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O Aluno Surdo e a Escola Regular: Reflexões Pertinentes

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CONTEÚDO

CELESTINO, Joseilma Ramalho [1]

CELESTINO, Joseilma Ramalho. O Aluno Surdo e a Escola Regular: Reflexões Pertinentes. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 01, Ed. 01, Vol. 9, pp. 72-84 Outubro / Novembro de 2016. ISSN:2448-0959

RESUMO

O presente artigo, intitulado O aluno surdo e a escola regular: reflexões pertinentes, traz como propósito uma reflexão a partir do modelo de escola a qual temos, ao passo que observarmos como esta vem se adequando ou não para as questões que envolvem a inclusão. Tempos em mente que a inclusão é um processo contínuo, e envolve todas as esferas sociais, não só a escola, já que o sujeito surdo, por exemplo, vive fora da escola e em outros contextos que envolvem comunicação, interação e etc… Pensamos no aluno surdo e na escola, pois esta é uma questão pontual, já que a LIBRAS enquanto língua é direito, e deve ser ofertada ao aluno surdo no contexto escolar. Daí necessidade da escola em adequar-se a tal realidade pensando não apenas a inclusão enquanto ato incluir pelo incluir, mas é preciso ir além, ter a abertura para o sujeito, e percebê-lo como ser em potencial. Cremos que as reflexões aqui sinalizadas, aprontam para uma maior atenção quanto às questões aqui expostas.

Palavras-chave: Inclusão. Libras. Escola. Aluno surdo.

INTRODUÇÃO

Não dá para pensar a questão da inclusão sem voltar o olhar para o modelo de escola que temos e as práticas de sala de aula, a partir das limitações que envolvem o professor e da não adequação do sujeito ao contexto escolar.

Foi partindo dessas reflexões que pensamos este artigo, para tanto faremos uma análise dos desafios da conclusão em um ensino regular, pautado em regras fixas, porém, pensadas para alunos ditos “normais”. Vale ressaltar que este modelo de escola, a escola dos sem problemas, vem se formando ao longo das últimas décadas, daí suas estruturas engessadas e poucos diálogos com o novo, já que o novo interfere a logística existente.

É nesse contexto que a inclusão do aluno surdo vai acontecendo, e paulatinamente a sociedade vem despertando para tais questões e a escola, mesmo que de forma incipiente busca dar respostas a essa necessidade. Há muito o que fazer, porém, a partir das reflexões e dos debates, e daquilo que os autores tem pesquisado e sinalizado, é possível pensar a inclusão do aluno surdo na escola e em qualquer ambiente social.

OS DESAFIOS DA INCLUSÃO EM SALA DE AULA DO ENSINO REGULAR

Pensemos em uma sala de aula composta por 30 alunos, dos quais alguns com dificuldades de aprendizagem, outros déficit de atenção e os outros poucos interessados em participar ativamente da aula. Mesmo que a situação aqui relatada seja hipotética, percebe-se que nossas salas de aula estão repletas das mais diversas situações heterogêneas e sujeitos os quais exigem do professor um desdobramento além de suas atribuições, tendo em vista que ao estar na sala de aula esse assume ao longo de suas práxis outras funções correlacionadas ao ser professor.

É nesse cenário que a inclusão vai acontecer.

Assim:

Diante das constantes referências às dificuldades de implantação de um projeto inclusivo, é importante considerar não só os entraves político-pedagógicos, mas também as vivências estimulantes e frustrantes surgidas no cotidiano das relações estabelecidas entre os participantes da comunidade escolar. (DÍAZ at.al, 2009, p.71)

Ou seja, é preciso atentar para questões pontuais, as quais estão atreladas à inclusão, dentre as quais as políticas públicas, pois não bastar incluir por incluir, é necessário dar aos sujeitos condições mínimas de permanência e adequações nos espaços ditos inclusivos.

