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Metodologias ativas de ensino: inovando o ensino para a construção de novos educandos

RC: 75717
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/inovando-o-ensino

CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

FERNANDES, Daniele Regina da Silva [1]

FERNANDES, Daniele Regina da Silva. Metodologias ativas de ensino: inovando o ensino para a construção de novos educandos. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed .02, Vol. 05, pp. 35-47. Fevereiro de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/inovando-o-ensino, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/inovando-o-ensino

RESUMO

O presente trabalho é uma revisão bibliográfica que parte da necessidade de discutir e refletir acerca do processo de ensino – aprendizagem na educação tanto nas escolas, quanto nas instituições de ensino superior – na perspectiva da formação do futuro profissional. Podemos constatar no processo histórico da educação que a transmissão de conhecimento sempre foi baseada em um ensino centrado no conhecimento do professor. Contudo as mudanças políticas e sociais têm exigido que a aquisição de conhecimento pelo educando seja baseada na construção de uma autonomia em que o estudante aprenda a aprender e com isso possa mudar sua realidade a partir da aprendizagem ativa.

Palavras-Chave: Metodologias ativas, Educação, Aprendizagem.

1. INTRODUÇÃO

As metodologias ativas de ensino representam uma forma de estímulo ao estudante para uma aprendizagem autônoma e participativa muitas vezes baseada em problemas de situações reais que precisam ser resolvidos o que impõe, portanto, um papel de protagonista ao aluno e favorece a construção de seu conhecimento (CHIARELLA et al., 2015).

Os benefícios do uso de metodologias ativas no processo de ensino aprendizagem são muitos, dentre eles está a transformação na forma de gerar o aprendizado já que ele proporciona que o estudante pense de uma forma diferente (“fora da caixa”) e resolva problemas a partir da conexão de ideias que, aparentemente, não estavam interligadas. Segundo Morán (2014) é necessário que as metodologias utilizadas permitam que os estudantes tenham iniciativa para desenvolver atividades cada vez mais complexas a fim de tomarem decisões e de avaliarem os resultados.

Esse texto foi escrito a partir de uma revisão bibliográfica temática a fim de refletir acerca da nova perspectiva do processo ensino aprendizagem a partir da compreensão das metodologias ativas. Para tanto, foi feita a busca por artigos, livros e publicações com conteúdo sobre a história da educação a fim de traçar um caminho para o entendimento da importância da construção do conhecimento do sujeito. Também é considerado nesse texto importância da autonomia do estudante sobre aquilo que ele deve/quer aprender e os meios existentes e que tornam possível essa apropriação a partir da utilização das metodologias ativas de ensino.

1.1 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Para falar sobre o histórico da educação utilizo o trabalho de Ribeiro et al. (2017) denominado “Breve História da Educação”. Segundo os autores a educação é a construção de conhecimentos e atitudes que acontece em momentos variados da vida do individuo e são essenciais para que o homem possa se integrar à sociedade.

De acordo com Ribeiro et al. (2017), podemos dizer que existem dois diferentes momentos que são de fundamental importância para a história da educação da humanidade: Período Antigo e Período Moderno.

O Período Antigo corresponde a pré-história, momento anterior à escrita, com educação primitiva e o objetivo de ajustar o individuo a seu ambiente físico e social por meio de experiências. O saber era disponível a qualquer pessoa e não existia classe social. Os educadores nesse momento eram os chefes de família e uma mudança importante acontece quando surge a divisão de trabalho na revolução neolítica estabelecendo-se então a divisão educativa. É quando acontecem transformações fundamentais para nossa cultura, visto que observamos o surgimento do pensamento filosófico que torna o conhecimento cada vez mais científico, mais especializado e de forma diferenciada, tanto pelos objetivos, quanto pelos métodos (RIBEIRO et al., 2017).

O Período Moderno destaca o Renascimento durante os séculos XV e XVI, quando as grandes descobertas e acontecimentos promoveram uma mudança significativa na concepção de homem e da própria sociedade: a produção teórica dos educadores da época aumentou sobremaneira, a quantidade de escolas e professores aumentou consideravelmente, manuais de “como ensinar” multiplicaram, conforme relata Aranha (1989). O ensino adulto foi separado do ensino infantil e embora tivesse sua intenção política, o aspecto disciplinar tornou-se muito severo colocando a escola como responsável pela educação moral do estudante. Nesse momento o ensino universitário encontrava-se em decadência e o protestantismo buscava uma educação universal com o Estado como responsável em oferecê-la a todos. Vale ressaltar que a Pedagogia Humanista representava nesse momento o ensino sem intenções religiosas e que buscava autonomia a fim de que as questões filosóficas não fossem consideradas como distintas do processo educativo (RIBEIRO et al., 2017).

