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A psicologia humanista de Carl Rogers: uma perspectiva de trabalho no caps

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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

LARA, Renan Gomes [1]

LARA, Renan Gomes. A psicologia humanista de Carl Rogers: uma perspectiva de trabalho no caps. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 10, Vol. 06, pp. 125-136 Outubro de 2018. ISSN:2448-0959

RESUMO

Esse trabalho é resultado da experiência de estágio em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é considerado um dos dispositivos de atenção à saúde, o atendimento clínico em regime diário, evitando assim as internações para o paciente. O objetivo geral deste estudo foi a perspectiva de trabalhar a Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) de Carl Rogers, junto aos pacientes com transtorno mental grave. O delineamento da pesquisa foi do tipo qualitativo, descritivo, exploratório, interventivo, epidemiológico. Para coleta de dados foi utilizada a técnica de observação, dinâmicas, relato de onze sessões do grupo terapêutico de reflexão. A análise dos dados foi realizada através da caracterização do grupo e dos participantes da pesquisa, discussões das sessões e dos fenômenos apresentados no processo grupal, assim como da análise textual qualitativa. Os resultados apontam que a psicologia humanista, inserida na política pública da saúde mental, contribui significativamente para o fortalecimento das relações interpessoais, a autonomia do sujeito, a diminuição do sofrimento psíquico, a expansão da consciência, e a direção construtiva da reestruturação da personalidade.

Palavras-chave: Psicologia, Abordagem Centrada na Pessoa, Saúde Mental, CAPS.

INTRODUÇÃO

É sabido que a história da Reforma Psiquiátrica no Brasil é recente, assim como a luta para à conquista dos direitos básicos à saúde dos pacientes internados. Pois, o antigo modelo manicomial, violava o direito e a defesa dos cidadãos, privando a sua autonomia de maneira radical (BRASIL, 2005).

Na contramão de várias lutas e conquistas para o campo da saúde mental, no que diz respeito a direitos na legislação brasileira a Lei nº 10.216/01 proposta do Deputado Paulo Salgado (PT/MG), aprovado no Congresso Nacional, somente após doze anos de tramitação é sancionada no país. Nesse sentido, a assistência alinhou-se a programa de promoção e prevenção da saúde; surge nesse cenário um novo modelo comunitário de saúde pública (BRASIL, 2005).

No contexto nacional da assistência à saúde mental esteve atrelada às reivindicações da reforma sanitária. Portanto, buscou-se a construção do conjunto de políticas públicas que contribui para o atendimento à saúde da população (SALES; DIMENSTEIN, 2009). Dessa forma, a política nacional de desinstitucionalização dos pacientes internados, propôs a novos programas como a Residência Terapêutica, Programa Volta para Casa, Centro de Reabilitação, e o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).

Esse estudo é de grande relevância no cenário atual da saúde mental, fazendo-se notório o serviço prestado no Centro de Atenção Psicossocial – CAPS, que é considerado um dos dispositivos de atenção à saúde, o atendimento clínico em regime diário, evitando assim as internações para o paciente. Desse modo, a psicologia busca compreender a complexidade biopsicossocial no âmbito do transtorno mental grave, e como se dá as ações intersetoriais, para o processo de reabilitação psicossocial.

De modo abrangente à saúde mental, é uma parte integrante do Sistema Único de Saúde – SUS, e deve conter serviços integrados na promoção e prevenção da saúde, conquista instituída em Lei Federal na década noventa. O SUS é a conquista da luta da população brasileira através da Conferência Nacional de Saúde instituída em 1988 (BRASIL, 2011).

A Constituição Federal de 1988 no art. 196 estabelece “A saúde é direito de todos e dever do Estado”, garante o acesso universal e igualitário as ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 2011). Nesses aspectos, a psicologia usa os subsídios da Constituição Federal 1988, buscando promover e recuperar os processos psíquicos do paciente com transtorno mental grave.

A perspectiva da linha de cuidado em saúde mental, proporciona a função estratégica de promoção à saúde, visando à qualidade dos serviços prestados, contribuindo para a autonomia do sujeito. De acordo com o Conselho Federal de Psicologia (2013, p. 82) “Ela exigiu e exige do sistema de saúde e das profissões nele inseridas um processo longo e complexo de cuidados, orientados pela possibilidade da pessoa se apropriar do seu processo de saúde e doença”.

O objetivo geral deste estudo foi a perspectiva de trabalhar a Abordagem Centrada na Pessoa – ACP de Carl Rogers, para uma nova forma de atendimento humanizado dos pacientes com transtorno mental grave, bem como descrever as melhoras significativas ao tratamento através do grupo terapêutico de reflexão, caracterizando às atitudes facilitadoras e a atuação do terapeuta no grupo, correlacionando-a com a Política Nacional de Saúde Mental.

