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A Pedagogia do Afeto na Prevenção da Síndrome de Burnout em Docentes: Estudo de Caso de Uma Escola Pública Estadual do Espírito Santo

RC: 13503
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CONTEÚDO

RIGUETTE, Pedro [1]

RIGUETTE, Pedro. A Pedagogia do Afeto na Prevenção da Síndrome de Burnout em Docentes: Estudo de Caso de Uma Escola Pública Estadual do Espírito Santo. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 02, Vol. 02, pp. 20-41, Fevereiro de 2018. ISSN: 2448-0959

RESUMO

O presente estudo trata da temática da implementação da Pedagogia do Afeto como proposta de prevenção à Síndrome de Burnout em Docentes. A perspectiva desta pesquisa sustenta-se sobre o pilar de uma busca para soluções que mostrem-se eficazes na profilaxia da Síndrome de Burnout, por meio da aplicação da Pedagogia do Afeto nos ambientes educacionais. Esta síndrome (burnout) tem provocado grandes danos na saúde e vidas pessoais dos profissionais ligados ao setor educacional, provocando grandes perdas em termos de capacidade técnica quanto de motivação e perdas de qualidade no processo ensino-aprendizagem. A Síndrome de Burnout, caso não seja tratada, gera outros agravantes ao corpo docente das escolas, como o alto índice de atestados médicos (afastamento do trabalho); o surgimento de agravos à saúde (hipertensão, diabetes, obesidade e outros); dificuldades nas relações interpessoais até chegar ao fim das atividades laborais, devido à incapacidade de lidar com essas situações. Quanto à metodologia a pesquisa foi realizada em um município do norte do estado do Espírito Santo, Brasil. Foram aplicados questionários estruturados a 100 (cem) professores atuantes na rede pública estadual, a fim de saber qual o grau de entendimento dos mesmos sobre a Síndrome de Burnout e sobre o conhecimento destes acerca da Pedagogia do Afeto e as suas possibilidades na profilaxia da referida síndrome. Foram entrevistados 100 (cem) professores, atuantes nos níveis fundamental e médio de educação básica, sendo 35 (trinta e cinco) da Escola Estadual de Ensino Médio “Wallace Castelo Dutra”, outros 35 (trinta e cinco) da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Pio XII”, outros 30 (trinta) da Escola Estadual Ensino Médio “Ceciliano Abel de Almeida” a fim de realizar uma investigação por meio de questionário estruturado. Os resultados obtidos e as conclusões chegadas, constataram que muitos fatores negativos são responsáveis por essa incidência, como: horário de trabalho extenso, ausência de atividade física, envolvimento emocional no trabalho e outros, entretanto, há melhorias quando o diagnóstico é realizado precocemente e o professor busca recursos para tratamento especializado.

Palavras-Chave: Síndrome, Burnout, Pedagogia, Afeto, Docentes.

1. INTRODUÇÃO

A síndrome de Burnout caracteriza-se por uma estafa relacionada principalmente ao trabalho, afeta principalmente os profissionais ligados a áreas onde o contato com pessoas é mais acentuado. Isto ocorre porque há um desgaste emocional vinculado ao processo de produção humanístico, cobrança de resultados, quase sempre, humanamente, inatingíveis que acaba por levar o indivíduo a uma situação extrema de cansaço, perda de emotividade, ou seja, o burnout ocorre quando certos recursos pessoais são perdidos, ou inadequados para atender às demandas ou não proporcionam retornos esperados, faltando ao indivíduo, estratégias de enfrentamento. As consequências para uma pessoa que esteja experimentando o estresse em um nível muito alto podem ser pressão alta, úlceras, irritabilidade, dificuldade para tomar decisões rotineiras, perda de apetite, propensão a acidentes, etc. Podendo ser dividido em três categorias: sintomas físicos, psicológicos e comportamentais (ROBBINS, 2005).

Em professores, dadas as cobranças que vêm ocorrendo, em termos de currículo, inovações, a escola assumindo cada vez mais obrigações que no passado eram divididas com a família, acabam por provocar um desgaste físico-emocional que, ao final conduz o profissional a um estado de adoecimento tal que provoca grandes danos à sua saúde, impossibilitando-o de exercer sua função com a devida capacidade técnico-profissional.

Desta forma, a proposta deste estudo foi de encontrar maneiras de reduzir e/ou solucionar os problemas provocados pela incidência da Síndrome de Burnout em docentes.

Como recurso apto para combater tal problema que afeta, sobremaneira a comunidade acadêmica, parte-se da proposta de que a Pedagogia do Afeto, uma vez implantada nas escolas, poderá contribuir para que a incidência de Burnout venha a desaparecer. Esta proposta parte do princípio de que quando o ser humano sente-se querido, reconhecido e respeitado em seu espaço de vivência social, sente mais potente frente aos problemas que, inevitavelmente, haverá de surgir. Paulo Freire coloca que assumir é cuidar, cuidar é amar, logo, assumir é responsabilidade e respeito e não obrigação (FREIRE, PRADO, 1999).

