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Ansiedade e adolescência: suas implicações na escolha profissional

RC: 120106
1.991
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DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/ansiedade-e-adolescencia

CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

ROSSI, Wesley [1], FAVRETTO, Liani [2]

ROSSI, Wesley. FAVRETTO, Liani. Ansiedade e adolescência: suas implicações na escolha profissional. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 07, Vol. 01, pp. 115-140. Julho de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/ansiedade-e-adolescencia, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/ansiedade-e-adolescencia

RESUMO

O presente artigo tem como propósito a identificação da ansiedade como fator que contribui na escolha profissional de jovens. Visa também conhecer sob a perspectiva dos adolescentes, os principais agentes internos e externos que contribuem para a ansiedade no que tange à escolha profissional de jovens da região do meio oeste catarinense. A questão norteadora é a de verificar se a ansiedade contribui na escolha profissional de jovens? O presente trabalho teve como objetivos: identificar se a ansiedade é um fator que contribui no momento da escolha profissional; oportunizar aos adolescentes um espaço onde possam expressar suas ideias a respeito do assunto abordado. A pesquisa foi exploratória com enfoque qualitativo, tendo como instrumento de coleta de dados um questionário com questões abertas e fechadas a partir da plataforma Google Forms. Participaram da pesquisa 22 jovens entre 18 e 26 anos, todos os participantes vivenciam o processo de escolha profissional. Constatou-se por meio da pesquisa, que os jovens perceberam a ansiedade, angústia, medo, incerteza, família e pandemia como fatores que contribuem para a indecisão no momento da escolha profissional. O conjunto de afetos mapeados dizem respeito ao conjunto de características intrínsecas ao desenvolvimento do adolescente, onde a partir de uma ótica eufemista, esses afetos podem ser vistos como saudáveis na medida em que oferecem tempo adicional para que o jovem possa tomar uma decisão legítima, baseada num planejamento futuro.

Palavras-chave: Jovem, Ansiedade, Indecisão Profissional, Orientação.

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo a identificação da ansiedade como fator que contribui na escolha profissional de jovens. Secundariamente visa conhecer sob a perspectiva dos adolescentes, os principais agentes internos e externos que contribuem para a ansiedade durante o processo da escolha profissional, visto a influência que esta decisão exerce na interação indivíduo/sociedade e na formação da identidade do sujeito. Embora a escolha da carreira profissional não seja exclusivamente dos adolescentes, este período de decisão envolve muitos conflitos para o jovem que está enfrentando dificuldades próprias da idade, como as mudanças físicas e psicológicas. Diante desse fato, a questão que orienta nossa pesquisa é a de identificar se a ansiedade contribui para a escolha profissional de jovens?

Podemos afirmar que conhecer os principais fatores que geram ansiedade, permite incentivar e nortear o adolescente a realizar ações que minimizem o sofrimento psicológico tão presente nesta etapa indispensável da vida. Pois o caráter da escolha profissional pressupõe uma “jurisdição própria”, onde o exercício da escolha, também se torna um exercício da autonomia, pois esta escolha pertencerá exclusivamente ao sujeito e uma decisão incumbirá a esse adolescente um senso de posição social que precisará ser enfrentado inevitavelmente em um determinado momento de sua vida. Por isso se faz necessário que este indivíduo, ávido de suas faculdades intelectuais, tenha discernimento para perceber o que essa tomada de decisão influenciará em seu caminho, já que a falta dela, implica em significativos sintomas ansiosos.

Entrar no mundo dos adultos – desejado e temido – significa para o adolescente a perda definitiva de sua condição de criança. É o momento crucial na vida do homem e constitui a etapa decisiva de um processo de desprendimento que começou com o nascimento. […] Neste período flutua entre uma dependência e uma independência extrema, e só a maturidade lhe permitirá, mais tarde, aceitar ser independente dentro de um limite necessário de dependência (ABERASTURY e KNOBEL, 1981, p. 13).

A conceituação utilizada pela autora define de forma sintética o processo transitório que é a adolescência, uma passagem regada de dilemas, conflitos e incertezas. É digno de nota ressaltarmos a importância desta fase da vida para a constituição inevitável do futuro adulto. As mudanças físicas e psicológicas que o sujeito experiencia nesta fase leva à novas relações com o mundo e por consequência, novas aquisições de habilidades e condutas que lhe auxiliarão no manejo das aversões cotidianas.

Segundo as ideias de Aberastury e Knobel (1981) existe um conjunto de características durante a adolescência, chamada de “Síndrome Normal da Adolescência”:

Sintetizando as características da adolescência, podemos descrever as seguintes sintomatologias que integrariam esta síndrome: 1) busca de si mesmo e da identidade; 2) tendência grupal; 3) necessidade de intelectualizar e fantasiar; 4) crises religiosas, que podem ir desde o ateísmo mais intransigente até o misticismo mais fervoroso; 5) deslocalização temporal, onde o pensamento adquire as características do pensamento primário; 6) evolução sexual manifesta, que vai do auto-erotismo até o heterossexualidade genital adulta; 7) atitude social reivindicatória com tendências anti ou associais de diversas intensidades; 8) contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta, que constitui a forma de expressão conceitual mais típica deste período da vida; 9) uma separação progressiva dos pais; e 10) constantes flutuações de humor e do estado de ânimo (ABERASTURY e KNOBEL, 1981, p. 129).

