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Demonstrações dos sentimentos, objetos e atividades de estudantes do Ensino Médio de Manaus/AM, durante a pandemia da COVID-19, por meio de desenhos

RC: 70742
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/demonstracoes-dos-sentimentos

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

OLIVEIRA, Hebe Souza de [1], PETERSEN, Thiago Alexandre [2]

OLIVEIRA, Hebe Souza de. PETERSEN, Thiago Alexandre. Demonstrações dos sentimentos, objetos e atividades de estudantes do Ensino Médio de Manaus/AM, durante a pandemia da COVID-19, por meio de desenhos. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 12, Vol. 13, pp. 173-194. Dezembro de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/demonstracoes-dos-sentimentos, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/demonstracoes-dos-sentimentos

RESUMO

O novo coronavírus mudou radicalmente a rotina das pessoas em todo o planeta e do dia para a noite. Por causa da pandemia, as aulas presenciais foram temporariamente suspensas em escala global. No Brasil, as aulas presenciais também foram interrompidas como medida de segurança. Manaus foi umas das capitais mais afetadas pela COVID-19, com alto percentual de mortalidade. Mas, apesar disso, a cidade foi uma das primeiras do país a retornar às aulas presenciais para os estudantes do ensino médio. Diante disso, surgiu a pergunta, o que os estudantes fizeram durante a pandemia? Usando desenhos autorais, esta pesquisa verificou os objetos, as atividades e os sentimentos mais enfatizados pelos estudantes do ensino médio durante a pandemia. Nesta pesquisa foram analisados 141 desenhos, feitos como uma atividade da disciplina “Arte”, em duas escolas da rede pública de Manaus, capital do Estado do Amazonas, Brasil. Os desenhos foram analisados pelo método da análise de conteúdo. Os objetos mais destacados foram a TV, a cama e o celular. Dessa maneira, as atividades mais ressaltadas foram assistir à TV, dormir e usar o celular. Cerca de 40% dos estudantes demonstraram dividir bem seu tempo em casa e fizeram várias atividades. Entretanto, aproximadamente 60% dos estudantes demonstraram dificuldades em aproveitar produtivamente seu tempo. Os sentimentos mais frequentes foram negativos, como: confusão, insegurança, ansiedade, solidão, medo e depressão. Os sentimentos positivos mais frequentes foram: a afeição aos animais e o amor de namorados. Em cerca de 20% dos desenhos, pôde-se observar referências a COVID-19, além de medidas preventivas. Concluiu-se que os estudantes foram afetados pela pandemia, a maior parte teve dificuldade em organizar sua rotina e distribuir bem o seu tempo. Além disso, os sentimentos mais destacados foram negativos, o que mostrou que muitos estudantes sentiram medo e insegurança diante da COVID-19.

Palavras-chave: COVID-19, pandemia, escola, estudante, aula.

1. INTRODUÇÃO

Pode-se afirmar que 2020 foi um ano incomum para a população mundial. De repente, por conta de um vírus, houve uma drástica mudança na rotina das pessoas. A suspensão das aulas presenciais em quase todos os lugares do planeta foi uma das medidas de segurança adotadas para evitar a propagação da COVID-19 (ONU, 2020). Sendo assim, o que os estudantes fizeram na pandemia? Fazer um questionário com perguntas e respostas, objetivas ou não, de certa maneira, poderia esconder algo não pensado pelo pesquisador e por isso não perguntado. Dessa maneira, foi mais proveitoso deixar que o aluno pudesse se expressar livremente, deixar o estudante sem receio para dizer o que foi importante para ele durante a pandemia. Diante disso, o desenho autoral foi uma ferramenta útil, uma vez que o desenho é uma forma de comunicação (PEIXOTO, 2013). Na verdade, foi por meio de desenhos que o homem começou a se comunicar graficamente. O desenho é uma das manifestações artísticas mais antigas realizadas pela espécie Homo sapiens, que nos primórdios da humanidade já fazia arte rupestre (JUSTAMAND et al., 2017). Portanto, se o desenho pode ser considerado como uma forma de comunicação, é coerente dizer que é também uma linguagem.

