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Letramento e a existência de práticas letradas no ambiente escolar

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

DIAS, Rutineia Silva Oliveira [1], MONT’ ALVERNE, Clara Roseane da Silva Azevedo [2]

DIAS, Rutineia Silva Oliveira. MONT’ ALVERNE, Clara Roseane da Silva Azevedo. Letramento e a existência de práticas letradas no ambiente escolar. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 06, Vol. 02, pp. 52-71. Junho de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/praticas-letradas

RESUMO

O letramento vem sendo uma das temáticas mais discutidas quando se pensa no processo de aquisição da leitura e da escrita enquanto efetivas práticas sociais no contexto de ensino/aprendizagem. Baseando-se nesses horizontes, o presente artigo busca analisar a relevância do letramento, assim como das práticas de letramento no ambiente escolar. Considera-se, porém, tanto a importância do letramento no âmbito da leitura e da escrita quanto no que tange ao letramento matemático, científico e digital. O artigo também apresenta o conceito de letramento como prática abrangente, apontando para a necessidade de aprofundar reflexões referentes à temática, tendo em vista as diferenças entre as concepções de letramento e alfabetização, tal como a relevante utilidade na aplicação de práticas de letramento no contexto educativo. Para realizar a análise da contribuição das práticas letradas para a efetivação do ensino em todas as etapas, respaldamos nossas reflexões através de pesquisas bibliográficas em Soares (2017); Street (2014); Kleiman (2010); Kleiman e Assis (2016); Tfouni (2010); Freire (1996, 2009), dentre outros. Nesse trabalho, apresentam-se também as observações realizadas nas aulas do 9º ano do ensino fundamental, de uma escola da Rede Municipal de Ensino de Guaratinga-Bahia , nas disciplinas de língua portuguesa, matemática, ciências, geografia e história referentes às práticas de letramento utilizadas pelos alunos, através da mediação dos professores e de que maneira essas práticas contribuem para o processo de aprendizagem, assim como para a formação dos alunos no sentido de fazerem uso do letramento nas mais variadas situações sociais, tendo construídas as competências necessárias à utilização da língua escrita, da oralidade, selecionando informações em textos escritos ou midiáticos a partir de um nível de criticidade e consciência dos contextos nos quais estão inseridos.

Palavras-chave: Aprendizado, alunos, ensino, letramento, práticas letradas.

INTRODUÇÃO

As reflexões acerca do letramento é um tema bastante relevante na atualidade, pois envolve não só questões referentes a ler e escrever, mas repercute nas habilidades e competências desenvolvidas pelo sujeito ao fazer uso da leitura e da escrita nas mais diversas práticas sociais do cotidiano. Além disso, o letramento não se limita ao conceito de decodificação dos códigos linguísticos, todavia converge para a utilização competente que o indivíduo faz socialmente ao usar a leitura e a escrita. Nesse sentido, é importante ressaltar que o letramento vai muito além do simples conceito de alfabetização, conforme Freire, (2009, p.11), “a leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente”. À luz desse entendimento, decodificar a palavra não é suficiente, faz-se indispensável uma compreensão da realidade na qual estamos inseridos, intervindo e modificando-a, quando for necessário. Nesse cenário, o letramento traduz o uso da leitura e da escrita enquanto práticas sociais efetivas que ultrapassam a leitura do texto escrito.

Entretanto, é imprescindível destacar que as demandas da sociedade moderna ampliam ainda mais as reflexões acerca do letramento, tornando necessária a discussão sobre letramento matemático, científico e digital, formando, a partir dessa pluralidade, o conceito de multiletramento. Conforme Rojo (2013, p.14)

O conceito de multiletramentos […] busca justamente apontar, já de saída, por meio do prefixo “multi”, para dois tipos de “múltiplos” que as práticas de letramento contemporâneas envolvem: por um lado, a multiplicidade de linguagens, semioses e mídias envolvidas na criação de significação para os textos multimodais contemporâneos e, por outro, a pluralidade e diversidade cultural trazidas pelos autores/leitores contemporâneos a essa criação de significação.

Sendo assim, o letramento se apresenta como uso competente das diferentes formas de comunicar, interpretar e compreender os contextos sociais nos quais os alunos estão inseridos, a partir da inter-relação das práticas de letramento realizadas na escola com as demandas sociais existentes. Assim, o letramento perpassa pelas diversas áreas do conhecimento e diversos componentes curriculares, estabelecendo conexão com as necessidades, valores e práticas sociais de cada estudante. Desse ponto de vista, o letramento se encarrega por fornecer benefícios essenciais, como: desenvolvimento intelectual, autonomia social, avanço profissional e cidadania.

Nessa perspectiva, as ações pedagógicas significativas influenciam na ampliação do conhecimento das práticas de letramento em sala de aula, considerando a necessidade de despertar o espírito investigativo, a interpretação dos números, tal como a inserção dos alunos no mundo digital. No entanto, é necessário levar em consideração o mundo real de cada estudante, assim como suas experiências sociais e culturais que abrangem as práticas letradas correlacionando com os objetos do conhecimento de cada componente curricular ofertado pela escola. A esse respeito, a prática docente necessita ser coerente com as concepções preconizadas pela Base Nacional Comum Curricular no que se refere ao planejamento, à condução das aulas, às áreas do conhecimento e às habilidades necessárias à continuidade das aprendizagens dos alunos.

