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Exaustão, Despersonalização e Redução da Realização Profissional: Burnout em Médicos

RC: 18345
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CONTEÚDO

MORAES, Gabrielle Baia Pimenta de [1], LAIZO, Isadora Christina Tavares [2], BRAGA, Marina Silveira [3]

MORAES, Gabrielle Baia Pimenta de; LAIZO, Isadora Christina Tavares; BRAGA, Marina Silveira. Exaustão, Despersonalização e Redução da Realização Profissional: Burnout em Médicos. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 08, Vol. 02, pp. 70-76, Agosto de 2018. ISSN:2448-0959

Resumo

 A Síndrome de Burnout pode ser conceituada como uma exaustão emocional sofrida por indivíduos em seu ambiente de trabalho, ela surge em uma sequência determinada de tempo no qual o profissional se submete a situações de estresse e grande pressão emocional em seu dia a dia. O burnout pode trazer consequências físicas, sociais, psicológicas e comportamentais indesejáveis para o profissional, como cansaço crônico, irritabilidade com pacientes e pessoas próximas, baixo nível de entusiasmo, negativismo, entre outros. Dessa maneira, neste artigo propomos relacionar aspectos da síndrome com médicos, objetivando demonstrar as consequências e a relação da doença com a grande pressão e demanda de trabalho sofrida por esses profissionais. Além disso, também serão apresentadas propostas de intervenção e prevenção desse quadro. Conclui-se que medidas devem ser tomadas para prevenir o desenvolvimento da doença em profissionais da saúde.

Palavras-chave: Esgotamento Profissional, Burnout, Saúde do Trabalhador, Médicos, Estresse.

Introdução

O estresse no trabalho tem se tornado (e cada vez mais) uma séria carga para a saúde e para a economia dos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Devido a isso, inúmeras pesquisas passaram a ser desenvolvidas buscando uma maior compreensão do impacto dessas mudanças no adoecimento do trabalhador. O objetivo é entender como essas condições contribuem para o estresse e para o surgimento de transtornos mentais e de doenças, como o Burnout (1). A elaboração do termo “Síndrome de Burnout” foi designada pelo psicólogo alemão, naturalizado americano, Freunderberger, na década de 70, nos Estados Unidos. Mais tarde, na década de 90, os trabalhos à Síndrome se incorporaram com os estudos realizados pela psicóloga social Christina Maslach.

Burnout é uma síndrome psicológica decorrente da tensão emocional vivenciada constantemente no trabalho – desgaste físico e mental. Trata-se de uma vivência subjetiva e interna que promove sentimentos e atitudes negativas no relacionamento do indivíduo com seu trabalho e que vai, paulatinamente, prejudicando seu desempenho profissional e trazendo consequências negativas para a empresa em que trabalha: abandono de emprego, baixa produtividade e faltas constantes (2).

Maslash e Jackson (1985), citaram a definição mais comum para burnout – “ burnout é a síndrome de exaustão emocional, despersonalização e reduzida realização profissional que pode ocorrer com indivíduos que trabalham com pessoas” (3). Essa exaustão, por sua vez, refere- se ao cansaço emocional ou esgotamento emocional ligado a aversão produzida pelo grande contato com problemas, doenças e mortes. Já a despersonalização, remete- se a estratégias nas quais os profissionais da saúde utilizam para evitar o envolvimento com a enfermidade que o paciente apresenta, utilizando a “desumanização em defesa própria”. Gil Monte e Peiró (4) afirmam que a despersonalização está ligada ao distanciamento frente as pessoas, uso de atitudes com desapreço, silêncio e tentativa de culpar os pacientes pela sua própria frustração. Por fim, a reduzida realização profissional associa- se ao grande problema social relacionado ao burnout, pois os médicos trabalham de maneira fria, sem envolvimento e pouca dedicação podendo culminar com a desistência dos seus ideais (5). Garcés de Los Fayos (6) afirma que o Burnout também pode incorporar a ansiedade à sua sintomatologia.

Desgaste físico e mental

Entende-se como desgaste físico e emocional um processo gradual de perda de energia, com maior probabilidade de existir onde houver desequilíbrio entre as exigências do trabalho desenvolvido pelo indivíduo e as pessoas que o realizam. Ele pode evidenciar uma quebra dos valores da dignidade, do espírito e da vontade (5).

A primeira reação do estresse ligado ao trabalho é a sensação de exaustão, esgotamento, sobrecarga física e mental, e dificuldades de relacionamento. O ceticismo aparece como tentativa de se proteger da exaustão. As pessoas se tornam mais distantes e frias com relação ao trabalho e aos colegas, uma vez que sentem que é mais seguro ficar indiferente (5).

