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A comunicação não violenta como ferramenta para auxiliar nas relações pessoais e interpessoais: Um estudo sistemático

RC: 41974
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

ALMEIDA, Maise Nunes de Souza [1], SOUZA, Maria José Dantas de [2], NASCIMENTO, Lídio França do [3]

ALMEIDA, Maise Nunes de Souza. SOUZA, Maria José Dantas de. NASCIMENTO, Lídio França do. A comunicação não violenta como ferramenta para auxiliar nas relações pessoais e interpessoais: Um estudo sistemático. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 11, Vol. 05, pp. 91-105. Novembro de 2019. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/relacoes-pessoais

RESUMO

A comunicação não violenta é um método pouco conhecido, usado para comunicar-se de forma empática com o outro, foi criada pelo psicólogo Marshall Rosenberg desde 1960 e teve resultados positivos na mediação de conflitos éticos e religiosos, tem em suas características a observação, o sentimento, a necessidade, e o pedido como principais passos para atingir seu propósito. O método pode ser usado na vida particular, ambiente de trabalho, escolas, hospitais, psicoterapias e etc. Este trabalho apresenta como objetivo geral fazer uma revisão bibliográfica sistemática sobre as influências positivas da comunicação não violenta como ferramenta para auxiliar nas relações pessoais e interpessoais não só diante de conflitos como também no dia a dia. Foram feitas buscas nos sites Google acadêmico e Portal de periódicos CAPES. Com a pesquisa foi possível comprovar que o método de comunicação baseado nessa perspectiva pode influenciar positivamente na resolução de conflitos em diversos ambientes e situações, desde que as pessoas sejam instruídas sobre o método da comunicação não violenta, desse modo pode haver relacionamentos saudáveis em qualquer hierarquia. Conclui-se que a adesão do método da comunicação não violenta reduz significativamente o número de violência e conflito, não só verbal como as demais formas de violência por falta de comunicação, além de melhorar o modo como as pessoas se relacionam em os mais diversos locais desde que alguns dos envolvidos façam uso desse método.

Palavras chave: comunicação não violenta, cultura de paz, relacionamento interpessoal, mediação, violência.

INTRODUÇÃO

A comunicação não violenta (CNV) é o termo criado pelo psicólogo Marshall B Rosenberg, o mesmo dedicou alguns anos de estudos e pesquisas inspirado nas suas experiências com o clima de violência vivido em Detroit no período de infância. (ROSENBERG, 2006).

Inicialmente Rosenberg atuava como psicólogo clínico usando como embasamento a teoria de Carl Rogers, e a psicologia humanista, chegou a Rogers quando ele pesquisara sobre a abordagem centrada na pessoa e os resultados foram fundamentais para embasar a evolução do processo da comunicação não violenta (PELIZZOLI, 2012).

Carl Rogers o alertou sobre sua abordagem que apresentava a habilidade do arrojo de escuta empática, e de integrar suavemente nossos pensamentos, emoções, valores e palavras faladas (ROSENBERG, 2006).

Através dos estudos realizados com Rogers, Rosenberg definiu alguns componentes que alicerçaram sua teoria, são eles: Observar, de maneira neutra, sem julgamento ou juízo de valor; o Sentimento diante do que observamos e o que nos fez sentir e o que nos causou; a Necessidade, para avaliar quais não foram atendidas com o comportamento do outro. E por último, o pedido que deva ser feito de maneira clara e que não pareça exigência. (ROSENBERG, 2006).A tradição brasileira traz em suas características culturais o preconceito, palavras ofensivas com posicionamento de julgamento (VINHA, 2014).

Pesquisas realizadas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) em 2016 o número de homicídios no Brasil superou a casa dos 60 mil, todos por assassinatos (IPEA, 2018).

Diante dessa realidade a comunicação não violenta apresenta-se como uma ferramenta onde o praticante desnuda-se através da desconstrução da sua agressividade através da promoção do diálogo caracterizado pela compaixão sem ser submisso (PELIZZOLI, 2012). Caracterizando a CNV como uma forma de intervenção pacificadora desde conflitos da vida privada a acordos políticos, pois a mesma estabelece uma sincera conexão com o outro por envolver a empatia e o acolhimento (VINHA, 2014).

