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Estudo da viabilidade de implantação da plataforma BIM: Compatibilização de projetos de Unidade Básica de Saúde em Borrazópolis -PR

RC: 42098
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

PILA, Alessandra de Souza [1], VIOLIN, Ronan Yuzo Takeda [2]

PILA,  Alessandra de Souza. VIOLIN, Ronan Yuzo Takeda. Estudo da viabilidade de implantação da plataforma BIM: Compatibilização de projetos de Unidade Básica de Saúde em Borrazópolis -PR. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 11, Vol. 06, pp. 115-135. Novembro de 2019. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/engenharia-civil/viabilidade-de-implantacao

RESUMO

A construção civil é uma das áreas que mais cresceram ao decorrer dos anos em relação a geração de empregos, porém, quando comparada com outras áreas, seu desenvolvimento tecnológico ainda não é suficientemente satisfatório, pois a comunicação entre as áreas de desenvolvimento de projetos não ocorre como deveria, ou, ainda, simplesmente não ocorre. A falta de comunicação gera graves consequências ao empreendimento, dentre as quais a incompatibilidade entre os projetos se destaca e será o enfoque principal deste trabalho. Além disto, podemos, ainda, destacar o cenário nacional e internacional acerca da utilização e ensino das plataformas BIM. O objetivo deste trabalho é verificar como a plataforma BIM pode agregar melhorias na qualidade e economia dos projetos a partir de uma revisão bibliográfica. O estudo se debruçará na compatibilização dos projetos básicos e complementares da ampliação de uma Unidade Básica de Saúde, localizada na cidade de Borrazópolis – PR. A compatibilização será realizada por meio do lançamento do projeto original fornecido em formato dwg no software Autodesk Revit e, posteriormente, importado para o Autodesk Navisworks para a realização de testes de compatibilidade.  Os resultados do estudo de caso serão organizados por meio de gráficos e imagens das incompatibilidades geradas pelo Autodesk Navisworks e pelo relatório gerado pelo Autodesk Revita, a fim de refletir sobre as interferências encontradas por ele. Pode-se concluir que a plataforma BIM pode gerar muitos benefícios aos seus usuários, de maneira específica, quando utilizada corretamente, contribui para que não ocorram problemas com retrabalhos e custos extras com alterações de projetos na fase de execução.

Palavras-chave: Autodesk Navisworks, incompatibilidades, modelagem tridimensional.

1. INTRODUÇÃO

Desde os primórdios da humanidade a construção possuía características distintas. Com o passar dos séculos assim como da humanidade, a maneira de construir também evoluiu e continuará evoluindo conforme surgirem novas necessidades. No Brasil e no mundo, a construção civil é uma grande fonte de renda e empregos, porém, nos últimos anos, este setor vem sofrendo as consequências da crise mundial. No Brasil, a construção civil é afetada com a redução de recursos financeiros por causa da crise e isto acarreta em grandes perdas econômicas no setor.

O setor de Construção Civil amargou números negativos nos últimos quatro anos. A queda estimada no Produto Interno Bruto (PIB) do setor foi de 6%, contra a expectativa de crescimento de 0,5% anunciada pelo SindusCon – SP. Mas a expectativa para 2018 é positiva – uma recuperação em torno de 2%, a depender de alguns fatores. De acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), a cadeia produtiva do setor da construção, que já teve participação de 10,5% no PIB brasileiro, agora representa 7,3% de um PIB menor (FANTIN, 2018, p. 1).

Neste cenário, é essencial buscar novas oportunidades dentro do mercado de trabalho, além de se adaptar a novas tecnologias que visam melhorar e otimizar o trabalho. Dentro da construção civil, novas tecnologias surgem constantemente para que a empresa e/ou profissional se mantenham no topo do mercado. Assim sendo, é necessário investir nos novos conhecimentos, pois manter-se atualizado também é um diferencial. A plataforma BIM – Building Information Model não é uma tecnologia criada recentemente, mas por ser diferente do habitual CAD – Computer Aided Design, os profissionais ainda têm resistência sobre seu uso.