Desenhar não constitui, somente, uma atividade prazerosa e divertida, mas vai além disso, trata-se de desenvolver uma linguagem com potencial imensurável para a comunicação, amplamente utilizada no período em que vivemos, em que as informações precisam ser transmitidas com uma velocidade nunca antes imaginada, já que vivemos na era da imagem (PEIXOTO, 2013, p. 75).

Diante disso, este estudo analisou desenhos feitos por estudantes do ensino médio, numa atividade da disciplina “Arte”, realizada em duas escolas da rede pública de ensino de Manaus, capital do Estado do Amazonas. O objetivo desta pesquisa foi verificar quais os objetos, as atividades e os sentimentos mais destacados pelos estudantes durante a pandemia causada pelo novo coronavírus, em 2020. Sendo assim, os estudantes, por meio dos seus desenhos, expuseram o que foi mais representativo para eles durante o período da pandemia.

1.1 A PANDEMIA CAUSADA PELA COVID-19

Em 11 de março de 2020, em Genebra, na Suíça, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou que a doença causada pelo coronavírus (SARS-CoV-2), denominada “COVID-19”, havia sido caracterizada como uma pandemia (OPAS, 2020). “Uma pandemia é uma doença infecciosa, transmissível e mortal que se espalha por vários países e regiões do mundo. Ela se difere de uma epidemia devido às suas maiores proporções” (PEREIRA; NARDUCHE; MIRANDA, 2020, p. 223). No Brasil, o Ministério da Saúde, por meio da Portaria nº 188, declarou emergência em saúde pública de importância nacional, em razão da infecção humana causada pelo novo coronavírus (BRASIL, 2020). Manaus foi uma das cidades mais afetadas do país, a ponto do munícipio fazer covas coletivas para enterrar os mortos pela doença (SILVA, 2020). A mortalidade em decorrência da COVID-19 foi absurda, no pico da pandemia, o número de óbitos chegou a ser 200% maior que em 2019, no mesmo período (ORELLANA et al., 2020). As aulas presenciais na cidade foram suspensas ainda em março. Entretanto, apesar de todo caos que ocorreu no município, em agosto de 2020, Manaus foi a primeira capital a retornar às aulas presenciais da rede pública de ensino. O retorno envolveu apenas os estudantes de ensino médio da rede estadual (GOVERNO DO ESTADO DO AMAZONAS, 2020).

1.2 OS ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO

No ensino médio, os alunos estão passando transformações biológicas e sociais importantes. Estão saindo da adolescência e entrando na juventude. Eles já não são mais crianças, já entraram na puberdade e em poucos anos serão considerados adultos (THOPSON; RIOS, 2016). Seus desenhos já não são mais apenas garatujas ou fantasias infantis (BÉRDAD, 1998). Esses estudantes, na faixa etária de 14 a 18 anos, já nasceram em um mundo conectado por meio da internet. Eles desconhecem um mundo sem celular e sem redes sociais. Pode-se dizer que estes estudantes são “nativos digitais” (SANTOS; LISBOA, 2014). Mesmo assim, eles foram educados na escola formal, presencial. A pandemia gerada pela COVID-19 fez uma ruptura na maneira tradicional de ensino. De uma hora para outra, sem nenhum tipo de transição ou preparo, as aulas foram interrompidas. De forma abrupta, os alunos que além de passar por pressão social e mudanças drásticas nesta etapa da vida, tiveram que mudar a maneira de estudar. Não foram férias escolares, eles foram obrigados a ficar reclusos em casa e vendo todo o caos causado por um inimigo invisível aos olhos, um vírus (CALEJON; BRITO, 2020).

