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Assistência ao Paciente Idoso com Alzheimer: A Informação do Cuidador Familiar Sobre a Doença Pode Fazer a Diferença?

RC: 16942
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CONTEÚDO

SANTOS, Renata Braz Alves [1], SANTOS, Ivanete Barbosa Viana [2], MATOS, Neuza Moreira de [3], CHAVES, Maurício de Oliveira [4]

SANTOS, Renata Braz Alves; et.al. Assistência ao Paciente Idoso com Alzheimer: A Informação do Cuidador Familiar Sobre a Doença Pode Fazer a Diferença? Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 07, Vol. 02, pp. 135-146, Julho de 2018. ISSN:2448-0959

Resumo

A presente pesquisa aborda a Assistência ao Paciente Idoso com Alzheimer, que é uma grave patologia demencial associada ao avanço da velhice e que se têm observado um elevado aumento de diagnóstico no Brasil. A doença é caracterizada por um declínio progressivo nas áreas de cognição, função e comportamento. O objetivo geral foi o de reconhecer a importância que um curso multiprofissional regular dado a cuidadores familiares exerce na qualidade do acompanhamento ao idoso. Os objetivos específicos foram os de identificar como os entrevistados se percebem em relação ao conhecimento que têm sobre a doença e o preparo para o cuidado. Os pesquisados foram divididos em dois grupos, A e B, composto respectivamente, por oito cuidadores que participaram do referido curso e oito que ainda não participaram. A pesquisa caracteriza-se de natureza qualitativa e descritivo. A coleta de dados foi realizada entre os meses de abril e maio de 2017 por meio de uma entrevista estruturada.  A técnica utilizada para analisar os dados foi a análise de conteúdo. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria do Estado de Saúde do Distrito Federal. Os dados obtidos na pesquisa apresentaram um perfil de cuidadores, como sendo a maioria composta por mulheres, casadas, com idades acima dos 45 anos e muitas já idosas, prevalecendo o grau de instrução entre o ensino médio e fundamental. São filhas, que compartilham da mesma moradia com o idoso, acompanhando-os com exclusividade há mais de sete anos. Quando abordados sobre o conhecimento sobre a doença, quase todos os entrevistados do grupo A declararam tê-lo, diferentemente do grupo B, que demonstrou desconhecimento. Quando o assunto foi estar ou não preparado para o ato de cuidar, os cuidadores do Grupo A declararam-se majoritariamente preparados, destacando-se em relação aos do Grupo B que afirmaram estar despreparados. Ambos os grupos só apresentaram semelhança quando foram convidados a opinar sobre a importância de um curso sobre cuidados. De modo geral, a pesquisa apresenta questões que merecem reflexão. Reconhecemos a importância da educação em saúde e seu impacto positivo na complexa cadeia que é o atendimento ao idoso com Alzheimer, validando ainda a relevância do curso oferecido pela Unidade Mista de Saúde de Taguatinga, que obstinadamente se volta para esta significativa clientela, que são os cuidadores familiares, elo estratégico entre o idoso e os serviços de saúde.

Palavras-chaves: Doença de Alzheimer (DA), idosos, cuidador familiar, informação em saúde, patologias demenciais.

1. Introdução

A Doença de Alzheimer (DA) está entre as principais demências que tem atingido a população idosa ao longo dos anos, é um distúrbio cerebral progressivo que afeta a memória, o raciocínio e a comunicação do indivíduo acometido pela mesma (Coelho et al., 2015). Deste modo, a doença tem ganhado destaques nos estudos científicos e na saúde pública devido ao fato de comprometer não somente a qualidade de vida do indivíduo, mas da família de modo geral.

