ARTIGO ORIGINAL
MARTINI, Larissa Michele [1], DRUZINI, Luccas Henrique [2], OLIVEIRA, Henrique Camilo de [3], DEDONÉ, Tiago Silvio [4]
MARTINI, Larissa Michele. et al. O psicólogo enquanto psicopedagogo intitucional: atuação na área escolar. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 08, Ed. 11, Vol. 02, pp. 137-165. Novembro de 2023. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/psicopedagogo-intitucional, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/psicopedagogo-intitucional
RESUMO
O presente estudo pretende investigar como que, na prática laboral do psicólogo, o campo da psicopedagogia pode fazer-se presente. A proposta deste artigo é identificar como ocorre a atuação do psicopedagogo institucional em sua relação com a escola, de modo a compreender a importância deste profissional neste âmbito. Além disso, pontua-se informações relevantes acerca da formação e requisitos para se tornar um psicopedagogo. Para levantar tais dados, quanto ao tipo de pesquisa, pautou-se pelo viés bibliográfico e de campo tendo cunho investigativo e experimental; quanto à abordagem, tratou-se de uma pesquisa qualitativa. No que concerne aos objetivos, concentra-se em estudar as contribuições do psicólogo que atua como psicopedagogo. O trabalho teve como subsídio teórico autores que trazem informações acerca desta temática reflexiva, entre os quais: a Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp (2014, 2017); Alves (2007); Araújo (2022); Bossa (2015); Cisneiros (2021); More et al. (2022); Nunes (2007); Pereira (2020); Senra (2016); Silva et al. (2020); Silva e Rabelo (2022), Silva (2016); Silveira (2011); e Thibes (2022). Nesse contexto, o intuito é de se observar o comportamento laboral do psicólogo como psicopedagogo, compreendendo suas relações, papeis e questões enfrentadas por esses profissionais dentro de instituições escolares, principalmente no que diz respeito ao tratamento de indivíduos que apresentam algum tipo de dificuldade de aprendizagem. Pelos dados obtidos, pôde-se concluir que o psicólogo reúne plena habilidade, de forma efetiva com as situações enfrentadas pelos profissionais de psicopedagogia no cenário escolar. Isto porque, ao permear as áreas da pedagogia e psicologia durante a ação psicopedagógica, este profissional tem sua versatilidade ampliada para ser mais eficaz em seu trabalho.
Palavras-chave: Psicólogo, Psicopedagogo, Área escolar, Dificuldades de aprendizagem, Ensino e aprendizagem.
1. INTRODUÇÃO
Concebe-se o psicopedagogo como um profissional o qual é formado para que possa atuar e promover estudos acerca da interface entre os campos da pedagogia e psicologia, frente a diversos fenômenos que se apresentam e ocorrem, principalmente, em grande parte, nos primeiros anos de vida escolar.
Em vista do exposto, é válido exprimir e reafirmar que o psicopedagogo, tem sua ação permeada por ambas as ciências, tanto a pedagogia, quanto a psicologia. De modo que estas contribuem com todo arcabouço de conhecimento que se tem envolto a psicopedagogia.
Para além disto, enquanto área de atuação que possui como objeto a se focar e estudar demandas relacionadas à aprendizagem, é pertinente pontuar que conforme a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp, 2014) esta é uma área com caráter interdisciplinar que desemboca da articulação de outras facetas de conhecimentos para além da pedagogia e da psicologia, como por exemplo a fonoaudiologia e a medicina, sendo possível que todas estas atuem em suas especificidades.
Assim, perante a sua interdisciplinaridade, a psicopedagogia ampliou-se enquanto ramo de atividade laboral, fazendo com que devido a isto, a mesma fosse reconhecida e regulamentada como sendo uma profissão, pelo Projeto de Lei da Câmara 31/2010 aqui no Brasil. Com isso, é preciso preencher alguns requisitos essenciais, os quais sem eles não há a possibilidade em se conseguir trabalhar nesta profissão.
O Código de Ética do Psicopedagogo em seu artigo 5° prevê que “a formação do psicopedagogo se dá em curso de graduação e/ou curso de pós-graduação em Psicopedagogia, ministrados em instituições de educação superior devidamente reconhecidas e autorizadas por órgãos competentes, de acordo com a legislação em vigor.” Isto significa que, qualquer profissional formado nas áreas já citadas, assim como tendo cursado qualquer licenciatura, e que posteriormente venha a fazer uma especialização latu-sensu em psicopedagogia é capacitado para atuar nesta área. A dimensão desta profissão tem-se acrescido tanto, que já existem no país cursos de graduação em Psicopedagogia, sem necessitar assim, de uma especialização na mesma.
Diante disso, faz-se necessário, primeiramente, conceituar e esclarecer o que é a psicopedagogia e, posteriormente, definir, conceituar e esclarecer o que e/ou quem é e o que faz um psicopedagogo, para compreender assim como se dá a sua atuação. Entretanto, antes disso, é proveitoso ressaltar que o que concerne à atuação do psicólogo, de um modo geral, este pode exercer sua profissão em diversos campos de atuação, enquanto: psicólogo clínico; psicólogo organizacional; psicólogo do esporte; psicólogo hospitalar; psicólogo atuante em entidades de saúde (UBS, CAPS, etc.); psicólogo social e comunitário; psicomotricista; além de como psicopedagogo.
Frente a isto, ressaltasse que, nesta pesquisa serão abordados aspectos referentes a todo esclarecimento, conceituação e compreensão sobre o profissional da psicopedagogia, assim como acerca da importância da atuação do psicólogo, enquanto Psicopedagogo Institucional, na área escolar.
O Código de Ética do Psicopedagogo, no capítulo I que trata dos princípios, em seu artigo 1° pontua que
A Psicopedagogia é um campo de atuação em Educação e Saúde com diferentes sujeitos e sistemas, quer sejam pessoas, grupos, instituições e comunidades. Ocupa-se do processo de aprendizagem considerando o sujeito, a família, a escola, a sociedade e o contexto social, histórico e cultural. Utiliza instrumentos e procedimentos próprios, fundamentados em diferentes referenciais teóricos distintos, que convergem para o entendimento dos sujeitos e sistemas que aprendem e sua forma de aprender (ABPp, 2017, p.1).
