REVISTACIENTIFICAMULTIDISCIPLINARNUCLEODOCONHECIMENTO
Pesquisar nos:
Filter by Categorias
Administração
Administração Naval
Agronomia
Arquitetura
Arte
Biologia
Ciência da Computação
Ciência da Religião
Ciências Aeronáuticas
Ciências Sociais
Comunicação
Contabilidade
Economia
Educação
Educação Física
Engenharia Agrícola
Engenharia Ambiental
Engenharia Civil
Engenharia da Computação
Engenharia de Produção
Engenharia Elétrica
Engenharia Mecânica
Engenharia Química
Ética
Filosofia
Física
Gastronomia
Geografia
História
Lei
Letras
Literatura
Marketing
Matemática
Meio Ambiente
Meteorologia
Nutrição
Odontologia
Pedagogia
Psicologia
Química
Saúde
Sem categoria
Sociologia
Tecnologia
Teologia
Turismo
Veterinária
Zootecnia
Pesquisar por:
Selecionar todos
Autores
Palavras-Chave
Comentários
Anexos / Arquivos

Uso de cigarros eletrônicos entre estudantes de medicina no Brasil: prevalência e percepções

5/5 - (14 votos)

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

PANTOJA, Jessica Corrêa [1], TSUKAMOTO, Júlia Costa [2], ALEGRIO, Bruna Lopes [3], MACHADO, Clarice Lima [4], MELLA, João Pedro [5], BERTOLLI, Larissa Pezato [6], MATOS, Luana Maria [7], FURLAN, Mariana Xavier da Silveira [8], MATTAR, Rodrigo He Marduy [9], AVELINO, Yasmin David [10]

PANTOJA, Jessica Corrêa et al. Uso de cigarros eletrônicos entre estudantes de medicina no Brasil: prevalência e percepções. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 10 Ed. 01, Vol. 02, pp. 131-145. Janeiro de 2025. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/ciencias-sociais/cigarros-eletronicos, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/ciencias-sociais/cigarros-eletronicos

RESUMO

Objetivo: Analisar a prevalência e as percepções do uso de cigarros eletrônicos entre estudantes de medicina no Brasil. Métodos: Foi realizada uma revisão de escopo seguindo a metodologia do Joanna Briggs Institute, incluindo formulação da questão de pesquisa, busca e seleção de estudos, extração de dados e síntese dos resultados. Foram incluídos estudos publicados entre 2019 e 2024, identificados nas bases SciELO, BVS e Google Scholar, utilizando os descritores “Electronic Nicotine Delivery Systems”, “Medical Students”, “Associated Factors” e “Prevalence”. Resultados: A prevalência do uso de cigarros eletrônicos entre estudantes de medicina varia amplamente, entre 13,1% e 57,9%. As principais motivações incluem curiosidade, influência social e tentativa de cessação do tabagismo. Embora a maioria dos estudantes reconheça os riscos à saúde associados aos cigarros eletrônicos, existem lacunas significativas na formação médica sobre o tema. Considerações Finais: A elevada incidência de utilização de cigarros eletrônicos entre estudantes de medicina é impulsionada pela curiosidade e influências sociais. Apesar das limitações metodológicas, esta pesquisa é essencial para compreender as percepções e comportamentos correlatos, sublinhando a necessidade urgente de uma educação mais abrangente nas faculdades de medicina sobre os impactos na saúde coletiva.

Palavras-chave: Cigarros Eletrônicos, Educação Médica, Faculdades de Medicina, Sistemas Eletrônicos de Liberação de Nicotina.

1. INTRODUÇÃO

O tabagismo está associado a 8 milhões de mortes anuais, sendo a principal causa de mortes evitáveis no mundo (WHO, 2021). Adolescentes são frequentemente atraídos a experimentar novos produtos, como narguilés e cigarros eletrônicos, que representam importantes fatores de risco para o início do tabagismo (Al Oweini et al., 2019; O’Brien et al., 2021).

