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Cotidiano dos imigrantes italianos e a influência religiosa católica do século XIX

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

LENZI, Marcio Timotheo [1]

LENZI, Marcio Timotheo. Cotidiano dos imigrantes italianos e a influência religiosa católica do século XIX. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 12, Vol. 08, pp. 102-132. Dezembro de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/ciencias-sociais/cotidiano-dos-imigrantes

RESUMO

O presente artigo visa analisar os aspectos marcantes em que a religião católica deixou na vida dos imigrantes, utilizando, para tanto, um olhar antropológico sobre o cotidiano do povo italiano que vive na região do Médio Vale do Itajaí, no Estado de Santa Catarina, Sul do Brasil, durante mais de 130 anos de história, os quais estão ainda presentes no dia a dia do povo campesino e operário, resistindo às inovações culturais vigentes no século XXI. O ponto de partida é a história dos seus antepassados vindos da Itália, ainda no século XIX, em grande parte da Província Autônoma de Trento, cujas fontes são trazidas ao presente estudo, por meio da rica bibliografia no decorrer desses 130 anos, produzida em grande parte pelos historiadores brasileiros e italianos. O objetivo geral é discorrer sobre o universo cotidiano das pessoas que até os dias atuais carregam consigo, as influências da cultura italiana e até onde a religião católica do século XIX semeou sua influência na região do Médio Vale do Itajaí, em Santa Catarina. A pergunta problema segue esse tema, isto é, o que restou da influência religiosa do século XIX, trazida da Europa pelos imigrantes e religiosos, no cotidiano atual de seus descendentes? Para tanto, se pesquisou em parte da bibliografia descrita entre 1990 e 2022, concluindo que a força da religião molda o ser humano, assim como fazem os oleiros em seus vasos de barro e os escultores em suas estátuas, deixando marcas que perduram por gerações e gerações.

Palavras-chave: Imigrantes, Religião, Província de Trento, Vale do Itajaí.

1. INTRODUÇÃO

O contexto da presente pesquisa procura estudar, por meio do olhar antropológico e histórico, mesmo passados mais de 130 anos de sua vinda, a vida dos primeiros imigrantes italianos, os quais trouxeram forte influência da religião católica e da cultura italiana para um novo e imenso espaço territorial que é o nosso país, em especial a região do Médio Vale do Itajaí, no Estado de Santa Catarina, Sul do Brasil.

Apesar da grande diversidade cultural brasileira, formada durante séculos, e pela incessante e inovadora mudança de padrões de comportamento, surgido principalmente pelas inovações tecnológicas, superando a das lides campesinas e industriais dos primeiros habitantes desta pequena região do Brasil, ainda assim resiste o antigo pensamento campesino e operário, apesar da evolução técnico-social do Século XXI, uma vez que inovações materiais e tecnológicas, por sí só, não são capazes de desmontar uma estrutura cultural que perdura por séculos e que foi trazida da Europa no Século XIX.

Portanto, o objetivo geral deste artigo é discorrer sobre o universo cotidiano das pessoas que, até os dias atuais, carregam consigo as influências da cultura italiana e até onde a religião católica semeou sua influência, a partir de seus antepassados oriundos da Itália no século XIX, em grande parte da Província Autônoma de Trento, para a região do Médio Vale do Itajaí, em Santa Catarina.

A pergunta problema segue esse tema, qual seja: o que restou da influência religiosa do século XIX, trazida da Europa pelos imigrantes e religiosos, no cotidiano atual de seus descendentes, seja na área social, familiar, profissional, religiosa e política?

Diante de tal situação, a resposta apesar de não ser simples, possui base bibliográfica capaz de dar uma boa abrangência de como a religião influenciou e influencia as populações da região ora estudada.

O que inquieta, no contexto da história e no cotidiano da imigração italiana, é a forma como tal imigração foi escrita e elaborada, uma vez que em grande parte foi contada de forma parcial, aos olhos dos religiosos ou pessoas que possuem forte carga cultural eclesiástica, não podendo, entretanto, desconsiderar seu conteúdo escrito e vivenciado, uma vez que é um rico material de trabalho para fazer as avaliações correlatas ao tema.

Se, diante das evidências bibliográficas, a análise antropológica é mais difícil que a histórica, salvo melhor juízo, tentar esta nova via cria uma perspectiva de análise (antropológica e não exclusivamente histórica) diferenciada, evitando o risco de ser repetitiva aos mesmos autores ou, ainda, pertencer a uma mesma lógica, fruto de um contexto social (emoção-sentimento de italianidade e religiosidade).

Percebe-se, portanto, a partir desta abordagem, que a força da religião molda o ser humano, como fazem os oleiros em seus vasos de barro e os escultores em suas estátuas, deixando marcas que duram gerações e gerações e perduram até a atualidade.

2. COMO PRODUZIMOS UM CONTEXTO SOCIAL

Sem dúvida alguma somos frutos de uma desordem histórica, vasta e, ao mesmo tempo, minuciosa, onde os fatos são contados e transmitidos de maneira a ressaltar as epopeias e sagas de grandes personalidades, que nem sempre foram o que se estampou na historiografia regional, isso sem querer desmerecer o suor, sangue e lágrimas aqui derramados e nem o esforço dos estudiosos aqui desprendido.

Segundo Lucena (1984, p. 7), “O povo brasileiro sofre desta particularidade de ser um depositário de uma história obscura, sem reflexão e crítica; séculos de dominação política e econômica justificam a ausência, na formação do brasileiro, de uma consciência histórica.” Ou seja, o povo brasileiro é fruto de uma consciência histórica obscura e sem reflexão crítica, o que não foge de parte da narrativa histórica na bibliografia regional. Ainda, para agravar, a narrativa da colonização italiana em nossa região processa-se de maneira periférica e esquiva aos meios de divulgação oficial de nosso Estado e país. Sua importância no contexto nacional não é bem definida, talvez por não delinear tão fortemente os traços econômicos regionais ao tratar da organização industrial e exploradora empreendida por uma pequena parcela de famílias alemãs nesta região (Blumenau e Brusque), talvez por falta de interesse das autoridades presentes durante todos esses anos de história imigrante, ou talvez pela falta de universidades e acadêmicos nas ciências humanas que pudessem sistematizar o pensamento e a história de nosso povo, até pelo menos a década de 1990. A história, então, só seria contada por figuras populares regionais que confundiram seus escritos com sentimentos, emoções e alusões próprias, ou ainda dos interesses de quem os financiasse. Somente com a implantação das universidades em nossa região, formandos em história, sociologia e antropologia começam a dar um teor científico, sem desmerecer, no entanto, a grande contribuição que os letrados e até iletrados, antepassados das gerações presentes, contribuíram para as ciências sociais atuais.

De acordo com Souza (2019), a história acadêmica e escrita não é feita por mero deleite ou gratuidade, pois sempre há algo escondido a proteger e não nasce espontânea de leigos para leigos, mas é fruto de uma estrutura permeada de interesses, que ao modo de ver do leigo é estranha e inacessível e se esconde atrás de todo o aparato cultural e institucional. No caso em pauta, estudaremos a influência da religião católica em nossa região, questionando se o que consta da narrativa histórica reflete a realidade cultural do imigrante italiano.

O autor se justifica explanando que

Para responder às três questões essenciais para a compreensão da singularidade de qualquer sociedade – de onde viemos, quem somos e para onde vamos -, o culturalismo racista constrói a fantasia da continuidade cultural com Portugal, que é falsa da cabeça aos pés. Ela se baseia em uma tese clássica do senso comum – que é uma espécie de sociologia espontânea dos leigos – que imagina que a transmissão cultural se dá de modo automático como o código genético. Nessa leitura de senso comum, imagina-se que alguém é, por exemplo, italiano apenas porque o avô era italiano. Depende. Se as condições sociais forem outras, essa pessoa não tem nada de italiano, a não ser o código genético. (SOUZA, 2019, p. 40)

E complementa, finalizando sua argumentação, afirmando que

A influência cultural não se transmite, afinal, pelas nuvens nem pelo simples contato corporal. Os seres humanos são construídos por influência de instituições. É fácil perceber isso com simples exemplos cotidianos. Pensemos na família, na escola ou no mercado de trabalho. Disposições fundamentais para o comportamento, como a disciplina, o autocontrole, o pensamento prospectivo, são ensinadas por meio de prêmios e castigos institucionais não necessariamente físicos, muito menos conscientes. (SOUZA, 2019, p. 41)

Por razões culturais e econômicas, o conhecimento ao povo dessa região era transmitido por seus poucos eruditos de formação modesta, mas suficiente para poder relatar por escrito e transmitir os acontecimentos ao longo dos anos. Para Burke (1989) existem filtros importantes que podem enxergar o imigrante com olhos estranhos ao do agente iletrado, tais como os autores dos documentos registrados durante os longos períodos de vida de uma região, de sua população e dos pesquisadores que fazem do imigrante o objeto de seu estudo. Nesse sentido, “Estruturar a História do comportamento dos iletrados é necessariamente enxergá-la com dois pares de olhos estranhos a elas: os nossos e os dos autores dos documentos que servem de mediação entre nós e as pessoas comuns que estamos tentando alcançar.” (BURKE, 1989, p. 94).