O delineamento do relato de experiência foi do tipo qualitativa, descritivo, exploratório, interventivo, epidemiológico, com autorização da Secretaria Municipal de Saúde Pública (SESAU). A coleta de dados foi realizado no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), no Estado de Mato Grosso do Sul, localizado no município de Campo Grande, realizado no período de março a junho de 2017. A amostra foi constituída de 9 participantes do grupo terapêutico de reflexão, mediante a autorização da psicóloga responsável pelo grupo.

Para coleta de dados foi utilizada a técnica de observação, dinâmicas, relato de onze sessões do grupo terapêutico, preservando a identidade dos participantes, utilizados somente para fins educacionais e científicos. Para a análise dos dados foi realizada através da caracterização do grupo e dos participantes da pesquisa, discussões das sessões e, dos fenômenos apresentados no processo grupal, assim como à análise textual qualitativa. Com relação ao cronograma este foi seguido com rigor, buscando-se pautar na entrega dos relatórios parcial e final.

1. REFORMA PSIQUIÁTRICA E O NOVO MODELO DE ATENDIMENTO NO BRASIL

No Brasil em meados da década de setenta houve o avanço do chamado “movimento sanitarista”, que teve o objetivo principal de fortalecer as mudanças significativas no modelo de gestão e das práticas da saúde pública, a fim de proporcionar a maior autonomia aos trabalhadores e usuários de modo sistemático.

A proposta da Reforma Psiquiátrica no Brasil é recente, como também a sua história de lutas teve diversos atores que contribuíram para o fortalecimento desse movimento social. Muitos eram contra a maneira violenta que os pacientes psiquiátricos eram submetidos, pois privava o direito e a defesa como cidadão. Dessa forma, o novo modelo da reforma buscou a transformação das práticas utilizadas dentro dos hospitais psiquiátricos, proporcionando aos familiares participarem dos cuidados ao serviço de saúde prestado (BRASIL, 2005).

Ao longo da história surge o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), trabalhadores ligados a reforma sanitária, associações de familiares, e os pacientes que tiveram um longo período de internação, esse fato ocorreu em 1978. Esse movimento foi muito importante para que houvessem as denúncias de violência manicomial com os pacientes internados. A crítica deu-se de certa forma ao ‘saber médico’, que utilizava de métodos e técnicas para hospitalizar os doentes de maneira radical (BRASIL, 2005).

Nessa perspectiva surge o novo modelo de trabalho antes utilizado somente na Itália, como uma forma inovadora de conduzir o tratamento dos pacientes internados, aliando-se à prática e o conhecimento adquirido. A nova possibilidade de trabalhar, propõe a ruptura com o antigo modelo manicomial brasileiro, tornou-se o exemplo a Colônia Juliano Moreira – Rio de Janeiro, que atendia mais de 2.000 pacientes na década de oitenta.

Através dos resultados positivos dos pacientes internados, surge o primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), no Brasil em São Paulo no ano de 1987. Também houve a implantação na cidade de Santos, os primeiros Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) funcionando 24 horas, avanços significativos no processo da reforma psiquiátrica (BRASIL, 2005).

A proposta do então Deputado Paulo Salgado (PTMG), para o Projeto de Lei no Congresso Nacional, buscava a regulamentação dos direitos para os pacientes com transtorno mental, visando a um novo modelo manicomial no Brasil, assim o primeiro passo da luta nos campos da reforma psiquiátrica na saúde. De acordo com a Constituição Federal de 1988 no art. 196 estabelece: “A saúde é direito de todos e dever do Estado”, garante o acesso universal e igualitário as ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 2011).

A regulamentação da lei propôs a substituição de vários leitos psiquiátricos, isto é, a maior abrangência da rede e acesso da atenção à saúde. A proposta e a aprovação da Lei Federal 10.216, somente ocorreu no ano de 2001. Ou seja, trouxe o direcionamento aos serviços ofertados de base comunitária, instituindo assistência, alinhando a programas de promoção à saúde mental, traçando estratégias e reduzindo os possíveis danos e futuras internação aos pacientes. Surge nesse cenário promissor um novo modelo comunitário de saúde pública (BRASIL, 2005).

2. O CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL – CAPS

De acordo com Sales e Dimenstein (2009, p. 278) afirma que:

No contexto nacional a revisão do paradigma psiquiátrico de assistência à saúde mental esteve atrelada às reivindicações da reforma sanitária, com o engajamento dos profissionais de saúde e da sociedade civil na busca da construção de um conjunto de políticas públicas que assegurassem a saúde da população. Essas lutas sociais culminaram na criação do SUS e na aprovação de uma legislação específica que visava orientar a desconstrução do modelo manicomial vigente no Brasil.

O Programa Nacional de Avaliação do Sistema Hospitalar / Psiquiatria (PNASH), criado em 2002, pelo Ministério da Saúde (MS), cria os mecanismos de fiscalização em unidades de atendimento nos três campos complementares: técnico-clínico, vigilância sanitária e o controle normativo (BRASIL, 2005).

