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Centralidades urbano-regionais: o comércio especializado para agropecuária de Cerejeiras – Rondônia

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

BATISTA, Danilo Paranhos [1]

BATISTA, Danilo Paranhos. Centralidades urbano-regionais: o comércio especializado para agropecuária de Cerejeiras – Rondônia. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 07, Vol. 06, pp. 21-36. Julho de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/geografia/centralidades-urbano-regionais

RESUMO

As cidades contemporâneas têm sido transformadas pela urgência de novas áreas de serviços e comércios de concentração e fluxos em direção a essas áreas, caracterizando o surgimento de novas expressões de centralidades. Para tanto, parte inicialmente de que a produção do espaço reflete a sociedade por meio de suas necessidades e interesses. Diante disso, a situação geográfica do município rondoniense de Cerejeiras e sua relação com os municípios ao seu derredor, bem como os empreendimentos públicos e privados apresentados, são as bases para a análise da produção de centralidade no espaço regional. Nesse contexto, o presente artigo, tem como questão norteadora: quais as características e transformações espaciais da centralidade urbana-regional direcionada ao comércio especializado para agropecuária de Cerejeiras (Rondônia/Brasil)? O objetivo deste trabalho é identificar e explicitar as centralidades urbano-regionais da cidade rondoniense de Cerejeiras referente à expansão capitalista na Amazônia. Trata-se de uma pesquisa direta com fontes bibliográficas especializadas. Compreende-se que as centralidades são resultados dos processos de centralização das atividades e de serviços especializados, fruto de relações capitalistas de Estado e/ou privadas, geradas pelas conjunturas gerais de produção e, por consequência, mutáveis conforme os interesses dos agentes produtores do espaço.

Palavras-chave: Agropecuária, Cerejeiras, Centralidades, Cidade, Urbano-regional.

INTRODUÇÃO

Cerejeiras é uma cidade localizada no Estado de Rondônia, na Mesorregião Leste Rondoniense e Microrregião de Colorado do Oeste, distante da capital Porto Velho à 731 km, com população estimada, segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2020), de 16.204,00 habitantes. É favorecida de infraestrutura econômica urbana e regional, concedendo-lhe centralidades de apoio à agropecuária, atendendo moradores do espaço rural cerejeirense, como também dos municípios limítrofes de Colorado do Oeste, Pimenteiras do Oeste, Cabixi e Corumbiara, além do país fronteiriço da Bolívia.

Como cidade mediadora de acumulação capitalista no espaço urbano de empresas privadas nacionais e multinacionais que controlam o beneficiamento e a comercialização da produção regional e nacional, a cidade se especializou na distribuição de bens e serviços de apoio à agropecuária capitalista, de modo que vários corredores principais se especializaram, caracterizando no espaço urbano de Cerejeiras a expressão destas atividades econômicas. Nesta perspectiva, Santos (2009, p. 56) solidifica que “a cidade assegura a nova cooperação imposta pela nova divisão do trabalho agrícola, respondendo às suas demandas mais prementes e dando-lhes respostas cada vez mais imediatas”.

Complementando, Santos (2009), caracteriza que em grande parte, o espaço central da região suburbana de uma cidade, cumpre a função supridora de produtos dos gêneros primários, atendendo desde o mercado interno como externo, além da comercialização de produtos como defensivos da agropecuária, fertilizantes e insumos em geral, oferecendo de certo modo, apoio à modernização da agropecuária no espaço rural. Por consequência, a cidade de Cerejeiras efetiva o papel e a função urbana e regional.

Por conseguinte, tornou-se necessário o levantamento das seguintes indagações: quais as características da centralidade urbana-regional direcionada ao comércio especializado para agropecuária de Cerejeiras (Rondônia/Brasil)?

Nesta perspectiva o objetivo do presente artigo é identificar e explicitar as centralidades urbano-regionais da cidade rondoniense de Cerejeiras referente à expansão capitalista na Amazônia. Investiga-se a centralidade socioeconômica interpretando e analisando conceitos e significados da urbanização para compreender os processos, funções e contradições que particularizam o significado da cidade para cada indivíduo e para sua região.

MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia utilizada combina com as fontes bibliográficas, a exemplo Lefebvre (2001, 2004), Pintaudi (2002), Sposito (1998, 2007), Becker (1990, 2009), Trindade Júnior e Pereira (2011), entre outros; e o método utilizado na produção deste artigo é a pesquisa direta.