Não há possibilidade de desenvolver habilidades com vistas ao letramento científico, matemático, digital ou de linguagem oral e escrita se o docente mantém a concepção de transmissor de conteúdos. O desenvolvimento das práticas letradas está conectado com a concepção de ensino e aprendizagem que embasa a ação pedagógica de cada professor. Assim, enquanto mais restritas são suas convicções, mais limitada se torna sua prática em sala de aula.

Durante as observações, percebe-se que há uma resistência por parte de alguns docentes no sentido de desenvolver suas aulas na perspectiva do letramento. Todavia, faz-se necessário considerar que alguns avançam nessa tentativa de implementar situações de práticas de letramento em suas aulas, buscando estratégias pedagógicas que contemplem a inter-relação entre o objeto do conhecimento e a realidade dos alunos. Essa contextualização ainda se manifesta timidamente, visto que há uma lacuna na formação inicial dos profissionais para que possam efetivar tais práticas com segurança, bem como embasamento teórico consistente. Nessa visão, compreende-se que a formação continuada se apresenta como alternativa para instrumentalizar os profissionais para que a implementação curricular não seja apenas para cumprir determinações normativas interpeladas pela BNCC, mas seja uma oportunidade de introduzir as práticas letradas no ambiente escolar como uma atuação cotidiana e indispensável ao atendimento das novas demandas sociais.

Além disso, evidencia-se a falta de estrutura física que contribua para um trabalho efetivo com as práticas de letramento na escola associada à necessidade iminente de fomentar discussões que ampliem a compreensão dos docentes sobre a temática em questão, possibilitando que, ao refletir sobre novas possibilidades de mediar o conhecimento, possam desconstruir paradigmas já internalizados, buscando novas estratégias metodológicas que resultem em uma aprendizagem mais significativa e instigante para os alunos.

Nesta lógica, o referido artigo apresenta a definição do termo letramento, buscando ampliar a compreensão acerca de uma temática atual e necessária ao processo de ensino e aprendizagem, buscando enfatizar a importância da ocorrência de práticas letradas, bem como destacar as observações relativas ao desenvolvimento destas condutas no contexto escolar, evidenciando as contribuições resultantes dessa aplicação nas aulas de diferentes componentes curriculares.

LETRAMENTO

Pretende-se aqui conceituar a palavra letramento, entendendo o seu uso, pois este, ainda é um tema novo que precisa ser aprofundado e discutido nas pesquisas, assim como no contexto da Educação Básica, especialmente nos anos finais do Ensino Fundamental quando o aluno já está alfabetizado, mas não consegue fazer leituras contextualizadas e, muitas vezes, essa deficiência é nutrida pela compreensão equivocada de que aprender a decodificar signos linguísticos garante a continuidade do sucesso dos estudantes. Nesse âmbito, concatenam-se as ideias de ensinar a ler e escrever como única prática relevante na escola, minimizando a importância do letramento e das práticas letradas que devem permear toda trajetória do aluno.

A palavra letramento, porém, tem uso recente na educação, aparecendo pela primeira vez na língua portuguesa em 1986, no livro de Mary Kato. O termo tem origem na palavra literacy (littera – palavra latina = letra, cy – sufixo = qualidade, condição, estado. Logo, literacy é a situação de quem aprendeu a leitura e a escrita e, usa o sistema escrito em contexto de práticas sociais (Soares, 2017). Nesse sentido, a definição aborda decorrências culturais, sociais, políticas, econômicas, cognitivas e linguísticas, seja para um indivíduo ou para um grupo social que aprende a usá-la. De acordo com Soares (2017, p. 18): “Letramento é, pois, o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita”. Sendo assim, Soares como citada em Ximenes (2015, p. 49) ainda acrescenta:

[…] Letramento é prazer, é lazer, é ler em diferentes lugares e sob diferentes condições […] Letramento é informar-se através da leitura, é buscar notícias e lazer nos jornais, é interagir com a imprensa diária, fazer uso dela, selecionando o que desperta interesse, divertindo-se com as tiras de quadrinhos.

Assim, fica visível a importância e a significação do letramento no que diz respeito ao desenvolvimento do sujeito nesta sociedade em que a escrita é cada vez mais valorizada. Por isso, Soares (2017, p. 58) destaca que “o nível de letramento de grupos sociais relaciona-se fundamentalmente com as suas condições sociais, culturais e econômicas. ”

Tfouni (2010, p. 22) destaca que o letramento pode ser compreendido como o processo em que “focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição de um sistema escrito por uma sociedade. ” Nesse contexto, o letramento destaca-se de forma mais ampla do que a alfabetização, pois vem de uma leitura crítica de mundo, no qual o sujeito é capaz de construir conhecimento, a partir das relações histórico-sociais dentro de uma sociedade. Então, letramento trata-se de inúmeras atividades desenvolvidas no contexto social que perpassam um código escrito.