A Lei Federal 10.216/01 (2005), juntamente com a Política Nacional de Desinstitucionalização, buscaram recursos para conduzir os pacientes internados a novos programas como: a Residência Terapêutica, o Programa Volta para Casa, o Centro de Reabilitação e o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).

Segundo a publicação de Nunes, Torres e Zanotti (2015, p. 136) é correto afirmar que:

Dentre essas redes, o Centro de Atenção Psicossocial – CAPS é considerado o dispositivo de atenção à saúde mental que possui valor estratégico para efetiva Reforma Psiquiátrica. O serviço presta atendimento clínico em regime de atenção diária, evitando assim as internações em hospitais psiquiátricos, além de ter as funções de inserir socialmente as pessoas com transtornos mentais, através de ações intersetoriais.

A saúde mental é parte integrante do Sistema Único de Saúde (SUS), pois deve conter serviços integrados à promoção e a prevenção à saúde. O SUS é uma conquista na luta da população brasileira através da Conferência Nacional de Saúde instituída em 1988. E considerado um dos maiores sistemas públicos de saúde, constituem os princípios doutrinários da rede como a Universalidade, a Equidade, a Regionalização / Hierarquização e a Descentralização (BRASIL, 2011).

O princípio da Equidade na política pública da saúde assegura a construção da rede de apoio ao serviço prestado para o usuário com diversos profissionais. Esse é um dos principais objetivos da política pública da saúde mental, entendido, pelo Conselho Federal de Psicologia (2013, p. 28),

A característica principal apresentada e buscar a integração dos usuários a um ambiente social e cultural concreto, designado como seu território, o espaço da cidade onde se desenvolve a vida cotidiana de usuários e familiares. Tem como preceito fundamental ajudar o usuário a recuperar os espaços não protegidos, mas socialmente passíveis à produção de sentidos novos, substituindo as relações tutelares pelas relações contratuais, especialmente em aspectos relativos à moradia, ao trabalho, à família e à criatividade.

O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), atribui a distinção pelo território e à capacidade de atendimento, dessa forma, é organizada pelo perfil da demanda nos municípios brasileiros. Encontra-se os diversos tipos: o CAPSi (infantil), o CAPSad (álcool e droga), o CAPS I, o CAPS II, o CAPS III (BRASIL, 2005).

É concebido como um nova alternativa terapêutica, distanciando do antigo modelo hospitalocêntrico. Para Cardoso e Seminotti (2006) os CAPS passaram a ter uma função estratégica de articular as forças de atenção em saúde mental dentro da comunidade, visando à promoção, à qualidade do serviço prestado, contribuindo na autonomia dos usuários. O Conselho Federal de Psicologia (2013, p. 82) afirma que:

Essa perspectiva de linha de cuidados para as pessoas com transtornos mentais (que é também hoje uma perspectiva de orientação para o cuidado de outras doenças crônicas) pauta uma transformação importante às profissões no campo da assistência, marcadas tradicionalmente por uma forte vocação ambulatorial. Ela exigiu e exige do sistema de saúde e das profissões nele inseridas um processo longo e complexo de cuidados, orientados pela possibilidade da pessoa se apropriar do seu processo de saúde e doença.

As atividades realizadas vão desde o atendimento individual, grupal, familiar, comunitária, Assembleias ou Reuniões de Organização de Serviços. Portanto, o serviço busca produzir a resolubilidade do sofrimento psíquico e contribui, para a sua inserção gradual ao convívio social, tal como, a autonomia do cidadão (BRASIL, 2005).

O sofrimento psíquico ou a crise – sua expressão mais intensa – podem assim ser percebidos para além da dimensão psicopatológica. Entra em jogo aqui, a necessária escuta e o reconhecimento do sujeito e do laço social. Assim, temos a psicopatologia articulada à dimensão subjetiva e ao laço social. A crise do sujeito, ou o conflito que não encontrou lugar na subjetividade e por isso tornou-se insuportável e transbordou, precisa ser escutada naquilo que esta produz de tensionamento, ruptura ou conexão com os laços sociais. Mudando a abordagem, muda-se, também, a resposta (CONSELHO, F, P, 2013, p. 97).

O desenvolvimento das práticas integrativas são pautadas na Política Nacional de Humanização (PNH). Ou seja, investir na saúde da população é muito importante, como também em aproximar o paciente da relação familiar e da comunidade, contribui para a compreensão do processo saúde e doença. Os profissionais que atuam na saúde mental devem buscar o trabalho compartilhado com a Unidade Básica de Saúde (UBS), a fim de expandir o cuidado humanizado.

