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O preconceito, a exclusão escolar e as dificuldades em se praticar efetivamente a Educação Inclusiva

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

RODRIGUES, Luciana Medina Pereira [1]

RODRIGUES, Luciana Medina Pereira. O preconceito, a exclusão escolar e as dificuldades em se praticar efetivamente a Educação Inclusiva. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 02, Vol. 13, pp. 135-147. Fevereiro de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/o-preconceito

RESUMO

A diversidade cultural é um dos assuntos que as instituições educacionais buscam sempre pontuar junto aos seus alunos. No entanto, na prática, vê-se que trabalhar com o que é diferente não é aceito com facilidade. A exclusão escolar faz parte do dia-a-dia de milhares de alunos que não se enquadram ao sistema educacional regular e não apenas aqueles que apresentam alguma deficiência diagnosticada. Este artigo traz à tona a realidade do que acontece dentro de um sistema inflexível e repleto de paradigmas. Serão abordados temas como o preconceito e a exclusão escolar, além das diversas dificuldades para se colocar em prática, de forma efetiva, a educação inclusiva. Algumas terminologias também serão abordadas neste trabalho, como educação especial, educação inclusiva, integração, inclusão, além de explicitar de forma breve em sua introdução algumas leis e documentos importantes que marcaram e marcam até hoje a evolução da educação no Brasil. Este artigo não contempla nenhuma pesquisa de campo sobre os temas explicitados, no entanto, o mesmo traz à tona, de forma clara e concisa, um olhar sobre os problemas enfrentados na área da educação inclusiva no Brasil.

Palavras-chave: educação inclusiva, exclusão escolar, dificuldades, preconceito.

INTRODUÇÃO

Sabe-se que o direito à educação deve ser algo para todos sem distinção, no entanto, a inclusão realmente acontece de forma efetiva? Quais os problemas e barreiras que crianças com dificuldades enfrentam? Crianças estas, aquelas com dificuldades em diversos sentidos, não apenas aquelas com deficiências diagnosticadas, mas todas aquelas que se sentem excluídas pelo sistema de alguma forma. Sendo assim, leis e documentos oficiais buscam garantir direitos no que diz respeito à educação e inclusão.

Nota-se o que diz a Constituição Federal de 1988 no que diz respeito à igualdade, independentemente de origem, raça, sexo, cor, idade, etc. Além do direito de todos à educação:

(Art.1º, incisos II e III) e, como um dos seus objetivos fundamentais, a promoção de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º, inciso IV). Ela garante ainda o direito à igualdade (art.5U) e trata, no artigo 205 e seguintes, do direito de todos à educação. Esse direito deve visar ao “pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para a cidadania e sua qualificação para o trabalho”. (MANTOAN, 2003).

A lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, a qual dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê que o Estado assegure à criança e ao adolescente atendimento especializado aos portadores de deficiência e de preferência na rede regular de ensino, conforme art. 54º (MIRANDA, 2012).

Também em 1990, o Brasil optou por aderir à Declaração Mundial sobre Educação para Todos/Jomtien/Tailândia, a qual propõe a constituição de um sistema educacional inclusivo (MIRANDA, 2012).

Em 1994, a Declaração de Salamanca surge como um marco na história da educação inclusiva e o Brasil opta por aderi-la. Nesta declaração ressalta-se que o sistema educacional tende a excluir os alunos considerados diferentes, privilegiando assim aqueles considerados “normais”. O documento afirma que a prática da educação inclusiva é o meio mais eficaz de se combater a discriminação, construindo assim uma sociedade inclusiva e de real educação para todos, sem distinção (STOBÄUS, 2003).

Em 1996, a lei nº 9.394 estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), onde deve ser assegurada a educação especial, conforme capítulo V. A educação especial é prevista como uma modalidade preferencialmente prestada na rede de ensino regular para aqueles alunos portadores de necessidades especiais, e esta deve assegurar “currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e a organização específica para atender às necessidades de aprendizagem desses alunos” (MIRANDA, 2012).

