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Qualidade de Vida e Principais Motivações para o Trabalho Voluntário entre Idosos

RC: 80568
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/trabalho-voluntario

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

BUCHERI, Rosana Fonseca [1], GIL, Claudia Aranha [2]

BUCHERI, Rosana Fonseca. GIL, Claudia Aranha. Qualidade de Vida e Principais Motivações para o Trabalho Voluntário entre Idosos. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 03, Vol. 13, pp. 126-145. Março de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/trabalho-voluntario, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/trabalho-voluntario

RESUMO

A prática do voluntariado exercido pelo idoso tem sido também cada vez mais observada e está relacionada ao envelhecimento ativo, no sentido não só da capacidade física, mas de modo mais amplo à participação contínua nas questões sociais, econômicas e culturais da sociedade. Esta pesquisa tem como objetivo verificar e analisar a Qualidade de Vida e as principais motivações de idosos que exercem trabalho voluntário. Trata-se de um estudo com metodologia qualitativa, que contou com a participação de 10 idosos de ambos os sexos, que se dedicam ao voluntariado em instituições no estado de São Paulo. Foram utilizados os seguintes instrumentos: questionário sociodemográfico, questionário de Qualidade de Vida (WHOQOL-OLD) e Inventário de Funções do Voluntariado (IFV). Quanto aos resultados foi constatado que a maioria dos voluntários é do sexo feminino, com idade média de 71 anos e com grau de escolaridade superior completo. Todos professam alguma religião, sendo que 50% dos participantes se declararam católico e 50% espíritas. Foi verificado ainda que 90% dos participantes estão aposentados e com renda média de 7 salários-mínimos.  Os participantes se dedicam ao voluntariado há 17,7 anos, e, atualmente, com 10 horas semanais em média. Grande parte do público assistido pelos idosos voluntários, são crianças.  De modo geral, os idosos voluntários, têm a percepção de que possuem uma boa qualidade de vida. Entre os sentimentos e valores que são mobilizadores para o trabalho voluntário, destacam-se aqueles relacionados à importância social da prática e a satisfação em exercer atividades que são valorizadas. São relevantes, também, a demonstração de valores altruístas e a valorização de oportunidades de aprender com as histórias vivenciadas. Concluímos que o trabalho voluntário é um recurso para a promoção do processo de envelhecimento ativo, bem como, uma importante atividade para otimizar a qualidade de vida dos idosos.

Palavras-Chave:  Idoso, Trabalho Voluntário, Motivação, Qualidade de Vida, Envelhecimento ativo.

1. INTRODUÇÃO

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), considera-se idoso todo indivíduo com idade acima ou igual a 60 anos. Entretanto, para efeito de formulação de políticas públicas, essa idade mínima pode variar em cada país, dependendo das suas características.  O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 2018), aponta que, entre os anos de 2012 e 2016, o percentual da população idosa (com idade de 60 acima) do país passou de 12,8% para 14,4% e até então, no ano de 2018, a população dessa faixa etária cresceu 16,0%, passando de 25,5 milhões para 29,6 milhões. Em contrapartida, houve na parcela de crianças com idades entre 0 a 9 anos, residentes da população, uma redução de 4,7%, passando de 14,1% para 12,9% no período. Se analisarmos a pirâmide etária dos nossos pais demonstrada pelo IBGE (2018), veremos que a população brasileira vem se transformando ao longo dos anos, o que indica uma mudança no perfil demográfico.

O envelhecimento pode significar um período de conforto ou fragilidade, dependendo de aspectos relacionados ao estilo de vida adotado por cada indivíduo e pelos processos de envelhecimento biológico, social e psíquico. Temos observado dentre as diferentes formas do processo de envelhecimento, a velhice vivenciada de modo mais ativo e menos fragilizado. A OMS apresentou em 2005 uma política intitulada “Envelhecimento ativo: uma política de saúde” – essa tem o propósito de assegurar o acesso à participação, à saúde, à informação e à segurança durante toda a trajetória de vida, principalmente às pessoas mais velhas, de modo a melhorar a qualidade de vida da população. Conforme essa política, a expressão envelhecimento ativa é definida como o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança.  A OMS (2005) esclarece ainda que o termo ativo se refere à participação constante nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, deixando expresso que não diz respeito somente à capacidade de estar fisicamente ativo ou de fazer parte da força de trabalho.

O trabalho voluntário é visto como uma atividade altruísta e que traz vários significados para aqueles que o recebem, bem como para aqueles que o exercem. O trabalho voluntário é ainda, uma forma de participação social que vem crescendo constantemente no decorrer do tempo. Souza e Lautert (2008) descrevem que, do mesmo modo que o trabalho remunerado, o trabalho voluntário abrange uma complexa esfera de atividades, pois, diferentemente do primeiro, o trabalho voluntário não possui um sistema de classificação que oriente para uma categorização.

Dentre a população que exerce o trabalho voluntário, destaca-se a participação das pessoas idosas. Uma vez afastado de suas atividades profissionais, ou mesmo disponibilizando menos tempo para tal, entende-se que o idoso muitas vezes busca a satisfação e sentimento de pertencimento em outras atividades. Por outro lado, o envolvimento com atividades de cunho social intensifica o suporte social e favorece o bem-estar subjetivo, colaborando para que os idosos se considerem e sejam considerados como ativos produtivos e socialmente envolvidos (NERI, 2013).