Da mesma forma que as discussões sobre a inclusão na sala de aula aumentam nos últimos anos, surgem novas síndromes as quais exigem novas posturas e ações da sociedade. Ou seja, é preciso reaprender a conviver em sociedade, para poder entender os sujeitos em sua singularidade, ser entendido, e fazer o diálogo acontecer. Nesse cenário, como se dá a preparação e formação do professor para trabalhar com esse público no contexto da sala de aula do ensino regular? Como a escola vem se preparando para acolher os alunos a partir do contexto existente e dos novos desafios que passaram a existir? Isso nos faz afirmar que esse é um dos maiores desafios que as escolas regulares enfrentam hoje, pois incluir socialmente é diferente de incluir pedagogicamente.

No que se refere a essa questão, destaca-se como conseqüência de um ensino de qualidade para todos os alunos, novos posicionamentos da sociedade e dos próprios professores. Essa exige esforços de ambos, para que as necessidades tenham respostas de acordo com suas especificidades e preparação do professor. Pois, a escola que caminha em parceria com a sociedade, tende a dar respostas plausíveis acercar das necessidades dos que a busca. Assim, quando se fala em educação inclusiva devemos refletir sobre como a escola inclui os alunos dentro das suas regras de convivência e normas preestabelecidas.

Neste caso:

Tanto a integração como a inclusão propõem a inserção educacional da criança com deficiência, só que a inclusão o faz de forma mais radical, completa e sistemática. Trata-se de uma concepção político-pedagógica que desloca a centralidade do processo para a escolarização de todos os alunos nos mesmos espaços educativos. Para uma efetiva implementação do modelo inclusivo na educação, faz-se necessária uma profunda reorganização escolar, que requer, entre outras medidas, a redução do número de alunos por turma, nova infraestrutura e a construção de novas dinâmicas educativas. (DÍAZ e

t.al, 2009, p.72)

O sucesso da inclusão de alunos com deficiência, seja ela qual for, na escola regular decorre, das possibilidades de se conseguir progressos significativos desses alunos na escolaridade, pois é preciso ter em mente, que cada aluno, mesmo com deficiência física é singular, tem potencial para aprender e cremos que por meio da adequação das práticas pedagógicas à diversidade dos aprendizes, isso é necessário, e os resultados serão os mais positivos possíveis. Porém, cabe a escola assumir que as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, mas resultam em grande parte do modo como o ensino é ministrado, das condições físicas e estruturais que a escola oferece a esse aluno, daí a importância de ter em mente como a aprendizagem é concebida e avaliada. Isso nos faz perceber que, não é apenas os alunos com deficiências físicas que são excluídas desse processo, mas outros tantos, pobres, sem condições para se manter na sala de aula, os que não vão às aulas porque trabalham, os que pertencem a grupos discriminados e excluídos do processo educacional, e os que de tanto repetir desistiram de estudar.

Vale ressaltar ainda nesse processo inclusivo a formação do professor, pois, até que ponto o professor em sua formação docente foi e vem sendo preparado para as questões vinculadas a inclusão? Essa é uma questão pertinente, tendo em vista que a maioria dos cursos de formação de professores estão pautadas no aluno sem deficiências ou dificuldades, e na maioria das vezes sem problemas. A sala de aula até então apresentada é o ambiente ideal, onde o professor ensina sem problemas e o aluno jamais se torna problemático.

Assim:

A formação permanente, pois, é um dos fatores imprescindíveis para que os profissionais de educação possam atuar, efetivamente, frente aos alunos sob sua responsabilidade em classe e no ambiente escolar, de maneira mais ampla, por mais diversificado que esse grupo se apresente, oferecendo-lhes condições de atendimento educacional que sejam adequadas às suas condições e necessidades e, não apenas, realizando a mera inserção física desses educandos no ambiente escolar.  Isto, infelizmente, ainda é feito em algumas realidades escolares, em especial no que diz respeito aos alunos com deficiência, sobre os quais deteremos mais o nosso olhar. Nesses casos, quando muito, a inclusão se reduz a um simples espaço de socialização. Necessário se faz que esta seja desenvolvida com mais responsabilidade, observando aspectos relacionados à escola, ao aluno – que é ímpar em suas características e necessidades – e também ao docente. A inclusão é um processo complexo e esta complexidade deve ser respeitada, atendida e não minimizada (MIRANDA E GALVÃO FILHO, 2012, p.33)

Destaca-se dessa forma, que toda formação é permanentemente, nem o professor, nem a sociedade estão totalmente preparados para as situações do cotidiano da sala de aula, uma vez que tanto os problemas quanto os sujeitos se modificam constantemente. Dessa forma, é preciso atentar para as práticas e perceber na complexidade de cada contexto, possíveis saídas que minimizem a exclusão e possam ser sinais de mudança social.