Diante do exposto, Tfouni (2010) destaca que as pesquisas que envolvem o letramento, não se limitam apenas a quem é alfabetizado, mas leva em conta o que contribuiu para o não acesso do indivíduo ao sistema escrito dentro de um contexto social.

Portanto, o letramento é um processo contínuo que, não se trata apenas de decodificação do código escrito, mas algo que está muito além e, em constante movimento, presente na vida cotidiana do indivíduo. Isto é, o letramento consiste no desenvolvimento das mais simples às mais complexas habilidades em que envolvem a leitura e a escrita de textos escritos ou de mídias, a habilidade de raciocinar, representar e formular argumentos matematicamente num contexto de integração social.

Kleiman como citada em Bordignon & Paim (2017, p. 63) compreende o letramento como “[…] um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos”.

Soares (2017, p. 81) relata que “o conceito de letramento envolve um conjunto de fatores que variam de habilidades e conhecimentos individuais a práticas sociais e competências funcionais e, ainda, a valores ideológicos e metas políticas”. Com isso, não é função do letramento apenas utilizar as competências de ler e escrever, mas sim a responsabilidade de estimular o desenvolvimento do ser humano, bem como despertar o senso crítico dentro da sociedade em que vive, atuando na busca dos seus objetivos e na transformação do mundo, participando energicamente da sua comunidade.

O letramento assegura ao sujeito uma maior participação nas questões sociais e uma constante busca por uma sociedade mais justa e equitativa, tendo em vista que o indivíduo capaz de realizar a leitura de contextos, exerce com maior propriedade a cidadania, vislumbrando o bem comum. Além disso, o letramento contribui para o seu desenvolvimento e crescimento humano. Assim sendo, Paulo Freire ampliou sua visão de letramento enquanto meio de inclusão do indivíduo ao campo do conhecimento, e que tem como ponto de partida “[…] o ato de estudar, enquanto ato curioso do sujeito diante do mundo, é expressão da forma de estar sendo dos seres humanos, como seres sociais, históricos, seres fazedores, transformadores, que não apenas sabem mas sabem que sabem” (Freire, 2009, p. 60). O autor expõe que o indivíduo precisa atuar ativamente em sociedade compreendendo a importância de aprender a leitura e a escrita, bem como como outras formas de comunicar, compreender e intervir socialmente, porém esta aprendizagem tem maior significado quando se relaciona à vida real dos alunos.

A definição de letramento expõe-se com base em duas dimensões segundo Scribner:

As tentativas de definição (de letramento) estão quase sempre baseadas em uma concepção de letramento como um atributo dos indivíduos; buscam descrever os constituintes do letramento em termos de habilidades individuais. Mas o fato mais evidente a respeito do letramento é que ele é um fenômeno social (…) O letramento é um produto da transmissão cultural (…) Uma definição de letramento (…) implica a avaliação do que conta como letramento na época moderna em determinado contexto social… compreender o que é o letramento envolve inevitavelmente uma análise social… (Scribner como citado em Soares, 2017, p. 66).

Portanto, a dimensão individual se concretiza à medida que o letramento enfatiza simplesmente o domínio do ler e do escrever. Enquanto, que na dimensão social o letramento dá ênfase no uso social de tarefas que utilizam a linguagem.

A dimensão individual tem relação direta com o modelo autônomo de letramento, pois este, está associado a “progresso”, “civilização”, liberdade individual e mobilidade social. O modelo autônomo é dominante na UNESCO porque esta, se ocupa da alfabetização. A dimensão social caracteriza-se como modelo ideológico de letramento, pois evidencia no contexto social as práticas letradas, ou seja, contextos culturais em que estas práticas estão inseridas (Street, 2014).

Portanto, Soares (2017, p. 66) diz que: “na maioria das definições atuais de letramento, uma ou outra dessas duas dimensões é priorizada: põe-se ênfase ou nas habilidades individuais de ler e escrever, ou nos usos, funções e propósitos da língua escrita no contexto social”.

E quanto aos modelos autônomo e ideológico Street (2014, p. 172) argumenta:

[…] fiz a distinção entre um modelo autônomo de letramento, cujos expoentes estudavam o letramento em seus aspectos técnicos, independentes do contexto social, e um modelo ideológico, empregado por pesquisadores contemporâneos cuja preocupação tem sido ver as práticas letradas como inextricavelmente ligadas a estruturas culturais e de poder numa dada sociedade.

Desse modo, quando sugere que a finalidade exclusiva da linguagem seja separada da função interpessoal, ou seja, o foco principal da linguagem é científico, trata-se do modelo autônomo de letramento.

Por outro lado, o modelo ideológico não tenta dissociar as técnicas ou aspectos cognitivos de ler e escrever do contexto histórico, pois as práticas de letramento estão ligadas aos aspectos culturais, bem como, à estrutura de poder.

O letramento trata tanto de competências e habilidades individuais quanto sociais que envolvem a leitura e escrita no contexto amplo, pois insere social e culturalmente o sujeito nas questões políticas e ideológicas, buscando uma participação ativa na sociedade, considerando as diferentes formas de comunicar.