A assunção de nós mesmos não significa a exclusão do outro. A questão da identidade cultural, de que fazem parte a dimensão individual e de classe dos educandos cujo respeito é absolutamente fundamental na perspectiva educativa progressista, é problema que não pode ser desprezado. Tem a ver diretamente com a assunção de nós por nós mesmos (FREIRE, PRADO, 1999, p.47).

Portanto, o problema a ser abordado por esta pesquisa traz o seguinte questionamento: De que maneira a Pedagogia do Afeto pode contribuir para prevenir a Síndrome de Burnout nos profissionais da educação?

Definindo o problema de investigação, o presente estudo tem como seu objetivo principal elaborar uma solução possível e plausível que, por meio da implantação da cultura da Pedagogia do Afeto nos ambientes educacionais e sua aplicação prática, possa evitar e/ou reduzir o índice da Síndrome de Burnout em professores. Entre os objetivos específicos destacam-se: identificar como os docentes concebem a Síndrome de Burnout e reconhecem seus sintomas; esquematizar estratégias de intervenção para implantar a cultura da Pedagogia do Afeto no ambiente educacional por meio da formação de grupos de estudo; detectar a contribuição da Pedagogia do Afeto na prevenção de possibilidades de aparecimento da síndrome de burnout em profissionais da educação e seus efeitos no ambiente escolar, por meio das expectativas dos entrevistados.

A presente pesquisa justifica-se pela necessidade premente que vem ocorrendo nos últimos tempos de intervenção pedagógica como meio de prevenção no campo da saúde psicológica, em especial dos profissionais ligados ao campo educacional.

Portanto, muito mais do que uma doença silenciosa e que vai subtraindo as forças dos acometidos por ela, pouco a pouco, tem-se tornado endêmica à medida que as cobranças e as mudanças nas estruturas educacionais fomentam um limite a ser alcançado que torna insuficiente o máximo de esforço desprendido pelo profissional.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 SOBRE A SÍNDROME DE BURNOUT

O presente estudo em nível de doutoramento tem por intenção, investigar de que maneira desenvolvendo um trabalho em grupo, por meio da Pedagogia do Afeto pode-se alcançar melhoras em professores que estejam sob sintomas de Burnout, seria uma síndrome de exaustão emocional e de atitudes cínicas e negativas dos profissionais em relação aos sentimentos dos indivíduos para os quais dirigem o seu trabalho, visto que os seus recursos emocionais estão esgotados. As consequências da Síndrome de Burnout são muito sérias para os vários setores relacionados a educação: professor, aluno, instituição (escola) (REIS, et al, 2005).

De forma que o Burnout configura-se como uma doença que atua mais como catarse terrível, um sentimento patético de perda daquilo que nunca teve e que é impossível alcançar porque gera um sentimento semelhante ao Suplício de Tântalo[2].
Os formatos que o Burnout toma provoca sempre a ilusão de que são os outros, a situação, o mundo, a condição social que são responsáveis por toda aquela desestruturação psicológica.

A convivência social irá influir sobremaneira não só na manifestação da síndrome de Burnout, como no seu tratamento quando, por ocasião de que o indivíduo venha a sofrer de tal mal. Quando alguém sente-se querido e reconhecido, torna-se mais forte e mais capaz para enfrentar as adversidades que, inevitavelmente aparecem-lhe no dia-a-dia. Sentimentos como afeto, carinho, atenção são sempre bons elixires em qualquer hora, não somente e momentos de desesperança e depressivos.

Muitas pessoas que atuam em ambientes organizacionais, que exigem alta performance laboral, estão passando pelo problema, mas negam-se a admitir porque tornaram-se peças-chave dentro da empresa e por isto todo um discurso ideológico é construído sobre o indivíduo acerca de suas potencialidade e utilidade dentro do ambiente empresarial.

Com esta fala os autores abordam e referem-se à questão da desumanização do processo laboral levando o indivíduo a ser tratado como coisa, como mera res cogitans. A partir disto, surge, segundo Kernkraut (2013) um esgotamento emocional extremo caracterizado por sensação de exaustão emocional e inadequação, fadiga, frustração, perda de interesse pelas atividades cotidianas, afastamento da vida pessoal, perda de produtividade e apatia. Esses sintomas podem vir acompanhados de cefaleia crônica e problemas digestivos. Tudo isto porque ocorre uma somatização, um alerta desesperado do sistema emocional para que algo seja feito como forma de controle e eliminação da tensão.

No Brasil, pouco se tem feito para avaliar as repercussões do trabalho sobre a saúde do professor, cujos riscos são menos visíveis quando comparados a outros trabalhadores como metalúrgicos, petroquímicos etc (REIS, et al, 2005).

Segundo Vasconcelos & Faria (2008) atualmente, as práticas de Saúde Mental nas organizações coexistem com uma pressão por produtividade crescente, num ambiente extremamente competitivo, no qual o indivíduo deve estar sempre pronto para mudar e se adaptar às demandas do mercado. Nesse sentido, pode-se perguntar: quais as relações entre a Saúde Mental do trabalhador e as demandas organizacionais, especialmente as que exigem maior produtividade, agilidade, perfeição, criatividade e atualização constante? Desejar que o professor atinja objetivos, previamente traçados por burocratas que nunca pisaram em suma sala de aula é condená-lo ao suicídio profissional.

