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Comparação vocal de professores de escola pública e privada da cidade de Dom pedro – MA

RC: 29268
181
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/comparacao-vocal

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

SILVA, Marysa Makine Carvalho [1], SILVA, Leandro Carneiro Pires da [2]

SILVA, Marysa Makine Carvalho. SILVA, Leandro Carneiro Pires da. Comparação vocal de professores de escola pública e privada da cidade de dom pedro – MA. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 04, Vol. 05, pp. 104-127 Abril de 2019. ISSN: 2448-0959

RESUMO

INTRODUÇÃO: As demandas excessivas às quais os professores são submetidos os expõem a fatores de risco à saúde vocal, podendo gerar incapacitação profissional. A Fonoaudiologia vem se dedicando a estudos e pesquisas sobre a voz dos professores, por ter grande importância na formação social, cultural e educacional dos indivíduos. OBJETIVO: Comparar o perfil e a demanda vocal de professores do Ensino Médio de escola pública e privada da cidade de Dom Pedro – MA. MÉTODOS: Professores de cada escola responderam um questionário com múltiplas perguntas relacionadas a aspectos laborais e à voz propriamente dita. Observou-se atuação in loco. Inicialmente, estimava-se a participação de 10 professores de cada instituição de ensino, porém devido a demanda de profissionais disponíveis, o quantitativo foi fechado em 05 docentes de cada escola. RESULTADOS: Média de turnos trabalhados, satisfação no trabalho e queixas vocais estão entre os aspectos assinalados comuns e/ou similares entre ambas as escolas. As maiores disparidades foram apontadas em: presença de sintomas e afastamentos do trabalho. CONCLUSÃO: Concluiu-se que existem semelhanças na maior parte dos aspectos observados entre as duas instâncias de ensino. Constata-se a necessidade de atenção às condições e fatores de risco à voz dos docentes que os levam a afastamentos e de que disponibilizem mais recursos para otimizar suas práticas. Requer-se fomento ao ingresso e acesso a serviços de orientação e reabilitação vocal por parte das direções escolares e/ou dos gestores da educação.

Palavras-chave: Voz, Professores, Disfonias.

INTRODUÇÃO

O número de professores que atuam na educação básica brasileira chega aproximadamente 2,2 milhões (1). Esses profissionais, contemporaneamente, têm sua atuação ultrapassando o exercício em sala de aula, sendo exigidos na gestão, no planejamento escolar e/ou na intermediação colégio/comunidade (2).

Tais demandas relacionadas ao desempenho de suas funções submetem os professores a uma gama de fatores de risco, que serão expostos no decorrer do estudo, à saúde vocal dos mesmos, com consequente probabilidade de incapacitação profissional, uma vez que a sua ferramenta de trabalho é a própria voz (3).

“A Fonoaudiologia – ciência que estuda a comunicação humana em suas manifestações normais e patológicas –, vem-se dedicando há algum tempo a análise vocal do professor, devido a grande importância que esse profissional exerce sobre a formação social, cultural e educacional dos indivíduos 4:8.”

A pluralidade de atuação citada anteriormente é o motivo pelo qual a classe profissional em destaque tem sido alvo de uma busca expressiva de estudos, apresentando-se como a mais investigada dentre os profissionais que têm na voz o seu instrumento laboral (5).

A voz exerce um papel primordial na comunicação humana. É um meio essencial de transmissão da mensagem. Desta forma, profissões como os professores estão sujeitas ao desenvolvimento de desordens no mecanismo de produção da voz, como as disfonias, uma vez que suas demandas vocais são intensas. Os professores, assim como outros profissionais da voz, necessitam de uma qualidade vocal agradável, e para que isso aconteça, as estruturas envolvidas no processo de fonação devem estar em condições íntegras (6).

Disfonias são quaisquer alterações na produção da voz que impedem e/ou dificultam sua produção de maneira harmônica. A rouquidão, pigarro frequente, falta de projeção da voz, podem sugerir um episódio de disfonia (7).

Um dado preocupante é que a classe profissional dos docentes é a mais frequente em distúrbios vocais. Essa afirmação provem do uso excessivo da voz e pela falta de informações referentes aos cuidados que se deve ter com a voz (8).

Esses profissionais são expostos aos fatores que podem desencadear perturbações vocais tais como: abusos vocais, clima, vícios, alimentação, disfunções hormonais, alteração no trato respiratório e falta de hidratação (9). Uma das causas também apontadas para o surgimento das disfonias em professores é a jornada de trabalho que, frequentemente, é extensa (10).