O método da pesquisa direta teve como objetivo compreender e especializar a centralidade da produção agropecuária na cidade de Cerejeiras em relação ao comércio e serviços especializados, aplicando-se pesquisa e investigação dos estabelecimentos comerciais de apoio a agropecuária na cidade de Cerejeiras. Este levantamento, teve como objetivo adquirir informações referente a produtos, fornecedores e a área de atuação comercial e regional das empresas.

Conjuntamente, desenvolveu-se levantamento em 30 (trinta) estabelecimentos, realizando a identificação comercial, localização e registros fotográficos. Para melhor especificação na coleta de dados, objetivando a ampliação das informações, utilizamos o auxílio de folhetos coletados nos estabelecimentos comerciais onde se conheceu melhor sobre seus produtos e fornecedores, seguindo da lista telefônica e banco de dados da Associação Comercial da cidade de Cerejeiras, pois com estes instrumentos de consulta foi possível qualificar e especializar em um número maior de empresas que empreendem na agropecuária. O período da coleta de dados mencionada acima ocorreu durante os meses de janeiro e fevereiro no ano de 2022.

Os resultados desta pesquisa direta apontam que a cidade de Cerejeiras concentra especializados comércios e serviços na área de apoio a agropecuária, com localização principalmente nas suas duas principais vias de acesso, sendo a Avenida das Nações e Avenida Integração Nacional, em que se desenvolve com mais detalhes a seguir.

RESULTADO E DISCUSSÃO

De acordo com Becker (2009, p. 13) “a urbanização da Amazônia guarda profundas motivações econômicas da ação do estado na produção do espaço.” Deste modo, cidades nesta região já nascem com características de fronteira agrícola, como também observamos a partir de meados do século XX, a urbanização produzindo como espaço de acumulação capitalista relacionada segundo Becker (2009), em três papéis fundamentais, sendo o primeiro, o núcleo urbano poderoso e fator de atração de migrantes; o segundo é a base de estruturação do mercado de trabalho; e terceiro, lugar da ação política-ideológica do estado.

Algumas cidades pequenas ganham importância no contexto econômico regional, empreendendo como espaço de desenvolvimento e ampliação do capital.  Conforme Lefebvre (2001), a cidade é um processo de produção capitalista no espaço geográfico, não sendo simplesmente uma significação de urbanização, visto que para Lefebvre (2001, p. 62 e 63):

[…] tornando-se centro de decisão ou antes agrupando os centros de decisão, a cidade moderna intensifica, organizando a exploração de toda a sociedade (não apenas da classe operária como também de outras classes sociais não dominantes). Isto é dizer que ela não é um lugar passivo da produção ou da concentração dos capitais, mas sim que o urbano intervém como tal na produção (nos meios de produção).

Perante o exposto, compreende-se que o sistema capitalista e mais propriamente, no processo de urbanização, a produção, a circulação de bens e produtos, a distribuição e o consumo de mercadorias, é vista e condicionada por meio das redes urbanas.

Partindo deste contexto, quando se dialoga sobre estas cidades, apresenta-se uma questão fundamental que é a sua capacidade de poder ofertar bens e serviços necessários por ela e para outras cidades menores no seu entorno, Sposito (2007, p. 237) explícita dizendo que “papéis regionais sempre estiveram associados às cidades média, havendo algumas exceções para pequenas cidades, principalmente as que se configuram com Centro Sub-regionais […]”.

Em 2018, a cidade de Cerejeiras foi configurada pelo IBGE (2018) como Centro Sub-regional B, hierarquia urbana adquirida por oferecer bens e serviços às cidades menores à sua volta, resultado de uma consolidação da centralidade sub-regional.

Considerando a inserção de Cerejeiras nesta nova configuração na rede urbana e buscando dar uma contribuição para a apreensão dos papéis que as cidades pequenas desempenham na produção espacial, a estruturando como uma centralidade, Calixto (2017, p. 58) elucida afirmando que: “[…] a expressão centralidade, entendida como construção social, será usada […] como referência a uma condição que, embora diferenciada, se constitui a partir de uma relação de complementaridade, envolvendo, interações ou articulações, sem que se pressuponha, necessariamente, hierarquia”.