Segundo Jbeili (2011),

A síndrome de burnout se caracteriza pelo estresse crônico vivenciado por profissionais que lidam de forma intensa e constante com as dificuldades e problemas alheios, nas diversas situações de atendimento. A síndrome se efetiva e se estabelece no estágio mais avançado do estresse, sendo notada primeiramente pelos colegas de trabalho, depois pelas pessoas atendidas pelo profissional e, em seu estágio mais avançado, pela própria pessoa quando então decide buscar ajuda profissional especializada. Inicia-se com o desânimo e a desmotivação com o trabalho e pode culminar em doenças psicossomáticas, levando o profissional a faltas frequentes, afastamento temporário das funções e até à aposentadoria, por invalidez (JBEILI, 2011, p. 08)

Síndrome de Burnout constitui um estado de fadiga ou frustração causado pela devoção a uma causa, um estilo de vida, ou por um relacionamento que deixou de produzir a recompensa esperada. De acordo com Neubauer et al (apud Reinhold, 2004) caracteriza-se como um sentimento de grande tristeza em exaustão em relação ao trabalho, quando um grande dedicação é dada e as expectativas não são alcançadas, em grande níveis, a síndrome pode ser estendida para outras áreas da vida, por um processo chamado spillover ou derramamento.

2.2 A PEDAGOGIA DO AFETO NA CULTURA ORGANIZACIONAL

Dentro de uma organização e, a escola não é diferente porque esta engloba todo um corpus sistemático de situações, regras e vivências que modificam-se, por meio de ocorrências, naturais e/ou artificiais, inerentes ao espaço-tempo onde digladiam-se criaturas humanas, formando, o que pode ser chamado de cultura, cria-se moldes de atuação que caracterizam as entidades como sendo mais introspectivas ou extrospectivas, onde estas atitudes conduzem as pessoas que as formam a serem vistas e, consequentemente se sentir reconhecidas ou não, neste espaço social.

Cultura é, segundo Santos (1994, p.44-45)

Uma dimensão do processo social, da vida de uma sociedade. Não diz respeito apenas a um conjunto de práticas e concepções, como por exemplo, se poderia dizer da arte. Não é apenas uma parte da vida social como, por exemplo, se poderia falar da religião. Não se pode dizer que a cultura seja algo independente da vida social, algo que nada tenha a ver com a realidade onde existe. [Ou seja], diz respeito a todos os aspectos da vida social, e não se pode dizer que ela exista em alguns contextos e não em outros. […] é uma construção histórica, seja como concepção, seja como dimensão do processo social. [Portanto] […] cultura não é logo natural, não é um ocorrência de leis físicas ou biológicas. Ao contrário […] é um produto coletivo da vida humana.

Antropologicamente, o ser humano necessita de regras de convivência, sem as quais, a mesma viria a tornar-se inviável, insuportável, dadas as dimensões de formação da psique do homem civilizado. A este respeito Schopenhauer (2009) relata a lenda dos porcos-espinhos que, caso não tivessem aprendido a contornarem o problema de suas arestas, teriam perecido sob a catástrofe do frio.

Segundo Mendes (2010) cultura organizacional é um sistema de valores compartilhados pelos seus membros, em todos os níveis, que diferencia uma organização das demais. Em última análise, trata-se de um conjunto de características-chave que a organização valoriza, compartilha e utiliza para atingir seus objetivos e adquirir a imortalidade.

Portanto, por ser de caráter flexível, a cultura organizacional permite que novas construções sejam implementadas e uma delas pode ser a da Pedagogia do Afeto dentro do espaço escolar, entendendo que a mesma significa algo muito além de ser cordial, educado e simpático.

Importa inserir no espaço educacional o senso de cooperativismo e a motivação. Em hipótese alguma imaginar-se, a abdicação da concorrência e da disputa. Ambas são inerentes ao espírito social; porém, o que não pode vir acontecer é uma situação neurotizante, onde o desejo obstinado de vencer o outro chega a provocar situações encarniçadas.

Ao implantar a Pedagogia do Afeto no ambiente educacional pensa-se em primeiro plano, a criar condições para que todos sintam-se seguros ao encarar os desafios que aparecem, inevitavelmente, ao mesmo tempo em que tenta-se promover condições de trabalho, saúde, expectativas e expectativas de longo prazo na carreira docente.

2.3 RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO COMO CAUSA DA SÍNDROME DE BURNOUT

A escola moderna assumiu uma causa que, em tempos mais remotos não configurava-se como sendo de sua alçada e isto gerou uma sobrecarga nos professores que, aliada a um exagero de indiferença na atitude dos alunos, fez nascer a cobrança de resultados relacionados a postura ética e moral destes.