A experiência mostrou que as pessoas têm fundamentalmente uma orientação positiva. Acabei por me convencer de que quanto mais um indivíduo é compreendido e aceito, mais tendência tem para abandonar as falsas defesas que empregou para enfrentar a vida e para progredir num caminho construtivo (ROGERS, 2009).

A CNV ajuda reformular a maneira pela qual nos expressamos e ouvimos os outros, nossas palavras, em vez de serem reações repetitivas e automáticas, tornam-se respostas conscientes, firmemente baseados na consciência do que estamos percebendo, sentindo e desejando (FREITAS et al., 2015). Somos levados a nos expressar com honestidade e clareza ao mesmo tempo em que damos ao outro uma atenção respeitosa empática, seja esse em qualquer ambiente de nosso convívio (VINHA, 2014).

Em toda troca, acabamos executando nossas necessidades mais profundas e as dos outros. A CNV nos ensina a observarmos cuidadosamente (e sermos capazes de identificar) os comportamentos e as condições que estão nos afetando, assim aprendemos a identificar e articular claramente o que de fato desejamos em determinada situação (FREITAS, et al 2015). Na visão de Rosenberg a forma é simples, mas profundamente transformadora (ROSENBERG, 2006).

Assim o nosso objetivo com essa pesquisa é descrever as influências da comunicação não violenta como ferramenta para auxiliar nas relações pessoais e interpessoais, através de uma revisão bibliográfica sistemática. Contribuindo dessa forma com uma nova visão de método possível de melhorar as relações em gerais.

MÉTODOS

A presente pesquisa iniciada no começo do segundo semestre de 2018 e finalizada no primeiro semestre de 2019. Se caracteriza como uma revisão bibliográfica sistemática. Segundo Rother (2007) é uma revisão planejada para responder uma pergunta específica e utiliza métodos explícitos e sistemáticos para identificar, selecionar e avaliar criticamente os estudos, e para coletar e analisar os dados destes estudos incluídos na revisão.

Foram escolhidas duas bibliotecas virtuais, sendo elas o Portal de Periódicos Capes/Mec e o Google acadêmico, com os seguintes descritores: combinação única: comunicação não violenta, cultura de paz.

Como critérios de inclusão foram usados artigos na língua portuguesa, igual ou posterior ao ano de 2007 que possui em suas palavras chaves Comunicação não violenta, disponível gratuitamente, completo e que estejam em conformidade com o tema proposto. Já os critérios de exclusão foram os artigos de língua estrangeira, artigos anteriores a 2007, artigos incompletos e qualquer tipo de revisão bibliográfica.

RESULTADOS

Na presente pesquisa foram usados nove artigos depois de feito os critérios de exclusão e inclusão. Abaixo segue informações a respeito do ano dos artigos, o tema desses artigos, os autores desses artigos, a revista, jornal ou periódicos desses artigos e por fim uma síntese dos mesmos (Quadro 01).

Quadro 01

Ano Autor Revista, Periódicos ou Jornais Título Resumo
2018 Maria Angélica da Silva Costa Santos Idéias e Inovação A comunicação não violenta como instrumento para uma cultura de paz: uma proposta para as escolas da rede estadual de Sergipe Este artigo tratou de uma pesquisa quantitativa e exploratória realizada sobre os diversos tipos de violências encontradas nas 358 escolas da rede estadual de ensino de Sergipe, foi feita uma proposta de usar a comunicação não-violenta como instrumento para a construção da Cultura de Paz, no sentido de prevenir e lidar com situações de violência escolar, possibilitando a reconstrução dos relacionamentos interpessoais.
2018 Eduardo da Silva Melo

 