Posto isto, é importante ter em mente que, o profissional de psicopedagogia pode dividir-se em duas funções, sendo elas nas áreas clínica e institucional. Em síntese, o psicopedagogo clínico é aquele que atua clinicamente, ou seja, aquele em que a atuação ocorre em um consultório nos moldes terapêuticos. Enquanto que, o psicopedagogo institucional é aquele que atua em instituições, podendo ser elas escolares ou não; mais adiante esses conceitos serão mais esclarecidos e aprofundados.
Dessa forma, salienta-se que o foco, aqui, de maneira abrangente, é o de estudar as práticas psicopedagógicas aplicadas na escola com relação às dificuldades de aprendizagem. Perante o exposto, refletindo sobre a atuação e formação profissional do indivíduo que busca realizar tal atividade, levanta-se o seguinte, enquanto questão norteadora: visto como um espaço e campo de atuação a área psicopedagógica, qual o perfil laboral do profissional que atua neste âmbito e como ocorre a sua prática? Ademais, se está atuação se der por intermédio de um psicólogo enquanto um psicopedagogo, é possível a mesma cause impactos com as demandas as quais se depararem?
A destarte, é importante esclarecer então que, de forma mais específica, o intuito é identificar como ocorre a atuação do psicopedagogo institucional em sua relação com a escola, de modo a compreender a importância do psicopedagogo neste âmbito, buscando, assim, mencionar propostas de atividades psicopedagógicas que tenham a probabilidade de serem realizadas como forma de auxílio durante o processo de ensino e de aprendizagem.
Partindo do pressuposto de que o foco do psicopedagogo e da psicopedagogia se encontra no processo de aprendizagem e em suas dificuldades e, de que em todos os momentos estamos aprendendo, faz-se necessário saber mais sobre o que é aprender. De acordo com Pereira (2010)
O ato de aprender, pela sua complexidade, exige um estudo que ultrapassa as raias da cognição, se encaminha para o afetivo/emocional, mergulha no social, se expande através do cultural, nos deixando perplexos frente a tal diversidade e à característica única que possui cada sujeito (p. 114).
Com isso,
É necessário, também, que tenhamos clareza de que é do ato de aprender que emana a aprendizagem nas suas mais recônditas possibilidades de evolução, de construção e aquisição do mundo que cerca o sujeito. Nele ela se estabelece, provocando a indissociabilidade entre o ato de aprender, o sujeito e a aprendizagem (Pereira, 2010, p. 114).
Assim sendo, pode-se dizer, então, que, no instante em que se entra no âmbito do estudo da aprendizagem, ele se dá logo já durante a gestação, uma vez que, “o feto durante o seu desenvolvimento sofre a influência de diferentes fatores que estão relacionados ao ambiente externo e que podem ocorrer internamente e externamente contribuindo para a sua aprendizagem” (Silva et al. 2006 apud Paula, 2018, p. 12).
Frente ao exposto, é fato que, um dos fatores a contribuir para com esta aprendizagem
está relacionado ao vínculo que é constituído, através do toque e da voz materna, pois, o bebê recebe vibrações e sensações vindas do corpo da mãe e do ambiente externo. É na gestação que o bebê começa a compreender os comportamentos da mãe e com quem ela interage e a desenvolver sua personalidade. Esses estímulos são absorvidos através da audição e dos sentimentos que a mãe transmite pelo toque na barriga (Costa, 2005 apud Paula, 2018, p. 12).
Partindo desta conjectura, torna-se possível afirmar que todo o desenvolver-se do ser humano, tem seu início desde o ventre de quem está gerando uma vida, por meio de estímulos sejam eles sensoriais e/ ou auditivos, os quais o indivíduo irá aprender e que podem ser considerados como um processo de aprendizagem.
Para além disso, também é válido destacar aqui os aspectos metodológicos utilizados neste estudo em questão. Quanto ao tipo de pesquisa, a realização se fundamentará em dois tipos, sendo eles o bibliográfico e do de campo. Assim, segundo Silveira (2011) pesquisa bibliográfica
é a coleta de informações em materiais impressos ou publicados na mídia. […] é a pesquisa realizada a partir de material já publicado, como livros, revistas, artigos, etc. Esse tipo de pesquisa está presente em todos os trabalhos acadêmicos, uma vez que traz a base teórica que garante o cientificismo dos mesmos (p. 37-38).
Com relação à pesquisa de campo, antes de tudo a mesma é um procedimento (pesquisa) experimental, esta
Controla as variáveis e realiza experimentos. Pré-requisito: ter variáveis, as quais serão associadas entre si, comparadas. É a pesquisa que envolve algum tipo de experimento, onde o pesquisador trabalha com variáveis que são manipuladas pelo pesquisador [variável independente], e variáveis dependentes [que sofrem a influência da manipulação do pesquisador] (Cisneiros, 2021, p. 7).
À vista disso, Thibes (2022) afirma que, podemos pontuar que pesquisa de campo é uma metodologia investigativa que foca em observar, coletar dados, analisar, assim como interpretar resultados. Essas informações podem ser obtidas tanto a partir de um ambiente natural quanto da realidade em que acontece. Tendo assim como propósito, realizar a verificação do que o objeto em questão faz realmente, podendo deparar-se com a existência de divergências entre discurso e realidade. Assim, se tem uma visão mais clara do que se foi buscar (p. 02).
Posteriormente, juntamente com a pesquisa de campo, é realizada a coleta de dados que segundo Gerhardt & Silveira (2009) “compreende o conjunto de operações por meio das quais o modelo de análise é confrontado aos dados coletados. Ao longo dessa etapa, várias informações são, portanto, coletadas. Elas serão sistematicamente analisadas”. Esta será realizada por meio de entrevista e/ou questionário com profissionais da área e outros indivíduos envolvidos neste meio.