1.3 A REDE PÚBLICA DE ENSINO DE MANAUS

A rede pública de ensino absorve a maior parte dos estudantes no Brasil, e isso também acontece em Manaus, capital do Estado do Amazonas, localizada na Região Norte do país. A capital amazonense tem mais de 2 milhões de habitantes, sendo a cidade mais populosa da Região Norte, além de ser um importante polo industrial do Brasil (IBGE, 2020). A rede pública do ensino médio é basicamente mantida por escolas estaduais. As aulas em Manaus foram suspensas em março de 2020, sendo que a partir de abril foram no formato de educação a distância (EAD). O governo estadual disponibilizou o programa “Aula em Casa” por meio da TV aberta. Além disso, o governo disponibilizou aulas na internet, em site próprio e no site YouTube. Os professores enviavam aulas e atividades por meio de redes sociais, e-mails, formulários online e pelo aplicativo WhatsApp. Em agosto de 2020, a rede estadual de ensino retornou às aulas presenciais. O retorno foi apenas para os alunos do ensino médio de Manaus, em modelo misto, ou seja, mesclando aulas presenciais e a distância (GOVERNO DO ESTADO DO AMAZONAS, 2020).

2. MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo analisou 141 desenhos de estudantes de ensino médio, na faixa etária de 14 a 18 anos. As escolas onde ocorrem a pesquisa ficam localizadas nas zonas sul e leste de Manaus, capital do Estado do Amazonas, Brasil. A Escola Estadual Professora Ondina de Paula Ribeiro fica localizada na zona sul, onde estão os bairros mais antigos da cidade e suas origens estão ligadas à fundação do município. A zona sul também abriga o centro histórico e importantes pontos turísticos, como o Teatro Amazonas. A Escola Estadual Deputado Josué Cláudio de Souza fica na localizada na zona leste de Manaus, sendo a zona de maior extensão e população do município (GOVERNO DO ESTADO DO AMAZONAS, 2015).

O período da realização dos desenhos foi de 23 de setembro à 30 de outubro de 2020.  Cada aluno elaborou um desenho com o tema “Eu na pandemia”.  Os desenhos foram realizados como uma atividade da disciplina “Arte”. Os desenhos foram entregues à professora da disciplina pessoalmente, pelo aplicativo WhatsApp ou por e-mail. A ideia geral transmitida aos alunos é que eles desenhassem aquilo que consideraram de mais destaque em suas vidas, no período de pandemia. Diante disso, o objetivo desta pesquisa foi verificar quais os objetos, as atividades e os sentimentos mais destacados pelos estudantes durante a pandemia causada pelo novo coronavírus, em 2020. A análise de conteúdo foi o método utilizado para analisar os desenhos dos alunos. A análise de conteúdo é um método bastante utilizado para analisar comunicações de forma sistemática e objetiva. Essa metodologia permite mensurar os conteúdos das mensagens (BARDIN, 2002). Dessa maneira, permitiu verificar o que os estudantes mais fizeram durante a pandemia.

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens” (BARDIN, 2011, p. 47).

O método da análise de conteúdo tem três fases fundamentais: a pré-análise; a exploração do material; e o tratamento dos resultados. Na primeira ocorre a organização, ou seja, a escolha dos documentos que serão submetidos à análise, os objetivos, os indicadores e a preparação do material. Na segunda fase é feita a codificação, que engloba escolher a unidade de registro (recorte), a regra de enumeração (regras de contagem), e as categorias (classificação e agregação).  Na terceira fase, ocorre a inferência e a interpretação, já que o pesquisador apoiado nos resultados brutos procura torná-los significativos e válidos (BARDIN, 2011; HOFFMAN-CÂMARA, 2013).

