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O reflexo da Educação Alimentar e nutricional escolar nas condutas alimentares dos alunos e seu impacto na saúde geral: Uma abordagem conjunta

RC: 51242
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CONTEÚDO

ARTIGO DE REVISÃO

SANTOS, Karen Souza dos [1], ARAUJO, David Santos de [2], BASTOS, Deborah Malta [3], SILVA, Hellen Glória Bandeira da [4], BARBOSA, Rebecca Viana Do Couto [5], JUNIOR, Valmir de Queiroz Costa [6], WAGNER, Yasmim da Fonseca [7]

SANTOS, Karen Souza dos. Et al. O reflexo da Educação Alimentar e nutricional escolar nas condutas alimentares dos alunos e seu impacto na saúde geral: Uma abordagem conjunta. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 05, Vol. 13, pp. 44-56. Maio de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/nutricao/reflexo-da-educacao

RESUMO

A Educação Alimentar e Nutricional (EAN) envolve a modificação e melhoria do hábito alimentar a médio e longo prazos e está relacionada às representações sobre o alimento, conhecimentos, atitudes e valores, exercendo, portanto, um grande papel em relação à promoção de hábitos alimentares saudáveis desde a infância, sendo que, na escola, as ações de orientação de promoção da saúde constituem importantes meios de informação e formação de hábitos. Nesse contexto, este artigo tem como objetivo analisar a importância da melhora alimentar nas escolas e os seus reflexos nas condutas alimentares de alunos, o que reflete em sua saúde geral. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica a partir de buscas para identificação de produções científicas, utilizando-se das bases de dados Scopus, ScienceDirect, SciELO, PubMed e Web of Science. Foram selecionados artigos entre os anos de 1997 e 2019. Inicialmente, foram selecionados 55 artigos, em seguida, baseando-se no enfoque do trabalho, artigos não julgados pertinentes ao tema foram cortados, restando os 29 trabalhos presentes nesta pesquisa. Pode ser observada, na literatura, uma vasta abrangência de estudos que abordam a educação alimentar nutricional e a ligação com o programa nutricional alimentar escolar como programa de assistência financeira suplementar, que tem grande influência pedagógica. Concluiu-se, portanto, que a educação alimentar nutricional tem como objetivo contribuir para a promoção e a proteção da saúde dos alunos por meio de uma alimentação que preze a qualidade e seja balanceada, para que, assim, o indivíduo possa ter seu crescimento adequado, diminuindo as possibilidades de ter doenças causadas pela má alimentação.

Palavras-chave: Alunos, educar e alimentar, escolas, nutrição.

1. INTRODUÇÃO

A Educação Alimentar e Nutricional (EAN) pode ser definida como uma estratégia que tem a finalidade de estabelecer novos hábitos tanto para o escolar quanto para a família. Diante disso, considerar que os hábitos alimentares de uma população específica necessitam ser modificados, mas há que se reconhecer que isso é, ainda, um árduo obstáculo para as políticas públicas e para o conhecimento nutricional, sendo que estes incluem interações entre seres humanos e seus hábitos (BOOG, 2013). Acredita-se que com a Educação Alimentar Nutricional sendo praticada pode se ter uma menor taxa nos casos de doenças com reflexo de uma má alimentação, como, por exemplo, as anemias. No entanto, a alimentação balanceada, variada e equilibrada tem sido pouco praticada pela população, o que está fortemente relacionado às mudanças de estilo no modo de viver (BOOG, 1997).

De acordo com Aquilla (2011), o Direito Humano à Alimentação Adequada, garantindo-se o direito à alimentação escolar para todos os alunos do Ensino Fundamental, existe e é garantido a partir da Constituição Federal de 1988, em que a saúde foi instituída como um direito assegurado por políticas sociais e econômicas. Consecutivamente, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2002) apresenta que a preocupação em criar políticas públicas e declarações oficiais com a pretensão de tornar diminutos os casos de doenças crônicas não transmissíveis começou a ser maior em 1990, incluindo o termo “promoção de práticas alimentares saudáveis”, sendo que, naquela época, o alto índice de desnutrição e anemias já eram os maiores problemas enfrentados pela população, e, hoje, mesmo com a obesidade atingindo uma grande parcela de pessoas em todo o mundo, ainda há um alto índice de casos de anemias.