Apesar da resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que proíbe a venda, importação e propaganda de Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEF), popularmente conhecidos como cigarros eletrônicos (Brasil et al., 2009; INCA, 2024), dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 revelaram uma prevalência de 0,6% de uso desses dispositivos com nicotina entre brasileiros com 15 anos ou mais eletrônicos. Este uso é mais comum entre moradores de grandes centros urbanos e jovens de maior renda (IBGE, 2020; Malta et al., 2022).

Introduzidos no mercado global em 2006 como auxiliares não farmacológicos para a cessação do tabagismo, os DEF tiveram seu público-alvo inicial redirecionado em 2015 com o lançamento do JUUL. Este produto, com design moderno e atrativo, ampliou o alcance dos dispositivos para além dos dependentes de nicotina, conquistando também aqueles que não eram previamente usuários de tabaco. O sucesso do JUUL impulsionou o desenvolvimento de diversos outros dispositivos, que passaram a ser comercializados em uma ampla variedade de sabores e tamanhos. Essa diversificação contribuiu significativamente para a popularização do uso, especialmente entre jovens em idade escolar e universitária (Menezes et al., 2023; Tobacco Tactics, 2023).

A popularidade dos DEF, especialmente entre os jovens, como evidenciado pelo alto percentual de estudantes estadunidenses que utilizam dispositivos com sabor (Birdsey et al., 2023), levanta preocupações sobre o impacto do uso desses dispositivos na saúde individual e no sistema público de saúde a médio e longo prazo. A presença de substâncias como propilenoglicol, glicerina e flavorizantes, além da nicotina, levantam questões sobre seus efeitos adversos, especialmente em populações mais jovens e vulneráveis, mesmo com a literatura ainda não tendo explorado expressamente o tema (Cabral et al., 2022).

Quando se analisa o aumento no uso de DEF, observa-se uma séria ameaça às políticas públicas de controle do tabaco, especialmente entre os jovens. Muitos desses indivíduos não fumavam anteriormente, mas experimentam esses produtos como uma tendência e, posteriormente, desenvolvem dependência de nicotina. O problema não reside apenas na experimentação de DEF, mas no seu uso contínuo, que pode levar a um vício difícil de superar. As características dos usuários de DEF e a propaganda da indústria do tabaco indicam que o principal objetivo não é a cessação do tabagismo, mas sim promover a dependência (Godoy, 2023).

O Brasil possui dados limitados sobre o uso desses produtos, especialmente entre Estudantes de Medicina (EM). Este estudo visa avaliar a prevalência do uso de DEF entre esses estudantes no país, destacando a necessidade de intervenções educacionais para mitigar os impactos negativos à saúde associados a esses dispositivos.

2. MÉTODOS

Foi conduzida uma scoping review seguindo as diretrizes do Joanna Briggs Institute (JBI), que permite mapear a literatura disponível de forma abrangente, sintetizando os dados e identificando lacunas de conhecimento. Além disso, facilita a síntese e disseminação dos dados, assim como a identificação de lacunas na investigação, abordando a complexidade e a heterogeneidade do fenômeno em estudo (Arksey & O’Malley, 2005; Aromataris et al., 2024).

Complementarmente, um protocolo de pesquisa foi devidamente registrado na plataforma Open Science Framework (OSF) sob o código A3TXZ (Foster & Deardorff, 2017; Pantoja, 2024). O processo de pesquisa envolveu a formulação da questão norteadora, a identificação e seleção dos estudos relevantes, a extração dos dados, bem como a síntese, sumarização e elaboração do relatório final dos resultados (Arksey & O’Malley, 2005; Aromataris et al., 2024; Peters et al., 2015; Tricco et al., 2018).

2.1 ESTRATÉGIA DE PESQUISA E SELEÇÃO

A pesquisa foi conduzida em junho de 2024, seguindo o protocolo de scoping review conforme as diretrizes do JBI. Adotou-se uma abordagem metodológica mista e exploratória-descritiva, devido à sua capacidade de mapear extensivamente a literatura disponível e identificar lacunas de conhecimento na área de interesse, especialmente considerando a escassez de estudos no contexto médico-educacional brasileiro.