Nesta pesquisa foi feita da seguinte forma: (I) Pré-análise: o documento foi uma atividade de desenho, da disciplina “Arte”, feita por estudantes do ensino médio, com o tema “Eu na pandemia”. O objetivo da análise de conteúdo foi mensurar o que os estudantes mais fizeram durante a pandemia de COVID-19. Os indicadores escolhidos foram os objetos, as atividades e os sentimentos mais repetidos pelos estudantes nos conteúdos de seus desenhos. (II) Exploração do material: a unidade de registro escolhida foi o objeto, a atividade ou sentimento repetido, representado em desenho figurativo ou sua substituição por palavra escrita. A regra de enumeração escolhida foi a frequência, que é a medida mais usada, considerando o postulado de que a importância de uma unidade de registro aumenta com a frequência de sua aparição (BARDIN, 2002). As categorias foram as seguintes: 1- local e ambiente; 2- objetos; 3- atividades em casa; 4- atividades externas; 5- atividades artísticas; 6- atividades laborais; 7- sentimentos positivos; e 8- sentimentos negativos. Perfazendo, portanto, 8 categorias. (III) Tratamento dos resultados: nesta etapa foram observadas e listadas as figuras e palavras mais repetidas nos desenhos. Depois, elas foram classificadas e agregadas nas categorias citadas anteriormente. Foi utilizado o programa Microsoft Excel 2016® para organização os elementos por categorias. No intuito de melhorar a inferência, foram utilizados gráficos.

Além das observações anteriores, foram também registradas as medidas de segurança e a presença de algum elemento diretamente ligado a COVID-19. Ademais, também foi observado a organização espacial do desenho. Alunos que mostraram várias atividades e objetos, organizaram e utilizaram melhor o seu tempo do que aqueles que apresentaram apenas um objeto ou atividade.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A primeira coisa a destacar nos desenhos é que os estudantes se sentiram ameaçados pelo novo coronavírus. Foi observado que em 7% dos desenhos os alunos personificaram ou desenharam o próprio vírus, como forma de mostrar o inimigo invisível (Figura 1).

Figura 1: Personificação da ameaça do novo coronavírus.

Fonte: Desenho de Alvaro Oscar Ramos Molina, 2020.

Os estudantes ressaltaram medidas de prevenção e alerta sobre a COVID-19. Foram feitos desenhos com referência ao uso das máscaras em 20% dos trabalhos, além disso, outros itens relacionados também foram representados, como o uso do álcool em gel, lavar as mãos, distanciamento social e frases de alerta (Figuras 2 e 3).

Figura 2: Gráfico de medidas de prevenção e alerta a COVID-19.

Fonte: elaborado pela autora.

Figura 3: O uso das máscaras ao sair de casa.

Fonte: desenho de Kleison Estácio Ferreira da Silva.

A pandemia teve impacto na organização do tempo dos alunos. Em termos percentuais, cerca de 60% dos estudantes não aproveitaram bem seu tempo fora da escola, destacando apenas uma atividade, enquanto cerca de 40% fizeram várias coisas, conseguiram distribuir o tempo, mesmo estando em casa (Figura 4).

Figura 4: Bom aproveitamento do tempo com diversas atividades.

Fonte: desenho da estudante Kenia Heillen, 2020.

3.1 RESULTADOS DAS CATEGORIAS DA ANÁLISE DE CONTEÚDO

3.1.1 CATEGORIA LOCAL E AMBIENTE

O local mais frequente desenhado pelos estudantes foi a sua própria casa, já que devido a pandemia, eles tiveram que ficar reclusos em seus domicílios. Dessa forma, em 39% dos desenhos houve referência as residências dos estudantes. À medida que o governo estadual começou a flexibilizar e autorizar as aberturas de alguns locais públicos e atividades comerciais, os estudantes também começaram a sair de casa. Os locais mais destacados na reabertura foram: as ruas e arredores de suas casas; parques, praças e locais arborizados; supermercados e padarias; campo de futebol da comunidade; balneários e igrejas. Esses locais somados aparecem em 28% dos desenhos (Figuras 5 e 6). Também se destaca o retorno às aulas presenciais, que aparece em 9% dos desenhos (Figura 6).

Figura 5: Casa e comunidade.

Fonte: desenho de Lucas Pereira Lima, 2020.

Figura 6: Estudante em casa e o retorno às aulas presenciais.

Fonte: desenho de Cauan da Silva Modesto, 2020.

