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Mudanças econômicas, sociais e espaciais da avenida Juscelino Kubitschek (Campina Grande – Paraíba) ao longo do período de 1960/70 a 2017

RC: 122339
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CONTEÚDO

ENSAIO TEÓRICO

BRITO, João Paulo da Silva [1]

BRITO, João Paulo da Silva. Mudanças econômicas, sociais e espaciais da avenida Juscelino Kubitschek (Campina Grande – Paraíba) ao longo do período de 1960/70 a 2017. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 07, Vol. 05, pp. 25-45. Julho de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/historia/avenida-juscelino-kubitschek

RESUMO

Ao longo da história e com o intenso crescimento populacional, o planejamento urbano das cidades faz-se necessário, em face da adequação de sua estrutura à conjuntura de funcionamento na contemporaneidade. Na cidade de Campina Grande (CG), na Paraíba (PB), uma vez que é uma cidade populosa do estado e importante centro de comercialização e produção tecnológica, não seria diferente esse centro urbano seguir essa lógica. A expansão e utilização da avenida Juscelino Kubitschek (JK) identificam-na como uma avenida de grande influência na área onde está localizada, principalmente após a sua requalificação urbana, refletindo em outros bairros circunvizinhos dando ênfase tanto no meio social, como também no econômico, justificando esta pesquisa em sua totalidade. O presente estudo surgiu com a seguinte questão-norteadora: quais as principais mudanças e impacto da revitalização que ocorreram na avenida JK? Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo explorar e analisar as mudanças econômicas, sociais e espaciais da Avenida JK ao longo do período de 1960/70 a 2017. Com relação a metodologia da presente pesquisa, trata-se um trabalho de abordagem qualitativa de caráter descritivo, sendo método de amostragem não probabilístico baseado na coleta de dados bibliográficos como artigos, monografias, livros, imagens cartográficas, buscando evidenciar as expectativas sobre o estudo das mudanças econômicas, sociais e espaciais das localidades e entorno a Avenida JK. Considerou-se que importantes benefícios foram percebidos, o que melhorou e facilitou o seu cotidiano, fortalecendo a descentralização socioeconômica, o que possibilitou um aumento do comércio local. As atividades comerciais apresentam-se assim como as atividades fundamentais no crescimento demográfico e na urbanização da Avenida. A modernização ocorrida na avenida JK perpassa vários investimentos públicos ou privados, que caracterizam a configuração espacial da área transformando-a em sua estruturação, o que concretiza complexas relações socioeconômicas.

Palavras-chave: Avenida Juscelino Kubistchek, Campina Grande, Paraíba, Revitalização.

1. INTRODUÇÃO

Ao longo da história, e com o intenso crescimento populacional, o planejamento urbano das cidades faz-se necessário, em face da adequação de sua estrutura à conjuntura de funcionamento na contemporaneidade. Estas mudanças são de essencial importância para o progresso social, desenvolvimento econômico e o bem estar da população em geral.

No tocante ao espaço urbano, pode-se afirmar que a cidade e a realidade urbana dependem do valor de uso (CARLOS, 2019), e este fato pode ser observado na expansão e utilização da Avenida JK, justificando esta pesquisa, pelo fato de identificar-se como uma avenida de grande influência na área onde está localizada, principalmente após à sua requalificação urbana, refletindo em outros bairros circunvizinhos, dando uma ênfase bastante importante, tanto no meio social como também na dinâmica econômica.

Na cidade de CG – PB, cidade populosa do estado, e importante centro de comercialização e produção tecnológica, não seria diferente esse centro urbano seguir essa lógica. Emancipada em 11 de outubro de 1864, a cidade começou uma trajetória de desenvolvimento com as mudanças estruturais (estéticas e organizacionais), acontecendo de forma rápida principalmente nas décadas de 60 e 70, no intuito de atender as necessidades de produção econômica e social na época (OLIVEIRA, 2019).

CG hoje é uma cidade com características históricas peculiares e que passou por vários processos de renovação. Compreender em si esses processos faz-se necessário fazer um desmembramento histórico de cada estrutura relevante no processo geográfico (FERREIRA, 2014). Assim, esta pesquisa surgiu a partir da vivência cotidiana e observação acerca da avenida citada, por suas características históricas, sociais e as respectivas mudanças, principalmente no aspecto econômico.

