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Mensuração Da Inteligência De Pessoas Com Deficiência Intelectual E A Correlação Com Sua Qualidade De Vida A Partir Da Visão Objetiva De Seus Cuidadores

RC: 77857
349
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/inteligencia-de-pessoas

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

ALVES, Adriano de Souza [1], CAMPOS, David Martins [2], COSTA, Ana Paula Cornélio da [3], BARBOSA, Juliana Maria [4], RAMOS, Júlia de Freitas [5]

ALVES, Adriano de Souza. Et al. Mensuração Da Inteligência De Pessoas Com Deficiência Intelectual E A Correlação Com Sua Qualidade De Vida A Partir Da Visão Objetiva De Seus Cuidadores. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 03, Vol. 04, pp. 61-76. Março de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/inteligencia-de-pessoas, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/inteligencia-de-pessoas

RESUMO

A Deficiência Intelectual refere-se a limitações substanciais no funcionamento global do indivíduo, sendo esta condição diretamente ligada a inteligência do mesmo em algumas situações. Uma boa qualidade de vida é de extrema importância para qualquer pessoa, está relacionado a este conceito aspectos biológicos que garantem condições básicas de existência, bem como aspectos sociais, culturais e psicológicos. Esta pesquisa consiste na mensuração da inteligência e sua correlação com a qualidade de vida de indivíduos com Deficiência Intelectual usuários da APAE da cidade de Viçosa-MG. Foi utilizado para tal objetivo o teste psicométrico R1: teste não verbal de inteligência, a Escala de Saint Martin e a correlação de Spearman através de programa estatístico (PSPP). Verificou-se que 60% da amostra demonstrou alto percentil na dimensão Desenvolvimento Pessoal, dimensão esta que está diretamente ligada a como a instituição que estes sujeitos frequentam, auxilia no processo de desenvolvimento de suas potencialidades e também que o meio sociocultural do indivíduo afeta de maneira negativa sua qualidade de vida. Concluiu-se que a inteligência e a qualidade de vida não possuem uma forte correlação nesta amostra, ou seja, um indivíduo classificado com DI não necessariamente possuirá uma baixa qualidade de vida caso se atenha apenas a observar sua inteligência e não enxerga-lo em sua totalidade.

Palavras-chave: Correlação, deficiência intelectual, inteligência, qualidade de vida, totalidade.

1. INTRODUÇÃO

A Deficiência Intelectual refere-se a limitações substanciais no funcionamento global do indivíduo, sendo esta condição diretamente ligada a inteligência do mesmo em algumas situações. Ou seja, esquece-se que apenas uma característica do indivíduo não é capaz de abarcar todo o seu ser e apreendê-lo em sua complexidade e singularidade.

Um grau satisfatório de qualidade e vida é importante para o desenvolvimento e bem-estar de todas as pessoas, envolve a saúde física e mental, relacionado a aspectos biológicos, bem como aspectos culturais e sociais. Ser capaz de avaliá-la possibilita a observação, análise e intervenção caso necessário.

Esta pesquisa consiste na mensuração da inteligência e sua correlação com a qualidade de vida de indivíduos com Deficiência Intelectual usuários da APAE da cidade de Viçosa-MG. Foi utilizado para tal objetivo o teste psicométrico R1: teste não verbal de inteligência, a Escala de Saint Martin e a correlação através de dados estáticos. A relevância deste estudo advém da necessidade de estudos que contribuam para a melhora da qualidade de vida das pessoas com deficiência intelectual, sendo estes indivíduos observados de maneira holística e menos preconceituosa.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A deficiência de um indivíduo é observada quando se confirma uma perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, podendo ser também fisiológica ou anatômica, causando “dificuldades” para o indivíduo. Assim, vários aspectos do sujeito devem ser observados, como: locomoção, percepção, pensamento e relação social (OMS, 2001; PEREIRA e LAPA, 2010).

A Deficiência Intelectual (DI) é caracterizada como uma condição de desenvolvimento interrompido ou incompleto da mente, havendo limitações significativas no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo, expressas em habilidades cognitivas, de linguagem, motoras e habilidades sociais (DSM-5, 2004).