Humanizar é aceitar esta necessidade de resgate e articulação dos aspectos subjetivos, indissociáveis dos aspectos físicos e biológicos. Mais do que isso, humanizar é adotar uma prática em que profissionais e usuários consideram o conjunto dos aspectos físicos, subjetivos e sociais que compõem o atendimento à saúde. Humanizar refere-se, portanto, à possibilidade de assumir uma postura ética de respeito ao outro, de acolhimento do desconhecido e de reconhecimento dos limites (BRASIL, 2001, p. 52).

O processo de trabalho na saúde mental é dinâmico, como a sua relação da rede assistencial. Dessa forma, o campo do serviço público demanda do profissional à qualificação em especial à gestão participativa da equipe, atribuindo assim à valorização, à inclusão do acolhimento ao usuário (SALES; DIMENSTEIN, 2009).

O acolhimento é um modo de operar os processos de trabalhos em saúde de forma a atender a todos que procuram os serviços de saúde, ouvindo seus pedidos e assumindo no serviço uma postura capaz de acolher, escutar e dar respostas mais adequadas aos usuários. Implica prestar um atendimento com resolubilidade e responsabilidade, orientando, quando for o caso, o paciente e a família em relação a outros serviços de saúde para continuar da assistência estabelecendo articulações com estes serviços para garantir a eficácia desses encaminhamentos (BRASIL, 2001, p. 09).

No Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) o paciente é acompanhado por um Técnico de Referência (TR), isto é, um profissional da saúde que auxilia o seu projeto terapêutico singular de forma a (re) definir as atividades terapêuticas, assim como a participação nos serviços ofertados. O desenvolvimento do trabalho proporciona traçar metas e avaliações periódicas, a fim de dialogar com à equipe multidisciplinar, promovendo o apoio matricial (BRASIL, 2004).

O apoio matricial é um arranjo organizacional que viabiliza o suporte técnico específico em áreas especificas para as equipes responsáveis pelo desenvolvimento de ações básicas de saúde. Nesse arranjo, a equipe de saúde mental compartilha alguns casos com as equipes de Atenção Básicas. Esse compartilhamento se produz em forma de co-responsabilização pelos casos, que pode se efetivar através de discussões conjuntas de casos, intervenções conjuntas as famílias e comunidades ou sem atendimento conjuntos, e também na forma de supervisão e capacitação (BRASIL, 2005, p. 33)

Nesse sentido, o psicólogo trabalha com a promoção da saúde mental do paciente colaborando para a inserção gradual ao convívio familiar, social e autônomo. Assim, compreender a complexidade da demanda psíquica está atrelada a psicologia, tornando-a relevante ao campo da saúde pública (DIAS; CARDOSO, 2012).

A reforma psiquiátrica atribuiu o conceito de “porta aberta”, e hoje encontra-se inserida na política pública do CAPS, que é entendida como o espaço aberto e acolhedor, sem trancas nem cadeados, acolhendo a crise psíquica do sujeito. A contribuição de Lobosque (2007, p. 56) ressalta que “portas que dão acesso a um espaço cujo contorno não se faz por muros ou grades. A partir daí, é preciso sustentar as várias consequências dessa livre e essencial abertura”.

A importância das estratégias terapêuticas está além do espaço físico do cuidado, e devem abranger a prática multiprofissional, tal como, proporcionar a reflexão dos conceitos da intervenção no campo da saúde mental, a fim de promover autonomia, e prevenir possíveis recaídas dos pacientes (BRASIL, 2004).

3. ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA – ACP

A psicologia estava em grande expansão nos Estados Unidos, no início da década de cinquenta. Nesse período surge o novo movimento denominado de psicologia humanista. A linha de pensamento humanista pontuava reações adversas frente ao trabalho determinista e limitador das escolas teóricas: a psicanálise e o comportamentalismo, pois reduzia as características da natureza humana e o desenvolvimento pleno (SANTOS; LARA; CRUZ, 2018).

O trabalho dos psicólogos humanistas seria proporcionar o apoio à capacidade de crescimento do indivíduo em sua integralidade, acolhendo os sentimentos, e percepções da realidade, sem impor a sua visão (FREIRE, 2006).

Nesse cenário promissor da psicologia surge um teórico humanista visionário que propõe uma nova forma de conduzir a psicoterapia clínica. Carl Ransom Rogers (1902-1987) renomado psicólogo estadunidense, Ph.D. em Psicologia Clínica e Educacional na Universidade de Colúmbia. Trabalhou no Centro de Aconselhamento da Universidade de Chicago com a perspectiva teórica e a prática sobre intervenções psicoterapêuticas que têm o objetivo de mudança da personalidade (BRANCO, 2015).

Suas obras são mundialmente conhecidas. O desenvolvimento da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), tem diversos objetivos entre eles a estruturação, a desestruturação e reestruturação da personalidade. Segundo Branco e Cirino (2016) a teoria busca a compreensão operacionalizada de condições clínicas necessárias e suficientes, para a mudança da personalidade através das pesquisas empíricas sobre as condições de funcionamento do self (eu), e a interação do organismo com o ambiente.