Para Kirsch & Jungeblut como citados em Soares, (2017, p. 74) afirmam que, “letramento não é simplesmente um conjunto de habilidades de leitura e escrita, mas muito mais que isso, é o uso dessas habilidades para atender às exigências sociais”.

Partindo desse pressuposto, a concepção de letramento demanda duas ações divergentes, embora se complementam: o ler e o escrever. Ambos, são constituídos por um “conjunto de habilidades, comportamentos, conhecimentos que compõem um longo e complexo continuum” (Soares, 2017, p. 48-49).

O letramento é então considerado como progresso social e individual; dessa forma age como responsável pela produção de resultados importantes na sociedade, ou seja, concebe o desenvolvimento humano e estimula o sujeito a agir ativamente na transformação do mundo.

Conforme Cook-Gumperz como citado em Kanitz & Luz (2019), o letramento não é apenas a capacidade de leitura e escrita, mas sim um fato que se constitui na sociedade, ou seja, é ação social, é convicção constituída ao longo do tempo, é comunicação que a pessoa incorpora no seu dia a dia.

Dessa forma, o letramento é uma construção histórica, um conjunto de práticas de comunicação que os indivíduos ativos integram em seu cotidiano cultural. Assim sendo, Barton como citado em Kanitz & Luz (2019, p. 5) acrescenta, em resumo, “letramento é ato social, mediado pelas interações entre participantes e por suas relações com os textos, podendo ser mais bem descrito como “práticas de letramento”, que se configuram na vida cotidiana em “eventos””.

Isso significa que, a definição do letramento vai depender do contexto ou grupo social em que está sendo usado. E por isso, não há uma definição estática e universal. Portanto, infere-se que existe uma variedade de conceitos de letramento, pois diferenciam de acordo o momento, as necessidades e o contexto social exigido.

Sendo assim, Soares (2017) enfatiza que especialistas acreditam que todo contexto social apresenta variadas práticas de letramento, as quais têm funções específicas para cada comunidade ou sujeito. Assim, as atividades letradas influenciam em vários fatores na vida das pessoas.

Considerando o que está posto na Revista Nova Escola, (Garofalo, 2019, p.1), “o letramento digital na educação está relacionado com o conhecimento necessário para saber como usar os recursos tecnológicos e da escrita no meio digital e participar de maneira crítica e ética das práticas sociais da cultura digital. ” Nesse contexto, as práticas letradas abraçam cada vez mais uma gama de habilidades e competências a serem desenvolvidas. Para tal, o docente precisa refletir sobre a inclusão do letramento no componente curricular que leciona, na maneira como conduz o processo educativo junto aos alunos em uma sociedade cada vez mais mediada por diferentes tipos de linguagens e maneiras de comunicar e interpretar o mundo.

Então, além de existirem conceitos diversos de letramento, há também diferentes atividades de letramento que têm importante papel na vida do sujeito, bem como de cada grupo social. Dessa forma, as atividades variam de acordo com a ocupação social de cada indivíduo. Street como citado em Soares (2017, p. 81) enfatiza que “seria provavelmente, mais apropriado referirmo-nos a “letramentos” do que a um único “letramento”.

Nesse seguimento, podemos considerar o que traz a BNCC a respeito do letramento e a importância das práticas letradas no cotidiano escolar, concebendo que as práticas de letramento acontecem em outras áreas do conhecimento, podendo ser amplamente utilizadas em sala de aula de maneira vinculada às situações reais vivenciados pelos alunos dentro e fora da escola, tornando a aprendizagem significativa e contextualizada. Em se tratando do letramento científico:

A BNCC estabelece que o letramento científico deva ser desenvolvido ao longo do Ensino Fundamental. A proposta é assegurar o acesso à diversidade de conhecimentos científicos produzidos ao longo da história – por meio, por exemplo, da leitura, compreensão e interpretação de artigos e textos científicos – e também aos principais processos, práticas e procedimentos da investigação científica. (Revista Nova Escola, 2017, p. 1).

Nessa perspectiva, fica evidente que as reflexões sobre o conceito de letramento tendem a ser ampliadas face às novas demandas sociais que emergem na sociedade enquanto organização dinâmica e suscetível a adaptações, sinalizando que a escola deve incorporar práticas de letramento como uma necessidade urgente interpelada pelas novas formas de mediar o conhecimento como algo que tenha significado para os alunos. Nesse contexto, a Base Nacional Curricular Comum evidencia que:

O Ensino Fundamental deve ter compromisso com o desenvolvimento do letramento matemático, definido como as competências e habilidades de raciocinar, representar, comunicar e argumentar matematicamente, de modo a favorecer o estabelecimento de conjecturas, a formulação e a resolução de problemas em uma variedade de contextos, utilizando conceitos, procedimentos, fatos e ferramentas matemáticas. É também o letramento matemático que assegura aos alunos reconhecer que os conhecimentos matemáticos são fundamentais para a compreensão e a atuação no mundo e perceber o caráter de jogo intelectual da matemática, como aspecto que favorece o desenvolvimento do raciocínio lógico e crítico, estimula a investigação e pode ser prazeroso (fruição) (BNCC, 2018, p. 266).

Assim, “o desenvolvimento dessas habilidades está intrinsecamente relacionado a algumas formas de organização da aprendizagem matemática, com base na análise de situações da vida cotidiana, […]” (BNCC, 2018, p. 266).