A maneira que a DI passou por mudanças ao longo do tempo foram drásticas devido as alterações sofridas pela cultura em vários países diferentes. A DI já foi considerada como razão para o abandono e a morte em tempos passados, também como condição para custódia e acolhimento pela caridade. Já na Idade Média, passou a ser considerada como uma patologia orgânica, envolto de atributos negativos e aterrorizantes no início do século XIX. Atualmente possui, à partir de uma abordagem holística, uma visão para além de problemas orgânicos, abrindo espaço às variáveis culturais e educacionais que cercam qualquer indivíduo (ANGONESE; BOUERI e SCHMIDT, 2015).

A investigação acerca da qualidade de vida da população ganhou grande atenção nos últimos anos por parte de pesquisadores. Trabalhos realizados com pessoas com deficiência vêm promovendo oportunidades para uma nova maneira de se enxergar estes indivíduos. A deficiência vem então, com o passar do tempo, deixando de ser considerada uma limitação intrínseca da pessoa, para passar a ser reconhecido como um desequilíbrio entre a demanda do meio e as competências sociais (SANTOS; GARCIA e BARBA, 2017).

Portanto, é possível enxergar uma tendência de transformação na maneira de entender a pessoa com DI, pois a mesma passou a ser analisada, para além de uma lesão orgânica, mas sim como uma limitação resultante da condição social excludente que não se ajusta à diversidade. Logo, a sociedade ganha a responsabilidade para a maneira em que vem se relacionando com o sujeito com DI, devendo integrar estes indivíduos a sociedade cada vez mais, na medida em que assimilam as novas concepções e maneira de conceber a DI. Esta nova maneira de se enxergar a DI provoca modificações pessoais, sociais e culturais. Desta maneira, surgem novos desafios a família, uma vez que são os prestadores de cuidados primários e o maior suporte destes indivíduos. (SANTOS; GARCIA e BARBA, 2017).

A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Decreto n° 6949/09) tem como objetivo ressaltar o direito das pessoas com deficiência, sua autonomia, sua independência e efetiva participação dentro da sociedade (Brasil, 2009 apud ANGONESE; BOUERI e SCHMIDT, 2015). Entretanto, apesar das mudanças conceituais que rodeiam a DI ao longo do tempo, coexistem na atualidade crenças e atitudes distintas sobre esta condição que fomentam a segregação, a marginalização e a exclusão em inúmeros espaços sociais (ANGONESE; BOUERI e SCHMIDT, 2015; SANI e JUNIOR, 2013; RIBEIRO, 2008).

A condição das pessoas com DI é um terreno fértil para o preconceito, havendo uma fixação apenas em um aspecto ou atributo da pessoa, tornando a diferença um tipo de exceção. O preconceito dirigido a estas pessoas, uma “generalização indevida”, faz com que o indivíduo se torna deficiente por ter uma deficiência, ou seja, transforma a condição de limitação especifica de uma pessoa em totalidade. Desta maneira, cria-se uma espécie de “correlação linear” que leva uma relação de “se…então”, simplificando de forma demasiada o raciocínio, consolidando assim o preconceito pela economia do esforço intelectual por parte da sociedade. São Inúmeras as maneiras em que o preconceito às pessoas com DI se constitui e é reforçado: pela educação escolar, pela mídia, nas relações familiares, pelo trabalho, pela literatura, entre outras (SILVA, 2006).

O conceito de equidade consiste na adaptação de uma regra já existente a uma situação concreta, não deixando de observar os critérios de justiça, podendo dizer que a equidade adapta a regra a um caso específico, com o intuito de deixá-la mais justa para todos os envolvidos. Logo, porque não utilizar este conceito para aplicar aos indivíduos com DI e sua relação com a sociedade, que por não alcançar padrões pré-estabelecidos, sofre com déficits enormes ao seu desenvolvimento e consequentemente em sua qualidade de vida (AZEVEDO, 2013; SILVA, 2006)

Embora o grau de deficiência intelectual do indivíduo possua diferentes correntes que possa determiná-lo, são as técnicas psicométricas que mais se destacam (PEREIRA; LAPA, 2010). Muitos dos testes de inteligência foram desenvolvidos possuindo como pilar estruturante a proposta teórica de Spearman que implicam a existência do fator g, não manifesto nas atividades mentais realizadas pelas pessoas. Tem-se o fator g (considerado uma ideia abstrata, latente) como um constructo psicométrico e psicológico que expõe um conjunto de fenômenos psíquicos (NAKANO; SAMPAIO, 2016; SILVA, 2014).