Quanto à abordagem, trata-se de uma pesquisa de conotação qualitativa em que basicamente se interpreta os fenômenos, atribuindo significados em seu processo; também não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas; além de mostrar um lado subjetivo por trás dos dados, resultados obtidos analisando-os (Cisneiros, 2021, p. 3-4).
No tocante aos objetivos, trata-se de uma pesquisa descritiva e exploratória. Quando se fala em pesquisa descritiva, Silveira (2011) afirma que “nesse tipo de pesquisa, o pesquisador limita-se a descrever e interpretar a realidade, sem nela interferir; não estabelece causalidade” (p. 35). Enquanto que, na pesquisa exploratória o objetivo
está no “COMO”, como um fenômeno ocorre e como é possível estudá-lo. Tem a finalidade de ampliar o conhecimento a respeito de um determinado fenômeno. Esse tipo de pesquisa, aparentemente simples, explora a realidade buscando maior conhecimento, para depois planejar uma pesquisa descritiva.
Quando a pesquisa se encontra na fase preliminar, tem como finalidade proporcionar mais informações sobre o assunto que vamos investigar, possibilitando sua definição e seu delineamento, isto é, facilitar a delimitação do tema da pesquisa, o que será estudado (Cisneiros, 2021, p. 6).
Em face do exposto, vale esclarecer que foi feita pesquisa bibliográfica abordando os seguintes autores: Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp (2017); Almeida [s.d.]; Alves (2007); Araújo (2022); Bossa (2015); Cisneiros (2021); Costa et al. (2018); Gerhardt & Silveira (2009); More et al. (2022); Nunes (2007); Pereira (2020); Conselho Federal de Psicologia (2019); Senra (2016); Silva et al. (2020); Silva e Rabelo (2022), Silva (2016); Silveira (2011); Tabile e Jacometo (2017); Tanamachi e Meira (2007) e Thibes (2022).
Posto isto, salienta-se que o presente estudo se divide em cinco seções, sendo a primeira a “Psicologia escolar e educacional”, que conceituará acerca desta área da Psicologia, dentre tantas existentes. A segunda tratará sobre “A psicopedagogia enquanto uma área de atuação do psicólogo” apresentando a área, definindo-a e tratando do funcionamento da mesma. Na terceira seção teremos alguns apontamentos acerca das “Dificuldades de aprendizagem e sua diversidade”. Já a quarta suscitará discussões acerca dos “Impactos da atuação do psicólogo escolar enquanto psicopedagogo”. Por fim, na quinta seção serão mencionadas “Atividades psicopedagógicas e o processo de ensino e aprendizagem”, comentando sobre ambos.
Por conseguinte, desse modo, de acordo com Tabile e Jacometo (2017) entende-se a aprendizagem como um processo dinâmico e interativo da criança com o mundo que a cerca, garantindo-lhe a apropriação de conhecimentos e estratégias adaptativas a partir de suas iniciativas e interesses e dos estímulos que recebe de seu meio social. Então, é de extrema importância a atuação do psicólogo atuante como Psicopedagogo Institucional na área escolar.
2. A PSICOPEDAGOGIA ENQUANTO UMA ÁREA DE ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO
Apesar de a família ser o primeiro acesso ao conhecimento que o indivíduo vai ter, pode-se considerar que grande parte da formação humana é de responsabilidade da escola. Com isso, o trabalho do psicólogo enquanto psicopedagogo institucional na área escolar possui um caráter preventivo, no qual procura criar competências, habilidades e estratégias para uma possível solução dos problemas existentes.
Atualmente, devido ao aparecimento do grande número de crianças que vem apresentando dificuldades de aprendizagem – além de outros possíveis desafios ou problemas que abrangem a escola e a família –, vem ganhando espaço nas instituições de ensino o trabalho e a intervenção psicopedagógica, seja ela por um psicólogo ou outro profissional especializado na área.
Diante disso, Alves (2007) postula que o
psicopedagogo tem como função identificar a estrutura do sujeito, suas transformações no tempo, influências do seu meio nestas transformações e seu relacionamento com o aprender. Este saber exige do psicopedagogo o conhecimento do processo de aprendizagem e todas as suas inter-relações com outros fatores que podem influenciá-lo, das influências emocionais, sociais, pedagógicas e orgânicas (p. 13).
Com isso, é importante ressaltar que, geralmente, num primeiro momento, é o professor que percebe e visualiza que o aluno não está se desenvolvendo conforme o esperado, ou que não está conseguindo acompanhar o desenvolvimento e nível da turma. Será, então, a partir deste momento, que, ao notar a persistência ou repetição de determinada dificuldade que o aluno possui, o professor, não só pode como devem expor o ocorrido à direção e equipe pedagógica solicitando, assim, frente a eles, um encaminhamento para o psicopedagogo.
Assim, partindo do pressuposto de que nas instituições escolares tenham o profissional de psicopedagogia institucional – sendo este preferencialmente um psicólogo –, o encaminhamento solicitado pelo professor chegará até ele, sem que haja necessidade da procura fora da escola por um psicopedagogo clínico, desde que a família autorize e esteja de acordo.
Desta maneira, podemos compreender as dificuldades de aprendizagens como originadas tanto por aspectos internos como por aspectos externos.
Isto posto, fica claro que,
As dificuldades de aprendizagem são decorrentes de aspectos naturais ou secundários que são passíveis de mudanças através de recursos de adequação ambiental. As dificuldades de aprendizagem decorrentes de aspectos secundários são advindas de alterações estruturais, mentais, emocionais ou neurológicas, que repercutem nos processos de aquisição, construção e desenvolvimento das funções cognitivas (Alves, 2007, p. 34).
Logo, é válido considerar que existem dificuldades de aprendizagem de que estas estão relacionados a diferentes fatores. Portanto, a maneira de lidar com cada aluno que apresenta uma dificuldade relacionada a aprendizagem deve ser de forma heterogênea, pois, cada indivíduo é único em sua subjetividade, assim devem-se observar essas diferenças para que eles possam ser auxiliados.