Sobre o conceito de letramento, percebe-se que não há universalidade, corroborando para o entendimento de letramento como uma reflexão complexa, a qual necessita ser aprofundada, tendo em vista que a mesma não se limita à leitura e à escrita de textos escritos, tomando, portanto, uma dimensão abrangente, atestando assim, sua importância para a formação dos alunos na sociedade contemporânea.

PRÁTICAS LETRADAS

Nesse artigo, procura-se, ainda, uma definição de prática letradas enquanto meio específico de refletir, compreender e utilizar a leitura a escrita em contextos culturais. É sabido, que as práticas se transformam de uma cultura para outra.

Dessa forma, Street (2014, pp. 173-174) diz o seguinte:

Emprego “práticas letradas” como um conceito mais amplo, alçado a um nível mais elevado de abstração e referindo-se a comportamento e conceitualizações relacionados ao uso da leitura e/ou escrita. As práticas letradas incorporam não só os “eventos de letramento”, como ocasiões empíricas de que o letramento é parte integrante, mas também “modelos populares” desses eventos e concepções ideológicas que os sustentam.

Pode-se dizer que o conhecimento e a experiência são produtos sociais acumulados a partir de condições, tal como vivências históricas individuais ou coletivas. Em razão disso, são consideradas práticas de letramento as ações utilizadas em um contexto de interação social em que se destaca desde a família como primeira instituição de aprendizagem até os grupos maiores de discussões e debates.

Portanto, é preciso compreender que ler e escrever são atividades que se complementam, mas que mudam em meio ao letramento, ou seja, há uma transformação da escrita sob a fala e esta, por sua vez, interfere na escrita através de indicações orais presentes em textos. Assim, é possível que o educando tenha acesso aos variados gêneros textuais e crie suas próprias estratégias de uso (PCN, 2001).

Além disso, Marcuschi (2013, p. 19) registra a seguinte afirmação:

Quanto à presença da escrita, pode-se dizer que, mesmo criada pelo engenho humano tardiamente em relação ao surgimento da oralidade, ela permeia hoje quase todas as práticas sociais dos povos em que penetrou. Até mesmo os analfabetos, em sociedades com escrita, estão sob a influência do que contemporaneamente se convencionou chamar de práticas de letramento, isto é, um tipo de processo histórico e social que não se confunde com a realidade representada pela alfabetização regular e institucional.

Com base nessa afirmação, fica visível a importância que a oralidade e a escrita têm nas práticas de letramento, sendo que esta última se encontra na maior parte das situações cotidianas, porém em paralelo com a oralidade.

Para Smole, (2020, p.1), “muitos professores acreditam que as dificuldades apresentadas por seus alunos em ler e interpretar um problema ou exercício de matemática estão associadas à pouca competência que eles têm para leitura”. Analisando essa afirmação, percebe-se a importância das práticas letradas na escola desde a educação infantil, considerando que, muitas vezes, os alunos chegam ao final do ensino fundamental sem essas habilidades desenvolvidas. Aprendem, no entanto, a decodificar, mas não fazem uso da leitura como uma prática social, descaracterizando o real papel das práticas letradas, de modo que essas práticas não podem ser limitadas às aulas de língua portuguesa, mas perpassam todas as áreas do conhecimento.

Além disso, as competências gerais da BNCC abordam as práticas letradas no ambiente escolar, denotando que no mundo onde as Tecnologias Digitais da Comunicação e da Informação estão presentes de maneira marcante nos contextos sociais o fazer pedagógico não pode estar desvinculado dessa realidade. Assim, a competência 4 da Base Nacional Comum Curricular, defende as práticas letradas como imprescindíveis para o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos:

Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo (BNCC, 2018, p. 9)

A prática pedagógica necessita incorporar concepções que possam se alinhar às novas demandas e ao que preconiza o referido documento norteador da implementação dos currículos escolares, lembrando que os padrões de letramento implicam diretamente na forma de mediar o objeto do conhecimento, visto que os alunos não se enquadram no modelo de receptores. Nesse sentido, torna-se oportuno perceber que a prática docente limitada à transmissão se torna desconectada com a realidade da sala de aula nos contextos vigentes.

Para complementar as discussões referentes às práticas letradas, recorremos a competência 5 da BNCC, que corrobora para a necessidade de reflexão entre os profissionais docentes, correlacionando todas as práticas letradas que premeiam as diferentes áreas do conhecimento e os diferentes componentes curriculares, ao afirmar que é preciso:

Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva (BNCC, 2018, p. 9).

Por essa razão, Marcuschi, (2013, p. 18) ressalta que, “as práticas determinam o lugar, o papel e o grau de relevância da oralidade e das práticas de letramento numa sociedade e justificam que a questão da relação entre ambos seja posta no eixo de um contínuo sócio-histórico de práticas”.

Contudo, Marcuschi (2013, p. 21) discorre: “O letramento é um processo de aprendizagem social e histórica de leitura e da escrita em contextos informais e para usos utilitários, por isso é um conjunto de práticas”.