Ambivalências A construção de práticas de justiça restaurativa em Canindé de São Francisco- SE O artigo trata-se de uma experiência de facilitadores de círculos restaurativos, implantado em 2015, na comarca de Canindé. Os encontros eram feitos com adolescentes em conflito com a lei e seus familiares, apoiadores, comunidades e a rede de serviços. O intuito é promover diálogo para resolução de conflito.
2017 Rogéria Mussio, Adriane Serapião Perspectiva em Gestão e Conhecimento (inter)mediação latente de conflitos e comunicação não-violenta na atividade secretarial O artigo tratou de experiência de um estudo aplicado com perspectiva teórico e prático, relacionada a mediação de conflito na atividade secretarial usando como estratégia a comunicação não violenta, inteligência emocional e dinâmicas humanas.  No artigo discute-se ainda como o conflito pode ser um problema sério em uma organização, tornando impraticável o desenvolvimento de trabalho em equipe e como as estratégias estudadas e empregadas podem ser valiosas para uma secretária executiva, contribuindo para gerar um ambiente mais saudável no âmbito organizacional e para construir relações positivas.
2016 Débora Oliveira Diogo, Vanda Mendes Ribeiro Educação em perspectiva Práticas de comunicação de diretores escolares e mediação de conflitos Esta pesquisa foi feita observando um dia de expediente de cinco diretores de escola estadual de São Paulo. Com essa pesquisa concluiu que esses diretores não usaram a indicação literária de comunicação, isso gerou reflexões sobre só a formação dos mesmos, em relação ao objetivo que era o fortalecimento da cultura de paz nas escolas.
2015 Denilson Barbosa de Castro, Paulo Fernando de Melo Martins Revista Esmat

 

Correlações entre a justiça restaurativa e a comunicação não violenta com a educação O presente artigo objetivou analisar a relação entre a Justiça Restaurativa (JR) e a Justiça Retributiva (JR), sob o olhar da Comunicação Não Violenta (CNV). Esta análise se fez presente porque as premissas fundamentais da Justiça Restaurativa podem ser colocadas em situações cotidianas de foro mais casual, mas sem que ocorram todos os aspectos da formalidade jurídica.
2014 Anne Gil Batista, Daniel Henriques Amata, Nanci Trotta, Frederico Costa Greco Revista jurídica Mediando conflitos na Faculdade Batista de Minas Gerais: uma contribuição para a transformação das relações humanas. O presente artigo tratou de um caso atendido pelo Núcleo de Mediação de Conflitos da FBMG, com síntese dos principais pontos do caso, do emprego de habilidades mediadoras usando a comunicação não violenta.
2014 Elaine Ap. Berlanga Trindade Vanessa Santos Cruz

Dorival Paula Trindade

Revista Científica Intraciência. A aplicação da técnica de comunicação não violenta (cnv) no relacionamento entre líder e liderado em Ambiente de teleatendimento O artigo é um estudo de caso de equipes de tele atendentes em callcenters, analisando a influência da comunicação entre líderes e liderados deste ambiente e ao final foi feito comparações dos resultados obtidos depois da aplicação dos métodos e técnicas da Comunicação não Violenta com a equipe e sua líder imediata.
2013 Dalva Lúcia Ferreira Almeida, Lorena Rocha Araújo, Paula Felícia Peixoto, Simone Chagas Ferreira, Vânia Regina PP e Castro. Revista Jurídica VIOLÊNCIA NO BRASIL: como lidar pela justiça restaurativa e pela comunicação não violenta. O artigo traz a crítica em relação a justiça restaurativa brasileira e apresentando o uso da CNV como método e alternativa para diminuição da prática de violência em nosso país.
2007 Helga Loos
Thomas Vincenz Zeller
Interação em Psicologia Aprender a “melhor brigar”: gestão de conflitos sem violência na escola Trata-se de um relato de experiência de intervenção em uma escola pública municipal de Curitiba/PR, cujo objetivo foi o treinamento de habilidades sociais e de interação interpessoal, buscando contribuir para minimizar os episódios agressivos freqüentes na escola, principalmente entre alunos. As atividades foram centradas nas formas de comunicação do lobo (comunicação calcada na ambigüidade e na falta de reconhecimento das necessidades reais dos indivíduos) e da girafa (comunicação direta e empática).

