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Perfil epidemiológico de sífilis na gestação no estado do Amapá, Amazônia, Brasil, entre 2018 e 2022

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

AMANAJÁS, Emarine Carla Almeida [1], DIAS, Claudio Alberto Gellis de Mattos [2], DENDASCK, Carla Viana [3], ARAÚJO, Maria Helena Mendonça de [4], FECURY, Amanda Alves [5]

AMANAJÁS, Emarine Carla Almeida et al. Perfil epidemiológico de sífilis na gestação no estado do Amapá, Amazônia, Brasil, entre 2018 e 2022. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 09, Ed. 09, Vol. 01, pp. 186-203. Setembro de 2024. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/sifilis-na-gestacao, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/saude/sifilis-na-gestacao

RESUMO

A sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) e que durante a gestação pode causar abortos, má formação do feto, cegueira, surdez, deficiência mental e/ou morte ao nascer, sendo considerada uma ferramenta de destaque na avaliação da qualidade da assistência pré-natal. Este artigo teve como objetivo traçar o perfil epidemiológico da sífilis em gestantes no estado do Amapá, Amazônia, Brasil, entre os anos de 2018 e 2022, através de dados oriundos do DATASUS. Foram notificados 2.069 casos de sífilis em gestantes durante o período do estudo. Observou-se aumento no número de casos entre 2018 e 2019 de 282 para 364 casos. Em 2020, provavelmente pelo período pandêmico, houve diminuição no número de diagnósticos para 309. O ano de 2021 foi o ano com maior número de casos, com um total de 594 registros, seguido por 2022 com 520. A maioria das pacientes eram mulheres pardas, com ensino fundamental completo e que possuíam entre 20 e 39 anos. A classificação clínica mais frequente foi a de sífilis primária, período com grande probabilidade de transmissão vertical. Apesar da maioria dos casos terem sido registrados no município de Macapá, a capital do estado foi a única capital no Brasil cuja taxa de detecção de sífilis em gestantes foi menor do que a média do estado. Foram registrados também casos oriundos de ilhas do Pará, como Afuá, Breves e Chaves, provavelmente devido à proximidade destes municípios a centros referência de saúde localizados em municípios do Amapá. Com isso, o Amapá registrou taxa de detecção de sífilis em gestantes de 36,24 em 2021 e de 34,52 casos para cada 1.000 nascidos vivos em 2022, sendo considerada a quarta maior do país, e a segunda da região norte. Diante dos resultados, aponta-se para a necessidade de estratégias de prevenção da população suscetível e de diagnóstico e tratamento adequados dos casos de sífilis em gestantes, evitando-se assim a incidência de sífilis congênita e outras complicações, sobretudo nas regiões rurais.

Palavras-chave: Doenças de notificação compulsória, Epidemiologia, Gestação, Infecções sexualmente transmissíveis, Sífilis.

1. INTRODUÇÃO

A sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) causada pela bactéria Treponema pallidum que pode ser transmitida através da relação sexual desprotegida com uma pessoa infectada ou durante a gestação ou parto (Brasil, 2024).

Apresenta-se através de diversas manifestações clínicas, com estágios denominados primário, secundário e terciário. A probabilidade de transmissão é maior durante os dois primeiros estágios, quando o paciente pode apresentar desde uma ferida única, indolor, no local de penetração da bactéria (podendo ser tanto os órgãos genitais, quanto boca ou outros locais da pele) entre 10 e 90 dias após o contágio (sífilis primária) até manchas no corpo, acompanhadas de febre, cefaleia e ínguas pelo corpo, que desaparecem após algumas semanas e que trazem a falsa impressão de cura (sífilis secundária). Por sua vez, a sífilis terciária costuma manifestar-se através de lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares, neurológicas e, dependendo da gravidade e estado imunológico, pode levar à morte (Brasil, 2024).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que, em 2020, cerca de 7,1 milhões de pessoas entre 15 e 49 anos adquiriram sífilis em todo o mundo. Em 2016, ano da última estimativa mundial disponível pela OMS, sete a cada 1.000 mulheres grávidas tinham sífilis, as quais resultaram em 143.000 casos de mortes fetais ou natimortos, 61.000 mortes neonatais, 41.000 nascimentos prematuros ou com baixo peso ao nascer e 109.000 casos de sífilis congênita (OMS, 2023), o que destaca a importância epidemiológica mundial da doença.