Esta revisão foi guiada pela seguinte pergunta norteadora: “Qual é a prevalência do uso de cigarro eletrônico entre estudantes de medicina no Brasil?”. Utilizou-se o scoping review, considerando que essa metodologia permite mapear rapidamente os principais conceitos de uma área do conhecimento, respondendo eficazmente à questão proposta.

Para isso, a busca foi limitada aos artigos publicados nos últimos cinco anos, utilizando uma estratégia adaptada ao modelo População, Conceito, Contexto (PCC) recomendado pelo JBI (Aromataris et al., 2024). Na construção da questão, o mnemônico PCC foi considerado: P (população) = estudantes de medicina; C (conceito) = prevalência do uso de cigarro eletrônico; C (contexto) = ambiente universitário. Para definir os descritores, foram utilizados os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), combinando termos com os operadores booleanos “AND” e “OR”, sem a necessidade do operador “NOT”. Os descritores utilizados foram: “Electronic Nicotine Delivery Systems”, “Medical Students”, “Associated Factors” e “Prevalence” (Quadro 1).

Quadro 1 – Termos de busca nas bases de dados

Base de dados Operador booleano + Descritores
SciELO (Electronic Nicotine Delivery Systems) AND (Medical Students) AND (Associated Factors)
(Electronic Nicotine Delivery Systems) AND (Medical Students) AND (Prevalence)
BVS (Electronic Nicotine Delivery Systems) AND (Medical Students) AND (Associated Factors)
(Electronic Nicotine Delivery Systems) AND (Medical Students) AND (Prevalence)
Google Scholar “Electronic Nicotine Delivery Systems” AND “Medical Students” AND “Associated Factors”
“Electronic Nicotine Delivery Systems” AND “Medical Students” AND “Prevalence”

Fonte: Autoria própria (2024).

2.2 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO

Foram incluídos artigos integralmente disponíveis, diretamente relacionados ao escopo do estudo, publicados em português, inglês ou espanhol, e indexados nas bases de dados da Scientific Electronic Library Online (SciELO), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e do Google Scholar, no período de 2019 a 2024. Todos os artigos identificados foram inicialmente avaliados por seus títulos e resumos. Nessa etapa, foram excluídos artigos que: não estavam alinhados com a temática proposta, eram duplicatas, guidelines e pré-publicações.

3. RESULTADOS

Após uma análise da literatura disponível, tornou-se evidente uma lacuna significativa de estudos sobre a temática proposta. Consequentemente, ao término do processo de seleção, apenas cinco artigos atenderam aos rigorosos critérios de elegibilidade estabelecidos (n = 5). O detalhamento das etapas deste processo de seleção está documentado no fluxograma, conforme preconizado pelo Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR), apresentado de forma elucidativa na Figura 1.

Figura 1 – Fluxograma PRISMA-ScR elaborado para a condução da pesquisa

Fonte: Autoria própria (2024).

Quadro 2 – Características dos artigos

Autor Ano Título do Artigo Objetivos
Anjos et al. 2023 O uso de cigarros eletrônicos e o conhecimento dos riscos entre os acadêmicos de medicina. Avaliar a prevalência do uso de DEF entre acadêmicos de medicina.
Braga. 2023 O uso de cigarro eletrônico pelos estudantes de medicina e suas respectivas percepções um estudo transversal. Avaliar tanto o uso de DEF quanto as percepções dos EM sobre o tema em questão.
Lima et al. 2023 Prevalência do uso de cigarros eletrônicos e suas complicações respiratórias entre estudantes de medicina em uma universidade privada de Teresina-PI. Investigar a prevalência do uso de DEF entre EM e examinar a relação entre o uso desses dispositivos e a presença de sintomas respiratórios.
Martins et al. 2023 Prevalence and associated factors of experimentation with and current use of water pipes and electronic cigarettes among medical students: a multicentric study in Brazil. Avaliar a prevalência e os fatores associados à experimentação e uso atual de narguilés e DEF entre EM.
Silva Filho. 2022 Conhecimento dos estudantes do curso de medicina de uma faculdade particular em Salvador sobre cigarros eletrônicos. Avaliar os malefícios causados pelos DEF a saúde dos usuários destes dispositivos.

Fonte: Autoria própria (2024).