Nesse contexto, a “atualização do eu”, é a expressão que define a experiência do organismo, levando-o a uma compreensão de si. Dessa forma, constitui o sub-aspecto da motivação, baseado em experiências passadas, estimulações presentes e expectativas futuras (FREIRE, 2006).

Durante sua extensa pesquisa científica Rogers foi elaborando novas perspectivas de trabalho na clínica, assim a mudança de Terapia Centrada no Cliente (TCC), para a Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), isto é, consiste em um maior arcabouço teórico de forma estruturada para compreender a prática das relações interpessoal (MESSIAS; CURY, 2006).

A primeira fase da TCC é compreendido pelo fortalecimento das ideias a respeito da prática psicoterapêutica clínica. A compreensão do cliente em sua integralidade dita como uma filosofia própria da visão de Rogers sobre o ser humano. Na segunda fase que compreende a ACP proporciona a ampliação para outros contextos clínicos e terapêuticos, a psicologia humanista posiciona-se junto a educação, às relações interpessoais, a mediação dos conflitos de grupos. Através das atitudes facilitadoras defendida pelo teórico, contribuem para novas possibilidade de atendimento, porém, sem perder a sua essência.

Branco (2015) a experiência na clínica Rogers desenvolveu a sua teoria da personalidade. A aceitação dos sentimentos do cliente pelo terapeuta é muito importante, assim cria um ambiente permissivo e não diretivo, ou seja, acolhe o indivíduo como único em sua experiência e define o fenômeno orgânico: eventos, percepções, sensações e impactos dos quais as pessoas não tomam consciência, movendo o organismo a desenvolver as suas potencialidades.

Nesse sentido, o terapeuta realiza interferências no campo experiencial do cliente, sendo assim o ser humano é direcionado a buscar uma forma congruente para a sua vida. Portanto, é necessário discutir alguns conceitos importantes na perspectiva centrada na pessoa como: a congruência, a empatia, e consideração positiva incondicional.

A congruência é o termo utilizado para referir-se ao grau de exatidão entre a experiência da comunicação e a tomada de consciência, ou seja, o equilíbrio entre o estado de coerência interna e a autenticidade do indivíduo, levando-o a aceitar os sentimentos, experiências e atitudes desenvolvidas na relação com o outro (CAZON, 2005).

A compreensão empática significa envolver com dedicação e compromisso, a fim de experiênciar com aceitação o mundo interno do cliente, como se fosse o nosso, sem pré-julgamento, permitir a vivência dos componentes emocionais e atitudes que ele está tentando expressar, deixar de ser observador externo e torna-se participante. De modo, que será um “jeito de ser”, aceitando o outro empaticamente, o terapeuta precisa pôr de lado o seu próprio eu (MESSIAS, 2001).

A consideração positiva incondicional entende-se como a aceitação de cada aspecto da experiência do outro, sem jamais impor as condições para aceitar e apreciar o outro como pessoa. Essa técnica implica o cuidado não possessiva, apreciar a singularidade e a particularidade da pessoa e a quem se permite ter os próprios sentimentos e suas próprias experiências (FORMOSINHO, 2006).

4. RESULTADO E DISCUSSÃO

Os resultados apresentados foram coletados no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), durante o período do estágio supervisionado específico em psicologia, o trabalho deu-se com os pacientes que frequentam a instituição há mais de um ano. O plano de ação foi aprovado pela psicóloga técnica responsável que orientou todo o processo do estágio a campo. A intervenção dentro da instituição ocorreu por meio do Grupo Terapêutico de Reflexão.

Todos os pacientes do grupo possuem Transtorno Mental Grave. Compreendido por Pereira (2009) como o desajustamento psicológico entre a estrutura do self e toda a sua experiência do organismo, seja sensorial, ou, visceral que o indivíduo não consegue assimilar uma relação coerente.

No entanto, com a intervenção proposta “o indivíduo torna-se um organismo pleno que funciona mais plenamente e, devido a consciência de si mesmo que ocorre livremente e através da sua experiência, torna-se uma pessoa que funciona de um modo mais pleno” (ROGERS, 1976, p. 170). Os demais dados estão na (Tabela 1).

Tabela 1 – Distribuição do tempo de tratamento e quadro clínico dos participantes do grupo terapêutico.

NOME IDADE TEMPO CID 10 QUADRO CLÍNICO
Sujeito 1 43 anos 3 anos F.32 Episódio Depressivo
Sujeito 2 47 anos 3 anos F.32

F.41

Episódio Depressivo / Outro Transtornos Ansiosos
Sujeito 3 47 anos 10 anos F.31 Transtorno Afetivo Bipolar
Sujeito 4 58 anos 2 anos F.32

F.41

Episódio Depressivos / Outros Transtornos Ansiosos
Sujeito 5 37 anos 5 anos F. 32.2 Transtorno Depressivo Recorrente, episódios atual grave sem sintomas psicóticos
Sujeito 6 52 anos 2 anos F. 33 Transtorno Depressivo Recorrente
Sujeito 7 42 anos 10 anos F.41

F.33.4

Outros Transtornos / Transtorno Depressivo Recorrente, atualmente em remissão
Sujeito 8 51 anos 4 anos F.33 Transtorno Depressivo Recorrente
Sujeito 9 45 anos 5 anos F33 Transtorno Depressivo Recorrente

Fonte: Centro de Atenção Psicossocial – CAPS, Campo Grande – MS, 2017.