No Brasil, estima-se em 1,2 milhão o número de pessoas atingidas pela DA, sendo em sua maioria mulheres. A média do percentual das demências relacionadas ao Alzheimer oscila de 60% a 90%, variando de acordo com os sintomas apresentados (Coelho et al., 2015). Projeções indicam que no Brasil há uma prevalência média mais alta que a mundial, considerando a partir de 65 anos, passaria de 7,6% para 7,9% entre 2010 e 2020, ou seja, 55.000 novos casos por ano. Portanto, a partir de alguns estudos começa a se delinear uma correlação importante, a do cuidador familiar com o paciente acompanhado. Em estudo realizado por Neumann e Dias (2013) discorrem ainda que um aspecto importante no processo de cuidar seja que a qualidade de vida do paciente está relacionada ao bem-estar do cuidador.

Para Santiago e Luz (2012) os cuidadores são fundamentais na assistência aos idosos no domicílio e representam o elo entre o ser cuidado, a família e os serviços de saúde. Apontam, portanto, que para prestar um atendimento adequado ao idoso no domicílio, são necessários cuidadores bem orientados e preparados, capazes de avaliar a pessoa cuidada quanto às suas necessidades, potencialidades e limites. A Associação Brasileira de Alzheimer, a ABRAz, admite que cuidar de uma pessoa com Doença de Alzheimer (DA) é um desafio para qualquer família. As mudanças são significativas e precisam ser além de incorporadas na rotina, compreendidas. Adverte que para uma boa adaptação à nova condição é preciso lidar com inúmeras situações que requer aceitação, flexibilidade e informação (ABRAZ, 2016).

Este estudo objetivou conhecer a importância do curso multiprofissional regular para cuidadores familiares de pacientes com Alzheimer e o impacto que a informação sobre a patologia e cuidados pode exercer na qualidade do acompanhamento ao idoso e, propõe corroborar com a afirmativa que um cuidador bem informado está mais apto a prestar uma assistência de qualidade ao idoso com Alzheimer, enfatizando a importância da implementação de programas de educação em saúde por parte da equipe de enfermagem na lida com pacientes, e em especial, com seus cuidadores.

2. Materiais e métodos

Neste trabalho, o estudo realizado foi de natureza qualitativa, exploratória e descritiva. O estudo se deu através da aplicação de um questionário por meio de entrevistas no período entre o dia 17 de abril até 05 de maio de 2017. A pesquisa foi realizada a partir da Unidade Mista de Saúde de Taguatinga – Centro de Referência de Atendimento em Geriatria, que se localiza na Área Especial, Setor Central QSB 1, C12, bloco N –Brasília-DF. Entretanto, ressalta-se que as entrevistas, com uso do questionário, foram conduzidas e realizadas na residência do entrevistado, na própria Unidade de Saúde e, por sugestão do próprio cuidador, algumas por meio do uso de telefone. Nestes casos, os entrevistados tomavam ciência do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e assinavam a posteriori.

Participaram da pesquisa 16 familiares que cuidam de idosos portadores de Doença de Alzheimer que necessariamente são atendidos na Unidade Mista de Saúde de Taguatinga por meio do Centro de Referência de Atendimento em Geriatria. O critério de escolha dos participantes foi o de amostragem intencional.Para efeito comparativo proposto nos objetivos desta pesquisa, as amostras foram divididas em dois grupos: grupo A composto de cuidadores que participaram de curso regular oferecido pela Unidade Mista de Saúde de Taguatinga, denominado de Curso Multiprofissional de Cuidados Informais de Idosos Dependentes, no total de 8 (oito) e; grupo B, composto de cuidadores que não participaram do referido curso, igualmente perfazendo um total de 8 (oito) entrevistados.

Alguns critérios de inclusão foram considerados, portanto, se fez necessário que os cuidados apresentassem as seguintes características: ser familiar do paciente idoso com DA; prestar acompanhamento domiciliar em período mínimo de 12 meses e; assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

O questionário utilizado na coleta dos dados, foi dividido em duas partes. A primeira traçou o perfil básico e informações sobre o acompanhamento. Na segunda, três perguntas abertas com comentários abordaram a opinião do cuidador em relação ao conhecimento da patologia, sua autopercepção sobre o ato de cuidar e a importância de participar de um curso de cuidados informais. A abordagem foi direta e os comentários foram gravados em áudio. Os dados obtidos foram analisados qualitativamente por meio da análise de Bardin (2009).