De fato, a quantidade de crianças e adolescentes com obesidade tem aumentado em diversos países do mundo, e, no Brasil, essa realidade não é diferente. Nesse contexto, os estudos de Wang, Monteiro e Popkin (2002) mostraram que o meio em que as crianças vivem pode ser um dos maiores fatores de indução, pois muitos têm livre acesso à alimentação rica em conservantes e não há instrução sobre a importância da introdução de alimentos naturais, como as frutas, nas suas alimentações diárias. Nota-se que, infelizmente, as crianças não têm o poder de escolha e, na maioria dos casos, comem exatamente o mesmo que os seus pais costumam comer, ficando, por vezes, prejudicadas, visto que os dados do Centro de Nutrição em Saúde Pública da Universidade de Sidney mostram que, no Brasil, 47% da população além de ser sedentária, não se preocupa em fazer uma alimentação saudável (NSW, 2005).

Grande parte dos pais ou responsáveis concede aos seus filhos uma alimentação parecida com a que receberam quando crianças e adolescentes, como alimentos industrializados, ricos em açúcar e gordura, o que era extremamente comum não há muito tempo (SCHWARTZMAN et al, 2017). Esses alimentos, em excesso, prejudicam a saúde geral do indivíduo, tornando-o um adulto doente, sedentário e com problemas nutricionais graves. Todavia, a alimentação é, de fato, uma atividade constante e fundamental no contexto de desenvolvimento e relacionamento social. Parte desta alimentação se faz em meio a grupos e espaços sociais. Logo, a escola, nesse sentido, transcende o conceito simplista de local de estudo e passa a ser, também, local de alimentação e cooperação (SILVA; AMPARO-SANTOS; SORES, 2019).

Neste escopo, com o estabelecimento da  Educação Alimentar e Nutricional Escolar, (EANE), tem-se, dessa forma, o dever de apresentar, às crianças, uma alimentação variada e equilibrada, porém, deve-se deixar claro que nem sempre sua aceitabilidade é feita de maneira integral (BUSS, 1999). Diante deste contexto, o presente estudo tem como objetivo analisar a importância da EANE e os seus reflexos nas condutas alimentares de alunos e, para tanto, foi adotada a metodologia de pesquisa bibliográfica, realizada a partir de buscas para identificação de produções científicas utilizando-se das bases de dados Scopus, ScienceDirect, SciELO e Web of Science com o emprego de palavras-chave, como: “alunos”, “educação alimentar e nutricional”, “escolas” e “nutrição”.

Assim, esta pesquisa justifica-se, pois, a partir da contribuição destes conhecimentos, a EAN pode tornar-se importante estratégia para as escolas, fazendo com que seja garantido que a criança tenha acesso à todos os nutrientes essenciais à essa fase da vida, contribuindo, dessa forma, para o seu crescimento e seu desenvolvimento, tornando-se, assim, primordial para o alcance desse objetivo, com foco no estímulo à aprendizagem e na melhoria do rendimento escolar.

2. A OBESIDADE E A ANEMIA COMO PAUTAS SOCIAIS

A globalização da economia e o desenvolvimento tecnológico a nível de transporte, comércio e produção alimentícia, no decorrer do tempo, permitiram que as sociedades tivessem paulatinamente acesso à uma infinidade de alimentos. Contudo, esta disposição de alimentos, juntamente com outros fatores, como a diminuição do tempo para preparação, o consumo aumentado de refeições fora de casa, o aspecto da socialização no que tange a alimentação e o aumento crescente da oferta e procura por alimentos ricos em calorias, conduziram a sociedade uma realidade de sobrealimentação, causando, dessa forma, ao longo do tempo, danosas consequências para a saúde da população (BOTEIRO; LAMEIRAS, 2018).

