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Mulher e crack: Uma revisão de literatura

RC: 81102
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CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

MATOS, Francisco Daniel Fernandes [1], LEITÃO, Ana Célia Diogo [2], ALVES, Samara Vasconcelos [3]

MATOS, Francisco Daniel Fernandes. LEITÃO, Ana Célia Diogo. ALVES, Samara Vasconcelos. Mulher e crack: Uma revisão de literatura. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 03, Vol. 15, pp. 82-93. Março de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/mulher-e-crack

RESUMO

Neste artigo foi discutido o uso do crack por mulheres, pois percebeu-se a necessidade de abordar o assunto devido as discussões trazidas por revistas científicas, pesquisas e outros em que apontam os homens como principais usuários. O objetivo é analisar as possibilidades pelas quais as mulheres buscam o uso do crack e suas respectivas finalidades. O método da pesquisa trata-se de uma revisão do tipo narrativa, sendo uma análise de literaturas publicados em livros, artigos e revistas, impressos e ou eletrônicas na interpretação a partir da análise crítica e pessoal do autor. A pesquisa foi realizada por meio de leituras do tipo exploratório, revisando literaturas que contribuíram na construção do texto. Os resultados e discursões da presente pesquisa surgiram a partir da análise sobre mulheres usuárias de crack e do modo como passaram a consumir a droga, mesmo em períodos de gestação. Sendo assim, o resultado da pesquisa poderá servir como novos arranjos e produções que possibilitam uma melhor compreensão desse assunto tão complexo, visto que o uso da droga por mulheres não se comete apenas por motivos banais, mas por escolhas ou situações quais elas passam: julgamentos morais, sociais e outros, assim, mesmo que essas escolhas de liberdade as coloquem em situações de violação dos seus direitos.

Palavras-chave: Mulher, Crack, Gravidez, Violência.

1. INTRODUÇÃO

Na sociedade contemporânea, o crack foi ganhando espaço em todas as camadas sociais, presume-se encontrar essa prática mais evidente entre pessoas que estão em vulnerabilidade social. Assim, buscando em literaturas nacionais que abordam essa temática, observou-se que as discussões trazidas por esses estudos sinalizavam que o crack estaria mais presente em grupos de homens do que de mulheres. Contudo, percebeu-se que entre os trabalhos escolhidos para a leitura e construção dessa pesquisa, é visto como um caso bastante complexo de abordar, principalmente quando se trata de mulheres como usuárias.

Por conta dessa questão, o presente trabalho busca realizar uma revisão literária sobre essa temática, por meio de artigos científicos de língua nacional que possibilite analisar e compreender como o crack passou a ser usado no âmbito feminino. Dessa forma, descontruindo a ideia de mulher romantizada, pura e frágil, incapaz de se tornar usuária de crack. Ao analisar os trabalhos, foi possível observar que o crack no universo feminino poderia está ligado às inúmeras questões, referentes às situações emocionais, sociais, familiares e/ou psíquicas.

Com isso, no assunto surgiu a partir de uma visita institucional realizada pelos autores da pesquisa no mês de dezembro do ano de 2019 a Casa Acolhedora de Sobral, Instituição que acolhe gestantes/mães usuárias de crack e seus filhos, com o objetivo de promover o desenvolvimento infantil e a reabilitação das mães usuárias de drogas. Sendo assim, o estágio supervisionado em um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS-AD) na cidade de Sobral – Ceará, em parceria com a Casa Acolhedora de Sobral, possibilitou a realização da visita.

Assim, foi possível se deparar com as realidades dessas mulheres que buscam apoio para a superação do uso da droga, acolhidas na Casa Acolhedora de Sobral. Dessa forma, a pesquisa buscou, por meio de um referencial teórico de pesquisas científicas que abordavam a temática de mulheres e o crack, compreender como as drogas adentram nesse universo feminino, pois pouco se discute em pesquisas, enquanto em relação ao gênero masculino os indicies de uso da droga são maioritários. Devido essa questão, observou-se a importância de estudar o uso do crack por mulheres, como elas se inserem nesse contexto, quais os motivos que levam a buscar o uso do crack estando ela grávida ou não, entre outras situações.