De acordo com Rogers (2002, p. 4-5) o significado de grupo é compreendido como “o crescimento pessoal, desenvolvimento e aperfeiçoamento da comunicação e relações interpessoais, em vez de serem estes os objetivos secundários”.

No entanto, para Cazon (2005) ressalta que a dinâmica do grupo terapêutico é muito importante para a experiência em uma determinada realidade, isto é, abrange de maneira sistemática a caraterística da definição grupal. Portanto, o objetivo é facilitar a construção do trabalho com os participantes, ou seja, expressar as relações variáveis da sua experiência subjetiva, exigindo um estudo detalhado que segue os fenômenos das relações humanas.

A Abordagem Centrada na Pessoa – ACP de Carl Rogers, busca compreender o processo do fenômeno grupal e, às atitudes facilitadoras que proporciona o “clima psicológico”, de segurança objetivando a expressão dos sentimentos e dos pensamentos entre os membros do grupo, e produzem a confiança mútua, reduzindo as defesas progressivas que a definem (ROGERS, 2002).

Segundo Pereira (2009, p. 24) afirma que ao colocar em prática a técnica da observação perante o grupo proporciona “o melhor ponto de observação para compreender o comportamento é estrutura de referência interna do próprio indivíduo”. Entretanto, Cazon (2005, p. 39) “ao lidar com seres humanos, o investigador passa a ter um substrato em comum de identidade, tornando-os imbricados e comprometidos”.

Nesses aspectos, o terapeuta atua como um facilitador perante o grupo, buscando possibilitar a experiência construída no fenômeno aqui-e-agora.

No grupo terapêutico o facilitador (terapeuta), cria o setting terapêutico e possibilita de maneira autêntica os membros a produzirem à obtenção do insight, assim como a expressão das emoções e dos sentimentos. Nesse contexto, a dinâmica proporciona ao participante a busca de uma direção congruente para a sua própria vida. Rogers (2002, p. 138) afirma que “ocorrem mudanças na sensibilidade, na capacidade de dirigir os sentimentos, na direção da motivação, nas atitudes para com o eu, nas atitudes para com o outro e suas interdependências”.

Sendo assim, Pereira (2009) salienta que a tomada da consciência pelos membros do grupo possibilita a compreensão de, que todas as experiências sejam dignas de consideração. Segundo Rogers (2002, p.10) afirma que “o objetivo principal de quase todo membro é encontrar caminhos para a relação com os outros membros e consigo próprio”.

O manejo do grupo terapêutico pautou-se através da consideração positiva incondicional, ou seja, a maneira do facilitador relacionar com todos os participantes, de forma autêntica, para assim promover a mudança interna e desenvolvimento construtivo da personalidade (ROGERS et al., 1977).

A prática desenvolvida com o grupo ocorreu através da compressão dos fenômenos apresentados que permeia as relações humanas. A análise dos dados encontrados foi realizada pela caracterização do grupo e dos participantes, a análise textual qualitativa, discussões das sessões que proporcionou o desenvolvimento significativo da autonomia, o fortalecimento da autoestima, o empoderamento e as relações interpessoais, conforme (Quadro 2):

Quadro 2 – Representação do desenvolvimento dos participantes no processo grupal e objetivo das dinâmicas.