Dessa forma, Costa et al. (2018) pressupõe que,
para o psicopedagogo o processo de aprendizagem da criança é abrangente, implicando componentes de vários eixos de estruturação: afetivos, cognitivos, motores, sociais, políticos, etc. A causa do sucesso de aprendizagem, bem como de suas dificuldades passa a ser vista com inúmeras variáveis que precisam ser apreendidas com bastante cuidado pelo professor e psicopedagogo. O psicopedagogo atua nas escolas promovendo intercâmbios e mediações entre a escola e as famílias (p. 44).
Por conseguinte, atribui-se que algumas dificuldades de aprendizagem podem ser identificadas durante o processo de ensino e de aprendizagem, como exemplo, podemos citar a dislexia, disgrafia e a discalculia, estes que podem causar prejuízo ao aluno tanto dentro quanto fora da escola (sendo, todas estas, áreas de atuação do psicólogo enquanto um psicopedagogo).
3. IMPACTOS DA ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO ESCOLAR ENQUANTO PSICOPEDAGOGO
Diante desses aspectos, a importância da atuação, da intervenção psicopedagógica frente às dificuldades de aprendizagem, configura-se somente a partir do momento em que, tem-se uma tomada de consciência a respeito do fato de que há alunos que possuem dificuldades e que necessitam de uma atenção especial, além de tomar o cuidado em apresentar os objetivos, os temas de estudos e as tarefas numa forma de comunicação clara e compreensível, juntamente com o professor e na escola.
Além disso, o psicólogo também pode auxiliar indivíduos que demonstrem ter algum tipo de dificuldade de aprendizagem, trabalhando para seu melhor desenvolvimento. Desse modo, vale frisar que,
Grupos de apoio psicopedagógicos com alunas(os) que apresentam dificuldades no processo de escolarização também pode ser uma outra atividade desenvolvida. A(o) psicóloga(o), nesse sentido, poderá trabalhar, em parceria com pais, professores e equipe pedagógicas, com atividades que colaborem para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, enfocando a relação entre cognição e afeto (Crepop, 2019, p. 51).
Partindo destes pressupostos, pode-se salientar também que, se pensarmos na intervenção psicopedagógica por profissionais especialistas em psicopedagogia de outras áreas que não a psicologia, – via de regra – de modo geral, de acordo com Franco (2023) a atuação se dará prevenindo, detectando e tratando os problemas relacionados especificamente à aprendizagem. Enquanto que a psicologia tem uma visão mais ampla, significando que o psicólogo é um profissional que orientasse embasado em um conhecimento que é tanto abrangente quanto específico a cada sujeito.
Portanto, a ideia de que o profissional da psicopedagogia seja preferencialmente um psicólogo, advém do fato que este tem qualificações mais amplas, e mesmo que se limite educacionalmente, poderá agir desde o gerenciamento das emoções e dos pensamentos até o gerenciamento das relações interpessoais (Franco, 2023).
Sendo assim, fica claro que, a atuação psicopedagógica do psicólogo na escola tem sim necessidade de existir, pois ela irá contribuir no processo de ensino e aprendizagem do indivíduo que da sua intervenção necessitar, podendo estender-se também para àqueles que em contato com ele estiverem abrangendo todos os aspectos da vida dos envolvidos.
4. ATIVIDADES PSICOPEDAGÓGICAS E O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
Com base nas questões apresentadas até aqui, é possível compreender que o (psicólogo) psicopedagogo pode realizar sua atuação de forma preventiva tendo sua intervenção voltada em favor da aprendizagem das crianças, levando em conta suas especificidades, habilidades, particularidades, dificuldades, assim como suas potencialidades.
Mas, também é importante deixar claro que o trabalho do profissional da psicopedagogia não acontecerá apenas com o aluno em questão, mas também ofertará aos professores que estão em constante contato com aquele aluno e com seu processo de ensino-aprendizagem, um suporte pedagógico, auxiliando assim os professores em suas práticas.
Desse modo, as atividades psicopedagógicas dentro desse processo auxiliam na melhora relacionada a motivação dos alunos, pois essas atividades estão mais próximas da realidade deles o que gera maior aproximação com relação ao que está sendo ensinado.
Assim sendo, partindo desse pressuposto, conforme Silva (2016)
o psicopedagogo ao apropriar-se de jogos lúdicos, trabalhará a dificuldade de aprendizagem, apresentada pela criança, de forma prazerosa, motivando-a para o desejo de aprender, direcionando para a construção de seu próprio conhecimento a partir da dinamização do jogo. O psicopedagogo ao usar da criatividade numa perspectiva lúdica e dinâmica, proporcionará meios eficazes para trabalhar a dificuldade do sujeito, orientando a professores a aderirem uma nova perspectiva de estratégias de aula, através dos jogos (p. 12).
Diante disso, pode-se pontuar que, essas atividades também são capazes de exercer uma ajuda com relação a diversas áreas de atuação dentro das instituições. Dessa forma, vai auxiliando na melhoria e desenvolvimento de inúmeras áreas de habilidades dos indivíduos, dentre essas áreas podemos citar algumas mencionadas por Senra (2016), como: a estimulação sensório-motora; detecção de alterações e atrasos; questões sensórias, motoras e psíquicas; habilidades linguageiras e motoras; processos de simbolização; superação de dificuldades de aprendizagem; potencialização das bases para a construção do conhecimento; construção de habilidades para os cuidados de si e do outro; valorização da história e da cultura; além da construção de ações para a melhoria da vida.
Portanto, com isso podemos reiterar a importância das atividades psicopedagógicas tanto dentro como fora das salas de aula e com relação ao melhor desenvolvimento dos indivíduos, sejam professores ou alunos, favorecendo também um suporte para o aumento da efetividade do ensino e do aprendizado.
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A priori, vale ressaltar que o processo de ensino e aprendizagem é um processo complexo que envolve sistemas, habilidades e fatores diversos, como aspectos intelectuais, psicomotores, físicos, sociais e emocionais.
Por detrás de toda essa complexidade há um sistema de interações comportamentais que acontece entre professores e alunos. Ensinar e aprender são muito mais do que simples ações humanas, são processos constituídos por demandas comportamentais que são complexas, os quais são nomeados de ensinar e aprender e que por vezes são difíceis de se perceber.