Em 2005, através da Portaria nº 33 do Ministério da Saúde, a sífilis em gestantes passou a ser considerada um agravo de notificação compulsória. Desde então, observa-se um crescimento constante na taxa de detecção da doença, sendo notificados em todo o país 624.273 casos no período de 2005 a junho de 2023 (Brasil, 2023).

O diagnóstico de sífilis durante a gestação é uma preocupação devido a possibilidade de causar abortos, má formação do feto, cegueira, surdez, deficiência mental e/ou morte ao nascer (Brasil, 2016). Deste modo, a identificação da sífilis durante o período gestacional é uma ferramenta de destaque na avaliação da qualidade da assistência pré-natal, além de um importante indicador do funcionamento e monitoramento dos sistemas de informação em saúde, cuja notificação e preenchimento adequados possibilitam o planejamento de estratégias de prevenção e enfrentamento (Rocha et al., 2023).

2. OBJETIVO

Traçar o perfil epidemiológico da sífilis em gestantes no estado do Amapá, Amazônia, Brasil, entre os anos de 2018 e 2022.

3. MÉTODOS

Desenvolveu-se um estudo descritivo e retrospectivo acerca dos casos de sífilis em gestantes notificados no estado do Amapá e diagnosticados no período compreendido entre os anos de 2018 e 2022. O estado se localiza na região norte do Brasil, na região Amazônica. Possui população estimada em 733.759 habitantes, é composto por 16 municípios e possui área total estimada de 142.470 km2 (IBGE, 2023).

As demais variáveis avaliadas foram: estado e município de residência e de realização do pré-natal, faixa etária, classificação clínica (sífilis primária, secundária, terciária ou latente), raça e escolaridade.

Para determinar a taxa de detecção de sífilis em gestantes calculou-se a razão entre o número de casos notificados por ano e o número de nascidos vivos, multiplicados por 1.000.

Os dados foram obtidos por meio dos dados disponíveis o Departamento de Informática do Sistema único de Saúde (DATASUS) através do sítio eletrônico http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinannet/cnv/sifilisgestantebr.def para a determinação dos casos de sífilis em gestantes e http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinasc/cnv/nvuf.def para a obtenção dos dados de nascidos vivos, e posteriormente tabulados e analisados através de planilhas eletrônicas e gráficos construídos utilizando o software Microsoft Excel, componente do pacote Office da Microsoft Corporation.

4. RESULTADOS

Entre os anos de 2018 e 2022 foram registrados 2.069 casos de sífilis em gestantes no estado do Amapá, com destaque para o ano de 2021 com 594 casos. A maioria das mulheres eram pardas (75,9%; n=1571) e possuíam entre 20 e 39 anos (69,4%; n=1435). Mulheres com idade entre 15 e 19 anos representaram 27,1% (n=560) do total de casos notificados no estado (Tabela 1).

Pacientes com o Ensino Fundamental completo somaram 26,3% (n=545) do total de pacientes diagnosticadas no período. Gestantes com Ensino Médio completo e com Ensino Fundamental incompleto também alcançaram números próximos, representando 24,6% (n=510) e 24,3% (n=503), respectivamente. Mulheres com o Ensino Superior completo e analfabetas tiveram participação menos expressiva nos dados, representando respectivamente 1,8% (n=37) e 0,5% (n=11). Destaca-se o número de pacientes com este dado ignorado nas notificações, somando 22,4% do total (n=463) (Tabela 1).

A sífilis primária foi a forma clínica mais frequente nas pacientes, presente em 56,1% dos casos (n=1161). A classificação clínica foi ignorada ou deixada em branco em mais de um quarto (26,9%; n=556) das notificações. Os dados detalhados estão descritos na Tabela 1.