O R1 (Teste Não Verbal de Inteligência), pode ser considerado com um dos instrumentos psicométricos mais conhecidos e eficientes do Brasil. O R1, por meio do modelo do fator g, caracteriza-se por ser uma medida não verbal da inteligência, sendo extremamente útil na avaliação de pessoas que possuem baixa escolaridade (NAKANO; SAMPAIO, 2016; SILVA, 2014).

O fato de um teste medir o percentil em que o sujeito se encontra em relação a uma amostra em que é enquadrado acaba por definir este teste como um instrumento que avalia a habilidade para manipular a informação que subjaz as capacidades cognitivas, tais como o raciocínio, a aprendizagem e a resolução de problemas e é aí que está sua maior força preditiva. Porém, não é capaz de exprimir o que o indivíduo é capaz de fazer com suas habilidades e potencialidades apenas analisando sua inteligência, deixando de observar como seus recursos cognitivos podem ser utilizados para o seu bem-estar e qualidade de vida (SISTO; FERREIRA e MATOS, 2006).

O grau de um coeficiente de correlação é medido através de duas variáveis que tendem a mudar juntas, descrevendo desta forma a força e a direção de uma relação. De maneira informal a correlação é vista como um sinônimo de dependência entre duas ou mais variáveis, entretanto na observação científica as variáveis são dependentes caso não cumprirem com a propriedade matemática da independência probabilística. Assim, correlação se refere, a luz da estatística, a qualquer um dos vários tipos específicos de relação entre os valores médios (PASQUALI, 2009).

A relação monótona entre duas variáveis contínuas ou ordinais são avaliadas através da correlação de Spearman. Em uma relação monótona, as variáveis tendem a mudar juntas, mas não necessariamente a uma taxa constante. Ao invés de classificar cada variável através de dados brutos, o coeficiente de correlação de Spearman se baseia nos valores classificados de cada variável, sendo utilizada para avaliar relações envolvendo variáveis ordinais (PASQUALI, 2009).

A DI não implica necessariamente em um menor crescimento pessoal de um indivíduo em sua singularidade, mas sim uma organização psíquica qualitativamente diferenciada do que é tomado como normal. Os aspectos quantificáveis da inteligência, que são produzidas através de testes psicométricos, não auxilia na compreensão do indivíduo como um todo, uma vez que, apenas uma parte deste todo foi analisada, deixando de observá-lo em sua totalidade (VIGOTSKI, 1997 apud SANI e JUNIOR, 2013).

Os indicadores de qualidade de vida (QdV) são qualitativos, logo o que se pode ser considerado para um indivíduo como um alto índice de QdV em seu país, para outro, que reside no mesmo ambiente, com as mesmas condições, o mesmo índice pode ser considerado mediano ou até abaixo da média (RODRIGO, 2017; VERDUGO et al, 2014). O conceito de QdV surgiu nos Estados Unidos da América com o objetivo de demonstrar que a QdV não deveria ser medido através do balanço financeiro de um país, mas sim, através da QdV que estes proporcionavam à população (SIMÕES; SANTOS, 2013 apud RODRIGO, 2017).

A QdV é então definida como a maneira do indivíduo perceber subjetivamente à sua posição na vida e em seu contexto sociocultural, conectando aos seus objetivos, aspirações e interesses (RODRIGO; SANTOS e GOMES, 2016; RODRIGO, 2017; VERDUGO et al, 2014). A avaliação da QdV em indivíduos com DI em algumas escalas são realizadas com o auxílio de seus prestadores de cuidado (RODRIGO; SANTOS e GOMES, 2016; RODRIGO, 2017; VERDUGO et al, 2014).

A escala de Saint Martin possui como finalidade a avaliação da QdV de pessoas que necessitam do auxílio de seus prestadores de cuidados em vários aspectos de sua vida. A dependência de terceiros em atividades funcionais de vida diária é diretamente proporcional às dificuldades cognitivas e adaptativas apresentadas pelas pessoas com DI, desta maneira é necessário recorrer aos cuidadores para obter uma melhor compreensão sobre os aspectos mais importantes e diversos do indivíduo com DI, podendo assim determinar com maior especificidade a sua QdV (RODRIGO; SANTOS e GOMES, 2016; RODRIGO, 2017; VERDUGO et al, 2014).

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 TIPO DE PESQUISA

Esta pesquisa é do tipo quantitativa, uma vez que consiste na mensuração da inteligência de indivíduos com Deficiência Intelectual e análise de sua qualidade de vida através da visão objetiva de seus prestadores de cuidado.