No Brasil processo o educativo teve início no descobrimento a partir da catequese como atividade missionária que contribuiu sobremaneira para a dominação e, portanto, transformando a educação em agente colonizador.

De acordo com Teixeira (2015) a partir da independência política do Brasil passamos a observar a construção histórica de uma legislação com um sistema educacional com muitas fragilidades e que não conseguiu alcançar a universalidade do ensino visto que não possibilita até os dias atuais uma educação baseada na realidade social da maioria da população não dispondo de recursos necessários para tanto.

Saviani (2008) no trabalho “História da história da educação no Brasil: um balanço prévio e necessário” relata que, semelhante a outras partes do mundo, as primeiras escolas no Brasil tiveram influência e regência de Jesuítas, mas com a adesão às ideias iluministas surgiram as primeiras escolas públicas na reforma pombalina – a primeira tentativa de organizar a escola pelo poder imperial.

Quando acontece a passagem do regime monárquico para o republicano podemos observar uma tentativa de realizar uma nova configuração da educação no Brasil, conforme descreve Teixeira (2015) a partir do trabalho de Schuler e Magaldi (2009) em “Educação Escolar na primeira República: memória, história e perspectivas de pesquisa”. A discussão parte da ideia de um “marco-zero” para o ensino, ou seja, um novo regime político, com nova configuração política e social para promover o surgimento de um sistema educacional com nova regulamentação e estrutura, mas que claramente estava vinculado a conceitos ideológicos e políticos que não indicavam neutralidade.

Ainda hoje no Brasil não existe a prática consistente, nas escolas e mesmo nas instituições de ensino superior, de contemplar, no planejamento, a análise do mundo fora da instituição, do qual os estudantes vêm e para o qual a escola e a universidade precisam prepará-los, dando-lhes condições para poderem conviver nele com qualidade (TEIXEIRA, 2015).

Segundo Farias et al. (2015) a educação do século XX foi construída a partir das ideias de aprendizagem de pensadores como: Montessori, Frenet, Piaget, Vygotsky, David Ausubel, Paulo Freire e Michael Foucault (FARIAS et al., 2015).

Os recursos produzidos pelos avanços científicos e tecnológicos facilitam e, ao mesmo tempo, pedem ao homem, e consequentemente, à sociedade, um dinamismo jamais visto. As mudanças rápidas, os novos referenciais, a disponibilidade de uma soma muito grande de informações, o mundo da comunicação e da globalização, a inovação tecnológica contínua, a diversidade cultural; por outro lado, os grandes contrastes econômicos e sociais, os desafios com o desequilíbrio ecológico e a ameaça  à vida no planeta ,entre outros, exigem do ser humano criatividade, capacidade de adaptação a novos ambientes e situações, constante atualização, além de estar preparado para, em seu cotidiano, ser um exímio solucionador de situações complexas da vida (HENGENUHLE, 2011).

Quer dizer, além de ler, escrever e calcular o individuo terá que saber interpretar, operar inteligentemente, buscando soluções para as situações-problemas do cotidiano o que exige um ser humano com competência para realizar um trabalho sempre mais mental (BORDENAVE, 1989).

As instituições educacionais atentas às mudanças escolhem fundamentalmente dois caminhos: um mais suave e com mudanças progressivas tendo um modelo curricular com priorização do envolvimento do estudante em projetos interdisciplinares, ensino hibrido e sala invertida e outro mais amplo com mudanças profundas, inovadoras, disruptivos, sem disciplinas, com metodologia baseada em desafios, problemas, jogos e onde o educando aprende em seu próprio ritmo sob supervisão de docentes orientadores (MORÁN, 2014).

De acordo com Paulo Freire em “Pedagogia da Autonomia”, é necessário haver respeito pela autonomia do educando seja ele criança, jovem ou adulto: sua curiosidade, o gosto estético, a linguagem, a curiosidade não podem ser omitidas visto que ao fazer isso o professor está minimizando sua importância e eximindo sua própria obrigação de educar, formar esse aluno (FREIRE, 1996).