3. Análise e discussão dos dados

Para efeito desta pesquisa era preciso responder à principal pergunta: a informação do cuidador familiar sobre a Doença de Alzheimer (DA) pode fazer a diferença na assistência ao paciente?  A questão era complexa. Somente os protagonistas desta história podiam oferecer as melhores pistas para tentar respondê-la. Era preciso conhecer um pouco mais o “mundo” daqueles que lidam diariamente com o imbricado ato de cuidar.    Para manter em sigilo a identidade dos cuidadores, foram aqui denominados de cuidador A1, A2…B1, B2, B3 e assim sucessivamente.

3.1 Perfil

Estão contidas abaixo as informações dos 16 entrevistados quanto ao gênero, faixa etária, estado civil e grau de instrução:

Tabela 1- Distribuição dos entrevistados de acordo com o gênero

SEXO Grupo A Grupo B TOTAL %
Masculino 01 00 01 6,25
Feminino 07 08 15 93,75
Total 08 08 16 100

 

De acordo com a tabela 1, dos 16 entrevistados, 15 (93,75%) são do sexo feminino e apenas um (6,25%) masculino. Confirma-se, portanto, a dificuldade em encontrar um indivíduo do sexo masculino que assuma no ambiente familiar a tarefa de cuidar de um paciente com DA.  Essa questão é ressaltada por outros pesquisadores, a exemplo de Neumann e Dias (2013), que afirmam que isto reflete o padrão cultural de que prestar cuidados é uma função feminina. Gonçalves et al. (2006) numa amostra mais ampla com 115 cuidadores encontrou também grande maioria de cuidadores do sexo feminino, observando ainda que ao longo da história, na maioria dos países, o cuidado ao idoso é exercido por mulheres.

Tabela 2 – Distribuição dos entrevistados por faixa etária.

FAIXA ETÁRIA Grupo A Grupo B TOTAL %
Até 24 anos 00 00 00 00
25 a 34 anos 00 00 00 00
35 a 44 anos 02 01 03 18,75
45 a 59 anos 04 03 07 43,75
60 ou mais 02 04 06 37,50
Total 08 08 16 100

 

Neste estudo, a ausência de jovens, provavelmente justifica-se na dificuldade de desempenharem o papel de cuidadores primários e assumirem a responsabilidade do cuidado integral. No Brasil a grande maioria dos cuidadores é informal, não se constituindo, portanto, em atividade remunerada.  O achado da presente pesquisa vai ao encontro com o estudo realizado por Altafim apud Néri (2015), no qual aponta que pesquisas nacionais quanto internacionais confirmam que a maior rede de suporte domiciliar ao doente crônico é formada por parentes e quase sempre segue uma hierarquia que vai da esposa à filha mais velha, porém, destaca que raramente o cuidador é uma pessoa jovem e com muita raridade é um homem. Cabe ressaltar que a maioria dos cuidadores pesquisados (81,25%) tem acima de 45 anos, sendo 37,50% composto de idosos, ou seja, pessoas mais velhas que futuramente também vão precisar de cuidados. Estudo realizado por Lenardt et al. (2010) também encontrou significativo número de idosos cuidando de idosos. Destacando que muitas vezes são pessoas sem condições de saúde para desempenhar o laborioso e estressante papel de cuidador.

Tabela 3

ESTADO CIVIL Grupo A Grupo B TOTAL %
Casado(a) 04 06 10 62,50
Solteiro(a) 02 00 02 12,50
Separado(a) 01 01 02 12,50
Viúvo(a) 01 01 02 12,50
Total 08 08 16 100

 

Observa-se na tabela 3, que, a maioria dos cuidadores (as)informaram que são casados (as), perfazendo um total de dez entrevistados (62,5%); dois são solteiros (12,50%); dois são viúvos (12,50%) e outros dois afirmaram ser separados (12,5%). Os achados da presente pesquisa corroboram com o que afirma o estudo realizado por Stackfleth (2012) que ressalta o predomínio de mulheres cuidadoras, casadas.