Por vez, a transição nutricional, não só no Brasil, mas também em outros países, tem evidenciado, na sociedade, a manutenção de algumas deficiências nutricionais como a anemia (fome oculta) e o surgimento de patologias, como obesidade e sobrepeso, devido a essas rotinas estressantes e intensas que acarretam a ingestão de alimentos industrializados e fast food. Além disso, a persistência da desnutrição (fome real) existente em algumas áreas da população socialmente vulnerável torna mais complexo o enfrentamento do paradoxo entre desnutrição e obesidade, entre a escassez e os excessos. Nesse sentido, constitui-se a EAN como uma forma de se alcançar a promoção da saúde, prevenindo e combatendo esses problemas nutricionais (VASCONCELOS et al, 2019).

Cabe ressaltar, também, que, de fato, a obesidade é considerada um dos grandes vilões contemporâneos da saúde pública mundial, afetando todas as faixas etárias da população, e, dessa forma, uma especial atenção tem sido dada à ocorrência da obesidade em crianças e adolescentes, visto que esta faixa etária, possivelmente, representa fator preditivo para obesidade em adultos, ou, ainda, para doenças metabólicas, coronárias e cardíacas que anteriormente se manifestavam apenas em adultos. Estudos desenvolvidos em diferentes regiões do Brasil revelam que o aumento no número de casos de obesidade em crianças que ainda estão em idade escolar é alarmante, apesar de haver flutuações entre populações de locais diversos (ROSSI et al, 2019).

Para Rossi et al (2019), os fatores que causam a obesidade estão relacionados com combinações de fatores biológicos e ambientais, incluindo hábitos alimentares (consumo de alimentos de baixo valor nutricional e alta densidade energética), predisposição genética, condição social e econômica, estilo de vida e elementos psicológicos, sendo que, com a vivência na escola, a criança adquire inclinações que moldam sua cultura alimentar primária, devido a esta fase ser típica para a formação de hábitos e comportamentos que podem perdurar durante a vida adulta. No entanto, por mais que prevenir a obesidade seja um alvo principal no combate a diversas doenças, a cultura alimentar exerce uma influência bem mais ampla, afetando diversos outros âmbitos da vida.

A partir desta perspectiva, devem ser desenvolvidas estratégias, cujo objetivo seja aproveitar o potencial da instituição escolar como espaço de promoção de saúde e bem-estar, criando, dessa forma, hábitos alimentares saudáveis (ANDRADE et al, 2012).

3. A ALIMENTAÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR

É certo que os hábitos alimentares no contexto da primeira infância sofrem diversas interferências das atitudes dos pais em relação aos alimentos. Por tal motivo, identificou-se que algumas ações podem ser aplicadas para influir hábitos saudáveis de alimentação, tornando-se importantes como auxiliares ao desenvolvimento em relação à correta escolha de alimentos, sendo que os alimentos para esta faixa etária devem ser oferecidos para satisfazer as necessidades alimentares e nutricionais, a fim de cobrir as energias gastas com as atividades das crianças no dia a dia (SEDUC-RS, 2016). Já as práticas de alimentação escolar têm se tornado uma temática importante da agenda internacional ante às situações de insegurança alimentar e nutricional que acometem estudantes, dentre as quais se incluem a fome e o aumento da obesidade, além de problemas de saúde diversos que estão atrelados à alimentação na modernidade (SILVA; AMPARO-SANTOS; SOARES, 2019).

Efetivamente, a área escolar é defendida pela American Dietetic Association Foundation (ADAF)[8], como o lugar mais propício à aprendizagem e o mais importante para intervenções estratégicas ao ensinar aos alunos temas acerca de hábitos saudáveis de vida (BRIGGS; SAFAII; BEALL, 2003). Boog (2010) defende que a escola é um espaço relevante para o desenvolvimento de ações relativas a práticas alimentares salutares. Veiga-Neto (2007) entende que a escola continua sendo o principal ambiente de construção do mundo moderno e deve minimamente garantir a renovação das conquistas essenciais da modernidade. Para Libâneo (2007), o ambiente escolar se trata de um espaço de produção que mescla cultura e experiência, corpo discente e formalidade cultural, e, assim, essa simbiose deve acontecer dentro de seus estilos de vida e princípios sociais.