Segundo Chauí (1981), em “Cultura e Democracia”, os sujeitos que representam as relações sociais nem sempre tem um nível de consciência capaz de enxergar-se diante da realidade, como que o espelho da vida estivesse ofuscado, pois

Num primeiro momento, o fenômeno da alienação parece transcorrer na esfera da consciência e, portanto, no modo pelo qual os sujeitos representam as relações sociais tais como lhes aparecem, sendo-lhes impossível de conhecerem-se nos objetos sociais produzidos por sua própria ação. (CHAUÍ, 1981, p. 64)

A autora acrescenta, ainda, argumentos que dão consistência e legitimidade, em especial atenção, à cultura popular, principalmente no aspecto da tentativa de contextualizá-la dentro de seu momento histórico e cultural, fato importante para se ter uma fidedigna análise científica do caso.

A cultura popular merece cuidado, a fim de que não se atribua a uma esfera da sociedade algo que define o próprio todo social. O cuidado não significa, de modo algum, abandonar o conceito em nome da juventude daquele que empregou no século passado, imbuído do humanismo filosófico dos velhos socialistas. Ao contrário, trata-se de mantê-lo, porque, uma vez compreendida a identidade de sua forma para exploradores e explorados, torna-se possível marcar o lugar da diferença, e esta concerne ao conteúdo. Se, para a classe dominante, a alienação vivida e exercida é fonte de auto conservação e de legitimação, para os dominados é fonte de paralisia histórica. (CHAUÍ, 1981, p. 66)

Pedra fundamental e alicerce da vida dos imigrantes, não considerar a influência da religião na mentalidade camponesa ítalo-brasileira, nesta região, é praticamente impossível, pois seria como separar um ferreiro de seu martelo ou um lenhador de seu machado. Para Lévi-Strauss (1986), em ‘A oleira ciumenta’, quando fala dos mitos americanos e suas relações, argumenta que traços da personalidade associados à prática de um ofício tem suas possibilidades concretas de relação, quem dirá então a religiosidade na vida de um imigrante iletrado e massacrado pelas agruras do trabalho árduo do dia a dia, que só via nas preces e na Igreja uma fuga e consolo pelo seu árduo sofrimento campesino.

Para definirmos bem o molde colonial que fixa a personalidade do imigrante italiano será preciso entender sua lógica anterior, baseada em princípios religiosos de santidade.

Na obra ‘A Igreja na colonização italiana no Médio Vale do Itajaí’, por exemplo, vê-se na religião o alicerce basilar da sociedade imigrante, pois “A Itália, conhecida como terra dos papas e o centro de irradiação do cristianismo, bem como o trentino, formavam regiões onde o catolicismo florescia com toda sua força e pujança. Para os católicos italianos de então, toda sua vida se orientava no sentido de vivência da fé cristã.” (BERRI, 1988, p. 15). Já Grosselli (1987, p. 506), em seu livro ‘Vencer ou morrer: camponeses trentinos (vênetos e lombardos) nas florestas brasileiras’, também reforçava o forte impulso religioso na cultura imigrante, afirmando que “O ideal do imigrante italiano após sua instalação em sua colônia era a santidade, não o progresso, a Glória de Deus e não o bem-estar.”.

Ainda quanto à forma de pensar do imigrante, em especial o trentino, sendo esse um dos principais povoadores do Médio Vale do Itajaí, que, segundo Cadorin (1987, p. 593),

Ao se transferir para o Brasil, o imigrante trentino trouxe consigo sua cultura, seu modo de se relacionar com o meio que o circundava: das pequenas vilas trentinas, onde a religião católica era cultivada intensamente, […] os valores religiosos foram importantíssimos para ajudar a sublimar o meio que lhes era hostil.

Possamai (2005) complementa afirmando que esse trouxe da Europa seu estilo de ser e, dentro disso, é certo que o respeito pelo sacerdote e pela sua Igreja, tendo-o como um líder além de espiritual, um líder comunitário, uma autoridade acima de tudo. Como se vê, esta lógica nos dá um perfil do que o imigrante desejava, isto é, não ver na religião apenas um significado cultural como qualquer outro, mas sim um profundo sentimento de realização, um ideal de vida. Este ideal era realizado com uma lógica própria, comum apenas a eles e calcado na forte influência da figura do Padre e da Igreja Católica.

Na Europa do Século XIX, com a estruturação da lógica e o espírito capitalista na sociedade, que surge das entranhas do Luteranismo, os imigrantes italianos tomaram caminhos diferentes e que nem sempre foram os mesmos de seus vizinhos germânicos. Com isso, o desenvolvimento econômico anglo-saxão e luterano acentua-se em detrimento aos ideais de salvação eterna dos italianos-católicos. O Deus do imigrante italiano tinha raízes mais afetivas que o Deus dos Luteranos, o que, em grande parte, explica a introspecção mais acentuada dos germânicos do que a extroversão dos imigrantes italianos, não faltando estudos comportamentais neste sentido, mas que não serão possíveis debruçarmos neste artigo, pois fogem, inclusive, da seara antropológica-histórica, tal como a psicologia comportamental. “A igreja Católica foi para o campesinato italiano e trentino o que o Estado nacional foi para a burguesia emergente […] Na igreja se formavam os quadros dirigentes do campesinato, para o qual o padre era mais que um sacerdote, mas também um líder intelectual.” (POSSAMAI, 2005, p. 41).

Assim, seguindo este diapasão, em ‘Cultura e Democracia’, Chauí (1981) traz à tona o que realmente fomenta esta figuração do humano no divino, ou seja, a figura do Padre e da Religião são trazidas para o cotidiano do colono como verdade, como realidade, algo a ser vivenciado a cada gesto e a cada momento de sua vida, ou seja é o ‘Deus-coração’. Tais afirmações são evidenciadas quando a autora afirma que

Projeção fantástica do humano no divino, a religião define uma existência irremediavelmente cindida: cisão entre finito e infinito, criatura e criador, individualidade e universalidade, o aqui e o além, o agora e o porvir, a culpa e o castigo, o mérito e a recompensa. O Deus da religião, afirma Feuerbach, não é um Deus-intelecto (que interessa ao filósofo e o teólogo, “ateus envergonhados”, mas é um Deus-vontade e coração. O primeiro ama o universo e implica panteísmo, não podendo satisfazer a alma religiosa, essencialmente antropocêntrica. Projetando como ser moral perfeito, como o ser absoluto do homem sob a forma do dever-ser, Deus se manifesta como realidade prática a exigir ação e criar tensão entre o que somos e o que deseja que sejamos.” (CHAUÍ, 1981, p. 71)

O Deus prático, comentado por Chauí, é o Deus da necessidade, da apelação, da última instância, pois, para o imigrante, nada mais lhe restava a não ser rezar e trabalhar, e seu isolamento com o mundo não lhe permitia vislumbrar algo diferente, já que essa era sua realidade momentânea. Não era um Deus da erudição, mas de seu cotidiano.

Grosselli (1987) também ressalta esta deferência, quando coloca a função da capela, o alicerce para sustentar a vida do cotidiano do colono, uma pessoa totalmente jogada ao destino, em terras inóspitas e sem qualquer apoio das autoridades de forma ostensiva, onde tudo dependia de seu trabalho e de sua fé cristã.

A capela multiplicou a função religiosa que tinha a Igreja na Europa. Num momento particular da vida do campônio, o momento do desespero, da nostalgia sem trégua, momento em que sua personalidade arriscava desintegrar-se, a religião foi uma âncora de salvação que fornecia nova força moral, novo consolo a quem estava por sucumbir. Se o dilema era, de fato, vencer ou morrer, foi resolvido com o trabalho e com a fé. Abandonada de tudo e por todos, a família camponesa se agarrou às duas coisas que conhecia desde sempre; a oração e uma vida de trabalho contínuo, ininterrupto, asfixiante. (GROSSELLI, 1987, p. 450)

Berri (1988), apoiado nos estudos de Zagonel (1975), cita mais um exemplo de como a fé num Deus-vontade e coração, elucidado por Feuerbach, era preponderantemente objeto de ideais e realizações em seu meio, fruto de uma pregação diária de conhecimento prático e de contato direto com a religiosidade, transmitidos de pai para filho.

Acostumados a uma vida de sacrifícios e privações, mantinham ainda a piedade simples e ingênua de uma população rural aglomerada em torno das igrejas paroquiais onde cultuavam suas devoções mariais e ouviam a pregação do sacerdote. Este representa o elo de ligação com Deus e com a cultura. O sacerdote era também um membro importante da família italiana. Era o personagem amigo e culto no meio dos analfabetos e pobres inquilinos, explorados pelos ricos latifundiários […].” (ZAGONEL, 1975 apud BERRI, 1988, p. 47)

Quando Pellizzetti (1981), em sua obra ‘Pioneirismo Italiano no Brasil Meridional’, traz à tona o resgate histórico da crise que se abateu em 1873-1896, conhecida como a ‘Crise do Pensamento’, encontra suas origens nas raízes religiosas, onde o pensamento ortodoxo obrigava-se aos poucos a dar lugar a um pensamento moderno e humanista e o homem poderia, acima de tudo, guiar seus próprios destinos. Este conceito é muito bem difundido no liberalismo econômico nos dias atuais e é uma das bases fundamentais do neoliberalismo que se difunde a cada dia no Século XXI, com suas devidas ressalvas, é claro, o que fatalmente causou muita estranheza diante da doutrina ortodoxa católica e seus ideais de salvação eterna.