DISCUSSÃO

Adiante estão as principais idéias dos autores que abordam a comunicação não violenta, os contextos em que ela foi usada, e se seu objetivo foi alcançado ou não é as suas contribuições positivas estarão expostos nos parágrafos a seguir.

A comunicação não violenta pode ser identificada pela sigla CNV, criado pelo Psicólogo Marshall Rosenberg, que atuou inicialmente como orientador educacional como cita todos os autores usados a seguir (PELIZZOLI, 2012).

Conforme Santos (2018) a comunicação é algo essencial para os relacionamentos em geral, e que é preciso estimular entre as pessoas a abordagem da comunicação não violenta, levando em conta a singularidade de cada um. Decerto, o ser humano tem por natureza a maneira compassiva de dar e receber, porém em algum momento alguns se desligam dessa natureza e comportam-se de forma violenta, outros permanece conectados com o princípio da compaixão, isso se dar através do uso que fazemos da linguagem, (FALLER, 2018).

Loos (2007) citando (MUSZKAT, 2003) diz que a violência ocorre como tentativa de reequilibrar o sistema psíquico mediante uma experiência instantânea de triunfo. Ao agredir o outro, o agressor experimenta uma sensação de grandiosidade por meio da humilhação de sua vítima e sua sub sequente submissão.

Por sua vez, Ferreira (2017), diz que a CNV é uma filosofia aplicada à linguagem que pode ser aprendida em cursos, seminários e treinamentos, ou até mesmo praticada de forma inconsciente por pessoas que não a conhecem (FERREIRA, 2017). Sendo assim, a CNV não se torna uma fórmula preestabelecida porque ela se adapta a várias situações e estilos pessoais e culturais (FALLER, 2018).

Dessa forma, Peixoto (2013) nos traz que a comunicação não violenta aperfeiçoa relacionamentos e previne violências na medida em que as pessoas que a praticam começam a se autocompreender em suas emoções, sentimentos, interesses e necessidades. O que necessariamente conduz a níveis maiores de humanização e de harmonia interpessoal e social. Conforme o ponto de vista de Trindade (2014) ele comprovou que a metodologia da CNV contribuiu positivamente para o clima na empresa e que será eficaz principalmente naquelas geradoras de clima estressante gerados pela pressão dos resultados em curto prazo, e esses resultados dentro da organização respingam aos clientes externos.

A CNV em pesquisas feitas até o momento tem se mostrado compatível a todos os níveis de comunicação, relacionamentos, organizações, instituições, negociações e disputas (TRINDADE, 2014). Onde atualmente ela objetiva-se a criar um fluxo de comunicação com honestidade e empatia, sendo está a habilidade principal para o sucesso dos resultados de quem a usam como vem acontecendo de forma estratégica pela justiça restaurativa. Pois se acredita que ela pode oferecer contribuições em qualquer espaço social e contexto de crise ou desestruturação. (DIOGO, 2016)

Em outras palavras, a CNV pode ser considerada um instrumento fundamental, podendo ser usado na mediação de conflitos e esclarecimentos na área educacional e social, como também em locais e momentos, tais como: relacionamentos, empresas, escolas, terapias e conflitos de diversas naturezas (FALLER, 2018). Nas observações de Diogo (2016) as pessoas envolvidas em sua pesquisa, algumas vezes fizeram o papel de mediadores de conflitos que envolvia pais, alunos, e funcionários, os quais nessa situação fizeram julgamento a respeito da situação. Essa prática vai contra um dos princípios da CNV que diz que se deve observar sem julgamentos, ou juízo de valor. Portanto, apenas o primeiro passo foi realizado pelos diretores (no papel de mediador de conflito), a observação já os demais passos não foram desenvolvidos o que não gerou resposta satisfatória para resultado final da pesquisa.

A pesquisa de Diogo (2016) denota que a falta dos demais passos da CNV desfavoreceu a intervenção, indicando que é necessária ampliação de conteúdo de formação para gestores escolares no desenvolvimento de competências. Faller (2018) confere em sua pesquisa que apesar dos alunos fazerem uso da CNV para expressar seus sentimentos o formato adotado pela instituição não contribui para que as práticas aconteçam. Por outro lado, Peixoto (2013) sugestiona que é possível a prática da CNV de forma unilateral e conseguir resultados através da visão que uma boa comunicação é uma das formas mais poderosas, econômicas e de fácil aplicação.

