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Livros Acadêmicos

8. Características de pacientes obstétricas admitidas em Unidade de Terapia Intensiva

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Patrícia Saraiva Araújo [1]

Priscila Ferreira Saraiva [2]

Gilson Rogerio Becil de Oliveira [3]

Jiovania Barbosa Maklouf de Oliveira [4]

DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/livros/1762

 

INTRODUÇÃO

Na assistência à saúde da mulher, é necessária atenção especial durante o ciclo gravídico-puerperal, quando esta pode desenvolver diversas complicações obstétricas e não obstétricas que podem requerer internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) (FERRACINI et al., 2017).

O período gestacional é um fenômeno marcado por alterações sistêmicas e fisiológicas ​​ que para a maioria das mulheres se desenvolve sem grandes intercorrências. Entretanto, há gestantes que por condições genéticas ou por situações traumáticas tendem a ter maiores chances de desfechos desfavoráveis, tanto para o feto quanto para a genitora. Os dados indicam que as internações em UTI periparto estão aumentando em frequência com um número notável de mulheres afetadas, que comumente apresentam múltiplas comorbidades, despertando um alerta para o risco de morte materna, ou seja, aquela que ocorre durante a gestação ou dentro de 42 dias após o término, devido a qualquer causa relacionada à gravidez ou por medidas relacionadas a ela (SILVA et al., 2020; FARR et al., 2017; SAINTRAIN et al., 2016).

Esse é um grave problema de Saúde Pública, pois evidencia o nível de desenvolvimento de uma população. Cerca de 99% de todas as mortes maternas ocorrem nos países em desenvolvimento. A maioria destes óbitos poderia ser evitada se os sistemas de saúde permitissem o acesso das usuárias a serviços com qualidade. No Brasil, aproximadamente 92% das mortes maternas são consideradas evitáveis, e ocorrem, principalmente, por causas como hipertensão, hemorragia ou infecções puerperais. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que essas causas são evitáveis, seja por ações relacionadas ao acompanhamento no pré-natal, ao atendimento durante o parto, ou por ações durante o puerpério (SILVA et al., 2020; MENEZES et al., 2020; SAINTRAIN et al., 2016).

Segundo Menezes et al., (2020), a falta de investimento em saúde pública e a desigualdade social são fatores que afetam diretamente a saúde das gestantes e puérperas, que dependendo da localização regional, o acesso aos serviços de saúde são baixos ou inexistentes. Assim como as complicações médicas decorrente de um mau acompanhamento durante a gestação, representando um desafio para os médicos na UTI que muitas vezes necessita do envolvimento de uma equipe multidisciplinar (LATAIFEH et al., 2010). Diante disso, o objetivo deste estudo é identificar as características de pacientes obstétricas admitidas em Unidade de Terapia Intensiva.

CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS

As características sociodemográficas de gestantes e puérperas internadas em UTIs no Brasil são diversas e dependem de vários fatores, incluindo a região geográfica, o nível socioeconômico, a idade e o estado de saúde. No entanto, é possível identificar algumas tendências comuns entre essas mulheres.

Em geral, as gestantes e puérperas internadas em UTIs tendem a ser jovens, com idades entre 20 e 35 anos. Muitas são primigestas, ou seja, estão grávidas pela primeira vez (SILVA et al., 2020).

De acordo com Saintrain et al., (2016), quanto ao nível socioeconômico, é comum que as gestantes e puérperas internadas em UTIs sejam de baixa renda e moradoras de áreas urbanas. Muitas vezes, essas mulheres têm pouco acesso a informações e serviços de saúde adequados durante a gravidez, o que aumenta o risco de complicações. Além disso, muitas não têm acesso a um pré-natal adequado, iniciam tardiamente diminuindo o número de consultas, o que pode contribuir para o aparecimento de problemas na gestação e não ser diagnosticado a tempo doenças evitáveis. Os resultados do estudo mostram que em 33,5% dos casos, não existia registro de cuidados pré-natais nos prontuários das pacientes.

No Brasil, a falta de investimento em saúde pública e a desigualdade social são fatores que afetam diretamente a saúde das gestantes e puérperas. Em muitas regiões, faltam hospitais e centros de saúde com equipamentos e profissionais capacitados para atender essas mulheres de forma adequada. Isso pode resultar em atendimento tardio ou inadequado, o que aumenta o risco de complicações e internações em UTIs (MENEZES et al., 2020).

