REVISTACIENTIFICAMULTIDISCIPLINARNUCLEODOCONHECIMENTO

Revista Científica Multidisciplinar

Pesquisar nos:
Filter by Categorias
Administração
Administração Naval
Agronomia
Arquitetura
Arte
Biologia
Ciência da Computação
Ciência da Religião
Ciências Aeronáuticas
Ciências Sociais
Comunicação
Contabilidade
Educação
Educação Física
Engenharia Agrícola
Engenharia Ambiental
Engenharia Civil
Engenharia da Computação
Engenharia de Produção
Engenharia Elétrica
Engenharia Mecânica
Engenharia Química
Ética
Filosofia
Física
Gastronomia
Geografia
História
Lei
Letras
Literatura
Marketing
Matemática
Meio Ambiente
Meteorologia
Nutrição
Odontologia
Pedagogia
Psicologia
Química
Saúde
Sem categoria
Sociologia
Tecnologia
Teologia
Turismo
Veterinária
Zootecnia
Pesquisar por:
Selecionar todos
Autores
Palavras-Chave
Comentários
Anexos / Arquivos

Prevalência de lombalgia em grupos ocupacionais numa instituição particular de ensino superior do recife

RC: 19295
108
5/5 - (12 votes)
DOI: ESTE ARTIGO AINDA NÃO POSSUI DOI
SOLICITAR AGORA!

CONTEÚDO

ARAÚJO, Anna Xênya Patrício [1], RIBEIRO, Priscyla Maria Teixeira [2]

ARAÚJO, Anna Xênya Patrício, RIBEIRO, Priscyla Maria Teixeira. Prevalência de lombalgia em grupos ocupacionais numa instituição particular de ensino superior do recife. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 08, Vol. 12, pp. 84-97, Agosto de 2018. ISSN:2448-0959

RESUMO

Denomina-se lombalgia, o conjunto de manifestações dolorosas que acometem a região lombar. Ela pode ser classificada a partir do tempo de aparecimento dos sintomas, como aguda e crônica. Sua etiologia é multifatorial, destacando-se características individuais, as alterações biomecânicas e a atividade laboral, como possíveis fatores etiológicos. OBJETIVO: Identificar a prevalência de lombalgia em trabalhadores do setor de serviços gerais e setor administrativo, e o grau de incapacidade causado pela sintomatologia, além de verificar sua associação com variáveis socioeconômicas e ergonômicas. MATERIAIS E MÉTODOS: Foram selecionados de forma aleatória 10 trabalhadores do setor administrativo (ADM) e do setor serviços gerais (ASG) de ambos os sexos, vinculados à mesma instituição de ensino superior. Eles responderam ao questionário Rolland Morris modificado. RESULTADOS: O setor de serviços gerais apresentou maior prevalência de lombalgia, mas de modo geral, as mulheres apresentaram maior índice do aparecimento da sintomatologia. CONCLUSÃO: O setor de serviços gerais apresentou uma maior prevalência de lombalgia quando comparados ao setor administrativo.

Palavras-chave: Lombalgia, Prevalência, Trabalhadores, Postura, Saúde do Trabalhador.

INTRODUÇÃO

Denomina-se de Lombalgia, o conjunto de manifestações dolorosas que acometem a região lombar (CANAVAN, 2001). As lombalgias são comuns na população, sendo que, em países industrializados, sua prevalência é estimada em torno de 70%, em alguma época da vida, de 70 a 85% de todas as pessoas sofrerão de dores nas costas (ANDERSSON, 1981). Segundo Figueiró (1999), cerca de 10 milhões de brasileiros ficam incapacitados por causa desta morbidade e pelo menos 70% da população sofrerá um episódio de dor na vida. Nos Estados Unidos, a lombalgia é a causa mais comum de limitação de atividades entre pessoas com menos de 45 anos, é a segunda razão mais frequente para visitas médicas, a quinta causa de admissão hospitalar e a terceira causa de procedimentos cirúrgicos (WISNER, 1995).

A lombalgia ocupacional, a maior causa isolada de transtorno de saúde relacionado com o trabalho e de absenteísmo, a causa mais comum de incapacidade em trabalhadores com menos de 45 anos de idade, tem predileção por adultos jovens e é responsável por aproximadamente 1/4 dos casos de invalidez prematura (SILVA, 2004).