A Declaração de Salamanca, 2004, ressalta mais uma vez como princípio base que as escolas devem acolher todas as crianças, sem fazer distinção de condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas, etc. (MIRANDA, 2012).

Em 2008, o Atendimento Educacional Especializado (AEE) é trazido como uma inovação no campo da educação especial como forma de complementar a formação do aluno, “visando a sua autonomia, na escola e fora dela, constituindo oferta obrigatória pelos sistemas de ensino. É realizado, de preferência, nas escolas comuns, em um espaço físico denominado Sala de Recursos Multifuncionais”, conforme a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva e no decreto nº 6.571/2008. O público-alvo a ser atendido pelo AEE é formado por alunos com deficiência, alunos com transtornos globais do desenvolvimento e alunos com altas habilidades/superdotação (ROPOLI, 2010).

Em 2015, mais uma lei entra em vigor e marca mais um momento fundamental para a educação brasileira. A lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, a Lei Brasileira de Inclusão cria o conceito de integração total, podendo acarretar punições quando ocorrerem atitudes discriminatórias e obrigando as escolas públicas e privadas a acolherem alunos com deficiência no ensino regular, assim como adotar medidas de adaptação sem que seja feita cobrança adicional nas mensalidades ou matrículas. A diversidade passa a fazer parte do dia a dia das crianças, de forma obrigatória, a partir deste momento (SENADO NOTÍCIAS, 2016).

Nota-se que muitas leis e documentos marcaram momentos importantes na história da educação brasileira como um todo, e também no que diz respeito à educação inclusiva. Entretanto, há um longo caminho a ser percorrido para que a inclusão seja aplicada de forma concreta nas salas de aula, visto que preconceitos e diversas dificuldades contribuem para a exclusão escolar.

Este artigo traz à tona as dificuldades em se praticar a educação inclusiva nas instituições educacionais, a exclusão escolar e os preconceitos que, de forma intrínseca na sociedade, dificultam ainda mais o desenvolvimento eficiente do trabalho neste campo. Aborda-se também, de forma breve, algumas terminologias utilizadas como: integração, inclusão, educação especial e educação inclusiva. O mesmo foi desenvolvido por meio de uma pesquisa teórico-prática com base em obras voltadas para a área de educação inclusiva.

Em tempo, não é objetivo deste trabalho contemplar pesquisas de campo sobre os temas explicitados. No entanto, o mesmo traz um olhar, de forma clara e concisa, sobre os problemas enfrentados na área da educação inclusiva no Brasil.

1. A DIFERENÇA ENTRE AS TERMINOLOGIAS: INTEGRAÇÃO, INCLUSÃO, EDUCAÇÃO ESPECIAL E EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Qual a diferença entre integração e inclusão? “Integração” trata-se daquela educação dita como “especial”, a qual surgiu como uma forma de reunir os alunos com dificuldades com os demais alunos, considerados “normais”. Fazendo assim com que o sistema educacional regular se sobrecarregasse, pois receberia não apenas estes alunos, mas haveria também o deslocamento dos profissionais e especialistas, recursos, métodos e técnicas da educação especial para as escolas regulares (MANTOAN, 2003). A integração tinha o papel de trazer de volta à instituição de ensino todo aluno que em algum momento foi excluído desta.

A terminologia “educação especial” refere-se àquela educação que tem o objetivo de complementar a educação regular, fazendo-se valer o papel de uma educação democrática, para todos, além de reduzir a segregação. No entanto, esta era tida como uma prática assistencialista, onde a inclusão não era seu real objetivo (STOBÄUS, 2003).