Tabela 4 – Distribuição dos entrevistados por grau de instrução.

ESCOLARIDADE Grupo A Grupo B TOTAL %
Sem instrução 00 00 00 00
Fundamental 02 04 06 37,50
Médio 04 03 07 43,75
Superior 02 01 03 18,75
Total 08 08 16 100

 

Na tabela 4 observa-se que sete (43,75%) dos cuidadores possuem ensino médio; seis (37,50%) possuem ensino fundamental e apenas três (18,75%) afirmam terem cursado o ensino superior completo.

O fato de 62,50% terem pelo menos o ensino médio é um aspecto positivo, pois o maior nível de escolaridade do cuidador facilita a educação do mesmo para o cuidado. Outros estudos também situam o grau de instrução dos cuidadores aos mesmos aqui apresentados.  O dado é relevante aos objetivos da pesquisa.  Araújo (2013) é categórica ao afirmar que é importante conhecer a escolaridade dos cuidadores, pois são eles que colhem informações juntos aos idosos e as repassam a equipe de saúde. Ressalta que a educação em saúde está muito ligada à capacidade de aprendizagem das pessoas. Assim, a escolaridade do sujeito cuidador influencia diretamente na assistência prestada.

Tabela 5 – Distribuição de acordo o grau de parentesco.

PARENTESCO Grupo A Grupo B TOTAL %
Filha 06 06 12 75
Filho 01 00 01 6,25
Esposa 01 02 03 18,75
Total 08 08 16 100

 

Como se pode verificar na tabela 5, a maioria dos entrevistados são filhas dos idosos, ou seja, 12 cuidadoras (75%). Três são esposas (18,75%) e apenas um único do sexo masculino que se declarou filho (6,25%). Novamente, constata-se a predominância do gênero feminino no ato de cuidar, aqui representada pelas filhas e esposas.

Tabela 6 – Distribuição dos entrevistados por tempo de acompanhamento

TEMPO QUE ACOMPANHA Grupo A Grupo B TOTAL %
De 1 a 3 anos 01 02 03 18,75
De 4 a 6 anos 02 02 04       25
De 7 a 9 anos 05 04 09 56,25
Total 08 08 16 100

 

Na tabela 6 está disposto o tempo médio (em anos) que os cuidadores acompanham os seus idosos. A maioria situa-se entre sete a nove anos, num total de nove dos entrevistados (56,25%). De quatro a seis anos, aparecem quatro cuidadores (25%).

Tomando por base o caráter progressivo da patologia, sabe-se que o tempo de acompanhamento é fator crítico que interfere na qualidade de vida do cuidador. Coelho et al. (2015) ressalta que uma das características da DA é a mudança de comportamento. Com isso, o cuidador vivencia ao longo dos anos uma carga de tensão significativa, trazendo desgaste físico e emocional. Assim, cuidadores com tempo longo de cuidado aumentam a chance de cometerem algum tipo de “violência” contra o idoso devido ao desgaste sofrido durante o longo tempo de cuidados diretos.

Tabela 7 – Distribuição dos entrevistados por exclusividade no acompanhamento.

EXERCE OUTRA OCUPAÇÃO Grupo A Grupo B TOTAL %
Sim 01 00 01 6,25
Não 07 08 15 93,75
Total 00 00 00 100

 

A tabela 8 apresenta outro dado importante, pois, dos 16 cuidadores entrevistados, quase a totalidade, ou seja, 15 (93,75%) declarou não exercer nenhuma outra ocupação além da atividade de cuidar do idoso.  Somente um (6,25%) afirmou ter uma ocupação profissional formal.  O idoso demenciado em fase avançada principalmente exige um cuidador exclusivo, em razão das demandas da patologia e de dependência de cuidados nas atividades de vida diária. Assim, a família “elege” ou “impõe” um único cuidador principal, o qual recebe toda a demanda de cuidado e em tempo integral, contribuindo para aumentar o seu estresse.