Podendo ser classificada a partir do tempo de aparecimento dos sintomas, como aguda e crônica. A lombalgia aguda é caracterizada por um quadro doloroso associado à limitação das atividades diárias que dura menos de três meses. (REYNALDO ET AL., 2006; SOUZA, 2009). Fatores como obesidade, tabagismo, grau de escolaridade, trabalhos pesados, sedentarismo, depressão, hábitos posturais e modificações de temperatura também parecem estar implicados no desencadeamento e cronificação da lombalgia inespecífica (BRAZIL ET AL., 2004).

Uma das principais queixas de pacientes com transtornos musculoesqueléticos é a lombalgia crônica sendo definida pela presença de dor na região lombar com duração superior a 7-12 semanas, acarretando restrição da capacidade para o trabalho, limitação para atividades sociais, problemas emocionais e redução da qualidade de vida (ANDERSSON, 1999).

A dor lombar em geral, tem como causas algumas condições como: congênitas, degenerativas, inflamatórias, infecciosas, tumorais e mecânico-posturais. A lombalgia mecânico-postural, também denominada lombalgia inespecífica, representa, no entanto, grande parte das algias de coluna referidas pela população, nela geralmente ocorre um desequilíbrio entre a carga funcional, que seria o esforço requerido para atividades do trabalho e da vida diária, e a capacidade funcional, que é o potencial de execução para essas atividades (CAILLIET, 2001).

Os sintomas dolorosos podem agravar-se de forma progressiva e evoluir para a perda ou diminuição da função. A dor e a diminuição de função podem persistir durante anos e, em alguns casos, tornarem-se intratáveis, assim, a adoção de hábitos para controle dessas disfunções torna-se essencial, tanto em termos sociais como econômicos (COURY ET AL., 2009).

A procura por tratamento de dores lombares crônicas aumenta a cada dia, a demanda em hospitais e clínicas ocasiona um aumento no custo de despesas com cuidados com a saúde. Hansson (2000) afirma que tal demanda é um ônus a mais para os cofres públicos e privados, pois o governo, as indústrias e a sociedade devem arcar com as despesas. É grande a quantidade de tempo e recursos gastos com os pacientes portadores deste tipo de morbidade.

Estudos comprovam que a etiologia é multifatorial, destacando-se características individuais, as alterações biomecânicas e a atividade laboral, como possíveis fatores etiológicos. (FREITAS ET AL., 2011). Dentre os fatores de risco mais frequentes para o desenvolvimento da lombalgia encontram-se a idade, o sexo, a obesidade, a altura, fumo, falta de preparo físico, fraqueza dos músculos abdominais e espinhais, a má postura, o fato de permanecer sentado por um longo período e o sedentarismo (MANCIN ET AL., 2008).

Vários estudos epidemiológicos têm descrito a dor lombar, mas poucos são os que descrevem de maneira comparativa duas classes distintas ocupacionais. No Brasil foram achados poucos estudos sobre este assunto, sendo assim, não há dados que expliquem de forma relevante quais seriam as atividades ocupacionais que mais geram sobrecarga lombar.

Este estudo teve como objetivo identificar a prevalência de lombalgia em grupos ocupacionais e o grau de incapacidade causado pela sintomatologia e verificar sua associação com variáveis socioeconômicas e ergonômicas.

MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada a partir de um levantamento (Survey), sendo de caráter descritivo, de corte transversal, conduzido pelo método quantitativo. Realizada seguindo os preceitos éticos determinados pelo Conselho Nacional de Saúde através da resolução 196/96 que regulamenta as Diretrizes de pesquisas envolvendo seres humanos. Este projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital Agamenon Magalhães para apreciação e foi aprovado sob o número CAAE: 28165514.5.0000.5197. Aos participantes foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, para leitura e autorização voluntária dos procedimentos.

A amostra deste estudo foi composta por 10 trabalhadores do setor administrativo (ADM) e 10 trabalhadores de serviços gerais (ASG), com média de 18 a 55 anos, de ambos os sexos e vinculados à mesma instituição de ensino superior (IES), situada no Recife, à coleta de dados foi feita de forma aleatória com os participantes. A escolha da IES se deu pela maior facilidade no acesso a coleta de dados. Os critérios de inclusão consistiram em serem considerados trabalhadores do setor administrativo e setor serviços gerais com tempo de trabalho mínimo de um ano, com jornada de trabalho diurna. Foram excluídos os trabalhadores com diagnóstico de dor lombar e uso de analgésicos e anti-inflamatórios.