Diferentemente de um simples modelador 3D, a plataforma BIM é uma filosofia de trabalho que integra arquitetos, engenheiros e construtores (AEC) na elaboração de um modelo virtual preciso, o qual gera uma base de dados que contém tanto informações topológicas como os subsídios necessários para orçamento, cálculo energético e previsão das fases da construção, entre outras atividades (MENEZES, 2011, p.154).

Os sistemas CAD mais antigos produzem desenhos plotados. Eles geram arquivos que consistem, principalmente, em vetores, tipos de linha associados e identificação de camadas (layers) (EASTMAN et al., 2014). Ao comparar a tecnologia BIM com o CAD, pode-se evidenciar a maior precisão que o BIM traz para o projeto, devido, sobretudo, à interação entre os elementos que são criados. Dessa forma, quando o BIM é utilizado de maneira completa, o resultado final é um projeto completo compatibilizado, porém, para tanto, é necessário conhecer a plataforma. Segundo Eastman et al (2014), os processos baseados na tecnologia BIM geram, aos proprietários das empresas, um retorno maior que o investimento, em decorrência, principalmente, das melhorias no processo produtivo, pois, no BIM, o valor das informações aumenta em cada etapa realizada.

Em empresas cujos profissionais dominam a ferramenta, o tempo de execução do projeto diminui significativamente, assim, consequentemente, o lucro sobre o mesmo aumenta. O BIM é uma ferramenta muito importante para a elaboração de projetos e mais completa do que as demais. Por meio desta, os erros de compatibilidade entre os projetos são reduzidos significativamente, o que, consequentemente, reduz os custos com retrabalhos. O autor acima citado afirma que o BIM apresenta várias vantagens quando utilizado de maneira correta pelo profissional e/ou empresa. Dentre elas, destaca-se a possibilidade de visualizar antecipadamente o projeto bem como algumas correções são realizadas automaticamente; há a geração automática de várias vistas; existe a possibilidade de inclusão de informações; há a sincronização de matérias com o projeto e a construção, dentre outros.

O objetivo geral deste trabalho foi destacar como o uso da plataforma BIM proporciona melhorias na qualidade e economia dos projetos. Para isso, será feita uma revisão bibliográfica bem como uma verificação a partir da compatibilização dos projetos básicos e complementares da ampliação de uma UBS – Unidade Básica de Saúde, localizada em Borrazópolis-PR. Para tanto, serão identificados os benefícios que a implantação da plataforma BIM pode proporcionar para a construção civil bem como o trabalho refletirá sobre a atual situação da disseminação do BIM no mundo, comparando o ensino nas universidades nacionais e internacionais. Por fim, será elaborado um estudo de caso acerca da compatibilização de projetos. Nele serão utilizados os softwares Revit 2017, AutoCAD 2017 e Navisworks 2017 da Autodesk, versão para estudantes. Ao final será apresentado o comparativo de desempenho entre as plataformas.

2. A ARTE DE PLANEJAR E PROJETAR

2.1 HISTÓRICO E CENÁRIO ATUAL

Quando se observa a história da construção, ao logo do tempo, nota-se que, nos primórdios da humanidade, já havia um padrão de construção por diferentes motivos, sendo eles: religião, costumes, clima, região, tipo de solo, dentre outros. Cada civilização antiga possuía uma maneira própria de edificar. Com a evolução da humanidade, também veio a evolução da construção que passou por diversas fases até chegar ao que se conhece hoje. De acordo com CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção (2016), nas civilizações antigas, os arquitetos estavam sempre presentes nas obras, o que tornava desnecessário ter o projeto em documentos a serem lidos por outros para a execução da obra.

Eastman (2014) afirma que as primeiras formas de modelagem 3D surgiram entre o final dos anos 1970 e o início dos anos 1980, ainda de maneira bastante limitada e primitiva, mas que representava um grande avanço tecnológico para a engenharia. Em 1982 a Autodesk lançou o AutoCAD, que, na época, possuía funções limitadas. Hoje o software possui funções complexas e permite que o usuário crie programações para facilitar e agilizar o trabalho. A representação dos projetos evolui constantemente, dependendo da necessidade tecnológica que o empreendimento exige. A figura 1 demonstra a evolução da maneira de projetar conforme a evolução da construção civil.

