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Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em adultos: Diagnóstico e tratamento

RC: 47261
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CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

DRESCH, Fernanda [1], ALDA, Rosangela [2]

DRESCH, Fernanda. ALDA, Rosangela. Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em adultos: Diagnóstico e tratamento. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 03, Vol. 07, pp. 19-30. Março de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/diagnostico-e-tratamento

RESUMO

O TDAH é um dos transtornos mais estudados nos últimos anos, porém foca-se muito na criança, esquecendo-se, portanto, o quanto um adulto que possui esse transtorno sofre. Sabe-se, a partir de pesquisas, que até dois terços das crianças que têm TDAH ainda o terão quando crescerem e isso significa que 4 a 5% de todos os adultos têm TDAH. Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica dos principais e mais recentes estudos sobre esse transtorno neurobiológico que afeta grande porcentagem da população. Nele serão apresentados os principais sintomas que aparecem em quem tem TDAH, baseando-se em artigos que foram testados e comprovados cientificamente. O principal objetivo é dar maior suporte para o diagnóstico e, também, trazer alguns tratamentos medicamentosos e terapêuticos, e, ainda, técnicas para que a vida desse adulto que sofre deste transtorno se torne mais simples possível, fazendo com que tenha êxito em sua vida, tanto na área emocional quanto profissional. Por meio dos estudos realizados, observou-se que esse transtorno, quando diagnosticado, possibilita que as pessoas realizem tratamentos bem eficazes, principalmente por meio da medicação, e esta, aliada à terapia e às novas estratégias vivenciais, demonstram que o portador do TDAH pode ter uma vida normal.

Palavras-chave: TDAH, adultos, diagnóstico, tratamento.

1. INTRODUÇÃO

Apesar do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) se constituir num transtorno neurobiológico que afeta grande parte da população mundial, os estudos sobre o tema só tiveram início no meio do século XIX. O termo, no decorrer dos anos, teve várias nomenclaturas, como, por exemplo, Lesão Cerebral Mínima, Reação Hipercinética da Infância, Distúrbio do Déficit de Atenção ou Distúrbio de Hiperatividade com Déficit de Atenção/Hiperatividade. Porém, até alguns anos atrás, acreditava-se que o TDAH era um transtorno que afetava somente as crianças e que na fase adulta este simplesmente sumia. Mas, segundo Barkley (2011, p. 11), “hoje sabe-se, através de estudos minuciosos que até dois terços das crianças que têm TDAH ainda o terão quando crescerem, isso significa que 4 a 5% de todos os adultos têm TDAH. Isto é, mais de 11 milhões de adultos somente nos Estados Unidos”.

As pesquisas já realizadas também indicam que a incidência é maior entre os homens, numa proporção de nove casos em homens para cada um caso em mulheres. O grande problema está em não ser feito o diagnóstico ainda enquanto crianças, para que, então, já pudesse ser direcionado o tratamento adequado. Hoje, o TDAH está entre os transtornos mais extensivamente estudados entre todos os transtornos mentais e emocionais. Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica sobre a avaliação do TDAH em adultos, sobre o tratamento medicamentoso e terapêutico e apresenta algumas estratégias que podem modificar a vida de um adulto que sofre com este transtorno. Essas estratégias se baseiam em um entendimento científico do que está por trás de seus sintomas e podem ajudar a ser bem-sucedido em tudo que for importante.

2. CRITÉRIOS PARA DIAGNOSTICAR O TDAH

De acordo com a APA (2013), o TDAH traz como principais características a desatenção, hiperatividade e impulsividade. Dentre dessas características, pode-se colocar outros fatores, de acordo com o DSM – V. Dentre os critérios de desatenção, pode-se citar o fato de que a pessoa não presta atenção em detalhes, não consegue ficar atenta em palestras, conversas ou leituras mais extensas, além de que, em muitas vezes, não ouve quando alguém lhe dirige a palavra. Na maioria das vezes, não consegue concluir tarefas domésticas ou deveres escolares, tem dificuldade de seguir instruções ou uma sequência lógica de atividades ou manter seus pertences em ordem. Essa desatenção também leva o indivíduo a ter dificuldade em administrar o tempo ou cumprir prazos. Procura evitar tarefas que exigem esforço mental prolongado ou esquece das coisas. Segundo Mello (2007, p. 90), dentre as características que possibilitam reconhecer se o indivíduo possui TDAH, estão:

[…] mantém-se sempre vigilante sendo sua atenção atraída por estímulos novos na maioria das vezes irrelevantes o que compromete sua capacidade de concentrar-se e prestar atenção no que lê está sendo apresentado sem distrair-se. Como a focalização da atenção é fundamental para a compreensão e para o processo de memorização, estas pessoas apresentam dificuldades de memorização, esquecem seus compromissos ou onde deixaram seus objetos.