Segundo a OMS (2015) os indivíduos continuam a contribuir para a sociedade com atividades remuneradas e não remuneradas enquanto envelhecem. Isto é, quando o mercado de trabalho, o emprego, a educação, as políticas sociais de saúde e os programas, apoiam a participação integral em atividades socioeconômicas, culturais e espirituais.  Souza e Lautert (2008) corroboram quando dizem que é necessário promover oportunidades e programas de apoio, a fim de estimular os idosos a participarem de atividades como, por exemplo, o trabalho voluntário. É necessário abrir espaços para a socialização dos idosos, por meio da disponibilização de ambientes que permitam a prestação de serviços voluntários para todas as pessoas, independentemente de suas idades, de modo a reconhecer o valor público dessa atividade e facilitar a participação dos idosos.

Para Neri (2012), o envolvimento com atividades de cunho social intensifica o suporte social e favorece o bem-estar subjetivo. Colabora para que os idosos se considerem e sejam considerados como ativos produtivos e socialmente envolvidos. Neste sentido, o contato social estimula e pode fazer com que o idoso se fortaleça e seja reconhecido como peça importante para a sociedade.

Souza e Lautert (2008) apontam que o voluntariado é uma prática comum entre os idosos, principalmente entre os aposentados, declararam ainda que o voluntariado é uma prática em crescente expansão, servindo como mecanismo para os idosos manterem-se socialmente ativos e afastarem-se do preconceito advindo com a aposentadoria, entre outros benefícios. Em artigo sobre a importância social no desenvolvimento do trabalho voluntário, segundo Lima e Bareli (2012) os grupos da terceira idade, também contribuem muito no trabalho voluntário, pois, além de apresentarem diferenciais competitivos, desenvolvem e ganham muitas experiências de relacionamento interpessoal e de trabalho em equipe.

Entende-se que o papel do voluntariado, na promoção da qualidade de vida no processo de transição da vida ativa para a aposentadoria, diz respeito ao trabalho como produção de bens e serviços, produção essa, que equivale aos rendimentos que obtinham como trabalhadores ativos no mercado formal, mas dessa vez, não como rendimento financeiro e talvez como satisfação pessoal. Silva e Carvalho (2016), evidenciam através de pesquisa que o voluntariado promove a qualidade de vida dos voluntários entrevistados, sendo este momento tão importante das suas vidas, no que diz respeito à transição da vida profissional ativa para a aposentadoria.

Os dados da pesquisa de Lopes e Neri (2006) que comparam a ação voluntária formal no Brasil e nos Estados Unidos, evidenciaram que, entre as duas nações, existe presença de correlações positivas entre trabalho voluntário e várias vantagens psicológicas aqui resumidas, no construto de bem-estar subjetivo e de ajustamento pessoal. As motivações também estabelecem correlações com os benefícios alcançados, que retroalimentam e fortalecem as motivações iniciais e estimulam outras motivações de permanência.

Labegalini et al. (2015), em pesquisa realizada sobre as repercussões pessoais do trabalho voluntário, evidenciaram que o voluntariado na terceira idade, é considerado como uma atividade de alto impacto positivo, pois promove o aprendizado através de suas práticas educativas, e promove a participação de familiares e de demais pessoas da comunidade gerando verdadeiras transformações, além de ser uma fonte de auto realização. As autoras ainda demonstram através das falas das idosas voluntárias, que o envelhecimento faz parte do ciclo da vida e é preciso estar preparado para que esta seja uma fase confortável, tranquila e bem sucedida. Para as autoras, o trabalho voluntário surge como uma estratégia, para que os idosos construam novas relações com pessoas da mesma faixa etária e que se dedicam às mesmas atividades, além de adquirirem novos conhecimentos e encontrarem outras práticas sociais. Além da alegria em participar das atividades em grupo, o trabalho voluntário parece promover a substituição, do sentimento de inutilidade e perda de motivação frente à vida, por uma sensação de descoberta de um novo sentido na vida, traduzido em sentimento de orgulho, felicidade e reconhecimento.

Grande e Ribeiro (2014) apontam que a ausência de um projeto de vida durante a terceira idade pode ocasionar desânimo e descrença e inclusive até antecipar a própria morte. Os autores apontam que a busca em cumprir uma meta específica, a realização de planos e novas amizades, a participação, a convivência, a motivação alheia, o ouvir, o se entregar etc., compõem o que eles entendem como projeto de vida, nas quais podem ser realizadas por meio do trabalho voluntário. Os autores demonstram que, à medida que os idosos atendem ao chamado do seu íntimo e se engajam em algum tipo de trabalho voluntário, doam seu talento, seu tempo livre e trabalham de maneira espontânea para algum tipo de causa social. Ainda segundo os autores, o trabalho voluntário do idoso favorece a melhora da sua auto imagem e estima, assim como traz reconhecimento e, sobretudo, combate o isolamento e a depressão.

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Trata-se de uma pesquisa descritiva, transversal, com grupo único e de abordagem qualitativa.