Para ser compreendido este conjunto de características adotada pelo adolescente, o adulto deverá ter o entendimento de como o adolescente internaliza e expressa sua personalidade. Essa percepção auxiliará o processo de harmonização entre esses dois sujeitos.

É lícito visualizarmos a adolescência como uma forma de atitude cultural, onde o sujeito terá de ter uma postura diante desta fase do desenvolvimento, esta fase por sua vez carregará as expectativas em uma forma de arquétipo coletivo. Neste sentido, a adolescência também é uma forma de exercer um papel social, o papel do adolescente. Erikson e Cabral (1976) afirma que uma dos conflitos principais da adolescência é o confronto entre a crise de identidade e a confusão de identidade, nesse sentido o sujeito passará por um processo que podemos concatenar com o que Zimerman (2009) chamou de “processo depressivo” onde o sujeito no momento de crise terá a oportunidade de simbolizar e internalizar novas concepções acerca das vicissitudes enfrentadas, de modo a se tornar um adulto com um senso de identidade concreto e coerente e um papel que se tornará valorizado contra as exigências sociais.

Para Erikson e Cabral (1976) a identidade forma-se pela resolução de três questões importantes: a escolha de uma ocupação; adoção de valores nos quais o sujeito acredita; desenvolvimento de uma identidade sexual satisfatória. Mas e a responsabilidade deste sujeito, é uma virtude psíquica ou uma aquisição cultural?

A adolescência refere-se, assim, a esse período de latência social constituída a partir da sociedade capitalista, gerada por questões de ingresso no mercado de trabalho e extensão do período escolar, da necessidade do preparo técnico e da necessidade de justificar o distanciamento do trabalho de um determinado grupo social. Essas questões sociais e históricas vão constituir uma fase de afastamento do trabalho e de preparo para a vida adulta (ERIKSON e CABRAL, 1976, p. 22).

A escolha de uma profissão não implica somente na função materializada do trabalho, mas também na questão fundamental da problemática, que é o que esta escolha trará, esse processo se torna mais difícil na medida em que o adolescente fantasia o que ele quer ser, os benefícios que esta escolha trará, os empecilhos que virão, o estilo de vida que gostaria de adotar. Todas essas variáveis se tornam um conflito existencial em potencial para este sujeito.

Acerca das concepções a respeito do futuro profissional do indivíduo, Bohoslavsky (1998) afirma que:

Quando uma pessoa pensa em seu futuro, ela nunca o faz de forma despersonificada. Ao escolher uma forma de se envolver no mundo do trabalho bem como a atividade que vai desenvolver, a pessoa mobiliza imagens que adquiriu durante sua vida. Assim, ao pensar em profissões específicas, o indivíduo está expressando que quer ser como tal pessoa, real ou imaginada, que tem tais e quais possibilidades ou atributos e que supostamente, os possui em virtude de posição ocupacional que exerce. Ao pensar numa profissão, a pessoa mobiliza uma imagem que foi construída a partir de sua vivência por meio de contatos pessoais, de exposição à mídia, de leituras […] de ouvir dizer (transposição de experiências de outros) […] (BOHOSLAVSKY, 1998, p. 78).

A identificação é um dos recursos no desenvolvimento infantil mais utilizados. Bohoslavsky (1998) afirma que o processo da constituição da identidade profissional se constrói desde a infância, em virtude das inúmeras identificações que serão efetivadas no decorrer da história do indivíduo, com sujeitos adultos que desempenham funções profissionais e sociais, essas identificações por sua vez vão sendo internalizadas à personalidade, tornando-se elementos fundamentais para a construção identitária.

É lícito explicitar que a escolha profissional, assim como outras escolhas, dependerá das variáveis e das influências que este indivíduo sofre durante seu desenvolvimento, as experiências boas e ruins que serão impressas no seu inconsciente e consciente, e das relações que este indivíduo construirá.

Bock; Furtado e Teixeira (2019) organiza neste trecho, um problema fundamental da desorientação do indivíduo para com a escolha vocacional:

A escolha profissional resulta de um processo, mas é efetivada em determinado momento, estabelecido socioculturalmente. A ocasião da escolha profissional não acontece em função de um pressuposto amadurecimento bio psicológico do indivíduo, mas é determinada pela cultura educacional / profissional de uma classe social e / ou de uma sociedade (BOCK; FURTADO e TEIXEIRA, 2019, p. 179).

A desorientação vocacional como uma espécie de “pandemia juvenil” faz com que seja necessário pensar na adolescência como concepção e construção histórica, pois a partir disso se criará meios eficazes para contribuir para a reversão desta situação.

A orientação profissional, quando se vê a adolescência como fase natural caracterizada por dúvidas e crises de identidade, terá, com certeza, um tipo de proposta de trabalho; a própria escolha de profissão fica naturalizada. Contudo, quando considera que essa fase é construída historicamente e que suas dificuldades são geradas fundamentalmente pela contradição condição/autorização, terá outro tipo de proposta para esses jovens. Contribuir para que compreendam esse processo e se apropriem de suas determinações, tornando-se mais capazes de interferir no mundo social, deve ser a meta desse trabalho (BOCK; FURTADO e TEIXEIRA, 2019, p. 171).

Pois segundo Bock; Furtado e Teixeira (2019):

A melhor escolha profissional é aquela que consegue dar conta (reflexão) do maior número de determinações para, a partir delas, construir esboços de projetos de vida profissional e pessoal. Utiliza-se o termo projeto para firmar a possibilidade de transformação / mudança da pessoa e, por que não, também da sociedade na qual ela está inserida (BOCK; FURTADO e TEIXEIRA, 2019, p. 181).