As características dos estudos incluídos nesta revisão foram demostradas no Quadro 2, já as classificação dos estudos em relação ao Nível de Evidência (NE), bem como os Graus de Recomendação (GR), foram conduzidos conforme as diretrizes do Oxford Centre Evidence Based-Medicine (Howick et al., 2011), conforme exibido no Quadro 3.

Quadro 3 – Regiões, tipos, NE, amostras e GR.

Autor Região Tipo de Estudo Amostra NE GRs
Anjos et al. Sudeste Estudo transversal n = 380 4 C
Braga. Nordeste Estudo transversal n = 90 4 C
Lima et al. Nordeste Estudo transversal n = 316 4 C
Martins et al. Todas + DF Estudo transversal n = 700 4 C
Silva Filho. Nordeste Estudo transversal n = 252 4 C

Fonte: Autoria própria (2024).

A análise da Frequência Relativa do NE, apresentada no Quadro 3, revela que o nível predominante foi o 4C, abrangendo todos os casos (n = 5). Isso ocorre porque os estudos incluídos são exclusivamente transversais. Estudos transversais são amplamente utilizados devido ao baixo custo, à ausência de perdas de seguimento, à rapidez de execução e à precisão na coleta de dados (Bastos & Duquia, 2007; Hochman et al., 2005). No entanto, esses estudos possuem limitações, como a dificuldade de investigar condições de baixa prevalência, o que exige amostras maiores. Além disso, concentram-se em casos prevalentes e coletam dados sobre exposição e desfecho em um único momento, limitando a compreensão das associações temporais (Bastos & Duquia, 2007).

4. DISCUSSÃO

4.1 PREVALÊNCIA

A prevalência do uso de DEF entre EM é motivo de preocupação, com taxas que variam consideravelmente entre os estudos analisados. Relatou-se que 57,9% dos participantes já experimentaram ou ainda utilizam DEF, sendo 37,9% usuários atuais (Anjos et al., 2023). Identificou-se uma taxa de uso de 22,2% (Braga, 2023), enquanto observou-se que 20,1% fazem uso regular (Lima et al., 2023). Constatou-se que 13,1% dos estudantes experimentaram e 2,3% são usuários atuais (Martins et al., 2023). Além disso, registrou-se um índice de 44,8% de uso entre os participantes (Silva Filho, 2022).

Esses dados heterogêneos evidenciam a necessidade urgente de intervenções educacionais e políticas de saúde coletiva direcionadas à redução do uso de DEF entre futuros profissionais de saúde, visando mitigar os potenciais impactos negativos à saúde associados a esses dispositivos.

4.2 DETERMINANTES E FREQUÊNCIA DE USO

As motivações para o uso de DEF apresentam variações significativas entre os estudos analisados. Observou-se que a maioria dos usuários atuais utiliza os dispositivos de maneira esporádica, com uma taxa de 40,3% (Anjos et al., 2023). A curiosidade foi destacada como o principal fator para a experimentação, atingindo 46,2% (Lima et al., 2023). Além disso, confirmou-se que tanto a curiosidade quanto a familiaridade com os dispositivos são determinantes importantes (Braga, 2023). Salientou-se também que o aroma e o sabor dos dispositivos são razões predominantes para a experimentação, juntamente com a tentativa de cessação do tabagismo, mencionada por 26,1% dos participantes (Martins et al., 2023).

4.3 AVALIAÇÃO DOS RISCOS

A percepção dos riscos associados ao uso de DEF também apresenta divergências. Revelou-se que 54,2% dos estudantes consideram os DEF tão prejudiciais quanto o tabagismo convencional, enquanto 27,1% os veem como menos nocivos (Anjos et al., 2023). Destacou-se que 97,8% dos estudantes reconhecem a dependência causada pelos DEF e 84,4% associam seu uso a riscos cardiovasculares elevados (Braga, 2023). Indicou-se uma conscientização quase universal sobre os riscos à saúde, com uma taxa de 96,8% (Lima et al., 2023). Apontou-se que a maioria dos estudantes, 77,8%, sabe que os DEF geram fumo passivo e 84,1% reconhecem a presença de substâncias cancerígenas (Silva Filho, 2022).