Cremos que é na prática do cotidiano que o professor vai adquirindo experiências e fazendo a diferença quanto lidar com as novas demandas em relação à inclusão. É preciso abrir-se ao novo, buscar nas teorias respostas para as mais diversas situações e tentar mediar na medida do possível os possíveis conflitos que existem ao longo do fazer docente.

Tais discussões que envolvem a formação docente, não podem deixar de abordar o modelo de escola a qual o mesmo estão sendo preparados a atuar e as demandas relacionadas a inclusão, mais especificamente a inclusão do aluno surdo na sala de aula do ensino regular.

O MODELO ESCOLAR: A ESCOLA DOS SEM PROBLEMAS

O formato de escola que temos, suas estruturas físicas, sua estrutura curricular, seu funcionamento, se perpetua desde o último século, e pelo que observamos, tende a perdurar, tendo em vista suas formas fechadas, as quais não se modificam.

Por mais que a abertura ao acesso as dependências físicas da escola, tenham avançado nas últimas décadas, e isso é inegável, muito tem a avançar. Já que a escola está presente na comunidade, está situada na esquina da rua, mas na maioria das vezes a comunidade não se sente dona ou responsável pela escola. Ou seja, mesmo fazendo parte daquele cotidiano simbólico, é como se não estivesse ali, e fosse parte da comunidade. Sendo pensada para o povo, muitas vezes exerce o papel de ser contra o povo. (SOARES, 1987)

O que nos propomos com tais reflexões é mostrar que por mais que os discursos assinalem a escola como sendo uma conquista do povo, feita e pensada para os mesmos, observa-se a grande dificuldade de sintonia deste mesmo povo em identificar-se com esse espaço. Vale lembrar que os discursos que fomentam a escola, são os discursos da classe dominante, os quais ideologicamente ofertam a população não o que esta necessita enquanto formação, mas o que eles querem que ela reproduza no seu dia a dia. Neste caso, se explica na maioria das vezes o grande fantasma da educação presente em todos os níveis, o fracasso escolar. Este se dá nas mais diversas formas, camuflado pela evasão, abandono, reprovação, indisciplina entre outros.

Essas questões sinalizam para o fato que a escola passou a responder os sinais da sociedade atualmente. Ela assume as funções que são delegadas a família, a sociedade e a cultura. Se distanciando na maioria das vezes de seu papel social que é educar o cidadão, dando-lhe condições mínimas de ser mais e melhor em seu dia a dia.

E quando olhamos para as questões atreladas a inclusão, cremos que alguns passos foram e estão sendo dados, já que muitos professores, até mesmo por conta própria, têm buscado da melhor forma possível, especializar quando o assunto é inclusão. Estes diante de sua realidade, a sala de aula e o aluno com deficiências e limitações, tenta superar as barreiras da própria formação para poder dar uma resposta plausível ao aluno, a sua família e a toda comunidade escolar.

Vemos que além do professor, que trás no bojo de sua formação as lacunas de uma melhor preparação para lhe dar com o aluno com deficiência, é o caso por exemplo do aluno surdo, é preciso a sociedade assumir tal compromisso, de olhar os sujeitos surdos, como alguém com potencial e permitir-lhes acesso aos mais diversos espaços sociais.  A escola sozinha não dá conta de todos os problemas que surgem hoje em dia, porém, ajuda a entende-los melhor, e a buscar uma solução em parceria com a comunidade em si.