Em se tratando dos critérios de hiperatividade e impulsividade, as características que mais se destacam são: movimenta as mãos os pés com frequência, tem dificuldade em permanecer sentado na sala de aula ou no trabalho, na maioria das vezes realiza as atividades de forma acelerada, fala excessivamente, costuma responder perguntas antes que elas sejam concluídas, tem dificuldade de aguardar a vez, normalmente se envolve nas conversas de outras pessoas, dentre outros. Peixoto e Rodrigues (2008, p. 92) discutem, em seu estudo, sobre os critérios para realização do diagnóstico do TDAH da seguinte forma:

Em função da complexidade do diagnóstico do TDAH, recomenda-se que os profissionais utilizem em seu julgamento clínico os critérios do DSM-IV juntamente com informações obtidas junto aos pais e professores, buscando conhecer o comportamento da criança em diferentes contextos, seu desempenho acadêmico, seu rendimento escolar em relação à sua idade cronológica e série escolar, suas relações sociais e familiares, seus interesses, suas habilidades, sua autonomia e independência na rotina diária do lar, entre outros.

Quanto aos critérios gerais, destaca-se a presença de alguns sintomas citados anteriormente e que afetam as relações sociais, acadêmicas ou ocupacionais, mas isso deve ser evidenciado significativamente. Também podem surgir sintomas de desatenção ou hiperatividade que estavam presentes antes dos doze anos de idade, sendo que os sintomas não ocorrem exclusivamente quando há outros transtornos. Outro conceito é dado por Silva (2009, p. 213) da seguinte forma:

O transtorno do déficit de atenção deriva de um funcionamento alterado no sistema neurobiológico cerebral. Isso significa que substâncias químicas produzidas pelo cérebro, chamadas neurotransmissores, apresentam-se alteradas quantitativa e/ou qualitativamente no interior dos sistemas cerebrais, que são responsáveis pelas funções da atenção, impulsividade e atividade física e mental no comportamento humano. Trata-se de uma disfunção, e não de uma lesão, como anteriormente se pensava.

De acordo com os autores citados, conhecer essas características é de fundamental importância para reconhecer o transtorno no indivíduo e, a partir daí, buscar solucionar o problema a partir de um diagnóstico eficaz que redimensionará a um posterior tratamento.

2.1 O TDAH EM ADULTOS: DIAGNÓSTICO

Em muitas das vezes, o diagnóstico feito para adultos fica muito evasivo, levando em consideração somente os critérios usados no DSM – V, podendo vir, frequentemente, com outra nomenclatura, dificultando, assim, um tratamento mais eficaz.

Deve haver uma adaptação desses critérios para a avaliação de TDAH em adultos. Segundo ele, os mais importantes são história de infância consistente com TDAH e, quando adulto, hiperatividade e concentração pobre, além de dois dos seguintes: labilidade afetiva, temperamento quente, inabilidade para completar tarefas e desorganização, acentuada intolerância e impulsividade (LOPES; NASCIMENTO; BANDEIRA, 2005, p. 67).

Quem traz alguns outros sintomas a esta análise é Mattos (2003), porém, estes não são considerados oficiais. São eles: baixa autoestima; sonolência diurna (dormir como uma pedra); “pavio curto” (mistura de impulsividade e irritabilidade); necessidade de ler mais de uma vez para “fixar” o que leu; dificuldade de levantar de manhã, de se “ativar” no início do dia; adiamento constante das coisas; mudança de interesse o tempo todo; intolerância a situações monótonas e repetitivas; busca constante por coisas estimulantes ou diferentes e variações frequentes de humor. De acordo com Silva (2009, p. 25),

Se o comportamento dos TDAHs não for compreendido e administrado por eles próprios e pelas pessoas com quem convivem, consequências no agir poderão se manifestar sob diferentes formas de impulsividade, tais como: agressividade, descontrole alimentar, uso de drogas, gastos demasiados, compulsão por jogos, tagarelice incontrolável.