4.4 FORMAÇÃO MÉDICA

As defasagens nos currículos de formação médica são evidentes em várias áreas, especialmente quanto à ausência de abordagens sobre os riscos associados aos DEF. Embora o uso desses dispositivos entre EM esteja em crescimento, o currículo ainda negligência aspectos cruciais, como a educação preventiva e o aconselhamento clínico sobre seus efeitos adversos.

A análise dos estudos reforça essa carência, destacando a falta de iniciativas voltadas para a prevenção e o combate ao uso, além de apontar a necessidade de uma abordagem multidisciplinar no ensino médico para lidar adequadamente com essa problemática (Anjos et al., 2023).

Evidenciou-se que 88,1% dos estudantes nunca assistiram a uma aula sobre os efeitos dos DEF e 71,4% não se sentem confiantes para discutir o tema com pacientes (Silva Filho, 2022). Também se acentuou a importância de fornecer conhecimento científico rigoroso para evitar a propagação de informações errôneas e capacitar futuros médicos a orientar seus pacientes (Braga, 2023; Lima et al., 2023).

4.5 INTEGRAÇÃO INTERDISCIPLINAR NO CURRÍCULO MÉDICO

Conforme evidenciado nos estudos analisados, a questão do DEF transcende o âmbito individual, configurando-se como uma lacuna curricular nas escolas médicas. Destaca-se a ausência de iniciativas eficazes de prevenção e combate ao uso desses dispositivos, enfatizando a necessidade de uma abordagem multidisciplinar que aborde os impactos tanto para os usuários quanto para seus futuros pacientes (Anjos et al., 2023; Braga, 2023; Lima et al., 2023; Silva Filho, 2022).

Para suprir essa carência na formação médica, a interdisciplinaridade emerge como uma ferramenta fundamental. Japiassu (1976) argumenta que a interdisciplinaridade permite a integração de diferentes áreas do conhecimento, promovendo uma compreensão mais abrangente e contextualizada dos impactos dos DEF na saúde. Em contraste com o modelo tradicional de ensino, fragmentado e focado em disciplinas isoladas, a interdisciplinaridade possibilita a construção de um conhecimento mais completo e relevante para a prática médica.

A abordagem interdisciplinar possibilita a análise multifacetada dos aspectos médicos, sociais, comportamentais e comunicacionais do uso de DEF, proporcionando aos estudantes uma visão mais abrangente e crítica do problema. Além disso, contribui para a formação de médicos mais engajados e preparados para enfrentar os desafios da saúde coletiva. A interdisciplinaridade, ao romper com o modelo tradicional de ensino, estimula a autonomia dos alunos, o pensamento crítico e o trabalho em equipe, habilidades essenciais para a prática médica contemporânea (Pantoja et al., 2024).

As Diretrizes Curriculares Nacionais para cursos na área da saúde (Kussakawa & Antonio, 2017), sobretudo em medicina, enfatizam a interdisciplinaridade como essencial para uma abordagem completa do processo saúde-doença, apoiada por um projeto pedagógico que analisa os desafios enfrentados pela população brasileira e pelos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). A integração disciplinar entre diversas áreas busca facilitar a aprendizagem, a organização do trabalho e a comunicação entre os diferentes cursos, promovendo uma configuração transdisciplinar equilibrada (Garcia et al., 2007; Vieira et al., 2018).

Portanto, a incorporação da interdisciplinaridade na formação médica é fundamental para preparar os futuros profissionais para os desafios impostos por essa nova realidade. A adoção de um currículo médico mais abrangente e contextualizado, que integre diferentes áreas do conhecimento, pode contribuir significativamente para a formação de médicos mais capacitados para lidar com problemas como o tabagismo e promover a saúde da população.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em síntese, os estudos oferecem uma visão ampla sobre a prevalência, motivação e percepção do uso de DEF entre EM. As variações nas taxas de uso e nas percepções de risco destacam a necessidade de uma abordagem educacional mais consistente e abrangente nas faculdades de medicina. É evidente que há uma alta prevalência de experimentação e uso esporádico, impulsionada principalmente pela curiosidade e influências sociais.