Essa arbitrariedade na escolha vocacional muitas vezes é inibida pela ação diretiva dos pais na escolha profissional dos filhos, no Brasil, alguns estudos já mostram que os pais agem determinantemente na escolha de certas profissões para os filhos (ALMEIDA e PINHO, 2008), em um estudo realizado com mães de adolescentes diante ao primeiro vestibular, explicitaram que elas consideram os filhos muito inseguros e imaturos para a escolha. Almeida e Pinho (2008) verificaram as expectativas dos adolescentes sobre as participações efetivas dos pais durante a escolha profissional; 55,8% dos adolescentes declararam que os pais deveriam apoiar a escolha e 27,4% que eles não deveriam participar da escolha profissional. O estudo apresentou também um índice maior (56%) de mães que apoiam os filhos, em comparação aos pais (40,8%).

Diante deste cenário, é válido ressaltar que além das competências intelectuais do indivíduo para conquistar um espaço profissional, se faz necessário outros fatores, como a condição emocional deste sujeito.

Em relação à condição emocional do adolescente, o medo, o estresse e a ansiedade fazem parte de uma espécie de tríade da constituição do indivíduo. A ansiedade vem como sendo uma antecipação receosa de algo que no futuro se apresentará, sendo uma condição caracterizada por apreensão, tensão ou insegurança (NEMIAH, 1981). A intensidade da ansiedade que se manifestará neste sujeito, estará relacionada na pressão que está sendo imposta sobre ele. Segundo Gorenstein e Andrade (1998) há diferentes tipos de ansiedade: ansiedade “traço” e ansiedade “estado”. A primeira refere-se a diferenças individuais que são em certo grau estáveis, ou seja, não se alteram significativamente ao longo do tempo. A ansiedade estado, por sua vez, diz respeito a um estado emocional transitório, o qual caracteriza sensações desagradáveis de apreensão e tensão em decorrência de um fato específico.

A caminho do que discorremos até aqui, a decisão da escolha vocacional contribui como um dos elementos que impactam diretamente nas raízes dos fatores da ansiedade na juventude. Deste modo, a orientação profissional é válida, na medida em que possibilita ao sujeito formas de lidar com tais escolhas, minimizando a ansiedade e localizando suas potencialidades, sendo um dos principais objetivos auxiliar estes sujeitos em seu processo de tomada de decisão em relação à sua profissão (LEMOS, 2001).

O caráter da escolha profissional pressupõe uma espécie de jurisdição própria, onde o exercício da escolha, também se torna um exercício da autonomia, pois esta escolha pertence exclusivamente ao sujeito, e isso equivale a um senso de posição social que este adolescente precisará enfrentar. Por isso se faz necessário que este indivíduo, ávido de suas faculdades mentais intelectuais, tenha discernimento para perceber que esta tomada de decisão influenciará em seu caminho, já que a falta dela, implica em significativos sintomas ansiosos. Para Lemos (2001), toda e qualquer escolha é um fator que gera ansiedade, pois pressupõe o fato de você deixar de lado uma série de possibilidades, que ninguém nunca saberá o destino.

A partir do construto feito até aqui, o presente artigo tem como objetivo principal verificar e analisar os potenciais fatores ansiosos em adolescentes durante a escolha profissional, fator esse que contribuirá para visualizarmos possíveis problemáticas que poderão estar implícitas na subjetividade destes adolescentes e manifestadas em seu discurso. Deste modo, o material tem a pretensão de servir como subsídio para construirmos de forma íntegra e colaborativa, possíveis métodos, recursos e técnicas de modo a minimizar os danos sofridos neste momento decisório que é a escolha profissional.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Participaram da pesquisa 22 jovens, onde 50% eram homens e 50% mulheres, com idades variando entre 18 e 26 anos. Todos os participantes vivenciam o processo de escolha profissional. Todos os participantes são da região do meio oeste catarinense. A coleta de todos os dados da pesquisa foi de forma online, através da instrumentalização da plataforma Google Forms. A pesquisa foi realizada no período de junho de 2020. O formulário manteve-se ativo durante um período de 7 dias. O instrumento utilizado nesta pesquisa com abordagem exploratória e enfoque qualitativo. O questionário foi organizado por meio de uma ferramenta disponibilizada pela empresa Google, denominada Google Forms. As questões foram desenvolvidas com respostas abertas e fechadas. As questões abertas são aquelas que permitem liberdade ilimitada de respostas ao informante, já as perguntas fechadas trarão alternativas específicas para que o informante escolha uma delas (CHAER; DINIZ e RIBEIRO, 2011).

Os sujeitos responderam ao questionário de forma online, e ao clicar no botão “enviar”, automaticamente os pesquisadores receberam de volta o questionário com as respostas. A participação na pesquisa foi por meio do método “Bola de Neve”. Este método é uma forma de amostra não probabilística que utiliza cadeias de referência, sendo útil para pesquisar grupos difíceis de serem acessados (VINUTO, 2014). Assim, o questionário foi disponibilizado através de um link para uma pessoa denominada “semente”, esta por sua vez, auxiliou os pesquisadores a encontrarem sujeitos com o perfil necessário para a pesquisa. As pessoas indicadas pela semente compartilharam o link do questionário para novos contatos com as características desejadas, a partir da sua própria rede de relacionamentos. A coleta de amostras chegou ao fim quando houve o “saturamento”, ou seja, quando não havia novas pessoas encontradas com o perfil da pesquisa.