Tabela 1 – Números de casos de sífilis em gestantes no Amapá entre os anos de 2018 e 2022, segundo as variáveis analisadas

Fonte: DATASUS – Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, 2024.

Observou-se um aumento gradativo no percentual de gestantes com sífilis que possuíam o ensino médio completo, chegando a representar um aumento de 8,3% de 2018 a 2022, ao passo que se observou uma diminuição no percentual de pacientes com o ensino fundamental incompleto, e queda na proporção de notificações cuja informação da escolaridade foi ignorada (Figura 1).

Figura 1 – Distribuição percentual de casos de sífilis em gestantes segundo a escolaridade e o ano de diagnóstico no Amapá, entre os anos de 2018 e 2022

Fonte: DATASUS – Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, 2024.

Diferentemente da escolaridade, a faixa etária das pacientes diagnosticadas com sífilis na gestação não apresentou grande variação no período de 2018 a 2022 (Figura 2).

Figura 2 – Distribuição percentual de casos de sífilis em gestantes segundo a faixa etária e o ano de diagnóstico no Amapá, entre os anos de 2018 e 2022

Fonte: DATASUS – Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, 2024.

No que tange a raça, no entanto, observou-se uma diminuição na proporção de pacientes brancas ao longo dos anos, e um pico de 80,3% de pacientes pardas no ano de 2020 (Figura 3).

Figura 3 – Distribuição percentual de casos de sífilis em gestantes segundo a raça e o ano de diagnóstico no Amapá, entre os anos de 2018 e 2022

Fonte: DATASUS – Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde.

Durante todo o período de estudo, a sífilis primária foi a principal classificação clínica dentre as pacientes com sífilis na gestação no estado do Amapá. Entretanto, em 2018 o percentual de pacientes com esta informação ignorada ou em branco era de 58,5% do total de casos, apresentando queda gradual para 10,6% em 2022 (Figura 4).

Figura 4 Distribuição percentual de casos de sífilis em gestantes segundo a classificação clínica e o ano de diagnóstico no Amapá, de 2018 e 2022

Fonte: DATASUS – Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, 2024.

Ao considerar a Unidade Federativa (UF) de residência das pacientes notificadas no estado do amapá, destaca-se que 3,2% (n=67) das pacientes eram residentes em municípios do Pará, entretanto, menos da metade das pacientes realizou o pré-natal no referido estado. O percentual de pacientes sem a informação das consultas de pré-natal foi de 13% (n=270) e o de pacientes cujo pré-natal foi realizado no estado do Amapá foi de 85.8% (n=1775). Os dados estão descritos na Tabela 2.

Tabela 2 – Número de casos de sífilis na gestação segundo a Unidade Federativa (UF) de residência da paciente e de realização do pré-natal, notificadas no Amapá entre 2018 e 2022

Fonte: DATASUS – Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, 2024.

Ao considerar o município de residência das pacientes, 68,3% (n=1413) residiam no município de Macapá, seguido do município de Santana com 10,8% (n=224) dos casos e do município de Laranjal do Jari representando 4,6% dos diagnósticos (n=95). Tratando-se das pacientes oriundas do Pará, a maior parte era advinda do município de Afuá. As informações acerca da distribuição dos municípios de residência das pacientes diagnosticadas no período estão demonstradas na Tabela 3.

Tabela 3 – Número de casos de sífilis na gestação segundo o município de residência da paciente, notificadas no Amapá entre 2018 e 2022

Fonte: DATASUS – Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, 2024.

A taxa de detecção de sífilis em gestantes no estado do Amapá aumentou mais de 100% no estado do Amapá, quando subiu de 16,17 em 2018 para 34,52 casos para cada 1.000 nascidos vivos em 2022, alcançando seu pico máximo no ano de 2021, ao alcançar a marca de 36,24 casos para cada 1.000 nascidos vivos. A evolução da taxa de detecção de sífilis na gestação está demonstrada na Figura 5.

Figura 5 – Taxa de detecção de sífilis em gestantes (por 1.000 nascidos vivos) no estado do Amapá por ano de diagnostico

Fonte: DATASUS – Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, 2024.