Ademais, segundo Limberger e Andretta (2015), em uma revisão de 2003 a 2013, estudos sistemáticos nacionais e internacionais realizaram pesquisas sobre consumo de crack, gênero e vulnerabilidade, sendo óbvio que esses trabalhos priorizam o sexo masculino, utilizando como referência para a compreensão do uso de drogas e da sexualidade feminina. Portanto, a compreensão da saúde, principalmente do uso de drogas na saúde da mulher, precisa ir além do âmbito da biomedicina para buscar uma compreensão mais ampla do processo saúde/ doença, incluindo a particularidade da mulher como corpo principal da sociedade.

Por isso, de acordo com Medeiros; Maciel e Sousa (2017), no contexto diverso das relações sociais, discutir o posicionamento do sexo feminino no contexto do uso de drogas é enfrentar um fenômeno complexo, cuja origem é impulsionada por estruturas simbólicas e representativas. Esta estrutura tem um pano de fundo político, ideológico e macro. Tendo um contexto que interliga e integra o consenso das pessoas sobre o pensamento e as drogas representativas no universo feminino.

Dessa forma, apesar de ser mais comum ouvir falar do uso do crack entre os homens, e por não ter tanta repercussão midiática do uso entre mulheres, tende-se a pensar que o consumo do crack afeta muito pouco esse gênero, portanto, é pouco perceptível o aumento do uso do crack por mulheres e por quais motivos essas mulheres buscam consumir essa droga. Segundo Medeiros et al. (2015), em pesquisa nacional realizada pela FIOCRUZ (BRASIL, 2013), estima-se que existam aproximadamente 370 mil usuários de crack no país, sendo 21,3% mulheres, com média de idade de 29,6 anos, solteiras (54%) e não -brancos (78%), em sua maioria com baixa escolaridade até o ensino fundamental (80%).

Além disso, de acordo com Fertig et al. (2016),ainda se identifica que o consumo de crack (droga) por mulheres necessita de estudos que retratem essa problemática em âmbito nacional. Com isso, é preciso investigar o significado do uso de crack por mulheres, buscando compreender através das histórias de vida e oportunizando conhecimento na configuração da hipótese que a mulher que vivencia o uso de crack pode apresentar demandas para saúde mental.

Segundo Medeiros et al. (2015), embora ainda seja reportado nas estatísticas que esta situação não é tão comum quanto a dos homens, o fenômeno do uso de drogas pelo  público feminino, principalmente o uso de drogas brutas, é preocupante por acarretar necessidades e desafios na vivência feminina e na política de saúde pública.

Sobre esse olhar, no qual o uso do crack por mulheres sinaliza uma postura preocupante as políticas públicas de saúde, diz de uma condição pelo quais os espaços voltados para a saúde da mulher se encontram despreparados para essa nova realidade. Sendo assim, os cuidados com mulheres que fazem uso do crack e que busca na rede de saúde pública apoio para a superação dessa droga podem ser uma das condições a serem levadas em questão nas pesquisas, apresentando mais do que apenas o número de mulheres que estão em tratamentos, assim, pode-se considerar que muito provável outros fatores de trabalhos na saúde da mulher possam estar associados às essas poucas informações.

Fertig et al. (2016) diz que o aumento no número de mulheres que usam crack pode refletir nas mudanças das relações interpessoais dos sujeitos e no papel da mulher na sociedade, mobilizando subjetivamente essa mulher a buscar prazer em resposta às novas necessidades sociais que geram depressão e sofrimento psicológico.

Portanto, há necessidade que novos arranjos de pesquisas sobre o uso de crack por mulheres sejam produzidos, possibilitando uma melhor compreensão desse assunto tão complexo. Visto que o uso da droga por mulheres não se comete apenas por motivos banais, mas possivelmente por escolhas ou não dos quais elas passam por julgamentos morais, sociais, religiosos e outros, mesmo que essas  escolhas de liberdade  muitas vezes  coloquem mulheres em situações de violação dos seus direitos.

2. METODOLOGIA

O presente estudo trata-se de uma revisão do tipo narrativa uma análise de literaturas publicados em livros, artigos e revistas, impressos e ou eletrônicas na interpretação a partir da análise crítica e pessoal do autor.

O processo para a coleta do material deu-se no período de fevereiro a abril do ano de 2020 e foi realizado de uma forma não sistemática. Foram pesquisadas bases de dados científicas, tais como: Scielo, Medline, Lilacs, Pubmed e Psycinfo.

