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Miocardiopatia não compactada: relato de caso e proposta de sistematização da assistência de enfermagem

RC: 40011
263
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/saude/miocardiopatia-nao-compactada

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

SCALIA, Luiza da Cruz [1], BRASILEIRO, Marislei Espíndula [2]

SCALIA, Luiza da Cruz. BRASILEIRO, Marislei Espíndula. Miocardiopatia não compactada: relato de caso e proposta de sistematização da assistência de enfermagem. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 10, Vol. 13, pp. 53-62. Outubro de 2019. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/miocardiopatia-nao-compactada

RESUMO

A miocardiopatia não compactada (MCN) é um tipo de malformação relacionada a fatores genéticos que pode resultar em alterações hemodinâmicas graves. Relatamos o caso de uma paciente que inicialmente foi diagnosticada com arritmia, sendo tratada com amiodarona. Aproximadamente 2 anos após o diagnóstico inicial, confirmou-se a presença de MNC através de uma ressonância magnética, sendo descartado o diagnóstico de arritmia. O tratamento medicamentoso foi então modificado para betabloqueador, inibidor da enzima de conversão do angiotensina (IECA) e cumarínico. Nos diagnósticos de enfermagem foi dada ênfase nos componentes cardiovascular e respiratório. Propôs-se resultados e implementações que pudessem melhorar o conforto físico e familiar.

Palavras-Chave: Miocardiopatia não compactada, sistematização da assistência de enfermagem.

1. INTRODUÇÃO

A miocardiopatia não compactada (MNC) é uma doença rara, que provavelmente se desenvolve ainda na formação do embrião devido a fatores genéticos, em que se formam trabeculações no miocárdio com recessos entre elas e adensamento do músculo em duas partes diferentes. A doença, quando sintomática, pode causar dispneia, insuficiência cardíaca, dor torácica e fibrilação atrial crônica (ROSA et al, 2011). Segundo Martins et al (2018) a incidência da doença na população é de 0,014 a 1,3%, acometendo indivíduos de qualquer sexo e faixa etária.

A MNC, frequentemente agrava com quadros de insuficiência de sístole e diástole, podendo resultar em insuficiência cardíaca congestiva (FRIEDMANN, 2017). Considerando que uma unidade de terapia intensiva (UTI) é um setor onde estão inseridos pacientes críticos que necessitam de monitorização contínua e assistência especializada, é necessário cogitar a possibilidade de tratamento da MNC em uma UTI, dependendo do estágio da doença.

Para cuidar desses pacientes o enfermeiro utiliza a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), que organiza o trabalho profissional quanto ao método, pessoal e instrumentos, tornando possível a operacionalização do Processo de Enfermagem. (COFEN, 2009)

Ainda segundo Resolução COFEN 358/2009, o Processo de Enfermagem (PE) é um instrumento metódico de trabalho do profissional de enfermagem em que a assistência é dividida em 5 etapas deliberadas, sistemáticas e que se relacionam entre si. São elas: coleta de dados de enfermagem (histórico), diagnóstico de enfermagem, planejamento de enfermagem, implementação e avaliação de enfermagem. O PE deve ser efetivado em todas as instituições públicas ou privadas onde ocorra assistência de enfermagem.

O interesse em apresentar o presente trabalho é proporcionar maior conhecimento a respeito da doença e facilitar a prática da assistência de enfermagem, contribuindo para um melhor desempenho dos profissionais enfermeiros. Acredita-se que essa proposta de SAE direcionará de forma singular o atendimento ao cliente adoecido por MNC.

2. OBJETIVO

O objetivo do presente trabalho consiste em propor uma aplicação completa de SAE para o paciente citado no relato de caso de miocardiopatia não compactada.

3. MÉTODO

O método selecionado consistiu em um relato de caso acessado através de busca avançada na plataforma Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), utilizando os seguintes descritores: relato de caso e cardiopatia. Os filtros utilizados foram: texto completo (disponível), tipo de estudo (relato de caso), idioma (português) e ano de publicação (de 2013 em diante). O referido relato de caso foi selecionado por ser um estudo atual e por abordar uma doença rara, possibilitando assim, um especial acréscimo de conhecimento.

Relatos são a descrição detalhada de casos clínicos, contendo características importantes sobre os sinais, sintomas e outras características do paciente e relatando os procedimentos terapêuticos utilizados, bem como o desenlace do caso. Possuem indicação clara em situações de doenças raras, para as quais tanto o diagnóstico como a terapêutica não estão claramente estabelecidos na literatura científica. (OLIVEIRA, VELARDE, SÁ, 2015, p. 236)

Assim, o relato abaixo foi acessado em endereço eletrônico. [3]

4. RELATO DO CASO

Trata-se de paciente feminina com 34 anos de idade e que, há aproximadamente 10 anos, apresentou episódios repetidos de taquicardia associada à precordialgia, recebendo diagnóstico de arritmia e sendo tratada com amiodarona.