Para coleta de dados foi aplicado um questionário validado modificado. O questionário de Roland-Morris é um instrumento composto por 24 alternativas a serem assinaladas com o objetivo de relatar as situações cotidianas e laborais que podem estar comprometidas pela lombalgia. Os sujeitos foram orientados a marcar as alternativas consideradas verdadeiras de acordo com a sua condição física. Quanto maior o número de itens assinalados, pior o estado de saúde do avaliado (BARROS, 2011).

Para análise dos dados foram obtidas distribuições absolutas, percentuais para as variáveis categóricas e as medidas estatísticas: média, desvio padrão e mediana para as variáveis numéricas e foram utilizados os testes estatísticos Qui-quadrado de Pearson, o teste Exato de Fisher ou o teste de Mann-Whintney quando as condições para utilização do teste Qui-quadrado não foram verificadas (ALTMAN, 1991; CONOVER, 1980). A margem de erro utilizada na decisão dos testes estatísticos foi 5% (p-valor < 0,05).

Os dados foram digitados na planilha EXCEL e a obtenção dos cálculos estatísticos foi realizada no programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) na versão 21.

RESULTADOS

Ambos os grupos foram compostos por 10 participantes, 8 mulheres e 2 homens. No grupo do setor administrativo, das 8 mulheres que responderam o questionário de Rolland Morris, 3 afirmaram não se identificar com as questões. Dos 2 homens entrevistados, 1 se identificou com todas as alternativas. No grupo do setor de serviços gerais, das 8 mulheres que se disponibilizaram a participar da pesquisa, todas se identificaram com as alternativas do questionário. E dos 2 homens do setor de serviços gerais, 1 considerou todas as questões positivas.

Na Tabela 1 foram apresentadas as estatísticas das variáveis numéricas: idade, tempo de serviço e escore de Roland Morris. Desta tabela foram destacados: a média e a mediana da idade e do escore de Rolland Morris foram correspondentemente mais elevadas no grupo ASG do que no grupo Administrativo enquanto que a média do tempo de serviço foi mais elevada no grupo Administrativo, entretanto a única diferença estatisticamente significativa entre os grupos foi registrada no escore de Rolland Morris (p < 0,028). A variabilidade expressa através do desvio padrão se mostrou reduzida na variável idade desde que as referidas medidas foram inferiores a metade das médias correspondentes e a variabilidade do escore de Rolland Morris se mostrou elevado desde que o valor do desvio padrão variou entre mais da metade até os valores superiores as médias correspondentes.

Tabela 1. Estatística da idade, tempo de serviço e escore de Rolland Morris segundo o grupo.

Grupo
Variável ASG Administrativo TOTAL Valor de p
Média ± DP (Mediana) Média ± DP (Mediana) Média ± DP (Mediana)
Idade 35,60 ± 8,37 (35,00) 30,80 ± 10,41 (27,50) 33,20 ± 9,52 (32,50) p(1) = 0,211
Tempo de serviço 3,67 ± 2,13 (3,00) 4,79 ± 4,73 (3,00) 4,23 ± 3,62 (3,00) p(1) = 0,849
Escore de Rolland Morris 9,20 ± 7,80 (6,00) 3,80 ± 6,94 (1,50) 6,50 ± 7,70 (3,00) p(1) = 0,028*

(*): Diferença significativa ao nível de 5,0%.

(1): Através do teste de Mann-Whitney.

Dos resultados contidos na Tabela 2 merecem destaque: a diferença percentual que ocorreu em relação à faixa etária, sendo que no grupo Administrativo a maioria dos profissionais (60,0%) tem até 29 anos de idade, enquanto que no grupo ASG 80,0% dos funcionários tem idade igual ou maior que 30 anos. Entretanto não se verificou diferença significativa entre os dois grupos para nenhuma das variáveis (p > 0,05).