3. CONTEXTUALIZANDO A MULHER E O USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS – CRACK

Por muitos séculos as mulheres foram excluídas das relações sociais, por serem consideradas um comportamento masculino. O papel da mulher estava ligado ao casamento, filhos e cuidados com as atividades relacionadas ao lar. Ao passar imagem de pureza e fragilidade, a mulher não ameaçava a estrutura social, puramente machista e excludente. Muito provável que essa repressão ao passar dos séculos contribuiu para o surgimento de movimentos feministas, levando o reconhecimento da mulher em espaços de trabalho, política, educação entre outros.

Por conta dessa historicidade em pleno século XXI, a mulher contemporânea ainda sofre com algumas demandas de preconceito pela sociedade machista, a conquista de espaços significantes surge por meio as questões políticas, familiares e sociais, fortalecido pelo discurso feminista, mediante sua presença dentro de uma pluralidade de gêneros. Ser mulher não impede de buscar a realização dos seus desejos e expressar com liberdade suas fantasias, sem medo ou culpabilidade da diferença que foi criada para diminuí-la.

Assim, segundo Limberger e Andretta (2015), para mulheres usuárias de drogas, o preconceito torna-se ainda maior porque, historicamente, a imagem da mulher como mãe, cuidadora e esposa não condiz com a imagem da mulher como usuária e / ou participante do tráfico.

Por isso, considerando o contexto histórico, o mundo contemporâneo frente a situações em que os papeis estão cada vez se constituindo por meio das relações, vem revelando o comportamento de muitas mulheres frente ao uso de substâncias psicoativas. Como nos apontam Sousa; Oliveira e Nascimento (2014), a imagem da mulher, historicamente construída, diferente da imagem do drogado e/ou participante do narcotráfico, contribuindo para o processo de invisibilidade das mulheres, dessa forma, o fenômeno das drogas é, portanto, mais suscetível a problemas sociais e de saúde para esse grupo populacional.

O uso de substâncias psicoativas por mulheres, especificamente o crack, implica inúmeros fatores os quais dizem de um comportamento que não esteja relacionado apenas em situações de conflitos pessoais, familiares e sociais, mas também fatores em comum a quem frequenta baladas, shows, festas particulares, lugares públicos e ambientes escolares. Assim, provavelmente quando a mulher busca usar pela primeira vez a droga não significa que seja apenas em situações provenientes de angústias ou por  viverem em ambientes de vulnerabilidade social,  mas possa ser um desejo  em suas particularidades.

Em decorrente a essa situação, as mulheres buscam experimentar, vivenciar sensações de prazer em outras substâncias mais fortes, no caso de muitas mulheres, no estudo de Medeiros et al. (2015) é mostrado que o fenômeno das drogas é, portanto, mais suscetível a problemas sociais, dessa forma,  a relação da mulher com o crack influencia nas  mudanças em  seu comportamento, tomando decisões pelos quais a falta da substância em seu organismo faz com que busque alternativas para o acesso a elas. Como Medeiros et al. (2015) aponta, o vício das mulheres geralmente é acompanhado pela falta de meios financeiros para obter drogas, o que pode levá-las a se envolverem em atividades ilegais ou sexuais em troca de drogas ou dinheiro, o que coloca cada um  em risco  para adquirir drogas. Adquirindo uma gravidez indesejada, infecção por HIV/AIDS ou outras doenças sexualmente transmissíveis.

Sobre esse olhar, alguns estudos trazem como fatores de risco os problemas de saúde patológicos, para posteriores os cuidados com os psicológicos e sociais sinalizados por Sousa; Oliveira e Nascimento (2014). Assim, no âmbito da saúde, em especial a saúde da mulher frente ao consumo de drogas, extrapola o âmbito da biomedicina, pois os profissionais devem ter uma compreensão mais ampla do processo saúde/doença e contemplar a particularidade da mulher como temática social. Para tanto, é importante compreender a situação da mulher na sociedade contemporânea, as relações sociais por ela estabelecidas e a desigualdade de gênero que permeia essas relações.