Partindo, então, do pressuposto de que o processo de ensino e aprendizagem se dá por meio das interações que ocorrerem entre professores e alunos, será quase que sempre, em via de regra, o professor o primeiro a perceber e se dar conta de que determinado aluno ou alunos possuem algum tipo de dificuldade de aprendizagem ou algo que o está atrapalhando ou impossibilitando de que sua aprendizagem se desenvolva.
Nesse caso, vê-se a necessidade então de uma intervenção. Isto é, um aporte, auxílio, colaboração que servirá de subsídio para o desenvolvimento do indivíduo, sendo, portanto, realizada pelo profissional da psicopedagogia, ou seja, pelo psicopedagogo. Porém, é importante antes de qualquer intervenção do psicopedagogo ou qualquer outro profissional que não seja o professor em questão, conversar, comunicar e solicitar que a família autorize e/ou procure o psicopedagogo para esse processo de intervenção.
Dessa forma, ao interligar família, professor/escola e psicopedagogo, a intervenção psicopedagógica provavelmente será eficaz, demonstrando, assim, o quão relevante e o quão importante é o papel do psicopedagogo ao deparar-se com as inúmeras possíveis dificuldades de aprendizagem existentes e encontradas na sala de aula.
A destarte, a intenção é a de se observar o papel do psicólogo como psicopedagogo, compreendendo suas relações, papeis e as questões enfrentadas por esses profissionais dentro de instituições escolares, principalmente no que diz respeito ao tratamento de indivíduos que apresentam algum tipo de dificuldade de aprendizagem.
Assim, é pertinente destacar que se buscou, nesta pesquisa, o aprofundamento de tal ponto por intermédio da pesquisa de campo. Sendo desta forma necessário para melhor compreensão e entendimento realizar uma análise crítica do discurso (ADC), a fim de saber o resultado do objeto da pesquisa em questão.
Diante disso, se faz essencial conceituar o que é e do que se trata a análise crítica do discurso. Logo, Pereira et al. (2020) afirma que pensar em sua definição
Significa, de início, ter clareza sobre o que entendemos por análise. Ao reconhecermos que todos os esforços investigativos, em especial aqueles que atravessam pesquisas contemporâneas, objetivam lançar mão de metodologias que conduzem o fazer científico, as análises feitas em ADC acabam por dar ênfase a interpretações especializadas dos dados resultantes do objeto estudado. Trata-se de um movimento em que pesquisadores, ao mesmo tempo, executam suas estratégias de investigação, sistematizam suas escolhas teóricas e submetem seu ofício ao escrutínio da crítica e da reflexão progressista (p. 19-20).
Neste sentido, pode-se dizer que ponderar o trabalho acerca desta perspectiva é buscar pautar-se não somente em questões bibliográficas, mas, também em aspectos concretos.
Com isso, tem-se a possibilidade de asseverar que
Convém esclarecer que a perspectiva de análise com a qual nos comprometemos em ADC, além de possibilitar a investigação dos aspectos do mundo a partir de um prisma questionador, se destina a observar e a interpretar o fenômeno e os objetos que dele derivam, os atores sociais envolvidos e ainda, os seus processos em contexto situado, na medida em essa perspectiva aproxima-se da realidade e pode ser estudada. (Pereira et al., 2020, p. 21).
Deste modo, fica claro que há uma necessidade de que haja uma dialogicidade entre fundamentação teórica – desde que de forma científica – e realidade, para assim se criar um contexto relacional entre ambos, culminando assim na comprovação (ou não) do que se estuda.
Então, Pereira et al. (2020) ratifica que “em última instância, é possível dizer que o propósito de toda análise científica é, sobretudo, ir além de descrições objetivas, buscando a interpretação crítica e especializada de dados e verificando a conexão entre os elementos que compõem a prática social em debate. (p. 21)”
Com isso, abordaremos a seguir as perguntas e respostas pontuados no questionário apresentado aos entrevistados participantes deste estudo, assim como serão elencadas as respostas deles. Estes, serão denominados de “Entrevistados”, seguindo-se de uma numeração (por exemplo: Entrevistado 1 ou E1), a fim de proteger os dados da fonte, mantendo, assim, o sigilo necessário na pesquisa.
Neste estudo, o público-alvo almejado foi de profissionais das áreas de Pedagogia e Psicologia, entre eles professores, equipe gestora e pedagógica, psicólogos e psicopedagogos (de quaisquer áreas), e ainda psicólogos enquanto psicopedagogos.
Em suma, para maior compreensão, a seguir ponderamos a formação dos entrevistados: entrevistado 1 graduado em psicologia com pós-graduação em Psicanálise; entrevistado 2 graduado em psicologia e pedagogia, pós-graduado em educação especial e, psicopedagogia clínica e institucional; entrevistado 3 graduado em licenciatura plena em pedagogia, pós-graduado em educação especial e inclusiva, e em alfabetização e letramento; entrevistado 4 graduado em letras anglo-portuguesa, pós-graduado em língua portuguesa; entrevistado 5 graduado em pedagogia, pós-graduado em psicopedagogia, educação especial, e educação infantil; entrevistado 6 graduado em bacharelado em sistemas de informação e em licenciatura em pedagogia, com pós-graduação em educação especial e inclusiva; entrevistado 7 graduado em pedagogia, com pós-graduação em educação especial, psicopedagogia clínica e institucional, e ABA.
Isto posto, em síntese, o que se intentou investigar foram os pontos de interesses relacionados à relação entre psicólogo e aspectos psicopedagógicos; dificuldades enfrentadas; relacionamento com a equipe das instituições; função de cada profissional; maneiras de atuação; e a possibilidade de um psicólogo atuar com maior eficácia em demandas psicopedagógicas.
Diante deste panorama, a seguir estão as respostas obtidas, frente às indagações levantadas. Na questão “Como é a relação da equipe com relação ao psicopedagogo ou psicólogo que exerce a função psicopedagógica na escola?” responderam:
E1: Boa
E2: Na formação da Equipe Multidisciplinar do Centro Psicopedagógico, o Psicopedagogo exerce um papel fundamental, pois através do seu olhar e possível mudar a história da vida escolar de muitas crianças.