Sendo assim, a “inclusão” veio para questionar as políticas públicas e buscar mudança em todo o aparato por trás do sistema educacional de ensino, além de uma transformação de seus paradigmas, antiquados e inflexíveis. Este novo modelo busca uma radicalização no sentido de que todos têm direito ao ensino, não apenas aqueles com dificuldades, mas todos aqueles que por algum motivo não se sentem acolhidos pelo sistema e não obtém sucesso em sala de aula (MANTOAN, 2003). Ou seja, a inclusão tem função de colocar em prática leis que estavam no papel, mas que não eram respeitadas efetivamente. Fazendo-se valer de fato uma escola e educação como um direito de todos e para todos, sem nenhuma distinção. Lugar onde a diversidade realmente está presente.

A respeito de educação inclusiva, a Declaração de Salamanca de 1994 acresce que:

A escola inclusiva é o lugar onde todas as crianças devem aprender juntas, sempre que possível, independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que elas possam ter, conhecendo e respondendo às necessidades diversas de seus alunos, acomodando ambos os estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a todos através de um currículo apropriado, arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de recurso e parceria com as comunidades (STOBÄUS, 2003).

Verifica-se que, a partir desta declaração o termo “educação inclusiva” começa a ser utilizado de fato, e visto como um processo revolucionário para o ensino no sentido de que a educação deve ser “eficiente, diferente, aberta, comunitária, solidária e democrática onde a multiplicidade leva-nos a ultrapassar o limite da integração e alcançar a inclusão” (STOBÄUS, 2003). O autor ressalta que o espaço escolar deve ter um papel realmente democrático onde o aluno com dificuldades aprende com aquele aluno sem dificuldades. O ambiente escolar deve fazer com que todos os alunos se sintam pertencentes, aceitos e apoiados, cada qual com suas diferenças.

As diferenças entre as terminologias “educação especial” e “educação inclusiva” são muitas, principalmente quando comparadas com a realidade dentro da sala da aula. Apesar do surgimento da “educação especial” como parte da educação regular, foi possível notar uma imensa barreira. O aluno com dificuldades continuava separado daquele considerado normal, no entanto, dentro da mesma instituição de ensino. Essa separação ocorria através dos diferentes aparatos, especialistas, salas de aula diferenciadas, etc. São alunos dentro de um mesmo prédio, separados por diferentes paredes e realidades, evidenciando ainda mais as diferenças entre os alunos. Diferenças estas que dentro de uma “educação inclusiva”, é tida como algo que soma, que beneficia, reduz de fato a segregação, coloca em prática a democracia e transforma as pessoas em melhores seres humanos, e não somente em melhores alunos.

2. O PRECONCEITO, A EXCLUSÃO ESCOLAR E AS DIFICULDADES EM SE PRATICAR EFETIVAMENTE A EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Em seu livro, Educação inclusiva: políticas, pesquisa e formação, Rozek e Viegas (2012) lembram que ser amigo de uma criança com dificuldade pode ser aprovado ou desaprovado pelas crianças a sua volta, o que pode impedir ou dificultar muitas vezes essas amizades. O autor menciona ainda que é importante que os professores se sintam confortáveis na sua capacidade de trabalhar com crianças com dificuldades e que a forma como o profissional irá reagir com tudo o que envolve esta criança, tanto em sala de aula com relação ao pedagógico como em relação aos outros alunos, tem um grande peso.

É importante que o professor saiba como direcionar bem as suas reações em sala de aula. O professor neste momento pode ser um bom exemplo para as crianças, ou na falta de preparação, disseminar ou contribuir para exemplos não favoráveis dentro do ambiente escolar. Trabalhar com educação inclusiva traz muitos desafios e por isso o professor precisa estar disposto a aprender sempre para ser o modelo de como reagir às mais diversas situações em sala de aula, de uma maneira respeitosa e afetuosa sempre, para que ações como essas sejam multiplicadas e levadas a diante.