Com isso, considerando as relações sociais como norteadores das mudanças que ocorreram no contexto social, as mulheres que são usuárias de crack, mesmo inseridas nessa relação, ao ser declarada usuária rompem com o ideal de mulher perfeita e séria, e, por conta dessa exposição, acabam referenciando uma rotulação a partir da desigualdade de gênero. Segundo Limberger e Andretta (2015), as mulheres são marcadas como irresponsáveis prostitutas e criminosas por usarem, crack, e esses tipos rótulos não são consistentes com os comportamentos culturalmente esperados das mulheres, considerados comportamentos sexuais dóceis e frágeis.

Mesmo sem consumir droga a mulher sempre foi rotulada, devido os padrões de perfeição, como bem pouco tempo foi motivo de circulação nas redes sociais a famosa frase “recatada e do lar”, contudo, usuárias não se encaixariam a esse padrão, ou seja, o oposto das normas que moraliza o trabalho. Para Medeiros; Maciel e Sousa (2015) sinaliza que para Bucher (1992), as mulheres usuárias de drogas resistem às leis e às regras éticas que controlam a sociedade, portanto, causam “distância” no sistema social atual. A pressão de ser politicamente correta, e pelo encontro entre padrão e perfeição leva o número de mulheres crescerem ao uso de drogas.

Além disso, a relação da mulher com o mundo do crack é bem mais complexa, segundo Peixoto e Fonseca (2015), o uso abusivo do crack, na maioria das vezes, entra em cena na vida do sujeito para tamponar a realidade vivida, auxiliando o mesmo a fantasiar, alucinar, esquecer, muitas vezes aplacar a fome e os frios sentidos no corpo. Corpo este que é um depósito de marcas, carregadas por toda existên­cia, fruto de suas experiências. Dessa forma, não é possível associar o uso de drogas apenas a uma questão individual, é preciso ampliar o olhar acerca do fenômeno e identificar nesses usuários também um problema social.

4. UMA ANÁLISE SOBRE MULHERES EM PERÍODO DE GESTAÇÃO QUE FAZEM USO DO CRACK

A gestação é um momento marcante para a mãe (gestante) e para a família, é coberta de atenção e carinho, o desejo de ser mãe se realiza nesse momento, mesmo na dúvida com relação ao sexo do bebê. Em torno dessa gravidez muitas há muitas idealizações de um filho saudável, planos de vida são traçados para vinda desse filho a cada consulta realizada mensalmente, os corpos sofre mudanças dando sinais de que tudo estar acontecendo naturalmente até o dia do seu nascimento.

Em relação a mulheres usuárias de crack que se encontram gravidas, é mais complexo esse momento de gestação, há vários fatores sociais que podem estar associados numa gravidez desejada ou não, quando nesse momento o crack se faz presente na vida dessas mães usuárias, os efeitos causados pelo consumo durante a gravidez e a ausência de um acompanhamento ambulatorial podem apresentar riscos à saúde da mãe e ao período do desenvolvimento do feto.

Ribeiro et al. (2018) apontam que até o momento, estudos que investigam os efeitos do uso de drogas como o crack, nas grávidas nas quais têm apontado: a ocorrência de descolamento prematuro da placenta, a ocorrência de parto prematuro e os riscos cardíacos e pulmonares em mulheres grávidas. Em relação aos recém-nascidos, além da restrição do crescimento intrauterino, são descritas intoxicações agudas e síndrome de abstinência, complicações respiratórias, cardiovasculares e neurológicas.

Para que ocorra uma gravidez com menos complicações, é necessário um acompanhamento mais cuidadoso da Unidade Básica de Saúde, como também a conscientização da mãe sobre os futuros problemas que venham ocorrer por conta do consumo diário do crack. Problemas esses apontados no estudo de Ribeiro et al. (2018), no qual diz que a droga pode atravessar a placenta e a barreira hematoencefálica sem metabolismo prévio. Essas complicações não se limitam ao período pós-parto, pois as drogas chegarão ao leite materno, o que pode causar déficits cognitivos e perda materna.

Segundo Kassada et al. (2013), as mulheres que usam drogas na gestação representam um  sério  problema social e de saúde pública. As gestantes com dependência química apresentam baixa adesão ao pré-natal, menor participação no grupo de gestante e maior risco de complicações obstétricas e fetais. Além disso, a maioria das usuárias abandonam seus filhos ou são consideradas incapazes de cuidar de seus filhos pelo tribunal.