Figura 1: A evolução da maneira de projetar

Fonte: CBIC (2016)

Apesar do BIM ser atualmente a melhor tecnologia para projetar, a maioria dos profissionais ainda desconhece esta ferramenta, pois como possuem certo domínio pelo CAD, consideram difícil e desnecessária a implantação do BIM, porém a tendência é sempre evoluir, então, futuramente, os profissionais serão obrigados a migrar de plataforma, pois o mercado assim exige.

Antes do surgimento dos softwares de representação tridimensional, nem sempre era possível visualizar bem o que estava sendo criado e projetado. Os softwares 3D possibilitaram essa visualização com grande precisão, mas, finalmente, com o BIM, pode-se dizer que, além de visualizar bem o que está sendo projetado e criado, é possível saber também, com bom nível de exatidão, o que será obtido após a construção, em termos de desempenho da edificação como um todo, e também dos seus principais subsistemas e componentes (CBIC, 2016, p. 18).

Kimura (2017) que é Engenheiro Civil, especialista formado pela Unesp, em 1997, em entrevista para a revista Techné, afirma que, no Brasil, o BIM ainda é pouco difundido, entretanto observando toda a extensão do país, o BIM evoluiu muito ao longo dos últimos anos, deixando de ser apenas um desejo e se tornando uma realidade para um futuro próximo. Kimura ainda complementa que o crescimento que o BIM representa nos últimos anos ainda não é suficiente, pois está concentrado em empresas visionárias, sendo assim, profissionais conservadores ainda insistem em fazer o uso do CAD, já que possuem certo domínio sobre este. Ruschel et al (2013) diz que, nas universidades brasileiras, o ensino do BIM é ofertado em matérias isoladas, não fazendo integração de todas as áreas, já nos EUA são poucas as universidades que não oferecem o ensino de BIM, e, em sua maioria, é feita de maneira avançada e intermediária, proporcionando a interação entre todas áreas de conhecimento.

Observando o mercado brasileiro, fica evidente a falta de inovação dos profissionais da construção, já que a maioria destes não possuem especiações e usam softwares isolados para a execução de projetos, cada qual com uma finalidade distinta. Segundo Marko (2018) em 2018 o governo federal instituiu a Estratégia Nacional de Disseminação do BIM a partir do Decreto 9.377, de 17 de maio de 2018. Este decreto tem intuito de incentivar a disseminação do uso do BIM em território nacional. Especialistas estimam que esta medida aumentará em 10 vezes o uso do BIM dentro de 10 anos. Este Decreto tem como principais objetivos estipular meios para: incentivar o setor público a adotar o BIM e estimular a capacitação e a criação de normas regulamentadas para a utilização da plataforma.

2.2 CAD

 Segundo Ferreira (2007) o projeto executado por meio do uso do CAD 2D se assemelha a projetos desenhados em pranchetas. No processo de criação utilizado o CAD 3D, a criação dos elementos possui três formas para serem executadas que são: modelo de aresta ou armado, composição de superfícies e sólidos. Em ambas as representações os elementos criados são vetores sem qualquer propriedade especifica, sendo uma representação dos elementos, separados por meio de camadas. Dessa forma, são criadas pranchas individuais. O projetista cria quantas julgar necessárias para suprir o detalhamento necessário. No CAD, a compatibilização entre os projetos é feita de maneira manual, sobrepondo as pranchas. Pela dificuldade de realizar esta tarefa, ela geralmente não é feita pelos projetistas, o que ocasiona em interferências na execução, com elementos sobrepostos, o que gera uma série de prejuízos para a obra, como, por exemplo:  custos extras, patologias, atraso na obra, dentre outros.

2.3 BIM

BIM não deve ser considerado uma tecnologia inovadora, embora o termo seja relativamente novo (CBIC, 2016). Esta tecnologia ainda não se difundiu completamente no mercado, devido a sua complexidade de aplicação e a falta de implementação desta no ensino brasileiro. Para Eastman (2014, p. 13) BIM é “uma tecnologia de modelagem e um conjunto associado de processos para produzir, comunicar e analisar modelos de construção” que produz projetos mais próximos do real, com características próprias para cada elemento criado, então, elementos que estão interligados e interagindo entre si.