Algumas cidades pequenas têm importância na relação direta com a região geográfica onde está localizada, conseguindo exercer influência, mas que ainda ficam subordinadas com certa hierarquia, direta ou indiretamente, em relação a outras cidades maiores, principalmente no processo de acumulação, distribuição de bens e serviços capitalistas.

Na atualidade, verifica-se a presença cada vez mais perceptível das cidades pequenas e médias como expressão da tendência da urbanização na Amazônia, ou seja, essas cidades desenvolvem importantes funções regionais, como afirma Trindade e Pereira (2011), desempenhando neste cenário atividades econômicas, políticas e sociais, passando a exercer novas centralidades urbanos-regionais na região onde se localizam. Trindade e Ribeiro (2009, p. 23) corroboram afirmando que “pelas fortes centralidades que aí se materializam através de fluxos, a ponto de contribuírem significativamente para o ordenamento do espaço regional em que se inserem”.

Diante do disposto, entende-se da importância de se debater sobre a urbanização na Amazônia, relacionando ao papel regional desempenhado por algumas cidades que constituem, ou seja, uma abordagem sobre a centralidade urbana exercida por pequenas e médias cidades.

De acordo com Sposito (1998), a abordagem da centralidade urbana pode ter duas escalas territoriais, a primeira, em relação a intraurbana, que se apresenta pelo território da cidade ou da aglomeração urbana a partir de seu centro; e a segunda, é sobre a rede urbana, quando se refere também à cidade ou aglomerado urbano, porém, havendo uma relação ao contíguo de cidades de uma rede de fluxos, integrando os papéis de cidade central; sendo assim, “a centralidade urbana pode, então, ser trabalhada cada vez mais por meio da articulação entre suas duas escalas de expressão: a do espaço interno da cidade e a da expressão de suas relações com outros grupos.” (SPOSITO, 1998, p. 35).

A centralidade urbano-regional de Cerejeiras é compreendida principalmente pela infraestrutura das atividades econômicas no espaço urbano da cidade, observando grande fluxo no movimento de pessoas e mercadorias entre a região e a cidade para consumo de bens e serviços diversificados.

O comércio e serviços de Cerejeiras localizam-se nas principais vias urbanas, interligando às vias de acesso regional e conectando com a região, ao qual é característica da centralidade, configurando também como acessibilidade. Pintaudi (2002, p. 155) complementa afirmando que “os lugares escolhidos para a troca de produtos comumente implicaram situações estratégicas. Em outras palavras, a atividade comercial sempre demandou centralidade, o que também significa dizer acessibilidade”.

Além do apoio à agropecuária e às agroindústrias, a organização locacional da cidade é dotada por serviços e comércios diversificados, onde as principais vias de circulação urbana são corredores comerciais e regionais, o que indica que essas avenidas são produzidas para atender a região ou para além de sua função urbana.

De acordo com Becker (1990), ao considerar a Amazônia a partir do 1960, entende-se dois processos de produção das cidades, a primeira, concentrando investimentos que oferecem suporte ao setor agropecuário; e a segunda, nas vantagens locacionais das redes e fluxos dos eixos rodoviários, permitindo o reordenamento territorial amazônico, sendo dois meios que refletem e permeiam entre si.

No processo histórico de constituição do espaço urbano de Cerejeiras, verifica-se a inserção de políticas espaciais comandadas pelo Estado na região onde se localiza o município, a qual permite utilizar a terminologia de Lefebvre (2004), que o espaço urbano implode-explode, articulando ao processo de regionalização econômica. O pequeno povoado que recebeu seus primeiros moradores em 1975 foi transformado em território da produção agropecuária e do agronegócio de mercado mundial, tornando-se ponto de centralização de mercadorias.

Cerejeiras é uma cidade que se tornou centro de decisões, uma centralidade capitalista regional pelas pequenas agroindústrias sediadas localmente, com empresas de redes nacionais, laticínios, nutrição animal e armazenamento de grãos; instituições públicas e privadas; vias de acesso e circulação; incentivos e leis de beneficiamentos fiscais; e marketing de capital de produtores de soja, milho, boi gordo e leiteiro.

O município segundo SEAGRI (2020), possuí uma área de 170.000 hectares de espaço agrícola, onde há registros de aumento a cada ano, produzindo para o agronegócio cerca de 120 sacas (entre milho e soja) por hectare, gerando uma renda bruta de R$ 1.700.000.000,00 (um bilhão e setecentos milhões de reais) para o setor produtivo.