Neste campo de batalhas, o professor torna-se uma figura opaca, onde o que ele ensina é algo funesto para o aluno e as suas críticas ferem este orgulhoso ser que foi aclamado pelo meio bestial como doutor.

O trabalho cumpre uma função psicológica e social na nossa vida. A função social do trabalho consiste em permitir ao homem que ele realize a produção de objetos e serviços como também a produção de trocas sociais. Além da função social, o trabalho preenche também uma função psicológica, por ser sempre uma atividade dirigida ao outro. Ou seja, é no trabalho que encontramos de forma efetiva a possibilidade de fazer algo útil, inclusive, de dimensionar nossa atividade, de nos engajarmos num projeto com outras pessoas (LEAL, 2011, p.12).

A única arma de autoridade que o professor detém é o seu saber e se este é colocado em xeque, desmorona-se sua força vital. Nasce, a partir daí, uma relação desprovida de sentido, vazia, onde a transferência de poder ou a assimilação deste deixa de ocorrer de maneira sistêmica e positiva. O mestre deixa de ser uma figura fálica, um totem, para ser um palhaço de circo, um bobo da corte, ou seja, já não é mais aquele que detém o poder capaz de despertar o desejo de internalizá-lo em sua essência pelo educando.

Neste ínterim, as relações afetivas entre mestre e educando vão-se esvaindo, permitindo que o hiato formado seja preenchido pela indisciplina e, consequentemente pela violência simbólica, pela verbal e culminando na violência física.

Segundo Bichara:

(…) Ao contrário do que se pensa a curiosidade – o desejo de saber – não é “natural” no ser que tem como comportamento habitual o “Não quero saber”. Todo o percurso para se chegar ao conhecimento implica o embate contra essa atitude. Para saber, é preciso que a força do desejo epistemológico se sobreponha ao da ignorância. É pelo desejo que uma consciência se aproxima de outra, para se apropriar do objeto desejado e alcançar o reconhecimento de si mesmo no outro. O desejo promove a percepção de que o outro é outro da consciência, promove também a percepção de que não se pode pensar sem a presença de outros seres pensantes. O desejo de saber é oriundo da transformação da pulsão escópica em curiosidade, em ver o mundo, em conhecer as ideias, em discriminá-las. O olhar, porém, vem sendo dirigido para o não-olhar, o desejo e o pensamento se tornam objetos fetiches, mercadorias a serem consumidas cegamente. Para se realizar a atividade do pensamento, é necessária a presença de um incógnito, que também provoca uma intensa e aflitiva angústia, que mobiliza a formulação de um enigma, de algo a ser decifrado, o que implica um trabalho psíquico, um investimento libidinal – capaz de fazer ligação, transmissão e transformação -, o uso do aparelho de significar e interpretar e da razão objetiva. O deciframento do enigma é fonte de prazer de pensar, de comunicação, do uso das palavras, a expressão de afetos a ele relacionados. Anima a curiosidade intelectual, a criação e a expressão, tornando a realidade racional (BICHARA, 2003, p.42).

O adoecimento funcional acomete várias profissões; os professores são vítimas mais frequentes por circunstâncias específicas à profissão. E uma destas especificidades é a expectativa que nasceu em torno da educação, aliadas à frustração do trabalho, salas de aulas super-lotadas, desvalorização mercadológica da profissão, o estresse do trabalho docente, a indisciplina na sala de aula, a falta de infra-estrutura e de condições de trabalho, as várias cobranças dos gestores, entre outros vão se acumulando e se o profissional não tiver visão e sabedoria para lidar com esses problemas acaba doente. Esta questão de adoecimento vem mais em conta não somente porque o professor tem que se desdobrar em múltiplas facetas, mas de igual forma pela luta que vê-se obrigado a travar com um indivíduo que não quer estar ali, que não quer aprender, que não quer nada.

A função psicológica pode ser um recurso para o desenvolvimento do homem, ou caso contrário, o seu impedimento pode transformar o trabalho em adoecimento. É por isso que as pessoas, quando reduzidas à ociosidade forçada, como é o caso do desemprego, entram num processo de alienação, sentindo-se excluídas socialmente, já que o trabalho possui um papel fundamental na elaboração da imagem que cada um faz de si mesmo, determinando nossa forma de ser, de viver e de adoecer (LEAL, 2011, p.15).

Insistir com alunos que não querem nada ou que não sabe o que querem é muito desgastante. O desgaste causa aborrecimento ao professor, frustração e depressão. Termina, por fim, muitas vezes perguntando-se o porquê de ter feito tanto sacrifício para estudar, por que prepara-se tanto, se este nosso “cliente” não está interessado em pelo menos respeitar tamanho esforço. Aliás, este, vez ou outra ameaça bater ou tirar a vida de quem apenas lhe quer e propõe o melhor. O problema maior é quando esta ameaça chega às vias de fato. Aliado a isto há o fato de que a superlotação das salas (e mesmo quando elas não são tão cheias assim) gera uma concorrência desleal entre a voz do professor e as várias vozes de alunos que não se satisfazem apenas em falar, eles precisam gritar.