E3: Uma relação de respeito, companheirismo e diálogo.
E4: Infelizmente não temos psicólogo nas escolas Estaduais.
E5: Vejo com pouca frequência, as visitas na escola acontecem poucas vezes durante o ano, pois as avaliações do município são feitas pelos profissionais na APAE e não com as profissionais da secretária da educação.
E6: Temos a atendimento psicológico no Centro Psicopedagógico, onde encaminhamos as crianças que vemos a necessidade desse acompanhamento.
E7: Enquanto professora de um município, a psicopedagoga nos orienta e avalia alunos que são encaminhados para investigação de uma dificuldade de aprendizagem. Entretanto, essa demanda é extensa e demorada. A psicopedagoga também não tem assistido o desenvolvimento desses indivíduos de perto.
À vista disso, Araújo et al. (2022) comenta que “pensar o discurso como prática social pode ter diversas orientações, a saber: econômica, política, cultural, ideológica, ou pode ainda ser atravessado por todas essas. (p. 23)” Desse modo, fica clara a necessidade de que o profissional mencionado,
ajude a promover mudanças, tanto nos momentos da intervenção diante dos problemas que a escola apresenta ou que nela se apresentam, como também para melhorar as condições, os recursos e o ensino, realizando a tarefa preventiva. Nesse sentido, deve-se reconhecer que as mudanças se tornam possíveis quando se verificam lacunas, falhas ou identificam-se necessidades. Assim, o compromisso ético-profissional do psicólogo escolar e do psicopedagogo se coloca a serviço deste processo de transformação, mesmo que a princípio seja permeado por conflitos ou por tendência dos sujeitos a manter o que está posto (Nunes et al., 2007, p. 32).
Seguido disso, já na questão “Como você acredita que o psicólogo auxilia no papel de psicopedagogo dentro da instituição? Quais as principais questões enfrentadas pelos psicopedagogos na instituição?” responderam:
E1: O psicólogo vai avaliar a necessidade de cada aluno e encaminhar para o psicopedagogo, quando necessário, para que este possa ajustar o ensino de acordo com a demanda da criança.
E2: O Psicólogo tem em sua formação uma gama de conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil que favorece conhecer as raízes geradoras das dificuldades de aprendizagem e desta forma facilita compreender as causas e elaborar estratégias de intervenção mesmo diante de tanta diversidade.
E3: As principais questões são do público da Educação Especial. Muitas vezes falta o apoio da família, têm também alguns professores resistentes quanto a inclusão e aceitação desses alunos.
E4: Um psicólogo na escola auxiliaria no atendimento aos educandos e pais, bem como aos professores, orientando-os nas mais diversas áreas. Pós pandemia há muitos alunos com crise de ansiedade, depressão, dificuldade de aprendizagem, entre outros.
E5: Acompanhamento do aluno e orientação dos professores de como e de que forma podem estar lidando, e assim realizando um trabalho conjunto.
E6: Auxilia através da observação e análise das perturbações no aprendizado dos alunos, definir orientações didáticas e metodológicas para o tratamento das dificuldades ou transtornos apresentados pelos alunos.
E7: A psicopedagoga tem dificuldade quanto às características dos diagnósticos e encaminhamentos para equipe médica. A psicóloga auxilia na aplicação dos testes e nas características dos transtornos/síndromes/distúrbios.
De acordo com Araújo et al. (2022) “a educação brasileira, nos últimos anos, vem sofrendo um intenso ataque de setores da sociedade que atuam para alterar os ideais historicamente conquistados e que estão sustentados nos princípios da gratuidade, obrigatoriedade e laicidade do ensino.
Nessa perspectiva, o psicólogo não é um mero “resolvedor” de problemas, mas um profissional que dentro de seus limites e de sua especificidade, pode ajudar a escola a remover obstáculos que se interpõem entre os sujeitos e o conhecimento e a formar cidadãos por meio da construção de práticas educativas que favoreçam processos de humanização e reapropriação da capacidade de pensamento crítico (Tanamachi; Meira, 2003, p. 43 apud Nunes et al., 2007, p. 32).
Enquanto isso, na questão: “Para você, qual a função do psicólogo na escola? E do psicopedagogo? Em que situações se percebem a necessidade de um psicopedagogo?” responderam:
E1: O psicólogo tem como uma das funções identificar as dificuldades encontradas no processo de ensino e aprendizagem (alunos e professores), auxiliar nos conflitos e dificuldades encontradas no ambiente escolar, entre outras atitudes. Percebe-se a necessidade de um psicopedagogo quando é identificado alguma dificuldade no processo de ensino e aprendizagem, pois este irá ajustar o ensino de acordo com as necessidades específicas de cada criança.
E2: O Psicólogo escolar deve compreender os processos e estilos de aprendizagem e direcionar a equipe educacional na busca de um constante aperfeiçoamento no processo de ensino e aprendizagem. Já o Psicopedagogo deve ser capaz de realizar diagnóstico, planejamento de intervenção, e avaliação Psicoeducacional, sendo este imprescindível no ambiente escolar.
E3: A função é de dar todo apoio e assistência, descobrindo os motivos que levam os alunos estarem passando por dificuldades que de alguma maneira influenciam tanto na aprendizagem quanto na socialização e na formação integral do estudante. Nas situações em que os alunos estão tendo dificuldades na aprendizagem e estão limitados de diversas formas (social, emocional ou física).
E4: Sua função na escola é promover a melhoria no aprendizado e detectar possíveis falhas no processo, auxiliando os docentes e discentes. Além disso, oferecem o apoio necessário aos programas de prevenção e ao desenvolvimento das habilidades socioemocionais, muito prejudicada nos dias atuais.
E5: O psicólogo e o psicopedagogo devem trabalhar de forma alinhada e em equipe, o trabalho da psicopedagogia é importante para avaliar, auxiliar na resolução de problemas que envolvem a aprendizagem e auxiliando o professor a melhorar a defasagem daquele aluno.