Juntamente com o questionário foi disponibilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Durante a coleta e análise de dados foram garantidos o sigilo e a confidencialidade dos mesmos.

Os dados foram analisados por meio da Análise de Conteúdo e as respostas fundamentadas conforme a literatura específica. A Análise do Conteúdo é uma técnica de pesquisa usada para descrever e interpretar o conteúdo de toda classe de documentos e textos. Do ponto de vista operacional, este tipo de análise ajuda a reinterpretar o conteúdo coletado no questionário e a atingir uma compreensão de seus significados (MORAES, 1999).

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O construto analítico dos resultados será materializado a partir do viés qualitativo, com o intuito de concatenar os resultados da pesquisa, com a teoria explanada. As motivações subjacentes neste trabalho, foram focadas na busca de novas possibilidades de entendimento deste fenômeno que atinge incisivamente o jovem, a ansiedade.

Totalizaram-se 22 respostas, sendo que 50% das respostas foram de homens e 50% mulheres, o que corrobora para uma pesquisa democrática e isonômica. No que diz respeito à idade, os resultados variaram entre 18 a 26 anos, sendo que a maioria dos votos (54,5%) foram destinados para 18 anos. O nível de escolaridade varia entre “ensino médio incompleto” até “curso superior incompleto”, sendo que a maioria dos votos foram direcionados para a resposta de “ensino médio incompleto” (45,5%). Foram identificados que 54,5% dos jovens já realizam algum tipo de atividade profissional, enquanto 46,5% não realizam nenhum tipo de atividade profissional. Considerando exclusivamente este critério da atuação do jovem no mercado de trabalho, vemos que a partir da ideia de socialização, construção de identidade, a inserção profissional do jovem no mercado de trabalho pode ter um papel fundamental e significativo na construção da identidade do adulto em relação aos que não atuam no mercado de trabalho (MONTEIRO, 2014). Pois historicamente o adulto sempre esteve associado ao trabalho, e esta etapa decisória, se torna uma transição para a vida adulta, não somente no sentido biológico, mas sim no sentido antropológico de suas experiências.

Considerando o atual momento pandêmico, os participantes da pesquisa foram questionados em relação à o que é trabalhar na atual situação, as respostas variaram entre: a) Uma necessidade (13,6%); b) Possibilidade de realizar sonhos (13,6%); c) Oportunidade de crescimento pessoal e profissional (68,2%). Nesse sentido as concepções do trabalho não se pautam somente pela ideia de obtenção de renda, mas também por um vértice hedonista, que busca na atividade profissional uma oportunidade de realização pessoal, status social e possibilidade de estabelecer e manter contatos interpessoais (KUBO e GOUVÊA, 2012).

A indecisão como um fenômeno existencial, tem sido objeto de estudo no campo da orientação profissional, segundo Duarte et al. (2010) a indecisão profissional se torna um comportamento normal devido às mudanças biopsicossociais do adolescente. É digno de nota a contribuição de Osipow (1999) que dá luz a dois conceitos que empiricamente se assemelham: a indecisão e a indecisividade. A indecisão faz parte de um conjunto de características intrínsecas ao desenvolvimento do adolescente. A presença da indecisão é normal não só no momento da escolha profissional como também em outros momentos da vida cotidiana. Já a indecisividade, por outro lado, é um traço de personalidade que caracteriza o indivíduo pela presença constante e contínua do sentimento de indecisão frente às escolhas profissionais e cotidianas.

A pesquisa realizada, teve como resposta quase que unânime (95,5%), a afirmação que a ansiedade contribui para a indecisão no momento da escolha profissional. Se visualizarmos a indecisão sob uma ótica eufemista, ela poderá ser vista também como uma tarefa saudável, que oferece tempo adicional para que o indivíduo possa tomar uma decisão legítima, baseada num planejamento futuro. (KRUMBOLTZ, 1994)

Nesse sentido vale iniciarmos a discussão acerca da inferência da ansiedade sobre o comportamento desses indivíduos, uma vez que o processo de transformação do adolescente pode ser análogo ao que Kafka (1948) escreveu em “A Metamorfose”. O livro conta a história de Gregor Samsa que durante a narrativa sofre uma mutação profunda que altera seu modo de agir, pensar, locomover e principalmente de se relacionar, o drama pode ser comparado a este processo da adolescência tão descrito na literatura universal.

A ansiedade como uma condição natural do ser humano, é uma emoção assídua em nossa vida cotidiana, ela é um sinal de alerta perante uma situação que pode constituir uma ameaça, para Brito (2011) o adolescente sente-se ameaçado por diversas alterações que englobam sua integridade, como o corpo, relação com os pais, competências sociais, profissionais e na relação com seus pares. Segundo May (1980) a ansiedade promove uma relação de impotência entre o sujeito e o ambiente ameaçador, um terreno desconhecido onde a falta do reconhecimento do objeto, causa-lhe a ansiedade.

No levantamento dos resultados, foram identificados empates de duas respostas no que diz respeito aos fatores que contribuem para a ansiedade no momento da escolha profissional, são elas: a) Expectativas a serem alcançadas; b) Incerteza do futuro; Ambas totalizando 36,4% dos votos.