Há nove anos, engravidou e com 16 semanas de gestação apresentou taquicardia associada à pré-síncope, com exame físico dentro dos padrões de normalidade. Nesse período não estava utilizando o antiarrítmico. Admitida no serviço de pronto atendimento da Ginecologia e Obstetrícia, foi internada e avaliada pela Cardiologia, recebendo alta hospitalar após poucos dias com prescrição de metoprolol 25 mg.

Em consulta de rotina, após o parto, a paciente queixou-se de precordialgia que persistia por 18 meses, pré-síncope, dispneia e sudorese; ao exame físico, não foram observadas anormalidades. Nesse momento, suspeitou-se de MNC, sendo solicitado ecodopplercardiograma, cuja conclusão foi a seguinte: função contrátil do ventrículo esquerdo preservada e insuficiências mitral e aórtica de grau discreto. Nos meses seguintes, em consulta para reavaliação, a paciente voltou a queixar-se de dor torácica associada à dispneia. Então, prescreveu-se bisoprolol 5 mg, mantendo-se amiodarona 200 mg; ainda, foi encaminhada para a realização de ressonância magnética cardíaca, a fim de confirmar MNC e afastar possível displasia do ventrículo direito.

Seis meses depois, afastou-se a hipótese de displasia de ventrículo direito e confirmou-se a existência de MNC. Diante do diagnóstico de MNC, a paciente iniciou acompanhamento através de exames de imagem (ecocardiograma e sistema Holter de 24 horas anualmente, associados à ressonância magnética cardíaca (RMC) periódicas) e da seguinte terapia farmacológica: betabloqueador (carvedilol 6,25 mg, em substituição ao bisoprolol por persistência da sintomatologia), inibidor da enzima de conversão do angiotensina (IECA) (enalapril 10 mg) e cumarínico (varfarina 5 mg), utilizados diariamente. Suspendeu-se o antiarrítmico (amiodarona 200 mg), por anormalidades na função tireoidiana.

De acordo com o ecocardiograma, houve progressão da doença com piora da fração de ejeção, discreta disfunção contrátil do ventrículo esquerdo associada à hipertensão arterial pulmonar de grau discreto e insuficiência valvar tricúspide, além das insuficiências mitral e aórtica preexistentes. Contudo, no último exame realizado, não se observou hipertensão pulmonar e houve discreta melhora da fração de ejeção (FE=48%).

A ressonância magnética cardíaca mais recente apresentou dilatação discreta do ventrículo esquerdo, função sistólica biventricular preservada, aumento da trabeculação miocárdica do ventrículo esquerdo, predominantemente lateral basal e difuso médio apical.

5. PROPOSTA DE SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM

Diagnósticos de enfermagem – NANDA Planejamento – Resultados esperados – NOC Intervenções de enfermagem – NIC
Troca de gases prejudicada caracterizada por dispneia associada a desequilíbrio na relação ventilação perfusão. A paciente apresentará melhora do estado respiratório.
  • Monitorar frequência, ritmo, profundidade, esforço nas respirações e saturação de O2.
  • Instituir oxigenoterapia a 2l/min em caso de dispneia e/ou SpO2 < 96%.
Débito cardíaco diminuído relacionado à taquicardia, dispneia e fração de ejeção diminuída, associado à alteração na contratilidade. A paciente apresentará aumento da eficácia da bomba cardíaca e melhora no estado cardiopulmonar
  • Avaliar dor no peito quanto a localização, intensidade e fatores precipitantes.
  • Monitorar a tolerância da paciente à atividade.
  • Orientar a paciente sobre a importância de informar imediatamente qualquer desconforto no peito.
  • Evitar situações causadoras de emoções intensas.
Padrão respiratório ineficaz caracterizado por dispneia relacionado à dor. A paciente apresentará melhora na ventilação.
  • Monitorar a ocorrência de dispneia e eventos que melhorem ou piorem.
Risco de pressão arterial instável associado a hipotireoidismo/hipertireoidismo. A paciente manterá pressão arterial dentro dos parâmetros fisiológicos.
  • Ensinar a paciente e a família a monitorar a frequência respiratória e a pressão arterial.
Risco de maternidade prejudicada associada à doença física. A paciente receberá apoio da família durante o tratamento.
  • Ensinar os planos de cuidados médicos e de enfermagem à família.
  • Determinar as necessidades de apoio emocionais, físicas, psicossociais e espirituais da paciente e iniciar as medidas para satisfazer a elas, se necessário.
Dor crônica definida por autorrelato das características da dor associada a distúrbio genético. A paciente apresentará diminuição no nível de dor associada à qualidade do sono.
  • Implementar medidas de conforto como massagem e posicionamento.
  • Ajudar a eliminar situações estressantes antes de dormir.
  • Adaptar ambiente para promover o sono.
Conforto prejudicado definido por sensação de desconforto associado a sintomas relacionados a doença. A paciente apresentará diminuição do nível de desconforto.
  • Dar atenção imediata às chamadas, mantendo a campainha sempre ao alcance da mão.
  • Criar ambiente calmo e de apoio.
  • Proporcionar recursos educativos relevantes e úteis sobre o tratamento da doença.
Risco de motilidade gastrintestinal disfuncional associado a agente farmacêutico. A paciente apresentará reduzida disfunção da motilidade gastrintestinal.
  • Orientar o paciente a registrar cor, volume, frequência, consistência das fezes.
Risco de perfusão tissular cardíaca diminuída associado à hipertensão. A paciente manterá sinais vitais dentro dos parâmetros adequados.
  • Monitorar e registrar pressão arterial, frequência cardíaca, temperatura, padrão respiratório e saturação de O2 de 4/4 horas.
  • Identificar possíveis causas de mudanças nos sinais vitais.
  • Monitorar bulhas cardíacas e registrar alterações.
Risco de volume de líquidos deficiente associado a agente farmacêutico. A paciente manterá volume de líquidos adequados.
  • Orientar uso escova de dentes macia para o cuidado oral.
  • Orientar a paciente e familiares sobre sinais de sangramento e ações apropriadas.
  • Orientar a paciente a evitar aspirina ou outros anticoagulantes.