Uma importante reflexão sobre autonomia é que ela está implícita nos processos de aprendizagem e no desenvolvimento estudantil embora não seja corretamente utilizada no currículo escolar. É necessário que a autonomia seja orientada de forma correta para que o estudante tenha a mediação docente tanto para aprender os conceitos necessários como para dominar o processo de aprendizagem como parte de sua formação. Em resumo, autonomia está relacionada ao poder que o sujeito exerce a fim de construir seu emponderamento na construção de seu conhecimento (MARTINS e SILVA, 2014).

Conforme salienta Paulo Freire para aprender é necessário que o individuo se aproprie daquilo que é ensinado para que possa ser transformado, reinventado e aplicado em situações reais (FREIRE, 1983).

O estímulo do autodesenvolvimento, da autoaprendizagem só é possível a partir da auto regulação de um sujeito a partir da modificação de seu meio (MARTINS e SILVA, 2014).

1.2 METODOLOGIAS ATIVAS

Segundo Mizukami (1983) o método tradicional utiliza uma metodologia de ensino baseada em respostas padronizadas, baseada na capacidade de memorização e, portanto, a avaliação do aprendizado é feita a partir de aprovação ou reprovação baseado no quantitativo de conhecimento memorizado.

O formato de aula é a exposição excessiva e submissa de conteúdos aos estudantes, segundo Xavier (2003), com a intenção de ao final, termos um individuo “pronto”, com conteúdo suficiente para ser aplicado repetidamente em sua vida profissional. Contudo esse modelo não tem conseguido bons resultados no mercado profissional cada vez mais exigente já que recém-formados, frutos desse processo, demonstram insegurança em suas atuações (REIS, 2005).

As metodologias ativas surgem como alicerce no princípio teórico Freiriano, que tinha como proposta pedagógica a liberdade e inovação pressupondo um estudante autônomo de seu processo formativo (MACHADO e QUARESMA, 2019).

A problematização é utilizada como metodologia de ensino-aprendizagem ativo, com a meta de alcançar e motivar o estudante a partir da apresentação de problemas no cenário educacional a fim de que todos os envolvidos participem ativamente sempre centrados na realidade em que estão inseridos. (MITRE et al., 2008).

A utilização de metodologias ativas favorece a autonomia do estudante despertando curiosidade e estimulando a tomada de decisões tanto individuais como coletivas e quando utilizada por docentes ajudar a conduzir futuros profissionais de qualquer área do saber a uma formação crítica (BORGES E ALENCAR, 2014).

No método ativo, ao contrário do que ocorre no método tradicional, os estudantes passam a ser compreendidos como sujeitos históricos assumindo seu papel na aprendizagem, visto que tem suas experiências, saberes e opiniões valorizadas como ponto de partida para construção do conhecimento. (VIANA et al., 2018)

O uso de metodologias de ensino não tradicionais é uma tendência do século XXI e indica que a principal característica da educação é o deslocamento do enfoque individual para o enfoque político social apontando um novo rumo para as propostas educativas (PAIVA et al.,  2016).

O modelo de ensino tradicional tem como o foco o poder do conhecimento centrado unicamente no docente. Essa condição não possibilita que o professor consiga afirmar com segurança que o educando aprendeu o conteúdo e se compreendeu para que serve aquele conhecimento. Diante desse cenário vemos surgir termos como sala de aula invertida que vem demonstrando resultados significativos, com o estudante tendo que inicialmente coletar informações para em seguida assimilá-las a partir da mediação do professor que os ajuda a assumirem responsabilidade por sua aprendizagem o que corrobora com o pensamento de Paulo Freire que defendia que educador e educandos devem recriar o conhecimento (ROCHA e LEMOS, 2014).

Para Demo (2000) competência profissional é um conjunto de desafios do saber pensar e aprender a aprender e, portanto, onde não cabe mais a noção da ciência como estoque de conhecimentos apenas pela via simples da transmissão e sim a noção de processo permanente de construção.