Grupo Desenvolvimento Objetivo
Dinâmica 1
  • Início: Grupo receptivo; pouco participativo; apresenta grande ansiedade e dificuldade em ouvir o outro; cobrança excessiva do “eu”; exigência em relação ao tratamento.
  • Final: apresenta empatia perante aos demais participantes; expressão dos sentimentos; gratidão perante os psicólogos do CAPS; conseguiram refletir em expectativas futuras, e na melhora ao tratamento.
O objetivo consiste em despertar o otimismo e promover a autoestima; contribuindo na melhora significativa ao seu tratamento. Assim, permite criar possibilidade de reflexão e enfrentamento da sua vida, auxiliando também para a autonomia como cidadão, e o desenvolvimento das relações interpessoais.
Dinâmica 2
  • Início: Grupo receptivo; pouco participativo; apresentando irritabilidade e ansiedade; dificuldade em ouvir o outro; cobrança excessiva; exigência em relação ao tratamento.
  • Final: apresenta empatia perante os demais participantes; expressão dos sentimentos; gratidão perante os psicólogos e ao convívio no CAPS; conseguiram refletir sobre a atitude de enfrentamento ao tratamento; troca de experiência; expectativa de vida e melhora aos sintomas do transtorno.
O objetivo e a externalização dos sentimentos. Permite a representação de maneira simbólica do medo, ansiedade e desejo. A construção de possíveis formas de manejar o tratamento foi elaborada no grupo por meio do diálogo através dos relatos, das experiências, etc. Dessa modo fez com que os participantes sintam-se cada vez mais empoderados ao tratamento.
Dinâmica 3
  • Início: Grupo receptivo; pouco participativo; demonstra grande ansiedade; dificuldade em ouvir o outro; cobrança excessiva e exigência em relação ao tratamento; foco na patologia; sem expectativa de melhora; dependência familiar.
  • Final: Muito participativo; demonstraram empatia perante os demais participantes; expressão dos sentimentos; gratidão e entusiasmo no tratamento; conseguiram refletir sobre os eventos negativos da vida; expectativa de voltar a trabalhar e a estudar.
O objetivo e fazer os participantes relembrarem os eventos mais marcante da vida. Portanto, foram convidados a fazer uma breve análise das experiências ao longo da sua história, como os fatos positivos ou negativos. A atividade contribui de maneira reflexiva para os membros do grupo demostrando resultado ao seu processo de crescimento autônomo.
Dinâmica 4
  • Início: Grupo receptivo; pouco participativo; apresenta grande irritabilidade e dificuldade em ouvir o outro; conflitos familiar e social; cobrança excessiva do “eu”; exigência em relação ao tempo de tratamento.
  • Final: apresenta a empatia perante os demais participantes; muito participativo; expressão dos sentimentos; elaboraram novas relações de trabalho; gratidão ao tratamento no CAPS; conseguiram refletir sobre atitude perante o grupo, à família, e o convívio social; expectativa de melhorar financeiramente na vida.
O objetivo é demonstrar, qual é a imagem estou passando perante o grupo. O meu comportamento interfere na relação com o outro, assim, como na relação familiar, social e profissional. Nesse contexto a simbolização ocorreu por meio do desenho, portanto, correlacionou a figura desenhada com os aspectos do comportamento do paciente. A reflexão ocorreu por meio dos aspectos comportamentais e das relações interpessoais.

Fonte: Adaptado de Dias e Cardoso (2012, p. 251).

No grupo terapêutico ficou nítido que os participantes encontra-se no processo da incongruência, ou seja, alienação do self em relação ao organismo. O self é entendido como o autoconceito que a pessoa têm de si mesma, portanto, baseia-se em experiências passadas, estimulações presentes e expectativas futuras (FREIRE, 2006). Nesse sentido Formosinho (2006) ressalta que os membros do grupo estão na busca de um self ideal entendido como o conjunto de características que o indivíduo mais gostaria de poder reclamar como descritivas de si mesmo.

Pereira (2009, p. 24-25) afirma que “a estrutura do self — um padrão conceitual organizado, fluido e coerente de percepções de características e relações do “eu” ou de “mim”, juntamente com valores ligados a esses conceitos”. Assim, o facilitador contribui de maneira autêntica para a construção de um ponto de experiência vivencial, ou seja, empresta o seu self como o suporte na elaboração do campo da consciência dos participantes, compreendendo a estrutura do seu organismo.

A acolhida dos fenômenos da experiência pelo facilitador (terapeuta), junto aos participantes ocorreu através da atitude de compressão empática a fim de “perceber o mundo interior de sentidos pessoais e íntimos do cliente, como se fosse o seu mas sem jamais esquecer a qualidade de “como se”, é a empatia, e aparece essencial para uma relação que provoque o crescimento” (ROGERS et al., 1977, p. 107).

Delimitar o espaço no campo da experiência contribuiu de maneira significativa para a reflexão dos participantes, em relação ao comportamento do organismo no grupo. Assim, Pereira (2009) entender que a experiência de si é um fator intrínseco que abrangente os fatos e os acontecimentos do organismo para a tomada da consciência, isto é, correlaciona de maneira autentica e consciente a compreensão do eu pelo indivíduo no ambiente.

A noção do “eu” determina o processo construtivo e a direção congruente para a vida da pessoa, tal como, as relações interpessoais.

Para os autores Souza, Callou, Moreira (2013) o sujeito torna-se ansioso, vulnerável e desadaptado a experiência negativa do organismo no ambiente. Dessa modo a construção das relações interpessoais positivas e favoráveis é proposta pelo facilitador durante a co-experiência em relação à valorização, à conservação, e à concepção que o sujeito têm si mesmo.

Segundo Rogers (2002) afirma que durante o processo do grupo a uma diminuição da rigidez defensiva, cada membro predispõe a ouvir o outro, sem interferência de maneira recíproca. Tornando-se duradoura, ou, temporária a experiência que o grupo segue. “Há cada vez mais uma chamada a si próprios sentimentos e o desejo de vivê-los, de ser o verdadeiro eu” (ROGERS, 1976, p. 123).