Assim, a preparação dos professores na maioria das vezes é para os alunos que não tem problemas, ou seja, para a escola ideal, onde tudo é bonito, sem problemas por resolver. Sabe-se que a realidade das escolas é bem diferente da teoria, já que o cotidiano da sala de aula, é tão subjetivo, como subjetivo são os sujeitos que nela se encontram. Neste caso, cremos que cabe a escola tomar novos posicionamentos frente às diversas demandas que adentram a seu espaço, para que todos sintam-se co-participes do processo e possam crescer em conjunto.

O SURDO E A ESCOLA REGULAR

As questões atreladas ao surdo e sua inserção social, desde a escola aos mais diversos meios sociais, tem causado diversos debates sobre o processo de inclusão e como o mesmo se configura socialmente falando. Quando se pensa num ambiente que proporciona socialização, convivências das mais diversas e um público heterogêneo, se volta o olhar para a escola, já que dando continuidade aquilo que se tem na família, o companheirismo, a cumplicidade, o pertencimento e as identidades, essa serve como anexo de tudo o que se vivencia na casa.

Assim:

A socialização é fator indispensável ao processo de desenvolvimento do ser humano, pois é através dela que o indivíduo apropria-se dos comportamentos produzidos pela sociedade na qual está inserido e, consequentemente, amplia suas possibilidades de interação. Pressupõe a aquisição de valores, normas, costumes e condutas que a sociedade transmite e exige.  A família representa papel principal e decisivo no processo de socialização, entretanto, não tem poder absoluto e indefinido sobre a criança. Muitos outros fatores irão influir neste desenvolvimento. A partir do momento em que a criança passa a frequentar a escola, esta transformasse em um outro importante contexto de socialização que será determinante para o seu desenvolvimento e curso posterior de sua vida, pois vai interagir com pessoas de diferentes meios familiares, concepções de vida, graus de conhecimento, etnias, religiões, etc.  (BRASIL, 2006, p.98)

A escola aqui, é tida como a segunda casa, segue como extensão, uma vez que consegue educar os sujeitos dando-lhe condições de agir junto a seus pares confrontando ideias, aprimorando conceitos e ampliando experiências. Mas é preciso ter em mente que a escola é parceira dos pais, e não pode assumir a responsabilidade que compete a família do educando. O que compete a família deve ser resolvido nela, esta tem de assumir suas responsabilidades, e o que compete a escola, este tem de executar da melhor forma possível.

Vale destacar o que Aranha (1990) afirma sobre a escola:

Várias instâncias da sociedade exercem a função de educar, entre as quais a família, a igreja, o trabalho, o lazer, os meios de comunicação, mesmo que a ação educacional desenvolvida por esses grupos sejam informal, no sentido de não obedecer a regras explícitas nem ser submetida a rígido controle externo. (…) Já na escola a educação é formal porque supõe um grupo de profissionais especialmente instituído para exercer determinadas funções e elaborar um projeto de ação mais efetiva. Mesmo quando a educação na família é intencional, deliberada, não é tão organizada, planejada ou controlada como é (ou deveria ser) na escola. (ARANHA, 1990, p.72)

E ainda conclui o raciocínio afirmando que:

Vivemos o momento o centre desse debate multiforme. E aí reside nossa tarefa: repensar os rumos da escola sem otimismo ingênuo, mas também sem pessimismo derrotista. O que, afinal, é possível fazer dentro dos limites da escola e a partir de suas reais possibilidades? (…) Antes queremos reforçar a importância da dupla função da escola: a de transmissora da herança cultural e de local privilegiado para a crítica do saber apropriado. Tarefa difícil essa, uma vez que já nos referimos à crise (mundial) pela qual passa a escola nos tempos atuais. Se é certo que ela reflete também a crise da cultura, podemos compreender a dimensão do desafio posto aos educadores. Se essa instituição torna-se indispensável como instancia mediadora, estabelecendo o vínculo entre as novas gerações e a cultura acumulada, à medida que a sociedade contemporânea se torna mais complexa a escola adquire, cada vez mais, um papel insubstituível. (ARANHA, 1990, p.75)

A partir dos muros criados, das grades postas em nossas escolas o que proporcionamos de atrativo para que o aluno permaneça e nesta encontre sentido para sua vida? Andamos na contra-mao de um processo, onde competimos diariamente com as mídias e as tecnologias, já não ofertamos mais o conhecimento e nem somos mais os detentores do saber e a escola o único espaço onde se aprende, pois, o aluno conectado tem tido a chance de percorrer mundos e conquistar os diversos espaços. Os muros para o aluno se configuram em redes, redes de contato, de relações sociais.