3.2 LOCAL DA PESQUISA

A pesquisa foi desenvolvida na APAE Rural de Viçosa-MG.

3.3 AMOSTRAGEM

A amostra foi composta por 10 pessoas com Deficiência Intelectual da APAE de Viçosa-MG, havendo participantes de ambos os sexos.

3.4 COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados através da aplicação do teste não verbal de inteligência R1 nos usuários da APAE participantes do projeto. Já os dados referentes a Escala de Saint Martin foram coletados do banco de dados do setor de Serviço Social da APAE de Viçosa-MG. Sendo os dados correlacionados através de programa estatístico (PSPP).

3.5 METODOLOGIA

A metodologia da pesquisa consiste na aplicação do teste psicométrico R1 em pessoas com Deficiência Intelectual usuários da APAE de Viçosa-MG, sendo que os resultados foram correlacionados com as informações registradas da Escala de Saint Martin, coletadas do banco de dados do setor de Serviço Social da instituição. A correlação foi realizada através de programa estatístico (PSPP).

De acordo com Silva (2014, p. 96),

O teste R1 tem como objetivo avaliar a inteligência e é constituído por 40 itens, apresentados em um caderno. Cada item corresponde a uma figura com uma parte faltando, que deverá ser completada por uma das seis a oito alternativas apresentadas abaixo da mesma. As respostas são transcritas em uma folha de respostas, na qual a pessoa deverá escrever a letra correspondente da alternativa elegida. Na correção, feita com o uso de um crivo, é atribuído um ponto para cada resposta correta. O resultado obtido é transformado em percentil de acordo com a tabela de normas apropriada para a amostra.

Sua aplicação foi realizada de maneira individual para que fosse possível dar toda atenção e auxílio ao indivíduo durante o momento em que esteve realizando o teste.

A Escala de Saint Martín, ao ser coletada, teve seus dados analisados e correlacionados com o R1. A Escala de Saint Martin é composta por 95 itens dividido em 8 dimensões, sendo elas: autodeterminação (A.-D.); bem-estar emocional (B.-E. E.); bem-estar físico (B.-E. F.); bem-estar material (B.-E. M.); direitos (D.); desenvolvimento pessoal (D. P.); inclusão social (I.S.); relação interpessoais (R. I.). Além de uma seção aberta em que o prestador de cuidado possa acrescentar qualquer informação que considerar relevante acerca da avaliação.

As sentenças são avaliadas com a medida de frequência: nunca-“1”; algumas vezes-“2”; frequentemente-“3”; sempre-“4”. A partir dos pontos obtidos em cada uma das dimensões, obtém-se a pontuação bruta e padrão de cada dimensão, que ao final indicarão o índice de qualidade de vida do indivíduo transformado em percentil.

Coletado os dados, foi inserido estes resultados em um programa estatístico (PSPP) que geraram a correlação de Spearman. Como o preconceito gera uma espécie de “correlação linear”, formando uma relação de “Se…Então”, simplificando de forma demasiada o raciocínio, o que consolida ainda mais o preconceito pela economia do esforço intelectual. A correlação de Spearman foi utilizada, pois é uma medida não paramétrica de correlação de postos entre duas variáveis contínuas ou ordinais que tendem a mudar juntas, mas não necessariamente a uma taxa constante, ou seja, não há a necessidade da relação entre os dados serem linear, assim como o preconceito é.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da análise dos dados obtidos após a aplicação e correção do teste de inteligência não verbal R1 e coleta dos resultados da Escala de Saint Martín que estavam armazenados no banco de dados do Serviço Social da APAE de Viçosa-MG, foi possível a realização da correlação entre ambas as ferramentas.

Para citar e publicar os resultados obtidos os indivíduos foram nomeados de forma a resguardar sua identidade. Sendo assim, cada indivíduo da pesquisa foi nomeado como “Sujeito” e uma numeração de 1 a 10 que os distinguiu como, por exemplo, Sujeito 4 dirá respeito aos resultados de um dos indivíduos da pesquisa.

Para facilitar a visualização dos resultados coletados tabelas foram construídas com o intuito de demonstrar os resultados discutidos. A “Tabela 1- Percentil Total Alcançado” demonstrará o resultado total alcançado por cada sujeito tanto na Escala de Saint Martín, quanto no teste R1. Lembrando que a ordem é aleatória e não indica um índice progressivo ou regressivo de ordem do maior para menor ou menor para maior quando se diz respeito ao desempenho dos participantes da pesquisa em algumas das ferramentas utilizadas.