Desse modo a CNV torna-se um instrumento norteador na resolução de conflitos por tais problemas está na forma como nós comunicamos, falamos, ouvimos e somos ouvidos (TRINDADE, 2014). Na verdade, a mediação de conflitos feita pela justiça restaurativa insere um novo olhar para a sociedade sobre situações de conflitos, visando resolução pacífica através de um novo paradigma sobre abordagem de conflitos (MELO, 2018). A aplicação de CNV feita por Batista (2014) foi alcançada com êxito confirmando que esse método da mediação se faz necessário por contribuir com iniciativas que valorizam a prática do diálogo e da comunicação para situações de conflitos. Corroborando com os demais autores Almeida (2013) afirma que o caminho para a prevenção de crimes e para a recuperação daqueles que já foram atingidos pelo crime se dá através de métodos não violentos de tratamento dos conflitos, o que é excelentemente proporcionado pelos procedimentos e práticas da CNV.

De acordo com a experiência de Melo (2018) os adolescentes em conflitos com a lei foram beneficiados com o novo modelo adotado pela justiça, pois busca tratar as pessoas reais, e não apenas réus, criminoso, etc. Usando os princípios da CNV, são compatíveis com a prática jurídicas da justiça restaurativa, pois ela substitui algumas práticas por alternativas, reconfigurando o cenário sócio – jurídico, substituindo a acareação pelo encontro, imposição pelo diálogo, entre outras coisas (MELO, 2018).

Mudando de cenário, Mussio (2017) verificou que os resultados mostraram claramente como a CNV pode orientar novas atitudes dentro de corporações proporcionando ao secretário executivo desempenhar suas atividades em ambiente agradável e estável nos diversos níveis hierárquicos. Numa visão abrangente para desafios empresariais, profissionais e pessoais, melhorando a qualidade dos relacionamentos se reforçando nesses casos a comunicação que se torna um instrumento indispensável e poderoso (MUSSIO, 2017). Por isso que Peixoto (2013) afirma que o ponto fundamental está no poder de comunicação entre as partes envolvidas. Através de um diálogo franco elas podem chegar a um consenso satisfatório de uma forma não violenta, isto é, não é necessário desistir do seu direito nem deixar de expressar os seus sentimentos e opiniões. O objetivo da comunicação não violenta é a transformação das pessoas e das relações (PEIXOTO, 2013).

A análise de Santos (2018) traz resultados no ambiente escolar que buscou a transformação do relacionamento entre os educadores e educando, a pesquisa levou a percepção que a violência na linguagem é algo cultural que naturalizaram e através disso surgiram outros tipos de violência, que na atualidade escolar um dos mais frequentes é o bullying (SANTOS, 2018). Iniciativas que contribuam com valorização da CNV se fazem necessária por essas iniciativas valorizar a prática de diálogo e da comunicação para situações de conflito substituindo velhos padrões, e essa mudança também gera reflexo na vida familiar e social dos alunos e profissionais, pois consiste em uma aproximação mais harmoniosa dando oportunidade para que todos se expressem (BATISTA, 2014).

Ainda dentro das pesquisas feitas por Mussio (2017) a aplicação do uso da CNV também se mostrou positiva na corporação secretarial, possibilitando a integrar habilidades intrapessoais e interpessoais diante de situações difíceis promovendo pacificações nos relacionamentos. A pressão constante entre as pessoas tem deixado com que os diálogos cordiais se percam até entre familiares, e as pessoas acabam tendo atitudes agressivas e agindo de forma violenta sem que percebam (BATISTA, 2014). Corroborando com este pensamento, Castro (2015) específica algumas situações sociais que pode usar a CNV como abordagem eficaz se tratando do nível de comunicação, que são: terapias e aconselhamentos, relação intima famílias, escolas, negociações diplomáticas e comerciais, disputas e conflitos de toda natureza.