Tabela 2. Avaliação da faixa etária, sexo, tempo de serviço e carga horária segundo o grupo

Grupo
Variável ASG Administrativo TOTAL Valor de p
N % N % N %
TOTAL 10 100,0 10 100,0 20 100,0
Faixa etária
Até 29 2 20,0 6 60,0 8 40,0 p(1) = 0,170
30 ou mais 8 80,0 4 40,0 12 60,0
Sexo
Masculino 2 20,0 2 20,0 4 20,0 p(1) = 1,000
Feminino 8 80,0 8 80,0 16 80,0
Tempo de serviço
Até 3 anos 6 60,0 5 50,0 11 55,0 p(1) = 1,000
Mais de 3 anos 4 40,0 5 50,0 9 45,0
Carga horária
4hs 2 20,0 2 10,0 p(1) = 0,474
8hs 10 100,0 8 80,0 18 90,0

(1): Através do teste Exato de Fisher.

Ao analisar a Tabela 3 não foram verificadas diferenças significativas (p < 0,05) entre os grupos para nenhum dos itens ou questões de Rolland Morris. Desta tabela foram destacados: no grupo total, com exceção da questão 2 “Mudo de posição frequentemente para tentar que as minhas costas fiquem confortáveis”, com maioria das respostas positivas (60,0%) para esta população, nas outras 23 questões a maioria das questões teve respostas negativas, com valores que variaram de 55,0% a 90,0%. Considerando todos os participantes independentemente do setor, as questões com maiores percentuais de respostas positivas, além da questão 2, foram: P6 “Por causa das minhas costas, deito-me com mais frequência para descansar” (45,0%), P10 “Eu só fico em pé por curtos períodos de tempo por causa das minhas costas” (45,0%). Entretanto, o menor percentual ocorreu na questão 20 “Fico sentado a maior parte do dia por causa das minhas costas” (10,0%).

Tabela 3. Avaliação do questionário de Rolland Morris segundo o grupo

Grupo
Variável ASG Administrativo TOTAL Valor de p
N % N % n %
TOTAL 10 100,0 10 100,0 20 100,0
Fico em casa a maior parte do tempo por causa das minhas costas (P1)
Sim 4 40,0 1 10,0 5 25,0 p(1) = 0,303
Não 6 60,0 9 90,0 15 75,0
Mudo de posição frequentemente para tentar que as minhas costas fiquem confortáveis (P2)
Sim 7 70,0 5 50,0 12 60,0 p(1) = 0,650
Não 3 30,0 5 50,0 8 40,0
Ando mais devagar do que o habitual por causa das minhas costas (P3)
Sim 4 40,0 1 10,0 5 25,0 p(1) = 0,303
Não 6 60,0 9 90,0 15 75,0
Por causa das minhas costas não estou a fazer nenhum dos trabalhos que habitualmente faço em casa (P4)
Sim 3 30,0 1 10,0 4 20,0 p(1) = 0,582
Não 7 70,0 9 90,0 16 80,0
Por causa das minhas costas, uso o corrimão para subir escadas (P5)
Sim 4 40,0 1 10,0 5 25,0 p(1) = 0,303
Não 6 60,0 9 90,0 15 75,0
Por causa das minhas costas, deito-me com mais frequência para descansar (P6)
Sim 5 50,0 4 40,0 9 45,0 p(1) = 1,000
Não 5 50,0 6 60,0 11 55,0
Por causa das minhas costas, tenho de me apoiar em alguma coisa para me levantar de uma poltrona (P7)
Sim 3 30,0 1 10,0 4 20,0 p(1) = 0,582
Não 7 70,0 9 90,0 16 80,0
Por causa das minhas costas, tento conseguir que outras pessoas façam as coisas por mim (P8)
Sim 2 20,0 1 10,0 3 15,0 p(1) = 1,000
Não 8 80,0 9 90,0 17 85,0
Visto-me mais lentamente do que o habitual por causa das minhas costas (P9)
Sim 3 30,0 1 10,0 4 20,0 p(1) = 0,582
Não 7 70,0 9 90,0 16 80,0
Eu só fico em pé por curtos períodos de tempo por causa das minhas costas (P10)
Sim 5 50,0 4 40,0 9 45,0 p(1) = 1,000
Não 5 50,0 6 60,0 11 55,0
Por causa das minhas costas, evito dobrar-me ou ajoelhar-me (P11)
Sim 4 40,0 1 10,0 5 25,0 p(1) = 0,303
Não 6 60,0 9 90,0 15 75,0
Acho difícil levantar-me de uma cadeira por causa das minhas costas (P12)
Sim 3 30,0 2 20,0 5 25,0 p(1) = 1,000
Não 7 70,0 8 80,0 15 75,0
As minhas costas estão quase sempre a doer (P13)
Sim 5 50,0 1 10,0 6 30,0 p(1) = 0,141
Não 5 50,0 9 90,0 14 70,0
Tenho dificuldade em virar-me na cama por causa das minhas costas (P14)
Sim 4 40,0 1 10,0 5 25,0 p(1) = 0,303
Não 6 60,0 9 90,0 15 75,0
Não tenho muito apetite por causa das dores das minhas costas (P15)
Sim 4 40,0 1 10,0 5 25,0 p(1) = 0,303
Não 6 60,0 9 90,0 15 75,0
Tenho dificuldade em calçar peúgas ou meias altas por causa das dores das minhas costas (P16)
Sim 3 30,0 1 10,0 4 20,0 p(1) = 0,582
Não 7 70,0 9 90,0 16 80,0
Só consigo andar distâncias curtas por causa das minhas costas (P17)
Sim 5 50,0 2 20,0 7 35,0 p(1) = 0,350
Não 5 50,0 8 80,0 13 65,0
Não durmo tão bem por causa das minhas costas (P18)
Sim 5 50,0 2 20,0 7 35,0 p(1) = 0,350
Não 5 50,0 8 80,0 13 65,0
Por causa da dor nas minhas costas, visto-me com a ajuda de outras pessoas (P19)
Sim 2 20,0 1 10,0 3 15,0 p(1) = 1,000
Não 8 80,0 9 90,0 17 85,0
Fico sentado a maior parte do dia por causa das minhas costas (P20)
Sim 1 10,0 1 10,0 2 10,0 p(1) = 1,000
Não 9 90,0 9 90,0 18 90,0
Evito trabalhos pesados em casa por causa das minhas costas (P21)
Sim 4 40,0 1 10,0 5 25,0 p(1) = 0,303
Não 6 60,0 9 90,0 15 75,0
Por causa das dores nas minhas costas, fico mais irritado e mal-humorado com as pessoas do que o habitual (P22)
Sim 4 40,0 2 20,0 6 30,0 p(1) = 0,628
Não 6 60,0 8 80,0 14 70,0
Por causa das minhas costas, subo as escadas mais devagar do que o habitual (P23)
Sim 5 50,0 1 10,0 6 30,0 p(1) = 0,141
Não 5 50,0 9 90,0 14 70,0
Fico na cama a maior parte do tempo por causa das minhas costas (P24)
Sim 3 30,0 1 10,0 4 20,0 p(1) = 0,582
Não 7 70,0 9 90,0 16 80,0