Contudo, o ápice do desgaste é atingido quando o indivíduo opta por abandonar o seu trabalho, pois já não suporta mais o desgaste físico e mental que enfrenta todos os dias, refletindo a grande consequência da Síndrome de Burnout.

Burnout em médicos

Em relação à classe médica, existem diferentes fatores estressores que podem levar a possibilidade do desenvolvimento da Síndrome de Burnout, como por exemplo, demandas excessivas que diminuem a qualidade do atendimento, excessos de plantões, necessidade de lidar com sofrimento e morte, baixa remuneração (desproporcional a quantidade de horas trabalhadas), exposição constante ao risco, entre outros. Além disso, é importante considerar a grande cobrança da sociedade em um médico, aliando-o a um profissional infalível e perfeito, gerando uma pressão insustentável ao profissional (5).

O grande problema relacionado ao burnout na classe médica é a possibilidade de encontrar profissionais trabalhando de maneira fria e despersonalizada, sem a dedicação necessária para o envolvimento adequado com seus pacientes e casos clínicos, podendo culminar na desistência de seus ideais (5). Devido a isso, muitos médicos acabam optando por abandonar a medicina e procurarem outras atividades, e nos piores casos, também podem culminar com negligência e levar à morte do paciente.

A Síndrome de Burnout é ainda desconhecida para grande parte dos profissionais da saúde, sendo necessária maior divulgação para que seja possível buscar formas efetivas de tratamento, assim como prevenção e intervenção (5).

Metodologia

Realizou-se uma revisão bibliográfica sobre a Síndrome de Burnout na classe médica. Foi utilizado a base de dados Medline, Scielo, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS).

Foram utilizadas as seguintes palavras-chave na busca: Esgotamento profissional, Burnout, Saúde do trabalhador, Médicos.

Resultados e discussão

Em um artigo do Medscape Physician Lifestyle Report, de 2012, foi publicado que 46% dos médicos responderam que têm ou que tiveram burnout, e que os médicos são mais atingidos pelo burnout do que outros trabalhadores americanos (7). Dentre todos esses profissionais médicos, as residências que possuem maior incidência são nos intensivistas e nos emergencistas.

Como consequência, um médico com burnout apresenta um cuidado menor com seu paciente, além de apresentar um alto índice de suicídios do que no restante das profissões. Dentre as causas mais comuns que levariam aos sintomas seriam, por ordem decrescente:

  • Elevada burocracia e pressão contra a autonomia profissional;
  • Muitas horas de trabalho;
  • Salários muito baixos;
  • Dentre outros (7).

Se considerarmos o percentual de burnout em relação ao número de profissionais de cada gênero, encontramos 22% de burnout entre as mulheres e 20% entre os homens (5).

Entre os médicos residentes casados, 21,2% apresentaram Síndrome de Burnout, e entre os solteiros 20,9% apresentaram a síndrome (5).

É importante ressaltar que a Síndrome de Burnout não traz consequências prejudiciais apenas para o profissional médico. Essa doença atinge também aqueles que estão diretamente ou indiretamente necessitados dos serviços prestados por ele, como os colegas de trabalho e a própria instituição na qual este profissional atua, além dos pacientes.

No estudo realizado pelo Medscape, 70% dos médicos que não desenvolveram burnout, gozavam pelo menos de duas semanas de férias por ano (7).

Segundo o estudo de Galvão (8) burnout pode apresentar 12 estágios:

  1. Necessidade de se afirmar – provar ser capaz de tudo, sempre;
  2. Dedicação intensificada – com predominância da necessidade de se fazer tudo sozinho;
  3. Descaso com as necessidades pessoais – comer, dormir, sair com os amigos começam a perder o sentido;
  4. Recalque de conflitos – o portador percebe que algo não vai bem, mas não enfrenta o problema. É quando ocorrem as manifestações físicas;
  5. Reinterpretação dos valores – isolamento, fuga dos conflitos. O que antes tinha valor sofre desvalorização: lazer, casa, amigos, e a única medida da auto-estima é o trabalho;
  6. Negação de problemas – nessa fase os outros são completamente desvalorizados e tidos como incapazes. Os contatos sociais são repelidos, cinismo e agressão são os sinais mais evidentes;
  7. Recolhimento – aversão a grupos, reuniões – comportamento antissocial.
  8. Mudanças evidentes de comportamento – perda do humor, não aceitação de comentários, que antes eram tidos como naturais.
  9. Despersonalização – ninguém parece ter valor, nem mesmo a pessoa afetada. A vida se restringe a atos mecânicos e distância do contato social – prefere e-mails e mensagens.
  10. Vazio interior – sensação de desgaste, tudo é difícil e complicado.
  11. Depressão – marcas de indiferença, desesperança, exaustão. A vida perde o sentido;
  12. E, finalmente, a síndrome do esgotamento profissional propriamente dita, que corresponde ao colapso físico e mental. Esse estágio é considerado de emergência, e a ajuda médica e psicológica são urgentes.