A ansiedade é um sentimento que acompanha um sentido geral de perigo, advertindo as pessoas de que há algo a ser temido. Refere-se a uma inquietação que pode traduzir-se em manifestações de ordem fisiológica e de ordem cognitiva. Como manifestações fisiológicas pode-se citar agitação, hiperatividade e movimentos precipitados; como manifestações cognitivas surgem atenção e vigilância redobrada e determinados aspectos do meio, pensamentos e possíveis desgraças. Essas manifestações podem ser passageiras ou podem constituir uma maneira estável e permanente de reagir e sua intensidade pode variar de níveis imperceptíveis até níveis extremamente elevados (BATISTA e OLIVEIRA, 2005, p. 64).

A resposta “Expectativas a serem alcançadas”, se sustenta a partir da inegável relação da ansiedade com expectativa, uma vez que a ansiedade existe por algo não tangível. Freud (1936) afirma que a ansiedade realística é advinda de um perigo conhecido, já a ansiedade neurótica, por um perigo desconhecido, que ainda há de ser descoberto. Na pergunta “Quando você pensa sobre a profissão que deseja seguir, quais sentimentos sente?” foram obtidas 4 respostas semelhantes que chamaram a atenção: R1: “Incerteza, insegurança, medo”; R2: “Me sinto ansiosa, com medo, insegura…”; R3: “Não sei explicar. São muitas coisas juntas, mas acho que o principal sentimento é medo (de fazer a escolha errada, de me arrepender).”; R4: “Medo, angústia e incerteza”.

Nos atentemos agora aos termos “angústia”, “insegurança”, “medo” e “incerteza”, que segundo Pauseiro et al. (2009) podem exercer uma função significativa na simbolização de perigos reais ou imaginários, uma vez que a angústia, insegurança, medo e incerteza surgem quando o sujeito está implicado pela sua liberdade, pois como Sartre afirmou, o homem está condenado a ser livre (SARTRE, 1973), e ao receber essa sentença o sujeito percebe que terá de ser o senhor de seu destino (FREUD, 1936), esse destino por sua vez é carregado de dilemas e decisões que precisarão ser tomadas durante o percurso da vida, inferindo a estes indivíduos, altos níveis de angústia, ansiedade e insegurança.

Na medida em que o adolescente cresce, se perde a segurança que tinha nas fases anteriores, sua crescente maturidade mental o prepara para encarar a realidade, ele está em uma grande contradição de processos internos e externos, o que corrobora para o discurso da resposta R3: “Não sei explicar. São muitas coisas juntas, mas acho que o principal sentimento é medo (de fazer a escolha errada, de me arrepender)”, como o adolescente carece de um fundo de experiência que lhe dê perspectiva, sente-se desprovido de equilíbrio, vivendo em uma constante alternância entre temor e esperança, tendo grandes tendências de exagero frente aos problemas e a não se sentir seguro em frente aos mesmos problemas, o que pode ser fundamentado pela falta de experiência e conhecimento (PAUSEIRO et al., 2009)

O adolescente defende-se de novas relações pelo desejo de se defender da perda das relações antigas. Tem medo do presente e do futuro, não só pelo que eles comportam de incerto e de inquietante, mas principalmente pelo receio e recusa de perder o antigo, certo e conhecido (COIMBRA; BOCCO; DO NASCIMENTO, 2005, p. 144).

Neste sentido, a angústia, medo e incerteza, aparecem como a falta de resposta para o concreto, e dentro desta carência de significado, o jovem poderá se articular de diversas maneiras para procurar através da experiência, um senso de sentido. Nesta infindável busca de propósito e sentido, ou até mesmo na necessidade de nomear o inominável, identificamos a estreita ligação entre medo e ansiedade. Essas duas condições não devem ser associadas somente à sinalização de perigo, ela deve ser vista também, como fonte provedora de possibilidades adaptativas, que promovem ao jovem uma responsabilidade frente aos eventuais acasos da vida.

A ansiedade, cada vez é mais constante na vida das pessoas, e alguns autores já definem a era moderna como a idade da ansiedade, associando a este fenômeno psíquico e existencial a competitividade, consumismo exacerbado, mídias digitais, entre outras. Dentro deste contexto, a simples participação do indivíduo, na sociedade contemporânea já preenche, por si só, um requisito suficiente para o surgimento da ansiedade. Portanto, viver ansiosamente, passou a ser considerado uma condição do homem moderno, ou um destino comum ao qual todos estamos, de alguma maneira, ligados (PAUSEIRO et al., 2009, p. 248).

Em última análise, considerando uma visão antropológica neste processo de escolha, angústia e ansiedade, Rangel (1999) levanta a discussão sobre os ritos de passagem na sociedade contemporânea. O autor ao tratar da problemática dos ritos de passagem e processo de amadurecimento, afirma que a sociedade deve, a partir de seus referenciais, preparar as crianças para entrar no mundo adulto, além de criarem condições que funcionem como marcos norteadores, de modo a contribuir para a maturidade e para a convivência em sociedade. Nesse sentido os eventos cotidianos ou os ritos de passagem, como a tomada de decisão, metas, “expectativas a serem alcançadas”, ou projeções, que poderíamos aqui caracterizar como “incerteza do futuro”, terão um sentido organizador do psiquismo, organização essa que ajudará gradualmente o processo de compreensão do adolescente na passagem de uma etapa para a outra, sinalizando o novo papel social que ele deverá cumprir.