Embora os estudos apresentem limitações metodológicas, como amostras restritas e dependência de dados autorrelatados, estes foram fundamentais para o desenvolvimento do presente estudo e indicam a necessidade de pesquisas futuras mais robustas, com delineamentos longitudinais e análise aprofundada dos fatores contextuais, para uma compreensão mais completa da prevalência e dos impactos do uso de DEF entre EM.

Apesar das limitações, os estudos analisados foram essenciais por fornecerem um panorama inicial sobre a prevalência do uso de DEF entre EM. Eles contribuíram significativamente para o entendimento preliminar dos comportamentos, percepções e fatores associados ao uso desses dispositivos dentro do contexto acadêmico.

Em suma, alta conscientização sobre os riscos à saúde, contrastada com a falta de confiança para discutir o tema com pacientes e a carência de formação específica, apontam para áreas críticas a serem abordadas no currículo médico. Portanto, essas descobertas reforçam a necessidade de incluir informações detalhadas e atualizadas sobre os impactos dos DEF na formação médica, preparando os futuros profissionais para lidar com essa prática e seus potenciais impactos na saúde coletiva.

REFERÊNCIAS

Al Oweini, D., Jawad, M., & Akl, E. A. (2019). The association of waterpipe tobacco smoking with later initiation of cigarette smoking: a systematic review and meta-analysis exploring the gateway theory. Tobacco Control, tobaccocontrol-2018-054870. https://doi.org/10.1136/tobaccocontrol-2018-054870

Anjos, E. C. V. dos, Silva, D. D. M. da, & Gama, H. V. P. (2023). O uso de cigarros eletrônicos e o conhecimento dos riscos entre os acadêmicos de medicina. Revista Interdisciplinar Ciências Médicas, 7(2). https://revista.fcmmg.br/index.php/RICM/article/view/272

Arksey, H., & O’Malley, L. (2005). Scoping studies: towards a methodological framework. International Journal of Social Research Methodology, 8(1), 19–32. https://doi.org/10.1080/1364557032000119616

Aromataris, E., Lockwood, C., Porritt, K., Pilla, B., & Jordan, Z. (Orgs.). (2024). JBI Manual for Evidence Synthesis. JBI. https://doi.org/10.46658/JBIMES-24-01

Bastos, J. L. D., & Duquia, R. P. (2007). Um dos delineamentos mais empregados em epidemiologia: estudo transversal. Scientia Medica, 17(4), 229–232.

Birdsey, J., Cornelius, M., Jamal, A., Park-Lee, E., Cooper, M. R., Wang, J., Sawdey, M. D., Cullen, K. A., & Neff, L. (2023). Tobacco Product Use Among U.S. Middle and High School Students — National Youth Tobacco Survey, 2023. MMWR. Morbidity and Mortality Weekly Report, 72(44), 1173–1182. https://doi.org/10.15585/mmwr.mm7244a1

Braga, L. L. A. (2023). O uso de cigarro eletrônico pelos estudantes de medicina e suas respectivas percepções um estudo transversal [Trabalho de conclusão de Graduação, Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública]. https://repositorio.bahiana.edu.br:8443/jspui/handle/bahiana/7000

Brasil, Ministério da Saúde, & Agência Nacional de Vigilância Sanitária. (2009). Resolução-RDC no 46, de 28 de agosto de 2009. Proíbe a comercialização, a importação e a propaganda de quaisquer dispositivos eletrônicos para fumar, conhecidos como cigarro eletrônico. Em: Diário Oficial da União.

