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O papel da sociedade no desenvolvimento dos transtornos de conduta

RC: 31928
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CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

SANTOS, Tayane Nellie da Silva [1], SOUZA, Felipe Maciel Dos Santos [2]

SANTOS, Tayane Nellie da Silva. SOUZA, Felipe Maciel Dos Santos. O papel da sociedade no desenvolvimento dos transtornos de conduta. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 06, Vol. 05, pp. 96-105. Junho de 2019. ISSN: 2448-0959

RESUMO

Os transtornos disruptivos, do controle de impulsos e da conduta incluem condições que envolvem problemas de autocontrole de comportamentos e de emoções. Sendo assim, o presente trabalho procurou mostrar a importância de se diagnosticar esses transtornos o mais cedo possível e procurar meios que possam diminuir ou eliminar esses comportamentos, tendo como objetivo geral analisar a relação entre o meio social no qual o indivíduo está inserido e o desenvolvimento dos transtornos de conduta. A metodologia aplicada no presente estudo foi a pesquisa bibliográfica, desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos. Nesta pesquisa, foram selecionados seis artigos a partir da base de dados Scielo. Destes, cinco são de revisão bibliográfica, sendo apenas um artigo envolvendo pesquisa de campo. Destaca-se a escassez de estudos que abordam o papel da sociedade no desenvolvimento dos transtornos de conduta.

Palavras-chave: Comportamentos disruptivos, psicopatia, psicopata, contexto social.

1. INTRODUÇÃO

Segundo a Associação Americana de Psicologia (APA) (2015), os transtornos disruptivos, do controle de impulsos e da conduta incluem condições que envolvem problemas de autocontrole de comportamentos e de emoções. Problemas estes que se manifestam em comportamentos que violam os direitos dos outros e/ou colocam o indivíduo em conflito significativo com normas sociais ou figuras de autoridade.

Os transtornos disruptivos do controle de impulsos e da conduta estão, segundo a APA (2015), na mesma categoria e incluem condições que envolvem problemas de autocontrole de comportamentos e de emoções. Estes problemas se manifestam em comportamentos que violam os direitos dos outros (por exemplo, agressão, destruição de propriedade) e/ou colocam o indivíduo em conflito significativo com normas sociais ou figuras de autoridade. Dentre esses transtornos pode-se citar o transtorno de oposição desafiante, o transtorno explosivo intermitente, o transtorno da conduta, o transtorno da personalidade antissocial, a piromania, a cleptomania, entre outros.

Ainda de acordo com a APA (2015), o transtorno de oposição desafiante é um precursor comum do transtorno da conduta com início na infância. Os sintomas do transtorno da conduta variam de acordo com a idade à medida que o indivíduo desenvolve força física, capacidades cognitivas e maturidade sexual. Os primeiros comportamentos sintomáticos tendem a ser menos graves (mentiras), ao passo que os problemas de conduta que surgem posteriormente tendem a ser piores (estupro). Entretanto, há diferenças acentuadas entre os indivíduos, com alguns se envolvendo em comportamentos mais danosos em idades mais precoces (o que prediz pior prognóstico). No momento em que as pessoas com o transtorno da conduta atingem a vida adulta, os sintomas de agressão, destruição de propriedades, falsidade e violação de regras, incluindo violência contra colegas de trabalho, parceiros e crianças, poderão surgir no local de trabalho e em casa, de forma que os traços de um transtorno da personalidade antissocial podem ser identificados (APA, 2015). Sendo assim, é possível perceber que os transtornos de conduta podem evoluir com o tempo e, a partir disso, procurei mostrar a importância de se diagnosticar esses transtornos o mais cedo possível e procurar meios que possam diminuir ou eliminar esses comportamentos.

O contexto social que permite ou suprime as tendências antissociais presentes em todos os seres humanos é um importante fator determinante do surgimento do comportamento antissocial propriamente dito (Simon, 2009). O efeito das práticas parentais ineficazes é permitir uma série de interações diárias, nas quais os membros da família inadvertidamente reforçam o comportamento coercitivo e os problemas de conduta da criança (Francke, Pacheco & Oliveira, 2010).