Portanto, as práticas de leitura e escrita motivam a todos os cidadãos, então, pessoas que vivem em sociedades letradas não podem ser consideradas iletradas, mesmo que sejam analfabetas, visto que a alfabetização é a habilidade de decodificar o código linguístico enquanto o letramento abrange o uso social da linguagem em diferentes contextos. Assim, uma pessoa analfabeta pode utilizar estratégias para fazer uso da escrita. Tomemos por exemplo a habilidade de um cidadão não alfabetizado conseguir realizar as compras no supermercado, escolher os produtos que deseja comprar, efetuar o pagamento, conferir o troco e retornar para casa no ônibus que faz a melhor rota de maneira autônoma. Essa situação é uma dentre diversas outras que colocam em evidência o que anteriormente citamos com base no que Freire (2009, p.11), chama de “leitura de mundo”.

Street como citado em Kleiman & Assis (2016, p. 31) propõe o uso da noção de práticas para se referir a “aspectos que nos possibilitam começar a ver padrões nesses eventos e situar conjuntos de eventos de forma a dar a eles um padrão”.

Para o autor, as práticas de letramento têm uma definição ampla, que pode ir desde às ações do indivíduo até os conceitos que podem elaborar e os relacionar ao uso da leitura e escrita.

E em relação às práticas de letramento Kleiman (2010, p. 379 -5) acrescenta:

A alfabetização é uma prática de letramento que pode envolver diferentes estratégias (reconhecimento global da palavra, reconhecimento de sílabas, leitura em voz alta, leitura silenciosa), diversos gêneros (cartilhas, exercícios, imagens, notícias, relatos, contos, verbetes, famílias de palavras), diferentes tecnologias (lápis, caneta, papel, quadro negro, giz, lousa branca, pincel atômico, livro, tela e teclado).

Nessa perspectiva, a alfabetização como prática de letramento abarca diferentes atividades, suportes e gêneros textuais, visando para além do aprendizado da leitura e do código escrito. Além disso, o letramento supera o conceito limitado de decodificação do código escrito, colocando o indivíduo em relação com contextos amplos de interpretação de números e situações, leitura de texto escrito, midiático, tabelas, mapas correlacionando com a realidade atual da sua localidade e do mundo.

PRÁTICAS DE LETRAMENTO APROFUNDADAS NO AMBIENTE ESCOLAR

Na sociedade contemporânea, a escola tem como papel contribuir para que o aluno desenvolva habilidades de interpretar o mundo em seu entorno, argumentar com segurança, baseando-se em fatos, selecionar informações e usá-las com responsabilidade. Nessa perspectiva, os professores precisam proporcionar um ambiente interessante para o processo de ensino e aprendizagem, de interação e construção do conhecimento entre professor e aluno, pois de acordo com Freire (1996, p. 13), “[…] não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. Desse modo, pode-se dizer que o docente e o discente se completam, no processo de ensino aprendizagem.

Nesse sentido, cabe à escola oportunizar espaços de discussão, planejamento e apoio aos docentes para que os alunos tenham assegurado o direito de aprender, garantindo o desenvolvimento das habilidades. A BNCC defende que “as habilidades expressam as aprendizagens essenciais que devem ser asseguradas aos alunos nos diferentes contextos escolares”. Daí, a importância da aquisição da leitura e escrita enquanto processos bastante complexos que permitem desenvolver no discente o domínio de habilidades e competências que visam garantir a inserção do aluno nas diferentes formas de comunicação da vida em sociedade, considerando as diversas práticas de letramento.

Segundo Kleiman como citada em Paiva (2018, p. 46):

[…] as experiências de letramento, denominado de letramento acadêmico, acontecem em meio ao espaço educacional e são desenvolvidas no decurso da interação professor aluno, em que o sujeito percebe a ligação entre práticas de letramento nas aulas assomadas ao pertinente uso da escrita no cotidiano. (Grifos da autora).

Portanto, o letramento acadêmico acontece no processo de interação entre educador e educando mediante o contexto escolar, onde acontecerão diferentes práticas letradas que permitirão ao aluno envolver e interagir em seu meio social, usando o sistema escrito.

Sendo assim, Kleiman acrescenta alguns passos fundamentais para o desempenho do papel do “professor letrador ”: examinar as práticas sociais que estão inseridas no contexto do educando, adaptando-as ao ambiente escolar e aos assuntos abordados; programar intervenções desejando mostrar o papel da língua escrita, e qual a utilização o aluno pode dar a ela em ambientes diversos; possibilitar ao educando o desenvolvimento  de diferentes habilidades que envolvam a leitura e a escrita em seu contexto social, usando-as adequadamente para sua autonomia na sociedade (Kleiman como citada em Justo & Rubio, 2013).

Então, ao adequar as práticas sociais do aluno com os assuntos a serem abordados em sala de aula, colaborando para o avanço de competências leitoras, compreensão, interpretação, escrita e produção de variados gêneros textuais são ações pedagógicas que demonstram uma prática docente voltada para letramento do aluno, para as práticas cotidianas em que a leitura e a escrita estão inseridas com significado e aplicabilidade social.