Menciona-se Piaget no que diz respeito a inconsistência e que a mesma traz desconforto no tomar de decisões, devendo-se haver equilibrismo e diminuindo a discordância entre as pessoas. Rozek e Viegas (2012) diz:

Nos seus acordos com os outros, a maioria das pessoas querem sentir que são razoáveis, pessoas decentes, tomar decisões sensatas e agir moralmente com integridade. Agir de forma contrária aos nossos conceitos cria desconforto. A ideia de dissonância é essencialmente sobre quaisquer duas ideias, entretanto a dissonância mais poderosa vem à tona quando ideias dissonantes conflitam com ideias centrais à identidade. Podemos reduzir a dissonância e manter a consistência intra individual ao: mudar o comportamento, justificar o comportamento trocando uma das ideias dissonantes, justificar comportamento adicionando novas ideais (ROZEK E VIEGAS, 2012).

Rozek e Viegas (2012) mencionam alguns exemplos de situações em seu livro, no que diz respeito ao equilibrismo e redução de discordância em sala de aula, e de que forma a criança poderá responder. Um destes refere-se ao exemplo de quando uma criança é má com outra pelo fato de ser diferente dela. Ressalta-se que neste momento o professor deve aplicar a ressonância mostrando primeiro, que esta atitude é errada e que machuca o outro indivíduo emocionalmente. E segundo, o professor não aceitará isso em sala de aula. Desta forma, a criança poderá reagir das seguintes formas: 1) “Mudar o comportamento não sendo má; 2) Justificar o comportamento imaginando a criança como sendo inferior ao humano; 3) Ignorar você (o professor) adicionando a ideia de que você não faz diferença.”

Analisando-se as possibilidades em relação a redução de dissonância, ou discordância, entende-se que o professor tem um papel fundamental neste quesito. Nota-se que, a criança terá três formas de reação onde, duas delas refletem atitudes não desejáveis, as quais seriam, justificar o comportamento ou ignorar você. Ou seja, há 66% de chance da resposta da criança não ser a mais desejável, no que se diz respeito ao convívio social. Apenas 33% equivalem as chances dela de mudar completamente de atitude. Nota-se que, as respostas tendem para uma atitude não agradável ou desejável em relação ao convívio social.

Rozek e Viegas (2012) informam que, justificar o comportamento, racionalizar ou ignorar nova evidência ocorrem quando a ideia que a pessoa traz é importante para a sua identidade. A autora lembra que argumentos como aborto, pena de morte e direitos dos animais trazem a necessidade de se mostrar pontos de vista, mas dificilmente de se mudar a opinião do próximo e que neste momento os centros da razão estão inertes, abrindo espaço apenas ao campo da emoção.

Apesar do campo da emoção ser mais forte quando se defende a identidade, traz-se à tona a necessidade de se trabalhar a redução de preconceitos. No caso do professor, é importante assegurar que as crianças não se sintam bem ao serem más, e que entendam que é preciso se sentir bem ao fazer outras pessoas se sentirem bem, sendo positivas no contexto social e jamais o contrário. Ou seja, que o campo da razão seja evidenciado neste momento, deixando o campo da emoção, com suas justificativas, negações e racionalizações de lado. Se elas aprendem que ser mal para com o outro é algo bom, elas estão desvalorizando o próximo, e abrindo caminho para preconceitos (ROZEK E VIEGAS, 2012).

Outra forma mencionada por Rozek e Viegas (2012) sobre como mudar comportamentos e reafirmar boas práticas de convivência social, é pedir aos alunos para que escrevam sobre um determinado assunto e abordem ações necessárias à fim de se evitar um problema ou encontrar soluções para ele. Como por exemplo, a criação de bolsas escolares para alunos afro-americanos, a prevenção da AIDS e o uso de preservativos, o bullying e a prática da educação inclusiva. Esta reflexão através da escrita, ajuda na internalização e melhor entendimento de um problema de forma mais abrangente, refletindo assim sobre as atitudes e benefícios a serem alcançados para si e para os outros, além de facilitar a quebra de preconceitos.