As manifestações vocais expressivas como gritar e tossir são reconhecidas como causas de traumas fonatórios e podem contribuir para a manifestação de lesões laríngeas como, por exemplo, os nódulos vocais. Outros autores corroboram quando apontam o pigarro e/ou a tosse como hábitos lesivos aos tecidos laríngeos (11).

Quando se busca distinguir os aspectos de produção vocal entre docentes do ensino privado e do ensino público os resultados se diferem, no ensino privado são constantes os sintomas vocais como dor na garganta durante a fala (12), (13). Tratando-se do ensino público, uma pesquisa realizada em São Paulo, mostrou que disfonias nos professores são fatores externos acometidos por estresse (14).

Diversos estudos sugerem o conhecimento e aprofundamento da relação existente entre o instrumento que se usa para trabalhar com sua saúde corporal como um todo, as condições de trabalho e qualidade de vida (15),(16).

Esse estudo buscou comparar o perfil e a demanda vocal de professores do Ensino Médio de uma escola pública e uma privada da cidade de Dom Pedro – MA.

MÉTODOS

O presente estudo é do tipo observacional, analítico, transversal, qualitativo e quantitativo, tendo sua amostra composta por professores do Ensino Médio de uma escola

pública e de uma escola privada de uma cidade do Estado do Maranhão. Utilizou-se uma amostra não aleatória e a coleta de dados foi realizada no mês de agosto de 2017. A pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em pesquisa do Hospital e Maternidade São Domingos, (ANEXO 1).

Inicialmente, estimava-se a participação de 10 professores de cada instituição de ensino, mas devido a demanda de profissionais disponíveis, o quantitativo foi fechado em 5 docentes de cada escola. Os participantes foram convidados a participar da pesquisa, com entrevista realizada na própria sala dos professores, em seguida os mesmos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecimento – TCLE. Observou-se o ambiente de trabalho, a quantidade de alunos em cada sala, os cuidados com a voz que cada professor dispõe e como o professor usa a voz durante o seu trabalho, isto é, seus hábitos vocais. Cada participante respondeu um questionário (ANEXO 2)17 com perguntas de auto avaliação vocal, relacionadas à voz e ao seu trabalho. O questionário continha 08 questões concernente à sua voz, e as outras 10 questões eram relacionadas a aspectos laborais, ressaltando que das 10 questões foram excluídas 3, pois as mesmas não tinham relevância para a pesquisa. Esse questionário foi aplicado fora do momento de sala de aula dos docentes.

RESULTADOS

Antes da exposição dos resultados propriamente ditos, inicia-se essa sessão com alguns dados complementares que foram fruto da análise in loco da rotina dos professores participantes deste estudo e que não eram aspectos abordados pelos questionários. No ensino público, foi visto que há pouca disponibilidade de água para os professores, salas grandes com bastantes alunos, pouca ventilação. Os professores não utilizavam vestuário aparentemente confortável. Foi observado também que os professores durante os intervalos conversam entre

si e/ou com alunos, tirando dúvidas, por exemplo, prolongando a utilização vocal e não permitindo o repouso da mesma.

No ensino privado, foi observado também que há pouca disponibilidade de água, barulho de ar condicionado, fatores que levam o docente a utilizar intensidades vocais maiores para melhor projeção vocal. Aplicação de diversas atividades em salão livre da escola (pátio), com acústica desfavorável, onde o microfone nem sempre é utilizado. Em ambas as escolas foram observados: gritos, pigarros frequentes, pouca hidratação, prolongamento do uso da voz, utilização de recursos (microfone, somente isso diferenciou-se da escola pública), fadiga corporal e vocal, postura corporal inadequada.

Segue-se os questionamentos apresentados aos participantes:

Os primeiros aspectos analisados pelo questionário visavam o conhecimento e agrupamento de informações quanto à atividade laboral destes profissionais. Foram avaliados 07 tópicos (Tabela 1).

O primeiro relacionado ao tempo médio de exercício profissional, o qual apontou, na escola pública, intervalo entre 08 e 25 anos, média de 15 anos. Na escola privada esse intervalo compreendeu-se entre 14 e 22 anos de atuação, média de 15,5 anos.

O segundo ponto é relacionado com a carga horária de trabalho semanal. Na escola da Rede Pública de Ensino apurou-se o quantitativo de 09 a 60 horas/semanais, sendo a média de 31,8 horas/semanais. Na escola privada, 20 a 50 horas/semanais, média de 34,4 horas/semanais.