A modelagem de informações possibilita a geração automática de projetos e de relatórios (documentos), análises de projetos, planejamentos, simulações, gestão de instalações, e mais: definitivamente, permite que a equipe de projeto fique mais bem informada, para tomar decisões adequadas e construir edificações melhores (CBIC, 2016, p. 30).

Na indústria da construção, a incompatibilidade entre sistemas frequentemente impede que membros de equipes do empreendimento compartilhem informações com rapidez e precisão. Essa é a causa de numerosos problemas, incluindo os custos adicionais e semelhantes (EASTMAN et al, 2014, p. 11). Segundo a CBIC (2016) “os softwares BIM localizam automaticamente as interferências entre os objetos que compõem um modelo. Esta funcionalidade é conhecida como clash detection” e também possibilita extrair, automaticamente, relatórios das interferências que podem ser compartilhados com as equipes responsáveis pelos projetos. Em alguns softwares já há a possibilidade de um relatório fotográfico dos locais nos quais há interferência.

Em algumas versões ainda há a possibilidade de identificar as interferências funcionais (soft clash) que são, basicamente, elementos/objetos que ocupam o mesmo espaço, o que não poderia ser executado. Souza Junior et al. (2014) afirmam, em seu estudo, que a compatibilização adequada dos projetos acarreta em ganhos expressivos, pois proporciona o aprimoramento do método executivo, ajuda a prever as interferências e patologias decorrentes de ajustes no canteiro de obra bem como colabora para a detecção de problemas, reduzindo, dessa forma, os custos com retrabalhos. A seguir, o quadro 1 compara, de maneira objetiva, as plataformas CAD e BIM.

Quadro 1: Comparativo entre as plataformas CAD e BIM

CAD                                                          X                                 BIM
– Processo de criação é semelhante ao de prancheta (manual);

– Representação bidimensional;

– Criação de linhas, diferenciadas por Layers (camadas);

-Elementos sem conexão, criados e detalhados individualmente;

-As interferências são de difícil visualização, devido ao método de desenho;

-A compatibilização dos projetos é um processo lento e minucioso, sem precisão de propriedades;

-Demanda maior de tempo de trabalho;

-Criação de modelos geométricos tridimensionais;

– Elementos mais próximo dos reais, com propriedades e características próprias;

-Maior complexidade das ferramentas;

-Criação automáticas de vistas e plantas;

-Permite localizar interferências entre os objetos automaticamente;

-Permite a comunicação de todas as etapas e profissionais envolvidos em um único arquivo;

-Requer tempo maior para aprendizagem e implantação completa;

Fonte: Autor (2018)

3. ESTUDO DE CASO

A escolha dos programas utilizados teve como principal condicionante o fato de todas serem fornecidas gratuitamente na versão para estudante. As plataformas divergem entre si, pois cada qual conta com características específicas e com graus de dificuldade próprios de cada um, sendo o AutoCAD o mais simples, o Revit intermediário e o Navisworks o mais complexo. O Autodesk Navisworks é uma ótima ferramenta para comunicar e compartilhar objetivos do projeto assim como para identificar conflitos e prever custos relacionados com o cronograma (4D/5D) (MELO, 2012).

O software de análise de projetos Navisworks permite que profissionais de arquitetura, engenharia e construção possam rever de forma holística os modelos e dados integrados com os interessados para obter um melhor controle sobre os resultados do projeto, checando interferências, simulando a construção e o canteiro de obras, extraindo quantitativos, criando o sequenciamento para a obra (4D), trazendo, assim, maior confiabilidade e previsibilidade aos acontecimentos que podem inviabilizar ou atrasar cronogramas de obras (CBIC, 2016, p. 88).

Para a compatibilização dos projetos no BIM, os modelos do CAD foram utilizados como base para a criação do layout no Revit. A criação no Revit consistiu em um processo minucioso, devido à grande riqueza de detalhes utilizadas para a criação de cada elemento. A obra estudada, apesar de se tratar de uma Unidade de Saúde, consiste em uma obra simples e sem grandes complexidades. Para verificar a viabilidade do uso da plataforma BIM, os projetos desta obra foram compatibilizados, e os resultados refinados e demostrados neste trabalho.