Tabela 1- Percentil Total Alcançado

SUJEITOS PERCENTIL TOTAL DA ESCALA DE SAINT MARTÍN PERCENTIL TOTAL DO TESTE R1
Sujeito 1 26 1
Sujeito 2 28 1
Sujeito 3 47 1
Sujeito 4 23 1
Sujeito 5 6 1
Sujeito 6 22 1
Sujeito 7 39 1
Sujeito 8 84 10
Sujeito 9 75 1
Sujeito 10 95 1

 FONTE: dados referentes a Escala de Saint Martín coletados do banco de dados do setor de Serviço Social da APAE de Viçosa-MG.

A “Tabela 1- Percentil Total Alcançado” demonstra que 70% da amostra alcançou um percentil baixo de QdV de acordo com a visão objetiva de seus cuidadores e 100% da amostra alcançou um percentil baixo no Teste R1. Dados estes que serão discutidos mais à frente.

Tabela 2- Resultados das Correlações de Spearman

CORRELAÇÃO RESULTADO DA CORRELAÇÃO DE SPEARMAN (COEFICIENTES APROXIMADOS)
1 PERCENTIL TOTAL DA ESCALA DE SAINT MARTÍN x PERCENTIL TOTAL DO TESTE R1 0,41
2 AUTO-DETERMINAÇÃO x R1 0,36
3 BEM-ESTAR EMOCIONAL x R1 0,48
4 BEM-ESTAR FÍSICO x R1 0,53
5 BEM-ESTAR MATERIAL x R1 0,47
6 DIREITOS x R1 0,41
7 DESENVOLVIMENTO PESSOAL x R1 0,48
8 INCLUSÃO SOCIAL x R1 -0,18
9 RELAÇÕES INTERPESSOAIS x R1 -0,18

 FONTE: dados referentes a Escala de Saint Martín coletados do banco de dados do setor de Serviço Social da APAE de Viçosa-MG.

As correlações presentes na “Tabela 2- Resultados das Correlações de Spearman” demonstraram que as correlações entre as duas ferramentas são fracas, pois as correlações 1, 2, 3, 5, 6, 7 possuem uma correlação positiva fraca, as correlações 8 e 9 possuem um valor desprezível, sendo apenas a correlação 4 possuindo um valor positivo moderado. Entretanto, para se obter um valor consistente e que indique uma correlação forte e de valor científico entre duas ferramentas psicológicas é necessário um valor positivo superior a 0,80 ou negativo inferior a -0,80.

Logo a inteligência e a QdV destes sujeitos não podem ser associadas nesta amostra, pois possuem uma correlação fraca no geral. Como pode ser visto nas dimensões da Escala de Saint Martín, sujeitos que obtiveram um alto percentil de QdV, mas um baixo índice de inteligência, demonstraram possuir, assim como os sujeitos com baixo percentil de QdV, baixos percentis em algumas dimensões, sendo o inverso também encontrado. Assim como é possível visualizar na “Tabela 3- Percentis Alcançados nas Dimensões da Escala de Saint Martín”.

Tabela 3- Percentis Alcançados nas Dimensões da Escala de Saint Martín 

SUJEITOS A.-D. B.-E. E. B.-E. F. B.-E. M. D. D.P. I.S. R.I.
Sujeito 1 63 37 5 9 16 50 50 50
Sujeito 2 1 9 25 5 50 91 9 37
Sujeito 3 50 75 50 91 63 63 50 63
Sujeito 4 50 37 5 16 37 50 50 16
Sujeito 5 5 16 1 9 16 50 9 9
Sujeito 6 50 37 9 9 16 50 25 50
Sujeito 7 75 37 9 37 25 75 50 37
Sujeito 8 75 95 75 91 91 95 37 37
Sujeito 9 50 84 63 50 84 63 84 84
Sujeito 10 95 95 50 84 95 95 98 91

 FONTE: dados referentes a Escala de Saint Martín coletados do banco de dados do setor de Serviço Social da APAE de Viçosa-MG.