2.1 PARTICIPANTES

Participaram do estudo um total de 10 (dez) idosos com idade a partir de 60 anos, de ambos o sexo e que atenderam os seguintes critérios de inclusão: Praticar o voluntariado a 12 meses ou mais em diferentes instituições localizadas no estado de São Paulo e ter dedicação mínima de 4 (quatro) horas semanais. Os participantes foram contatados por conveniência.

2.2 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS

A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética da Universidade São Judas Tadeus. Através do Parecer número 2.593.584 e aprovado através do CAAE: 86476218.6.0000.0089. Num primeiro momento, foi lido o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).

Em seguida foi aplicado um questionário sociodemográfico. Posteriormente, foi aplicado o Questionário de Qualidade de Vida que incorpora questões relacionadas ao envelhecimento, denominado de WHOQOL–OLD. Esse questionário foi elaborado por Power e Schmidt (1998) em nome do WHOQOL-OLD Group e sua tradução e adaptação para o português autorizada pelos autores. Foi aplicado, ainda, o Inventário de funções do voluntariado (IFV).  Originalmente o IFV de Clary et. al. (1998), constitui exemplo de instrumento desenvolvido para a identificação das motivações individuais para o trabalho voluntário, que se preocupa com a identificação de razões, planos e metas subjacentes ao pensamento, sentimentos e comportamento do indivíduo.

No Brasil, Pilati e Hees (2011) adaptaram e apresentaram evidências da validade de uma versão brasileira do Inventário de Funções do Voluntariado – IFV com quatro facetas, cada faceta com uma pontuação máxima correspondente, determinadas como: Social/Engrandecimento com máximo de 49 pontos, Valores/Entendimento podendo totalizar 63 pontos, Proteção podendo totalizar 28 pontos e Carreira Profissional 26 pontos no máximo.

No presente estudo, foi utilizada a frequência absoluta para caracterização da amostra em relação aos dados sociodemográficas, estatística descritiva (frequência, média, desvio padrão, valores mínimo e máximo) para apresentar os resultados da pontuação da Escala de Qualidade de Vida WHOQOL-OLD e do Inventário de Funções do Voluntariado (IFV). A análise foi realizada pelo programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0.

2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização dos Participantes: Na intenção de preservar a identidade dos participantes, faremos menção dos nomes utilizando as nomenclaturas P1 a P10.

Tabela 1: Caracterização individual dos participantes.

Fonte: São Paulo, 2019.

Participaram da pesquisa três homens e sete mulheres. IBGE (2018), caracterizou o perfil dos voluntários no país e aponta que o voluntariado é praticado prioritariamente por mulheres. As mulheres voluntárias acima de 50 anos em 2017 representavam 5,1%, enquanto 3,5% eram homens, fato observado em todas as grandes regiões do país. Com relação à prevalência feminina, Curado (2009) demonstra em pesquisa realizada sobre Gênero e o sentido do trabalho social, que dos 37 pesquisados, 32 (86,5%) são do sexo feminino e 5 (13,5%) são do sexo masculino. Para a autora, o trabalho social envolve, sim, os aspectos do altruísmo, o exercício da efetividade, o resguardo das redes de laços humanos e, ainda, o envolvimento emocional. No entanto, a mesma declara que isso não significa reconhecer as mulheres como as detentoras exclusivas dessas características, a participação massiva das mulheres, está mais relacionada com questões culturais do que propriamente de sentimentos.

Com relação à faixa etária dos participantes dessa pesquisa, a média de idade é de 71 anos. Pesquisadores do IBGE (2017) através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, observaram que em relação à idade, a participação nas atividades voluntárias, é maior entre as pessoas com 50 (cinquenta) anos ou mais. A população está envelhecendo com uma maior expectativa de vida e de forma mais ativa (OMS 2005), ou seja, com maior participação na sociedade. Antunes (2003) acrescenta que o envelhecimento e o engajamento do idoso em atividades voluntárias passaram a ser alvo de atenção, pois o idoso encontra no voluntariado uma forma de ocupar seu tempo de forma produtiva, de compartilhar talentos e habilidades adquiridos durante toda a vida.

No que tange a escolaridade, foi identificado que a maioria tem o ensino superior completo, sendo cinco participantes com ensino superior, três com ensino médio e dois participantes com pós-graduação. Brito (2018) aponta que a prevalência do exercício do voluntariado ser composta por pessoas com formação completa no ensino superior se deve ao maior acesso à informação da população graduada, que sabe onde realizar esse tipo de trabalho. A autora observa que, pessoas com essa formação costumam estar mais bem inseridas no mercado, e podem ter uma maior conscientização frente aos menos escolarizados. Vieira (2019) afirma que a participação dos mais escolarizados, está relacionada ao próprio entendimento da necessidade de ajudar ao próximo e a um rendimento mais estável que os permite praticar o voluntariado.