Nesse processo é importante lembrar que hábitos são aprendidos para serem utilizados na execução de uma ação e que é o conhecimento que vai guiar essa ação (BERBEL, 2001). Como cita Guimarães (2003), “quando hábitos e conhecimentos estão unidos à motivação o sujeito percebe que foi ele quem realizou a mudança desejada”

À medida que os alunos se inserem na teorização e trazem elementos novos que ainda não foram discutidos em sala de aula a metodologia ativa então cumpre seu papel de despertar a curiosidade inserindo o estudante na busca de novos conceitos e as contribuições acatadas mostram valorização e são estímulos a percepção de competência e de pertencimento, além da persistência nos estudos (BERBEL, 2011).

Metodologias Ativas seriam então “processos interativos de pesquisa, estudo, análise, conhecimento e decisões tanto individuais como coletivas e tem a finalidade de solucionar um problema (BASTOS, 2006).

Diversos cursos de graduação têm atualizado seus projetos pedagógicos para que sejam incluídas as metodologias de ensino que permitam dar conta dos novos perfis esperados de seus profissionais (BERBEL, 2011).

As metodologias ativas são reconhecidas pelos princípios Freireanos que confirma que a educação é encorajada pela superação de desafios, a resolução de problemas e a construção de um novo conhecimento a partir de experiências prévias dos indivíduos. (FREIRE, 1983).

Os estudantes chegam as universidades atualmente imersos em uma realidade virtual, totalmente conectados em rede e vivenciando formas de aprender muito diferentes do ensino tradicional. Isso exige do docente uma nova postura além de novas estratégias para se relacionar com esse nativo digital (MOREIRA e ANDRADE, 2018). Com as metodologias ativas, as instituições se propõem a favorecer a motivação autônoma desse novo perfil de discentes.

1.2.1 METODOLOGIA DA PROBLEMATIZAÇÃO

A metodologia da problematização baseia-se na educação como uma prática social e coletiva (BERBEL, 1998). É uma forma de aprendizagem que contribui para a formação de profissionais críticos e capazes de transformar a sua realidade a partir de sua prática e que oportuniza observar, estudar e modificar a realidade com maior criticidade, criatividade e resolutividade (FUJITA et al., 2016). Freire (1996) corrobora com esse pensamento quando diz que aprendizagem tem relação com o ambiente, com o método utilizado e com a relação entre os indivíduos.

A problematização tem início quando instigamos o estudante a observar mais atentamente sua realidade e de modo mais crítico, possibilitando que o mesmo possa relacionar este cenário com a temática que está estudando permitindo que o discente perceba aspectos que poderão ser destoantes, contrastantes e observados a partir de ideias e valores já acumulados pelos educandos em seu conhecimento prévio (FIALHO e MACHADO, 2017).

A referência mais utilizada para a metodologia da problematização é o método do arco, de Charles Maguerez e de acordo com Bordenave e Pereira (1982) é desenvolvido a partir da observação da realidade ou um recorte da realidade (BERBEL, 1998).

1.2.2 A APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS

A aprendizagem baseada em problemas (ABP) é um método que vem ganhando espaço em muitas instituições de ensino superior, mas também no ensino básico tem sido utilizada em diversas disciplinas (SOUZA e DOURADO, 2015).

Segundo Barrows (1986), a ABP é um método de aprendizagem que utiliza problemas para a aquisição e integração de novos conhecimentos promovendo uma aprendizagem centrada no estudante e sendo o professor um facilitador do processo de construção do conhecimento. Equivalente a esse pensamento é o de Lambros (2004) que diz que a ABP é um método de ensino baseado no uso de problemas para a busca de novos conhecimentos.

Para Delisle (2000), a ABP “educa a partir da apresentação de um problema aos alunos que precisa ser resolvido”. Leite e Esteves (2005) definem ABP como uma metodologia que encaminha o discente na busca da solução de problemas e consequentemente o coloca em um papel ativo no processo de investigação, análise e síntese do conhecimento investigado.

O elemento central da ABP é o estudante sendo o grupo tutorial a base do método e onde os discentes são apresentados a um problema pré-elaborado e com a ajuda de um tutor, são estimulados a discutir e elaborar hipóteses. Esta condição motivadora nos grupos tutoriais leva a definição de objetivos de aprendizagem que serão os estímulos para o estudo individual (THOMPSON, 1996).