Segundo Leal (2011) o sofrimento no trabalho pode ser, então, atribuído a uma atividade contrariada, reprimida, que teve seu desenvolvimento impedido. “Trata-se então de uma amputação do poder agir que proíbe os sujeitos de dispor de suas ações, que não os deixa transformar seu vivido em recurso de vivência de uma nova experiência” (CLOT, 2006, p.10).

3. ASPECTOS METODOLÓGICOS

Para desenvolvimento desta pesquisa, considerando os objetivos propostos e o tema em questão, realizar-se-á uma investigação do tipo pesquisa-ação, que parte de uma inquietação pessoal do pesquisador para o entendimento do problema e uma intervenção por meio de investigação empírica.

A pesquisa foi de natureza qualitativa e quantitativa, considerando que a mesma será composta de entrevistas estruturadas. Os métodos qualitativos de investigação são de utilidade para o enten­dimento do contexto em que um fenômeno ocorre. Eles permitem a observação de vários elementos simultaneamente em um pequeno grupo. Esta abordagem é capaz de propiciar um conhecimento aprofundado de um evento, possibilitando a explicação e a análise de comportamentos (VICTORA et al., 2000).

Na pesquisa qualitativa se reconhecem os fenômenos sociais como processos complexos, multi- determinados, multidimensionais, em constante transformação, e articulados a variados significados e sentidos, o que exige recortar o objeto de maneira a explicitar o enfoque pretendido, sem perder de vista a contextualização (VASCONCELOS, 2002).

Os sujeitos a serem entrevistados serão convidados individualmente, sendo os contatos realizados de forma verbal e por e-mail, e o questionário será aplicado por escrito. A entrevista será realizada pessoalmente, no local de trabalho dos sujeitos, atendendo aos princípios da ética e da isonomia. Os dados coletados desta maneira contribuem para que se possa ter melhor êxito na análise, pois, eles descrevem e explicitam os aspectos interrogados de uma forma mais espontânea, levando em consideração o tempo, o local, como também as causalidades presentes que proporcionam explicações mais coerentes.

Depois da aplicação da intervenção pedagógica, será realizada uma entrevista estruturada a 8 (oito) professores atuantes na rede pública estadual de ensino do município de São Mateus – ES. Quanto à escolha da técnica da entrevista conforme explicita Laville & Dionne (1999, p.178), “tem a vantagem de se contemplar questões abertas e aplicadas verbalmente, podendo estabelecer-se uma previsão da ordem, além da possibilidade de solicitar ao entrevistado esclarecimentos sobre algumas questões que carecem esclarecimentos.”

A pesquisa foi realizada em um município do norte do estado do Espírito Santo, Brasil. Foram aplicados questionários estruturados a 100 (cem) professores atuantes na rede pública estadual, a fim de saber qual o grau de entendimento dos mesmos sobre a Síndrome de Burnout e sobre o conhecimento destes acerca da Pedagogia do Afeto e as suas possibilidades na profilaxia da referida síndrome.

Foram entrevistados 100 (cem) professores, atuantes nos níveis fundamental e médio de educação básica, sendo 35 (cinqüenta) da Escola Estadual de Ensino Médio “Wallace Castelo Dutra”, outros 35 (cinqüenta) da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Pio XII”, outros 30 (trinta) da Escola Estadual Ensino Médio “Ceciliano Abel de Almeida” a fim de realizar uma investigação por meio de questionário estruturado.

Para atingir os objetivos propostos neste estudo, foi utilizado como instrumento para coleta dos dados um questionário estruturado, com 15 (quinze) questões referentes o tema de investigação, e será aplicado a 100 professores da rede pública estadual do ES.

Posteriormente, será elaborada uma proposta de intervenção pedagógica e implementada a um grupo de 10 (dez) professores. Após a intervenção pedagógica, serão entrevistados os oito professores participantes, utilizando um questionário composto por 12 questões discursivas.

O questionário utilizado, na coleta de dados, contém 15 (quinze) perguntas objetivas e abertas relacionadas às variáveis da pesquisa, considerando as bases teóricas da Síndrome de Burnout e à Pedagogia do Afeto e ao final será feita a apreciação dos dados. Este método proporcionará uma abordagem a um maior número de entrevistados, o que permitirá adquirir uma maior abrangência representativa. A escolha pelo questionário baseia-se em Passos (2009, p. 49) “por esse instrumento de investigação cumprir pelo menos duas funções: a de descrever as características e as de medir as variáveis do grupo pesquisado.”

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A síndrome de burnout é uma preocupação, na atualidade, principalmente quando o assunto são os profissionais da educação. Tem-se espalhado o mito de que esta condição estafante e degradante da saúde física e psíquica do ser humano é característica de professores, o que não é uma verdade, em sentido estrito, muito menos é uma mentira, porque são estes os profissionais que mais têm-se sentido defrontados com tais problemas.