Daí a importância e necessidade de que a família e outras pessoas próximas reconheçam as características da pessoa portadora de TDAH, pois se a criança for diagnosticada e se forem tomadas medidas cabíveis, os resultados podem ser bem positivos. Barkley (2011) trás uma lista de sintomas adicionais que estão associados ao TDAH. Foi uma pesquisa feita em uma comunidade, com várias pessoas, que possuem TDAH, e mostra a porcentagem de pessoas que apresentam tais sintomas. Aqui foram colocados somente os sintomas que apresentaram em mais de 75% dos pesquisados:

  1. Dificuldade em tolerar, esperar (75%);
  2. Toma decisões impulsivamente (79%);
  3. É facilmente distraído por pensamentos irrelevantes quando deveria se concentrar em algo (96%);
  4. É propenso a sonhar acordado quando deveria estar concentrado em algo (89%);
  5. Adia ou foge de coisas até o último momento (94%);
  6. Começa um projeto ou tarefa sem ler ou ouvir as instruções (89%);
  7. Tem dificuldades para planejar ou se preparar para eventos futuros (81%);
  8. Esquece-se de fazer coisas que deveria fazer (82%);
  9. Não consegue compreender tão bem o que lê quanto deveria, tem de reler para captar o significado (81%);
  10. Não consegue lembrar-se do que ouviu ou leu anteriormente (77%);
  11. Parece não poder atingir os objetivos que estabelece para si (84%);
  12. Tem dificuldade em organizar os pensamentos ou para pensar claramente (75%);
  13. Parece não conseguir reter na mente as coisas de que precisa lembrar-se de fazer (83%);
  14. Esquece a ideia que estava tentando apresentar ao falar com outras pessoas (75%);
  15. Parece não conseguir fazer as coisas, a menos que haja um prazo imediato (89%);
  16. Tem dificuldade para se motivar a começar a trabalhar (80%);
  17. Fica facilmente frustrado (86%);
  18. Tem dificuldade para se motivar em seu trabalho e conclui-lo (84%);
  19. Parece não conseguir persistir nas coisas que acha interessante (96%);
  20. Tem dificuldade para permanecer alerta ou desperto em situações tediosas (86%);
  21. Não é motivado para se preparar antecipadamente para coisas que sabe que deveria fazer (80%);
  22. Parece não conseguir manter a concentração na leitura, em serviços burocráticos, nas aulas e no trabalho (91%);
  23. Fica facilmente entediado (81%); tem dificuldade em concluir uma atividade antes de iniciar outra (87%);
  24. Tem dificuldade para resistir a impulsos de fazer algo divertido ou mais interessante quando deveria estar trabalhando (87%);
  25. Tem dificuldade para fazer o que diz a si mesmo para fazer (81%);
  26. Carece de autodisciplina (81%);
  27. Tem dificuldade para organizar pensamentos (80%);
  28. Parece não conseguir chegar ao ponto principal das explicações tão rapidamente quanto as outras pessoas (75%);
  29. Tem dificuldade para fazer as coisas na ordem ou na sequência adequada (76%);
  30. Tem dificuldade para organizar ou realizar o trabalho por prioridade e importância (84%).

O diagnóstico não pode ser feito por apenas uma via de investigação, e, assim, é importante que se faça vários outros testes para que, então, tenha-se um diagnóstico mais preciso. Alguns testes servem apenas para se excluir qualquer outra comorbidade, vendo que outros transtornos também afetam as funções executivas. Dentre os testes neuropsicológicos usados nos dias de hoje, no Brasil, tem-se os seguintes: WCST- Wisconsin, D-2 (teste de ação concentrada), IMO (Índice de Memória Operacional), Tavis 2-R e as Escalas Beck. O WCST é um teste de classificação de cartas de Wisconsin, realizado com a finalidade de avaliar o raciocínio abstrato e se trata de uma habilidade para trocar estratégias cognitivas como resposta a eventuais modificações ambientais.

Pode ser considerada uma medida da função executiva, requer habilidade para desenvolver e manter estratégias de solução de problemas que implicam trocas de estímulos. Normalmente, é usado como teste para verificar o funcionamento das funções frontais e pré-frontais. O D-2 é realizado com a finalidade de medir a atenção concentrada, de modo a identificar alguns distúrbios de atenção. O IMO é utilizado para avaliar a capacidade de atenção do indivíduo para a informação bem como a sua capacidade de mantê-la, processá-la e emitir uma resposta. Já o Tavis 2-R é um instrumento computadorizado para avaliação da atenção desenvolvido e normatizado no Brasil, caracterizando-se como um teste neuropsicológico (CRUZ; ALCHIERU; SARDA, 2002).