Os grupos tutorias funcionam com grupos de 10 a 12 estudantes e um tutor que apresenta um problema em formato de texto semanalmente e que deve ser discutido após uma extensa atividade de pesquisa dos alunos a fim de que seja solucionado (QUEIROZ, 2012).

2. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presença do tecnicismo, que utiliza a prática pedagógica mecânica, rígida, controlada e dirigida pelo professor, além de detalhadamente programada, valoriza fortemente a tecnologia e o professor se torna um mero especialista na aplicação de manuais com conteúdo fragmentado e torna o ensino desarticulado e fora do contexto social e político (MARIN et al., 2010).

A pedagogia crítica ganhou força no final da década de 70 e foi usada originalmente na Escola de Frankfurt e abriga um amplo espectro de reflexões filosóficas que comungam o pensamento de que a escola é o local de lidar com as condições sociais vividas; procuram a superação da dicotomia “trabalho intelectual e trabalho manual”, tendo como proposta formar o homem pelo e para o trabalho (MARIN et al., 2010).

Os métodos ativos de ensino baseiam-se na pedagogia crítica e trabalham, como já dito, com problemas, que irão servir para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem valorizando o aprender a aprender (BERBEL, 1998).

No Brasil a problematização se fundamenta nos princípios de Paulo Freire e tem como referência também os trabalhos de Bordenave e Pereira (2001) com o uso do Arco de Maguerez.

Já a ABP tem sua origem na Teoria da Indagação de John Dewey que diz que a aprendizagem parte de problemas ou situações que pretendem causar dúvidas ou desequilíbrios intelectuais que enfatizam a descoberta, a experimentação e a reflexão (GOMES e CASAGRANDE, 2002).

Edmunds e Brown (2010) comparam currículos que utilizam a ABP e o ensino médico tradicional, e, embora não seja observado diferenças substanciais entre os métodos, acreditam que as vantagens podem ser observadas com a evolução do profissional egresso, especialmente as características ligadas a autonomia, ao autodidatismo e ao desenvolvimento de uma postura profissional de base cientifica. Como vantagens da ABP pode-se citar a interdisciplinaridade como a mais importante delas.

A troca do conhecimento fragmentado em disciplinas pela utilização de situações reais, favorece uma aprendizagem mais significativa e ainda promove integração de conteúdos curriculares o que favorece o desenvolvimento de habilidades de comunicação para o trabalho em equipes, exposição de ideias, capacidade de argumentação e critica além de respeito à diferentes opiniões, autocritica, senso de responsabilidade, capacidade de gerenciar projetos e as atividades em grupo, também são pontos positivos da ABP (BORGES et al., 2014).

Lazzarin et al. (2007) assinalaram a necessidade de estratégias de ensino que contemplem o equilíbrio entre a excelência dos conhecimentos elaborados e as demandas sociais.

Saliba et al. (2008) e Ribeiro et al. (2007), analisaram em seus estudos que os resultados obtidos das metodologias ativas, quando comparados ao método tradicional de ensino, são muito significativos demonstrando que o aprendizado ativo gera curiosidade criativa, indagadora, fazendo com o que o estudante se transforme em um ser que vive uma realidade mutável. (FREIRE, 1983)

Metodologia Ativa é um termo relativamente novo, porém com uma base educacional já antiga. Paulo Freire e Dewey, por exemplo, não citam o termo, mas defendem a aplicação de tais princípios. Indo mais longe, a filosofia socrática já buscava ativar ouvintes através do método interrogativo (FREIRE, 2000; DEWEY, 1978).

Segundo Macedo et. al. (2018) as metodologias de aprendizagens ativas apresentam limitações, mas  são utilizadas em vários lugares no mundo e apresentam resultados positivos na autonomia do educando.

Por fim, podemos dizer que é uma proposta que provoca o educador partindo do princípio de que ele precisa aprender a ouvir, a se comunicar esquecendo hierarquias, a respeitar a individualidade e envolver os estudantes em atividades que façam sentido para eles e não para si. São ferramentas de extrema utilidade para a construção de um processo de ensino-aprendizagem muito mais criativo que transforma o individuo e o torna protagonista na busca pelo conhecimento gerando, portanto, autonomia sobre o que ele desejar aprender.

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[1] Mestre em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários.

Enviado: Agosto de 2020.

Aprovado: Fevereiro de 2021.

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Daniele Regina da Silva Fernandes

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