3.1.2 CATEGORIA OBJETOS

Os 10 objetos mais representados, em ordem, foram: a TV; a cama; o celular; o livro (incluindo a Bíblia); o computador/notebook/tablet; o sofá; a mesa de refeição; a mesa de estudo; a cadeira; e o videogame. Tanto a TV quanto a cama foram representados em 42% dos desenhos, seguidos do celular que foi representado em 24% dos trabalhos. Os objetos representados não são excludentes, ou seja, em um mesmo desenho podem ser representados vários objetos (Figura 7).

Figura 7: Desenho onde estão representados a TV, a cama e o celular.

Fonte: desenho de Marina Marques Chagas, 2020.

3.1.3 CATEGORIA ATIVIDADES EM CASA

As 10 atividades em casa mais representadas pelos estudantes, em ordem, foram: assistir à TV; dormir; usar o celular; estudar; jogar videogame; usar internet; ajudar em casa; comer; ouvir música; assistir à “aula em casa” (Figuras 8, 9 e 10). Assistir à TV figurou em mais 40% dos desenhos; dormir em 29%; e usar o celular em 27%. Destaca-se que para assistir à “aula em casa” pode ter sido usada a TV, o celular ou computador. Ressalta-se também que no mesmo desenho podem existir várias atividades feitas pelo estudante (Figuras 8 e 9).

Figura 8: Atividades em casa mais realizadas pelos estudantes durante a pandemia.

Fonte: a- elabora pela autora; b- desenho de Marleilson Barbosa, 2020.

Figura 9: Assistindo à TV, estudando, dormindo e ajudando em casa.

Fonte: desenho de Kamily Vitória Souza da Silva, 2020.

Figura 10: Jogando videogame e usando o celular.

Fonte:  a- desenho de Gustavo de Castro Felipe, 2020; b- desenho de Sheila Andrade, 2020.

3.1.4 CATEGORIA ATIVIDADES EXTERNAS

As atividades externas figuraram apenas em 20% desenhos por causa da pandemia. A atividade mais frequente foi jogar futebol, que figurou em 8% dos desenhos. Basicamente, as atividades externas mais representadas, em ordem, foram: jogar futebol; brincar em grupo; namorar; soltar pipa; andar de bicicleta; voltar às aulas; nadar; brincar sozinho; fazer exercícios físicos; e viajar (Figura 11).

Figura 11: Atividade externa na pandemia.

Fonte: desenho de Thainá Lima de Castro, 2020.

3.1.5 CATEGORIA ATIVIDADES ARTÍSTICAS

As atividades artísticas também figuram pouco nos desenhos dos alunos, totalizando cerca de 8% (Figura 12). As atividades artísticas representadas foram: desenhar; pintar; dançar; tocar instrumento musical; e modelar massa.

Figura 12: Pintar e tocar durante a pandemia.

Fonte: a- desenho de Jussara da Silva Moura, 2020; b- desenho de Mesaque Bezerra de Souza.

3.1.6 CATEGORIA ATIVIDADES LABORAIS

Cerca 2% dos estudantes trabalharam durante a pandemia (Figura 13). Em torno de 3% aproveitaram o tempo livre para fazer algum curso, aprender ou fazer algo novo. Por volta de 2% dos alunos aproveitou o tempo para fazer atividades estéticas, como cortar o cabelo, fazer manicure ou maquiagem. Além disso, cerca de 2% dos alunos cuidaram de seus irmãos menores. Esses dados mostram que apesar da pandemia ter deixado muitos estudantes estagnados no tempo, outros estudantes utilizaram o tempo em algum tipo de atividade laboral, por necessidade ou por opção. Destaca-se que a faixa etária da pesquisa foi de 14 a 18 anos, portanto, alguns estudantes já poderiam trabalhar legalmente.

Figura 13: Trabalho de motoboy na pandemia.

Fonte: desenho de Pedro Sarno de Souza Sanwiraji, 2020.

3.1.7 CATEGORIA SENTIMENTOS POSITIVOS

Os sentimentos positivos mais representados nos desenhos foram: a afeição aos animais (5%); o amor de namorados (4%); sentimentos de gratidão e satisfação (2%); e amizade (1%). Os percentuais desses sentimentos foram separados por serem sentimentos bastante distintos (Figura 14).