Nesse contexto, é válido reiterar, aqui, que este teste avalia aspectos diferentes da atenção (atenção seletiva, alternância e sustentação da atenção). A aplicação restringe-se, atualmente, a crianças e adolescentes. Por fim, tem-se as Escalas Beck, que, normalmente, são utilizadas como medida de autoavaliação da depressão e ansiedade, pois auxiliam na identificação de comorbidades (CUNHA, 1993; 2001). Levando em consideração todos esses sintomas apresentados por adultos, percebe-se uma melhora do embasamento, pois se torna possível chegar a um diagnóstico mais preciso e, consequentemente, a um tratamento mais eficaz para a pessoa que sofre deste transtorno. Ao falar da importância do diagnóstico e do tratamento, Sampaio (2009, p .4), afirma que:

Um diagnóstico e tratamento corretos poderão ajudar a criança a diminuir as repetências, elevar sua concentração por um período maior de tempo, evitar depressão, superar problemas de relacionamento, ajudá-lo na orientação vocacional, e evitar o envolvimento.

Isso significa que, quando diagnosticado e encaminhado para tratamento, o indivíduo poderá se recuperar e não terá que passar por tantas dificuldades como aqueles que não são submetidos a tratamento.

2.2 COMO OS SINTOMAS AFETAM A VIDA DE UM TDAH

O que os adultos que possuem TDAH mais destacam é que possuem grandes prejuízos em todos os domínios da sua vida, como, por exemplo: em casa, no trabalho, na vida social, na comunidade, nas relações amorosas e sexuais, na criação dos filhos, na educação, no manejo do dinheiro, na condução de veículos, nas atividades de lazer, na sexualidade e nas responsabilidades diárias (BARKLEY 2011). Percebe-se, então, nessas avaliações, o quanto o TDAH prejudica a vida de um adulto. Aquele que apresenta essas dificuldades não sabe lidar com os problemas do dia-a-dia, podendo ter sérias complicações em seu casamento, levando ao divórcio, por exemplo, às compras impulsivas, às dificuldades financeiras, o não aceite de críticas construtivas e a fazer mudanças etc. Ficam, assim, estagnados em suas carreiras profissionais e conseguem menos oportunidades educacionais. Além disso, na maioria dos casos, o adulto com TDAH apresenta fraco domínio do tempo, o que pode fazer com que perca compromissos importantes. Outro grande problema é lidar com a sua memória, pois simples tarefas do dia-a-dia se tornam catástrofes. As reações emocionais exageradas também podem trazer sérios danos em todos os campos da sua vida.

2.3 O TRATAMENTO

Um dos meios mais eficazes testados até hoje é a medicação. Segundo Barkley (2011), as medicações para o TDAH podem normalizar o comportamento de 50 a 65% daqueles que tem o transtorno e resultam em melhoras substanciais, e, também, possibilita normalização em outros 20 a 30% das pessoas. A medicação faz com que o indivíduo aumente sua capacidade de entender o mundo em sua volta. Os estimulantes agem exatamente onde não se tem os neurotransmissores necessários para certas ações. Não tendo dopamina e noradrenalina, as mensagens que estes são responsáveis por enviar ao cérebro não são enviadas e, assim, o cérebro não reage como deveria à estimulação. As lembranças do passado e as visões do futuro não são desencadeadas para manter o indivíduo mentalmente no rumo certo, e, mesmo quando o são, não conseguem ser mantidas por muito tempo (BARKLEY, 2011). Por este motivo, percebe-se a eficácia da mediação para este transtorno, mas tem-se que ficar atento, pois a medicação só tem esse efeito se ela está na corrente sanguínea, portanto o tratamento deve ser contínuo. Na tabela a seguir, verifica-se quais são as medicações utilizadas e específicas para tratamento em adultos e o seu tempo de duração no organismo:

Tabela 1: Medicações recomendadas

Nome genérico/ Nome comercial Duração da atividade
 

Sais mistos de anfetamina (Aderall XR) (estimulante)

No mínimo 8 horas (mas parece durar muito mais tempo em alguns pacientes.
Atomoxetina (não estimulante) 8 – 10 horas ou mais (meia-vida de 5 horas no plasma, mas muito mais tempo no SNC.