O terceiro aspecto, média de turnos trabalhados, na rede de ensino pública: 6 turnos, bem como na escola privada: 6 turnos.

Quarto ponto, média de alunos por sala: escola pública indicou entre 35 a 40 alunos, uma média de 188 alunos. Na escola privada, entre 27 a 35 alunos, média de 157 alunos.

Quinto ponto foi referente outras atividades exercidas pelos professores, relacionadas ao trabalho desenvolvidas após turno de trabalho, na escola pública apontou todos os professores realizam sim tarefas após o turno de trabalho, assim como os professores da escola privada.

O sexto aspecto buscou ter conhecimento se os professores possuem satisfação no desempenho de sua profissão, tanto da escola pública quanto da escola privada possuem absoluta satisfação.

O sétimo e último ponto dessa parte do protocolo é relacionado aos fatores presentes no ambiente de trabalho que são prejudiciais a voz, tanto na escola pública quanto na privada mostraram predominância nas queixas de ruído e poeira.

A segunda parte do questionário englobava fatores relacionados à voz, propriamente dita.

Foram ponderadas 08 questões (Tabela 2).

A primeira refere-se à autoanálise da qualidade vocal dos professores, referindo-se à impressão que os profissionais têm sobre a própria voz. Na escola pública, 01 professor descreveu a voz como ruim; 01 professor descreveu sua voz como razoável; 03 professores avaliaram sua voz como boa. Na escola privada 01 professor qualifica sua voz como boa; 01 professor relatou que sua voz é razoável; 03 professores disseram que sua voz é muito boa.

A segunda questão é relacionada à presença de sintomas vocais. Na rede escolar pública 01 professor indicou sentir tosse; 02 professores indicaram rouquidão; 02 professores assinalaram a opção de falha na voz; 03 professores colocaram que sentem piora na voz após uso prolongado. Na rede escolar privada, 01 professor apontou que tem sensação de bolo na garganta; 01 professor assinalou a opção falha na voz; 02 professores apontaram rouquidão; 02 professores sentem piora na voz após uso prolongado.

O terceiro aspecto apontado questionava sobre possíveis afastamentos do trabalho por problemas vocais onde constatou-se que, dos 05 professores da escola pública, 01 foi afastado

uma vez; 01 afastou-se em quatro ocasiões; outros 02 professores foram afastados duas vezes. Na escola privada somente 02 professores tiveram que ser afastados: 01 professor ausentou-se duas vezes e 01 professor distanciou-se em uma ocasião.

Em quarto lugar buscou-se investigar os hábitos vocais nocivos presentes na rotina dos professores. Fatores comuns em ambas as instituições foram: mudança brusca de temperatura e alimentos gelados, esse segundo aspecto foi assinalado por professores que sentem que isso prejudica e afeta a atuação vocal.

A quinta preocupação do questionário foi o conhecimento do exercício de atividade (s) vocal (is) secundária (s), extra sala de aula, fosse profissional ou apenas como hobbie. Na escola da rede pública, 02 professores referem resposta positiva. Na escola da rede privada, somente 01 afirma positivamente tal hábito.

O sexto questionamento referiu-se ao conhecimento prévio sobre os cuidados vocais, se cada professor continha alguma informação sobre o uso da voz para a atuação profissional, foi obtida a mesma quantidade da escola pública e da privada, professores que marcaram sim foram 03 docentes, e que marcaram não, foram 02 professores, esses quantitativos foi visto em ambas as escolas.

O sétimo questionamento buscou saber dos docentes da realização de tratamentos vocais anteriores. Na escola pública 01 professor buscou tratamento para sua voz por meio de medicamentos e 01 outro professor por meio de cirurgia. Na escola privada somente 01 professor realizou tratamento vocal, sendo ele terapia fonoaudiológica.

O último apontamento questionava sobre a presença de outros problemas de saúde global associados. Na instituição pública, 01 professor relatou ter problemas digestivos e dores de garganta frequente; 01 apontou ter distúrbio hormonal e dores de garganta frequente; 01 professor diz que dispõe de um distúrbio alérgico e dores de garganta frequente e 02

relataram não ter. Na escola privada, somente 01 professor relatou que sente dores de garganta, os outros 04 docentes não apontaram.

