencial para enfrentar os desafios da contemporaneidade.
Por fim, o papel do Estado, que antes adotava uma postura mínima, ampliou-se para abarcar políticas de bem-estar social, regulação econômica e incentivos à equidade social, desempenhando um papel central na articulação entre os interesses do mercado e os objetivos sociais.
O quadro 1 evidência como a interação entre os fatores históricos, sociais, tecnológicos e econômicos moldou práticas administrativas mais inclusivas e responsivas às demandas da sociedade contemporânea. Esses aspectos fornecem uma base robusta para compreender os desafios e tendências atuais, além de reforçar a importância da evolução contínua das práticas de gestão em um mundo em constante transformação.
Com os ensinamentos e as mudanças de perspectiva da Segunda Guerra, filosofias que prezam pelo cuidado físico e psicológico dos trabalhadores se espalharam e, com elas, leis que os protegem foram criadas. Além disso, políticas de maior flexibilização do trabalho foram desenvolvidas, bem como o incentivo a uma participação mais ativa dos colaboradores.
As transformações dos vieses de pensamento se iniciaram nas teorias administrativas que surgiram após a guerra, como a Teoria das Relações Humanas, aqui já vista.
A alteração dos modelos de gestão ludifica que o comportamento organizacional reflete o pensamento social. Para se encaixarem na sociedade e se manterem no mercado, as empresas precisavam transparecer o sentimento de empatia e transformação, isso sendo natural ou não.
Após o conflito, em que as relações internacionais se tornaram mais ativas, a globalização e os sistemas de importação e exportação se expandiram, permitindo às empresas maior produtividade e lucratividade.
Como já estudado, a economia dos Estados Unidos e do Brasil estavam favorecidas no fim da guerra, o que permitiu a esses países, suas consolidações, bem como o desenvolvimento mais acelerado de tecnologias de inovação e a sua introdução na Quarta Revolução Industrial. Em seu livro “A História Econômica do Brasil”, Caio Prado disserta sobre o processo de transformação da economia brasileira de uma potência exportadora de café para uma potência industrializada após a guerra e conclui que o conflito foi determinante para a industrialização e modernização da infraestrutura brasileiras.
O papel do Estado na Administração contemporânea é multifacetado, ou seja, vai desde a regulação econômica até a promoção de políticas sociais, passando pela inovação tecnológica e pelo desenvolvimento sustentável. O que antes era negligenciado, esquecido e silenciado, hoje é admirado, incentivado e democratizado.
As raízes de pensamento foram alteradas e isso refletiu diretamente no comportamento estatal e organizacional. São notórias as alterações na rotina empresarial e no sistema econômico brasileiro. A Segunda Guerra está no passado, mas seus aprendizados e reflexões estão no presente e persistirão no futuro, onde políticas que incentivam a colaboração, a flexibilidade, o bem-estar e a responsabilidade social estarão presentes, segundo Chiavenato (2003).
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao analisar a história e os eventos trágicos que a cercam, traça-se um paralelo entre o passado, o presente e o futuro essencial para compreender o comportamento, não apenas organizacional, mas também social.
Em termos sociais, impedir que o genocídio de 1939-1945 aconteça novamente é o mínimo quando se espera uma sociedade evoluída e harmônica. A sociedade, não apenas brasileira, mas sim, mundial, tinha uma perspectiva limitada quando se tratava do conceito de humanidade e o verdadeiro sentimento de empatia, já que isso veio após a Segunda Guerra. Quando tais pensamentos chegaram à sociedade, isso se refletiu no comportamento organizacional e nas estruturas administrativas e esses precisaram se adaptar para tangenciar seu público-alvo, a sociedade, vistos nos estudos metodológicos.
Em termos administrativos, entender a origem dos comportamentos empresariais atuais é crucial para sobreviver neste ramo e, além disso, participar ativamente desse. Ao comparar a Administração antes e depois da guerra, a diferença das abordagens e das teorias criadas, dos pensamentos e das culturas organizacionais desenvolvidas são notórios. Antes, tinha-se o foco na lucratividade, não que isso tenha mudado, mas talvez tenha sido camuflado por essa obrigação social de valorizar os trabalhadores imposta devidamente nas empresas.
O presente artigo contribuiu aos estudos relacionados ao tema de forma relevante ao desenvolver uma ligação entre os eventos históricos e os comportamentos econômicos, alcançou seu principal objetivo de analisar os efeitos da Segunda Guerra na Administração, bem como democratizar as informações em prol da igualdade de conhecimento.
A sociedade deixa de lado um sistema focado no lucro e na eficiência e começa a desenvolver estratégias que beneficiam a todos, e não apenas os resultados. Organizações que prezam pelo processo e não só pelo objetivo final e que agem pensando no bem-estar dos trabalhadores representam o futuro.
Não há certezas absolutas em relação ao futuro, mas há uma estabilidade de comportamento que vem sendo analisada e posta em prática desde o fim do conflito. A humanização do sistema foi minimamente alcançada, mas não se acredita que as organizações avançarão em um sentido de igualdade entre os colaboradores, já que, além do sistema político dominante no mundo não apoiar esse comportamento, tal filosofia não favorece os proprietários e diretores, os que, de fato, comandam as empresas.
A reflexão, assim como a sugestão para futuras pesquisas, aqui deixada é se, depois de tantas mudanças econômicas e com a criação de diversas teorias administrativas que provem e valorizem os direitos humanos após a Segunda Guerra, o universo corporativo busca a empatia e a colaboração dos seus membros em prol da Humanidade ou se esse comportamento apenas tenta mascarar e minimizar a opressão e a exploração do trabalhador na visão desses e da mídia na busca incansável pelo lucro.
REFERÊNCIAS
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[1] Graduação na Universidade Federal Fluminense – 2024-2028. ORCID: 0009-0001-4600-9348.
Material recebido: 19 de outubro de 2024.
Material aprovado pelos pares: 28 de outubro de 2024.
Material editado aprovado pelos autores: 10 de fevereiro de2025.