Segundo Simon (2009), a violência frequentemente é desencadeada pela ausência de elementos civilizadores, restritivos:

Todos nós, se não fossemos socializados, agiríamos como os maus, ou seja, de modo antissocial. As crianças com características animalescas, que cresceram na selva, privadas de qualquer calor humano ou cuidado, se comportam mais como animais do que como seres humanos (Simon, 2009, p.300).

Os filmes e programas de violência também podem contribuir para o potencial de violência de certas crianças. A realidade dos assassinatos – as terríveis carnificinas, o sofrimento hediondo, a desgraça dos sobreviventes e das famílias das vítimas – não é e não pode ser ilustrada de modo realista pela mídia do entretenimento. Por isso, não existe um mecanismo de feedback vital para inibir a agressão, na dramatização dos atos de violência. Os indivíduos em risco de serem mais influenciados pelas representações de violência na mídia são aqueles que sofreram abusos físicos e psicológicos (Simon, 2009). Eles se sentem desprezados, aterrorizados e furiosos em consequência do abuso. Ao se identificarem com os que cometem violências, conseguem atenuar temporariamente seu terrível sentimento de vulnerabilidade. Eles repetem essas representações, várias vezes, porque foram traumatizados. Ainda de acordo com o autor, depois da exposição crônica aos programas de violência, a identificação com os protagonistas violentos pode se tornar uma estratégia de defesa contra seus próprios medos e sentimentos de desespero crônicos. Como todas as crianças precisam lidar com graus variados de sentimentos de medo, impotência e dependência, nenhuma criança é realmente imune às influências adversas da violência exibida na televisão e no cinema (Simon, 2009).

A exposição à violência é um conhecido fator de risco para o comportamento antissocial (Sá et.al, 2009). De acordo com Mendes et al. (2009), as crianças expostas à violência utilizam-se da mesma para resolver seus conflitos. Ou seja, o comportamento antissocial é efetivo por ser reforçado sendo que a criança não é estimulada a aprender formas assertivas de resolução de problemas.

De acordo com Almeida, et al. (2014) a procura por atendimento psicológico em razão de queixas de desobediência grave e outras formas de comportamento infantil externalizante tem aumentado nas últimas décadas, correspondendo de 30% a 50% dos encaminhamentos para atendimento nos centros de saúde mental. Sendo assim, o presente trabalho procurou mostrar a importância de se diagnosticar esses transtornos o mais cedo possível e procurar meios que possam diminuir ou eliminar esses comportamentos.

O bloqueio dos impulsos antissociais pode ser aprendido desde o berço, com a família, e por meio do contato com várias outras estruturas sociais. Pais e cuidadores ajudam as crianças a internalizar os valores éticos, filosóficos, culturais e religiosos que também refreiam os impulsos antissociais (Simon, 2009).

A maneira pela qual os pais educam seus filhos parece ser, segundo Bolsoni-Silva e Marturano (2002), crucial à promoção de comportamentos socialmente adequados. Observa-se que, com frequência, as famílias acabam estimulando comportamentos inadequados por meio de disciplina inconsistente, pouca interação positiva, pouco monitoramento e supervisão insuficiente das atividades da criança. Os mesmos autores afirmam que os pais, para promoverem comportamentos adequados em seus filhos, necessitam ter habilidades sociais educativas, tais como expressar sentimentos e opiniões, estabelecer limites evitando coerção, entre outras.

Os pais, de acordo com Bolsoni-Silva e Marturano (2002), tendem a ser não contingentes no uso de reforçamento para comportamentos pró-sociais (ignorando-os ou respondendo de forma inapropriada) e punem, frequentemente, comportamentos desviantes. Consequentemente, comportamentos coercitivos são diretamente reforçados pelos membros da família, levando a pessoa a utilizá-los, possivelmente, para garantir sua sobrevivência neste sistema social aversivo. Além disso, segundo os autores, os filhos expostos à violência por longos períodos, tendem a se comportar de forma agressiva e, quando são criados em condições negligentes, podem se tornar pouco tolerantes à frustração, com pouca motivação para seguirem normas sociais.