Todos os participantes se declaram religiosos e no exercício das atividades da religião, sendo que 50% declarou-se espírita e 50% Católico. Segundo pesquisa realizada pela PNAD – IBGE (2018) os 7,2 milhões de voluntários no Brasil, desenvolvem suas atividades através das seguintes entidades: 79,9% através de congregações religiosas, sindicatos, condomínios, partidos políticos, escolas, hospitais e asilos – 13% através de associação de moradores, associações esportivas, ONGs e grupos de apoio e por fim 9,8% através de ações individuais. Para Landim (2001), geralmente o que move as pessoas para o voluntariado, não é apenas a consciência de que estão fazendo um dever de cidadãos e sim, uma forte relação de valores individuais, de ajuda aos mais necessitados, uma ação de generosidade, ou seja, o motivo da doação é também por motivos religiosos

Segundo pesquisa PNAD (2018) no Brasil, a renda advinda de aposentadorias ou pensões, em 2017, era correspondente a 2 salários-mínimos em média. Entre os rendimentos de outras fontes, o mais frequente era a aposentadoria ou pensão que representava 14,1%, seguido por outros rendimentos (7,5%), categoria que inclui seguro-desemprego, programas de transferência de renda, poupança, as rendas advindas de pensão alimentícia e doação correspondia (2,4%), aluguel e arrendamento representava (1,9%). Em pesquisa realizada por Souza e Lautert (2008) com 174 idosos voluntários, 17 idosos não tinham renda, 70 idosos recebiam até 1 salário-mínimo e 87 idosos recebiam de 3 a 5 salários-mínimos.

Verifica-se que a renda média apresentada pelos participantes da presente pesquisa, representa ser maior que a renda recebida pela média da população apresentada pelas pesquisas acima. Sugere-se que o tempo livre conquistado através da aposentadoria e ter uma renda financeira maior que a média, é fator favorável para o idoso ingressar no trabalho voluntário.

No que se refere a quantidade de anos dedicados ao voluntariado, a média de tempo é de 17 anos de inserção ao voluntariado. Dentre os participantes, P6 (F,82), P7 (F,77), P9 (M,62) e P10 (F,77) iniciaram o voluntariado na velhice, os demais iniciaram na meia idade.  Vimos na tabela 3, que o tempo de aposentadoria dos voluntários é maior que o tempo que se dedicam ao trabalho voluntário, com exceção de P9 (M,62) que não está aposentado e o P3 (M,61) que não respondeu o tempo de aposentadoria; fato esse que demonstra um envolvimento com o voluntariado somente após aposentadoria.

A média de horas dedicadas ao trabalho voluntário nesta pesquisa é de 10 horas semanais, dentre os participantes, P8 (F,66) é quem mais se dedica ao voluntariado, com 20 horas semanais em uma única instituição. Quem menos se dedicam são P5 (F,77), P9 (M,62) e P10 (F,77) com 4 horas semanais. Vale ressaltar que P4 (F,60) se dedica 18 horas semanais em três diferentes instituições,

Ainda sobre o tempo de dedicação ao voluntariado, dados apresentados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (2017) – PNAD apontam que, o trabalho voluntário no Brasil, era nessa época realizado com a duração média das atividades de 6,5 horas semanais e 48,4% dos voluntários, se dedicaram quatro ou mais vezes por semana.

O público atendido pelos idosos participantes no voluntariado é demonstrado na tabela 1. Nessa pesquisa houve uma prevalência de atendimento a crianças, seguido de atendimento a adultos, depois de idosos, e por último atendimento a adolescentes. Apenas um participante P9 (M,62) declarou atender todas as faixas-etárias no hospital onde exerce o voluntariado.  Os dados da dissertação de mestrado de Marques (2016), demonstraram que os voluntários com idade média de 21 anos, atendiam a todas as faixas etárias. Cavalcante et. al. (2015) apontou para a prevalência de crianças atendidas pelos voluntários com idade média de 41 anos. Lopes e Neri (2006) observaram que, o público atendido pelos idosos voluntários, são crianças e adolescentes. A pesquisa de Siqueira (2016) que estudou sobre a motivação dos voluntários e entrevistou 160 participantes com idade média de 49 anos, demonstrou a predominância de adultos atendidos pelos voluntários. As pesquisas mencionadas, também apresentaram que o público que mais recebeu atendimento dos voluntários, foram as crianças, ou seja, aponta-se para uma possível predominância de crianças atendidas, nas mais diversas atividades através do trabalho voluntário.

3. MEDIDAS DE QUALIDADE VIDA DOS IDOSOS PARTICIPANTES – (WHOQOL OLD)

Tabela 2: Domínios da Escala de Qualidade de Vida WHOQOL-OLD dos idosos.

N Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
Funcionamento Sensório (FS) 10 35 70 45,00 13,16
Autonomia (AUT) 10 50 90 77,00 13,37
Atividades Passadas, Presentes e Futuras (PPF) 10 60 90 77,00 10,85
Participação Social (PSO) 10 50 95 80,00 14,53
Morte e Morrer (MEM) 10 20 80 51,50 24,27
Intimidade (INT) 10 60 100 81,00 14,10
Resultado Global 10 67 95 82,90 9,60

Fonte: São Paulo, 2019.

O resultado global da qualidade de vida dos idosos voluntários medidos através do instrumento Whoqol Old demonstra 82,9 pontos para um total máximo de 95 pontos, o que indica que a qualidade de vida dos idosos voluntários desse estudo, está bem acima da média.