Entende-se que, muitas vezes não é trabalhado este processo de reflexão junto aos alunos e até mesmo a prática da empatia no que diz respeito à educação inclusiva. Trabalhar a aceitação do “diferente” é tão importante quanto aprender matemática, história, geografia, inglês, etc. Conviver com pessoas diferentes é uma prática positiva em diversos aspectos, não só para aquele que apresenta uma dificuldade, mas também para os demais, que aprenderam a conviver com tais diferenças em um mundo tão misto e em busca de igualdade como este em que vivemos hoje. Em muitas instituições educacionais, mesmo que haja um aluno com algum tipo de dificuldade, procura-se não falar a respeito para inclusive, evitar o constrangimento do aluno, bullying ou comentários desnecessários. No entanto, é importante falar sobre o assunto e buscar formas diferentes de abordá-lo para não expor o aluno diretamente. Falar é uma das portas para se diminuir e quebrar o preconceito. Preconceito muitas vezes existente pela falta de conhecimento.

Sampaio e Sampaio (2009) pontuam em seu livro vários depoimentos de professoras da rede pública municipal, as quais participaram de um projeto sobre educação inclusiva. Estas profissionais ressaltam que a inclusão da criança com deficiência intelectual no ensino regular é uma “evolução na sociedade”. Uma das professoras diz:

…a proposta de inclusão é perfeita, eu acho que as crianças não têm que ficar lá no seu mundinho, só tendo contato com os seus iguais. Eu acho que tem mesmo que misturar com os outros, correr, conversar, interagir porque a troca vai promover um desenvolvimento maior… (SAMPAIO E SAMPAIO, 2009).

Outra professora participante do projeto diz:

O indivíduo aprende na interação com o outro, se essas pessoas com deficiência ficarem só interagindo, no mesmo espaço, com crianças com as mesmas deficiências, a troca de uma com a outra vai ser muito pouco (…), ao mesmo tempo em que eu sei que o conhecimento se dá em construção, vou ter a clareza de que meu aluno com deficiência (…) também vai estar aprendendo, mas com os saltos dele em momentos diferentes (…) Quando você parte de uma concepção movida por essas questões, você inclui numa boa […] (SAMPAIO E SAMPAIO, 2009).

No entanto, esta tarefa se torna muito mais difícil porque não apenas as crianças, mas também os professores demonstram nas mais diversas situações cotidianas diversos tipos de preconceito, visto que a sociedade em si apresenta preconceitos intrínsecos. Posto isso, a prática da educação inclusiva e o preconceito devem ser trabalhados primeiramente e mais a fundo com estes profissionais, antes mesmo que seja colocado em prática a educação inclusiva com os alunos.

Uma professora participante do projeto diz, “A relação do educador com a deficiência é muito difícil de lidar, até por causa do preconceito que a gente tem. A sociedade é muito preconceituosa”. E finaliza, “Agora é que esse conceito vem mudando. Não é mais deficiente mental, é criança especial” (Sampaio e Sampaio, 2009)

Sampaio e Sampaio (2009) informam que apesar das dificuldades na prática da educação inclusiva, seja pelos preconceitos intrínsecos na sociedade, ou pelo grande número de alunos em uma mesma sala, ou até mesmo pelas mais diversas situações que surgem ao longo deste artigo, ainda é possível perceber uma melhora nos alunos em inclusão quando estes são mediados e assistidos pelo professor e trabalham com outras crianças.

Em mais um depoimento sobre a obrigatoriedade da educação inclusiva e preconceitos intrínsecos na sociedade, uma das professoras diz:

A escola precisa ser de inclusão em todos os sentidos. Então tem, homossexualidade, a criança negra, a criança que vem com fome, todos os déficits que existem, que precisam entrar como fator de inclusão. Então, inclusão não é só do portador de deficiência (SAMPAIO E SAMPAIO, 2009).

Nota-se que, existe um entendimento por parte dos profissionais de ensino de que o preconceito faz parte do que somos, é intrínseco na sociedade. No entanto, em meio aos profissionais de educação entrevistados, vê-se também que ao invés de negar este problema há um entendimento e uma postura aberta para mostrar que o preconceito faz parte da sociedade e da forma como ela reage ao que é diferente. Posto isso, a solução e a mudança de postura devem também partir desta mesma sociedade, para que a área da educação possa então sofrer também mudanças positivas e adequadas.