É notável a ausência de um resgate histórico de ruas e avenidas que marcaram e ainda marcam o contexto histórico-social local. Ao se tratar de uma cidade caracterizada pelo dinamismo econômico e por sua contribuição histórica à cultura local e regional, faz-se necessário construir meios para a preservação dos espaços que retratam as memórias de sua população, permanecendo vivos na identidade do povo diante dessas profundas alterações estruturais no espaço e no tempo.

A expansão e utilização da avenida JK identificam-na como uma avenida de influente na área onde está localizada, principalmente após a sua requalificação urbana, refletindo em outros bairros circunvizinhos, dando ênfase tanto no meio social como também no econômico, justificando esta pesquisa em sua totalidade.

De acordo com Costa (2012), a modernização ocorrida na Avenida Juscelino Kubitschek norteia vários investimentos quer seja de caráter público ou privado que caracterizam a configuração espacial da área transformando-a em sua estruturação, concretizando complexas relações sociais e econômicas.

Nesse sentido, o presente estudo surgiu com a seguinte questão-norteadora: quais as principais mudanças e impacto da revitalização que ocorreram na avenida JK? Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo explorar e analisar as mudanças econômicas, sociais e espaciais da Avenida JK ao longo do período de 1960/70 a 2017.

Para que sejam contempladas todas essas características, inicia-se no primeiro tópico relembrando a respeito das características históricas da avenida JK, No segundo será discorrido sobre as características do projeto de reforma da avenida, e por fim no último tópico será contemplada a transformação da cidade e a contribuição da revitalização da via como um todo nos aspectos sociais, econômicos e políticos.

2. METODOLOGIA

Trata-se um trabalho de abordagem qualitativa de caráter descritivo, sendo método de amostragem não probabilístico baseado na coleta de dados bibliográficos e documentais, englobando artigos, monografias, livros, imagens cartográficas, buscando evidenciar as expectativas sobre as mudanças econômicas, sociais e espaciais das localidades e entorno a Avenida JK, as principais características do antes e atual.

3. AVENIDA JK E SUAS CARACTERÍSTICAS HISTÓRICAS

A valorização da memória urbana na atualidade tem adquirido maior relevância, em função da necessidade de as sociedades resgatarem a identidade do lugar, a fim de possibilitar a preservação de sua cultura, conhecendo seus erros e acertos, em uma tentativa de reorganização urbana e de fomentar a economia local e regional (MENDES; SILVA; SILVA. 2014). Conforme Abreu (1998) relata, o passado das cidades brasileiras está sendo revalorizado, e a preservação do que sobrou das paisagens urbanas anteriores é um objetivo que ultimamente vem sendo resgatado, destacando-se o poder público.

3.1 A AVENIDA JK E SUA HISTÓRIA

A história da avenida JK está atrelada ao desenvolvimento de CG, pois esta avenida em toda sua extensão corta vários bairros do eixo sul da cidade. Antes, a mesma não tinha nenhuma importância para os bairros pela qual a avenida cortava, com sua requalificação e a mudança de rua para avenida, a mesma passou a ser uma via principal destes bairros, onde trouxe valorização geográfica e imobiliária aos bairros vizinhos e em especial ao Presidente Médici (COSTA, 2012).

Silva (2011) ressalta que a abordagem associada do espaço e do tempo constitui um dos desafios para ciências humanas como um todo, e que entender as múltiplas trajetórias espaço-temporais que toma a cidade capitalista, além de necessário, nos permite aproximar da realidade conflitante e contraditória na qual vivemos. Abreu (1998, p. 83) destaca que “há de se ter cuidado, entretanto, com a memória individual, já que, por definição, ela é subjetiva. Isto quer dizer que fazemos da nossa memória o que bem queremos”. Todavia para realizar essas tarefas é importante que, no momento certo, saibamos perpassar a insegura característica das memórias e que ingressamos nos campos mais seguros do conhecimento histórico e geográfico.

CG é o segundo município em população do estado, e exerce grande influência política e econômica sobre os municípios vizinhos (FERREIRA, 2014). A avenida JK está localizada no estado da PB na zona sul do município da cidade de CG, que se inicia a partir do bairro do Jardim Quarenta até o bairro da Catingueira e ainda pode ser encontrada no Distrito Industrial desse município, além de outros bairros localizados nos entornos (COSTA, 2012).

Figura 1: Mapa 1 da Avenida JK

Mapa 1 da Avenida JK
Fonte: Prefeitura Municipal de CG.

