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Arte contemporânea aliada a arteterapia

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

SEIDEL, Marisa Frohlich [1]

SEIDEL, Marisa Frohlich. Arte contemporânea aliada a arteterapia. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 08, Vol. 12, pp. 31-42. Agosto de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/arte/arteterapia

RESUMO

A arte contemporânea por ser próxima a vida das pessoas consegue ser forte aliada a Arteterapia. Neste sentido o presente trabalho tem como objetivo mostrar que a arte pode ser usada como ferramenta de inserção social, usada como terapia e assim ajudando a promover a saúde e bem estar. Este trabalho de pesquisa visa apontar que a arte e vida andam juntas desde os primórdios; a arte mostrando, seja de maneira sutil ou escancarada, a realidade cotidiana, procurando fazer o ser humano pensar. A arte surge como um meio de denúncia da realidade, onde ao mesmo tempo, através dela, conseguimos encontrar muitas vezes uma saída para o caos que se encontra a sociedade. A arteterapia busca através da arte, resgatar a essência do ser humano através da ação educativa, questionadora, poética e filosófica da arte, trazendo assim uma melhor qualidade de vida para o individuo. Utilizando da ferramenta artística em benefício do ser humano dentro da arteterapia, pode-se dizer que a arte faz ver, entender e questionar, podendo conceituar e formular ideias, fazendo do pensamento uma constante corrente, proporcionando ao ser humano repensar o seu mundo a partir da arte. Conclui-se que através da fusão da arteterapia com a arte contemporânea, o individuo pode obter uma visão diferente de mundo, podendo dar um novo significado as coisas e objetos, até mesmo a sua própria existência.

Palavras-Chave: Arte Contemporânea, arteterapia, vida, sociedade.

1. INTRODUÇÃO

A arte, desde a pré-história aos dias atuais, está ligada à vida das pessoas, diretamente ou indiretamente, seja através do objeto concreto ou através de pensamentos filosóficos individuais ou coletivos. Quando mencionado o coletivo, nos referenciamos a uma sociedade a qual todos estamos inseridos, porém com pensamentos e atitudes que nos diferem uns dos outros, mas na qual,  grande parte está voltada ao capitalismo vinculado ao consumismo desenfreado, e isso gera desigualdade e muitas vezes é motivo de diversos transtornos psicológicos.

A arte contemporânea presente na sociedade tem como objetivo fazer o ser humano pensar sobre o mundo em que vive, através da miscigenação de ideias e pensamentos que envolvem a arte, com poéticas visuais que dialoguem com a sociedade, aproximando desta maneira a arte ás pessoas, produzindo uma visão crítica do mundo em que vivemos.

A arte é fundamental para o ser humano, é como uma ponte de interação com o mundo em que ele vive e o seu próprio eu. Ela é precisa para que o ser humano desenvolva a sua capacidade de conhecer e assim possa mudar algo. É capaz de estimular os sentimentos mais profundos. E tem como função despertar a maneira de pensar do ser humano, sobre sua existência neste mundo, já que a arte também é conhecimento.

O que prevalece na arte contemporânea é o pensamento e não a técnica, devido a isso ela se aproxima muito da arteterapia que também trabalha dessa maneira, colocando em primeiro lugar o pensar do paciente.

Através da arteterapia é possível ver, entender e questionar, podendo conceituar e captar mensagens que estão presentes nas produções realizadas, fazendo do pensamento e do sentimento do paciente uma constante conversa com ele próprio. Assim poderá haver a diminuição do problema através da própria autocura, porque através da arte o paciente tem inúmeras possibilidades de se comunicar com o mundo a sua volta, e dessa maneira melhorando o seu sentimento para consigo mesmo.

2. DESENVOLVIMENTO

No mundo atual podemos dizer que a arteterapia tornou-se um refúgio, pois Friedrich Nietzsche (2020) já dizia: “A arte existe para que a verdade não nos destrua”. Nossa atualidade nos bombardeia diariamente com inúmeras informações, pode-se dizer que até um excesso de informações, pois não conseguimos absorver tudo, e dessa maneira temos muita informação e pouco conhecimento.

Com o mundo turbulento em que vivemos, muitas vezes temos a sensação de que nos falta tempo; tempo para fazer as atividades do trabalho, em casa e até tempo para si mesmo. Onde na realidade o que muitas vezes faz falta é a dedicação de tempo adequada para tudo o que não é supérfluo.