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

As gestantes e puérperas internadas em UTI apresentam características clínicas variadas, dependendo do motivo da internação. Algumas das condições mais comuns que podem levar à internação em UTI são:

  • Pré-eclâmpsia/eclâmpsia: aumento da pressão arterial e presença de proteínas na urina durante a gravidez, o que pode causar problemas graves para a saúde da mãe e do feto.
  • Parto prematuro: o nascimento do bebê antes do tempo previsto pode ser necessário devido a complicações durante a gravidez, como infecções, desproporção cefalopelviana, entre outros (GUPTA; GANDOTRA; MAHAJAN, 2021).
  • Complicações do parto: sangramento excessivo (hemorragia pós-parto), infecções, distócia de ombros, entre outros.
  • Complicações cardiorrespiratórias: insuficiência cardíaca, insuficiência respiratória, pneumonia, entre outros.
  • Outras complicações médicas: sepse, tromboembolismo, entre outros (FARR et al., 2017; OLIVA et al., 2003).

Além disso, as gestantes e puérperas internadas em UTI também podem apresentar sinais de ansiedade, medo e estresse devido à situação de internação e aos cuidados intensivos que estão sendo recebidos. É importante destacar que o tratamento em UTI pode ser intensivo e invasivo, incluindo o uso de ventilação mecânica, drogas vasoativas, nutrição parenteral, entre outros (MENEZES et al., 2020; PAXTON; PRESNEILL; AITKEN, 2014).

FATORES ASSOCIADOS À INTERNAÇÃO

Existem diversos fatores que podem estar associados à internação de gestantes e puérperas em UTI, incluindo:

  • Fatores médicos: a idade materna avançada, histórico de gravidez prévia complicada, o histórico de doenças crônicas, complicações durante a gravidez ou o parto, como pré-eclâmpsia/eclâmpsia, parto prematuro, complicações do parto, insuficiência cardiorrespiratória, sepse, entre outros, podem requerer tratamento intensivo em UTI.
  • Fatores socioeconômicos e demográficos: a falta de acesso a cuidados pré-natais adequados, falta de recursos financeiros para cuidados médicos, baixo nível de escolaridade, a vivência em condições de pobreza e vulnerabilidade social podem aumentar o risco de complicações durante a gravidez, parto e puerpério. Tanto mulheres do interior quanto mulheres de grandes centros urbanos, que teoricamente têm maior acesso aos serviços de saúde, podem ter uma evolução clínica ruim devido a distúrbios por causas evitáveis, e consequentemente, necessitar de internação em UTI.
  • Fatores comportamentais: o uso de álcool, tabaco ou drogas, a falta de adesão às orientações de saúde durante a gestação, entre outros, podem contribuir para o aumento do risco de complicações.
  • Fatores ambientais: a exposição a agentes tóxicos, como a poluição, o aumento da temperatura global, entre outros, também podem aumentar o risco de complicações durante a gestação e o parto (KRAWCZYK et al., 2021; FARR et al., 2017; GUPTA; GANDOTRA; MAHAJAN, 2021; SAINTRAIN et al., 2016).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com isso observa-se que as internações de gestantes e puérperas em UTI pode estar associada a uma combinação de fatores médicos, principalmente relacionada às síndromes hipertensivas, sepse e hemorragias; fatores sociais; econômicos; demográficos; comportamentais; ambientais; clínicos e assistenciais, evidenciando a importância de vastas intervenções para melhorar esses indicadores.

Para reduzir o número de internações em UTI obstétrica, muitas estratégias podem ser adotadas, colocando em destaque a importância da realização do pré-natal, no qual inclui a identificação de fatores de risco e sua modificação, diagnóstico prévio, tratamento de patologias, assegurando um suporte nutricional à gestante, e acesso ao programa de imunização materna, assim como uma melhor assistência quanto às características clínicas das mulheres, com o intuito de minimizar os riscos obstétricos e neonatais. O manejo ideal da mãe geralmente constitui o melhor tratamento para o feto, além de uma UTI bem estruturada para reduzir o índice de mortalidade obstétrica.

REFERÊNCIAS

CROZIER, T. General Care of the Pregnant Patient in the Intensive Care Unit. Seminars in Respiratory and Critical Care Medicine, v. 38, n. 02, p. 208–217, 22 abr. 2017.