O ambiente familiar, de acordo com Bolsoni-Silva e Marturano (2002), pode tanto promover comportamentos socialmente adequados, como favorecer o surgimento e/ou manutenção de comportamentos inadequados para o contexto social no qual se está inserido, ferindo as normas do grupo. Segundo Mendes et al. (2009), se os comportamentos da criança forem recompensados ou punidos de forma adequada, se a criança tem exemplos positivos dos pais e não testemunha conflitos familiares, ela conseguirá desenvolver cognições e habilidades sociais que lhe permitirão interpretar dados sociais, conduzindo-a a um comportamento adequado e não violento.

Considerando os posicionamentos de Bolsoni-Silva e Marturano (2002) e de Mendes et al (2009), nesse artigo buscou-se analisar o papel da sociedade no desenvolvimento dos transtornos de conduta, a partir de um levantamento bibliográfico de artigos publicados no período entre os anos de 2000 a 2016 sobre o tema.

2. MÉTODO

2.1 TIPO DE ESTUDO REALIZADO

O estudo realizado é uma pesquisa bibliográfica. Segundo Gil (1999), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado e tem como principal vantagem da pesquisa bibliográfica. Este tipo de pesquisa garante a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Esta vantagem se torna particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço (Gil, 1999).

2.2 FONTE

Fonte inclui toda e qualquer peça que possibilite a obtenção de notícias e informações sobre o passado histórico-educativo (Melo, 2010). Nessa pesquisa, o sítio da Scientific Electronic Library Online (SciELO) foi utilizado como fonte de pesquisa.

A SciELO é uma biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros, e é o resultado de um projeto de pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), em parceria com o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME).

2.3 DOCUMENTOS

Tudo pode ser documento, desde que seja assumido como tal, tendo em vista que os documentos não existem como tais antes que a curiosidade do pesquisador intervenha (Prost, 2008).

Tendo em vista que, com essa pesquisa, pretendeu-se analisar o papel da sociedade no desenvolvimento dos transtornos de conduta, foram utilizados artigos, em português, que abordassem o tema de pesquisa publicados no período entre os anos de 2000 a 2016.

2.4 PROCEDIMENTO

As palavras de busca utilizadas para seleção dos artigos foram: transtorno de conduta, psicopatia, psicopata, sociedade, sociopatia e sociopata.

Inicialmente, a pesquisa utilizou o sítio da SciELO e buscou artigos publicados no período entre os anos de 2000 a 2016. Na página inicial da biblioteca foi selecionada a opção pesquisa de artigos, a qual gerou uma nova janela. A partir desta janela foram digitadas as palavras de busca apresentadas anteriormente.

Somente foram selecionados os artigos em português, que estivessem completos e disponíveis online. A partir da identificação dos artigos sobre o tema, forma lidos, inicialmente, o resumo de cada material para coletar informações sobre: autor(a); instituição do autor(a); ano de publicação; periódico em que foi publicado; resumo do trabalho. Essas informações foram organizadas em uma tabela.

Após a leitura do resumo e coleta das informações listadas anteriormente, foram lidos os artigos completos. Com esta leitura, foram obtidas informações sobre o papel da sociedade no desenvolvimento dos transtornos de conduta. Além disto, os trabalhos foram classificados considerando os procedimentos técnicos, de acordo com Gil (1999), em: (a) bibliográfico: quando elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e atualmente com material disponibilizado na internet; (b) documental: quando elaborada a partir de matérias que não receberam tratamento analítico; (c) levantamento: quando a pesquisa envolve a interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer; (d) estudo de caso: quando envolve o estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento. Para classificação dos trabalhos, os autores convocaram um juiz com conhecimento básico em Metodologia Científica. Adotou-se como critério de aceitação o valor de 90% de fidedignidade.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na busca com o termo transtorno de conduta foram encontrados 52 artigos. Destes, foram excluídos da pesquisa 23 por serem escritos em outro idioma, cinco por focarem em outros transtornos, dois por abordarem apenas instrumentos de avaliação psicológica, dois sobre uso de medicamentos, e seis que abordavam sobre a perspectiva fenomenológica existencial, conceitos, abordagem psicanalítica, prevalência dos transtornos, comorbidade entre transtornos e uso de drogas.

Quanto aos outros quatorzes, os resumos foram lidos e oito foram excluídos por apenas abordar critérios diagnósticos. Como se verifica na tabela 1 foram selecionados seis artigos para análise. Destes, cinco são do tipo bibliográfico e, apenas, um artigo de estudo de caso, conforme Gil (1999). Tais estudos buscam citar e discutir os fatores que estão relacionados ao papel da sociedade no desenvolvimento dos transtornos de conduta.