Cabral, A. R., Santos, B. L. da S., Araujo, C., Oliveira, L., Lúcio, J. A., Pereira, E., & Souto, G. (2022). Os Impactos negativos do uso do cigarro eletrônico na saúde. Diversitas Journal, 7(1), 0277–0289. https://doi.org/10.48017/dj.v7i1.2015

Foster, E. D., & Deardorff, A. (2017). Open Science Framework (OSF). Journal of the Medical Library Association, 105(2). https://doi.org/10.5195/jmla.2017.88

Garcia, M. A. A., Pinto, A. T. B. C. e S., Odoni, A. P. de C., Longhi, B. S., Machado, L. I., Linek, M. D. S., & Costa, N. A. (2007). A interdisciplinaridade necessária à educação médica. Revista Brasileira de Educação Médica, 31(2), 147–155. https://doi.org/10.1590/S0100-55022007000200005

Godoy, I. de. (2023). Better education and surveillance to approach the e-cigarette surge as a pandemic. Jornal Brasileiro de Pneumologia, e20230026. https://doi.org/10.36416/1806-3756/e20230026

Hochman, B., Nahas, F. X., Oliveira Filho, R. S. de, & Ferreira, L. M. (2005). Desenhos de pesquisa. Acta Cirurgica Brasileira, 20(suppl 2), 2–9. https://doi.org/10.1590/S0102-86502005000800002

Howick, J., Chalmers, I., Glasziou, P., Greenhalgh, T., Heneghan, C., Liberati, A., Moschetti, I., Phillips, B., & Thornton, H. (2011). OCEBM Levels of Evidence. Centre for Evidence-Based Medicine. https://www.cebm.ox.ac.uk/resources/levels-of-evidence/ocebm-levels-of-evidence

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2020). Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar: 2019.

Instituto Nacional de Câncer. (2024, abril 30). Dispositivos eletrônicos para fumar. Tabagismo. https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/causas-e-prevencao-do-cancer/tabagismo/dispositivos-eletronicos-para-fumar

Japiassu, H. (1976). Interdisciplinaridade e Patologia do saber. Imago.

Kussakawa, D. H. B., & Antonio, C. A. (2017). Os eixos estruturantes das diretrizes curriculares nacionais dos cursos de Medicina no Brasil. Revista Docência do Ensino Superior, 7(1), 165–184. https://doi.org/10.35699/2237-5864.2017.2245

Lima, P. V. de M., Maia, P. B., & Duarte, J. de J. L. (2023). Prevalência do uso de cigarros eletrônicos e suas complicações respiratórias entre estudantes de medicina em uma universidade privada de Teresina-PI. Research, Society and Development, 12(4), e9212440977. https://doi.org/10.33448/rsd-v12i4.40977

Malta, D. C., Gomes, C. S., Alves, F. T. A., Oliveira, P. P. V. de, Freitas, P. C. de, & Andreazzi, M. (2022). O uso de cigarro, narguilé, cigarro eletrônico e outros indicadores do tabaco entre escolares brasileiros: dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2019. Revista Brasileira de Epidemiologia, 25. https://doi.org/10.1590/1980-549720220014.2

Martins, S. R., Araújo, A. J. de, Wehrmeister, F. C., Martins Freitas, B., Basso, R. G., Santana, A. N. C., & Santos, U. de P. (2023). Prevalence and associated factors of experimentation with and current use of water pipes and electronic cigarettes among medical students: a multicentric study in Brazil. Jornal Brasileiro de Pneumologia, e20210467. https://doi.org/10.36416/1806-3756/e20210467

Menezes, A. M. B., Wehrmeister, F. C., Sardinha, L. M. V., Paula, P. do C. B. de, Costa, T. de A., Crespo, P. A., & Hallal, P. C. (2023). Use of electronic cigarettes and hookah in Brazil: a new and emerging landscape. The Covitel study, 2022. Jornal Brasileiro de Pneumologia, e20220290. https://doi.org/10.36416/1806-3756/e20220290

O’Brien, D., Long, J., Quigley, J., Lee, C., McCarthy, A., & Kavanagh, P. (2021). Association between electronic cigarette use and tobacco cigarette smoking initiation in adolescents: a systematic review and meta-analysis. BMC Public Health, 21(1), 954. https://doi.org/10.1186/s12889-021-10935-1

Pantoja, J. C. (2024). Dermatology in Primary Care in Brazil: The training process of general practitioners. Research, Society and Development, 13(2). https://doi.org/https://doi.org/10.33448/rsd-v13i2.44852