Tabela 1: Aspectos relacionados ao trabalho

ASPECTOS AVALIADOS ESCOLA PÚBLICA ESCOLA PRIVADA
TEMPO MÉDIO DE EXERCÍCIO PROFISSIONAL 15 anos 15,5 anos
CARGA HORÁRIA MÉDIA 31,8 horas semanais. 34,4 horas semanais.
MÉDIA DE TURNOS TRABALHADOS 6 turnos. 6 turnos.
TOTAL DE ALUNOS 188 alunos. 157 alunos.
OUTRAS ATIVIDADES RELACIONADAS AO TRABALHO DESENVOLVIDAS PÓS TURNO DE TRABALHO Todos os professores evidenciaram que executam outras atividades. Todos os professores evidenciaram que executam outras atividades.
SATISFAÇÃO PROFISSIONAL Todos os professores demonstraram estar satisfeitos com o trabalho.

(05 professores)

Todos os professores demonstraram estar satisfeitos com o trabalho.

(05 professores)

FATORES AMBIENTAIS NOCIVOS A VOZ Predominaram queixas quanto a ruído e poeira. Predominaram queixas quanto a ruído e poeira.

Fonte: autoral

Tabela 2: Aspectos Vocais

Fonte: autoral

DISCUSSÃO

Um dos fatores que apontam para o desenvolvimento de dificuldades vocais em professores é a jornada de trabalho que frequentemente é longa (10). Os dados aqui obtidos demonstram que os professores dispõem de uma carga horária extensa e também atuam em diversos turnos, tendo que lecionar para uma quantidade ampla de alunos gerando, então, prejuízo  à voz devido à demanda expressiva. e distúrbios vocais têm elo com a vasta quantidade de alunos e o tamanho das turmas, juntamente com a numerosa jornada de materiais estudados e lecionados 18. Desta forma, acometimentos vocais como rouquidão predispõem-se quando relacionados à quantidade de alunos em sala de aula (19).

A correspondência entre cargas excessivas e acometimentos vocais já é fato conhecido de pesquisas com professores (20). A despeito da carga horária de trabalho – com média de 40 horas semanais -, muitos professores levam para casa atividades adicionais que não têm viabilidade de ser executadas dentro das horas já mencionadas, o que ocasiona efeitos nocivos sobre a sua condição de saúde vocal e global desses profissionais. Obtiveram-se resultados nesse estudo que confirmam que os professores de ambas as escolas realizam atividades relacionadas ao trabalho após o turno de atuação.

Mediante uma investigação feita, a satisfação ou insatisfação profissional desses professores têm ligação com aspectos intrínsecos e extrínsecos, havendo impacto direto da emoção sobre a voz (21). No outro extremo pode ocorrer o contrário, onde um mau desempenho vocal pode promover alterações psico-emocionais, interferindo, dessa forma, na qualidade de vida e desempenho profissional. No entanto, nessa pesquisa expressou-se absoluta satisfação no ambiente de trabalho em ambas as escolas (22),(23).

Atualmente fatores ambientais obtiveram mais destaque em relação à saúde vocal dos professores. Em ambas as instituições observou-se a presença de fatores ambientais nocivos à voz como poeira e ruído ambiente. Esses dados em sua pesquisa descrevendo que os fatores nocivos à voz dos docentes mais presentes são os aspectos ambientais, citando: ruído,

estresse, exposição a produtos químicos e presença de poeira e/ou fumaça (3). Sons externos também são responsáveis pelo desenvolvimento de distúrbios vocais: conversas nos corredores, sinais de intervalos, movimentação fora da escola, interferem e competem com a voz do docente enquanto em aula. Dentro das salas de aula, cita-se, ainda, o ranger de cadeiras, que os obriga à manutenção de intensidades vocais elevadas.

Em um estudo os resultados apontaram que em um grupo de professores com queixas vocais, a autopercepção de severidade dos problemas relacionados à voz é expressiva (24). Os professores manifestam alterações na voz pelo esforço e cansaço desenvolvendo sintomas como rouquidão e dificuldades em manter a voz. No Brasil e em outros países foram desenvolvidas diversas pesquisas que demonstravam interesse não apenas na presença de alterações vocais em professores, mas também no interesse dos mesmos profissionais de referir tais alterações. Evidenciou-se prevalência de até 80% quanto a alterações de voz (8). No presente estudo alguns dos sintomas que os professores do ensino público apresentaram foram comuns aos dos professores do ensino privado, tais como: rouquidão, falha na voz e piora após uso prolongado. Alguns foram ímpares: no ensino público, por exemplo, citou-se a presença de tosse; na instituição de ensino privado houve referimento de sensação de bolo na garganta (globus faríngeo), com consequente necessidade de esforço para falar.