Fonte: as autoras

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final do estudo foi possível perceber que quando nos deparamos com um paciente cardiopata, faz-se necessário um exame físico e anamnese detalhados por parte da equipe de enfermagem, tendo em vista que será a partir destas informações que se estabelecerá a intervenção necessária. A atenção e compreensão dos dados coletados são de extrema importância, pois, em uma cardiopatia é provável que surjam sinais e sintomas inespecíficos, sendo indispensável a capacidade de associação entre estes.

Alcançou-se, portanto, o objetivo do presente trabalho, que foi elaborar uma proposta de SAE para o caso clínico relatado, visando uma assistência de enfermagem embasada cientificamente e que envolva o paciente e seus familiares de forma holística. Espera-se colocar a sugestão de SAE em prática no futuro.

7. REFERÊNCIAS

ARAGÃO, J. et al. O perfil epidemiológico dos pacientes cardiopatias congênitas submetidos a cirurgia no Hospital do Coração. João Pessoa: Revista Brasileira de Ciências de Saúde, 2013. Disponível em: <http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/rbcs/article/view/13221>

BRASIL, Resolução COFEN-358/2009. Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem. Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html>

BULECHEK, G. M; BUTCHER, H. K; DOCHTERMAN, J. M. NIC: Classificação das intervenções de enfermagem. Tradução de Soraya Imon de Oliveira et al. 5 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

FRIEDMANN, Antonio. Cardiomiopatia não compactada. São Paulo. 2018. Disponível em: <http://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/04/882160/rdt_v23n1_15-18.pdf >

MARTINS, T; ARAKAKI, R; BONINI, R. Miocardiopatia não compactada: um relato de caso na região de Presidente Prudente. São Paulo: Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, 2017. Disponível em: <http://socesp.org.br/revista/edicao-atual/miocardiopatia-nao-compactada-um-relato-de-caso-na-regiao-de-presidente-prudente/67/63/>

MAGALHÃES, M. et al. Ventrículo esquerdo não compactado: causa rara de transplante cardíaco. Portugal: Revista Portuguesa de Cardiologia, 2016. Disponível em: <http://www.revportcardiol.org/pt-pdf-S0870255115002334>

MOORHEAD, S. et al. NOC: Classificação dos resultados de enfermagem. Tradução de Regina Machado Garcez et al. 4 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

NANDA INTERNATIONAL. Diagnósticos de enfermagem da NANDA-I: definições e classificação 2018-2020. Tradução de Regina Machado Garcez. Porto Alegre: Artmed, 2018.

OLIVEIRA, M; VELARDE, G; SÁ, R. Entendendo a pesquisa clínica V: relatos e séries de casos. Rio de Janeiro: Revista Femina – Febrasgo, 2015. Disponível em: <http://files.bvs.br/upload/S/0100-7254/2015/v43n5/a5320.pdf >

ROSA, L. et al. Miocardiopatia não compactada – uma visão atual. São Paulo: ABC Cardiol Journal, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2011000900021>

3. http://socesp.org.br/revista/edicao-atual/miocardiopatia-nao-compactada-um-relato-de-caso-na-regiao-de-presidente-prudente/67/63/.

[1] Especializanda em UTI Adulto pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás; Graduada em Enfermagem pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás.

[2] Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Goiás; Doutora em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás; Mestre em enfermagem pela Universidade Federal de Minas Gerais; Especializada em Planejamento Educacional pela Universidade Salgado de Oliveira; Graduada em Enfermagem pela Universidade Federal de Goiás.

Enviado: Outubro, 2019.

Aprovado: Outubro, 2019.

5/5 - (1 vote)
Luiza da Cruz Scalia

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