Figura 14: O amor de namorados e a afeição aos animais na pandemia.

Fonte: a- desenho de Cauan da Silva Modesto, 2020; b- desenho de José Henrique Vale dos Santos.

3.1.8 CATEGORIA SENTIMENTOS NEGATIVOS

Em cerca de 23% dos desenhos figurou algum tipo de sentimento negativo, como: solidão; tristeza; depressão; sensação de aprisionamento; insegurança; ansiedade; medo; pânico; pensamentos confusos; além de representação de perda na família (Figuras 15 e 16).

Figura 15:  sensação de aprisionamento e tristeza na pandemia.

Fonte: a- desenho de Gabriele Lima de Souza, 2020; b- desenho de Victor Eduardo Nascimento Machado, 2020.

Figura 16:  Um turbilhão de emoções e pensamentos negativos.

Fonte: a- desenho Jessica Marques Braga, 2020; b- desenho de Samara de Souza Santana, 2020.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As pessoas em todo mundo estavam levando suas vidas normalmente, quando de repente, tudo mudou. O ano de 2020 foi atípico por causa de um vírus, um ser invisível aos olhos humanos, mas extremamente contagioso e capaz de levar à morte milhões de pessoas em toda Terra. Enquanto cientistas do mundo todo procuram soluções e encontrar uma vacina, tornou-se necessário viver recluso em casa. As escolas, os comércios, e os ambientes coletivos foram fechados em muitos locais do planeta (KOH, 2020).  A pandemia causada pelo novo coronavírus trouxe uma série de transtornos a rotina de todos os estudantes:  a necessidade de quarentena; o isolamento social; o distanciamento dos amigos; o afastamento da escola; a perda de familiares; e a sensação de impotência diante da doença (KOH, 2020; PRETTO et al., 2020).

Esta pesquisa analisou 141 desenhos de estudantes do ensino médio da rede pública de ensino de Manaus, Amazonas, Brasil. Ressalta-se que a capital amazonense foi uma das primeiras e mais afetadas metrópoles do país. Apesar do grande número de vítimas fatais da COVID-19 na cidade, Manaus foi a primeira capital brasileira a retornar às aulas presenciais. O retorno das aulas da rede pública, em agosto de 2020, abrangeu apenas os alunos do ensino médio da capital amazonense. Mas, o que os alunos fizeram e sentiram nesta pandemia? O presente estudo demonstrou que 60% dos alunos não conseguiram organizar bem seu tempo em casa, sendo possível alguma relação com o fator psicológico, já que 23% dos estudantes representaram em seus desenhos algum tipo de sentimento negativo, como: a ansiedade, o medo, a tristeza e a solidão. Reclusos em casa, as atividades mais comuns foram: assistir à TV, dormir bastante, e usar o celular. Diante disso, concluiu-se que estudantes foram bastante afetados pela pandemia.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Secretaria de Estado de Educação e Desporto do Amazonas (SEDUC/AM); à Escola Estadual Professora Ondina de Paula Ribeiro; e à Escola Estadual Deputado Josué Cláudio de Souza. Agradecem aos gestores, aos pedagogos e aos professores das escolas citadas. Agradecem, especialmente, aos alunos participantes da pesquisa que permitiram o desenvolvimento deste artigo.

REFERÊNCIAS

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THOMPSON, M.; RIOS, E. P. Conexões com a biologia. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2016.

[1] Mestre em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA); Pós-graduada em Administração, Finanças Empresariais e Negócios pela Escola Superior Aberta do Brasil (ESAB); Pós-graduada em Ensino de Arte e História pela Faculdade Cidade Verde; formada em Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM); formada em Licenciatura em História pela Faculdades Integradas de Ariquemes – FIAR; Bacharel em Ciências Contábeis pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA).

[2] Mestre em Biologia de Água Doce e Pesca Interior (BADPI) pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA); formado em Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade de Taubaté (UNITAU).

Enviado: Novembro, 2020.

Aprovado: Dezembro, 2020.

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Hebe Souza de Oliveira

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