O passado é uma das dimensões mais importantes em sua periculosidade, materializado na paisagem, preservado na memória, na cultura e no cotidiano dos lugares, não é de se estranhar que seja ele que vem dando o suporte mais sólido à essa procura de diferença (ABREU, 1998). Nesse sentido refletir acerca das características históricas, conflui em entender o antes e o depois, a fim de que se possa ser verificado a beneficência ou não.

Para Abiko (1990 apud ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995, p.45), “as reflexões incidentes sobre a situação habitacional nos grandes centros urbanos mostram que as soluções mais significativas encontradas pela população pauperizada para resolver seu problema imediato […]”.

Abreu (1998) ressalta que o entendimento do processo observacional se dá mediante a conjunção da análise e de hipóteses, o entendimento teórico das características desenvolve-se juntos e vão se estimulando concomitantemente, é um viés empírico que resulta caracteristicamente de um conjunto de reflexões que se multiplicam e interagem entre si. Deixando essas questões de lado, o mais fundamental é percebermos que o resgate da memória urbana não pode se limitar à restauração de formas materiais herdadas de outras épocas. Como já sabemos, a memória tem uma dimensão individual, mas muitos dos seus referentes são sociais, e são eles que permitem, para além das memórias individuais que são únicas por definição, temos também a memória intersubjetiva, a memória partilhada e a memória coletiva.

Em meados aos anos de 60 a 70, a avenida não existia ainda, se tratava de um caminho onde só tinha terrenos com plantações, no qual se praticava a criação de gado e outros animais, o qual dava acesso a Catingueira (bairro mais distante de CG), as pessoas usava esse caminho para ir o cemitério do cruzeiro a partir da década de 70 criou-se uma rua de chão batido onde ela iniciava no primeiro contorno que é onde ela faz a junção com o Almirante Barroso (COSTA, 2012).

A avenida em si, quando passou a se denominar rua, na verdade ela teve seu início delimitado no começo do Santa Rosa, onde já era relativamente habitado, então completaram-se a avenida a partir dali, do gerador e seguindo em frente como sentido o Velame As pessoas que se viviam no local viviam basicamente da realização de atividades características do modo de vida rural e conservam costumes típicos do estilo de vida feudal, como por exemplo, criar e ordenhar o gado de forma manual, vender o leite pelas ruas, etc, e nesse momento a avenida ainda não tinha uma grande significância para o bairro. Essa nova organização espacial permite a existência de novas formas e conteúdos que antes não eram vistos (FERREIRA, 2014).

3.2 MEMÓRIAS DO ANTES E SUAS RESILIÊNCIAS

No Brasil, esta tendência ao resgate da memória é inédita e reflete uma mudança significativa nos valores e atitudes sociais até agora predominantes, isso, pois depois de um longo período em que só importava o que era novo, um período que resultou num ataque constante e sistemático às heranças vindas de tempos antigos, eis que atualmente o cotidiano urbano brasileiro vê-se invadido por discursos e projetos que pregam a restauração, a preservação ou a revalorização dos mais diversos vestígios do passado (ABREU, 1998)

Em CG, a avenida JK, após as transformações iniciais, foi revitalizada no intuito de garantir maior fluidez na mobilidade espacial, garantindo a expansão urbana na cidade, a construção de uma área de lazer e de prática de esportes para a população dos bairros que residem próximo à área, consolidar a lógica de reprodução do consumo na periferia da cidade, projetando-se também uma zona de pedestres e ciclistas. A lógica de reprodução do consumo na JK evidencia esse contexto marcado pela expansão da urbanização para as áreas periféricas, bem como a sua requalificação para atender aos interesses do capital imobiliário, industrial e comercial (COSTA, 2012).

Para Souza (2013), as pessoas que se apropriam da cidade e se mantêm basicamente da realização de atividades características do modo de vida rural conservam costumes que por vezes são considerados atrasados pela maioria dos citadinos, como, por utilizar animais e carroças de tração como meio de transporte, ordenhar o gado manual, vender o leite pelas ruas, etc., para ele esses costumes rurais, geralmente, contradizem a lógica urbana dominante na produção da cidade, a qual é produzida pelos governantes e pelos proprietários fundiários como “espaço concebido”.

Figura 2: Curral ao lado da moradia do criador.

Curral ao lado da moradia do criador
Fonte: Souza (2013).

Em meados dos anos de 60 a 70 a avenida não existia, era um caminho onde só tinha terrenos com plantações o qual dava acesso a Catingueira (bairro mais distante de CG) o pessoal usava esse caminho, inclusive para ir o cemitério do cruzeiro, a partir da década de 70 criou-se uma rua de chão onde ela iniciava no primeiro contorno que é onde ela faz a junção com o Almirante Barroso (FERREIRA, 2014).