Por haver muita informação e uma busca incessante pelo consumismo, somos a todos os momentos cobrados por inúmeras coisas; cobramo-nos cada vez mais e assim enchemos nosso pensamento com circunstâncias banais, tendo a falsa impressão de esquecimento ou até esquizofrenia.

…o trabalho, é a atividade humana, que o homem desperta para a vida em sociedade, no conjunto das relações sociais, transformando-se em ser social pensante e reflexivo frente ao mundo. O trabalhador vende sua força de trabalho, ao capitalista, dono dos meios de produção, para sobreviver e atender suas necessidades, que são cotidianas e vividas por todo ser social (BAIRRO, 2016, pág. 60).

Vivemos em uma sociedade desigual, onde muitos são desempregados, outros trabalham e recebem apenas para sobreviver, outros um pouco mais e ainda há aqueles que exploram os trabalhadores tendo suas riquezas atreladas a exploração de outros seres. Isso tudo em um mesmo cenário, onde a mídia não dá trégua em manipular a mente de todos para um mundo consumista; mas como consumir se não há condição financeira? Como viver em uma sociedade tão desigual? Uns passam fome e outros esbanjam, essa é a sociedade capitalista que vai aos poucos encobrindo a população apenas com aparências, onde na realidade existe um grande vazio interno.

É na vida cotidiana que a sociedade se movimenta dialeticamente e as pessoas se relacionam. É lá que o concreto se apresenta. É nas relações sociais que os seres humanos vivem e vivenciam as múltiplas formas de desigualdades sociais geradas pelo sistema capitalista (BAIRRO, 2016, pág. 85)

Em uma sociedade que valoriza muito mais o ter ao invés do ser, torna-se sempre mais difícil, a expressão de opiniões e uma qualidade de vida que atinja a todos. “Na sociedade de classes, imposta pelo capitalismo no qual se vive na atualidade, parece no mínimo utópico ou sonhador crer numa transformação de realidade social, com vistas a emancipação social dos sujeitos”. (BAIRRO, 2016)

Por mais difícil que seja uma harmonização social que englobe a todos, é favorável que cada um procure fazer a sua parte, como ser humano, buscando o seu próprio bem estar e o dos outros, cada um com suas possibilidades e meios disponíveis. Nesse sentido, surge a arte elencada como terapia, para ajudar a encontrar meios de se viver de maneira mais autêntica e feliz.

O importante é começar a escrever, a escrita vem a partir de reflexões, experiências vividas e anseios negados, ou talvez amortecidos na vida cotidiana. Por isso, é que se deve manusear o lápis e colocar a mente para funcionar, abrindo horizontes tão longínquos quanto nossos pensamentos. Este momento é necessário porque aqui, nestas linhas, se relata uma história, que não é de um “ser” apenas, mas talvez seja de muitos seres humanos, que estão envolvidos num pensamento e desejo de transformação da realidade cotidiana e almejam uma sociedade diferente da que se vive. A palidez da realidade concreta, muitas vezes, desnuda aos olhos imediatos, faz perceber o que parece ser e que não é. O ser humano, como um ser social, percebe que é preciso mudanças, e essas, são caras a toda a comunidade social, mas, à base do duro cotidiano vivido é mais fácil negar o movimento, e seguir o objeto dado, datado, vivido (BAIRRO, 2016, pág. 13)

Nas palavras usadas por Bairro onde menciona o “escrever”, podemos trazer para o lado da arteterapia onde ao invés de escrever vamos usar o desenhar ou o pintar, pois é o mesmo desejo por libertação do “ser”. O ato de produzir artisticamente é o instante onde a mente se liberta, é onde ela tem total liberdade de expressão, poder ir e vir para onde quiser. É por isso que a arte é considerada de total importância, é onde as pessoas buscam um refúgio, um acalanto para a vida corrida e agitada em que se vive.

Quando Leonardo da Vinci escreveu que a “pintura é coisa mental”, ele afirmava em primeiro lugar que sua arte não era uma arte mecânica, isto é, meramente manual, tal como era então classificada. Para ele, o uso das mãos não era suficiente para reduzi-la à esfera mecânica, já que a pintura, por causa da perspectiva, do sombreado e demais aspectos, possuía questões racionalmente inteligíveis que justificavam uma mudança de patamar. Ela devia ser pensada como uma das chamadas artes liberais em que o intelecto possuía um peso decisivo (COCCHIARALE, 2006, p. 19).