Quando a fisiologia vocal não é utilizada adequadamente, ou seja, quando há alguma dificuldade em sua produção, diz-se que o individuo tem uma disfonia. Em uma coleta de dados em uma escola do Rio de Janeiro pontuaram a disfonia e outros fatores como motivacionais para o afastamento dos docentes das salas de aula (25). Nas escolas referidas na presente pesquisa, o afastamento foi necessário, também, em decorrência das disfonias, o que aconteceu em maior número na instituição pública.

Os professores pontuaram, ainda, mediante os dados obtidos, que à mudança brusca de temperatura a afeta diretamente na atuação vocal. Tal queixa foi comum à ambas escolas. A

exposição a esses entre outros fatores (abusos vocais, clima, vícios e má alimentação), apresentam-se etiologicamente para o surgimento de sintomas como dores de garganta (26). No ensino privado são constantes os sintomas vocais como dor de garganta durante a fala e que no ensino público as disfonias potencializadas por fatores externos como estresse são mais frequentes (12),(13).

As disfunções vocais em professores são amplamente associadas ao pouco ou nenhum conhecimento técnico e de salubridade vocal prévios, ou ainda à uma técnica vocal inapropriada (27). Na presente pesquisa os resultados das duas escolas foram similares, nas duas vertentes alguns dos os professores participantes não dispõem de conhecimentos algum sobre a voz, contudo a maioria dos professores retêm informações sobre o uso da voz.

Os docentes compõem um grupo com grau de risco vocal elevado quando comparados a outras profissões – 50% dos professores sofrem com distúrbios vocais (28). Dados de uma pesquisa demonstram que, quanto à busca de tratamentos para as limitações vocais os docentes procuram três vezes mais ajuda profissional por causa de alterações vocais (otorrinolaringologista e/ou fonoaudiólogo) (29). Quanto aos profissionais participantes deste estudo, identificou-se que a busca pelo apoio profissional para aprimoramento e reabilitação vocal, mesmo na presença de afecções e queixas vocais, ainda é pouco expressiva.

Esses profissionais, além do distúrbios vocais, ainda apresentam como queixa, comumente, distúrbios gástrico-digestivos, disfunções hormonais, alteração no trato respiratório (30). No presente estudo, resultados confirmam isso, pois outros problemas de saúde foram apontados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo buscou identificar e confrontar o perfil vocal dos professores das duas escolas, uma pertencente à rede pública de ensino e outra à rede privada, da cidade de Dom Pedro-MA.

Observou-se que dos objetos de questionamento dos professores, a maior parte identificou semelhanças entre os professores das duas instâncias de ensino.

Constata-se a necessidade de atenção às condições, limitações e fatores de risco aos quais esses profissionais são submetidos e que favorecem os afastamentos de sala de aula e as alterações vocais e globais, isto é, estado de saúde como um todo, suprindo de recursos que os permita adequarem-se e corresponder às demandas que foram impostas.

A busca e o acesso a profissionais capazes em orientação e reabilitação vocal ainda é pouco expressiva para ambas as realidades, revelando a imprescindibilidade do fomento ao ingresso a esses serviços, seja mediante ação das direções escolares ou por parte dos gestores da educação, permitindo um reforço na forma de exercício profissional, e, por consequência, refletindo em outras esferas além da profissional do contexto dos docentes.

REFERÊNCIAS

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<http://download.inep.gov.br/educacao_basica/censo_escolar/notas_estatisticas/2017/notas_e statisticas_censo_escolar_da_educacao_basica_2016.pdf.> Acesso em: Setembro de 2016.