O questionário usou como ferramenta metodológica a Escala Likert, fazendo uso de questões fechadas, com opções para sim ou não, e em alguns momentos deixou em aberto, fazendo uso da opção “outros”, onde o entrevistado pudesse opinar de maneira pessoal sobre o que melhor aprouvesse-lhe. Foi aplicado durante o mês de março e os resultados foram organizados estatisticamente, em formato de gráficos, e os resultados são agora apresentados e discutidos, tomando por base a necessidade de esclarecimento e aprofundamento no campo da pesquisa laboral dentro dos espaços acadêmicos.

A primeira questão levantada pelo pesquisador foi para saber qual o grau de conhecimento que os profissionais da educação possuem sobre este mal, partindo do mais básico que é a sua conceituação.

E para surpresa foi constatado que do grupo entrevistado, quase a metade (55%) ignora o que seja o Burnout. Conclui-se disto que por mais que tenha-se a impressão de uma campanha em prol da busca por uma melhoria na qualidade do atendimento ao educador, o que em tempos onde a informação caminha a passos rápidos, não foi esclarecido a este sobre os riscos a que está constantemente submetido devido ao excesso de atividades e suas consequências para a sua saúde mental e física.

Uma outra questão apresentada pelo pesquisador foi sobre as causas da síndrome do burnout e 95% dos entrevistados a relacionaram a excesso de trabalho e apenas 5% a relacionaram a exaustão emocional. Esta questão levanta um sério questionamento, que é o de saber se os profissionais não estão dando conta das tarefas a que são designadas e com isto estão arrolando o problema para frente ou se não souberam diferenciar uma coisa da outra.

Entende-se, muito claramente pela resposta alcançada que os educadores não estão em condições de exaustão emocional, estão é sentindo-se sobrecarregados de coisas que conduzem ao sofrimento psicofísico, que podem ser consideradas: a sobrecarga quantitativa de trabalho, o resultado do excesso de atividades, as reuniões incessantes, a extensa carga horária, as diversas cobranças de alunos e da instituição, o senso de responsabilidade, o estabelecimento de prazos a serem cumpridos rigorosamente, entre outras (RIGUETTE, 2011).

As questões ligadas, diretamente ao trabalho docente é o rendimento acadêmico dos alunos. Para alcançar-se bons resultados faz-se necessário que haja interação e disciplina no ambiente de ensino-aprendizagem, no caso, a sala de aula, e, não havendo tal condição, forma-se uma situação de que passa a ser promotora de distúrbios e inconsistências no aspecto emocional do profissional

O excesso de exigências e responsabilidades e um ambiente de trabalho com vários aspectos desestimuladores, aliados ao alto nível de comprometimento e envolvimento dos professores, mostram que a demanda de energia do professor é maior do que o grau de reconhecimento que ele recebe. Dessa forma, é criada a situação propícia para o aparecimento de desgaste físico e emocional deste trabalhador (RIGUETTE, 2011, p.30).

Foi colocada a questão se “a falta de interesse dos alunos” pode ser fator de causa do ocasionamento de burnout. Dos entrevistados 50% responderam que sim e os outros 50% responderam que não.

Surge, a partir desta análise o entendimento de que está a ocorrer uma transferência de vingança contra o aluno. Antes, caso o aluno negasse a estudar, entender e compreender o problema não seria dividido com ninguém mais além dele próprio. Na atualidade, com as avaliações externas em larga escala e as premiações de cunho mercenarista colocadas pelo governo, torna-se imperativo que os alunos aprendam, apreendam, entendam e alcancem domínio e fluência acerca dos conteúdos ministrados.

Do grupo entrevistado 55% alegaram que a ausência de infraestrutura é fator predisponente a levar a desenvolver a síndrome de burnout em docentes, enquanto 45% responderam que não. São salas superlotadas, mal arejadas, o que gera calor excessivo, barulho dentro e fora da escola, desrespeito dos alunos, acúmulo de turmas em vários colégios, excesso de pressão dos gestores. Tudo isto pode causar bem mais do que frustração e desânimo ao receber o contracheque no final do mês. A falta de infra-estrutura e de condições de trabalho é considerada uma das principais causas doenças que afetam o magistério. São males que atingem o corpo e a mente e retiram, a cada ano, milhares de profissionais das escolas.

Esta falta de estruturação é devida, principalmente ao aumento da clientela escolar e em parte pela incompetência e ignorância dos engenheiros em projetar ambientes educacionais. Tomam por base pesquisas demográficas que retratam a redução na taxa de fecundidade, mas esquecem-se do contingente de crianças que ainda estão às margens do sistema educacional, excluídos deste.

O professor é um dos profissionais mais expostos a este desgaste. Esta categoria profissional é uma das mais cobradas nas últimas décadas, associado a falta de meios para realização de seu trabalho e a fragmentação do mesmo e ao aumento da demanda pelos seus serviços, formamos uma relação de cobrança para resolutividade e constante tensão (CARLOTTO, CÂMARA, 2004).

Um fato que despertou a atenção é que 10% pareceu totalmente indiferente à postura da gestão no ambiente escolar e 5% respondeu que a postura autoritária do gestor não provoca em nada nas predisposições à síndrome, enquanto 5% disse que, possivelmente[3], venha a interferir.