(1): Através do teste Exato de Fisher.

DISCUSSÃO

O presente estudo comparou o grau de incapacidade gerado pela lombalgia em trabalhadores do setor administrativo e serviços gerais. Segundo Simmonds (1998) a dor lombar pode levar a uma deficiência tanto no desempenho funcional quanto na capacidade física, o que poderá interferir negativamente na capacidade laboral do indivíduo.

Pode-se constatar na tabela 1 que o tempo de trabalho foi mais elevado no grupo administrativo, corroborando com os achados de Cecin (1991), onde o mesmo ainda afirma que a relação entre os anos de trabalho no mesmo setor e a prevalência de dor lombar justifica-se em função das exigências solicitadas ao corpo, diariamente, no desempenho das atividades laborais. Tais solicitações, provavelmente, acarretam lesões cumulativas à mecânica do aparelho locomotor e contribuem para o surgimento das queixas dolorosas.

De acordo com a tabela 2, de um total de 20 participantes, 16 eram mulheres, destas, 13 (81,25%) referiram dor lombar, o que corrobora com Silva (2004) que mostrou em seu estudo que as mulheres apresentam risco aumentado para lombalgia crônica, pois por vezes combinam a realização de tarefas domésticas com o trabalho fora de casa, que por muitas vezes exigem exposição às cargas ergonômicas, principalmente repetitividade, posição viciosa e trabalho em grande velocidade, associados às características anátomo-funcionais típicas do sexo feminino, podendo colaborar para o surgimento de dores lombares crônicas, concordando novamente com o achado deste estudo, já que 8 (100%) das mulheres ASG apresentaram a sintomatologia lombar enquanto que 5 (62,5%) das mulheres do Administrativo sentiram a sintomatologia lombar.