Benedetto Croce analisa o pensamento e o ideal de 1871 a 1890. Entre outras ponderações sobre o período esclarece que, onde se poderia notar na Itália uma decadência com respeito à idade precedente, era no vigor e na largueza do pensamento. Decadência esta, que melhor conviria designar como “crise geral em toda a Europa, cuja origem era por sua natureza religiosa. (PELLIZZETTI, 1981, p. 23-24).

A ortodoxia católica não se exauria toda no clericalismo, dedicava-se aos fiéis, sem atingir, porém, um grau para dar um sistema apto à parte dirigida da nação, não ficando senão a corrente do pensamento moderno, que, como diz Croce, tinha sido já humanismo, reforma, racionalismo, criticismo, dialética, historicidade. Neste crescendo, na primeira metade do século XX, esse pensamento alargava-se em toda a Europa, e mais que em outra parte, na Itália. Esta corrente se detinha e estagnava depois de meio século. Na Itália a negação de filosofia, ou mais verdadeiramente, o esforço de substituir a filosofia idealística pela filosofia naturalística e agnóstica, surgiu mais tarde que em outra parte. (PELLIZZETTI, 1981, p. 24) 

Assim, possivelmente, o que se diz acima culminou em uma cisão de pensamento entre velho e novo mundo, que por questões de isolamento geográfico, científico e comunicativo, foi o não acompanhamento da evolução do pensamento histórico após a saída de muitas e muitas levas de imigrantes destas regiões, nas quais incluem-se os italianos, e que ficaram congeladas e trazidas para cá no estado em que se encontravam, sem acompanhar a evolução que ocorreu na Europa, principalmente no Século XX e agora no Século XXI. No entanto, as raízes culturais europeias foram a semente dos comportamentos culturais de nossa região, e a religião, sem sombra de dúvida, foi a mais importante de todas.

Analisando as precedências históricas do século XIX, se faz necessário esclarecer que este tradicionalismo religioso, fruto de um não engajamento aos sistemas filosóficos, mas sim de preceitos ortodoxos do catolicismo, tornou-se, desde o início da colonização da região até os dias atuais, uma apelação aos ritos e seus dogmas de salvação, pois é de lá que vieram todos estes preceitos.

Portanto, a ponte entre Itália e Brasil não ruiu por um todo, pelo contrário, manteve-se incólume, principalmente alicerçada pela influência tradicional e conservadora do catolicismo do Século XIX trazido da Itália. Seus frutos foram crescendo na cultura do Médio Vale do Itajaí.

Como dito, a religião é o meio por onde se adentra em mostrar grande parte destas evidências, pois é nela que gira todo assunto do cotidiano, e nisto é que se percebe um conceito exclusivamente próprio à nossa região, baseado em fatos que nunca entraram nos livros de história, mas em carne e osso, em cada ser vivido e inserido dentro de uma cultura que agora não passa mais a ser uma cultura exclusivamente italiana, mas ítalo-brasileira.

Philippe Ariès (1995), tratando do papel do geógrafo em seu ensaio ‘A história das mentalidades’, ressalta que uma cultura geral é criada do resultado de uma série de histórias regionais que, aos poucos, se condensam e criam uma identidade cultural mais ampla, e que muitas vezes é resultado da condensação de várias subculturas regionais, tendo a identidade do imigrante italiano sido moldada em vários cantões da Itália e que, quando trazidas ao Brasil, começam a se fundir e criar um mix cultural capaz de produzir, no caso em pauta, com a influência religiosa, um padrão de homem imigrante. “Antes a história regional era uma divisão regional da história nacional política. Ela era constituída pelos acontecimentos que se tinham produzido na região, pelas instituições políticas e religiosas da região, pela vida dos grandes homens nela nascidos.” (ARIÈS, 1995, p. 170).

Desta forma, é preciso discernir o que faz e o que não faz parte do sistema puritano baseado nas concepções religiosas, e o que está se inserindo como produto do sistema econômico e cultural de nosso país. Mas, ao contrário, não seria relevante se posicionarmos o italiano como fruto exclusivo da religião ou pelo menos como principal sistema que gere à sua vida.

André Burguière (1995), no ensaio ‘A antropologia histórica’, também reforça esse mix cultural, que é o resultado de fenômenos de adaptações ou de invenções que o imigrante, aos poucos, foi desenvolvendo dentro de seu novo mundo, sendo nossa região (Santa Catarina, Brasil) o resultado de todo este processo, baseado, acima de tudo, em preceitos religiosos trazidos da Itália do século XIX. O mesmo afirma que “A história dos costumes não se exprime, […], através de um encadeamento de fenômenos pitorescos e de inovações, mas por uma mistura constante de comportamentos herdados (portanto de permanências) e de fenômenos de adaptação ou de invenções.” (BURGUIÈRE, 1995, p. 126).

Mas para que este estudo se aprofunde é necessário muito mais que pesquisas históricas da nossa região, é preciso se inserir com espírito científico antropológico dentro das circunstâncias vividas por todos estes personagens. Mas, afinal, de que forma? Tal resposta, depende do estudo acadêmico organizado e estruturado da situação. No presente caso é a religião católica, base para que os primeiros colonos formassem suas povoações, vivendo em torno de uma solidariedade cristã, ressaltada pelo isolamento parcial com o mundo, onde, muitas vezes, contavam somente com a ajuda do seu Deus trazido da Itália.

Um ponto em questão, em referência ao aspecto religioso, de onde a proveniência na Itália está cercado de uma série de paradigmas, vem a ser o caráter popular da religiosidade e o caráter tradicional voltado às ordens da sede: Roma. Os habitantes das regiões Trentinas, diferentes dos italianos vindos do Vêneto e Lombardia, aparentemente não trouxeram a grande influência da unificação italiana, pois, por essência, pertenciam a uma região dividida, mas trouxeram grandes influências pós-tridentina.

Porém, se leva a crer que a Igreja tradicional foi, aqui e lá, objeto de manifestação popular clara. Deus e os santos, como seus tutores e salvadores materiais de suas circunstâncias, segundo Vovelle (1987), em sua obra ‘Ideologias e Mentalidades’, são o grande mote e alicerce para a vida destes colonos, o que a Igreja tradicional mantinha sempre por intermédio de seus dogmas e sempre sobre sua custódia, evitando que fugissem de seu controle, tanto que a Igreja pós-tridentina na Europa no século XIX teve que incorporar muitas das tradições culturais católica antigas e populares, sob pena de perder adeptos para o anarquismo e o anticlericalismo.

A Igreja Pós-tridentina teve que aceitar seus compromissos, dos quais o mais usual (e também tradicional) foi a cristianização (até que profundidade?) dos gestos e das festas tradicionais. Lutando, por um lado, transigindo por outro, a pastoral ativista conseguiu arrebatar o controle da Igreja paroquial, da qual ela havia feito o centro da vida religiosa coletiva, dominando ainda altares das novas devoções (Santo Sacramento, Rosário) e afastando para o fundo da nave os santos, intercessores tradicionais; e ainda mais, relegando-os aos limites das paróquias nas capelas provinciais. (VOVELLE, 1987, p. 162)

Para as duas facetas desta epopeia (Itália e Brasil), cabe resgatar em suas raízes um processo histórico que culminou numa sociedade submissa (tendo como pressuposto a condição de Deus como objetivo mais alto que a condição material) e um molde cultural baseado nas tradições familiares. Para Vovelle (1987), o século XIX era o século da cristianização autoritária, da luta contra outras correntes religiosas e anárquicas, que a todo custo lutam em permanecer incrustrados no seio da sociedade.

O século XIX, aprendido através da memória dos velhos, testemunha uma outra etapa: a cristianização autoritária da idade clássica foi ao mesmo tempo assimilada, digerida e folclorizada, o que se traduz na mudança da personagem do “cura”, dali em diante integrado (apesar da manutenção de alguns aspectos terrorista) ao jogo coletivo da comunidade. Enquanto isso, os dados referentes à outra religião conservam-se, mas ao mesmo tempo esterilizam-se e se esgotam, mesmo que impregnem duravelmente certas atitudes. (VOVELLE, 1987, p. 203)

Por outro lado, a popularização dos atos religiosos, como a veneração dos santos populares, é algo notório em nossas comunidades. A proximidade com o paganismo, como assim vemos nas fortes características no poder do ‘cura’, transmudado para o caso regional, como, por exemplo, as benzedeiras, sempre foi uma realidade respeitada até pelos padres mais dogmáticos e avessos a estas práticas, pois, para preservar incólume o vínculo hierárquico com a população, a Igreja sempre fez vistas grossas a estas atitudes e práticas, o que mais adiante poderemos mencionar e comentar um pouco mais sobre sua importância e relevância na comunidade italiana até os dias atuais.

O que devemos compreender, segundo Vovelle (1987), é que a cultura popular possui sempre mutações que se adaptam com a nova realidade vivenciada, o que não seria diferente para os campesinos da região. O mesmo afirma que

Uma evolução se esboça na dialética das relações com a Igreja-instituição, condicionando uma parte das evoluções percebidas, mas onde outros movimentos de longa duração desempenham um papel essência ao nível das atitudes vitais: a evolução da comunidade, da família, das atitudes, diante da vida e diante da morte. Suas mutações essenciais não podem deixar de se inscrever tanto ao nível do que resta da herança a mais longínqua, como da realidade complexa da religião popular cristianizada a idade clássica. (VOVELLE, 1987, p. 163)

Ainda para Vovelle (1987), é importante vislumbrar que para a leitura da religião sempre se deve levar em conta as realidades culturais que, aos poucos, vão se transmutando em variantes culturais adaptadas.