A arte de maneira geral inicia primeiramente no pensamento, vai tomando forma e busca uma maneira de se concretizar, uma, entre as inúmeras maneiras artísticas de expressão existentes.

Todo ser humano interage com o seu pensar e, portanto, todos de uma ou outra maneira interagem com a arte, uns ficam apenas no pensar outros a concretizam.

O concretizar da arte, quando usada na arteterapia, não significa fazer obras de arte para serem expostas em museus, e sim produzir algo que expresse os sentimentos e pensamentos humanos com relação ao que se está vivendo em um determinado momento.

A arte não precisa simplesmente ser entendida, ela é para ser sentida, onde sentimentos brotam necessariamente em quem produz arte e em muitos casos, em quem a vê.

O problema é que essas pessoas usam um único verbo: entender. Entender significa reduzir uma obra à esfera inteligível. Eu nunca ouvi ninguém dizer: eu não consegui sentir essa obra. Como as pessoas têm medo de sentir, elas entendem, reduzem suma relação ao ato inteligível e, por isso, esperam pelo socorro do suposto farol da opinião daqueles que sabem: historiadores, filósofos, críticos, artistas, curadores…(COCCHIARALE, 2006, p. 14).

Na arteterapia, a resposta que os pacientes buscam está dentro deles próprios,e assim quando a encontram acontece uma sensação de realização, pois se espelham no que tiraram de dentro de si, e enfrentam seus problemas de frente.O sujeito que procura a arteterapia busca uma solução para a crise que acontece nele próprio, portanto a solução dos problemas provém de dentro do sujeito. “Hoje em dia fala-se muito da crise do sujeito. Com isto, a tendência é reduzirmos a nossa compreensão da crise do sujeito à crise do indivíduo. Mas o indivíduo é apenas uma das esferas do sujeito que está em crise” (COCCHIARALE, 2006).

A arte através da arteterapia de maneira geral faz os indivíduos pensarem e é justamente o que o mundo atual não faz com as pessoas. Os meios de comunicação e os afazeres diários, não incitam o sujeito a pensar. Tudo está pronto, basta executar automaticamente, e quando acontece algum acontecimento que envolva o raciocínio, o ser humano se encontra perdido em leque de coisas. E justamente esse leque de diferentes ideias e materiais que foi usada a partir da década de 60 para produzir arte, a arte contemporânea.

Habituamo-nos a pensar que a arte é uma coisa muito diferente da vida, dela separada pela moldura e pelo pedestal. Aliás, a arte foi mesmo isso durante a maior parte de sua história, pelo menos desde a Renascença. A ideia de uma arte que se confunda com a vida é muito difícil de assimilar porque os nossos repertórios ainda são informados por muitos traços conservadores… (COCCHIARALE, 2006, p. 67).

Na arte contemporânea, a diversidade do mundo é arte, ela surgiu para se aproximar da vida das pessoas, portanto objetos do nosso dia a dia podem ser transformados em arte. As obras se misturam às pessoas nas cidades, podem ser visuais, táteis ou sonoras, aproximando a arte. Assim a arteterapia também ganhou mais uma aliada, não há medo por fazer certo ou errado, se provém de dentro do sujeito, se está na imaginação, isso basta para ser validado como algo de grande valia em benefício de cada um.

Não é por acaso que os discursos teóricos sobre a arte moderna, assim como os dos artistas também tenderam ao formalismo. A arte contemporânea, de modo inverso e na contramão dessa tendência, esparramou-se para além do campo especializado construído pelo modernismo e passou a buscar uma interface com quase todas as outras artes e, mais, com a própria vida, tornando-se uma coisa espraiada e contaminada por temas que não são da própria arte. Se a arte contemporânea dá medo é por ser abrangente demais e muito próxima da vida (COCCHIARALE, 2006, p. 16).

A partir do momento que a arte não está apenas nos museus e vai ao encontro da população, as pessoas têm mais liberdade para interagir com ela.

Dentro da arteterapia, a utilização de elementos do cotidiano passa ater grande valia na produção plástica, pois muitos elementos são de uso corriqueiro do paciente e isso faz com que se tornem mais próximos dos meios a serem trabalhados.

Da mesma maneira, a expansão da internet, o mundo em rede está influenciando decisivamente a vida cultural de nossa época. Nós temos que pensar essas características do nosso cotidiano porque um dos grandes obstáculos para entender a arte contemporânea é o fato de ela ter-se tornado parecida demais com a vida. É como se, num processo de integração entre arte e vida, a arte tivesse doado tanto sangue para a estetização da vida que ela se desestetizou (COCCHIARALE, 2006, p. 39).