De acordo com Ribeiro et al. (2018), ainda que o uso de crack e cocaína durante a gestação seja descrito na literatura como um fenômeno crescente, poucos estudos têm crescido acerca da gestão sobre perspectiva de cuidado específico dessa população ainda durante a gestação. A respeito dessa situação, Kassada et al. (2013) acreditam que a gravidez de alto risco não se deve apenas ao uso dessa droga durante o desenvolvimento fetal, mas também aos riscos sociais e emocionais dessas mulheres. Portanto, é importante a implantação de serviços especializados para acompanhamento dessa população e detecção precoce do uso de drogas pela gestante.

Assim, mulheres grávidas usuárias de drogas pode ser considerado um problema de saúde pública, relacionado a essa situação, muitas instituições não governamentais procuram realizar um trabalho que esteja direcionado para esse público, proporcionando momentos de socialização com atividades pedagógicas, apoio psicológico, familiar e social.

Além disso, de acordo com Peixoto e Fonseca (2015), o crack traz grande efeito negativo. Na maioria dos usuários esses efeitos incluem aceleração do coração, aumento da pressão arterial, movimento mental, dilatação da pupila, da tem­peratura corpórea, sudorese, tremor muscular. O efeito no cérebro pode causar euforia, aumento da autoestima, indiferença à dor e fadiga, sensação de alerta, principalmente estimulação visual, auditiva e tátil. Os usuários também podem sugerir ideias de tontura e perseguição.

Por isso, em muitos casos, devido à grande quantidade de consumo de pedras de crack e longo prazo de uso, pode agravar a saúde mental. Em consequência a essa situação, a relação com a família tende a fragilizar e por meio a essa situação o usuário encontra o apoio que ele busca na rua de encontro a outros em mesma situação, no qual cada um apresente sua particularidade com o crack.

Assim, lugares onde a frequência de consumo de crack é bem maior, o ambiente desprovido de higiene básica, a forma como essa pedra estar sendo compartilhado pelos os usuários, o tempo de uso que se faz de uma pedra a outra ou mais outras possam ser fatores que estejam relacionados para o agravamento dos transtornos psíquicos que esses usuários apresentam. Assim, considerando também  outros tipos de problemas de saúde devido a imunidade baixa, os riscos de doenças infectocontagiosas são bem maiores.

Relacionado a esses fatores já discutidos e que possivelmente agravam os transtornos psíquicos, segundo Pasa e Almeida (2010),sintomas de agressividade e de psicose são apontados como fatores apresentados por usuários de álcool e crack.  Nesse sentido, Guimarães et al. (2008), a partir de estudo relacionado sobre o perfil de usuários de álcool e crack, afirmam ser provável a existência de um ou mais transtornos mentais em usuários de álcool e crack, sendo depressão e ansiedade os mais prevalentes.

Sobre efeitos causados pelo uso do crack em suas pesquisas, Limberger e Andretta (2015) esclarecem que um estudo brasileiro com 57 usuários de drogas descobriu que usuários de cocaína e cracks tinham depressão grave como morbidades, sendo eles, risco de suicídio; episódio maníaco; transtorno de ansiedade generalizada, etc. Em outro estudo brasileiro, identificou-se em 83,9% além dos transtornos por uso de substâncias, sendo aqueles que usam cocaína/ cracks atendem aos critérios diagnósticos para psicose; esquizofrenia; síndrome pré-menstrual; transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e transtorno de personalidade antissocial.

Com isso, esses sintomas podem estar relacionados aos fatores de vida do usuário, por conta dessa realidade, o crack passa ser causador de momentos de prazer, sensações de euforia, disposição, ou fuga da realidade.  Por essa situação, sérios problemas no campo da saúde vão colaborando para o surgimento ou agravamento de sintomas psicológicos existentes, que passa a ser simbolizados pelo craquelar da pedra.

Dessa forma, Peixoto e Fonseca (2015) esclarecem que não é possível associar o uso de drogas apenas a uma questão individual, é preciso ampliar o olhar acerca do fenômeno e identificar nesses usuários também um problema social. A intoxicação ocasionada pelo uso de drogas seria uma forma de lidar com o mal estar claramente imposto ao ser humano que habi­ta em sociedade.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A relação entre a mulher e o consumo de crack é um assunto bastante complexo e que se fazem necessárias reflexões sobre esse comportamento. Mesmo que haja literaturas sobre essa problemática, é importante que estudos estejam acontecendo e tragam novos olhares sobre essa situação que causam novas dependências químicas.