O score intitulado Funcionamento do Sensório diz respeito ao impacto da perda do funcionamento dos sentidos na qualidade de vida, vale ressaltar que quanto menor o resultado apresentado, maior será a qualidade de vida referente a esse score. Na média geral, o resultado foi de 45 pontos de um total de 70 pontos, o que significa dizer que as perdas representaram um pouco mais da metade da pontuação total. Os participantes P1 (M,72), P5 (F,77), P7 (F,86) e P9 (M,62) foram os que mais apresentaram queixas quanto ao funcionamento dos sentidos.

Os dados da pesquisa sobre influência das alterações sensoriais nos idoso, realizada por Lima (2007), apontam para a estrutura complexa dos órgãos dos sentidos humanos, os quais acionam mecanismos vitais para a sobrevivência da espécie humana. Dado a estrutura fisiológica do homem e a atuação dos seus mecanismos, verifica-se que os órgãos dos sentidos estão associados a diversas formas de exploração como: olhar, escutar, cheirar, provar e palpar, de forma a proporcionar um significado ao ciclo de vida. A autora complementa declarando que, quando essa perda (sensorial) é grave percebemos um aumento dos problemas sociais ou psicológicos, como por exemplo, o isolamento da pessoa idosa e, consequentemente, o declínio da qualidade de sua comunicação.

Os déficits sensoriais, causam profundo impacto na interação social do idoso. Nesse sentido, observamos que o mau funcionamento do sensório dos idosos pode impactar negativamente as atividades do trabalho voluntário praticado por eles.

A Autonomia refere-se à independência do idoso, onde, o mesmo se apresenta capaz e livre para viver de modo autônomo e de tomar as próprias decisões. Nesse escore, quanto maior a pontuação obtida, maior será a qualidade de vida referida. A pesquisa revelou, uma média de 77 pontos do total de 90 pontos, isso significa dizer que, no que se refere à autonomia, os participantes se apresentaram acima da média. A palavra autonomia é derivada da composição das palavras gregas, autos (próprio, eu) e nomos (regra, domínio, governo, lei), significando, portanto, o poder de tomar decisões sobre si e, ainda, a tomada de domínio sobre o controle de sua vida. Desta forma, ela inclui a noção de autogoverno, a liberdade de direitos, a escolha individual e a ação segundo a própria consciência (OLIVEIRA; ALVES, 2010).

Pesquisadores da OMS (2001) observam que o ambiente físico em que o idoso está inserido pode influenciar ou não a dependência e autonomia do indivíduo no que se refere às condições físicas. Petri (2018) aponta ser necessário que a sociedade implante e promova mecanismos de inclusão social, para que eles possam ter a sensação de pertencimento e o poder de decisão sobre suas escolhas. Nesse sentido, através do voluntariado, os idosos podem colocar em prática a autodeterminação pessoal, ou seja, demonstrar o poder de gerenciar a vida, conforme sua vontade e livre da influência invasiva de outras pessoas, através de informações, com criatividade e liberdade para decidir. Desse modo podemos dizer que o trabalho voluntário pode favorecer a autonomia nos idosos.

Lopes e Neri (2006) apontam para a ideologia da velhice ativa ou da velhice bem-sucedida em vários contextos. As autoras declaram que há um bom tempo, os idosos estão sendo estimulados a se manterem ativos e produtivos, em seu próprio benefício e também da sociedade. As autoras sugerem que os idosos de hoje são mais saudáveis do que no passado, pois estão convencidos pela mídia de que a atividade voluntária lhes é benéfica à saúde, ao bem-estar e à imagem social e isso possivelmente abre oportunidades para que vejamos mais velhos ativos e engajados socialmente do que antigamente, quando a tendência predominante era ficar em casa, cuidando dos netos.

No score “Morte e Morrer” são citadas as preocupações e medos acerca dessa temática. Nesse escore quanto menor a pontuação obtida, maior será a qualidade de vida, ou seja, quanto menor a pontuação, menor será a preocupação e medo a respeito do tema morte. A pontuação média obtida foi de 51,5 de um total máximo de 80 pontos. O fator Morte/Morrer apresenta um score pouco acima da média. Alguns participantes declaram verbalmente enquanto respondiam ao questionário Whoqol old, que, sentem dificuldades relacionadas a essa temática. P7 (F,86) e P8 (F,77) foram as que apresentaram pontuação máxima. As participantes P6 (F,82) e P10 (F,77) obtiveram pontuação mínima.

A respeito do escore Morte e Morrer, em pesquisa realizada por Serbim e Figueiredo (2016) onde foi aplicado o instrumento WHOQOL-OLD em 15 idosos, a pontuação total nesse quesito foi de 60 pontos para um total de 80 pontos. Para o autor esse tema trata do questionamento e das preocupações, inquietações e temores sobre a morte e o morrer. Nesse contexto, é importante considerar o fenômeno da morte como um tabu para a sociedade, o envelhecer e o morrer são fenômenos inerentes à vida em todos os aspectos, porém, as interpretações e os sentimentos que envolvem tal tema variam de um ser humano para outro. A compreensão sobre a finitude na visão do idoso que se encontra num processo de envelhecimento e a instância da morte, é essencial para que o mesmo possa fomentar uma reflexão, de modo a buscar uma forma positiva de lidar com o fato do envelhecimento e, consequentemente, da morte.