Arte e vida não se separam, isso acontece desde o surgimento da arte na pré-história quando surgiu para ser apenas comunicação, e foi se transformando junto com o homem com o passar dos anos. A hibridização da arte contemporânea torna difícil uma resposta pronta para o que de fato seja arte, ao mesmo tempo em que isso pode parecer estranho, torna a arte eclética e atinge a todos. A pureza da arte não é mais tão usada, agora o que é diferente, o novo, o inusitado faz com que as pessoas tenham novas ideias e novos pensamentos e assim passam a conviver com a diversidade mais harmoniosamente.

O mundo contemporâneo não mais valoriza a pureza, inclusive estilística, buscada obsessivamente pelos artistas modernos em nome da interface, da multidisciplinaridade e logo a contaminação, a hibridização e o ecletismo. O mundo contemporâneo é absolutamente impuro e isto é para ele um valor. Porque se impureza é conviver com a diversidade – seja ela étnica, política, sexual etc. – ela tornou-se um valor positivo da contemporaneidade. Prefiro mil vezes a impureza que me põe convivendo com o diferente, à pureza que o excluí. O mundo contemporâneo é cheio dessas possibilidades (COCCHIARALE, 2006, p. 72).

Como a arte contemporânea trouxe para dentro de si a mistura de elementos e ideias, e transforma isso em produção artística, ela entra facilmente na vida das pessoas, porém esse “entrar facilmente” não significa compreender facilmente, já que é ampla demais, e provoca inúmeros questionamentos.

Quem examinar com atenção a arte dos dias atuais será confrontado com uma desconcertante profusão de estilos, formas, práticas e programas. De início, parece que, quanto mais olhamos, menos certeza podemos ter quanto aquilo que, afinal, permite que as obras sejam qualificadas como “arte”, pelo menos de um ponto de vista tradicional. Por um lado, não parece haver mais nenhum material particular que desfrute do privilégio de ser imediatamente reconhecível como material de arte: a arte recente tem utilizado não apenas tinta, metal e pedra, mas também ar, luz, som, palavras, pessoas, comida e muitas outras coisas (ARCHER, 2001).

A pluralidade de coisas que podem ser utilizadas para produção da arte contemporânea se relaciona tanto com as circunstancias da atual sociedade que ora pendem para um lado ora para o outro e assim conversam com o pensar humano, que precisa se manter firme nas constantes idas e vindas do dia a dia. Na arteterapia o leque que se abre para trabalhar usando essa diversidade, gera inúmeras oportunidades para o paciente se expressar da maneira que se sentir mais confiável. A riqueza e a diversidade da prática artística contemporânea, no entanto, não são sintomáticas de um estado de coisas caótico. Archer (2001) diz que:A diversidade existente tanto na arte quanto na vida, atinge a todos, precisamos do equilíbrio para poder assimilar o que acontece em cada momento, para assim termos a sobrevivência ou a vivencia dentro da sociedade contemporânea.

Utilizando a arte contemporânea na arteterapia, podemos ter inúmeras possibilidades de produções artísticas usando diferentes materiais do cotidiano,e assim,podemos dizer que arte abraça o paciente, e este é confortado pelo próprio inconsciente que interage de forma crítica e criativa com o indivíduo; onde o paciente não tem obrigação de fazer história, e sim apenas dialogar com ele próprio.

Atualmente, a maioria dos jovens artistas supõe que sua obra decorra apenas de suas vivencias e experiências pessoais. Desse ponto de vista ficaríamos aquém da história, que já, se ficamos na esfera individual, subjetiva, estaríamos autorizados a fazer, no máximo, uma psicologia da arte. Para que se faça história da arte, é necessária a inserção desse individuo numa coletividade mais ampla, na qual ele não quer ou não sabe se inserir (COCCHIARALE, 2006, p. 73).

Um artista ao produzir arte, tem momentos de produção, onde deixa sua sensibilidade artística falar mais alto, não é artista à todo o momento, e assim também podemos dizer que qualquer pessoa pode ter algum momento de artista, onde libera seu pensamento e permite que este se materialize, então assim teremos uma expressão única de um paciente artista, ou talvez um artista paciente. Não tendo a preocupação de um belo resultado, e sim de um processo que faz o indivíduo se posicionar perante o que está em processo de produção.