Tabela 1 – Informações dos artigos encontrados e analisados.

Autor(es) Título do artigo Ano Tipo de pesquisa
Thiengo, Cavalcante e Lovisi Prevalência de transtornos mentais entre crianças e adolescentes e fatores associados: uma revisão sistemática 2014 Bibliográfico
Silva Transtorno da conduta: uma oportunidade para a prevenção em saúde mental? 2011 Bibliográfico
Nishioka et al. O papel do poliformismo funcional VNTR da região promotora do gene MAOA nos transtornos psiquiátricos 2011 Bibliográfico
Scivoletto et al. Avaliação diagnóstica de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e risco social: transtorno de conduta, transtornos de comunicação ou “transtornos do ambiente”? 2009 Bibliográfico
Cruzeiro et al. Prevalência e fatores associados ao transtorno de conduta entre adolescentes: um estudo de base populacional 2008 Estudo de caso
Bordin e Offord Transtorno da conduta e comportamento anti-social 2000 Bibliográfico

Fonte: Autor.

Na pesquisa de Thiengo, Cavalcante e Lovisi (2014) é demonstrado que o transtorno de conduta foi um dos transtornos mais frequentes encontrados nas pesquisas dos autores. Os pesquisadores afirmam que a literatura científica nos últimos anos tem contribuído para a identificação dos possíveis fatores associados à ocorrência de transtornos mentais em crianças e adolescentes, os quais podem ser agrupados em: fatores biológicos, relacionados a anormalidades do sistema nervoso central, causadas por lesões, infecções, desnutrição ou exposição a toxinas; fatores genéticos, relacionados à história familiar de transtorno mental; fatores psicossociais, relacionados a disfunções na vida familiar e situações indutoras de estresse; e fatores ambientais, como problemas na comunidade (violência urbana) e tipos de abuso (físico, psicológico e sexual).

A pesquisa de Silva (2011) aponta para que o fato de que a inclusão de informações acerca do histórico familiar como critério para o diagnóstico do transtorno da conduta vem sendo pesquisada, e algumas evidências se destacam no campo, já que considera-se a suscetibilidade familiar ao comportamento antissocial como um fator etiológico central no aparecimento do transtorno, visto que problemas de conduta parecem estar concentrados em determinadas famílias e a história desse comportamento pode ser um preditor importante de problemas semelhantes nos descendentes. Diversas pesquisas buscam marcadores biológicos que possam fundamentar os achados comportamentais. No entanto, não há evidência suficiente no campo que corrobore a hipótese genética. Por outro lado, a história psiquiátrica familiar é de fácil acesso no contexto clínico, sendo uma informação disponível, inclusive, para estudos epidemiológicos e de revisão da literatura. A autora ainda traz que as famílias nas quais predomina o comportamento antissocial não estabelecem cuidado parental adequado, oferecendo ambientes domésticos caracterizados por abuso físico, violência e hostilidade e assim, as falhas no cuidado parental sendo um fator que permite que os comportamentos antissociais se ofereçam como alternativa para determinadas crianças.

O trabalho realizado por Nishioka et al. (2006) objetivou revisar a literatura sobre a participação do polimorfismo funcional VNTR[3] da região promotora do gene da enzima monoamina oxidase A (MAOA) na modulação do comportamento humano para o desenvolvimento dos transtornos psiquiátricos, os autores apontam que nos estudos revisados encontraram associação entre o desenvolvimento de comportamento impulsivo ou transtorno de conduta e crianças expostas a ambiente desfavorável.

Scivoletto et al. (2009) destacam a importância de se considerar que a maneira pela qual a pessoa se comporta e expressa como parte do processo de interação das pessoas com o mundo à sua volta e tem sua função. Acreditar que determinadas pessoas deixarão de serem agressivas ou que terão um comportamento mais educado e adequado é impossível, pois esse é o comportamento esperado e adaptado ao ambiente agressivo em que se encontram, segundo os autores. Nesta direção, é inviável o trabalho de prevenção, a promoção de saúde ou a reabilitação de algum transtorno físico, psíquico, emocional ou fonoaudiológico, quando o meio onde essas crianças vivem não valoriza e não respeita os indivíduos que não gritam ou não são agressivos. Ela desenvolve recursos necessários para sobreviver neste contexto e é obrigada a se adaptar a um ambiente totalmente desfavorável para seu desenvolvimento.