Por isso, Soares como citada em Grando (2012, p. 13) destaca:

A hipótese aqui é, então, que letramento escolar e letramento social, embora situados em diferentes espaços e em diferentes tempos, são parte dos mesmos processos sociais mais amplos, o que explicaria por que experiências sociais e culturais de uso da leitura e da escrita proporcionadas pelo processo de escolarização acabam por habilitar os indivíduos à participação em experiências sociais e culturais de uso da leitura e da escrita no contexto social extraescolar.

Diante disso, a autora considera que, os dois tipos de letramento apesar de terem suas particularidades resultam num mesmo sistema. Ou seja, à medida que o indivíduo participa de práticas no ambiente escolar, estará também recebendo preparação para participar de exigências de letramento em seu ambiente social.

As práticas letradas implicam na inserção dos interlocutores em determinado contextos ou situações de produção, a partir dos quais, tendo a linguagem como mediadora, os sujeitos estabelecem tipos diferentes de interação e de interlocução comunicativa. Muitas dessas práticas circulam na forma de textos orais, escritos. E, por isso, o PCN (1996, p. 48) aborda: “Ainda que a unidade de trabalho seja o texto, é necessário que se possa dispor tanto de uma descrição dos elementos regulares e constitutivos do gênero, quanto das particularidades do texto selecionado (…)”.  Considera -se, nesse âmbito a importância do texto como unidade de trabalho, visto que frases fragmentadas, descontextualizadas com finalidade meramente de identificar aspectos específicos da gramática podam a possibilidade interpretativa do aluno no sentido global, impedindo que este acesse conhecimentos já adquiridos e, a partir deles, reformule conceitos e estabeleça conexões significativas de aprendizagem.

Nessa perspectiva, o PCN (1996) ainda acrescenta que seguindo um tema e uma composição estrutural, o texto se encaixa nos diferentes gêneros textuais, sendo aqui o principal foco para aprendizagem. Além disso, os diversos textos podem ser utilizados em diferentes componentes curriculares para que o aluno participe de eventos comunicativos, com diferentes funcionalidades: informar, socializar, argumentar, dialogar ou formular conceitos sobre situações em quaisquer disciplinas, inclusive produzir textos com informações coerentes.

Além de estudar o texto em sua propriedade específica, ele é visto também como gênero do discurso e, por isso, sendo o texto pertencente a um determinado gênero é que permite chegar à aquisição dessa forma de enunciado.

Ao estudar os gêneros textuais e, não apenas o texto, o indivíduo estará se envolvendo com as habilidades e atividades linguísticas, interagindo e se comunicando (PCN, 1996).

Contudo, a escola pode oferecer ao aluno variadas práticas envolvendo a linguagem, seja através de textos orais ou escritos, constituídos em um gênero, atividades discursivas, situações comunicativas, mas principalmente, sendo utilizados em contextos sociais do aluno.

O constante desenvolvimento dessas práticas possibilita o acesso do estudante a diferentes papéis sociais em diversos eventos de letramento, formando assim, leitores e escritores com autonomia para desenvolver um papel ativo a partir do conhecimento de mundo adquirido.

Nessa perspectiva de trabalho, constata-se que, a partir das observações realizadas nas aulas da escola escolhida como campo de pesquisa, há práticas letradas em diferentes componentes curriculares. No entanto, é notória a necessidade de aprofundar as discussões sobre tais práticas, observando-se que alguns docentes incorporam com maior desenvoltura essa nova concepção, mas sinalizam que a formação continuada é fator preponderante para o fortalecimento das mesmas.

É possível vislumbrar nas aulas de alguns componentes curriculares na referida escola, situações de práticas letradas, conforme preconiza a BNCC, (2018, p.267) confirmando que:

Fazer observações sistemáticas de aspectos quantitativos e qualitativos presentes nas práticas sociais e culturais, de modo a investigar, organizar, representar e comunicar informações relevantes, para interpretá-las e avaliá-las crítica e eticamente, produzindo argumentos convincentes. É indiscutível que, os exercícios de leitura e escrita tem papel importante na aprendizagem do aluno no contexto escolar, pois as ações de ler, escrever e produzir textos torna-se ações imprescindíveis para a formação e desenvolvimento do educando.

Em uma aula de matemática, verifica-se que o professor busca contextualizar a unidade temática Probabilidade e estatística, ao realizar a análise de gráficos, interpretação de dados apresentados em textos publicados na mídia.

Praticar a leitura é contribuir para o desenvolvimento de leitores e escritores que utilizam desse produto para produzir com eficácia os diversos gêneros textuais (Nogueira, 2016).

Assim, as habilidades de leitura e escrita exigem atenção, interação e domínio da linguagem. À medida que aluno desenvolve a leitura e escrita, desenvolve também a habilidade de produção com coerência.

Observa-se claramente, que a leitura e a escrita representam papel importante para a formação de leitores e escritores. Santos (2012) discorre que para se tornar um leitor, não é necessário apenas a alfabetização, pois a decodificação não é a mesma coisa que leitura. É necessário sim o letramento para que o educando ao ler determinado texto, faça referência também ao seu contexto.