Em meio a todo esse processo, destacamos a presença do aluno surdo. Que aos poucos vai se adequando os espaços e buscando aceitação em cada situação do cotidiano escolar. Porém, destaca-se sua dificuldade de inclusão na escola regular, já que exige muito mais do mesmo.

Assim:

Por isso, se a escola optar por uma proposta de educação que valorize a língua de sinais e o contato com os pares surdos, a identidade da criança será mais fortalecida. É através desses modelos que se oportunizarão futuras representações sociais e a interiorizarão de significados da cultura, que serão compartilhados socialmente em todos os momentos de sua vida. Também, em sala de aula, a interação deverá estar estruturada de modo a estimular o intercâmbio e a valorização das idéias, o respeito por pontos de vista contraditórios e a valorização da pluralidade e da diferença. A aprendizagem escolar será muito mais significativa se pautada em ações de conhecer e não na mera transmissão onipotente de conhecimentos. Um ambiente desafiador, que estimule a troca de opiniões e a construção do conhecimento entre os alunos, favorece a função do professor mediador e o desenvolvimento de objetivos de auto-estima positiva, segurança, confiança e bem-estar pessoal. (BRASIL, 2006, p.99)

A opção pela escola inclusiva tende a incluir todos no mesmo espaço dando-lhes as mesmas condições, isso revela por um lado, a intenção de proporcionar aos sujeitos os mesmos direitos, mas por outro, não capacita os professores nem a escola está preparada como um todo para acolher esse público específico. Se a escola é um reflexo social, o seu despreparo, só nos revela que a sociedade não está preparada para empreender as questões da inclusão. Assim, diante das constantes referências às dificuldades de implantação de um projeto inclusivo, cabe ressaltar os entraves político-pedagógicos, as políticas públicas que efetivam tais debates, mas também as vivências estimulantes e frustrantes surgidas no cotidiano das relações estabelecidas entre os participantes da comunidade escolar, quer seja o aluno surdo ou o professor, e estes a seus pares.

Quando pensamos a escola regular e o ensino, nos vem em mente a logística até então empregada, horários determinadas, marcando a entrada e a saída da sala de aula, professor e aluno com seus papeis definidos, a partir dos códigos, até então invisíveis, porém seguidos à risca por todos. Cada sujeito tem funções bem delimitadas e marcam os espaços nesse contexto. A chegada, por exemplo, de um aluno com necessidades especiais, ou um aluno surdo por exemplo, quebra toda essa logística, uma vez que a comunidade escola deve adaptar-se para receber o mesmo. Porém, o que se observa é que pouco ou quase nada vem sendo feito para isso aconteça de fato. As ações desempenhadas e executadas na escola, sempre são direcionadas para os ditos normais. Não se prioriza os sujeitos como um todo, mas sim os resultados destes a partir daquilo que se propõe, quer seja nas avaliações, ou nos resultados destas. O aluno ideal, e excelente do processo, é aquele que não dá e não gera trabalho, é dócil diante das atividades executadas e tem comportamento inerte frente as ações desempenhadas.

Uma outra questão relevante é a formação do professor, pois ao verificarmos nas formações em si, não existe preocupação para com os alunos com deficiência ou alguma necessidade especial, o período de formação sempre voltado para os alunos ditos ou tidos como normais, porém, ao se deparar com uma realidade até então heterogênea, o choque é imediato, isso tem feito com que muitos ao longo desse mesmo percurso desistirem.