Como essa reflexão preliminar, verificamos que estamos longe de nosso ponto de partida. A religião popular que se pode propor como objeto de estudo não é uma realidade imóvel, residual, cujo núcleo seria uma “outra religião” vinda do paganismo e conservada pelo mundo rural: Pelo menos, não exclusivamente. Ela inclui também todas as formas de assimilação ou de contaminação e, sobretudo, a leitura popular do cristianismo pó-tridentino, como também – por que não? – as formas de criatividade especificamente populares. (VOVELLE, 1987, p. 167) 

Tem-se que considerar que os que ficaram na Itália tiveram fatores diferentes dos que vieram para o Brasil. Aqui é necessário construir uma ponte, onde as referências encontram-se no outro lado do mar, e o que resta aqui, atualmente, é constatado como ainda ‘muito’ significativo em termos de remanescências italianas. Contudo, os fatores do Brasil (ainda como ‘colonial’ e pouco industrializado para o século XIX) fazem do europeu um ser descaracterizado de sua lógica europeia, com requisitos não só da agricultura, mas já de uma insípida indústria que pouco florescia na região trentina, mas que já influenciava ambas, mesmo que ainda não os tirassem da marginalidade e desamparo da região trentina do século XIX.

O aspecto residual muito forte (da religião popular ruralizada), segundo Vovelle (1987), restou na fala, na devoção, no aspecto rural de construir a vida, nas festas, nos enterros, mas sendo, cada vez mais, transformados e adaptados ao sistema brasileiro e industrial da região. Tais colocações são percebidas quando o autor esclarece que

Enquanto isso, parte importante das categorias populares novas perdeu contato, ao mesmo tempo com as heranças de longa duração e com a prática religiosa; acentuou-se o aspecto residual e como que defensivo da religião popular ruralizada, ainda que esta evolução coloque o problema da gênese de uma outra “religião” popular sem raízes, procurando seus caminhos ou suas formas de expressão nos meios urbanos da sociedade industrial. (VOVELLE, 1987, p. 163)

O que Michel Vovelle coloca como de realidade europeia, pode ser encaixada perfeitamente na nossa estrutura, sendo que a questão a ser diferenciada é esta ponte que deslocou pessoas (imigrantes) e que ainda deixa pavimentada muita estrutura cultural após esta passagem. Entretanto, a vida dos imigrantes passou a ser em prol da derrubada da floresta e na fé em Deus em dias melhores, e aos poucos vão surgindo outros canais, como o próprio impulso da industrialização.

Fica a mais importante questão: Como se pode transmitir esta codificação resultante dos fatos históricos das manifestações do poder religioso na vida dos campesinos que se encontraram inseridos no processo de colonização do Vale do Itajaí? É um assunto complexo, pois existem várias formas de se evidenciar a estrutura de uma sociedade, dentre elas o aspecto religioso, que tem suas evidências nas manifestações coletivas populares (festas, procissões, dias de santos) e nas manifestações como pessoa (parcelar) devota, incrustrada numa lógica de santificação, ressaltando, contudo, não ser o único meio de vermos como as pessoas se estruturam mentalmente e socialmente. Certamente as ideias de pudor, conservadorismo, fé e até mesmo o fanatismo religioso, podem ser estudadas a partir desta premissa.

A pesquisa oral é responsável em resgatar muitos destes fatos e transformá-los em uma lógica que dê significado ao tema referido. Partindo do pressuposto que a religião influenciou diretamente o sistema econômico e cultural, traz-se à tona as vontades e interesses que foram moldados em nossos imigrantes. Tal método de pesquisa é objeto precioso, porém, criterioso ao extrairmos seus proveitos, pois nem sempre uma pessoa forma os fatos de acordo como o foram, como já dito alhures, e por isso é preciso saber levar em cadência esse tipo de estudo, delimitando o tema na possibilidade de poder extrair dele o maior proveito possível.

Para Vovelle (1987), o trabalho árduo de captar a história vivenciada pelo povo tem uma série de contratempos, pois a questão mais difícil de ser enfrentada é como diagnosticar e localizar as fontes fidedignas que formam o contexto histórico, algo delicado e sensível para o profissional que se propõe pesquisar qualquer que for o tema. Mas uma coisa é certa, há material farto quando se pesquisa épocas que sofreram grandes traumatismos, como a Revolução Francesa e a separação da Igreja e o Estado. Assim, quando se fala de imigração no Brasil não faltam argumentos cheios de riqueza, ocasionados pelo choque da imigração com o novo mundo.

Tais afirmativas se comprovam quando o autor explica que

Em referência à pesquisa oral em sua ambiguidade, preço de sua riqueza, o etnotexto aparece claramente como elemento de base de toda pesquisa futura do oral ou do oral escrito, uma das fontes às quais o historiador se deve habituar. Não é preciso dizer, e o historiador retoma aqui toda a sua aspereza crítica, que o recurso ao oral, mais ainda que outras fontes, desperta a consciência das dificuldades específicas no tratamento das fontes relativas à religião popular ao se fazer dela em objeto da História. (VOVELLE, 1987, p. 182)

Poderia supor que a pesquisa oral, por ser a única que realiza o contato direto procurado com o interlocutor popular, supere esses obstáculos. É engano: ela parece fazer nascer outras dificuldades, entre as quais, uma das maiores é a de acentuar ao extremo o aparente imobilismo da religião popular. Pela ótica dos informantes de A. Borgeaux, como de outros pesquisadores, é um mundo imóvel que se descortina, com suas grandes constâncias (o domingo, “o cura”, a morte…) e seu aspecto de eternidade. É verdade que nosso informante traduz o tempo no interior do discurso congelado devido à influência dos tempos fortes de grandes traumatismos (a revolução Francesa, a separação da Igreja e o Estado). Essa mesma pesquisa, porém, revela com que poder reducionista ou simplificador funciona a memória coletiva: de um a outro episódio (do mais recente ao mais antigo) rola-se perpetuamente.” (VOVELLE, 1987, p. 186)

Um dos temas aos quais se pode questionar, portanto, seria verificar as dificuldades que levaram o imigrante italiano a ser diferente do imigrante alemão, sendo que o segundo se mostra mais poupador e progride mais rapidamente em termos materiais, chegando ao ponto de migrar dentro de sua colônia, vendendo suas terras e seguir para os centros urbanos?

Logicamente que o imigrante do século XIX ao XXI vivenciou um sistema onde o pequeno produtor rural perde a cada dia sua possibilidade de subsistência no campo, e o imigrante italiano não foge desta realidade, sem contar que a divisão das terras na Colônia Blumenau reservou aos colonos italianos os locais mais afastados e encostas de morros, tendo os terrenos em torno de 200 a 250 metros de frente, por 1.200 a 1500 metros de fundo, provavelmente por terem vindo em levas posteriores a dos alemães.

Tais fatos marcam muito a narrativa histórica destes imigrantes, bastando consultar os depoimentos de testemunhas que atualmente são ouvidas em juízo para provar o tempo de agricultura para fins previdenciários junto à Justiça Federal de Santa Catarina. Exemplifica-se,  o seguinte excerto:

[…] Que na época que morava com os pais a família nunca teve nenhum bar. Que o autor morava com seus pais na localidade de Pomerano central, que plantavam fumo, arroz, milho, etc. Que nunca tiveram empregados, que a família do autor era composta de nove irmãos. Que começavam a colher o fumo entre novembro e dezembro, o fumo era vendido para a xxxxx, que plantavam o fumo amarelinho, que um ano plantaram o Berney, que tinham uma estufa. Que o fumo ficava um dia e meio na estufa para secar.”  Pelo Autor, “Que tinham vaca de leite (4 ou 5) e o leite era vendido para o xxxxx de Pomerode.” Pelo INSS, “Que os irmãos do autor quando estavam em casa ajudavam apenas na lavoura, mas quando casavam eles saiam de casa e iam ter sua vida. (BRASIL, 2022)

Assim, apesar da escassez de terra e a necessidade de sair de casa, com a crescente tomada do capitalismo consumista, o alto custo dos produtos industrializados fez com que esta terra já não provesse a inúmera prole, geralmente de cinco a dez filhos por casal, tendo que vender suas terras ou mandar seus filhos para cidade ou seminário, ficando com o filho menos apto para os estudos ou o mais apto ao trabalho físico permanecendo em casa ou construindo uma casa com sua família ao lado de seus genitores. O interessante disso é que muitos desses até permaneciam solteiros para auxiliar incondicionalmente os pais na velhice. No entanto, não se pode afirmar que a avareza não fazia parte da vida do italiano. Claro que sim, pois existem relatos diversos e até anedotas sobre este comportamento tão corriqueiro na vida dos campesinos.