Para Lopes e Neri (2006), quando o exercício do trabalho voluntário é significativo e gera possibilidades de alcance das motivações, os idosos tendem a deixar de pensar que o fazem para preencher tempo livre e passam a valorizar as oportunidades de atualização do autoconhecimento, da realização pessoal e do senso de pertencimento, entre outros ganhos psicológicos que podem ser percebidos e alcançados. Dessa forma, podemos ressaltar a importância do trabalho voluntário para os idosos, pois esse, pode minimizar a ociosidade e consequentemente os pensamentos sobre a finitude.

Participação Social significa desenvolvimento de atividades da vida diária, especialmente na comunidade. Nesse score, é demonstrado que quanto maior a pontuação obtida, maior será a qualidade de vida referida pelos participantes.  De modo geral, os participantes desta pesquisa obtiveram uma média de 80 pontos para um total de 95 pontos e a pontuação obtida, está acima da média. Os participantes P1 (M,72), P2 (F,67) foram os que mais pontuaram, ambos, obtiveram a pontuação máxima de 95 pontos, esses participantes enquanto respondiam o Whoqol Old, demonstraram satisfação com a inserção social.

Em pesquisa realizada por Furtado (2013) com o objetivo de aferir a qualidade de vida da população idosa foi aplicado entre os instrumentos o WHOQOL-OLD em 106 participantes, sendo que, no quesito Participação Social os idosos totalizaram 75 pontos de um total de 95 pontos.  Para Grande e Ribeiro (2014), o voluntariado surge como uma oportunidade de praticar uma boa ação, de estar integrado a um grupo, de ajudar a comunidade e de melhorar a própria disposição vital. Souza e Lautert (2008) salientam que a participação social e o desenvolvimento de habilidades pessoais compõem um conjunto de ações que promovem a saúde, sendo opções favoráveis à saúde dos idosos. Desta forma, constata-se a ideia que compreende o trabalho voluntário como uma atuação social, na qual apresenta-se convenientemente como uma alternativa relevante para a promoção da saúde dos idosos, uma vez que o mesmo é visto como um auxiliador na manutenção da saúde e na melhoria da qualidade de vida destas pessoas.

Nas Atividades Passadas, Presentes e Futuras, são identificadas satisfação com realizações na vida e, com objetivos a serem alcançados. Com relação a esse escore, quanto maior a pontuação alcançada, maior será a qualidade de vida percebida pelos participantes.  Nesse item a pontuação média foi de 77 pontos para um total de 90 pontos. A pontuação alcançada está acima da média. A P5 (F,77) obteve pontuação máxima e, declarou estar satisfeita e grata com as conquistas da vida, tal participante, declarou enquanto respondia ao Whoqol Old que está a 23 anos na mesma instituição e que foi a fundadora do projeto, declarou que durante esse tempo viu seu trabalho prosperar e dar frutos e, que isso lhe traz uma grande alegria.

Dados do artigo sobre trabalho, atividades de lazer e apoio familiar, realizada por Silva et. al. (2017) revelam que a pontuação obtida no escore de Atividades Passadas, Presentes e Futuras foi de 60 pontos num total de 90 pontos. Para as autoras esse fato se dá, quando os idosos sentem o apoio da sociedade e contam com boa participação social, faz com que as conquistas da vida e busca das coisas que se anseiam se tornam mais palpáveis. Observamos que o trabalho voluntário pode propiciar satisfação e sentimento de realização.

Para Nogueira e Bertão (2015) a visão dos idosos está em mudança, antigamente o velho era considerado alguém que tinha menos anos de vida pela frente, era dependente e doente. De fato, essa realidade mudou, cada vez mais presenciamos idosos autônomos, que procuram viver um envelhecimento ativo e bem-sucedido, vivendo a sua vida de forma independente, capaz, sentindo-se úteis e tendo um futuro pela frente ainda com muito para viver. Nesse sentido, o voluntariado é uma atividade que pode possibilitar ao idoso realizar atividades que lhes tragam satisfação, tanto no presente como no futuro.

O escore da intimidade está relacionado à capacidade dos idosos em manter relacionamentos íntimos e pessoais. Nesse escore, quanto maior a pontuação obtida, mais elevada será a qualidade de vida percebida pelos participantes. A pontuação média obtida por essa pesquisa foi de 81 pontos para um total de 100 pontos, ou seja, está bem acima da média, P1 (M,72) e P2 (F,67) obtiveram a pontuação máxima que é de 100 pontos cada um, os participantes declaram enquanto respondiam ao Whoqol old, que são casados com pessoas que também exercem trabalho voluntário. Um dos participantes, declarou que realizar trabalho voluntário, ajuda também no seu relacionamento com a esposa, pois ambos trocam experiências e compartilham de assuntos inerentes às atividades. P10 (F,77) foi quem menos pontuou, ou seja, totalizou 60 pontos, a participante, se declarou viúva e na entrevista apontou se sentir sozinha.

Sousa et. al. (2013) apontam que as figuras íntimas passam a ser essencialmente amigas e familiares quando na ausência de companheiros ou cônjuges, e estas relações íntimas são pautadas por sentimentos de confiança, nas quais as participantes partilham o que consideram de mais íntimo, confiam e acreditam que não serão expostas e ridicularizadas ou abandonadas pelo outro. Nesse sentido, as atividades exercidas no voluntariado através dos idosos, podem ser compartilhadas entre as pessoas do convívio íntimo, servindo-lhes muitas vezes de apoio e companheirismo.