O impulso em direção à saúde e uma concepção intrínseca do próprio ser humano. A tomada da consciência por parte dos participantes contribuem para uma adaptação, e a busca da tendência à atualização – tendência frente à valorização ou enriquecimento que move todo organismo, a realidade e percepção no sentido de desenvolver todas as suas potencialidades (ROGERS, 1976).

Diante deste estudo a psicologia humanista colabora no entendimento de tal fenômeno como ele se apresenta. Entretanto, Cazon (2005, p. 22) apud Rogers (1984) afirma que “o fundamental é a consciência de si mesmo, a viagem ao interior de si, que nunca se completa, está sempre em desenvolvimento”.

A linha de pensamento dos autores supracitados fica visível a construção que compreende a importância do grupo terapêutico para os participantes “é que o indivíduo se torna – na sua consciência – aquilo que é – na experiência, por outras palavras, um organismo humano completo e em pleno funcionamento” (ROGERS, 1976, p. 104-105).

O sentimento de aceitação por parte do facilitador e o respeito perante os membros do grupo terapêutico atribuem a expansão da consciência, assim como a relação interpessoal cria vínculos que aproxima-se da admiração, à medida que vamos assistindo à luta profunda e corajosa que a pessoa trava para ser ela própria (ROGERS, 1976).

Os facilitadores não tem um objetivo específico no grupo terapêutico, eles são condutores para que os participantes desenvolvam a sua própria direção a uma vida congruente (ROGERS, 2002).

Nessa perspectiva salienta Rogers (2002, p. 52) ressaltando que “Se, por um lado, a maioria ou todos os membros sentem ainda que foi uma experiência que valeu a pena, que de certo modo os fez avançar no seu crescimento, então, para mim, merece a designação de grupo bem sucedido”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta de conhecer o funcionamento do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), considerado um dos dispositivos de atenção à saúde mental. Permitiu o estudo das Referências Técnicas para Atuação de Psicólogas (os) no CAPS (2013), tal como, das diretrizes da Política Nacional de Saúde Mental, contribuiu de maneira significativa a compreensão da demanda de atendimento, dos territórios e das ações intersetoriais, para o processo de reabilitação psicossocial.

Nesse contexto, o atendimento é clínico em regime diário a fim de evitar novas internações dos pacientes. O acolhimento humanizado dentro da instituição atribuiu a escuta qualificada do sofrimento psíquico do indivíduo. A complexidade do transtorno mental grave é recorrente e faz com que os profissionais lidam constantemente, buscando entender o processo de saúde e doença do paciente, fatores que demanda o fortalecimento dos laços sociais em seu território.

O objetivo geral do estudo foi a perspectiva de trabalhar a Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), de Carl Rogers, junto aos pacientes com transtorno mental grave correlacionando com a psicologia. Nestes aspectos mostrou-se eficaz a prática do grupo terapêutico de reflexão com os usuários, promoveu o desenvolvimento significativo da autonomia, fortalecimento, autoestima, empoderamento e das relações interpessoais.

De acordo com Bacellar, Rocha e Flôr (2012, p. 138) “É preciso ousar adentrar os ambientes, muitas vezes hostis, para que, com o jeito de ser centrado na pessoa, estes também possam se tornar permissivos e aceitadores”. Portanto, a psicologia humanista contribui significativamente para a saúde mental, agregando o conhecimento teórico forte e consistente da Abordagem Centrada na Pessoa, através das atitudes facilitadoras atribuiu o processo da estruturação, da desestruturação, e da reestruturação da personalidade.

Nesse sentido Tassina et al. (2011), ressalta que a intenção da ACP é focalizar na reorganização da personalidade, isto é, o fenômeno experiencial e a relação interpessoal contribuem para a maior dimensão do atendimento ao sofrimento psíquico.

O trabalho na saúde mental é uma construção constante de novos modelos de atendimento. Ou seja, não devemos nos ater apenas a patologia, e sim definir novas atividades, buscando estratégia terapêutica, pensar e repensar os conceitos de acolhimento, observar e escutar o sujeito em sua complexidade, de modo singular que se dá o processo da saúde e doença.

Conclui-se que todo ser humano participa de um processo evolutivo de desenvolvimento e amadurecimento, voltando-se para uma tendência, à auto realização e atualização, devido a buscar de uma direção congruente para a vida. A construção experiencial do organismo é privilegiada dentro do grupo terapêutico, pois atribuem para a relação dinâmica entre os participantes, construindo o processo de expansão da consciência, direção positiva, e construtiva da reestruturação do Self.

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[1] Bacharel em Psicologia – Faculdade UNIGRAN Capital, pós-graduando em Neuropsicologia pela Universidade Candido Mendes (UCAM).

Enviado: Outubro, 2018

Aprovado: Outubro, 2018

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