Para essas condicionantes há uma série de relativas observações postas e sobrepostas sobre tais circunstâncias. Porém, destaca-se duas perspectivas de análise a serem levadas em consideração:

1º- O fator histórico que possibilitou ao imigrante ter um pedaço de terra, antes por ele nunca vislumbrado na Itália, despertando um sentimento de vontade material de ver isso produzir frutos, o que, segundo Berri (1988, p. 33), foi um fator relevante para o deslocamento das massas humanas para a América, ao afirmar que

Em outro particular, os colonos italianos ficavam fascinados pelo simples fato de serem donos de um lote de terra, a terra que pertencia aos latifundiários (i siori del Tirol) que os exploravam miseravelmente. Mas a terra que agora possuíam era unicamente sua e muito fértil, não importando o seu estado ainda selvagem, pois, com seu duro trabalho haveriam de transformá-los em lindos prados, em extensas áreas aráveis, ode a semente brotaria viçosa e as colheitas resultariam em fartura. E os “siori del Tirol”, aos quais dedicavam seu desprezo e ódio, não estariam ali para molestá-los, porque eles eram os verdadeiros senhores das terras que acabavam de adquirir.

2º – Um segundo ponto faz relação à sua comunidade vizinha (os alemães), envolvidos em outra lógica, na qual o avanço técnico e capitalista, dentro das vontades nacionais de ‘Ordem e Progresso’ atraia as atenções dos imigrantes italianos que se restringiam apenas ao simples cultivo da terra de forma artesanal. Apenas isso lhes impossibilitava uma melhoria material de vida, deslumbrada ainda mais pelos novos meios de comunicação, em específico a televisão e, mais recentemente, as mídias sociais.

Philippe Ariés (1995, p. 164), em seu ensaio ‘A história das mentalidades’, coloca o tema da seguinte maneira:

Para que nascessem a economia moderna, a nossa, e suas condições – a preocupação com a poupança, a vontade de adiar para o futuro um gozo agora moderado, o investimento das rendas, a acumulação capitalista e, enfim, a divisão do trabalho –, foi preciso que, antes da tecnologia e das forças de produção, mudasse primeiro a atitude mental diante da riqueza e do gozo.

Do fato acima narrado, mais adiante serão revestidos de uma especificidade voltada exclusivamente ao caráter moral, ético e individual do homem imigrante, sem relatar muito sua história, mas sim sua personalidade no semblante conjuntural da História dos Homens (visão antropológica), tendo como foco e ponto de partida a religião.

3. UMA ANÁLISE CONTEMPORÂNEA DO IMIGRANTE ITALIANO NA REGIÃO DO MÉDIO VALE DO ITAJAÍ

As evidências históricas, colocadas no decorrer dos dois itens anteriores, abrem caminho ao argumento principal: Identificar remanescências culturais em decorrência da religião em vários aspectos da vida cotidiana do imigrante, seja na economia, na organização familiar, organização social ou no sistema mental (linguagem, expressões físicas, moralidade).

O ser humano é susceptível a várias circunstâncias do meio em que se encontra. Nada pode negar que o que sejamos ou deixamos de ser é atribuído aos nossos semelhantes mais afins, mais próximos, ligados por traços afetivos, de interesses culturais. Existe, atualmente, uma esfera global que transforma o homem em um ser susceptível a influências não só do seu meio, mas de vários meios, e que chega a ele por várias formas de comunicação (televisão, cinema, rádio, redes sociais, entre outros).

É necessário, antes de tudo, compreender que o homem ocidental não faz parte apenas de uma comunidade, mas sim de uma tribo universal, ligada diretamente 24 horas por dia e em todos os cantos em que se encontra a lógica ocidental capitalista e seus aparatos de comunicação. Dentro desta lógica capitalista envolve-se o interesse na mais-valia, ou seja, a vontade intrínseca e eloquente de querer mais.

A moda, por exemplo, seja no estilo de se vestir ou até de viver, busca sempre diferenciar o ser humano de outro e, geralmente, tal situação demonstra identidade e indica poder, mesmo que este poder não existe nas mãos de quem veste e vive um modelo padrão de uma determinada época, e esteja transmitindo e comunicando à sociedade que comunga deste comportamento, possivelmente moldado por uma ordem baseada em valores, no caso da sociedade moderna capitalista, em padrões estéticos que buscam demonstrar que naquela veste, naquele comportamento, existe algum tipo de poder, mesmo que não passe apenas de mera ilusão.

Existe, é claro, a vanguarda cultural, intelectual, valorizada, mas apenas nos meios acadêmicos, que nem sempre são produzidos para o bem-estar geral das pessoas, mas de algumas pessoas. Não cabe aqui julgar valores, mas sim dizer que existe algo diferente na análise do caso italiano em relação a tudo isto que foi dito acima. Se o matuto do interior de São Paulo (Jeca) não vive nesse universo da mídia é por um único motivo: a lógica capitalista não se interessou por sua circunstância e por seu meio e modo de vida, pois a quem cabe interessar-se é o matuto.

Os movimentos migratórios campo e cidade são a prova clara do que se diz. As pessoas é que devem se sujeitar ao sistema, caso contrário viverão à margem da grande maioria, envolvida num mundo colorido e cheio de perspectivas, muitas vezes claras ilusões. O que faz as pessoas se sujeitarem ou não a um determinado sistema é, em primeiro plano, a necessidade e a predisposição em inserir-se num modelo diferente a ele colocado.

Diante de toda o arcabouço histórico que foi escrito, durante as décadas que sucederam as primeiras imigrações. A discussão sobre a importância do que está registrado historicamente é de suma importância para verificarmos, principalmente, se o que está escrito está de acordo com a realidade social de nossa região. Ou será que o que está escrito reflete, apenas, o fruto de uma formação religiosa, baseada nos dogmas do catolicismo, nos ideais de salvação e na epopeia de algumas figuras históricas? A questão é abrangente, mas, sem sombra de dúvida, podemos começar com a observação do cotidiano atual.

Desta forma, os italianos desta região, possuem uma lógica definida em quatro pontos principais:

a) Ética religiosa bem definida (católicos);

b) Trabalho inserido dentro de uma lógica pós-tridentina, onde seria mais interessante construir belas igrejas e engrandecer o projeto de salvação das almas em seu meio;

c) Economia de subsistência e calçada na mútua troca de produtos entre si;

d) Espírito familiar e comunitário, onde subsistem acima de tudo os contos antigos, os jogos tradicionais, a comida caseira e o modo de expressão (entonação da voz, gestos etc.)

Estas características traçam um estereotipo bem definido e perfeitamente identificável a qualquer pessoa que tenha tido contato com imigrantes em quaisquer outras circunstâncias.

No primeiro ponto citado, cabe ater-se a várias considerações, principalmente na condição em que se encontra atualmente o imigrante, passados mais de cem anos de sua vinda para cá, em termos econômicos e de representatividade no cenário catarinense. Quem é ele? O que faz? Onde está? Primeiramente, o que se constata é que, em sua maioria, trata-se de homens pacatos, simples (os que residem nas cidades de origem), com uma personalidade voltada aos valores morais (religiosos), ao orgulho, são machistas, onde a mulher é relegada, desde o início da colonização, ao trabalho no lar, submissa aos assuntos inerentes a estruturação social de sua comunidade. Assim sendo, a divisão do trabalho representa no homem o desbravador, e na mulher o alicerce para a manutenção da obra deste desbravador (cuidar da alimentação dos filhos, do vestuário).

Isto não é novidade em nenhum outro grupo social, pois vivemos em uma sociedade patriarcal, tanto europeia quanto americana. Porém, a função do casal italiano não é simplesmente construir um progresso material, mas também espiritual, tanto que há muito tempo a existência de um filho que fosse padre seria motivo de muito orgulho, pois demonstrava que nesta família Deus lhe atribuiu uma dadiva especial que nem todos podiam ter.

Trabalho e oração mostram ser, ainda nos dias atuais, temas indiscutíveis no centro do discurso familiar. O trabalho representado na forma tradicional, de esperança de uma vida melhor, porém ditada pelos padrões religiosos, onde descarta-se a objetivação fria dos ofícios profissionais que tornam o homem simples extensão de sua máquina, tornando-se um meio de alcançar a felicidade justa (dentro de seus valores), sacrificada pela glória de Deus.

Ainda nos dias atuais se tem no trabalho uma necessidade acima da educação, pois vive-se, ainda que passados mais de 100 anos, na esfera das necessidades básicas que europeus, em sua maioria, já as suplantaram, privilegiando a educação em primeiro plano. Um exemplo concreto disso é a desistência dos alunos quando chegam no final do ensino fundamental ou médio para dedicar-se a trabalhos em áreas de produção ou mesmo na lavoura, relegando, assim, sua vida ao trabalho secundário e cotidiano local. Desde as primeiras instalações de imigrantes a até algumas décadas atrás, podia-se notar claramente a desistência dos filhos de colonos até no ensino básico, muitas vezes não chegando a completá-lo, para dar assistência na lavoura, onde somente o trabalho do pai tornava-se insuficiente para sustentar a numerosa prole na maioria das famílias.

Por isso, leva-se a crer que o homem desta região não distingue muito de nosso Brasil. Aliás, não teria como distinguir-se, pois é inconcebível viver de pão e água, sem nenhum motivo ideológico ou de pura e simples opção, a um ser que veio para cá fugindo deste fantasma que o assolava na Europa, que era a miséria e a desigualdade social.