Nessa mesma linha de raciocínio, o estudo de Lameira (2018) mostra que o ato biológico de se alimentar não pode ser desvinculado dos significados atrelados à cultura da sociedade. O interesse deve estar em gerar a compreensão e a internalização dos preceitos pelos indivíduos, num processo refletido de educação, de forma a permitir o desenvolvimento da pessoa e a transmissão intergeracional do conhecimento. A ação educativa não deve apenas transmitir conceitos, mas também possibilitar sua síntese ou construção por parte do próprio indivíduo, contribuindo, então, para com a solidificação da estrutura do pensar e da prática individual. Os autores mostram, ainda, que a EAN pode tornar-se efetivamente útil para os indivíduos ao viabilizar o despertar da consciência crítica e da autonomia para agir em termos de práticas alimentares.

4. A OFERTA DE UMA ALIMENTAÇÃO DE QUALIDADE

A educação para a saúde dos adolescentes deve ser um importante tópico de preocupação, pois esta fase da vida é caracterizada por um momento de experimentação e construção de padrões para o comportamento como adulto. De tal forma, uma alimentação equilibrada durante a adolescência deve satisfazer o aumento das necessidades nutricionais durante este período, e, assim, estabelecer e reforçar os hábitos alimentares para toda a vida (LAMEIRA, 2018). Torna-se inegável que a qualidade da alimentação esteja diretamente relacionada à qualidade de vida. Além de influenciar diretamente a saúde e a longevidade do aluno, o que é ingerido durante as refeições reflete diretamente na capacidade de estudar e sentir prazer. Escolares estão, em sua grande maioria, em fase de crescimento e desenvolvimento, por isso, nessa etapa, é essencial que nutrientes imprescindíveis estejam presentes na alimentação (RAMOS, 2011).

Para Barbosa et al (2016), uma oferta da alimentação saudável e adequada, com a inserção da EANE no processo de ensino e aprendizagem no âmbito educacional público e filantrópico, incluindo, ainda, a realização do diagnóstico e acompanhamento do estado nutricional dos escolares, integra as ações do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), sendo uma importante ação governamental federal na suplementação alimentar das escolas, o que indica resultados favoráveis na formação sobre práticas alimentares saudáveis com vistas à modificação do consumo alimentar e à redução do excesso de peso dos alunos. Na análise histórica de Santos, Costa e Ribeiro (2015), os autores mostram que, devido ao início da preocupação do Governo Federal com a permanência dos alunos nas escolas e com a desnutrição infantil no Brasil, na década de 1940, as escolas públicas passaram a utilizar Caixas Escolares[9] para arrecadação de recursos para a compra de alimentos para os alunos.

Em 1950 foi publicado o Decreto-Lei nº. 37.106 que criou a Campanha da Merenda Escolar (CME)[10] e permitiu que os escolares recebessem doação de alimentos. Todavia, devido à redução do número de doações, a manutenção do programa se tornou necessária pelo governo brasileiro, e, por conseguinte, em 1960, deu-se início à aquisição de produtos nacionais para suprir a demanda na alimentação escolar. Em 1979, o PNAE foi instituído, conhecido popularmente por “merenda escolar”, cujo nome prevalece hodiernamente. No entanto, foi apenas a partir de 1998 que o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) passou a gerenciar o PNAE, que é uma autarquia do Ministério da Educação, cujo objetivo é colaborar com o desenvolvimento, aprendizagem e rendimento escolar.

Apesar disto, somente em 2009 é que veio o maior avanço do programa, com a publicação da Lei nº 11.947/2009 que tornou o PNAE acessível a toda educação básica, abarcando desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, inclusive a Educação de Jovens e Adultos (SANTOS; COSTA; RIBEIRO, 2015).