3.2 Entrevista

A entrevista em si foi composta de três perguntas, cada uma com a opção da resposta ‘sim’ ou ‘não’, seguida ainda de comentários dos entrevistados, os quais foram divididos em dois grupos, a saber:

  • Grupo A = participantes do Curso Multiprofissional de Cuidados Informais de Idosos Dependentes;
  • Grupo B = não participantes.

3.2.1 Conhecimento sobre a doença

Os entrevistados, do Grupo A, ao serem questionados quanto ao conhecimento que eles possuem sobre a doença do idoso que acompanham, sete (87,5%) afirmaram ter conhecimento sobre a doença e apenas um (12,5%) respondeu que não. Acrescentaram ainda comentários às suas afirmativas, tais como: a) “Eu tenho conhecimento sim sobre esta síndrome demencial. Minha mãe tem perdido a memória gradualmente. Começou a construir histórias, muitas vezes, fazendo do passado o seu presente. Infelizmente já apresenta incontinência urinária e não controla nenhuma das necessidades fisiológicas.” (A1); b) “Fui bem informada sobre a doença. A primeira coisa que aconteceu com minha mãe foi que aos poucos ela foi perdendo a memória. Ela está acamada a seis meses, mas esta perda de mobilidade eu já esperava. Ela se alimenta por sonda enteral.” (A7); c) “Sim eu conheço. Foi através do curso que eu aprendi muita coisa. Aprendi sobre a doença de Alzheimer e aprendi a conviver e cuidar melhor do meu pai.” (A5). Através das respostas a questão acima, percebe-se que os entrevistados do Grupo A possuem esclarecimentos sobre a doença enfrentada pelo familiar idoso do qual são cuidadores. Falaram sobre alguns sintomas presentes, usaram até termos técnicos e alguns fizeram questão de enfatizar a participação no curso oferecido pela instituição pesquisada.

Por sua vez, os cuidadores do Grupo B apresentaram respostas negativas à questão. A grande maioria, sete (87,5%) declarou não conhecer a doença, e apenas um (12,5%) respondeu ter conhecimento da DA. Usaram termos como “caduquice” para se referirem a demência: a) “Minha mãe não conhece mais ninguém. Não sabe nem quem eu sou. É caduquice mesmo! ”  (B4); b) “A doença de Alzheimer é como se fosse caduquice. A pessoa não lembra de nada, só de algumas coisas do passado. Estou vendo que está avançando muito rápido. Tem hora que ela está bem, tem hora que ela está muito mal. ” (B5). Outro aspecto importante que pode ser destacado no Grupo B é que a busca de conhecimento sobre a DA limita-se a informações fornecidas pela mídia, internet, senso comum ou apenas por meio do médico que atende o paciente:  a) “Eu já fiz algumas pesquisas pelo computador sobre a doença, mas não consegui entender a evolução desta doença. ” (B7); b) “Não sei nada cientificamente. Só sei o que eu passo no dia a dia com ela. ” (B6); c)” Eu sei somente o que vejo na TV, que a doença é como se fosse caduquice. ” (B5); d)” Não tenho conhecimento não. Só sei o que a doutora me explicou.” (B2). Diante do exposto pelos dois grupos em estudo, a presente pesquisa mostra a importância do que é afirmado por Leite et al. (2014) que enfatiza que o conhecimento sobre a enfermidade traz segurança para o cuidador que precisará lidar cotidianamente com as diversas manifestações da DA.  Com isso, é provável que consigam ter uma convivência mais harmoniosa com o paciente, planejar e reorganizar melhor as atividades exigidas, inclusive facilitando o manejo diante da enfermidade. Os autores, também enfatizam que a deficiência de orientação e conhecimento do cuidador pode colocar em risco a saúde do idoso. Observa que programas educacionais são absolutamente válidos e podem levar a maior confiança por aqueles que exercem o cuidar.