Pantoja, J. C., Alegrio, B. L., Tsukamoto, J. C., Machado, C. L., Mella, J. P., Bertolli, L. P., Matos, L. M., Furlan, M. X. da S., Mattar, R. H. M., & Avelino, Y. D. (2024). Electronic Cigarette Use among Medical Students in Brazil: A Scoping Review Protocol. Open Science Framework. https://doi.org/10.17605/OSF.IO/A3TXZ

Peters, M. D. J., Godfrey, C. M., Khalil, H., McInerney, P., Parker, D., & Soares, C. B. (2015). Guidance for conducting systematic scoping reviews. International Journal of Evidence-Based Healthcare, 13(3), 141–146. https://doi.org/10.1097/XEB.0000000000000050

Silva Filho, V. F. C. da. (2022). Conhecimento dos estudantes do curso de medicina de uma faculdade particular em Salvador sobre cigarros eletrônicos [Trabalho de Conclusão de Curso, Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública]. https://repositorio.bahiana.edu.br:8443/jspui/handle/bahiana/6884

Tobacco Tactics. (2023, fevereiro 2). E-cigarettes. University of Bath. https://tobaccotactics.org/article/e-cigarettes/

Tricco, A. C., Lillie, E., Zarin, W., O’Brien, K. K., Colquhoun, H., Levac, D., Moher, D., Peters, M. D. J., Horsley, T., Weeks, L., Hempel, S., Akl, E. A., Chang, C., McGowan, J., Stewart, L., Hartling, L., Aldcroft, A., Wilson, M. G., Garritty, C., … Straus, S. E. (2018). PRISMA Extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR): Checklist and Explanation. Annals of Internal Medicine, 169(7), 467–473. https://doi.org/10.7326/M18-0850

Vieira, S. de P., Pierantoni, C. R., Magnago, C., Ney, M. S., & Miranda, R. G. de. (2018). A graduação em medicina no Brasil ante os desafios da formação para a Atenção Primária à Saúde. Saúde em Debate, 42(spe1), 189–207. https://doi.org/10.1590/0103-11042018s113

World Health Organization. (2021). WHO Report on the Global Tobacco Epidemic, 2021. https://www.who.int/teams/health-promotion/tobacco-control/global-tobacco-report-2021

NOTA

Os autores utilizaram a Inteligência Artificial “Mendeley Reference Manager”, versão v2.128.0 para gerenciar e ajustar as citações e referências de forma automatizada. No entanto, todas as buscas pelos conteúdos, classificação da qualidade dos artigos e ajustes necessários para o desenvolvimento do estudo foram realizadas de maneira autoral.

[1] Orientadora. Bacharela em Saúde pelo Centro Universitário Internacional e especialista em Docência em Ciências da Saúde pela Faculdade Iguaçu. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5714-7909. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5291107412425263.

[2] Graduanda em Medicina. ORCID: https://orcid.org/0009-0004-4833-4285. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6105772429859434.

[3] Graduanda em Medicina. ORCID: https://orcid.org/0009-0008-6421-3749. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3340684138614351.

[4] Graduanda em Medicina. ORCID: https://orcid.org/0009-0008-6421-3749. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0167523429442434.

[5] Graduando em Medicina. ORCID: https://orcid.org/0009-0000-3940-4801. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5163009281656695.

[6] Graduanda em Medicina. ORCID: https://orcid.org/0009-0005-1291-9115. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2051953800104004.

[7] Graduanda em Medicina. ORCID: https://orcid.org/0009-0008-7635-8777. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2365220829731208.

[8] Graduanda em Medicina. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7748-4889. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1754035638436380.

[9] Graduando em Medicina. ORCID: https://orcid.org/0009-0001-2460-1025. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0722100982462171.

[10] Graduando em Medicina. ORCID: https://orcid.org/0009-0006-4660-707X. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9267104520252447.

Material recebido: 19 de agosto de 2024.

Material aprovado pelos pares: 08 de janeiro de 2025.

Material editado aprovado pelos autores: 16 de janeiro de 2025.

5/5 - (14 votos)
Jessica Corrêa Pantoja

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pesquisar por categoria…
Este anúncio ajuda a manter a Educação gratuita