Estudos também revelam que a sobrecarga mecânica ocasionada pela dupla jornada de trabalho a qual as mulheres são submetidas parece estabelecer uma associação positiva entre sexo feminino e a ocorrência de sintomatologia dolorosa (AZEVEDO ET AL., 2008; MACIEL ET AL., 2006; SILVA ET AL., 2004).

Baseado na tabela 3 mostra que a questão 2 do questionário “Mudo de posição frequentemente para tentar que as minhas costas fiquem confortáveis”, foi a mais assinalada pelos participantes 12 (60%), os ASG 7 (70%) responderam positivamente a esta questão, enquanto que os do setor Administrativo, 5 (50%) integrantes responderam positivamente, pode-se atribuir a este fator que o trabalho de serviços gerais por estar em constante movimento e ter como característica a manutenção da posição em pé por tempos prolongados, sendo ainda associado a posturas ergonomicamente incorretas para ter acesso a regiões de difícil limpeza, justifique um maior aparecimento desta resposta. Segundo Sacco (2009) a ausência de pausas pode ocasionar o surgimento de um quadro clínico de lombalgia, interferindo diretamente na execução das atividades de vida diária e profissional, como já pode-se observar pela aplicação dos questionários de Oswestry e Roland-Moris (PEREIRA, 2006).

A lombalgia ocupacional influência, de forma negativa, a qualidade de vida em grupos ocupacionais. As condições de trabalho desfavoráveis como a não aplicação de medidas ergonômicas adequadas de forma abrangente, promove o adoecimento dos trabalhadores por disfunções osteomusculares, sendo este, um fator que contribui para o afastamento do trabalhador do ambiente de trabalho.

CONCLUSÃO

A realização deste estudo permitiu observar que houve uma associação entre dor lombar e os grupos ocupacionais estudados, e que houve também uma diferenciação do acometimento entre eles. Foi possível observar que o setor de serviços gerais, apresentou uma maior prevalência de lombalgia quando comparados ao setor administrativo. Torna-se importante sugerir a realização de novos estudos, que utilize uma metodologia diferente, com os mesmo grupos, uma amostra maior, sexos de forma equiparada, garantindo assim uma confiabilidade maior ao estudo e possibilitando o aparecimento de novos dados. Além disso, fica exposto a importância de métodos preventivos para essas classes profissionais, podendo diminuir desta forma o risco dos acometimentos na região lombar.

REFERÊNCIAS

ALTMAN, D.G. Practical Statistics for Medical Research. 1a ed. London: Chapman and Hall, 1991. 611p.

ANDERSSON, G. B. Epidemiologic aspects on low – back pain in industry. Spine, United States, v. 6, n.1, p. 53-60, 1981.

ANDERSSON, G. B. Epidemiological features of chronic low-back pain. Lancet, United Kingdom, v. 354, n. 9178, p. 581-585,1999.

AZEVEDO, J. V. S.; SILVA, J. R. L.; RIBEIRO, D. C. L. Relação entre lombalgia e sobrepeso em praticantes de atividade física. Revista Conscientiae Saúde, São Paulo, v. 7, n. 4, p. 471-475, 2008.

BARROS, S. S.; ÂNGELO, R. C. O.; UCHÔA, E. P. B. L. Lombalgia ocupacional e a postura sentada. Revista Dor, São Paulo, v. 12, n. 3, p. 226-230, 2011.

BRAZIL, A. V.; XIMENES, A. C.; RADU, A. S.; FERNADES, A. R.; APPEL, C.; MAÇANEIRO, C. H.; ET AL. Diagnóstico e Tratamento das Lombalgias e Lombociatalgias. Revista Brasileira de Reumatologia, São Paulo, v. 44. n. 6, p. 419-425, 2004.

CAILLIET, R. Síndrome da dor Lombar. 5a ed. Porto Alegre: Artmed, 2001.

CANAVAN, P. K. Reabilitação em medicina esportiva: um guia abrangente. 3a ed. São Paulo: Manole, 2001.

CECIN, A. H.; MOLINAR, M. H. C.; LOPES, M. A. B.; ET AL. Dor lombar e trabalho: um estudo sobre a prevalência de lombalgia e lombociatalgia em diferentes grupos ocupacionais. Revista Brasileira de Reumatologia, São Paulo, v. 31, n. 2, p.50-56, 1991.

CONOVER, W. J. Practical Nonparametric Statistics. 2 ed. Texas Tech University: John Wiley & Sons – New York, 1980. 495p.