E6: A função do Psicólogo é promover a melhoria no aprendizado e detectar possíveis falhas no processo, oferecer apoio necessário para o desenvolvimento das habilidades socioemocionais. A função do Psicopedagogo é realizar uma orientação educacional, propor a intervenção no currículo, no PPP, na metodologia e nas formas de aprender do Professor. As situações que vemos necessidade da intervenção do Psicopedagogo quando por algum motivo, o desenvolvimento cognitivo do aluno apresenta atraso, dificuldades ou barreiras que ficam mais evidentes no desempenho escolar.
E7: O psicólogo que temos atua mais na aplicação de testes e orientação ao psicopedagogo. Mas vejo a necessidade da terapia com as crianças, o que não acontece. O psicopedagogo se faz presente nas situações em que os professores têm dificuldades para lidar com alguns alunos em sala de aula, que têm dificuldades de aprendizagem e especificidades quanto à aprendizagem, professor de apoio, avaliação.
Frente ao exposto, More et al. (2022) propõe que
a realidade (um fato social) pode ser retratada de maneiras distintas a depender da intenção do sujeito ou do veículo emissor de um discurso. Dentre os mecanismos a disposição do sujeito (ou organização) estão os mecanismos de ativação ou passivação dos atores envolvidos, que podem ser acionados por meio de estratégias linguísticas que evidenciam um ou outro participante do evento discursivo (p. 40).
Consequentemente é possível ratificar que as intervenções realizadas por psicólogos/psicopedagogos
com os alunos viabilizam um maior envolvimento desses com a aprendizagem, uma vez que, por meio das conversas e atividades em grupo, os alunos sentem-se acolhidos e respeitados. Nesse sentido, demonstram maior confiança em si mesmos, explicitando sentimentos de valorização e reconhecimento de seu potencial. Além disso, com esse acompanhamento em caráter contínuo é possível perceber, ao longo do ano letivo, que esses alunos sentem-se mais fortes emocionalmente para lidar com dificuldades inerentes ao processo educacional (Nunes et al., 2007, p. 33).
Posteriormente, na questão: “Se o psicopedagogo for um psicólogo, acredita-se que o psicólogo nessa função poderia lidar melhor ou que ele poderia apresentar maior efetividade com as questões e situações que necessitar de atuação psicopedagógica do que se forem profissionais psicopedagogos de outras áreas? Explique.” Responderam:
E1: Sim
E2: Sim, o Psicólogo como dito anteriormente, tem muito conhecimento que facilita a compreensão de como a dificuldade da criança afeta sua vida, e como utilizar estratégias para superar as dificuldades e ao mesmo tempo oferecer saúde emocional.
E3: Eu acredito que o psicopedagogo enquanto psicólogo tem um embasamento maior, consequentemente traz mais contribuições ao trabalhar com o todo, com a formação integral dos estudantes. Unindo o conhecimento que o psicólogo absorve com as especificidades da especialização em psicopedagogia, o trabalho torna-se mais efetivo.
E4: Questão difícil de responder, particularmente penso que sejam complementares. Pois o conhecimento didático e do funcionamento da escola também é de suma importância. Não vejo um profissional excluindo o outro, mas sim, um complementando o outro.
E5: Sim, pois irá ter um conhecimento mais amplo e agregando mais.
E6: Sua atuação será mais ampla, pois poderá ajudar a promover mudanças, tanto nos momentos da intervenção diante dos problemas que a escola apresenta ou que nela se apresentam, como também para melhorar as condições, os recursos e o ensino, realizando a tarefa preventiva.
E7: Acredito que depende da demanda institucional. As questões pedagógicas são complexas e precisam de conhecimento e experiência nessa área. Um bom professor pedagogo sabe intervir e perceber as necessidades educacionais muito bem. O conhecimento, somado à experiência formam o professor para lidar com isso. Vejo que psicólogos têm dificuldades com isso. Precisa aferir e sentir o nível de aprendizado, e só quem está em sala de aula consegue ver com propriedade esses detalhes. Mas para a área clínica, é interessante a formação em psicologia, visto que os testes são complexos também. O psicopedagogo precisa se atualizar e buscar conhecimento em ambas as áreas, independente da formação. Acho que a questão é mais pessoal. O psicopedagogo que gosta mesmo de atuar pode se formar e atuar muito bem, sendo pedagogo ou psicólogo.
Pensando neste quesito, ao analisar estes discursos, se faz válido pontuar que, segundo Silva e Rabelo (2022)
na produção e na compreensão do discurso, primeiro ocorre o processamento do modelo da situação social, ou seja, do contexto, que é composto das experiências diárias do sujeito. Nestas condições, o contexto é dinâmico e atrelado às mudanças sociais, às interpretações do discurso e ao conhecimento veiculado por ele, pois mantém uma interface entre as dimensões social e cognitiva do discurso (p. 333).
Nesse sentido, o que se acredita é o fato de que quando as áreas da Psicologia e da Pedagogia, culminam na psicopedagogia, e
quando encontra consonância e parcerias na escola, pode promover efeitos muito positivos para a minimização das dificuldades que emergem no contexto escolar, apesar de representar um constante desafio, pois requer o envolvimento de toda a equipe, e um desejo permanente de mudanças, para que as transformações, de fato, ocorram (Nunes et al., 2007, p. 33).
Enquanto, na questão “Sendo você um psicólogo, caso não seja especialista em psicopedagogia, considera sua atuação psicopedagógica? E caso seja especialista na área, sua atuação é psicopedagógica ou não? Explique como ocorre sua forma de atuação, de que modo ela se dá?” responderam:
E1: Não, pois são saberes diferentes que se complementam, no meu caso, faço o atendimento clínico individualizado
E2: Trabalho com atendimentos direto com crianças com dificuldades de aprendizagem. Orientações a pais e professores.
E3: Não ocupo nenhuma das funções.
E4: Não sou psicóloga nem psicopedagoga, apenas tenho cursos de formação em escuta e algumas áreas da psicopedagogia, porém atendo alunos e pais e encaminho para profissionais da área. Tais profissionais são de UBS, entidades ou da rede particular.
E5: Questão não respondida pelo entrevistado.