Ao se falar da esfera educacional, não se pode esquecer que atualmente, em quase todas as sociedades ocidentais, o valor educacional e profissionalizante, pelo menos nas classes médias e ricas, representa na escala dos valores pessoais a principal ambição familiar (dos pais) para seus filhos, pois dentro de uma lógica capitalista, onde as elites procuram cada vez mais convencer seus subalternos a não participarem do processo de luta de classes, abrindo-se uma brecha, por meio da educação, para que ‘talvez’ alguns privilegiados tenham a chance de participarem das camadas minoritárias. Entretanto, os italianos, na sua maior parte de classe baixa, preferem permanecer inseridos dentro de seu meio social, não importa se mudando de cidade ou permanecendo na terra natal.

Assim, vale o sentido tradição e vale, ainda, ter o sentido social-cristão do batismo, da festa da igreja, do casamento tradicional, onde a festa depois da cerimônia representa um motivo de convite a todos os parentes e vizinhos para retribuir, compartilhar e confraternizar em torno do novo casal que fará parte da comunidade. Ou mais ainda, agradecer aos seus colegas e vizinhos que os acompanharam ou vivenciaram de forma tão intensa, momentos em que o trabalho era compartilhado entre famílias, pois o sistema chamado ‘jornada’ (retribuição de trabalhos feitas nas terras entre vizinhos) era também um grande ponto de união comunitária nas antigas colônias. Fazia-se isso mais intensamente, em particular entre os colonos durante a colheita do arroz, até mais ou menos a década de 1970, onde não existiam colheitadeiras mecânicas, sendo ceifado todo o arroz a mão e, no final da colheita, sendo de costume oferecer uma festa regada a cerveja ou vinho em gratidão do dono da terra aos seus vizinhos prestativos.

Quanto à festa do casamento, ressalta-se que era também um motivo a mais de divertimento, para fazer algo diferente e fugir da ‘rotina’, comendo e bebendo numa alegria comunitária, retribuída de família em família, conforme seus filhos fossem casando-se.

Assim, é possível traçar apenas caricaturas, não retratos, principalmente do que ele, o imigrante, fazia. Porém, mesmo entre os colonos ou os primeiros imigrantes urbanizados, existia um laço comunitário muito grande, tendo como ponto de convergência a Igreja, local de encontro dominical, de agradecimento, sintonia comunitária e difusão da vivência cristã.

Antes de retratar as circunstâncias onde está inserido o imigrante italiano, precisa-se ter uma distinção clara entre duas formulações:

  1. Os imigrantes antigos, sem dúvida alguma, são os mais puritanos em relação aos filhos mais novos, mas isso não indica que houve uma perda total da identidade, mas sim circunstancial. O jovem, por essência, extravasa e extrapola seus sentimentos, porém, a maneira de extrapolar sua juventude se faz de uma maneira bem italiana e regional, seja pelos gritos, arrotos, gestos obscenos, palavrões, com um cunho misógino e, muitas vezes, podados por uma doutrina católica que os levavam a um sentimento de culpa;
  2.  Outra formulação seria a de distinguir a esfera dos imigrantes que se encontram em cidades que, em grande parte, não pertencem mais à cultura italiana (Joinville, Curitiba, Jaraguá do Sul, Blumenau, entre outras).

Procura-se formular um traço único para estas duas distinções, pensando ser o espírito que data estas personalidades, frutos de uma mesma lógica, isto é, filhos relegados ao mundo, sem contextualização e, portanto, crentes no que fazem e de certa forma não sabendo o ‘porquê’ do fazer. Aliás, fazer, trabalhar para viver, para manter seu orgulho tradicional, sua forma de convívio e construir sua família dentro dos moldes patriarcais não com vistas ao mundo, mas, na maior parte das vezes, de costas para ele, sendo assim componente de seu microuniverso, tal como o índio em sua sociedade tribal e não cosmopolita, que vivia sem interesse pelo que se passava além das montanhas e rios.

Reportando às referências históricas, nota-se que o passado deixa marcas de luta e sofrimento, epopeias são contadas e recontadas de várias formas e por várias pessoas. Segundo alguns autores, um homem de luta, desbravador, de raízes humildes e de fé em Deus, seu condutor celestial. O padre, homem sábio, era a autoridade constituída mais respeitável, por estar sempre no cotidiano de seus fiéis súditos, que procuravam, além de amparo da Divina Providência, um amparo moral, que impedisse e amenizasse seu sofrimento, um homem sábio que transmitisse, não importa a qual interesse, coisas novas, coisas concretas, que trouxesse a tão esperada benção da família, da lavoura, da casa, dos animais, fontes primordiais de energia para estas pessoas.

A religião popular com suas superstições, benzeduras e promessas a santos milagreiros, era e ainda é utilizada pelos religiosos e pessoas leigas, pois é o meio mais adequado ao povo rude, simples, que acredita no azar, sorte, que atribui todas as desgraças ou benfeitorias ao transcendental, esquecendo-se, muitas vezes, de sua capacidade como pessoa em poder tornar efetivos muitos dos pedidos dirigidos à Deus.

Não se pode esquecer que a apelação às benzeduras e às bênçãos são simplesmente a condição que foram inseridas por questão de convicção religiosa e econômica, visto que sempre se acreditava mais nessas do que na medicina tradicional. Existem, atualmente, várias benzedeiras para as mais diversas doenças, sendo que entre essas as mais comuns são amarelão, impinges, furúnculos e as ocasionadas por sustos e contatos da pele com ervas ou insetos.

Seguindo essa linha, é possível configurar, também, a devoção dos santos nas casas das benzedeiras (semelhante ao Candomblé), sendo o santo (geralmente popular – São Roque, Santo Antônio, São Francisco, São Jorge, entre outros) o meio intercessor ou mesmo o divino encarnado na sua bem-aventurança.

As igrejas do interior ainda não foram contaminadas pela vontade pós-tridentina e de instituição paroquial, onde geralmente reina no altar mor a figura de um santo apóstolo ou de uma Nossa Senhora, quando não a divinização de Jesus ou de devoções universais (Imaculada Conceição, São Paulo Apóstolo, Sagrado Coração de Jesus), mas sim de sanções que se tornaram tradição nas regiões de onde vieram estes imigrantes (Nossa Senhora do Caravaggio, Nossa Senhora das Dores, São Roque, Santo Antônio, São Braz, São Bernardo, entre outros), confirmando, assim, o que Michel Vovelle havia constatado em seu livro ‘Ideologias e mentalidades’, citado anteriormente.

A religiosidade no cotidiano das pessoas é de uma notoriedade constante na vida dos indivíduos que constituem o contingente imigrante italiano. Provindos da ‘Terra dos Papas – Itália’, centro da irradiação do cristianismo e, por consequência direta, o catolicismo, tem em cada pessoa um depositário desta influência e de seu sucessivo processo de transformação nos vários períodos em que a Igreja, como povo e instituição, se remodela no decorrer dos séculos.

Tem-se em cada uma destas pessoas os resquícios, as posturas e o modo de vida vindos das mais antigas tradições religiosas. Nota-se, porém, que já há alguns anos este papel começa a ter uma série de modificações, influenciadas pela sucessiva ação da mídia em seus meios, alterando, assim, a visão que antes restringia-se aos afazeres caseiros relacionados ao trabalho, família, amigos, de onde não se conseguia ver algo diferente, pois não havia horizonte e lastro para isto.

A televisão, o rádio e uma pequena ascensão econômica dando-lhes acesso a outras localidades, faz um cursor nos rumos de uma lógica tão impregnada nos princípios cristãos-católicos, onde colocava-se a família como centro das atenções, tendo o pai como chefe por excelência, por ser o empreendedor nos trabalhos do cultivo e sustentação básica, sendo predominante o mando do pai na família em seu período de atividades (vida útil no trabalho). Há, ainda, a transmissão deste poder patriarcal para as mãos da mãe, a qual é útil nos trabalhos caseiros a ela sempre delegados, passando não só a exercer mais influência na família, mas na maior parte das vezes a tomar conta dela, sendo o homem incapaz de exercer outra atividade diferente da que sempre ocupou.

Deus começa a assumir um caráter mais moderado no cotidiano de cada pessoa e os meios de comunicação apoderam-se da religiosidade transcendental, popularizada ou não, introduzindo valores no seio do núcleo familiar italiano.

Não se pode considerar exclusivamente uma ruptura total em relação a moral e a ética, nem pode-se considerar uma questão crucial, ao fim da religiosidade católica, mas considera-se uma questão mais de necessidade material, embora suscitada pelos meios de comunicação, de conhecer algo melhor, a sair do marasmo econômico em que a maioria da população agrícola nacional (falida) se encontra, onde os pequenos proprietários, predominantes na região, não suprem mais suas necessidades com o pouco que produzem. Lembremos que antes as necessidades destas pessoas eram apenas básicas e não havia uma lógica consumista, pois não haveria como consumir o secundário se faltava até o essencial e, além do mais, a mídia e um processo recente, mas de efeitos instantâneos, que conseguiu desestruturar em pouco tempo uma cultura herdada da Europa e implantada na região há mais de 100 anos.

É possível traçar um paralelo, onde existem dois eixos girando em torno do enfoque da abordagem deste artigo: a questão da necessidade material e a questão da influência da mídia no meio social. Sabe-se que o primeiro sofre sucessivas transformações em decorrência do outro por fatos já citados e uma série de variantes dos diversos precedentes, mas a atenção na sequência será mais em relatar o que já foi transformado e como se atém, atualmente, o desenvolvimento, a performance do ser em seu meio atual e sua performance como pessoa nos mais diversos locais onde vive.