Cruzeiro et al. (2008) realizaram uma pesquisa com 1.145 adolescentes na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil, os adolescentes responderam a um questionário auto aplicado. O transtorno da conduta foi avaliado através do Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI). Foi investigada a associação desta psicopatologia com sexo, idade, nível socioeconômico, escolaridade do adolescente, reprovação na escola, religião, sedentarismo, consumo de álcool, tabagismo, uso de drogas, depressão e sofrer bullying. Os resultados mostraram que sexo e nível socioeconômico estão significativamente associados à patologia. Além disso, os demais fatores associados ao transtorno da conduta apontam para a forte inter-relação entre comportamentos de saúde na adolescência. Estratégias preventivas com relação à precocidade do abuso de substâncias e sofrer bullying podem evitar o agravamento do quadro, pois são comportamentos preditores do transtorno da conduta. E os autores ainda afirmam que crianças e adolescentes com transtornos de comportamento tendem a permanecer com estes transtornos na idade adulta, e estes tendem a criar filhos com transtornos de comportamentos, estabelecendo-se um ciclo difícil para a sociedade.

No estudo realizado por Bordin e Offord (2000), procurou-se destacar os fatores associados ao comportamento antissocial na infância e adolescência com o objetivo de ampliar a visão do profissional de saúde mental sobre a família e a comunidade nas quais o paciente está inserido. Segundo os autores, eventos de vida podem favorecer a persistência do comportamento antissocial na adolescência e idade adulta. O ambiente escolar, dependendo de suas características, pode incentivar ou desestimular o comportamento antissocial. Já a falta de emprego é uma situação de estresse que o estimula, enquanto o casamento harmonioso com pessoa sem alterações de comportamento tende a diminuí-lo. Ao mesmo tempo em que crianças com comportamento antissocial tendem a permanecerem antissociais na idade adulta, adultos antissociais tendem a ter filhos com comportamento antissocial (pais servem de modelo aos filhos), estabelecendo-se um ciclo de difícil interrupção. Ainda de acordo com os autores comportamento antissocial de crianças e adolescentes tem sido atribuído a fatores constitucionais e ambientais. Ao constatar-se a grande frequência de problemas familiares e sociais na história de vida dos delinquentes juvenis, formulou-se a hipótese de uma reação às adversidades encontradas tanto no ambiente familiar como na comunidade. São fatores associados a comportamento antissocial na infância: ser do sexo masculino, receber cuidados maternos e paternos inadequados, viver em meio à discórdia conjugal, ser criado por pais agressivos e violentos, ter mãe com problemas de saúde mental, residir em áreas urbanas e ter nível socioeconômico baixo. Ainda citam que alguns autores referem que a baixa renda associada ao comportamento antissocial da criança está relacionada à personalidade antissocial materna e à negligência por parte dos pais. Quanto ao ambiente familiar agressivo e violento, mencionam a influência da violência doméstica e do abuso físico sobre o comportamento antissocial na infância. Segundo eles fatores genéticos e neurofisiológicos também podem estar envolvidos no desenvolvimento do comportamento antissocial.

Percebe-se, portanto, que a relação entre o meio social no qual o indivíduo está inserido e o desenvolvimento dos transtornos de conduta foi citada nos seis artigos selecionados na pesquisa, porém a maioria dos estudos considera que há possíveis fatores associados à ocorrência dos transtornos de conduta além da influência das relações no meio social, como fatores biológicos, fatores genéticos, fatores neurofisiológicos, sexo e nível socioeconômico. Apenas Scivoletto et al. (2009) cita o meio em que essas crianças vivem como único precursor do desenvolvimento de recursos necessários para sobreviver neste contexto. Mesmo se tratando de patologias graves que causam riscos a vida social e psicológica do indivíduo e das pessoas que com quem convivem, é nítida a escassez em estudos mais recentes realizados que busquem compreender quais são os fatores associados ao desenvolvimento desses transtornos, especialmente pesquisas de campo.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da pesquisa realizada foi possível perceber que a sociedade na qual o indivíduo está inserido pode influenciar o aparecimento de um transtorno de conduta. Observa-se que, segundo os referenciais teóricos, é destacada a relação do indivíduo com o ambiente envolvendo funcionamento normal e patológico do ser humano. Pois, eventos do cotidiano podem gerar diferentes comportamentos.