O PNAE é um dos mais antigos programas públicos de suplementação alimentar, tendo como proposta a suplementação das necessidades nutricionais diárias dos alunos matriculados, com vistas a garantir a Segurança Alimentar e Nutricional e contribuir para a formação de bons hábitos alimentares. Os beneficiários desse programa são alunos de toda a educação básica de escolas públicas, filantrópicas e entidades comunitárias conveniadas com o poder público, sendo gerenciado pelo FNDE, que visa à transferência, em caráter suplementar, de recursos financeiros aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios. Além dos recursos provenientes do FNDE, os entes federativos devem participar com a contrapartida financeira, a manutenção das estruturas das escolas, dos recursos humanos da unidade de alimentação escolar e das ações de EAN (ROCHA et al, 2018, p. 2).

O PNAE está pautado na universalidade e na ampliação do atendimento aos estudantes, com o objetivo de atender a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN)[11] e o Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional (SANTOS; COSTA; BANDEIRA, 2015). Desde 2009, tornou-se possível que o PNAE avançasse e isso acarretou avanços para a EANE, como a extensão para toda a rede pública de educação básica e de jovens e adultos, e, ainda, houve o estímulo ao desenvolvimento sustentável, com a garantia de que 30% dos repasses financeiros sejam destinados à aquisição de produtos da agricultura familiar, sendo priorizados produtos orgânicos ou ecológicos (SCHWARTZMAN et al, 2017). O PNAE considera importantes ações educativas que perpassam pelo currículo escolar e que abordam temas sobre alimentação e nutrição.

Incentiva, ainda, a inserção da EAN no processo de ensino e aprendizagem por meio de práticas que sejam saudáveis para a vida e que enfatizam a segurança alimentar e nutricional (SEDUC-RS, 2016). O programa tem como objetivo atender às necessidades nutricionais parciais dos alunos, contribuindo para a melhoria do desempenho escolar e diminuição dos índices de abandono e repetência escolar, fomentando a educação nutricional, bem como a construção de hábitos alimentares saudáveis (BRASIL, 2013). De acordo com Santos, Costa e Bandeira (2015), o PNAE institui, no mínimo, uma refeição diária com aproximadamente 350 quilocalorias (Kcal) e 9 gramas de proteínas para os alunos matriculados na rede pública de ensino e em instituições filantrópicas. Dessa maneira, a refeição escolar deve cobrir, no mínimo, 20% das necessidades diárias de cada aluno.

Considerando que o ato de comer é, geralmente, relacionado ao prazer, uma estratégia que diferentes escolas adotam e que tem se mostrado útil nesse convencimento, é a demonstração prática de que alimentos saudáveis também podem ser saborosos. Nesse aspecto, o ideal é que desde muito cedo a criança já tenha contato com os mais diversos tipos de alimentos, para, assim, adquirir bons hábitos e acostumar seu sistema gustativo a apreciar e sentir prazer com as experiências sensoriais que diferentes sabores, consistências e texturas podem proporcionar. A diversidade gustativa do paladar se desenvolve cedo, comprovadamente e embora reeducar seja mais difícil do que educar, essa tarefa não é impossível no ambiente escolar (SIDANER et al, 2013). Deve-se, também, estar atento ao que o PNAE dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar.

Considerando o contexto apresentado, deve-se frisar que essa alimentação deve respeitar não somente a oferta de refeições nutricionalmente adequadas compostas de gêneros alimentícios básicos, mas também deve possuir cardápios elaborados por um nutricionista responsável técnico pela alimentação escolar, como, também, é preciso que se considere outras premissas indispensáveis, como, por exemplo, o respeito às referências nutricionais e à cultura local, os hábitos alimentares e a tradição alimentar local, a sazonalidade do plantio e a diversidade agrícola da região, a participação social e a promoção da agricultura familiar, contribuindo para o Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional e para um melhor rendimento escolar, considerando a faixa etária e o estado de saúde dos alunos (RAPHAELLI et al, 2017).