A religiosidade é algo profundo e inerte no interior de cada pessoa, sendo que não se pode considerá-la algo vazio e sem sentido. A espiritualização e o sentido da salvação eterna é o motivo de luta e glória, principalmente quando a idade avançada atinge o indivíduo em suas crises existenciais. Não é anormal ver pessoas rebeldes na juventude, amenas na maturidade e devotas na velhice, aos santos arcanjos. Nunca podemos esquecer que dentro de nós pode estar escondido um ser humano dotado de sentimentos bons ou um parasita do sistema que se alimenta de tudo o que há de pior, como também alguém que pode entender o mundo de várias formas, dentre elas a visão cultural de seu povo, o que não escapa o estudo de caso dos imigrantes italianos, neste artigo.

Desta forma, os italianos de origem têm padrões culturais muito peculiares, pois são introjetados no decorrer dos anos pela vivência passadas de pai para filho. O consolo e o amparo também estão dentro deste círculo de paixões e não é raro, em seu inconsciente, conceber ‘Maria mãe de Deus’ (ensinados pela doutrina cristã) como sua mãe terrena, carne e osso, emoção divinizada em um símbolo do cristianismo. Ter Deus como um homem bom e compreensivo em contradição ao pai italiano de carne e osso, mais frio, insolente e incompreensivo, são paradigmas que fazem parte da dialética entre doutrina e realidade.

Portanto, dando ao transcendental o que não se realiza em seu ser e seu meio, não seria uma fuga se considerarmos as necessidades e as circunstâncias que este povo enfrentou na Europa e aqui, ainda hoje. Ou seja, jogar ao divino o que de forma frustrada não se consegue realizar no plano de vida de relação familiar.

Com o avanço do tempo e da globalização, a partir dos séculos XX e XXI, houve uma possibilidade aparente deste homem lançar-se ao mundo em busca de novos ideais, de novas possibilidades que permitissem a ele uma melhor convivência com seus semelhantes interétnicos. A aldeia deixou de ser o centro das decisões e discussões, passando, assim, a ser apenas o berçário de uma mentalidade produzida por seus gestores, firmados nos mais dogmáticos carismas cristãos do catolicismo.

Não é raro encontrar pessoas que saem de sua cidade de origem, mas preservam intactos preconceitos, superstições próprias de sua terra natal e, mesmo que se quisessem, não conseguem se libertar do velho ranço dos vícios arrastados pelos seus padrões culturais. Há pessoa de origem trentina não perdem sequer o sotaque e os padrões de comportamento que tinham quando crianças, mesmo passado vários anos e se deslocado para um centro mais urbanizado. Não se quer dizer aqui, de forma preconceituosa ou leviana, que todo imigrante das colônias italianas carrega apenas questões negativas. Claro que não! Muito de positivo há em todas essas pessoas e, para isto, deixa-se para dezenas e milhares de pessoas as obras que escreveram ‘rios de tinta’ sobre esta epopeia em toda região pesquisada. Vale ressaltar que este artigo é apenas observativo e não pretende defender e nem proteger qualquer que seja o ponto de vista.

Para tanto, não há uma pessoa em que não se tenha evidência clara de sua origem étnica. Basta prestar bem atenção, pois entre os italianos isso é fácil de identificar. Dentre o aspecto religioso e o linguístico, que são os dois pontos mais enfáticos nesta percepção, outro aspecto importante é o conservadorismo que tece as mentes dessas pessoas, as quais se apegam às ideias de autoridade, fato este que redunda muito em pensamentos até radicais e extremistas, como a fácil aceitação de aplicação de penas capitais (pena de morte), porte irrestrito de armas, homofobia, entre outros, o que certamente são oriundos da pressão do catolicismo, exercido durante décadas nas famílias dos colonos italianos, para mantê-los no jugo do pensamento religioso que sustenta toda base da imigração italiana. Na verdade, um verdadeiro contrassenso à doutrina pregada por Jesus Cristo e, tudo isso, aliado a um sistema colonialista e escravocrata branco que deixou raízes em todo nosso território nacional.

A religiosidade baseia-se, principalmente, na abordagem de como é encarado o mundo pelo descendente de imigrantes italianos. O liberalismo, do ponto de vista moral (frisa-se: não o liberalismo econômico), não é encarado como algo normal, pois não nasceu com a tradição religiosa católica europeia. E, diga-se de passagem, o anarquismo floresceu em algumas colônias imigrantes nos séculos XIX, mas logo foram suprimidas pelo poder eclesial e, se assim não o fosse, certamente no centro de toda cidade de origem imigrante italiana haveria uma escola anarquista e não uma Igreja Católica.

Como exemplo, segundo Dallabrida (2021, p. 80), no século XIX, “Na área de ocupação trentina e italiana na Colônia Blumenau, os professores eram escolhidos entre os imigrantes mais letrados, geralmente homens que exerciam liderança nas comunidades, como capelães leigos ou fabriqueiros, isto é, administradores de igrejas.”

Ou seja, a educação tinha uma forte influência eclesial, que tinha como longa manus religioso, pessoas com maior instrução entre seus pares, para assim transmitirem a herança da doutrina católica europeia. Dentro desta ótica, pode-se dizer que o ensino religioso despertou muito a base para a formação dos colonos e seus filhos, que, em alguns casos, eram encaminhados para os seminários para se tornarem sacerdotes, ou quando o indivíduo não atendia aos interesses da ordem religiosa, acabava se enveredando no meio acadêmico, sendo muitos deles responsáveis em criar várias universidades e escolas particulares na região.

Pode-se tomar como exemplo o caso da cidade de Rio dos Cedros, tendo o título de ‘Fonte Cultural do Vale’ não por ter incentivado seus cidadãos à leitura, mas sim pelo longo tempo em que as vocações sacerdotais suscitaram aos jovens destas cidades, os quais deslocaram-se às dezenas aos seminários (fontes de cultura e de informação), formando, assim, um contingente grande destes munícipes a se espalharem pelo mundo afora dando conceito à cidade natal onde foram criados. Para os filhos dos colonos, não havia outra alternativa para prosseguir os estudos a não ser a vida sacerdotal.

Ressalta-se que, atualmente, o Brasil insere-se num contexto mais diferente, onde o aluno prepara-se para entrar em um mercado de trabalho qualificado, porém, explorador de mão de obra, com sentido técnico e não mais intelectualizado, fato este que não foge da realidade destas pessoas.

Apesar de a Igreja Católica ainda fazer suas campanhas para vocacionar futuros seminaristas, estes jovens, no entanto, são atraídos para outras searas da esfera liberal capitalista, onde a primazia é estudar em escolas técnicas profissionalizantes, sendo decorrência disto a influência da forte industrialização do Vale do Itajaí, que aos poucos vai absorvendo o contingente de trabalhadores dos pequenos municípios, quando não muito instalando-se neles e dando abertura as duplas jornadas laborais, uma na roça (meio período) e outra na fábrica, tornando a vida, assim, num verdadeiro culto ao trabalho e a necessidade (ou exploração do trabalho), sendo que a agricultura, tão depreciada e fraca em suas cooperativas e subsídios estatais, não é mais o meio de subsistência como no passado.

Mais recentemente, estes jovens também absorveram a influência das redes sociais e os processos tecnológicos da informática, que os colocaram no universo globalizado, abrindo cada vez mais seus horizontes e propiciando galgar novas profissões e novos empregos em áreas antes jamais imaginadas por estas pessoas.

Para os que saem de seus municípios, como um verdadeiro processo migratório, para cidades de maior parte e com novas possibilidades de estudo e trabalho, os ensinamentos cristãos, em grande parte, lhe angariaram muitos dividendos, mas para outros foram até empecilhos, tendo em vista a enorme dificuldade de entender um sistema hierarquizado de empresa e de comunidade que não era encontrado em suas pequenas cidades, sendo que muitas destas pessoas simplesmente fracassaram em suas empreitadas, enquanto outras tiveram grande sucesso de adaptação. Contudo, isto é peculiar a cada caso e o que importa para este estudo é que existem, ainda, elementos próprios do cotidiano rural e interiorano (justo, honesto, bom cristão, ativo, prestativo) nestas pessoas e que é levado por toda sua vida.

Assim, os jovens e até as famílias que migram da cidade natal, quando resolvem voltar por circunstâncias peculiares ou para cuidar dos seus pais idosos, são, por óbvio, frutos de muita curiosidade, pois podem trazer consigo elementos de muitas eventuais reprimendas morais de sua antiga comunidade. Por exemplo, terem se divorciado, mudado de comportamento de gênero, praticarem aborto (condenado pela Igreja), temas esses tidos como profanos e que quem os pratica vira alvo de sensacionalismo das conversas antes da missa. Lembra-se, também, que as conversas corriqueiras (fofocas) são próprias dos lugares interioranos, onde funcionam mais como terapia (porém, não recomendada) do que uma séria e formal denúncia.

A Igreja, no entanto, na figura do padre, combate veementemente estas posturas (falar mal do outro), mas inconscientemente (nos sermões) polemiza os problemas referentes aos dogmas religiosos e às questões familiares, utilizando-se da punição celestial, verbalizada no pecado, como meio de repressão aos desvios dogmáticos e moldando, assim, a índole do fiel dentro dos valores cristãos, ou pelo menos nos dogmas e tradições da Igreja Católica Romana. Existiram inúmeros fatos que poderiam fazer referência a religiosidade. Praticamente em toda manifestação cultural existe a presença do divino, do tradicional (na família, nos encontros), e o mais difícil seria, então, encontrar onde existe mais esta expressão.