UM OLHAR MAIS HUMANO PARA OS SUJEITOS HUMANOS

Necessitamos parar para pensar nossa prática em relação a sala de aula. Sabemos de sua singularidade, de seus desafios e particularidades. Mas não podemos permitir que nossa ação seja conduzida pelo mercado, pela ideologia do estado, ou pela lógica do liberalismo, enquanto professores, não somos máquinas, somos seres pensantes, os quais imbuídos de sentimentos, nos tornamos iguais aos demais. (Ferraço, 2008; Bauman, 2007)

Qual identidade assumo frente a meu aluno? Será que cobro do mesmo, aquilo que verdadeiramente dou a eles? Observa-se que na maioria das vezes desempenhamos na sala de aula apenas o trivial, damos a nossa juventude o osso, e afirmamos que a mesma está acostumada com o pouco. Necessitamos despertar de nossa condição de meros reprodutores do sistema, e começar a substituir o osso pelo filé. Creio que quando isso acontecer estaremos de fato pensando não mais no sistema, e sim nos sujeitos e em nós.

Achamos que incluímos, fazemos a “oba, oba” de um processo significativo, para responder positivamente ao questionário preestabelecidos por órgãos internacionais. Achamos que uma simples rampa de acesso minimiza as questões de acessibilidade, cremos que colocar o aluno com deficiência auditiva na sala de aula de uma turma regular, vai resolver o problema da inclusão. É preciso ir além. Entender a singularidade do processo, e enquanto sociedade buscar soluções conjuntas e não isoladas. Assim entenderemos a inclusão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das reflexões feitas, observamos que quando o assunto é inclusão, seja no contexto escolar ou fora deste, muito ainda se tem por fazer. Por mais que tenhas nos últimos anos avançado, necessitamos de um maior empenho e envolvimento da sociedade. Pois, mesmo apresentando certa limitação, é o caso do aluno surdo, este é capaz de aprender e desenvolver seu potencial cognitivo, desde que seja estimulado para tal.

Paralelo a essas questões está a formação do professor e o modelo de e Scola a qual temos, ambos não estão preparados para situações concretas, as quais envolvem a inclusão do aluno surdo no contexto da escola regular. É preciso ir além das questões de acessibilidade, já que incluir é fazer o outro sentir-se bem e igual aos demais.

REFERÊNCIAS

ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Filosofia da Educação. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 1990.

BAUMAN, Z. Tempos líquidos. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Lei Nº. 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS e dá
outras providências.

BRASIL. Saberes e práticas da inclusão: desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos surdos. [2. ed.] / coordenação geral SEESP/MEC. – Brasília : MEC, Secretaria de Educação Especial, 2006.

BRASIL. Ministério da Educação.  Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Disponível em: ftp://ftp.fnde.gov.br/web/resoluçoes_2002/por2678_24092002.doc <Acesso em: 05 de  Agosto de 2016>

BARRETTO, Elba Siqueira de Sá  and  MITRULIS, Eleny. Trajetória e desafios dos ciclos escolares no País. Estud. av. [online]. 2001, vol.15, n.42, pp.103-140. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142001000200003 <Acesso em 03 de  Agosto de 2016>

DÍAZ, F; BORDAS, M; GALVÃO, N; MIRANDA, T. (Orgs). Educação inclusiva, deficiência e contexto social: questões contemporâneas; autores, Elias Souza dos Santos… [et al.]. – Salvador: EDUFBA, 2009.

FERRAÇO, C.E; PEREZ, C.L.V; BARBOSA, I.B (Orgs). Aprendizagens cotidianas com a  pesquisa. Petropolis: DP ET Alii, 2008.

MIRANDA, T. G.; GALVÃO FILHO, T. A. (Org.) O professor e a educação inclusiva: formação, práticas e lugares. Salvador: EDUFBA, 2012.

SÁ, Nídia de. Surdos: qual escola?. / Nídia de Sá. – Manaus: Editora Valer e Edua, 2011.

SOARES, M. Linguagem e escola: uma perspectiva social. – São Paulo: Editora Ática, 1987.

[1] Doutoranda em Educação ULHT- Lisboa/PT, Mestre em Ciências da Educação – ULHT- Lisboa/PT. Esp. em Desenvolvimento e Políticas Educativas, Esp. Em AGP e Graduada em Psicóloga Clínica – UEPB.

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Joseilma Ramalho Celestino

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