Totalizando 27,3% dos votos, a família vem como o 3° determinante de ansiedade. Na medida em que os filhos crescem, o investimento libidinal nos pais é transferido para as atividades sociais, em busca de relações mais equilibradas e recíprocas (RUDOLPH e HAMMEN, 1999), porém no âmbito escolar e profissional, os pais continuam sendo grandes modelos e fontes de apoio para seus filhos. Os indivíduos cuja estrutura familiar apresenta níveis de proximidade e autonomia, sugerem um maior comprometimento e ponderação no que diz respeito às escolhas, tendo assim uma maior eficácia na tomada de decisões (BEYERS et al., 2003).

Segundo o estudo de Monteiro (2014), ele apresenta um estudo acerca de mães de adolescentes. Neste estudo, a maioria das mães entrevistadas consideram os filhos muito inseguros e imaturos para as escolhas. Nesse sentido os pais destes indivíduos podem ser legitimados pelo discurso do: “eu sei o que é melhor para o meu filho”, e a partir disso tomarem condutas autoritárias e controladoras, influenciando e contribuindo para a ansiedade, angústia e indecisão no momento não só da escolha profissional, mas sim de toda e qualquer tipo de escolha. Para fundamentar a ideia apresentada, trazemos o autor Baumrind (1971) que apresenta uma das formas de analisar as práticas parentais e suas influências na vida de seus filhos, esses estilos parentais se caracterizam pelo conjunto de atitudes, práticas e manifestações na interação de pais e filhos, o estilo parental refere-se basicamente à reação dos pais perante aos problemas disciplinares, comportamentais, decisórios e necessidades emocionais de seus filhos. Autores como o próprio Baumrind (1971) e Maccoby (1994) auxiliam a construção de um novo padrão de estilos parentais, poderemos aqui explicitar 4 padrões: autoritário, autoritativo, indulgente e negligente.

A partir disso, sugere-se que o estilo parental autoritário desses pais (exigência alta e responsividade baixa), podem estar fortemente associados ao aumento dos níveis de ansiedade, medo e frustração desses indivíduos. Uma vez que esse estilo parental é caracterizado pela condição de controle e obediência, sem exercitar o diálogo e autonomia de seus filhos. Segundo o próprio Baumrind (1971), filhos criados sob este padrão apresentam poucos problemas de comportamento e alto desempenho acadêmico, em contrapartida apresentam menor autoestima e maior ansiedade. Já no estilo autoritativo (exigências altas e responsividades altas) os pais criam condições que fortalecem a autonomia e responsabilidade, encorajando e favorecendo o diálogo, indivíduos criados nesses padrões apresentam melhor desempenho em comparação ao estilo anterior. O estilo indulgente (exigência baixa e responsividade alta) cria condições caracterizadas pela tolerância, pelo afeto e baixo controle, indivíduos criados sob estes padrões costumam apresentar boa autoestima, porém maior imaturidade, menor envolvimento, agressividade e problemas de comportamento. O estilo parental negligente, é caracterizado por exigência baixa e responsividade baixa, o que contribui para a falta de controle de comportamento dos filhos, além da dificuldade de manifestar e demonstrar afeto, filhos neste padrão é o pior em índices de ajustamento, e é classificado com a menor competência social, cognitiva e maiores problemas de internalização e comportamento (HUTZ e BARDAGIR, 2006).

Em última análise, a fundamentação dos estilos parentais contribui para o entendimento integral dos determinantes de ansiedade que possibilitam a indecisão profissional. Características como, autonomia, autoconfiança, conhecimento, são atributos que implicam diretamente no desenvolvimento e maturação de uma escolha profissional, nesse sentido a família entra como um pilar fundamental que sustenta e subsidia a escolha profissional dos filhos. Concatenar os estilos parentais com o determinante da família nessa pesquisa, favorece o entendimento da relação entre a ansiedade, escolha profissional e estilo parentais, que por sua vez reflete na escolha profissional e no desenvolvimento de uma função social. Por fim, preconiza-se, que os filhos criados sob a conduta de pais autoritários, tendem a ter menos indecisão, porém maiores índices de ansiedade e depressão, já no estilo indulgente podemos incluir uma maior indecisão, porém menor ansiedade e depressão no momento da escolha profissional.

Como já exposto até aqui, a escolha profissional é um passo importante na vida dos jovens que estão se inserindo no mercado de trabalho, segundo Valore (2008), decidir a ocupação profissional constitui um momento de crise, pois não se trata apenas de executar novas tarefas e sim, de apropriar-se de uma nova identidade profissional. É a partir desta escolha que se inicia um longo processo de qualificação, que além de um alto investimento de esforços pessoais, demanda tempo e dinheiro.

A escola neste sentido, surge como facilitadora no processo de escolha profissional do estudante, a fim de que a crise experimentada pelo jovem não o leve a um grande sofrimento psicológico. Portanto, a orientação profissional pode ser trabalhada desde a educação infantil até a conclusão do ensino médio. Este contato com as profissões em todos os níveis da educação permite o aluno conhecer as relações de trabalho e suas próprias habilidades, abrindo os caminhos para uma escolha mais clara e assertiva da ocupação desejada.

No presente estudo identificou-se que 73% dos participantes receberam orientação profissional na escola, em contrapartida, 27% não foram orientados, conforme o gráfico abaixo.

Gráfico 1- Orientação fornecida pela escola para a escolha profissional.

Orientação fornecida pela escola para a escolha profissional
Fonte: Própria do autor, 2020.

Estes resultados apresentam-se positivamente neste estudo, considerando que do total de 22 sujeitos, 16 atravessaram a crise da escolha profissional com o suporte da instituição de ensino. Porém, observa-se que apesar da escola ter prestado auxílio para a maioria dos jovens, um total de 77% sentiu-se pressionados para que saíssem da escola sabendo a profissão que desejavam seguir, conforme apresentado no gráfico a seguir.