Fonte: Barkley (2011, p. 36)

Porém, somente a medicação não terá um efeito tão satisfatório quanto se esta estiver associada à terapia. De acordo com Mattos (2003, p. 146),

A psicoterapia […] está indicada quando existir problemas secundários ao TDAH, seja na escola, no trabalho, em casa ou socialmente, que são considerados graves ou de difícil solução. Isso é particularmente importante quando se passaram muitos anos sem um diagnóstico correto e um tratamento adequado. É importante ressaltar que a psicoterapia não vai diminuir os sintomas básicos do transtorno […], mas permitir, isso sim, que se administre melhor esses sintomas no dia a dia e também que se atenue o impacto que eles têm na vida do indivíduo.

Outro item importante é o próprio portador de TDAH organizar a própria vida. Fazendo uso da medicação, da terapia e alguns ajustes na sua vida pessoal, este portador poderá ter grandes avanços em todos os aspectos até então prejudicados pelo transtorno. O primeiro passo para melhorar o transtorno é controlar a impulsividade. Quem sofre com o TDAH tem como característica agir sem pensar e a estratégia inicial é realizar uma ação simples para evitar a urgência de agir (BARKLEY, 2011). A respeito do uso de medicação, Silva (2009, p. 242) aponta que:

A busca da medicação ou combinação medicamentosa eficaz, bem como sua dosagem ideal, pode levar algum tempo para ser estabelecida, uma vez que não há uma receita padrão que se aplique para todos os casos. […] No tratamento do TDAH, cada caso deve ser visto de forma individual. É importante ter paciência nesse processo de busca de um esquema medicamentoso eficaz, já que 80% dos casos ele é estabelecido e pode ajudar a pessoa a se concentrar melhor, a reduzir sua ansiedade, irritabilidade, oscilações de humor e a controlar seus impulsos.

Há algumas estratégias já comprovadas por meio de pesquisas que realmente funcionam na organização da vida de um TDAH. Aqui serão citadas algumas delas:

  1. Olhar para o passado e depois para o futuro: usar auxílios tangíveis para dar uma ajuda extra ao olho da mente, isto é, treinar o pensamento, sempre lembrar de algo que já deu errado para não o repetir. Memória de Trabalho. Isso vai ajudar a ver o que vem a seguir;
  2. Expresse o passado e depois o futuro: tornar-se seu próprio entrevistador, isto é, perguntar as coisas a si mesmo faz com que a memória de trabalho funcione melhor, trazendo as lembranças e assim proporcionando outra forma de agir em certas circunstâncias. Isso irá ajudar a analisar a situação antes de agir e a desenvolver regras para usar em situações futuras;
  3. Exteriorizar as informações fundamentais: Fazer uma lista com o passo a passo ou com procedimentos que seguirá da próxima vez que se deparar com uma tarefa problemática é essencial. Isto dará algo em que confiar, além da memória;
  4. Colocar dicas físicas claramente à vista em situações problemáticas ajudará a parar de fazer o que estava impulsivamente pronto para fazer;
  5. Carregar um diário o tempo todo ajudará a marcar datas e compromissos importantes, ajudando, assim, a memória de trabalho;
  6. Considerar o futuro: Isto é, pense como se sentirá com certa ação que irá tomar, se isso será benéfico para a vida. Isto manterá motivação para os objetivos;
  7. Decompor o futuro e o tornar significativo: Decompor as tarefas ou objetivos de longo prazo em unidades ou cotas de trabalho muito menores, isto é, fragmentar algo grandioso em pequenos pedaços para não se perder no meio do caminho;
  8. Tornar-se responsável perante alguém provocará a motivação interna das emoções, pois, assim, irá conquistar pequenas coisas até, enfim, chegar ao grande objetivo final;
  9. Dar a si próprio recompensas quando atingir cada pequeno objetivo será um grande incentivo para tarefas futuras;
  10. Os problemas externos, físicos e manuais: nesse ponto é importante saber de que forma o portador de TDAH aprende melhor, se ele é auditivo, visual, tátil ou cenestésico. Sabendo disso, fragmentar as informações para que fique mais fácil de entendê-las e resolvê-las e utilizar uma ou mais formas de aprendizado fará com que a memória de trabalho funcione de forma mais eficaz. Isto simplificará a resolução de problemas;
  11. Ter senso de humor: Aceitar as imperfeiçoes que o TDAH traz, mas de forma natural e bem humorada, fará com que o peso do transtorno se torne muito mais leve, e, assim, a vida do portador do transtorno será mais tranquila (BARKLEY, 2011).