Mantoan (2003), afirma também que o modelo educacional existente, cheio de paradigmas, ou seja, “regras, normas, crenças, valores, princípios”, e repleto de “formalismo da racionalidade” chegou a um momento de ruptura e incertezas. O modelo educacional, o qual era aplicado até pouco tempo antes da obrigatoriedade da educação inclusiva, já não acompanha mais a realidade da sociedade, se fazendo um modelo vazio de ideias, e ressalta que este modelo apresenta “há algum tempo sinais de esgotamento”. A autora traz também uma reflexão sobre a necessidade da inclusão não apenas de crianças com deficiência, mas também de diferentes raças, grupos sociais, religiões e gêneros, e que a escola pare de ignorar o que acontece ao seu redor:

As diferenças culturais, sociais, étnicas, religiosas, de gênero, enfim, a diversidade humana está sendo cada vez mais desvelada e destacada e é condição imprescindível para se entender como aprendemos e como compreendemos o mundo e a nós mesmos. […] Um novo paradigma do conhecimento está surgindo das interfaces e das novas conexões que se formam entre saberes outrora isolados e partidos de encontros da subjetividade humana com o cotidiano, o social, o cultural. (MANTOAN, 2003).

A inclusão precisa ocorrer em todos os sentidos. As barreiras existentes nas instituições educacionais são apenas reflexos do que existe fora da escola, dentro das famílias, nas conversas com amigos, nos ambientes empresariais, etc. O aluno negro precisa ser tratado como o aluno branco. O aluno católico precisa ser tratado como o aluno evangélico. O aluno pobre precisa ter a mesma assistência e atenção que o aluno rico tem. E o aluno com dificuldades precisa se sentir acolhido e pertencente assim como o aluno que aprende sem dificuldades. A inclusão precisa ocorrer para todos para que o preconceito e a exclusão sejam reduzidos significativamente na convivência em sociedade, e a inclusão realmente se faça presente.

“A exclusão escolar manifesta-se das mais diversas e perversas maneiras,” diz Mantoan (2003), tanto pelo fato de o aluno não saber com o que está lidando, quanto pelos padrões implantados pela escola. A escola se torna um dos proliferadores de preconceitos, pois ela abriu suas portas para novos grupos sociais, mas não está aberta a novos conhecimentos e a repassá-los para os seus alunos. Desta forma, aqueles que não estão de acordo com os padrões delimitados pela instituição de ensino não se encaixam ao sistema e não encontram abertura ao diálogo. Diálogo este que mostraria caminhos para novos conhecimentos e paradigmas, mas que não ocorre devido a tal exclusão e impedimento da entrada de novas informações e métodos.

A autora ressalta ainda que a inclusão total e irrestrita seria a oportunidade de se acabar com a exclusão e reverter o quadro atual nas escolas, porém faz-se necessário o desenvolvimento de um trabalho diferente. Deve-se haver um olhar para aquele aluno que necessita de apoio. Infelizmente, este é um caminho árduo e ao que parece, distante. Isso porque, é mais fácil trabalhar com “alunos que aprendem apesar da escola” e encaminhar alunos com dificuldades para os profissionais chamados de “especializados”, ao invés de se colocar em prática a educação inclusiva total. Mantoan (2003), lembra mais uma vez, assim como outros autores já citados, que este tipo de atuação demonstra constantemente que as instituições de ensino e professores buscam repassar o problema para outros, trazendo à tona o peso das próprias limitações profissionais.