O profissional de Nutrição é responsável pela execução do PNAE, cuja função é de coordenar o diagnóstico e monitoramento do estado nutricional dos escolares, planejar o cardápio, de acordo com a cultura alimentar, conhecer o perfil epidemiológico da população atendida e a vocação agrícola da região, acompanhar desde a aquisição dos gêneros alimentícios até a produção e distribuição da alimentação, e ainda, propor e realizar ações de educação alimentar e nutricional nas escolas. Sem a supervisão destes profissionais os alunos tornam-se expostos constantemente ao risco de consumirem refeições contaminadas ou impróprias (SANTOS; COSTA; BANDEIRA, 2015, p. 316).

A EAN propõe um compartilhamento de responsabilidade, e, por isso, destaca-se a necessidade não apenas de descrever a equipe multiprofissional responsável pela ação e/ou programa, mas também, a promoção do papel de cada elemento da equipe ao longo do processo educativo (CERVATO-MANCUSO; VINCHA; SANTIAGO, 2016). Em uma visão geral, Sidaner et al (2013) apoiam a ideia de que o aporte de verba do PNAE para a compra de alimentos produzidos por famílias agricultoras e por empresas familiares rurais eleva a oferta de produtos frescos e in natura (SIDANER et al, 2013). Porém, para o sucesso desta inserção, o cardápio escolar deve ser aceito pelos escolares, sendo que tanto a escola quanto a família têm papel crucial na formação de bons hábitos alimentares. Os cardápios disponibilizados frequentemente, os alimentos ou as novas preparações precisam de avaliação quanto à aceitação, fazendo uso de testes de aceitabilidade (RAMOS, 2011).

O estudo de Cervato-Mancuso et al (2013) elucida que a aceitação de alimentos é influenciada por vários fatores, como a familiaridade com a comida, que resulta de experiências pessoais, revelando-se fundamental a exposição à um determinado alimento várias vezes, com diferentes formas de preparação, para que a criança possa galgar mudanças de forma definitiva em sua dieta. Não obstante, todo o respaldo sobre como a alimentação saudável deve ser compreendida, a EAN também abarca áreas como o desperdício e a redução de alimentos. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO)[12], cerca de 30% dos alimentos produzidos em solo brasileiro são desperdiçados, quer nos supermercados, quer no momento da produção ou quando são rejeitados pelos consumidores.

Nas escolas, a conscientização sobre os prejuízos do desperdício de comida e os benefícios com a sua redução criam senso de responsabilidade na criança que está em constante aprendizado. A partir desse conceito, ações de educação e de correção que promovam o desenvolvimento de conscientização são altamente necessárias e eficazes para que nasça um comportamento ideal e consciência crítica quanto a alimentação (ANDRADE et al, 2012). Um fator que também deve ser considerado é a presença das cantinas nas escolas, que ainda parecem interferir na adesão ao PNAE, podendo representar uma forte limitação à EANE. Portanto, deve ser apreciada a possibilidade de proibição de diferentes alimentos, como bebidas de baixo valor nutricional (exemplos: refrigerantes e sucos em pó), bem como também a restrição de alimentos com alta quantidade de gordura, sal e açúcar (BUBOLZ et al, 2018).

Consequentemente, Bizzo e Leder (2005) chegam à conclusão de que a estratégia de promoção de saúde nas escolas depende de várias pessoas como alunos, professores, coordenadores, donos de cantinas e pais ou responsáveis, concedendo para que as abordagens e o assunto sobre nutrição estejam presentes no dia a dia. Da mesma forma, como em todos os princípios da formação das crianças, delegar totalmente uma tarefa é uma decisão errônea. Não adianta querer que o filho coma uma banana no lanche do final de semana se os pais preferem comer outro alimento rico em calorias. Da mesma maneira, de nada serve o professor ensinar sobre os benefícios dos nutrientes presentes nos sucos naturais se ele é visto pelos corredores da escola ingerindo refrigerante (BOOG, 2010). Para a EAN ter eficácia, aulas de qualidade devem ser feitas frequentemente, abordando sempre sobre alimentação presente na escola e compondo o projeto pedagógico proposto.