FARR, A. et al. Outcomes and trends of peripartum maternal admission to the intensive care unit. Wiener klinische Wochenschrift, v. 129, n. 17–18, p. 605–611, 18 set. 2017.

FERRACINI, A. et al. Potential Drug Interactions and Drug Risk during Pregnancy and Breastfeeding: An Observational Study in a Women’s Health Intensive Care Unit. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia / RBGO Gynecology and Obstetrics, v. 39, n. 06, p. 258–264, 1 jun. 2017.

GUPTA, H.; GANDOTRA, N.; MAHAJAN, R. Profile of obstetric patients in intensive care unit: A retrospectivo study from a terciário care center in North India. India Journal of Critical Care Medicine, v.25, n.4, p.388-391, abr. 2021.

KRAWCZYK, P. et al. Pregnancy related and postpartum admissions to intensive care unit in the obstetric terciário care center – an 8-year retrospective study. Ginecologia Polska, v.92, n.8, p.575-578, 2021.

LATAIFEH, I. et al. Indications and outcome for obstetric patients’ admission to intensive care unit: A 7-year review. Journal of Obstetrics and Gynaecology, v. 30, n. 4, p. 378–382, 12 mai. 2010.

MENEZES, M. O. et al. Risk factors for adverse outcomes among pregnant and postpartum women with acute respiratory distress syndrome due to COVID‐19 in Brazil. International Journal of Gynecology & Obstetrics, v. 151, n. 3, p. 415–423, 24 dez. 2020.

OLIVA, R. V. et al. Resultados Perinatológicos del serviço de cardiopatia y embaraço del hospital ginecobstétrico “Ramon González Coro” en El biênio 2000-2001, Habana. Revista Brasileira Saúde Materno Infantil, v.3, n.1, p.49-60, Jan./Mar. 2003.

PAXTON, J. L.; PRESNEILL, J.; AITKEN, L. Characteristics of obstetric patients referred to intensive care in an Australian terciário hospital. Australian and New Zealand Journal of Obstetrics and Gynaecology, v.54, n.5, p.445-449, 2014.

SAINTRAIN, S. V. et al. Factors associated with maternal death in an intensive care unit. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v. 28, n. 4, 2016.

SILVA, D. C. E. et al. Perfil de pacientes obstétricas admitidas na unidade de terapia intensiva de um hospital público. Revista Baiana de Enfermagem‏, v. 34, 15 jun. 2020.

SOUZA, M. A. C.; SOUZA, T. H. S. C.; GONÇALVES, A. K. S. Fatores determinantes do near miss materno em uma unidade de terapia intensiva obstétrica. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, v. 37, n. 11, p. 498-504, 2015.

[1] Enfermeira, Especialista em Obstetrícia e UTI Neonatal, Mestranda em Biologia da Interação Patógeno Hospedeiro – Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia). ORCID: 0000-0002-5615-0409. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/6283940358811787.

[2] Enfermeira, Pós-graduanda em Obstetrícia – Faculdade Metropolitana de Manaus (FAMETRO), Mestranda em Biologia da Interação Patógeno Hospedeiro – Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia). ORCID: 0009-0003-3386-2491. Currículo lattes: https://lattes.cnpq.br/5695578251309809.

[3] Enfermeiro, Pós-graduando em UTI – Faculdade de Venda Nova do Imigrante (FAVENI). ORCID: 0009-0005-7937-3970. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/1396465762286672.

[4] Enfermeira, Pós-graduanda em Obstetrícia – Faculdade Metropolitana de Manaus (FAMETRO). ORCID: 0009-0008-8244-8074. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/8584888569873944.

Patrícia Saraiva Araújo

Patrícia Saraiva Araújo

Enfermeira, Especialista em Obstetrícia e UTI Neonatal, Mestranda em Biologia da Interação Patógeno Hospedeiro - Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia). ORCID: 0000-0002-5615-0409. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/6283940358811787.

Uma resposta

  1. Agradeço imensamente aos meus colegas de profissão Priscila, Rogério e Giovania por embarcarem comigo na ideia e juntos concebemos esse trabalho. Aos leitores, esperamos contribuir para o conhecimento. Obrigada a Núcleo do Conhecimento pela oportunidade!

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