Outra atividade que se destaca é a pecuária de corte, que segundo dados da Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia (IDARON, 2020), o município possui cerca de 1.000.000,00 (um milhão) de cabeças de gado, permeando entre o regime de engordamento entre o semiconfinamento e de confinamento.

Mesmo apresentando problemas logísticos, como é característico da região amazônica, Cerejeiras possui ligação com múltiplas regiões do Brasil para distribuição, produção e comercialização de produtos.  A cidade é ligada por dois pontos de escoamento, pela BR 435 que interliga Cerejeiras aos municípios de Pimenteiras do Oeste, Corumbiara, Cabixi, Colorado do Oeste e Vilhena com a BR 364, seguindo para Porto Cai N’Água em Porto Velho/RO ou Cuiabá/MT e Rondonópolis/MT (onde se localiza o Porto de Abastecimento de Grãos da estrada ferroviária da Ferronorte); e pela RO-399, popularmente conhecida como Rodovia do Boi, transcorrendo pelos municípios de  Cabixi, Cerejeiras, Corumbiara, Chupinguaia, Parecis e Alto Alegre dos Parecis.

Diante de sua importância, Cerejeiras se consolida como centro comercial e de prestação de serviços para diversos setores sociais e econômicos, produzindo relevância no fornecimento para agricultura, pecuária, comércio e serviços especializados que distribuem produtos industrializados.

Por toda extensão das Avenidas das Nações e Integração Nacional, formam-se corredores de comércio especializado na produção agropecuária e no comércio de bens e serviços, de diversas origens e de variados fornecedores locais, nacionais e multinacionais.

Em geral, são atividades de apoio à agropecuária, localizadas nas avenidas das Nações e Integração Nacional: comércio especializado em lojas de vendas de produtos agropecuários; as concessionárias multinacionais com a venda e manutenção de tratores; empresas que transportam gados; silos de grãos; escritórios de fazendas ligadas à produção agropecuária; postos de combustíveis; lava a jato especializado em tratores e caminhões; empresas especializadas em artigos de couro, selaria e ferragens; e assessoria técnica agropecuária.

É por meio destas empresas que são produzidos intenso fluxo de mercadorias por estabelecimentos comerciais locais, nacionais e multinacionais, que são transformadas em bens e serviços de modo a dar apoio aos produtores agropecuários.

Foram observados que as lojas de venda de produtos agropecuários são formadas por empresas com matriz local, filiais de outros municípios rondonienses e do Estado de Mato Grosso. De acordo com Becker (2009), a atuação regional destas empresas tem peculiaridades definidas pelo capital disponível para investimentos, preços de produtos, diversidades e pela extensão de propriedades rurais.

As empresas sediadas em outras regiões do país acompanham a agropecuária, expandindo-se para lugares onde existem necessidades, instalando suas filiais e/ou nomeando empresas representantes em cidades com localização estratégica para atender determinada região, este é o caso das duas principais da área da agropecuária: COPARE Máquinas e Ferramentas, sediada em Erechim-RS e Boa Safra Distribuidora de Produtos Agropecuários de Ji-Paraná-RO.

Cerejeiras possui/possuirá duas concessionárias de venda, manutenção de tratores e implementos agropecuários, sendo as multinacionais Massey Ferguson e Case Agriculture — em fase de instalação, conforme figura 01.

Figura 1 – Concessionárias de veículos e máquinas agrícolas multinacionais na cidade de Cerejeiras/RO, 2022.

Concessionárias de veículos e máquinas agrícolas multinacionais na cidade de CerejeirasRO, 2022.

Outras empresas multinacionais que se instalaram na cidade foram a Cargill e Amaggi, como também as nacionais como a Rical, Copama e Boa Safra, cujas atividades são a produção e o processamento de alimentos. Porquanto, esses empreendimentos expandem-se instalando novas filiais nas cidades do Conisul rondoniense, atuando de forma específica, cada uma com domínios de seus próprios territórios. Na Figura 02, as empresas de processamento de alimentos Amaggi e Rical.

Figura 2 – Empresas de produção e o processamento de alimentos na cidade de Cerejeiras/RO, Amaggi (foto superior) e Rical (foto inferior), 2022.

Empresas de produção e o processamento de alimentos na cidade de CerejeirasRO, Amaggi (foto superior) e Rical (foto inferior), 2022.