E6: Atuar no enfrentamento das dificuldades dos alunos, sendo elas psicopedagógicas ou cognitivas comportamentais.
E7: Bom, eu sou pedagoga e psicopedagoga. Não vejo que profissionais psicólogos atendam às demandas que um psicopedagogo precisa lidar. O psicopedagogo precisa intervir e desenvolver um trabalho de acompanhamento escolar. Os psicólogos, neste caso, sabem aferir quantitativamente níveis e coletar dados. Mas, a área de ensino precisa desses conhecimentos que o psicólogo não consegue nas sessões.
Posto isso, é preciso agir de forma dialética, estudando e se especializando, devendo ser “um traço importante dessa dialética, em seu objetivo de explicação a transformação social” voltando-se assim à
“importância de se proceder à linguagem na busca por uma fundamentação crítica do social [que] é o fato de ela estar inserida continuamente nas práticas sociais concretas, devendo ser entendida, pois, como uma forma de consciência prática, sem a qual nenhuma realidade social consegue ser reproduzida e legitimada (Silva et al., 2020, p. 193).
Então, de acordo com Nunes et al. (2007), desse jeito é possível verificar que
na prática que o trabalho realizado em conjunto entre professores e psicólogos escolares e ou psicopedagogos permite a esses profissionais a reflexão sobre suas próprias ações na escola, diminuindo inclusive os encaminhamentos de alunos ao serviço de psicologia, melhorando as relações dentro do ambiente de trabalho, bem como a qualidade das ações desenvolvidas no âmbito escolar (p. 33).
Por efeito, constata-se que por meio da análise crítica do discurso e da pesquisa de campo realizada, torna-se perceptível que o trabalho psicopedagógico proferirá dificuldades a serem encaradas, vivenciadas e superadas. Isto ocorrerá por intermédio de preparar-se e respaldar-se cientificamente acerca da temática de ensino e aprendizagem.
Em contrapartida temos a importância e dimensão desta área de atuação, que é a psicopedagogia. Lembremos que seu profissional pode ser de qualquer área, especializando-se na mesma. Apesar disso, geralmente, os psicopedagogos que se encontram são pedagogos. Contudo, é imprescindível ratificar que a psicopedagogia é também uma área de atuação da psicologia. Sendo assim, o psicólogo especializado em psicopedagogia, sendo ela institucional, para o trabalho voltado à área escolar, e o mesmo adquirindo conhecimentos acerca da educação e seu processo de ensinar e aprender, poderá utilizar de meios e técnicas que outras áreas não possuem ou aprofundam-se, a fim de realizar um trabalho mais eficaz e certeiro.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Discorrer sobre Psicopedagogia é pensar o sujeito integrado pela afetividade, inteligência e motricidade, inserido no contexto familiar, social e escolar. É importante frisar que, o suporte familiar é essencial para que as intervenções psicopedagógicas sejam bem-sucedidas. Portanto, é necessário trazer a família para perto, demonstrando interesse, a fim de compreender e considerar a dinâmica familiar existente em cada caso.
Vale destacar que, um dos pontos fundamentais da Psicopedagogia é a relação do sujeito com a aprendizagem. Assim, fica claro que, o quão mais cedo ocorre a descoberta com relação ao aluno com dificuldade de aprendizagem, mais efetiva torna-se a ação do psicopedagogo e com isso um melhor resultado a longo prazo.
A destarte, pode-se pontuar que a prática Psicopedagógico tem sua magnitude a nível de se fazer necessária ao conhecer mais sobre dificuldades de aprendizagem, auxiliando sujeitos com dificuldades (sejam elas quais forem, dentro do processo de aprendizagem), assim como família, professores e outros profissionais e indivíduos que estejam envolvidos de alguma maneira neste processo.
Dessa forma, podemos observar com a pesquisa realizada que os resultados obtidos podem ser compreendidos como onde o psicólogo no papel de psicopedagogo pode auxiliar na maioria dos casos dentro das instituições, devido a uma ampla gama de conhecimentos que psicólogo adquire devido a sua versatilidade.
Ademais, também deve ser recordado que apesar de que alguns dos entrevistados tenham uma visão contraria à questão do psicólogo no papel de psicopedagogo, podemos observar que grande parte (em sua maioria) entende que o psicólogo pode lidar de forma efetiva ao defrontar-se com as situações enfrentadas pelos profissionais de psicopedagogia.
Para além disso, podemos também destacar o trabalho da entrevistada número dois, que além de psicóloga também é pedagoga com pós em psicopedagogia. Diante disso, está atua permeando ambas as áreas e se utilizando das práticas psicológicas em suas atuações nas relações psicopedagógicas. Com isso, vai-se compreendendo que podemos observar em suas respostas que a graduação de psicólogo pode auxiliar o trabalho dentro da função de psicopedagogo.
Assim sendo, a função talvez mais importante para o psicopedagogo seja a possibilidade de despertar o desejo de aprender do paciente, desaprisionar-o de seus bloqueios e dificuldades, abrindo-lhe a perspectiva de obter prazer e curiosidade em aprender, além de ensiná-lo e ou relembrá-lo que ele é um sujeito plural, que não se resume apenas às suas dificuldades de aprendizagem.
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[1] Acadêmica do Curso de Bacharelado em Psicologia. ORCID: https://orcid.org/0009-0001-6900-2253.
[2] Acadêmico do Curso de Bacharelado em Psicologia. ORCID: https://orcid.org/0009-0006-1637-3778.
[3] Psicólogo; Especialista em Psicologia Organizacional; Avaliação Psicológica; e em Estrutura da Personalidade. ORCID: https://orcid.org/0009-0000-3036-8496.
[4] Orientador. Pós-Graduação stricto sensu: Mestrado em Formação de Gestores Educacionais (UNICID –SP); pós-graduação – lato sensu em: Neuropsicologia com ênfase em reabilitação cognitiva; Neuropsicopedagogia; e em Psicopedagogia Institucional e Clínica; Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4666-6137.
Enviado: 27 de novembro de 2023.
Aprovado: 01 de dezembro de 2023.