4. INVENTÁRIO DE FUNÇÕES DO VOLUNTARIADO

O Inventário de Funções do Voluntariado tem o objetivo de auxiliar através dos domínios abaixo, a identificar quais são as motivações, as razões, planos e metas subjacentes ao pensamento, sentimentos e comportamento do indivíduo que exerce o trabalho voluntário.

Tabela 3: Domínios do Inventário de Funções do Voluntariado (IFV) dos idosos.

  N Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
Social/engrandecimento 10 32 49 41 5,37
Valores / entendimento 10 39 63 54 7,83
Proteção 10 17 28 22 4,65
Carreira profissional 10 4 26 13 9,31

Fonte: São Paulo, 2019.

Social/Engrandecimento reflete a preocupação com normas, recompensas e punições sociais. De forma geral, nesse escore os participantes obtiveram uma pontuação de 41 para um total de 49 pontos. A média obtida está próxima do score máximo. Com relação ao desempenho individual, nesse domínio P5 (F,77) e P9 (M,62) alcançaram pontuação máxima, sendo que ambos comentaram durante a entrevista que, amigos próximos e familiares valorizam e apoiam o engajamento deles no trabalho voluntário. Apontamos para o fato de que a preocupação com normas, recompensas e punições sociais, bem como, o estar entre amigos exercendo atividades voluntárias que demonstram significância, é importante para todas as faixas etárias que pratiquem o trabalho voluntário.

No entanto, vale ressaltar o que Neri (2012) aponta, a autora reforça a necessidade do estímulo, fortalecimento e inserção social para o bem-estar dos idosos. Para a autora, o envolvimento com atividades de características sociais, intensifica o suporte social e favorece o bem-estar subjetivo. Colabora para que os idosos se considerem e sejam considerados como ativos, produtivos e socialmente envolvidos. Neste sentido, o contato social estimula e pode fazer com que o idoso se fortaleça e seja reconhecido, como peça importante para a sociedade. Como podemos observar, o trabalho voluntário favorece a inserção social do idoso através das atividades que ele prática nas mais diversas instituições beneficentes.

No que diz respeito a Valores/Entendimento, esse aspecto pode ser interpretado como a oportunidade de expressar valores altruístas e humanitários, e a oportunidade de aprender e de colocar em prática conhecimentos e habilidades que a pessoa já possui. Nesse quesito a pontuação máxima alcançada pode ser de 63 pontos. Na presente pesquisa, os participantes alcançaram em média 56 pontos, podemos dizer, que a pontuação obtida está próxima do score total.  Referente ao desempenho individual dos participantes, o P9 (M,62) foi quem alcançou a pontuação máxima de 63 pontos, o mesmo declarou enquanto respondia ao Whoqol Old, que se realiza no trabalho voluntário e que ele mesmo, se surpreendeu com seu desempenho dentro das atividades.

Tavares et. al. (2017) observa que os idosos além de serem apoiados, também fornecem apoio. Para muitos deles, apoiar é mais importante do que receber, contribuindo para o fortalecimento da autoestima e para o envolvimento social. Isso pode ser evidenciado por sua contribuição social e desejo de fazer o bem por meio do trabalho voluntário foi observado como hipótese que o aumento do score no domínio valores/entendimento podem estar relacionados a faixa etária dos participantes, pois nas pesquisas citadas, quanto maior a idade, maior a pontuação entre as pesquisas. Para Lopes e Neri (2006) O trabalho voluntário formal entre idosos representa mais do que uma oportunidade para socialização, pois essa atividade produtiva, pode representar uma oportunidade educativa e de autodesenvolvimento, pois estimula o crescimento e a crença em suas reais capacidades, ao desenvolver talentos e abrir espaços para que o idoso coloque o conhecimento e os significados elaborados coletivamente a serviço de sua construção como sujeito.

O domínio Proteção dispõe sobre a proteção do self, de sentimentos negativos, a exemplo de reduzir a culpa por ter mais privilégios do que a maioria das pessoas, e ainda, trata de como o voluntariado ajuda no entendimento e resolução dos próprios problemas. Com relação a esse escore, os participantes desta pesquisa obtiveram pontuação média de 22 para um score total de 28 pontos. Consideramos que a média obtida, está muito próxima ao score total. Apontamos para fato de que os idosos voluntários, participantes deste estudo, refletem e aprendem com as histórias e exemplos do público atendido por eles

Com referência ao desempenho individual referente ao domínio proteção, os participantes P1 (M,72), P2 (F,67) e P8 (F,66) alcançaram pontuação máxima de 28 pontos. P2 (F,67), enquanto respondia ao Whoqol Old, ilustra o fato dela se sentir recompensada e beneficiada pela vida. Pilati et al., (2011) aplicaram o questionário em 319 participantes com idade média de 38 anos, obtiveram o resultado de 20 pontos para um total de 28 pontos no quesito proteção. Martins (2012) analisou a Iniciação e Abandono da uma Prática Voluntária, com 25 participantes, sendo a idade média de 43 anos, apresentaram a pontuação de 18 pontos para um total de 28 pontos no que se refere a Proteção.