Um artista é artista só num sentido figurado, ou de seus sentimentos. Mas um artista seria artista 24 horas por dia, quando namora, quando dá uma chinelada no filho ou sei lá o quê? Claro que não! A não ser que seja aquele ente que vive pensando que tudo é arte, tudo é maravilhoso, visão que não combina mais com a experiência que o nosso mundo fraturado nos proporciona, que é um mundo avesso à contemplação (COCCHIARALE, 2006, p. 77).

Infelizmente nosso mundo fraturado não pode ser apenas contemplado pelo belo, acontecem inúmeras coisas desagradáveis, seja pela corrupção, violência, desigualdade, etc. Por haver inúmeros questionamentos e descontentamentos muitas vezes nos encontramos perdidos em pensamentos que causam desconforto e estranheza.

O pensar humano muitas vezes está voltado apenas para suprir o próprio ego, e somar com a população que se deixou levar pelo “piloto automático” de uma sociedade capitalista. Onde os desejos e pensamentos particulares perderam o sentido, cada um dificilmente consegue ocupar seu lugar no mundo, isso pelo sufocante pensamento em massa de uma sociedade consumista e egoísta. Onde o pensar diferente pode ser considerado completamente errado ou até mesmo louco. E neste triste contexto muitas pessoas se deixam levar pela falsa impressão de precisarem ir com a maioria, abandonando seu pensar verdadeiro, para serem o que não são, e assim se juntarem também a massa de manobra.

Vamos deixar de lado os sábios que invocam a insanidade e a impertinência daquele que tece seu próprio elogio. Se isso é ser louco, nada me convém melhor. De fato, o que poderia convir melhor à Loucura do que enaltecer sua própria gloria ao som do clarim, do que entoar seus próprios louvores? Quem poderia pintar-me com mais veracidade? Não sei de ninguém que me conheça melhor do que eu mesma. Além do mais, acredito mostrar com isso maior modéstia do que certos doutos famosos que, por um pérfido pudor, subornam em seu proveito a bajulação de um orador ou as invenções de um poeta e, em troca de dinheiro, ouvem dele seus elogios, que são, na verdade, um monte de mentiras (ROTTERDAM, 2006, pág. 15).

A arteterapia, busca no interior do pensamento humano resgatar o que tem de mais puro e verdadeiro dentro da “loucura” de cada indivíduo, pois assim como cada um tem seu modo de ver as coisas, seu pensamento perante o mundo, cada um com suas especificidades, a arte também tem suas diferenças, tanto na manifestação como na aplicação;  atingindo cada um de sua maneira.

Freud propunha ainda um último paradigma para explicar a inquietante estranheza: é a desorientação, experiência na qual não sabemos mais exatamente o que está diante de nós e o que não está, ou então se o lugar para onde nos dirigimos já não é aquilo dentro do qual seriamos desde sempre prisioneiros (DIDI- HUBERMAN, 2010, pág. 231).

Muitas pessoas vivem constantemente em uma prisão psicológica, causada por elas mesmas, devido a muitos descontentamentos, seja consigo mesmo ou com o sistema em que se vive. Uma prisão que se encontra dentro do ser humano é capaz de causar grande estrago no mesmo; por se tratar de algo que não vemos e não tocamos, apenas sentimos, podemos dizer que o processo de arteterapia faz o trabalho visível que cura o invisível, através do uso da arte; o ser humano expõe o seu interior pra que este possa se tornar concreto e apreciável, sendo fonte de bem estar mental.

O que vemos só vale – só vive – em nossos olhos pelo que nos olha. Inelutável porem é a cisão que separa dentro de nós o que vemos daquilo que nos olha. Seria preciso assim partir de novo desse paradoxo em que o ato de ver só se manifesta ao abrir-se em dois (DIDI- HUBERMAN, 2010, pág. 29).

Quando alguém procura a arteterapia como ferramenta de cura para sua vida, vê nela a possibilidade de ver o mundo com outros olhos, e isso cada paciente busca em si mesmo. Cada ser humano é convidado a ver o que o cerca, mas cada um com sua bagagem cultural,aprecia as coisas que vê da sua própria maneira, por isso a arteterapia busca no próprio ser humano resgatar a sua maneira sensível e humana de ver as coisas, para o crescimento pessoal de cada um. Cada sujeito ao ter um novo conhecimento, agrega em si uma nova maneira de ver o que o cerca. Assim como nos diz Archer, (2001, pág. 235). “Observar a arte não significa “consumi-la” passivamente, mas tornar-se parte de um mundo ao qual pertencem essa arte e esse espectador. Olhar não é um ato passivo; ele não faz que as coisas permaneçam imutáveis.