3.2.2 Preparo para cuidar

Quanto a se sentirem preparados para cuidar do idoso com demência, dos entrevistados do Grupo A, sete (87,5%) afirmaram que se sentem preparados para os cuidados necessários e apenas um (12,5%) disse não se sentir assim. A maioria dos entrevistados disse que se sentem preparados para cuidar do familiar com DA, pois adquiriram muito conhecimento no curso oferecido pela instituição pesquisada.  Vejamos alguns fragmentos das respostas dos participantes a seguir: a) “Hoje me sinto mais preparado, principalmente depois que fiz o curso oferecido na policlínica de Taguatinga. Eu tinha muitas dúvidas.” (A1); b) “Sim, me sinto preparado. Fiz o curso da policlínica e os profissionais de lá são excelentes e muito bem preparados, nos esclarecia tudo sobre a DA.” (A7); c) “Olha antes do curso eu não sabia não, após o curso tudo mudou. Aprendi a lidar muito melhor com a doença do meu pai.” (A5); d) “Acho que ninguém se sente preparado. Ver sua mãe como uma criança, sem sentido próprio, é muito triste. Nunca aceitei muito bem a doença pelo lado emocional, pois a minha mãe era uma mulher muito guerreira.” (A2); e) “Me sinto preparada porque tenho muito amor por ela, tento compreender. Ela fez muito por nós, assumiu eu meus quatro irmãos quando ficamos órfãos.”  (B8); No Grupo B, entretanto, prevaleceu a resposta negativa, ou seja, seis (75%) dos cuidadores não se sentiam preparados para cuidar do idoso, apenas dois (25%) deles declararam sentir-se preparados. As incertezas em relação ao futuro predominaram, sendo possível verificar o quanto o emocional desses cuidadores está fragilizado:  a) “Não, de jeito nenhum. Mexe muito com o emocional da gente ver sua própria mãe piorando a cada dia. Não é nada fácil. ” (B7); b) “Eu cuido como posso. Não sei quase nada sobre a doença e vou lhe contar uma coisa, está ficando cada vez mais difícil. ” (B2); c) “Não dou conta de cuidar dele. Nunca se está preparado para uma doença dessa. ” (B3). Nessa entrevista, fica evidente que o Grupo A (que realizou um curso preparatório para cuidar de idosos com demência), lida muito melhor com a carga emocional que envolve o acompanhamento de pacientes com Alzheimer, que o Grupo B (que não realizou nenhum curso de cuidador), os cuidadores desse grupo afirmaram não se sentirem preparados para cuidar do familiar idoso doente.

3.2.3 Importância de treinamento

Ao perguntar aos cuidadores sobre a importância em participar de curso específico para acompanhar idosos com DA, foi possível constatar que no Grupo A, sete (87,5%) entrevistados afirmaram achar de extrema importância o treinamento em saúde para auxiliar no cuidado com o paciente e apenas um (12,5%) disse não ser importante. Vejam as afirmativas a seguir:  a) “Não acho importante não. No curso que fiz eles ficam prevendo coisas que ainda não aconteceu e que talvez nem venha a acontecer. Parece um mau agouro.” (A6); b) “Acho muito importante, pois eu fiz o curso e minha vida mudou 100%. Eu aprendi a respeitar o tempo da minha mãe.” (A8); c) “Achei o curso muito importante, através do curso pude entender melhor a doença de Alzheimer. As enfermeiras, a equipe toda é muito capacitada. Tenho vontade de ter mais aprofundamento.” (A5).Os participantes do Grupo B, mesmo não tendo participado de nenhum treinamento, oito (100%) afirmaram achar de extrema importância participar curso de cuidados ao idoso com demência. Porém alguns ressaltaram que a falta de apoio familiar muitas vezes os impedem de participar do treinamento. Observe os relatos a seguir:  a) “Quero ainda participar, até mesmo para aprender a ter mais paciência com ela. Eu sou filha e não sei e nem entendo sobre a melhor maneira de cuidar em cada situação.” (B6); b) “Acho importante, mas não tenho com quem deixar minha mãe. Mas, eu sigo direitinho os cuidados que a doutora ensina nas consultas.” (B1); c) “Participar de um curso sempre ajuda né? Mas, eu não tenho com quem deixar a mãe. Desse jeito eu não tenho condições de sair de casa.” (B4); d) “Minha filha acha muito importante um curso para ajudar a cuidar do meu esposo, mas não tenho condições de ir. Sou idosa e tenho também vários problemas de saúde.” (B3).