5. DISCUSSÃO

A evolução de casos de sífilis na gestação no Amapá acompanhou as médias nacionais, na qual observou-se aumento do número de casos até 2019. Dentre os casos totais de sífilis, os casos em gestantes foram os únicos que ainda se mantiveram em crescimento durante o período pandêmico. Um estudo desenvolvido no município de Ji-Paraná, Rondônia, demonstrou um aumento de 245,45% dos casos entre 2019 e 2020 (Silva et al., 2023). O Amapá, por outro lado, apresentou uma pequena queda no número de casos notificados em 2020, o que pode ser em parte justificado pela supressão das notificações visto a alta demanda dos serviços de saúde, bem como a redução da capacidade diagnóstica devido a pandemia pela COVID-19 (Brasil, 2023).

Ademais, diferente da média nacional, o Amapá registrou uma pequena queda no número absoluto de casos de sífilis gestacional no ano de 2022, com um total de 520 registros, enquanto no ano anterior este número chegou a 594. Contudo, é incerto dizer que esta diminuição representa uma melhora na efetividade das estratégias de prevenção e tratamento dos casos de ISTs no estado, destacando a necessidade do acompanhamento destes dados para melhor compreensão da evolução destes números.

Observou-se alinhamento às tendências regionais quanto à faixa etária das pacientes. Na região norte do país, entre os anos de 2011 e 2021, foram registrados 40.582 casos, dos quais 67,76% das pacientes possuíam entre 20 e 39 anos e 28,70% entre 15 e 19 anos. Tal resultado possivelmente estaria associado a maior atividade sexual durante estas faixas etárias (Itapary et al., 2023).

As mulheres pardas também são maioria nas notificações no Amapá e no norte do país, onde representam mais de 80% das pacientes com o diagnóstico de sífilis durante a gestação (Lima et al., 2023). Segundo o IBGE, responsável por estudos acerca do perfil populacional no Brasil, a população declaradamente parda é maioria no país, sobretudo na região norte, demonstrando que os resultados encontrados demonstram relação proporcional com o perfil de raça da população (IBGE, 2023).

Um estudo desenvolvido no estado do Acre por Cavalcante e colaboradores (2021) demonstrou que a maioria das gestantes diagnosticadas com sífilis possuíam escolaridade até o ensino fundamental, representando 47% dos casos. Tal realidade também foi observada em Altamira-PA, onde 36,20% dos casos eram de paciente com ensino fundamental incompleto (Colaça, 2021), e em Marabá, considerado o município com maior taxa de incidência no estado do Pará, onde a escolaridade até o ensino fundamental representou 53% das pacientes (Martins et al., 2020). Ambos os estudos relacionam e associam a menor escolaridade a uma maior dificuldade no acesso às informações sobre as ISTs e seus métodos de prevenção, bem como à realização do pré-natal, estando sujeitas a desfechos desfavoráveis como prematuridade e sífilis congênita.

Apesar das porcentagens semelhantes observadas neste estudo quando considerado o período de 2018 a 2022 como um todo, destaca-se a mudança na proporção das escolaridades ao longo dos anos, onde as mulheres com ensino médio completo passaram a ser a maioria das diagnosticadas nos anos de 2021 e 2022. Tal resultado aponta não só para o aumento da escolaridade da população (IBGE, 2024), como também alerta para o crescimento dos casos independente da escolaridade, podendo ser um reflexo da negligência nos métodos de prevenção de ISTs em toda a população.

O percentual de notificações com a informação da escolaridade ignorada ou em branco, apesar de apresentar uma pequena diminuição, ainda é relativamente alto, representando, em média, 22,4% das respostas durante o período de estudo, e chegando a mais de 28% em 2020. O rastreamento do perfil sociodemográfico de uma população acometida por uma doença é imprescindível a fim de conhecer os mais suscetíveis e, portanto, criar estratégias de prevenção e combate às doenças. Portanto, destaca-se a importância do preenchimento completo e correto das fichas de notificação a fim de fornecer o máximo de informações fidedignas e que garantam o melhor embasamento dos órgãos de vigilância.