Frente a esse fato, esse estudo abordou a problemática do crack sendo usado por mulheres e percebido o impacto sobre o consumo de crack no universo feminino. Desse modo, houve possibilidade de ampliar o conhecimento sobre a problemática, na medida em que se permitiu olhar as possíveis causas que levam as mulheres ao consumo da droga.

Por outro lado, o presente estudo permitiu abordar sobre motivos que levam para o início do uso de crack, apontando fatores considerados de riscos para a saúde física e a saúde mental, assim foi possível visualizar o significado do uso de crack.

Para isso, foi importante fazer um breve discursão sobre os transtornos psíquicos e uso do crack, levando em consideração os motivos pelos quais o uso da droga e as dependências químicas venham desencadear sintomas psicossomáticos no usuário.

A esse fato, sobre o fenômeno crack no universo feminino, o trabalho abordou sobre o Cento de Apoio Psicossocial Álcool e Drogas – CAPS AD de Sobral que oferta o tratamento aos usuários de álcool e drogas. E sobre essa perspectiva tem como objetivo dentro das políticas públicas proporcionarem ao usuário um tratamento para a diminuição dos sintomas causados pela dependência química, como também a ressocialização desse usuário no convívio social e ou familiar.

A essa demanda estão os cuidados com as mulheres gestantes ou não que contam com o trabalho da Casa Acolhedora de Sobral, que oferta todo um acompanhamento exclusivo para mãe e seus filhos e mulheres grávidas que estão consumindo crack ou em abstinência da droga.

REFERÊNCIAS

FERTIG, Adriana. Et al. Mulheres usuárias de crack: Conhecendo suas histórias de vida. Esc. Anna Nery. vol 20.no.2, UFRGS. Porto Alegre, RS. 2016.

GUIMARÃES, Cristian Fabiano. Et al. Perfil do usuário de crack e fatores relacionados à criminalidade em unidade de internação para desintoxicação no Hospital Psiquiátrico São Pedro de Porto Alegre. Rev. psiquiatr. RS. vol.30 no.2 Porto Alegre Mai/Agt. 2008

PASA, Morgana Scheffer Graciela Gema. ALMEIDA, Rosa Maria Martins de.   Dependência de álcool, cocaína e crack e transtornos psiquiátricos. Psic.: Teor. e Pesq. vol.26 no.3 Brasília Jul/Set. 2010

PEIXOTO, Rafael Nunes. FONSÊCA, Ludimilla Lopes da.  Crack, Crack, Crack: o craquelar do sujeito em meio a uma sociedade proibicionista e moralizante. Revista psicologia, diversidade e saúde, vol 4, no.1. 2015.

KASSADA, Danielle Satie. Et al. Prevalência do uso de drogas de abuso por gestantes. Acta paul. enferm. vol.26 no.5 São Paulo 2013.

LIMBERGER, Jéssica. ANDRETTA, Ilana. Novas problemáticas sociais: o uso do crack em mulheres e a perspectiva de gênero. UNISINOS. São Leopoldo – RS no.15 abr. 2015.

MEDEIROS, Katruccy Tenório. MACIEL, Silvana Carneiro. SOUSA, Patrícia da Fonseca de.  A Mulher no Contexto das Drogas: Representações Sociais de Usuárias em Tratamento. Paidéia. USP, Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Programa de Pós-Graduação em Psicologia. vol 27 2017.

MEDEIROS, Katruccy Tenório. et al. Vivências e Representações sobre o Crack: Um Estudo com Mulheres Usuárias. Psico-USF Bragança Paulista, vol.20 no.3 Itatiba Set./Des. 2015.

SOUSA, Rebeca Rocha de. OLIVEIRA, Jeane Freitas de. NASCIMENTO, Enilda Rosendo do. A Saúde de Mulheres e o Fenômeno das Drogas em Revistas Brasileira. enferm. vol.23 no.1 Florianópolis Jan./Mar. 2014.

[1] Especialização em Especialização em Metodologia do Ensino Fundamental e Médio. Graduação em andamento em Psicologia. Graduação em História.

[2] Graduação em andamento em Psicologia.

[3] Orientadora. Mestrado em Saúde Da Família.

Enviado: Janeiro, 2021.

Aprovado: Março, 2021.

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