Com a pesquisa, ressalta-se que as principais causas do desenvolvimento dos transtornos de conduta relacionam-se ao funcionamento neurobiológico e relações do ambiente. Já que segundo Simon (2009), o contexto social que permite ou suprime as tendências antissociais presentes em todos os seres humanos é um importante fator determinante do surgimento do comportamento antissocial propriamente dito.

Um fator relevante observado na pesquisa é a escassez de estudos que abordam o papel da sociedade no desenvolvimento dos transtornos de conduta. Sendo assim, sugere-se que busquem comprovar quais fatores são mais determinantes para que o indivíduo desenvolva esses transtornos e pesquisas que comprovem a eficácia de seu tratamento.

REFERÊNCIAS

Almeida, L. R. P. et al. (2014). Análise funcional em um estudo de caso de transtorno desafiador de oposição e transtorno de conduta. Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio ambiente, 5(2), 15-35.

Associação Americana de Psicologia (APA). (2015) Manual Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V). 5. ed. Porto Alegre: Artmed.

Bolsoni-Silva, A. T., & Marturano, E. M. (2002). Práticas educativas e problemas de comportamento: uma análise à luz das habilidades sociais. Estudos de Psicologia, 7(2), 227-235.

Bordin, I. A., & Offord, D. R. (2000). Transtorno da Conduta e comportamento anti-social. Revista Brasileira de Psiquiatria, 22, 12-15.

Cruzeiro, A. L. S. et al. (2008). Prevalência e fatores associados ao transtorno da conduta entre adolescentes: um estudo de base populacional. Cadernos de saúde pública, 24(9), 2013-2020.

Francke, I. D., Pacheco, J. T. B., & Oliveira, G. R. (2010). Aprendizagem, trauma e comportamento violento. Revista Brasileira de Psicoterapia, 12(2-3), p.193-208.

Gil, A. C. (1999). Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas.

Melo, J. J. P. (2010). Fontes e métodos: sua importância na descoberta das heranças educacionais. Em: Costa, C. J.; Melo, J. J. P. (Org.), Fontes e métodos em história da educação (pp. 13-34). Dourados: UFGD.

Mendes, D. D. et al. (2009). Estudo de revisão dos fatores biológicos, sociais e ambientais associados com o comportamento agressivo. Revista Brasileira de Psiquiatria, 31, p.77-85.

Nishioka, S.A. et al. (2011). O papel do polimorfismo funcional VNTR da região promotora do gene MAOA nos transtornos psiquiátricos. Revista de psiquiatria clínica, 38(1), p. 34-42.

Prost, A. (2008). Doze lições sobre a história. São Paulo: Autêntica.

Sá, D. G. F., Curto, B. M., Bordin, I. A. S., & Paula, C. S. (2009). Exposição à violência como risco para o surgimento ou a continuidade de comportamento antissocial em adolescentes da região metropolitana de São Paulo. Psicologia: Teoria e Prática, 11(1), p. 179-188.

Scivoletto, S. et al. (2009). Avaliação diagnóstica de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e risco social: transtorno de conduta, transtornos de comunicação ou “transtornos do ambiente”? Revista psiquiátrica clínica, 36(5), p. 206-207.

Silva, L. R. F. (2011). Transtorno da Conduta: uma oportunidade para a prevenção em saúde mental? Revista Interface, 15(36), 165-173.

Simon, R. I. (2009). Homens maus fazem o que homens bons sonham. Porto Alegre: Artmed.

Thiengo, D. L., Cavalcante, M. T., & LOVISI, G. M. (2014). Prevalência de transtornos mentais entre crianças e adolescentes e fatores associados: uma revisão sistemática. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 63(4), 360-372.

  1. Número variável de repetições em série.

[1] Psicóloga.

[2] Doutor em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento.

[3] Número invariável de repetições em série.

Enviado: Novembro, 2018.

Aprovado: Junho, 2019.

 

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Felipe Maciel dos Santos Souza

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