A dimensão Auto-determinação (A.-D.) avalia se o indivíduo está consciente das decisões que são tomadas para seu bem-estar em geral. Em 60% da amostra os percentis alcançados foram baixos. Ou seja, boa parte da amostra não possui total autonomia nas decisões que são tomadas pelos seus cuidadores para seu bem-estar.

Na dimensão de Bem-Estar Emocional (B.-E. E.), sendo esta dimensão responsável por aferir a habilidade do cuidador em identificar expressões de bem-estar emocional do indivíduo com DI, aumentando assim as chances de que o cuidador seja capaz de auxiliar o sujeito. Em 60% dos indivíduos foram alcançados um baixo percentil podendo indicar então que em grande parte da amostra os cuidadores necessitam aprimorar suas habilidades de identificação do estado emocional destes sujeitos para melhor lhes auxiliar, podendo assim melhorar em certo nível a QdV destes indivíduos.

O Bem-estar Físico (B.-E. F.) na escala em questão, implica na capacidade do sujeito com DI em se exercitar devidamente, se alimentar de acordo com sua dieta especifica, higiene pessoal, medicamento adequado, entre outros. Nesta dimensão 80% dos sujeitos avaliados tiveram percentis baixos, sendo o índice alcançado extremamente baixo em grande parte dos sujeitos. É preocupante este resultado, uma vez que, demonstra uma grande dificuldade desses sujeitos em manter um autocuidado de suas necessidade físicas e fisiológicas de maneira independente, o que traz preocupações a respeito da vida destes sujeitos em um futuro próximo, pois os principais cuidadores são pais ou familiares próximos ao sujeito, mas que estão em idade já avançada, logo quando estes cuidadores mais capazes vierem a falecer as chances de uma piora na QdV destes indivíduos são grandes.

Já a dimensão Bem-estar Material (B.-E. M.) diz respeito a uma grande temática que permeia a vida destes sujeitos, a de que a deficiência surge também à partir da incapacidade do meio em prover a estes indivíduos ferramentas para explorar seu potencial assim como qualquer outro indivíduo. O que reflete no resultado desta dimensão, em que 70% dos sujeitos tiveram índices baixos, implicando que não possuem acesso a estas ferramentas que lhe auxiliaria em seu dia a dia de maneira eficiente, potencializaria sua independência e respeitaria sua singularidade.

Na dimensão que diz respeito aos Direitos (D.) do sujeito enquanto indivíduo único, biopsicossocial e espiritual, 60% dos sujeitos possuem um baixo percentil. Demonstrando que eles próprios muitas vezes não possuem a real dimensão de seus direitos, pois como estes direitos não são muitas vezes respeitados ou mesmo disseminados em meio a cultura, aumenta desta maneira as chances de que estes direitos não alcancem apenas a população com DI, mas a população como um todo.

O Desenvolvimento Pessoal (D.P.) foi a dimensão em que alcançou o melhor índice na amostra, sendo que 40% dos sujeitos tiveram um percentil baixo, ou seja, 60% da amostra alcançou um percentil alto. Esta dimensão diz respeito a estimulação do desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais, motoras, sensoriais, entre outras. Sendo este resultado reflexo do trabalho desenvolvido com estes sujeitos na APAE Rural de Viçosa-MG, uma vez que é o local onde estes indivíduos se reúnem com o intuito de desenvolver estas habilidades através de aulas, vivências, trabalhos individuais e em grupo, oportunidade da conquista de um emprego, entre outros.

A dimensão Inclusão Social (I.S.) atingiu índices de percentis baixos em 80% dos sujeitos. A dimensão abarcava questões sobre a integração do sujeito em meios diferentes aos de sua casa e da APAE Rural, assim o resultado citado demonstra o reflexo mais uma vez da falta de espaços que acolham as necessidades de todos os indivíduos e ajam de acordo com os princípios de equidade, tornando a transição destes sujeitos nos mais variados meios mais acessíveis e principalmente mais saudáveis, rumo ao seu desenvolvimento e crescimento pessoal assim como deve ser para qualquer outro indivíduo.

A última dimensão Relações interpessoais (R.I.) foca em observar as relações sociais destes sujeitos e a comunicação com o outro. Em 70% da amostra os percentis foram baixos o que demonstra a dificuldade de interação que estes indivíduos possuem, pois muitas vezes possuem dificuldade em se expressarem de maneira que possam se fazer entender a qualquer pessoa, desta forma se comunicar e interagir com o outro é sempre uma tarefa árdua e cansativa, fazendo com que a motivação para tentar se comunicar e interagir diminua, gerando consequências graves para o sujeito.