A escola se transformou em um ambiente tão fechado e ligado a padrões que infelizmente fechou suas portas até mesmo para novos conhecimentos. Vivemos em um mundo que se transforma a cada dia e evolui com suas descobertas científicas e tecnológicas a cada segundo. Ao deparar-se com instituições de tamanha importância e peso na sociedade como as escolas, presas a paradigmas antiquados, nota-se que na verdade há muito o que se evoluir na área da educação e no que diz respeito a convivência social de fato, para que as crianças sejam melhores adultos em uma sociedade futura.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo buscou apresentar observações e pontos importantes sobre a educação inclusiva no Brasil. Neste trabalho foi possível analisar algumas de muitas dificuldades e preconceitos presentes no dia-a-dia de alunos que não se encaixam ao sistema educacional regular de ensino. Motivos estes que podem ser diversos, mas que em muitas vezes partem do ponto de que o sistema educacional continua a seguir velhos paradigmas e se mostra inflexível a mudanças e renovações, tornando-se o ponto chave no quesito exclusão escolar. Além do fato de que o preconceito é algo intrínseco na sociedade atual e faz parte do ser humano.

Apesar da educação inclusiva estar presente de forma constante nas discussões que envolvem as instituições de ensino e profissionais da área, verifica-se que a sua prática com eficiência tem um longo percurso a percorrer até que se possa ser colocada em prática com eficácia. Respeitando assim, a determinação de leis e documentos oficiais, e o direito de todos à educação sem distinção.

De fato, há diversos fatores que contribuem com a exclusão escolar de uma maneira geral como, o ambiente físico, investimento financeiro, quantidade de alunos por turma, quantidade de professores e investimento para um melhor preparo dos profissionais de ensino da educação regular. No entanto, como em muitos problemas que a sociedade enfrenta, a mudança se faz necessária primeiro no ser humano e na forma como ele lida e interage com os indivíduos a sua volta, respeitando assim, as diferenças e a diversidade cultural. Não por imposição de nenhuma lei, mas por ser o correto é o caminho de uma sociedade mais igualitária e sem preconceitos.

REFERÊNCIAS

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão Escolar: O Que é. Por quê. 1ª edição, Editora Moderna, 2003.

MIRANDA, Theresinha Guimarães e FILHO, Teófilo Alves Galvão. O professor e a educação inclusiva: formação, práticas e lugares. 2012.

ROPOLI, Edilene Aparecida et al. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar. A Escola Comum Inclusiva. Coleção: A educação especial na perspectiva da Inclusão Escolar. 2010.

ROZEK, Marlene e VIEGAS, Luciane Torezan. Educação Inclusiva: Políticas, Pesquisa e Formação. EDIPUCRS, 2012.

SAMPAIO, Cristiane T. e SAMPAIO, Sônia Maria R. Educação Inclusiva: O Professor Mediando Para a Vida. EDUFBA, 2009.

SENADO NOTÍCIAS. Com avanços na educação. Lei brasileira de inclusão completa um ano. Ano 2016. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/07/05/com-avancos-na-educacao-lei-brasileira-de-inclusao-completa-um-ano> Acesso em: 25 mai. 2020.

STOBÄUS, Claus Dieter. Educação especial: em direção à educação inclusiva. Edipucrs, 2003.

[1] MBA em Assessoria Executiva pela Universidade de São Caetano do Sul, Pós-Graduação lato sensu em Educação da Língua Inglesa pela Universidade Estácio de Sá, Pós-Graduação lato sensu em Educação Especial e TGD pela Faculdade Integrada de Brasília em parceria técnico-científica com a Faculdade Instituto Brasil de Ensino, Pós-Graduação lato sensu em Deficiências Múltiplas e Intelectuais pela Faculdade Integrada de Brasília em parceria técnico-científica com a Faculdade Instituto Brasil de Ensino, Pós-Graduação lato sensu em Práticas da Educação Bilíngue pelo Centro Universitário Uni Dom Bosco (dezembro 2021), Licenciatura em Formação Pedagógica pela Universidade Braz Cubas, Tecnóloga em Gestão de Marketing pelas Faculdades Metropolitanas Unidas, Técnica em Secretariado Executivo pela EMEF Alcina Dantas Feijão.

Enviado: Novembro, 2020.

Aprovado: Fevereiro, 2021.

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Luciana Medina Pereira Rodrigues

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