COURY, H.; MOREIRA, R.; DIAS, N. Efetividade do exercício físico em ambiente ocupacional para controle da dor cervical, lombar e do ombro: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Fisioterapia, São Carlos, v.13, n. 6, p. 461-479, 2009.

FREITAS, K. P. N.; BARROS, S. S.; ÂNGELO, R. C. O.; UCHÔA, P. B. L. Lombalgia ocupacional e a postura sentada: efeitos da cinesioterapia laboral. Revista Dor, São Paulo, v.12, n.4, p.308-313, 2011.

FIGUEIRÓ, J. A. B.; PIMENTA, C. A. M.; TEIXEIRA, M. J.; YENG, L. T. Tratamento multidisciplinar do doente com dor. In: CARVALHO, M. M. M. J. Dor: um estudo multidisciplinar. 2a ed. São Paulo: Summus Editorial, 1999. Cap. 9, p. 87-139.

HANSSON, T.H.; HANSSON, E. K. The effects of common medical interventions on pain, back function, and work resumption in patients with chronic low back pain: A prospective 2-year cohort study in six countries. Spine, United States, v. 25, n. 23, p. 3055-3064, 2000.

MACIEL, A. C. C.; FERNANDES, M. B.; MEDEIROS, L. S. Prevalência e fatores associados à sintomatologia dolorosa entre profissionais da indústria têxtil. Revista Brasileira de Epidemiologia, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 94-102, 2006.

MANCIN, G. B.; BONVICINE, C.; GANÇALVES, C.; BARBOZA, M. A. I. Análise da influência do sedentarismo sobre a qualidade de vida de pacientes portadores de dor lombar crônica. Revista Conscientiae Saúde, São Paulo, v. 7, n. 4, p. 441-447, 2008.

PEREIRA, J. E.; PINTO, M. C.; SOUZA, R. A. Prevalência de lombalgias em transportadores de sacos de café. Revista Motriz, Rio Claro, v. 12, n. 3, p. 229-238, 2006.

REYNALDO, J. G. F.; MARCOS, K.; FRANCISCO, P. E. S.; DAN, C. M. V. Ensaio clínico randomizado, duplo-cego, comparativo entre a associação de cafeína, carisoprodol,diclofenaco sódico e paracetamol e a ciclobenzaprin a, para avaliação da eficácia e segurança no tratamento de pacientes com lombalgia e lombociatalgia agudas. Revista Acta Ortopédica Brasileira, São Paulo, v.14, n.1, p.11-16, 2006.

SACCO, I. C. N.; ALIBERTI, S.; QUEIROZ, B. W. C.; PRIPAS, D.; KIELING, I.; KIMURA, A. A.; ET AL. A influência da ocupação profissional na flexibilidade global e nas amplitudes angulares dos membros inferiores e da lombar. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, Santa Catarina, v. 11, n. 1, p. 51-58, 2009.

SILVA, M. C.; FASSA, A. G.; VALLE, N. G. J. Dor lombar crônica em uma população adulta no sul do Brasil: prevalência e fatores associados. Revista Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 20, n. 2, p. 377-385, 2004.

SIMMONDS, M. J.; OLSON, S. L.; JONES, S.; HUSSEIN, T.; LEE, C. E.; NOVY, D.; ET AL. Psychometric characteristics and clinical Usefulness of Physical Performance Tests in Patients with low back pain. Spine, United States, v. 23, n. 22, p. 2412-2421, 1998.

SOUZA, J. B. Poderia a atividade física induzir analgesia em pacientes com dor crônica? Revista Brasileira de Medicina do Esporte, Niterói, v.15, n. 2, p. 145-150, 2009.

WISNER, A. A antropotecnologia Ergonomie et analyse ergonomique du travail: un champ de l’art de l’ingénieur et une méthodologie générale dessciences humaines. Performances Humaines & Techiniques, Paris, v. 6, n.16, p. 74-78, 1995.

[1] Fisioterapeuta especializada em Fisioterapia Neurofuncional

[2] Fisioterapeuta graduada pela Universidade Salgado de Oliveira

5/5 - (12 votes)
Anna Xênya Patrício de Araújo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POXA QUE TRISTE!😥

Este Artigo ainda não possui registro DOI, sem ele não podemos calcular as Citações!

SOLICITAR REGISTRO
Pesquisar por categoria…
Este anúncio ajuda a manter a Educação gratuita