Neste contexto, observou-se diminuição da proporção de respostas ignoradas ou em branco no que tange a classificação clínica da sífilis gestacional, o que favorece uma melhor elucidação epidemiológica da doença estudada e podendo estar relacionado a uma melhoria na elucidação diagnóstica dos casos de sífilis no estado.

Um estudo desenvolvido no estado do Goiás por Oliveira et al. (2021), também demonstra a sífilis primária como a principal classificação clínica observada em 34,1% das pacientes diagnosticadas. Outro estudo realizado na Bahia por Soares e Aquino (2021) também atestou 39,9% dos casos classificados como sífilis primária durante a gestação.

Apesar destes dados apontarem para um diagnóstico precoce da doença, atenta-se para o maior risco de infecção fetal, destacando-se, portanto, a importância do tratamento adequado, tanto da paciente, quanto do parceiro. Em 2022, o Amapá foi o segundo estado com maior percentual de prescrição de outros esquemas terapêuticos, que não a penicilina, conforme os protocolos preconizados pelo Ministério da Saúde, evidenciando a maior probabilidade de transmissão vertical da infecção (Brasil, 2023).

No presente estudo, evidenciou-se que uma pequena parte dos casos de sífilis em gestantes identificadas no estado do Amapá, eram de pacientes residentes em municípios do estado do Pará, principalmente Afuá, Chaves e Breves, o que pode ser justificado pela maior proximidade destes municípios a centros referência de saúde localizados em municípios do Amapá, do que no próprio estado. No entanto, é importante a identificação e registro fidedigno destes casos visto que a divisão e descentralização de recursos no Sistema único de Saúde, envolve, parcialmente, o tamanho da população dos municípios e estados (Ugá et al., 2003).

Além disso, um estudo desenvolvido por Nemer et al. (2021) demonstrou uma correlação significativa entre a inadequação da realização do pré-natal em pacientes oriundas de ilhas do Pará como Afuá, Breves e Chaves, evidenciando a dificuldade de acesso que esta população rural possui aos serviços de saúde, bem como a precariedade dos serviços locais e falta de profissionais qualificados.

Um outro estudo também evidenciou que, apesar de a região norte possuir uma elevada realização de pré-natal, a maioria dos casos de sífilis congênita foi diagnosticada somente após o parto, o que indica, não somente interpretações errôneas quanto aos exames e diagnósticos, quanto a potencial subnotificação de sífilis na gestação (Almeida, et al., 2020).

Esta evidência também pode ser observada no estado do Amapá. Apesar de a capital Macapá apresentar o maior número absoluto de casos, o Boletim Epidemiológico da Sífilis publicado pelo Ministério da Saúde em 2023, destaca a capital Macapá como a única do país a manter uma taxa de detecção de sífilis na gestação inferior à do total do estado, o que revela a necessidade de reforço das estratégias epidemiológicas de diagnóstico, tratamento e prevenção da sífilis e das demais ISTs no interior do estado.

O Brasil vem apresentando aumento gradativo na taxa de detecção de sífilis em gestantes há mais de 20 anos. Entre 2011 e 2017, o aumento foi de 2,2 para 16,9 casos para cada 1.000 nascidos vivos, representando um aumento de 660%, o que corrobora com os apontamentos da sífilis na gestação como um grave problema de saúde pública e evidenciando as importantes falhas na assistência pré-natal brasileira (Santos et al., 2020). Em 2022, este indicador já alcançava a taxa de 32,4 casos para cada 1.000 nascidos vivos (Brasil, 2023).

No presente estudo evidenciou-se que a taxa de detecção de sífilis no Amapá aumentou de 16,17, em 2018 para 34,52 casos a cada 1.000 nascidos vivos em 2022. Em 2021, este número alcançou a taxa de 36,24 para cada 1.000 nascidos vivos. Estes dados colocam o estado do Amapá como o segundo estado da região norte com maior taxa de detecção de sífilis e o quarto maior do Brasil (Brasil, 2023).