Uma questão em sentido oposto foi colocada pelo pesquisador, no sentido de abranger as variáveis da pesquisa, referentes ao quesito “influencia da gestão no ocasionamento da síndrome de burnout em professores.” Quando interrogados a respeito se um gestor que age democraticamente e de maneira afetiva com seu grupo, se esta postura contribui para evitar o aparecimento do burnout, 95% deles responderam que sim e 5% alegaram não saber responder.

Quando interrogados sobre a relevância das relações interpessoais como fator de interferência e/ou predisponência ao ocasionamento do Burnout em professores, 65% responderam que não, contra 35% que responderam afirmativamente à questão.

À medida que as relações intensificam, as construções são efetivadas e a cada nova elaboração mais intensas tornam-se estas situações e os laços colaboram para formar cadeias de apoio. Esta resposta só vem corroborar a ideia da desconstrução social dos laços afetivos, possivelmente, produzidos por meio das novas relações humanas que desvalorizam o ser humano como ser em si e por si.

A afetividade influencia de maneira significativa a forma pela qual os seres humanos resolvem os conflitos de natureza moral. A organização do pensamento prepondera o sentimento, e o sentir também configura a forma de pensar. Nesse sentido, a afetividade perpassa o funcionamento psíquico, assumindo papel organizativo nas ações e reações. Torna-se, assim, essencial que os professores saibam que toda a criança tem o potencial de gostar de si mesma, e que aprende a ver a si mesma tal qual as pessoas importantes que a cercam a vêem, pois, ela constrói sua autoimagem a partir das palavras, da linguagem corporal, das atitudes e dos julgamentos dos outros.

Quando interrogados sobre o apoio da comunidade na profilaxia de burnout, em professores, 90% dos entrevistados responderam que sim, enquanto 5% responderam que não, e outros 5% responderam que, talvez, entendendo este como “possivelmente”.

A relevância da relação professor e aluno para o sucesso do aluno e a manutenção da saúde psicofísica do mestre são fundamentais. As relações afetivas em sala de aula e coloca-se como um desafio para o educador pós-moderno, devendo este agir de forma que expresse o seu interesse pelo crescimento dos alunos, e assim respeitando suas individualidades, criando um ambiente mais agradável e propício para a aprendizagem.

Quando questionados sobre como dava-se a relação professor no ambiente educacional, os entrevistados responderam que as relações são muito afetivas (45%); pouco afetiva (30%); distante (20%) e no quiseram manifestar opinião (5%).

Muitas crianças descobrem o que é um abraço, um beijo, um afago quando pisam nas escolas, pois em casa são como filhotes de cobra; tem que fugir de seus pais para que estes não os devorem. Segundo Adler (s.d.) apud Mullahay (1975, p.152)

Todos os fracassos – neuróticos, psicóticos, criminosos, ébrios, crianças difíceis, suicidas, pervertidos e prostitutas – são fracassos porque lhes faltam o sentimento de solidariedade humana e o interesse social. Abordam os problemas de ocupação, amizade e sexo, sem a confiança de que possam ser solucionados por cooperação. O significado que dão á vida é um significado particular: ninguém mais é beneficiado pela realização de seus objetivos próprios e seus interesses não ultrapassam o limite de suas pessoas. O objetivo de sucesso resume-se a um objetivo de mera superioridade fictícia e seus triunfos só tem significado para eles (Ibid.)

A relação professor/aluno representa um esforço a mais na busca da praticidade, afetividade e eficiência no preparo do educando para a vida, numa redefinição do processo ensino-aprendizagem. Cada profissional deve ter claramente definido o seu papel nesse contexto social, onde esta relação aqui considerada passa a ser alvo de pesquisas, na busca do diálogo, do livre debate de ideias, da interação social e da diminuição da importância do trabalho individualizado. Neste novo paradigma educacional a interação professor/aluno ultrapassa os limites profissionais, escolares, do ano letivo e de semestres. É, na verdade, uma relação que deixa marcas, e que deve sempre buscar a afetividade e o diálogo como forma de construção do espaço escolar.

Quando os entrevistados foram confrontados com a questão da Pedagogia do Afeto, ocorreu que 70% responderam que, se implantada no ambiente educacional poderia contribuir para que as condições de stress dos professores pudessem ser reduzidas e/ou evitadas. 5% responderam que não e 10% disse que talvez e 5% responderam que desconhece a Pedagogia do Afeto.

Pode-se entender que os que foram enfáticos e entusiasmados esperam que as condições de convivência possam otimizar-se, enquanto os que foram categóricos em dizer não, encontram-se, possivelmente, em estado de total letargia frente aos obstáculos da vida, que não nutrem expectativas com relação a uma possível melhoria no trato entre as pessoas.