Visando atender clientes, preferencialmente os pequenos e médios proprietários, empresas com sede local são formadas para atuar como distribuidores de mercadorias e produção de serviços, especialmente na revenda de peças; manutenção de tratores e equipamentos agrícolas e pecuários; e no aluguel de tratores e componentes para produção no campo.

A BR-435 que cruza Cerejeiras e desenvolve o transporte de bovinos sentido ao frigorífico da Friboi em Vilhena, este processo logístico está sujeito a serviços terceirizados contratados em estabelecimento de transportes de cargas localizadas na cidade. Similarmente, é observado a participação de intermediários na compra e venda de gado através de escritórios de fazendas situadas na Avenida Integração Nacional.

São presenciados nas avenidas das Nações e Integração Nacional as indústrias artesanais, que são responsáveis pela fabricação e venda de carrocerias, ferragens e equipamentos para construção de currais; instrumentos para instalações elétricas no espaço rural; artigos de couro para selaria e acessórios para os trabalhadores do campo; marcas para sinalização de bovinos; e produção de ração para animais.

O Poder Público voltado para o desenvolvimento, assistência e produção no campo também está presente em Cerejeiras, sendo representado pelas jurisdições:  Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia (IDARON); Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental (SEDAM); e Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER).

Na área central da cidade, localizam-se profissionais envolvidos nas áreas de assessoria técnica, georreferenciamento de imóveis rurais, licenciamento ambiental, consultorias e projetos diversos, contabilistas especializados, averbação de reserva legal, dentre outros.

De certo modo, a infraestrutura urbana de Cerejeiras com apoio à produção regional produz corredores especializados nas áreas valorizadas e de valorização da cidade, que se relaciona com a produção do espaço urbano, remodelando as características da cidade.

O comércio especializado de Cerejeiras é distribuidora de produtos industrializados nacionais e internacionais, que são utilizados na produção agrícola e pecuária, sendo mercadorias originárias de principais indústrias farmacêuticas, agroquímicas, nutrição animal, máquinas e equipamentos para o campo, se destacando as indústrias multinacionais: Pfizer, Monsanto, Adama, Syngenta, Dow, Bayer e Meridal, seguida dos grandes grupos nacionais como: Gerdau, Supremax, Nortox, Fortgreen, Vallée e FMC agrícola; sendo complementadas por indústrias locais. Saliente-se que, no geral, empresas que fornecem produtos do agronegócio possuem, de certo modo, atuação nacional e internacional.

A cidade de Cerejeiras pode ser considerada um espaço urbano periférico capitalista de produção, mas não do consumo de produtos de maior tecnologia na produção, como os agroquímicos, tratores e medicamentos. Nas lojas especializadas, mercadorias de multinacionais são notáveis, desde as vitrines das lojas, até as propagandas de publicidade. A Syngenta e a Monsanto são um exemplo: especializada em sementes, biotecnologia e produtos químicos voltados para o agronegócio. Enquanto a Nortox, de origem brasileira, é fornecedora de defensivos agrícolas, micro fertilizantes granulados e sementes híbridas de milho e sorgo.

As indústrias de produtos agropecuários, com sede em Rondônia e Mato Grosso, tem como estratégia a distribuição de seus produtos através de filiais no comércio varejista de Cerejeiras. São exemplos da Central Agrícola, Boa Safra, AgroCat (Figura 03), Casa do Adubo e Casa do Agricultor.

Figura 3 – Comércio varejista de produtos agropecuários de Cerejeiras/RO, 2022. Central Agrícola (foto à esquerda), Boa Safra (foto ao centro) e AgroCat (foto à direita).

Comercio varejista de produtos agropecuários de CerejeirasRO, 2022. Central Agrícola (foto a esquerda), Boa Safra (foto ao centro) e AgroCat (foto a direita).

Agroindústrias locais foram implantadas em Cerejeiras, como as empresas: “Alegria” e “Laticínio Multibom”, especializadas na produção de produtos alimentícios de composição do leite; agroindústria de produção de carne de aves “Qualy Frango”, que comporta atualmente uma média de 6.000(seis mil) frangos da espécie conhecida como “caipirão”; e a BioCer, sendo a primeira indústria de Etanol de Milho do Estado e Região Norte do país (em processo de instalação).