Sabe-se, que para se tornar um bom leitor não basta apenas ler o enunciado, mas entender o que foi lido, ou seja, compreender o verdadeiro sentido do texto escrito. Assim, através da leitura é possível chegar a outros campos, pois ela é libertação. A leitura não pode ser feita apenas atribuindo significado às palavras, mas precisa identificar o objetivo textual e a sua essência (Costa 2017).

Entretanto, ao praticar a leitura é necessário que seja estabelecida uma conexão entre o leitor e o texto e que haja compreensão da intencionalidade do texto escrito. A leitura também permite a compreensão do mundo, reflexão, descoberta, mas principalmente, possibilita ao aluno criar e recriar situações de escrita.

Sendo assim, o ato de ler completa a escrita, “[…] a priori, então, não se chega à escrita sem a leitura, e a leitura, por sua vez, não é realizada sem a fala. Trata-se de um sistema interligado” (Rossi, 2015, p. 76). Portanto, leitura e escrita são dois processos que se complementam.

Por isso, Paviani (2012, p. 34) relata, “o uso da linguagem é, certamente, um dos domínios fundamentais para a construção de conhecimento em todas as áreas do conhecimento e da cidadania”.

Assim, além de funcionar como principal elemento de comunicação a linguagem funciona como construção do conhecimento em diferentes componentes curriculares, ampliando a concepção de que a leitura se restringe aos conteúdos de língua portuguesa, com exclusiva finalidade de interpretar o que ali já está posto, bem como apontar aspectos gramaticais. Nesse seguimento, apura-se que a escola sinaliza seus avanços e desafios referentes às práticas letradas, justificando sua relevância para construção da autonomia do indivíduo no uso de tais práticas em diferentes contextos sociais, assim como, para o exercício da plena cidadania.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabe-se que formar alunos dispostos a se engajar ativamente em seu contexto social é uma tarefa bastante desafiadora. Entendendo que as atividades diversas que compõem um grupo de práticas de letramento têm papel fundamental de contribuir para a formação e aprendizagem do sujeito, mas concede também suporte para que esses as utilizem em seu dia a dia e nas interações no seu convívio social.

Dessa forma, é válido ressaltar que o letramento perpassa as diversas áreas do conhecimento, possibilitando que o aluno amplie suas compreensões sobre diferentes assuntos, argumente sobre as mais variadas temáticas e atue em contextos sociais que demandem habilidades de uso competente de práticas comunicativas. Considera-se ainda a amplitude e abrangência dos conceitos de letramento como concepção que permeia o uso competente dos eventos comunicativos sejam eles na utilização de textos escritos, na leitura, no letramento matemático, a partir da leitura e interpretação dos números, tabelas e outros; entendo, ainda, o letramento científico como forma de instigar no aluno a curiosidade e o espírito investigativo; podendo ser verificado em  história, geografia ou na cultura digital, ao observar o uso das mídias com responsabilidade e capacidade de selecionar informações proveitosas e de fontes seguras.

É imprescindível salientar que tanto o letramento quanto as suas práticas produzem resultados importantes e contribuem para o desenvolvimento de aspectos relacionados ao social e cultural, evidenciados nas aulas no que se refere a formulação dos argumentos dos estudantes em aulas onde o uso de práticas letradas são mais efetivas, tornando-se notória a liberdade expressiva e responsável dos alunos ao manifestarem suas opiniões.

Conclui-se, portanto, que as práticas de letramento devem ser incorporadas às práticas pedagógicas de maneira constante, visto que sinalizam uma incidência muito tímida nas situações observadas. Constando que os professores ainda não inseriram, de maneira mais aprofundada os conceitos de letramento e as práticas letradas nos seus planejamentos.

Entretanto, reconhecem sua importância para o progresso e transformação dos alunos. Porém, mantém estas práticas sob uma condição de responsabilidade dos profissionais de língua portuguesa, compreendendo o letramento como algo limitado, comprovando a necessidade de aprofundar as reflexões propostas inicialmente.

Diante disso, constata-se a relevância das discussões suscitadas com o intuito de proporcionar o desenvolvimento de habilidades e competências nos eventos comunicativos e, principalmente no que se refere ao fortalecimento da autonomia dos alunos no emprego de práticas letradas nos contextos escolar e social.

REFERÊNCIAS

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[1] Mestranda em Ciências da Educação pela Universidad Autónoma de Asunción-UAA, Paraguai- (PY). Especialista em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira pela Faculdade Vale do Cricaré (2012). Graduada em Licenciatura Plena em Educação do Campo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), (2010).

[2] Doutora em Ciência da Educação pela Universidad Autônoma de Asunción – UAA (2011). Mestre em Serviço Social pela Universidade Federal do Pará – UFPA (2006). Especialista em Educação na Perspectiva do Ensino Estruturado para Autistas (2015). Especialista em Administração Escolar – UCAM (2005). Especialista em Ensino Superior pela Universidade da Amazônia – UNAMA (2001). Graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade da Amazônia – UNAMA – 1989 – Pedagoga na Secretaria Executiva de Educação do Estado do Pará – SEDUC (1993). Pedagoga da Coordenação Especial – COEES (2012).

Enviado: Abril, 2020.

Aprovado: Junho, 2020.

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Rutineia Silva Oliveira Dias

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