3.1 A OBRA

A obra a ser estudada é a ampliação da Unidade de Atenção Primária Saúde da Família em Borrazópolis-PR. Como a obra será executada com recursos do estado, os projetos desta passaram por processo de análise e aprovação junto a 16° Regional de Saúde e posteriormente em unidade superior. Os projetos e a documentação complementar foram elaborados de acordo com as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e do Governo do Paraná.

Proprietário: Prefeitura Municipal de Borrazópolis – PR

Localização: Rua São Paulo, S/N, Centro – Lote C-D-Remanescente-A-   Borrazópolis, Paraná.

Área existente UBS: 271,70 m²;

Área de ampliação UBS: 154,19 m²;

Projetos fornecidos: Arquitetônico, estrutural, hidrossanitário e elétrico.

Figura 2: Planta de Localização

Fonte: Autor (2018)

3.2. COMPATIBILIZAÇÃO SEM BIM

A compatibilização sem BIM é um trabalho manual demorado, assim, todas as pranchas foram sobrepostas para verificar a interferência entre elementos, porém, como os projetos foram entregues cada um em um arquivo de CAD diferente, o primeiro passo foi unir todas as pranchas em um único arquivo. Nesse momento, constatou-se que havia diferença entre a escala dos projetos. Para que a compatibilização das pranchas fosse possível, as escalas dos projetos foram unificadas para que estes pudessem ser sobrepostos de maneira viável. Após a sobreposição das pranchas as informações complementares de cada projeto faziam com que o meio visual ficasse poluído, não permitindo, então. a completa observação dos elementos necessários.

Para facilitar a visualização algumas camadas foram desligadas, mas mesmo optando por este processo, cada arquivo foi criado de maneira independente. Dessa forma, as camadas utilizadas eram distintas entre os projetos e para a melhor visualização destas, padronizou-se as camadas. Este processo gerou um trabalho extra não previsto no planejamento inicial do trabalho, porém o tempo gasto foi pequeno. Ao analisar as pranchas sobrepostas, foram identificadas algumas incompatibilidades dentro deste projeto. Essa análise é limitada devido ao tipo de arquivo gerado pela plataforma CAD, pois os arquivos se encontravam em modo 2D de visualização.

3.3 COMPATIBILIZAÇÃO COM BIM

O processo de criação do projeto arquitetônico no Revit demorou, aproximadamente, oito vezes mais do que no AutoCAD, levando em consideração a falta de habilidade no manuseio da plataforma e que cada elemento criado no Revit possui a composição mais próxima de um elemento real. Por exemplo, uma parede é composta de uma estrutura (blocos cerâmicos), revestimento interno (chapisco, emboço, argamassa colante e placas cerâmicas) e revestimento externo (chapisco, massa única, massa acrílica e pintura). Essas camadas são definidas pelo projetista, podendo ser ora mais detalhadas, ora mais genéricas, a depender, principalmente, da finalidade desejada. O tempo total de estudo e execução do projeto é de aproximadamente 360 horas. Além dos elementos que devem ser criados um a um, há, também, os templates e as famílias que devem ser utilizados. A forma correta seria criar estes para que atendam às necessidades do projeto,

Contudo, como há pouca disponibilidade de tempo, os templates e as famílias utilizados são modelos configurados por outros profissionais e cedidos para uso.  A plataforma emite um alerta quando os elementos apresentam algum tipo de incoerência, não permitindo, então, que o usuário continue executando o trabalho antes de solucionar o problema. Dessa forma, as incompatibilidades de projetos executados pela plataforma em questão são mais sucintas. A própria plataforma gera um relatório demostrando, ao usuário, os elementos que apresentaram algum erro. A estrutura foi importada para o arquivo do Revit, em extensão .ifc para que fosse possível a verificação dos elementos quando lançados na plataforma. Os projetos criados no Revit têm como única finalidade a compatibilização dos elementos, sendo assim somente o Projeto Básico foi elaborado.