Na produção do espaço urbano de Cerejeiras, surgiram corredores especializados para a região. O comércio e serviços para a agropecuária são perceptíveis na infraestrutura urbana, constituindo-se principalmente nas vias de acesso e saída da cidade, conectados à rodovia BR-435, que conecta a BR-364, e as RO-487 e RO-370, que também compõem um desses corredores. A especialização das atividades de apoio à agropecuária na cidade de Cerejeiras é formada em dois principais corredores (Tabela 01).

Tabela 1: Os corredores de apoio à agropecuária e sua especialização, Cerejeiras/RO, 2022.

Atividade de apoio à agropecuária Avenida das Nações Avenida Integração Nacional Outras ruas/avenidas
Produtos agropecuários 8 9 5
Bancos e Instituições financeiras 7 1 1
Lojas especializadas em sementes em geral 3 6 2
Venda e manutenção de peças para tratores e implementos agrícolas 11 12 5
Ferragens para curral 2 1
Multinacionais-Tratores implementos agrícolas, peças de manutenção 2 1 1
Assessoria técnica 2 5 6
Instituições públicas 2
Artigos de couro para selaria 1 5 2
Fabricação e conserto de carrocerias 1 1
Melhoramento genético 2
Fabricação de marcas para gado 2 1
Sindicato patronal 1 2
Escritórios de fazendas 4 3
Compra e venda de cereais 1 3 2
Venda de sementes e insumos para produção agrícola 5 12 4
Laboratórios Agroambientais de análises de solo, água e resíduos. 1
 

TOTAL

44 63 38

Fonte: Pesquisa direta e Catálogo Telefônico, janeiro de 2022. Elaboração: Danilo Paranhos Batista.

São as Avenidas das Nações e Integração Nacional que predominam o uso comercial. As duas avenidas se cruzam ao centro de Cerejeiras (Figura 4), considerando que a Avenida das Nações também é a BR-435, sendo o principal eixo comercial e via de acesso e saída, conectando a cidade com a região.

Figura 4 – Cruzamento entre as Avenidas das Nações e Integração Nacional na cidade de Cerejeiras/RO, 2022.

Cruzamento entre as Avenidas das Nações e Integração Nacional na cidade de CerejeirasRO, 2022

Nas avenidas Integração Nacional e das Nações predominam a área comercial, configurado principalmente nas proximidades do semáforo (Figura 4), no centro da cidade concentra os comércios de serviços como autopeças, açougues, supermercados, postos de combustíveis, lojas de material para construção, concessionária de veículos, bancos, oficinas de veículos, estabelecimentos varejistas, entre outras.

A concentração do quantitativo de comércio e serviços para apoio a agropecuária é distribuída por todo o trajeto das avenidas Integração Nacional e das Nações – mesclando-se com o comércio de outras especialidades. As atividades que se destacam são a de produtos agropecuários; instituições financeiras; compra e venda de sementes e insumos para produção agrícola; e venda e manutenção de peças para tratores e implementos agrícolas (Figura 5, Tabela 1).

Figura 5 – Infraestrutura urbana de apoio à agropecuária nas Av. das Nações e Integração Nacional, 2022.

Infraestrutura urbana de apoio à agropecuária nas Av. das Nações e Integração Nacional, 2022.

Na avenida das Nações, há forte presença de instituições financeiras e de financiamento agropecuário (Figura 6), sendo também, uma via de grande expressão econômica para cidade, pois, nessa via encontra-se duas concessionárias multinacionais para venda e manutenção de tratores e implementos agrícolas (Tabela 1; Figura 1), o terminal rodoviário, comércio de sementes, manutenção e aluguel de tratores e implementos agrícolas, ferragens e produtos agropecuários, tornando-se uma via predominantemente comercial.

Figura 6- Infraestrutura urbana de instituições financeiras e de financiamento de apoio à agropecuária na Avenida das Nações, 2022.

Infraestrutura urbana de instituições financeiras e de financiamento de apoio a agropecuária na Avenida das Nações, 2022

A infraestrutura urbana de Cerejeiras de apoio à agropecuária está concentrada nestas duas avenidas, apesar de que possa ser encontrada em diversas outras localidades da cidade. A Avenida das Nações, nome recebido pela BR-435 no perímetro urbano, é a principal via de ligação com os municípios da região como: Pimenteiras do Oeste, Corumbiara, Cabixi, Colorado do Oeste e Vilhena.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O espaço urbano de Cerejeiras é utilizado para o apoio à produção da agropecuária regional, constituindo em corredores especializados nas duas principais avenidas, sendo espaços da cidade, entretanto, que produzem bens e serviços para os municípios ao seu entorno e aos produtores rurais de matéria-prima.