Deve-se haver treinamentos dos professores e de todos os outros atores sociais envolvidos para que se fortaleça a compreensão de que a mudança dos hábitos alimentares escolares é necessária (BARBOSA et al, 2013).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da temática exposta, entende-se que a EANE tem a finalidade de contribuir para a promoção e a proteção da saúde do corpo discente por meio de uma alimentação balanceada que esboça seu desenvolvimento humano conforme as políticas públicas ligadas à alimentação e nutrição e contribui de maneira vultuosa no controle do avanço da prevalência das doenças crônico-degenerativas, melhorando, assim, a saúde geral. A promoção da saúde no ambiente escolar tem papel estratégico por conta da expansão de acesso ao público infantil para tal desenvolvimento da educação alimentar. Já o PNAE apresenta grande influência pedagógica, não apenas no direcionamento de suas diretrizes ao fornecer nutrientes e alimentação saudável aos escolares cotidianamente, mas também a partir de seu programa, que visa agregar valores para desenvolver um ambiente de educação a ser explorado.

De tal forma, constatou-se, a partir das reflexões aqui elencadas, que a EANE precisa trazer melhora em relação ao hábito alimentar dos discentes a longo prazo, possibilitando que cada um assuma, com plena consciência, a responsabilidade pelos atos relacionados à alimentação. Embora educar para a saúde seja responsabilidade de diferentes segmentos, a escola é instituição privilegiada que pode se transformar num espaço genuíno de transformação a partir da promoção dos conceitos de saúde, sendo as ações da EAN de responsabilidade do ente público educacional. Por fim, é importante ressaltar que ainda são muitos os caminhos a serem trilhados rumo à consolidação da prática de gestores, educadores e de nutricionistas quanto ao entendimento do papel da alimentação e, também, da educação nutricional e alimentar no âmbito escolar.

REFERÊNCIAS

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APÊNDICE – REFERÊNCIAS DE NOTA DE RODAPÉ

8. A Associação Dietética Americana foi fundada em Cleveland, Ohio, em 1917, com o objetivo de ajudar o governo na conservação de alimentos e melhorar a saúde e nutrição do público.

9. Caixa Escolar é a pessoa jurídica, que possui número de CNPJ, que emite cheques (ordens de pagamento à vista), que é a tomadora de serviços e a responsável pela gestão financeira das escolas públicas brasileiras. O instituto “caixa escolar” foi implantado em Minas Gerais em 1911.

10. A CME vinculada ao Ministério da Educação e Cultura, contou inicialmente com a ajuda de doações internacionais de alimentos, sob os auspícios da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a partir da atuação de Josué de Castro e outros atores sociais imbuídos da árdua e complexa tarefa de combate à fome no país.

11. Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006.

12. A FAO é uma agência especializada das Nações Unidas que lidera os esforços internacionais para erradicar a fome no mundo.

[1] Graduada em Nutrição e Pós-graduada em Nutrição Clínica, Ortomolecular e Fitoterápica. Pós-graduada em Unidade de Alimentação e Nutrição.

[2] Graduado em Odontologia, Especialista em Saúde Coletiva e Especialista em Disfunção Temporomandibular.

[3] Graduada em Nutrição e Pós-graduada em Nutrição Clínica.

[4] Graduada em Farmácia e Pós-graduada em Farmacologia Clínica.

[5] Graduada em Odontologia e Pós-graduada em Ortodontia.

[6] Graduado em Enfermagem e Pós-graduado em Urgência e Emergência.

[7] Mestrado em andamento em Cognição e Linguagem. Especialização em Segurança, qualidade e gestão em alimentação para coletividade. Especialização em Patisserie. Graduação em andamento em Nutrição. Graduação em Gastronomia.

Enviado: Maio, 2020.

Aprovado: Maio, 2020.

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Karen Souza dos Santos

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