Observa-se haver uma maneira de identificar as formas sutis de violência em nossa linguagem, é conhecendo a CNV que tem se tornado um ponto de vista significativa para auxiliar o convívio no geral, ressaltando que o principal ponto de comunicação é a escuta que deve ser pautada pela empatia, e só assim é reconhecida a necessidade e sentimentos comuns (FALLER, 2018).

Por fim os autores BATISTA (2014); CASTRO (2015); DIOGO (2016); FALLER (2018); FERREIRA (2017); MELO (2018); MUSSIO (2017); SANTOS (2018) e TRINDADE (2014); comprovaram com suas pesquisas que há eficácia na metodologia da CNV, para os locais em que ela foi usada como instrumento de comunicação assertiva e empática. E que é possível uma cultura de paz desde que se invista com mudanças individuais em jovens o que podem expandir para outras áreas de convivência social (SANTOS, 2018).

CONCLUSÃO

Trazer a comunicação não violenta como ferramenta que aprimora as mais diversas relações, resgata a necessidade de refletir como a evolução da sociedade regrediu no seu ouvir. E em busca de um imediatismo exacerbado encurtamos o nosso falar e cobramos com ansiedade que o outro a compreenda. Sendo assim deixamos de lado a essência do dialogar que abre precedentes para que a violência se manifeste a partir de palavras a ações.

Apesar do pouco material acadêmico sobre o referido tema, o objetivo inicial foi alcançado, sendo um inicio para desenvolver outros trabalhos, pois nas áreas onde a CNV foi utilizada a eficácia do método foi alcançada, e onde a ferramenta não gerou resultado foi porque o método proposto não foi seguido, realizar o pedido não significa que ele será atendido. Portanto, a CNV age diminuindo o ataque abrindo portas para a empatia, em outras palavras, ela é a mediadora de conflitos por permear entre o respeito e a tolerância.

Pouco se escreveu sobre o tema e menos ainda foram autores ligados a psicologia e com isso sugerimos devolver a responsabilidade para os profissionais da área que tão bem fazem uso do ouvir empático primordiais para a aplicação da CNV. Faz necessário que avancem em produzir literatura acadêmica, assim como a administração, direito e educação tão bem souberam fazer uso deste material deixado pelo idealizador da CNV, que desconstruiu a utopia do acolhimento dos sentimentos.

A psicologia associando a CNV no seu ouvir e falar assertivo enriquece o desenvolvimento da sua atuação condicionando qualidade a qualquer área de atuação, pois sempre estará inserida nas relações sejam pessoais ou interpessoais no exercício de desfazer barreiras e estabelecer uma comunicação efetiva que assegure o bem-estar dos que nela estão envolvidos.

A disseminação desta prática insere a cultura de paz tão desejada e desacreditada na atualidade, tendo em vista que a não violência é proativa ante o conflito e ressignifica a construção de relações sadias.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, D. L. F. et al. Violência no Brasil: como lidar pela justiça restaurativa e pela comunicação não violenta. Revista Jurídica, v. 6, n. 1, maio 2016.

APLICADA, Instituto de Pesquisa Econômica. Brasil ultrapassa pela primeira vez a marca de 30 homicídios por 100 mil habitantes. 2018. Disponível em: <www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=33411&catid=8&Itemid=6>. Acesso em: 22 out. 2018.

BATISTA. Mediando conflitos na Faculdade Batista de Minas Gerais: uma contribuição para a transformação das relações humanas. Revista juridica, belo horizonte, v. 7, n. 1, 2014.