Com o tratamento adequado, o TDAH não é algo impossível de ser solucionado, pelo contrário, é algo que está muito acessível e que tornará a vida destes adultos muito mais feliz, deixando todo o sofrimento vivido desde a infância para trás e construindo, então, uma nova vida a partir de então.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração deste artigo teve por objetivo apresentar uma revisão bibliográfica sobre os principais e mais recentes estudos relacionados ao TDAH, que é um transtorno neurobiológico que afeta essa grande porcentagem da população. Nele, foram apresentados os principais sintomas que aparecem nos portadores de TDAH. O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), mesmo sendo o transtorno mais estudado nos últimos anos, ainda apresenta uma deficiência de diagnóstico preciso. A partir do exposto, notou-se que é mais dificultoso ainda o diagnóstico deste transtorno em adultos.  O que se percebeu no decorrer do estudo é que existem muitas diretrizes à parte dos manuais de diagnósticos, e que, se utilizadas de forma correta, dão um embasamento melhor para se chegar a algo um pouco mais conclusivo sobre esse transtorno tão difícil de ser diagnosticado.

A partir do elencado nesta investigação, verificou-se, também, que os testes psicológicos auxiliam de modo significativo, porém, não se pode afirmar que eles acarretam diagnósticos totalmente eficazes. Por outro lado, quando diagnosticados, os tratamentos oferecidos nos dias de hoje são bem eficientes e indicados, principalmente por intermédio da medicação, entretanto, ela aliada à terapia e às novas estratégias vivenciais demonstram que o portador do TDAH pode ter uma vida normal como qualquer outro. Concluindo, ainda há muito que se avançar em relação ao diagnóstico preciso deste transtorno, isto é, há muito que se pesquisar e entender sobre ele, principalmente em relação às funções executivas. É de grande importância novas pesquisas na área para que o diagnóstico seja feito e o tratamento seja cada vez mais eficaz.

REFERÊNCIAS

APA 2013 American Psychiatric Association. 2013. Disponível em http://www.dsm5.org/Pages/Default.aspx. Acesso em: 19 fev. 2014.

BARKLEY, R. A. Vencendo o TDAH: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Porto Alegre: Artmed 2011.

CRUZ, R. M. et al. Avaliação e medidas psicológicas: produção do conhecimento e da intervenção profissional. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.

CUNHA, J. A. Psicodiagnóstico-R. 4ª. ed. Porto Alegre: Artes Médicas 1993.

CUNHA, J. A. Manual da versão em português das Escalas Beck. São Paulo: Casa do Psicólogo 2001.

CUNHA, J. A. et al. Teste Wisconsin de Classificação de Cartas – adaptação e padronização brasileira. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.

MATTOS, P. No mundo da lua: Perguntas e respostas sobre transtorno do déficit de atenção com hiperatividade em crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Lemos Editorial 2003.

MELLO, S. R. Apostila do Curso de Educação Especial Atendimento às Necessidades Especiais (Neuropsicologia da Aprendizagem). Pós-Graduação Lato Sensu. ESAP – Instituto de Estudos Avançados e Pós-Graduação, 2007.

PEIXOTO, A. L. B; RODRIGUES, M. M. P. Diagnóstico e tratamento de TDAH em crianças escolares, segundo profissionais da saúde mental. Aletheia, n. 28, p. 91-103, 2008.

SAMPAIO, S. TDAH – Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: informações e orientações. Disponível em: http //www.profala.com/arthiper2.htm. Acesso em:  22 fev. 2014.

SEARIGHT, H. R. et al. Adult ADHD: Evaluation and treatment in family medicine. American Family Physician,v. 62, n. 9, p. 2077-2086, 2000.

SILVA, A. B. B. Mentes inquietas: TDAH: desatenção, hiperatividade e impulsividade. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

[1] Pós-graduação Lato Sensu em Neuropsicopedagogia Clínica, graduada em pedagogia.

[2] Doutora em Ciências da Educação.

Enviado: Fevereiro, 2018.

Aprovado: Março, 2020.

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Fernanda Dresch

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