Projeto Básico; projeto preliminar do empreendimento com plantas da edificação, mostrando como o programa do anteprojeto é materializado; modelo de massas da forma do edifício e renderizações iniciais do conceito; determina alternativas de materiais e acabamentos; identifica todos os subsistemas do edifício por tipo de sistema (EASTMAN et al. 2014, p. 151).

Figura 3: Vista 3D do esqueleto da estrutura lançada no Revit 2017

Fonte: Autor (2018)

Figura 4: Vista 3D do projeto arquitetônico e estrutural.

Fonte: Autor (2018)

Da mesma maneira que o arquitetônico do projeto hidrossanitário foi replicado dentro do Revit para verificação de possíveis interferências, o tempo gasto para estudo e lançamento deste foi de, aproximadamente, 6 horas.

Figura 5: Vista 3D das tubulações de água fria e esgoto, lançadas no Revit 2017

Fonte: Autor (2018)

Após a criação dos projetos dentro do Revit, este foi importado para o Navisworks para que, a partir dos testes gerados dentro da plataforma, as incompatibilidades fossem analisadas. O Navisworks gerou um relatório fotográfico acerca das interferências, o que acabou facilitando a visualização por parte do usuário.

4. RESULTADOS

4.1 TEMPO

Cada plataforma possui características especificas, o que dificulta a utilização destas, devido a diferença entre seus comandos e funções. A plataforma CAD é a mais difundida no Brasil, tanto no mercado de trabalho quanto no ambiente universitário, porém o BIM apresenta significativo crescimento dentro do país. Até mesmo o Governo Federal está a incentivar a utilização do método. O gráfico 1 demostra o percentual de tempo que foi gasto para a execução de cada projeto dentro da plataforma BIM.

Gráfico 1: Tempo gasto para o lançamento dos projetos no Revit

Fonte: Autor (2018)

Fica evidenciado a partir do gráfico 1 que a falta de conhecimento e habilidade sobre a plataforma utilizada (Revit), gera, ao usuário, maior consumo de tempo, já que o projeto arquitetônico foi o primeiro a ser lançado na plataforma. Assim sendo, o usuário passou pelo processo de aprendizagem das ferramentas nesta etapa, e, consequentemente, esta apresenta maior consumo de tempo. Dessa maneira, muitos profissionais têm resistência para adotar o BIM, pois tendem a esbarrar em obstáculos. Na CBIC, são destacadas algumas das dificuldades que um grupo de profissionais que foram entrevistados relataram.

– A peculiar inércia e a resistência às mudanças por partes das organizações e pessoas envolvidas;

– A dificuldade de entendimento e compreensão do que é BIM e dos seus reais benefícios;

– As questões culturais e particularidades do ambiente e do mercado brasileiro;

– As especificidades e os aspectos intrínsecos da tecnologia BIM (CBIC, 2016, p. 24).

Ainda sobre esta questão, alguns autores afirmam que:

De uma forma geral, a falta de conhecimento das potencialidades de um programa é uma grande questão. Mesmo com softwares conhecidos com o AutoCad isso ocorre. Poucos profissionais são capazes de customizar esses programas, escrever macros, ou fazer uso de recursos mais “sofisticados”. Com a tecnologia BIM essa questão se torna vital, pois são programas ainda mais difíceis de manipular (IBRAHIM, 2007, p. 3, apud NASCIMENTO et al., 2014,).

Pesquisas apontam, também, que uma das principais razões para não usar a plataforma BIM é que os usuários não acham necessário mudar para essa tecnologia, pois acreditam que a tecnologia CAD convencional os atende bem (YAN; DAMIAN, 2008; SUERMANN, 2009, apud NASCIMNETO et al, 2014). Mesmo havendo consumo de tempo significativo para a aprendizagem da plataforma utilizada, o desenvolvimento dos projetos posteriores (estrutural e hidráulico) apresentaram redução de tempo se comparados com experiencias anteriores de projetos desenvolvido em CAD, porém, como não há dados concretos, não é possível a comparação.