Apesar do Brasil possuir protocolos clínicos bem estabelecidos, regulamentados e padronizados, a incidência de sífilis na gestação ainda é substancialmente alta e alarmante devido a diversos fatores econômicos, culturais e sociais que dificultam a prevenção e tratamento adequados (Pinto et al., 2022).

6. CONCLUSÕES

O crescente número de casos de sífilis na gestação pode ser considerado um reflexo do cuidado e da assistência à população. Durante a pandemia pela COVID-19 observou-se em todo o país uma alta demanda pelos serviços de saúde, o que pode ter influenciado em uma diminuição da capacidade de prevenção, diagnóstico e promoção da saúde em outros eixos.

Apesar da diminuição do número de casos de sífilis registrados no Amapá no ano de 2022, ainda é cedo para afirmar que houve melhora nas estratégias de prevenção de sífilis no estado, sugerindo-se que estes estudos sejam encorajados na região, e que sirvam de base para novas pesquisas, bem como para órgãos públicos na tomada de decisões.

A prevenção da sífilis é essencial para a saúde pública visto que essas infeções podem causar graves consequências para a saúde, pequenas feridas, manchas no corpo, febre e cefaleia, até lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas. Em gestantes, pode resultar em abortos, má formação do feto, cegueira, surdez, deficiência mental e/ou morte ao nascer.

O investimento em estratégias de prevenção como a educação sexual, o uso de preservativos e o acesso a serviços de saúde e testes regulares são cruciais para reduzir a transmissão dessa doença, bem como demonstra-se uma maneira eficaz de melhorar a qualidade de vida e reduzir os custos de tratamento em longo prazo.

Os estudos epidemiológicos são fundamentais para a saúde pública, uma vez que permitem a identificação de padrões de ocorrência de doenças e seus fatores de risco na população. Através desses estudos, é possível entender a dinâmica de propagação de doenças, avaliar a eficácia de intervenções preventivas e terapêuticas, e orientar políticas de saúde baseadas em evidências sendo possível auxiliar n identificação de grupos vulneráveis, monitoramento de surtos e epidemias, e promoção de estratégias de prevenção que podem reduzir significativamente a morbidade e mortalidade. Os dados obtidos através deste estudo são essenciais para o planejamento e alocação de recursos em saúde, contribuindo para um sistema de saúde mais eficiente e equitativo.

REFERÊNCIAS

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NOTA

Os autores utilizaram a IA ChatGPT-4 para verificação e correção gramatical do texto. No entanto, todas as buscas pelos conteúdos e classificação da qualidade dos artigos foram realizadas de maneira autoral.

[1] Residente em Ginecologia e Obstetrícia. Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). ORCID: https://orcid.org/0009-0007-9198-7398. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4547211920436518.

[2] Doutor em Teoria e Pesquisa do Comportamento (UFPA). Mestrado em Neurociências e Biologia Celular. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0840-6307. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8303202339219096.

[3] Doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Doutorado em Psicologia e Psicanálise Clínica. Mestrado em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestrado em Psicanálise Clínica. Graduação em Ciências Biológicas. Graduação em Teologia. Atua há mais de 15 anos com Metodologia Científica (Método de Pesquisa) na Orientação de Produção Científica de Mestrandos e Doutorandos. Especialista em Pesquisas de Mercado e Pesquisas voltadas a área da Saúde. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2952-4337. Lattes: https://lattes.cnpq.br/2008995647080248.

[4] Mestrado em Ensino em Ciências da Saúde. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2952-4337. Currículo Lattes: https://lattes.cnpq.br/2008995647080248.

[5] Orientadora. Doutorado em Doenças Tropicais. Mestrado em Doenças Tropicais. Especialização em Especialização em Microbiologia. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5128-8903. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9314252766209613.

Material recebido: 08 de agosto de 2024.

Material aprovado pelos pares: 28 de agosto de 2024.

Material editado aprovado pelos autores: 09 de setembro de 2024.

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Carla Dendasck

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