CASTRO, D. B.; MARTINS, P. F. M. Correlações entre a justiça restaurativa e a comunicação não violenta com a educação. Revista esmat, [S.l.], v. 7, n. 9, p. 107-142, jun. 2015. ISSN 2447-9896. Disponível em: <http://esmat.tjto.jus.br/publicacoes/index.php/revista_esmat/article/view/42>. Acesso em: 29 abr. 2019. doi:http://dx.doi.org/10.34060/reesmat.v7i9.42

DIOGO, Débora Oliveira; RIBEIRO, Vanda Mendes. Práticas de comunicação de diretores escolares e mediação de conflitos. Educação em Perspectiva, Viçosa, MG, v. 7, n. 1, set. 2016. ISSN 2178-8359. Disponível em: <https://periodicos.ufv.br/ojs/educacaoemperspectiva/article/view/6860>. Acesso em: 26 maio. 2019. doi:https://doi.org/10.22294/eduper/ppge/ufv.v7i1.724.

FALLER, E. COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA E PROCESSOS CIRCULARES:uma experiência escolar. Lume, Porto Alegre, 2018.

FERREIRA, A. A Comunicação Não-Violenta Em Ambientes De Trabalho, 2017. 14.

FREITAS, C. L. S. et al. COMO A COMUNICAÇÃO PODE INFLUENCIAR NO SURGIMENTO DE CONFLITOS NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL. Revista PsicoFAE: Pluralidades em Saúde Mental, [S.l.], v. 4, n. 1, p. 89-104, set. 2016. ISSN 2447-1798. Disponível em: <https://psico.fae.emnuvens.com.br/psico/article/view/59>.

LOOS, H. T. V. Z. Aprendendo a “brigar melhor”: administração de conflitos sem violência na escola.  RevistaInteração em psicologia, p. 281-289, 2017.

MARTINS, C. C. M. Paz e equilíbrio nas relações familiares: das oficinas sistêmicas ede parentalidade às audiências de conciliação e sessões de mediação – primeiras impressões. Revista da esmesc, santa catarina, v. 25, p. 265-288, 2018.

MELO, E. D. S. A construção de práticas de justiça restaurativa em Canindé de São Francisco- SE. Ambivalencias, v. 6, n. 12, p. 235 – 253 , JUL-DEZ 2018.

MUSSIO,R. A. S. (inter)mediação latente de conflitos e comunicação não-violenta na atividade secretarial. Perspectiva em Gestão e Conhecimento, João Pessoa, v. 7, n. 2, p. 214-228, jul./dez 2017.

PELIZZOLI, M.L. (org.) Diálogo, mediação e cultura de paz. Recife: Ed. da UFPE, 2012.

ROSENBERG, M. B. Comunicação não-violenta tecnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionail. São Paulo: Àgora, 2006.

ROSENBERG. M. Sobre a Comunicação Não-Violenta. Disponível em: <http://www.palasathena.org.br/arquivos/conteudos/Sobre_a_CNV_Marshall_Rosenberg.pdf>. Acesso em 15/8/2018.

ROSENBERG, M. CNV Brasil, 2006. Disponível em:<www.cnvbrasil.org>. Acesso em 15/8/2018.

ROTHER, E. T. Revisão sistemática X revisão narrativa. Acta paul. enferm., SãoPaulo, v. 20, n. 2, p. v-vi, June 2007.Available from<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21002007000200001&lng=en&nrm=iso>. accesson 19 nov.  2018.  http://dx.doi.org/10.1590/S0103-21002007000200001

SANTOS, M. A. D. S. C. A comunicação não violenta como instrumento para uma cultura de paz: uma proposta para as escolas da rede estadual de sergipe. Ideias & Inovações, Aracaju, v. 4, n. 2, p. 89-102, maio 2018.

TRINDADE, E. A. B. T. V. S. C. D. P. A aplicação da técnica de comunicação não violenta (cnv) no relacionamento entre líder e liderado em Ambiente de teleatendimento. Revista Científica Intraciência., 2014.

VINHA, T. P. Os conflitos interpessoais no Brasil e as violências escondidas. International Journal of Developmental Psychology INFADRevista de Psicologia, Araraquara, v. 7, p. 323-332, 2014.

[1] Bacharel em Psicologia.

[2] Bacharel em Psicologia.

[3] Doutor em Psicobiologia pela UFRN, Mestre em Psicobiologia pela UFRN e Bacharel em Psicologia pela UFRN.

Enviado: Outubro, 2019.

Aprovado: Novembro, 2019.

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