Observamos que o resultado desse presente estudo no quesito proteção, elucida através da pontuação obtida e das falas dos participantes, o fato de que os idosos voluntários, são capazes de refletir e aprender com as histórias e lições daqueles por eles atendidos, esse dado, vai ao encontro do que ressalta Baltes (2000) sobre o paradigma de desenvolvimento ao longo de toda a vida (lifespan), que, contraria a ideia de que o período da velhice, é compreendida apenas de declínios. Dessa forma, os idosos beneficiam e são beneficiados através dos aprendizados envolvidos na relação social existente no voluntariado.

No quesito Carreira Profissional são considerados os benefícios profissionais que o voluntariado pode trazer para cada participante. A pontuação média obtida pelos participantes foi de 13 pontos para um total de 26 pontos. Vale ressaltar que essa baixa pontuação se dá, pelo fato de que com exceção de um participante, todos os demais estão aposentados, somente dois entre os dez realizam atividades remuneradas. P1 (M,72), P2 (F,67) e P8 (F,66) foram os que obtiveram pontuação máxima de 26 pontos. Os três participantes levaram em consideração o quanto a vida profissional deles, contribuíram em expertise para o presente trabalho voluntário que realizam e, não, pelo fato de conseguirem benefícios para a vida profissional. P5 (F,77), P6 (F,82) e P7 (F,86) foram os que menos pontuaram, obtiveram apenas 4 pontos cada um, tais participantes, consideram o fato de estarem aposentadas desde a iniciação no voluntariado, e alegam que o trabalho voluntário não as ajudou no mercado de trabalho.

Para Siqueira (2016) em pesquisa realizada sobre motivação de voluntários que atuam em hospital público no estado de São Paulo com 160 participantes que responderam o IFV e idade média de 49 anos, totalizaram 10 pontos no que se refere a carreira Profissional. Para Martins (2012) sobre pesquisa que analisa a Iniciação e Abandono da uma Prática Voluntária: As Motivações Envolvidas, com 25 participantes, sendo a idade média de 43 anos, atingiram a pontuação máxima de 28 pontos. Nesta presente pesquisa, a maioria dos participantes comentaram não estarem mais preocupados com a carreira profissional, pois, não exercem nenhuma atividade remunerada. Comentaram ainda que, não é o voluntariado que acrescenta experiências para suas antigas carreiras profissionais, e sim a bagagem e expertises acumuladas no exercício de suas atividades profissionais, é que agrega valor em suas funções voluntárias.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As transformações ocorridas no padrão demográfico brasileiro constituem uma das mais importantes modificações estruturais verificadas na sociedade, sendo que a oportunidade de vivenciar a etapa da vida que corresponde à velhice de modo ativo tem sido cada vez mais frequente tanto em nosso país, quanto no âmbito mundial. Nesse contexto, a prática do voluntariado pelo idoso tem sido também cada vez mais observada e está relacionada não só a capacidade física, mas de forma mais abrangente, a possibilidade de participação contínua nas questões sociais, econômicas e culturais da sociedade. Desse modo, compreender as motivações e percepções dos idosos que praticam o voluntariado se torna importante frente a necessidade de maior compreensão e aprofundamento dessas questões.

Por meio dos instrumentos utilizados foi constatado que de modo geral, os idosos voluntários vivenciam e tem a percepção de que possuem uma boa qualidade de vida.

A participação social se apresentou como um fator importante para a obtenção desse resultado. Identificamos que ela fortalece as relações interpessoais e sociais das quais resultam na satisfação e no bem-estar dos idosos voluntários. O trabalho voluntário favorece a participação social, a qual, por sua vez, auxilia na saúde e na melhoria da qualidade de vida dos idosos que praticam. Sugere-se, nesse sentido, que a prática do voluntariado atua como um fator que favorece a promoção da qualidade de vida para os idosos.

Com relação aos sentimentos e valores que são mobilizadores para o trabalho voluntário, destacam-se aqueles relacionados à importância social da prática e a satisfação em exercer atividades que são valorizadas por essas pessoas. São relevantes também a demonstração de valores altruístas e a valorização de oportunidades de aprender com as histórias vivenciadas por aqueles dos quais eles atendem. Além disso os idosos voluntários demonstram aspectos relacionados à proteção do Self de sentimentos negativos e valorização do entendimento e resolução dos próprios problemas, sendo capazes de transformar esse aprendizado em novos modelos comportamentais para suas vidas, a exemplo, do sentimento de gratidão

Como limitações do presente estudo, pode-se destacar a quantidade reduzida de participantes que embora, adequada com relação a metodologia utilizada, não permite generalizações. Sugerimos outros estudos que pesquisem sobre esse importante tema, contribuindo assim   uma melhor compreensão e engajamento dos idosos no exercício do trabalho voluntário, bem como para o fortalecimento de políticas públicas que estimulem a participação dos idosos em todos os setores da sociedade, com o objetivo de proporcionar um processo de envelhecimento mais ativo, com maior satisfação e qualidade de vida.

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[1] Mestrado em Ciências do Envelhecimento.

[2] Doutorado Em Psicologia.

Enviado: Junho, 2020.

Aprovado: Março, 2021.

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