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  12. Rantala RM, Hakala SJ, Holmqvist S, Sala E. Connections between voice ergonomic risk factors and voice symptoms, voice handicap, and respiratory tract diseases. J Voice. Estados Unidos, 2012;26(6):819.e13-20
  13. Jung, CR. O estresse e a voz. Porto Alegre: Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica – Revista CEFAC; 1999.
  14. Ramig L, Verdolini K. Treatment efficacy: voice disorders. J. Speech Lang. Hear. Res. Estados Unidos, 1998;41(1):101-6.
  15. Orlova OS, Vasilenko IS, Zakharova AF, Samokhvalova LO, Kozlova PA. The prevalence, causes and specific features of voice disturbances in teachers. Vestn. Otorrinolaringol. Estaos Unidos, 2000;5:18-21
  16. Ricarte A, Bommarito S, Chiari B. Impacto vocal de professores. São Paulo, Revista Cefac. 2011; 13(4):719-727.
  17. Provenzano LCFA, Sampaio TMM. Prevalência de disfonia em professores do ensino público estadual afastados de sala de aula. Revista CEFAC. Jan-Fev. Rio de Janeiro, 2010.
  18. Caporossi C, Ferreira LP. Sintomas vocais e fatores relativos ao estilo de vida em professores. Revista CEFAC, São Paulo, 2010.
  19. Boone DR. Sua voz está traindo você; como encontrar sua voz natural. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
  20. Anhaia TV, Gurgel LG, Vieira RH, Casso M. Intervenções vocais diretas e indiretas em professores: revisão sistemática da literatura. Porto Alegre (RS) 2013. Revista Audiology – Communication Research, 2013;18(4):361-6.
  21. Zambon F, Behlau M. A voz do professor – aspectos do sofrimento vocal profissional. Salvador 2009. Pag. 16-28.
  22. Rodrigues G, Vieira VP, Behlau M. Saúde Vocal Profissionais da Voz. São Paulo, 2011.

ANEXO – 01

ANEXO – 01

ANEXO – 01

ANEXO – 02

Questão de auto-avaliação vocal e questionário com questões relacionadas à voz e ao trabalho dos professores

Silvia Tieko Kasama. 2008 pag 114.

Dados pessoais:

Idade: Sexo: F ( ) M ( )

Estado civil: Escolaridade:

Número de filhos:

Telefone para contato:

Dados relacionados a voz:

  1. Como você avalia a sua voz?

( ) excelente ( ) muito boa ( ) boa ( ) razoável ( ) ruim

  1. Presença de sintomas:
( ) rouquidão ( ) perda de voz ( ) falha na voz
( ) pigarro ( ) sensação de bolo na garganta ( ) dor à fonação
( ) tosse ( ) piora na voz após uso prolongado ( ) esforço para falar
  1. Já ficou afastado do trabalho por problema vocal? ( ) Sim Quantas vezes?

( ) Não

  1. Assinalar os hábitos presentes em sua rotina:

( ) fumo ( ) alimentos gelados ( ) álcool ( ) mudanças bruscas de temperatura

  1. Você exerce alguma atividade que utilize a voz fora do ambiente escolar (exemplo: coral, palestras, vendas, cuidar de crianças…)?

( ) Sim ( ) Não

  1. Você acha que tem conhecimento sobre o uso da voz para a sua atuação profissional?

( ) Sim ( ) Não

  1. Já realizou tratamento de voz?

( ) Sim Qual? ( ) terapia fonoaudiológica ( ) cirurgia ( ) medicamentos ( ) outros ( ) Não

  1. Assinalar os problemas de saúde apresentados:

( ) distúrbios alérgicos ( ) dores de garganta frequente

( ) distúrbios de saúde mental ( ) problema cardíaco

( ) problemas digestivos ( ) problemas otológicos ( ) distúrbio hormonal

Dados relacionados ao trabalho:

    1. Tempo de exercício da profissão:
    2. Assinalar para qual nível leciona:

( ) educação infantil ( ) ensino fundamental ( ) ensino médio

    1. Carga horaria semanal:
    2. Em quantos períodos trabalha atualmente?

( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 (manhã, tarde e noite)

    1. Número médio de alunos por sala:
    2. Em quantas escolas trabalha atualmente?

Número de escolas: ( ) pública ( ) privada

    1. Você leva trabalho para casa? ( ) Sim ( ) Não
    2. Você tem satisfação no desempenho de sua profissão? ( ) Sim ( ) Não
    3. Assinalar os fatores presentes no ambiente de trabalho:

( ) ruído ( ) poeira ( ) umidade ( ) iluminação adequada ( ) má iluminação

( ) temperatura adequada ( ) temperatura inadequada (muito frio/muito quente)

    1. Há problemas de relacionamento no ambiente de trabalho? ( ) Sim Com quem? ( ) direção ( ) pais

( ) Não ( ) alunos ( ) funcionários

[1] Fonoaudióloga pela UNICEUMA, conclusão: 2014; Especializanda em Motricidade Orofacial pela USCS.

[2] Graduação em Fonoaudiologia pela Universidade CEUMA de São Luís – MA (2012), Especialista em Motricidade Orofacial com atuação em voz clínica e profissional; preparação vocal e aprimoramento em comunicação assertiva. Motricidade Orofacial.

Enviado: Abril, 2018

Aprovado: Abril, 2019

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Marysa Makine Carvalho Silva

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