O achado da presente pesquisa vai ao encontro com o estudo realizado por Baptista et al. (2012), que afirma que o cuidar solitário é um cenário muito presente nas relações de cuidado e um importante gerador de sobrecarga do cuidador, que na maioria das vezes assume a tarefa de cuidar com pouca ou nenhuma ajuda dos outros familiares.  Os cuidadores familiares dos idosos com DA, necessitam lidar com os prognósticos da doença. O Alzheimer é uma patologia degenerativa com previsão de declínio cognitivo e funcional, tornando-se evidente o impacto na vida não apenas do paciente como também na do cuidador.  É importante destacar que muitas vezes os cuidadores dos idosos também são idosos. O que de acordo com Baptista et al. (2012), o adoecimento de cuidadores se configura como outra evidência decorrente dos encargos atribuídos a função de cuidar. Destacaram que os cuidadores tendem a ter mais problemas de saúde que pessoas da mesma idade que não são cuidadoras.

Considerações finais

O presente estudo buscou compreender a importância da educação em saúde, no contexto do acompanhamento de idosos acometidos pela Doença de Alzheimer (DA), a partir da percepção dos seus cuidadores. À medida que se buscava respostas à pergunta, objeto deste estudo, descortinava-se a dura realidade do cuidador familiar. Identificou-se por meio de suas respostas que os cuidadores do Grupo A admitem terem muito mais conhecimento sobre a doença do que os do Grupo B. Validou-se a autopercepção de que os cuidadores familiares do Grupo A se sentem muito mais preparado para o ato de cuidar dos seus idosos dependentes.

A importância de curso de cuidados ao idoso foi validada por todos os entrevistados, independente de já terem participado ou não do curso. De modo geral, verifica-se que são significativas as diferenças entre as respostas à entrevista de cuidadores que participaram do curso multiprofissional de cuidados informais e os que não participaram.

Evidencia-se ainda que, em se tratando de Alzheimer, este é um trabalho necessariamente transdisciplinar e interdisciplinar, que envolve um esforço multiprofissional de: psicólogos, médicos, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, fisioterapeutas, assistentes sociais, agentes comunitários de saúde, mas especialmente do enfermeiro. Assim, não se tem dúvidas que a educação em saúde é fundamental para que os cuidadores tomem conhecimento sobre a doença, sobre o papel que desempenham no enfrentamento à DA e se sintam mais preparados para o desafio de cuidar.

Ressalta-se que está pesquisa não tem a pretensão de esgotar o tema, mas oferece algumas pistas a respeito desse assunto. Espera-se servir de inspiração para ampliar a discussão e o conhecimento sobre a DA, no que diz respeito ao familiar cuidador.

Espera-se ainda que, ao validar a importância do curso, o resultado desta pesquisa continue a motivar os profissionais de saúde a dá continuidade à educação em saúde que oferecem.

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[1] Graduação em enfermagem pela Universidade Católica de Brasília (UCB)

[2] Graduação em enfermagem pela Universidade Católica de Brasília (UCB)

[3] Professora da Universidade Católica de Brasília (UCB) – Mestre em Gerontologia

[4] Professor da Universidade Católica de Brasília (UCB) – Doutor em Saúde Pública

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Renata Braz Alves Dos Santos

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