A centralidade socioeconômica de Cerejeiras, respondendo à questão norteadora deste estudo, transforma o uso do espaço urbano da cidade, atribuindo a urbanização capitalista uma efetiva realização específica no processo de produção, distribuição de bens e produtos, circulação e consumo de mercadorias. Neste contexto, a cidade é a forma essencial para o desenvolvimento da produção e reprodução econômica, urbana e regional.

Diante do disposto, as funções no processo econômico de Cerejeiras e as contradições definem o significado da cidade para si e para a região, nos quais o intenso fluxo de mercadorias fornecidas por empresas locais, regionais, nacionais e multinacionais, transformadas em bens e serviços usados como insumos de apoio aos produtores agropecuários.

Esta centralidade identificada na região está diretamente ligada a (re)produção capitalista do espaço geográfico, pois são observados que os investimentos concentrados na cidade concedem suporte ao setor agropecuário, que refletem incentivos locacionais de proximidade da matéria-prima e principalmente, o eixo/fluxo rodoviário.

As transformações socioespaciais e territoriais provindas com a inserção de capital de empresas nacionais e internacionais produziu uma nova centralidade em Cerejeiras, direcionada ao comércio especializado para agropecuária, que conecta os municípios de Cabixi, Pimenteiras do Oeste e Corumbiara, intensificando os fluxos no território e modificando o perfil da região.

A consolidação e desenvolvimento deste setor, atribuiu um novo papel para Cerejeiras na divisão territorial do trabalho e na rede urbana do cone sul de Rondônia, pois além de ser um centro local com funções urbanas voltadas para prestação de serviços, acumula também a condição atender a produção agropecuária e a população do campo, circunstância que configura como centro urbano especializado. Essa especialização possibilitou à cidade, interações com outras redes urbanas a nível nacional, resultando na instalação de filiais e/ou franquias de estabelecimentos comerciais, conquistando significativa porção do mercado consumidor regional rondoniense.

Por sua vez, Cerejeiras cumpre a sua função urbana, participando do processo econômico de acumulação capitalista mundial, se estabelecendo como centralidade capitalista regional, atuando como centro de decisão. O artigo mostrou a importância de estudos configuracionais no contexto do Brasil e tem a pretensão de incluir as centralidades urbanos-regionais em relação ao comércio especializado das cidades pequenas brasileiras no debate da rede urbana em escala regional e nacional, academicamente e administrativamente, é uma das temáticas urbanas pouco analisadas e estudadas.

Para finalizar, referente ao conteúdo deste trabalho, espera-se que ele possa contribuir de alguma forma para análise e compreensão dos processos de transformações urbanas nas cidades pequenas brasileiras, a partir das práticas espaciais e econômicas referentes à centralidade urbana e o seu papel na vida das pessoas.

REFERÊNCIAS

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BECKER, Bertha Koiffmann. Amazônia: geopolítica na virada do III milênio. Rio de Janeiro: Garamond, 2009, 172 p.

CALIXTO, Maria José Martinelli Silva. A centralidade regional de uma cidade média no estado de Mato Grosso do Sul: uma leitura da relação entre diversidade e complementaridade. In: OLIVEIRA, Hélio Carlos Miranda de; CALIXTO, Maria José Martinelli Silva; SOARES, Beatriz Ribeiro (Org.). Cidades médias e região. São Paulo: Unesp/Cultura Acadêmica, 2017. v. 1, 354 p.

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IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. REGIC – Regiões de Influência das Cidades. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2018. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ro/cerejeiras/panorama. Acesso em: 09/01/2022.

IDARON – AGÊNCIA DE DEFESA SANITÁRIA AGROSILVOPASTORIL DO ESTADO DE RONDÔNIA. Relatório de Gestão. Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia, 2020. Disponível em: http://www.idaron.ro.gov.br/wp-content/uploads/2021/05/Relat%C3%B3rio-de-Gest%C3%A3o-IDARON-2020-_12_04_2020-FINALIZADO-C%C3%B3pia.pdf. Acesso em: 09/01/2022.

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[1] Mestrado em Geografia na área de Dinâmica Espacial. ORCID: 0000-0002-4299-4299.

Enviado: Junho, 2022.

Aprovado: Julho, 2022.

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Danilo Paranhos Batista

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