Gráfico 2- Pressão para concluir o ensino médio com uma profissão escolhida.

Pressão para concluir o ensino médio com uma profissão escolhida.
Fonte: Própria do autor, 2020.

Com estes resultados questiona-se a atividade de orientação profissional realizada pelas escolas. Estas instituições de ensino estão de fato estimulando os estudantes, desde os anos iniciais a realizarem uma escolha autônoma a partir da autoidentificação com a profissão, ou estão orientando alunos, quando chegam no terceiro ano, a escolherem suas ocupações baseados somente na demanda de mercado? Ainda, se estes alunos receberam orientação profissional durante o processo de escolarização, por que se sentiram pressionados para escolherem a sua profissão?

Segundo Villas Boas (2013):

A escola, ao tratar sobre a orientação profissional, deve realizá-la de forma que possibilite ao aluno maior maturidade e autoconhecimento, propiciando situações que permitam a escolha profissional apesar das influências externas a que ele está exposto (VILLAS BOAS, 2013, p. 9).

Evidencia-se, assim, que esta pressão sentida pode se originar da má orientação profissional por parte da escola, que ao invés de apresentar para o estudante a escolha profissional como um processo que se constrói ao longo da vida, pressiona de forma direta ou indireta o aluno para uma decisão imediata de seu futuro. Neste mesmo sentido, Costa et al. (2018) aborda que a orientação profissional deve ajudar o estudante no planejamento do seu projeto de vida, ao invés de somente orientar jovens para a escolha de um curso superior.

Até aqui, já podemos compreender que a necessidade de decidir um futuro incerto torna-se tema central da vida do sujeito por um longo período, e que a pressão recebida agrava a crise vivenciada pelo estudante. Além do sofrimento psicológico, De Lara et al. (2005), traz que a pressão pode levar muitos jovens a tomarem decisões imediatas que mais tarde são percebidas como equivocadas, podendo gerar arrependimento ou a continuidade de uma escolha insatisfatória.

Ainda, esta pressão abordada pelo autor, além de ser originada no ambiente escolar, pode ser produzida pela sociedade de forma geral. Sabemos a muito tempo já que o emprego possui uma grande importância na sociedade capitalista. Segundo Woleck (2002), o emprego é visto como uma categoria dominante para reconhecimento do valor dos propósitos humanos, portanto, é comum que os jovens, ao passarem pela definição profissional, sejam questionados a respeito de suas escolhas.

No sentido de investigar a interferência da sociedade sobre as escolhas dos participantes, perguntou-se a frequência em que os jovens eram questionados sobre a sua trajetória profissional, os resultados estão expostos no gráfico a seguir.

Gráfico 3- Frequência em que o jovem é questionado sobre sua carreira profissional:

Frequência em que o jovem é questionado sobre sua carreira profissional
Fonte: Própria do autor, 2020.

Os dados acima evidenciam que metade dos participantes (50%) às vezes eram questionados, uma porcentagem um pouco menor revelou que 36% dos jovens eram frequentemente questionados. Percebe-se que estes questionamentos podem ser originados da atual ruptura com um passado onde o jovem tinha sua ocupação determinada pelos seus ancestrais, ou seja, a criança crescia sabendo que a profissão exercida pelo pai, futuramente seria a sua. Deste modo, não se questionava o que vou ser quando crescer, pois já era sabido (LEWANDOWSKI, 2014).

Porém, o autor traz que o atual advento do capitalismo passou a exigir dos jovens que realizassem escolhas pois precisavam vender a sua força de trabalho para se sustentar. Assim, sua escolha profissional atualmente pode até receber influência do meio social, porém a decisão deve ser do próprio indivíduo. Portanto, além da preocupação dos jovens no sentido de que forma será possível sua inserção bem-sucedida no mundo do trabalho, eles precisam lidar com uma sociedade que exerce uma pressão natural para conhecer a escolha do estudante.

Outro fator que pode ser fonte de pressão na escolha de alguns jovens é a atual situação pandêmica vivenciada por todo o mundo. Segundo Medeiros (2020), a sociedade está vivendo uma pandemia histórica causada por um novo coronavírus, com impacto na economia, na saúde pública e na saúde mental de toda a sociedade. Como forma de proteger-se, a população precisou manter no início do surto o isolamento social, por conta disso bares, restaurantes e praias fecharam, a educação também sofreu impacto, as aulas passaram a serem remotas, vestibulares foram cancelados e uma incerteza sobre o fim desta pandemia se instalou na sociedade.

Assim, o jovem que já estava lutando contra seus dilemas da carreira profissional, ainda precisou encarar esta situação pandêmica. Neste sentido, investigou-se a interferência da pandemia na escolha profissional dos participantes da pesquisa, e pode observar que para algumas pessoas, ela foi um incentivo, conforme apresenta o quadro a seguir.

Quadro 1- Influência positiva da pandemia na escolha profissional.

R1: “Tive tempo de pensar mais”.

R2: “A pandemia confirmou ainda mais minha decisão pela minha atual profissão”.

R3: “Já tenho uma ideia de caminho a traçar, e a pandemia me auxiliou a conseguir um emprego melhor”.

R4: “Influenciou, pois, a educação em si já é um grande problema no Brasil. Em parte pelo método e sistema que oculta a verdade e o conhecimento propositalmente e em parte pela total ineficiência administrativa causada pelo Governo. Isso fez com que eu me dedicasse mais para aprender e mudar essa situação”.