A pontuação bruta alcançada por cada sujeito no teste R1 se encontra no “Tabela 4- Pontuação Bruta Total do Teste R1” e indica que todos os sujeitos, assim como apontado também na “Tabela 1- Percentil Total Alcançado”, possuem uma inteligência baixa, o que sugere, de maneira sucinta, dificuldade para solucionar problemas, relacionar ideias e adquirir novos conhecimentos.

Tabela 4- Pontuação Total (Bruta) do Teste R1

SUJEITOS PONTUAÇÃO BRUTA TOTAL
Sujeito 1 7
Sujeito 2 10
Sujeito 3 12
Sujeito 4 4
Sujeito 5 10
Sujeito 6 6
Sujeito 7 5
Sujeito 8 23
Sujeito 9 9
Sujeito 10 9

 FONTE: dados referentes a Escala de Saint Martín coletados do banco de dados do setor de Serviço Social da APAE de Viçosa-MG.

5. CONCLUSÃO

Tendo em vista os objetivos que nortearam esta pesquisa, a partir dos resultados obtidos, foi possível observar em uma das dimensões o importante trabalho que é realizado com estes indivíduos na APAE Rural de Viçosa-MG, pois 60% da amostra demonstrou alto percentil na dimensão Desenvolvimento Pessoal (D.P.). Dimensão esta que está diretamente ligada à como a instituição que estes sujeitos frequentam está lhes auxiliando no processo de desenvolvimento de suas potencialidades.

Alguns dados evidenciados são preocupantes, pois as dimensões que apontam um baixo percentil em grande parte da amostra são de cunho sociocultural, uma vez que, abarcam os direitos destes sujeitos, sua relação e interação social, e a deficiência do meio em prover a estes indivíduos as ferramentas necessárias para viver em equidade.

Conclui-se assim que a inteligência e a QdV não possuem uma forte correlação nesta amostra, ou seja, um indivíduo classificado com DI não necessariamente possuirá uma baixa QdV por ter um percentil baixo em inteligência, entretanto também não se pode dizer que seu percentil de QdV será alto caso algum indivíduo alcance um percentil em inteligência perto do “padrão”, devido a fraca correlação gerada entre os dados coletados das duas ferramentas.

Todavia, é interessante ressaltar que os resultados foram satisfatórios e de grande valia e caso seja possível expandir a pesquisa com uma amostra mais significativa, será possível demonstrar com ainda mais propriedade, através de ferramentas psicológicas, que o preconceito gerado em torno da capacidade de um indivíduo com DI de não possuir a capacidade de possuir uma vida saudável é infundado quando se baseia os argumentos para tal afirmação observando apenas suas capacidades intelectuais, esquecendo-se de enxerga-lo em sua totalidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANGONESE, Larissa Schikovski; BOUERI, Iasmin Zanchi; SCHMIDT, Andréia. O Adulto com Deficiência Intelectual: Concepção de Deficiência e Trajetória de Carreira. Revista Brasileira de Orientação Profissional. São Paulo, v. 6, n. 1, p. 23-34, jan./jun. 2015.

AZEVEDO, Mário Luiz Neves de. Igualdade e equidade: qual é a medida da justiça social?. 2013. Disponível em:(http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141440772013000100008). Acessado em: 05/11/2019.

NAKANO, Tatiana de Cássia; SAMPAIO, Maria Helena de Lemos. Desempenho em Inteligência, Atenção Concentrada e Personalidade de Diferentes Grupos de Motoristas. Psico-USF. São Paulo, v. 21, n. 1, pp. 147-161, jan./abr. 2016.

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PASQUALI, Luiz. Psicometria Revista Esc. Enferm. USP. São Paulo, p. 992-999, 2009.

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[1] Mestre em Biologia Animal (Magister Scientiae) pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Pós-graduado em “Educação na Perspectiva do Ensino Estruturado para Autistas” pela faculdade OPET, Graduado em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Graduado em Pedagogia pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG).

[2] Graduado em Psicologia pelo Centro Universitário de Viçosa – Univiçosa.

[3] Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Viçosa – Univiçosa.

[4] Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Viçosa – Univiçosa.

[5] Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Viçosa – Univiçosa.

Enviado: Fevereiro, 2021

Aprovado: Março, 2021

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Adriano De Souza Alves

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