Depois de constatado, o tratamento da síndrome de Burnout pode ser realizado através de psicoterapia, como a terapia cognitivo comportamental, e em sessões de terapia em grupo ou familiar, onde o compartilhamento de vivências similares e a troca de experiências, auxiliam o indivíduo no entendimento de sua patologia. Com isso, o terapeuta conduz o tratamento utilizando-se de técnicas e exercícios específicos para a superação do quadro. Sessões de relaxamento também podem ser realizadas em um processo de psicoterapia, como massagem e meditação. Importante lembrar que em determinadas situações é necessária a utilização de fármacos (antidepressivos, ansiolíticos etc). Alcoolismo e consumo de drogas, que podem ocorrer na última fase da doença como forma de amortecer os efeitos do cansaço e esgotamento (9), devem ser acompanhados pelo psiquiatra (10).

Conclusão

Devido à grande incidência do desenvolvimento da Síndrome de Burnout em profissionais da saúde, especificamente em médicos, é necessário ressaltar a importância desse estudo para detectar melhoras formas de tratamento e prevenção da doença, além da divulgação do conhecimento sobre o burnout. Em suma, depreende-se que o desgaste no ambiente de trabalho, o estresse e a grande exaustão podem trazer sérias consequências para profissionais da saúde, como a síndrome. Observa-se que a maneira mais eficaz de lidar com esse quadro é, além do tratamento psicoterápico e medicamentoso, adotar medidas preventivas no meio médico, visando sempre o bem-estar de quem garante o bem-estar da sociedade. Por fim, ressalta-se a grande importância da descoberta e do estudo da Síndrome de Burnout, pois assim as pessoas podem compreender que essa síndrome é uma doença e pode ser tratada, permitindo, por sua vez, ao doente, realizar suas funções de maneira não prejudicial a quem está ao seu redor, quando diagnosticada e suplantada de maneira correta.

Referências bibliográficas

(1) AREIAS, M.E.Q. & COMANDULE, A. Q. Transformações no mundo do trabalho: a inserção da Qualidade Total. Série Saúde Mental e Trabalho, ORG. GUIMARÃES & GRUBITS vol.2 Casa do Psicólogo, 2004.

(2) SILVA, C.M. Síndrome de Burnout na classe médica: uma revisão bibliográfica. 2015.

(3) MASLASH C, JACKSON S.E. The measurement of experience burnout. Journal Occupational Behavior, 1981, vol.2, p.99-113.

(4) GIL MONTE P. & PEIRÓ, J. (1997). Desgaste Psíquico en el Trabalho, El Síndrome de Quemarse. Madrid: Síntesis.

(5) LIMA, F.D et al. Síndrome de Burnout em residentes da Universidade Federal de Uberlândia – 2004. Revista Brasileira de Educação Médica. Vol. 31, n° 2, Rio de Janeiro, Mai/Ago. 2007.

(6) GARCÉS DE LOS FAYOS, E. (2000). Tesis sobre el Burnout. Tesis para optar al grado de Doctor en Psicología, Universidad de Barcelona. Solicitado a: Psiquiatria.com.

(7) PECKAM, C. Physician Burnout: It Just Keeps Getting Worse. Medscape. Medscape Family Medicine. January, 26, 2015.

(8) GALVÃO, E. Síndrome de Burnout. Saúde Experts. Jan/2015.

(9) SODERFELDT M, SODERFELDT B, WARG L. Burnout in Social Work. Social Work. Set/1995. Vol. 40, p. 638-646

(10) CARBONIERI, F. Quando a medicina adoece o médico. Portal Academia Médica. Paraná, Fev/2015.

[1] Acadêmica do curso de Medicina da Faculdade de Minas (FAMINAS), de Belo Horizonte.

[2] Acadêmica do curso de Medicina da Faculdade de Minas (FAMINAS), de Belo Horizonte.

[3] Acadêmica do curso de Medicina da Faculdade de Minas (FAMINAS), de Belo Horizonte.

5/5 - (1 vote)
Marina Silveira Braga

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