Ao grupo que respondeu que, talvez, fica-se na expectativa de que a escola tornou-se um laboratório de experimentos que sempre dão errado que, aqueles que encontram-se em meados de carreira, ficam entre a ânsia de que dê certo, e o conhecimento empírico de uma parafernália infinita de erros acumulados onde a culpa pelo fracasso de pesquisas e projetos mal planejados e mal executados recaem sempre sobre as costas dos professores.

O grupo que respondeu que desconhece a Pedagogia do Afeto está perfeitamente dentro dos níveis de desconhecimento sobre um tipo de trabalho que está sendo implantado no meio acadêmico. Da mesma forma que a síndrome do burnout, é nova para algumas pessoas, o antídoto também o deve ser.

Porém, o que espera-se é que esta proposta, uma vez implantada não seja vista como forma de prevenir e/ou evitar o ocasionamento do burnout em professores. A intenção é ir além, promovendo interação social entre profissionais da educação, comunidade e educandos.

CONCLUSÃO

Finalizado o estudo percebeu-se que a Pedagogia do Afeto pode colaborar para a criação de um clima organizacional equânime, porque trabalha com aspectos ligados à questão da cordialidade, doçura e polidez e, principalmente no quesito ‘respeito’. Este que encontra-se na base de toda a formação do conjunto de construções relacionais.

Chega-se a conclusões de que o mal do século é antes de burnout, a solidão, que leva as pessoas e em especial o professor que vive em um mundo solitário, repleto de ideias e construções mentais em alta velocidade e constância o que provoca e acelera seu processo de exclusão do mundo físico na maior parte do seu tempo.

Em consonância com as propostas apresentadas nesta conclusão, os professores entrevistados acreditam que a gestão educacional-escolar tem papel preponderante na manutenção de um clima organizacional saudável, levando, a construção de uma nova cultura organizacional escolar onde as pessoas envolvidas possam ter momentos de cordialidade e não rivalidade.

De igual forma, há que haver reciprocidade nesta troca de afetos, até mesmo porque a Pedagogia do Afeto não prega que irá transformar as pessoas em amigos, ou terá poder para solucionar conflitos que fogem, totalmente, ao controle das vontades. O máximo que poderá criar são caminhos que permitam aos educadores terem maior respeito aos outros e por seus moldes de vida e sistemas de trabalho.

Uma das soluções viáveis para combater-se a síndrome de burnout é criar mecanismos de apoio dentro dos ambientes onde convivem pessoas. Porque como ficou bem claro, por meio desta pesquisa, ele é uma doença que chega sem dar sinal aparente. Transforma a rotina em algo maçante, desgastante desde os mínimos conflitos até os mais elevados e complexos. E não trata-se de ter estrutura para suportar as nuances da vida ou do trabalho, o que ficou evidenciado é que qualquer um pode ser vítima porque as relações de base são as primeiras a serem destruídas, em seguida vem as relações de afeto, depois o isolamento, depressão, para seguir um quadro de total abstinência e perda de sentimento e ligação com o mundo real. E o mais grave é que o mundo virtual, também fica desgastado, sem um norte, sem um aparelhamento de defesa contra as armadilhas cotidianas.

Conclui-se, por fim, que a implantação de uma proposta embasada na Pedagogia do Afeto pode ser capaz de proporcionar aos professores maiores expectativas com relação ao desempenho de suas funções laborais e educativas. E muito mais que isto, permitir-lhes que dispensem o uso de pílulas mágicas que, em nada contribuem para o bem estar social e pessoal. Problemas suscitados como a questão salarial, deve ser levada em conta, mas antes há que ter-se em conta que tipo de vida deseja para si e para os mais próximos. Porque, eleva-se os salários, mas vale-se da lei que permite ter dois cargos, em breve estará em condições de stress e cansaços excessivos, um prisioneiro da própria ambição.

REFERÊNCIAS

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MULLAHY, Patrick. Édipo: Mito e Complexo – Uma Crítica da Teoria Psicanalítica. 3ª ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975. Cap. 5: As Teorias de Alfred Adler.

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[1] Doutor em Ciências da Educação pela Universidad Del Norte – UNINORTE – Assunção, Paraguay.

[2] Na mitologia grega, Tântalo foi um mitológico rei da Frígia ou da Lídia, casado com Dione. Ele era filho de Zeus e da princesa Plota. Segundo outras versões, Tântalo era filho do Rei Tmolo da Lídia (deus associado à montanha de mesmo nome). Certa vez, ousando testar a omnisciência dos deuses, roubou os manjares divinos e serviu-lhes a carne do próprio filho Pélope num festim. Como castigo foi lançado ao Tártaro, onde, num vale abundante em vegetação e água, foi sentenciado a não poder saciar sua fome e sede, visto que, ao aproximar-se da água esta escoava e ao erguer-se para colher os frutos das árvores, os ramos moviam-se para longe de seu alcance sob a força do vento. A expressão suplício de Tântalo refere-se ao sofrimento daquele que deseja algo aparentemente próximo, porém, inalcançável, a exemplo do ditado popular “Tão perto e, ainda assim, tão longe”.

[3] A expressão originalmente usada foi “talvez”.

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Pedro Riguette

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