Fonte: Própria do autor, 2020.

Em contrapartida para outros participantes a pandemia dificultou ainda mais a sua decisão.

Quadro 2- Influência negativa da pandemia na escolha profissional.

 R1: “As dúvidas aumentam e as incertezas também”.

R2: “A pandemia gerou muitas incertezas, não sei sobre o amanhã e na questão dos vestibulares está implicando bastante em minhas escolhas, não sei se farei o vestibular ano que vem ou somente no próximo”.

Fonte: Própria do autor, 2020. 

Já para alguns participantes a pandemia não influenciou sua escolha profissional, conforme apresenta o quadro a seguir.

Quadro 3- A pandemia não influenciou na escolha profissional.

 R1: “Já tinha feito minha escolha profissional antes da pandemia começar”.

R2: “Mantenho minhas decisões a respeito da carreira que pretendo seguir”.

R3: “Não acho que foi um fator determinante, pois a profissão que desejo poderia ser realizada mesmo com a pandemia em atividade”.

R4: “A pandemia não interferiu na minha escolha”.

R5: “Já tinha escolhido (com muita dúvida) antes da pandemia”.

Fonte: Própria do autor, 2020

As falas distintas destes jovens em relação a como a pandemia afetou a sua escolha profissional evidencia a trajetória singular de cada pessoa na construção de sua carreira, além disso, a necessidade de uma escolha clara do futuro profissional mostra-se essencial, pois a partir do momento que o jovem realiza uma escolha consciente, as adversidades que surgirem não colocarão à prova sua decisão. Neste sentido, pudemos perceber que foram afetados tanto positiva quanto negativamente os jovens que apresentavam certa dúvida em relação a sua ocupação. Já os participantes que tinham certeza sobre a sua escolha não sentiram que a pandemia interferiu na sua decisão.

4. CONCLUSÃO

A título de conclusão, a realização da pesquisa teve como motivação mapear os fatores que contribuem para a ansiedade em adolescentes que estão no processo de escolha da profissão. Desse modo cabe retornar a pergunta que orienta nosso trabalho: a de identificar se a ansiedade contribui na escolha profissional de jovens?

Desse modo, podemos dizer que sim, a ansiedade na amostragem feita, contribui para a escolha profissional do jovem. Os resultados obtidos acabaram encaminhando a discussão para diversas variáveis, tais como: estilos parentais, expectativas do futuro, indecisão, orientação profissional, pandemia, fazendo com que a matéria-prima da pesquisa, junto à pesquisa bibliográfica, fossem analisadas de modo a exprimir um entendimento integral das variáveis que compunham o contexto e a subjetividade deste indivíduo.

Desse modo foi percebido determinantes como ansiedade, angústia, medo, incerteza, família, pandemia como possibilitadores da indecisão no momento profissional. Essa indecisão faz parte de um conjunto de características intrínsecas ao desenvolvimento do adolescente, diante disto, é válido visualizarmos esses determinantes a partir de uma ótica eufemista, onde esta indecisão pode ser vista como uma tarefa saudável, que oferece tempo adicional para que o indivíduo possa tomar uma decisão legítima, baseada num planejamento futuro.

No que diz respeito aos sentimentos de angústia, medo, incerteza levanta-se a discussão da importância dos ritos de passagem no processo de amadurecimento, a família, escola e sociedade como um todo, deve, a partir de seus referenciais preparar as crianças/jovens para entrar no mundo adulto, além de criarem condições que funcionem como marcos norteadores que contribuam para o desenvolvimento da maturidade, convivência em sociedade e principalmente na minimização dos fatores de ansiedade nesses indivíduos. Nesse sentido a experiência terá um sentido organizador no psiquismo, organização essa que ajudará gradualmente o processo de compreensão do adolescente na passagem de uma etapa para a outra, sinalizando o novo papel social que ele deverá cumprir. Além disso, é digno de nota ressaltarmos a importância da família neste caminho que o jovem trilhará. Características como, autonomia, autoconfiança, conhecimento, são atributos que implicam diretamente no desenvolvimento e maturação de uma escolha profissional, nesse sentido a família entra como um pilar fundamental que sustenta e subsidia a escolha dos filhos. Concatenar os estilos parentais com o determinante família nessa pesquisa, favorece o entendimento da relação entre a ansiedade, escolha profissional e estilo parentais, que por sua vez reflete na escolha profissional e no desenvolvimento de uma função social. Nesse sentido preconiza-se, que os filhos criados sob a conduta de pais autoritários, tendem a ter menos indecisão, porém maiores índices de ansiedade e depressão, já no estilo indulgente podemos incluir uma maior indecisão, porém menor ansiedade e depressão no momento da escolha profissional.

Em última análise identificamos a ansiedade como determinante decisivo no processo da escolha profissional, localizamos ela inserida em todos os contextos explorados, englobando o âmbito individual, familiar e coletivo. Se faz necessário nesse sentido, uma política de orientação profissional concreta e efetiva, que deverá ser desenvolvida desde o profissional que irá orientar estes indivíduos e famílias, na própria família que como estrutura, auxiliará esse jovem na inserção ao mundo, até o próprio indivíduo, que com a condição e preparo de assumir responsabilidades frente aos eventuais acasos da vida, possa tomar decisões baseadas em suas próprias convicções e desejos.

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Enviado: Janeiro, 2022.

Aprovado: Julho, 2022.

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Wesley Rossi

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