4.2 INTERFERÊNCIAS

Foram realizados, ao decorrer do trabalho, três modos de compatibilização. O que menor apresentou interferências foi o modo manual, realizado no AutoCAD. Foram identificadas sete possíveis interferências que poderiam ocasionar retrabalhos ao decorrer da execução da obra. O processo de compatibilização manual além de trabalhoso e minucioso, pode induzir ao erro devido ao alto grau de poluição visual geralmente presente no detalhamento das pranchas. Já a escala dos projetos pode divergir de acordo com a metodologia adotada por cada projetista. O gráfico 2 mostra, de forma sucinta, os relatórios de interferências gerados pelo Revit e Navisworks para cada modalidade de projeto.

Gráfico 2: Relatórios de Interferências

Fonte: Autor (2018)

O Revit forneceu um relatório escrito que apontou quais elementos são incompatíveis. Já o Navisworks, além de fornecer um relatório escrito, a plataforma gerou um relatório fotográfico acerca das interferências encontradas. Apesar de serem plataformas conceituadas, cada interferência deve ser analisada para que sejam filtradas as interferências reais de erros de geometria.  Depois de realizado o teste de interferência proposto pelo Navisworks, verificou-se que este gerou inúmeros conflitos que não corresponderam as interferências relevantes entre os projetos.  De acordo com Pedroso et al (2016) o software apresenta como interferência a colisão entre vigas e paredes, que, na realidade, não representa uma incompatibilidade significante em nível de construção.

Apesar da obtenção dos relatórios de interferências, cada resultado deve ser analisado pelo projetista para que sejam eliminadas quaisquer interferências reais. Observando os resultados obtidos pelo Navisworks, pode-se constatar que a maioria dos problemas encontrados pela plataforma são relacionados a geometria de projeto, que, em canteiro de obras, não representam custos extras com retrabalhos. Analisando criticamente os relatórios, observou-se que cerca de 95% das interferências encontradas não representam problemas reais para a execução da obra e apenas 5% podem gerar algum tipo de comprometimento real, já que não estamos levando em consideração a quantificação dos projetos.

Depois de realizado o teste de interferência proposto pelo Navisworks, verificasse que este gera inúmeros conflitos que não correspondem a interferências relevantes entre os projetos. O software apresenta como interferência a colisão entre vigas e paredes, que na realidade não representa uma incompatibilidade significante em nível de construção (PEDROSO et al., 2016, p. 13).

A seguir serão demonstradas algumas incompatibilidades reais geradas pelo relatório fotográfico do Navisworks. Na figura 6, está destacado que a instalação da porta está locada em nível inferior do que se deveria, o plano verde é o piso acabado e a porta está instalada junto a base deste piso. Dessa forma, está locada 5 cm abaixo do nível ao qual deveria ser instalada. Esta interferência, mesmo prejudicando a consistência do projeto, não destaca grandes problemas executivos para a obra, já que, no meio executivo, a instalação das esquadrias é realizada, geralmente, depois dos acabamentos argamassados e cerâmicos.

Figura 6: Porta instalada em nível errado

Fonte: Autor (2018)

A figura 7 demonstra a interferência entre o pilar e a porta de correr de vidro de acesso lateral. Esta interferência pode ser considerada grave, pois geraria grandes transtornos de adequação de projeto durante a obra.

Figura 7: Pilar no vão de abertura da porta

Fonte: Autor (2018)

As figuras 8 e 9 apresentam interferências semelhantes, sendo que esquadrias estão conflitantes com elementos estruturais. Na Figura 7 a porta está instalada, avançando para dentro do pilar, o que, consequentemente, geraria uma realocação da porta em questão. Já na Figura 8 a Janela está avançando para dentro do pilar, o que assim como a anterior, durante a execução, teria que ser realocada.

Figura 8: Porta interferindo com pilar

Fonte: Autor (2018)

Figura 9: Janela interferindo com pilar

Fonte: Autor (2018)

A figura 10 retrata a interferência entre a tubulação de esgoto destacada em vermelho e a parte da viga baldrame em azul. Observa-se que a tubulação caminha sobre a viga de maneira inadequada interferindo, significativamente, em sua composição.