“Na arte conceitual”, escreveu Le Witt, “a ideia ou conceito é o aspecto mais importante da obra. Quando um artista utiliza uma forma conceitual de arte, isso significa que todo planejamento e as decisões são feitas de antemão, e a execução é uma questão de procedimento rotineiro. A ideia se torna uma máquina que faz a arte” (ARCHER, 2001, pág. 70).

O fato de algo ser arte não está em maneira nenhuma no seu resultado, o pensamento, o processo, o executar, torna-se a arte. O mesmo acontece no processo da arteterapia e paciente, o resultado pode não ser belo para os olhos, o que vale é ser belo para a alma, onde durante o processo de execução, o indivíduo se descubra como pessoa através do processo artístico.

O significado de uma obra de arte não estava necessariamente contido nela, mas as vezes emergia do contexto em que ela existia. Tal contexto era tanto social e político quanto formal, e as questões sobre política e identidade, tanto culturais quanto pessoais (ARCHER, 2001).

Dentro da arteterapia cada indivíduo tem a missão de se descobrir e redescobrir a cada dia dentro do contexto social que muda constantemente, na maioria das vezes não na prática das pessoas, e sim de uma maneira superficial, onde cada um luta pela vivência que julgar mais conveniente para si, buscando principalmente o bem estar psicológico, que se tornou o maior aliado de todos os tempos para a humanidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Arte é inerente à vida do ser humano; caminham juntas desde a pré-história. Pode-se dizer que a arte reflete intrinsecamente o que acontece nas entrelinhas da sociedade em determinado momento da história. Apreciara arte contemporânea da atualidade é conhecer e entendera forma de olhar o mundo e os fatos com mais cuidado e mais questionamento, procurando analisar o contexto da sociedade existente.

A sociedade na qual estamos inseridos está a todo o momento questionando o ser humano de sua existência, sendo por meio social, financeiro, étnico ou moral, entre inúmeras outras análises cabíveis a divisão da sociedade.

Nesse contexto social que a arte contemporânea quer fazer pensar; uma relação do indivíduo de si para si, e este, dentro da sociedade. É dentro dessa relação desigual que nascem os inúmeros enigmas psicológicos, onde a arteterapia vem ao encontro para poder abrandar as consequências dos problemas pessoais ou sociais. Tudo tem uma razão e um sentido, entretanto a resolução deve ser encontrada dentro de cada indivíduo, dentro dos seus pressupostos.

Introduzida na arteterapia, a arte contemporânea leva a mente para o inconsciente, interagindo com oeu”, buscando um novo pensamento que volta a se questionar, buscando solução cabível para o possível problema, através dele mesmo.

A prática da Arteterapia está vinculada ao desenvolvimento humano, englobando as diversas teorias psicológicas e a natureza do mundo, e do lugar em que nele vivemos. O pensar humano está a todo o momento buscando soluções para seus conflitos, sejam eles internos ou externos. Nessa constante luta diária, seja consigo ou com a sociedade, a arteterapia busca a harmonização dos conflitos pessoais, orientando assim para a realidade e dessa maneira elevando os pensamentos emocionais condizentes com o bem estar de cada indivíduo.

REFERÊNCIAS

ARCHER, M. Arte Contemporânea: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

BAIRRO, E. O. de. Entre o Real e o Abstrato: materialização do projeto ético-político profissional do assistente social. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre, 2016.

CHAUI, M. Filosofia. São Paulo. Editora Ática, 2001.

COCCHIARALE, F. Quem tem Medo da Arte Contemporânea? Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2006.

DIDI-HUBERMAN, G. O Que Vemos, O Que Nos Olha. São Paulo: Editora 34, 2010.

NIETZSCHE F. Friedrich Nietzsche. Disponível em: https://www.escritas.org/pt/friedrich-nietzsche. Acesso em 22 de maio de 2020.

ROTTERDAM, E. de. Elogio da loucura. Tradução Ciro Mioranza. São Paulo: Escala Educacional, 2006.

[1] Pós-graduada em Arte e Educação e Pós-graduada em Arteterapia.

Enviados: Junho, 2020.

Aprovado: Agosto, 2020.

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Marisa Frohlich Seidel

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