Como paradigma essencial, não se pode esquecer a influência das comunidades alemãs no Vale, principalmente onde atualmente se encontra o município de Blumenau, influência esta que vem de concepções religiosas diferentes, surgidas na Idade Média, na Europa. Leandro Karnal (1990, p. 12-13), em sua obra literária ‘Estados Unidos – da colônia à independência’, ilustra perfeitamente:

Na Idade Média a Igreja proibia o lucro e o juro, punindo como crime. O ideal católico era a salvação da aIma; o progresso econômico era visto com desconfiança. Demônio e riqueza eram constantemente associados na ética católica e medieval. Os protestantes, porém, particularmente, os calvinistas, desenvolverem uma ética religiosa oposta. Deus ama o trabalho e a poupança: o dinheiro é sinal externo da Graça de Deus. O ócio é pecado, o luxo também: assim falava o austero advogado Calvino na Suíça. Protestantismo e Capitalismo estão asso ciados profundamente. Conforme analisou Max Weber.

Apesar desta influência marcante, do alemão ao italiano, ou melhor, do capitalismo ao italiano, existem ainda os sentimentos definidos, porém ocultos, e usados somente em cumplicidade com seus meios e circunstâncias (festas, encontros, atos religiosos). O que é certo é que a adaptação do italiano ao capitalismo foi uma questão de necessidade básica, assim como foram todas as culturas imigrantes pelo mundo afora, excetuando, no entanto, colônias criadas para o fim de ficarem isoladas do mundo.

Se na América Latina, Espanha, Portugal, Itália e França estão os maiores escritores contemporâneos (Esquivel, Borges, Vargas Llosa, Mutis, Umberto Eco, Moravia, entre outros), não se pode esquecer que nos países de origem anglo-saxônica estão os maiores cientistas e o maior desenvolvimento técnico. Esta causa se associa ao fato de serem os latinos tipicamente mais pobres (catolicismo) e os anglo-saxônicos aparentemente mais ricos (ética protestante), economicamente falando.

Os escritos de Jessé Souza (1994) sobre esse tema destacam que ‘A ética protestante e o espírito do capitalismo’ é a obra mais famosa de Weber. Ou seja, em suas análises, consegue estabelecer uma relação e suas influências entre a cultura capitalista moderna e o puritanismo adotado pelas igrejas e seitas protestantes dos séculos XVI e XVII.

Montar um laboratório é muito mais oneroso que escrever um livro. Se a circunstância molda o homem, então podemos acreditar que há sempre uma direção à atividade humana: Se se constroem belas igrejas ou grandes fábricas, é puramente pela sua lógica de vida. Abre-se o segundo parênteses, nesta observação, para Leandro Karnal (1990, p. 40), na obra já citada anteriormente, com o seguinte relato:

Essa percepção (lógica católica x lógica protestante) leva algumas pessoas a concluir que o mundo protestante é trabalhador e o católico preguiçoso – nada mais errado. O que ocorre nos dois mundos é uma concepção diferente de trabalho. Os povos ibéricos foram capazes de obras arquitetônicas, por exemplo, muito mais desenvolvidas que as colônias inglesas no mesmo período. Os grandes esforços de trabalho, no mundo ibérico católico, não se voltaram para construir um sistema produtivo, mas para imortalizar em pedra a glória de Deus. Esse é o trabalho lícito e desejável na concepção ibérica.

O zelo pelas igrejas é inegavelmente prova dessa atribuição ao italiano, onde a diretoria de uma igreja (planejadora de obras) era o órgão mais respeitado dentro de uma pequena comunidade imigrante.

Valeria perguntar qual é, atualmente, o legado dos que deixaram seus pequenos municípios? Pode-se dar várias respostas, mas uma, em particular, é de uma atinente razão, ou seja, são homens que se aventuram pelo mundo pela necessidade, pela aventura, como assim o fizeram seus bisavôs há mais de cem anos atrás. Porém, são eles soldados sem exército, perdendo-se pelas entranhas do Brasil, mas ainda cheios de pedaços de vida e sentimento italiano, constatados em sua aparência, atitudes, vontades e anseios, que somente poderiam pertencer aos interesses de um legado, que foi ter vivido no berço de uma colônia italiana do sul do país, em especial a do Vale do Rio Itajaí.

4. CONCLUSÃO

Nada mais fascinante para o ser humano que se aventurar no mundo da descoberta e perceber que o mundo em que vive está cheio de novas realidades e perspectivas. Ao tratarmos de estudos de antropologia, a conclusão seria apenas um dos permeios que cercam o emaranhado de uma observação.

Na antropologia nada ainda é certo por natureza, pois suas conclusões estão sempre expressas no vindouro, o espaço está aberto às evidências, que indiscutivelmente são fruto de um natural, mas um natural humano (amor x ódio, alegria x tristeza) que faz da natureza um campo de sonhos e anseios para os que vivem seu tempo (universo da mentalidade).

Atualmente, o homem que adquire a capacidade de colocar-se fora de si rouba um pedaço do universo e o coloca em seu ser, por ser, em primeiro lugar, um observador do todo e, em segundo lugar, por adquirir sua liberdade de consciência, de decidir sobre si mesmo e, circunstancialmente, sobre os outros.

O ‘outro’, em que me espelhei foi o resultado de um aprendizado científico, que aos poucos vem se construindo e irá até a morte. Embora ainda ciente de que há muito para fazer, não há nada mais gratificante do que expressar em texto uma observação que tem como evidência algo vivido em boa parte de minha vida. Essa mistura entre ser científico com ser humano (vivido) consegue clarear o que muitas vezes é obscuro para o simples escrito histórico.

O olhar antropológico deve assumir, acima de tudo, como membro de uma comunidade científica universal, não apenas membros de uma região ou meio social, político e econômico, mas sim servir para uma melhor compreensão das pessoas de outras áreas, além de um micromundo, sempre com olhar apurado dos fenômenos humanos que o rodeiam. Nesta versão não pode haver o desprezo pela cultura regional, ao contrário, deve haver sim um sentimento de valorização, de resgate do sentimento, do simbolismo, do cotidiano, do modo de pensar de um povo.

Muitos aspectos que surgiram no decorrer destes 3 itens vieram mostrar três caracteres bem definidos e argumentados:

– A forte remanescência das posições mentais dos italianos de ontem, estando nos mais diversos lugares em que se encontram, em específico nas marcas religiosas, criando, assim, barreiras na escala capitalista de valores.

– O deslocamento humano (cidade -campo) decorrente, em primeiro plano, pela necessidade e influência do meio de comunicação social. O meio não consegue se adaptar mais aos interesses. Isto não implica, porém, em um deslocamento total dos valores culturais, ainda fortes, com bases nos preceitos católicos.

– A cultura popular mesclada com os preceitos religiosos sempre foi e é um meio de apoio aos descendentes de imigrantes. Deus, para muitos, continua sendo o único meio de apoio e consolo para enfrentar o dia a dia de trabalho e construção de uma vida melhor, embora que, para esta análise, não tenha que se afirmar que o italiano é um homem passivo, sujeito à história, e não construtor desta.

A pergunta problema, ‘O que restou da influência religiosa do século XIX, trazida da Europa pelos imigrantes e religiosos, no cotidiano atual de seus descendentes?’, teve como resposta que os descendentes ainda hoje carregam forte influência da religiosidade e do conservadorismo vindo da Igreja Católica do Século XIX.

Diante de tal situação, a resposta atingida foi no sentido de que, apesar das influências da nova ordem capitalista mundial, ainda persiste um comportamento mais brando em relação à competitividade e relacionamento menos sujeito a interesses puramente capitalistas devido, principalmente, a forte doutrina religiosa católica que se baseia na santificação e purificação da alma no plano celestial (metafísico), diferente das doutrinas protestantes e neopentecostais que hoje pregam mais o pragmatismo e a prosperidade material como um dom a ser alcançado pelas mãos divinas. A afirmação sustenta-se, metodologicamente, a partir de recortes de pesquisas bibliográficas de 1990 até 2022, não deixando de lado a observação atual do comportamento do descendente da nossa região em seu habitat cultural.

Assim, conclui-se que, acima de tudo, a força da religião molda o ser humano como fazem os oleiros em seus vasos de barro e os escultores em suas estátuas, deixando marcas que duram gerações e gerações, até o presente Século XXI.

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VOVELLE, Michel. Ideologias e mentalidades. São Paulo Brasiliense, 1987.

[1] MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, do Rio de Janeiro, RJ; Pós-graduado em Direito Imobiliário e Notarial pela UNISC – Universidade de Santa Cruz do Sul, RS; Pós-graduado em Historiografia brasileira pela UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí; Pós-graduado em Direito previdenciário pela UNINTER – Centro Universitário Internacional – Curitiba PR; Graduado em Direito e Ciências Sociais pela FURB – Universidade Regional de Blumenau. ORCID: 0000-0002-0690-2684.

Enviado: Outubro, 2022.

Aprovado: Dezembro, 2022.

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Marcio Timotheo Lenzi

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