Figura 10: Tubulação passando inadequadamente dentro da viga baldrame

Fonte: Autor (2018)

Na figura 11 observa-se outro tipo de inconsistência que pode acontecer: são conexões e partes das tubulações que podem ficar “perdidas” no projeto. Como pode ser visualizado na representação a seguir, a peça em vermelho é uma luva que ficou desconectada da tubulação representada em azul. Esse tipo de inconsistência gera erro de quantificação ao projeto, e, dessa forma, pode gerar custos extras com a compra de material desnecessário.

Figura 11: Conexão em local errado

Fonte: Autor (2018)

CONCLUSÃO

Com esse trabalho, fica evidente as muitas melhorias que a utilização do BIM pode proporcionar para o empreendimento. O principal foco do trabalho foi a redução de custos com retrabalhos, porém a implementação completa de uma plataforma do BIM gera ressalvas, dentre as quais se destaca o tempo para implementação total em qualquer escritório, que, segundo Eastman et al (2014), pode levar dois ou três anos. As maneiras convencionais de compatibilização são de difícil visualização das interferências já que o projetista deve entender analisar e compreender, fielmente, os desenhos em 2D, sem qualquer visualização 3D ou algo semelhante. As interferências obtidas a partir dos relatórios são totalmente abrangentes, e, dessa forma, os testes devem ser configurados de maneira a gerar somente interferências significativas. Todas as interferências devem ser analisadas para que não haja precipitação em mudanças de projeto.

A compatibilização dos projetos é uma etapa muito importante para o empreendimento, pois é neste momento em que erros podem ser corrigidos sem alterações significativas de custos, característica contrária ao que ocorre quando são realizadas alterações durante a execução da obra. Como já previsto, o ensino nas Universidades brasileiras se abstém da utilização das plataformas BIM como metodologia de ensino, porém, este cenário deverá mudar, já que algumas medidas importantes foram tomadas pelos órgãos públicos para a implantação destas plataformas, visando maximizar a qualidade dos projetos fornecidos ao órgão públicos.

Em países desenvolvidos, a maioria das empresas já utilizam BIM como ferramenta para projetar, já que esta tende a diminuir o tempo consumido para esta atividade além de outros benefícios já constatados. A partir do estudo de caso, pode-se esclarecer alguns pontos importantes sobre a plataforma em questão. O principal destes é que esta ferramenta deve ser estudada a fundo para que seja utilizada amplamente bem como a implantação desta no ensino superior de engenheiros e arquitetos é o passo crucial para que seja iniciada a disseminação desta em território nacional.

REFERÊNCIAS

AUTODESK. AutoCAD 2017. Versão para estudante. Autodesk Inc, 2017.

AUTODESK. Navisworks Manage 2017. Versão para estudante. Autodesk Inc, 2017.

AUTODESK. Revit 2017. Versão para estudante. Autodesk Inc, 2017.

BRASIL. DECRETO Nº 9.377, DE 17 DE MAIO DE 2018. Institui a Estratégia Nacional de Disseminação do Building Information Modeling, Brasília, DF, mai. 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/decreto/D9377.htm. Acesso em: 28 ago. 2018.

CBIC. Fundamentos BIM – Parte 1: Implementação do BIM para Construtoras e Incorporadoras. Brasília: Câmara Brasileira da Industria da Construção, v. 1, p. 1-124, 2016.

CBIC. Implementação do BIM – Parte 2: Implementação do BIM para Construtoras e Incorporadoras. Brasília: Câmara Brasileira da Industria da Construção, v. 2, p. 1-72, 2016.

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EASTMAN, C. et al. Manual de BIM: um guia de modelagem da informação da construção para arquitetos, engenheiros, gerentes, construtores e incorporadores. Porto Alegre: Bookman, 2014.

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[1] Graduada em Engenharia Civil, Graduanda de Arquitetura e Urbanismo.

[2] Doutorado em andamento em Engenharia Civil. Mestrado em Engenharia Urbana. Graduação em Engenharia Civil.

Enviado: Junho, 2019.

Aprovado: Novembro, 2019.

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Alessandra de Souza Pila

Uma resposta

  1. Boa noite, Alessandra parabéns pela excelente didática. O conteúdo nos ajuda imensamente a nos orientar em TCC no curso de graduação. Sucesso, gratidão e muito obrigado. Valeu!

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