Figura 3: Contorno que faz a junção com o Almirante Barroso

Contorno que faz a junção com o Almirante Barroso
Fonte: Google Maps

Em relação às transformações ocorridas nas cidades no decorrer do tempo, a velocidade de transformação é muito grande, o que caracteriza uma possibilidade de abertura de novos caminhos para a sociedade com mudanças profundas da composição e das atividades da classe dominante, que influem em um todo na sociedade (ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995).

A avenida em si, quando passou a se denominar rua, na verdade ela teve seu início delimitado no começo do Santa Rosa, no qual já era relativamente habitado, então completaram-se a avenida a partir dali, do gerador e seguindo em frente no sentido o velame. Foi quando se criou o conjunto presidente Médici, a qual tinha outra avenida paralela um pouco distante que dava acesso para o conjunto presidente Médici, no final do conjunto Presidente Médici (COSTA, 2012).

Acácio Figueiredo é um bairro brasileiro localizado na zona sul da cidade de Campina Grande, na (PB). Surgiu na década de 70, e nessa época a área foi loteada por decreto da prefeitura da cidade que objetivava expandir a zona urbana, sendo entregue algumas glebas a uma parcela privilegiada de agricultores locais. Os moradores mais antigos denominam o bairro de “catingueira”, já que antigamente existia no local a vasta ocorrência de uma árvore chamada de catingueira, típica do semiárido nordestino (SAMPAIO, 2019).

Em outro momento, iniciou-se a expansão, no intuito de alargar mais a avenida, que ainda era de chão batido de terra, e os moradores reclamavam bastante da poeira resultante do chão batido e a passagem de carro que começaram a transitar mais por ela o que se consolidava, e ela foi alargando, todavia sem pavimentação, foi quando no governo de Félix Araújo Filho, que antes de Cozete, iniciou uma pequena pavimentação de calçamento, do primeiro contorno até o segundo contorno. É o que dá acesso à entrada do conjunto Presidente Médici, da quadra um até a quadra dez, logo depois no governo de Cozete ele completou a avenida, ainda sim a avenida conservava a característica de ser apenas mão única, até terceiro girador que é onde termina hoje a duplicação (COSTA, 2012).

Figura 4:  Avenida JK em 2011.

Avenida JK em 2011.
Fonte: Google Maps.

A Avenida JK permeava características próprias, que denota singularidade. Souza (2013) aponta sobre a presença de currais encontrados, por exemplo, no bairro Três Irmãs e relata em relação a sua estrutura que para ele consiste numa estrutura simples, semelhante àquelas encontradas em zona rural, e que são construídos com pau-a-pique, ora formam uma única dependência, ora são divididos, e têm uma manjedoura que, na maioria das vezes, é amparada pela sombra de alguma árvore, já que, na área, não pode ser edificada nenhuma estrutura, e que também se evidencia alguns currais com uma parte coberta, que nesses casos, quase sempre, estão juntos da moradia dos criadores.

Figura 5:  Curral sem cobertura localizado ao lado da rua dos Avelozes no Bairro Malvinas.

Curral sem cobertura localizado ao lado da rua dos Avelozes no Bairro Malvinas
Fonte: Souza (2013).

4. O PROJETO DA REFORMA

A história da Avenida JK tem relevância para história de CG, tanto para a população, como também ao próprio bairro do Presidente Médici e adjacentes, isso no aspecto social, econômico e político, esta avenida em toda sua extensão corta vários bairros do eixo sul da cidade. Antes a mesma tinha pouca importância para os bairros pela qual a Avenida cortava. Com sua requalificação e a mudança de rua para avenida, a mesma além de passar a ser uma via principal destes bairros, passou também a ser uma das artérias onde trouxe uma grande valorização geográfica aos bairros vizinhos e em especial ao Presidente Médici (COSTA, 2012).

Uma parte da população que chega às cidades é forçada a se distribuir nos locais mais a qual cita como “miseráveis e abandonados”, invadindo propriedades alheias ou zonas com condições urbanas inadequadas (ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995). Em relação ao processo histórico de renovação na JK, um dos canos que abastece a cidade de CG passa justamente no meio avenida e esse cano fica visível, inclusive em seu projeto tiveram que desviar um pouco da avenida, por causa do cano da tubulação de água que vem do açude de Boqueirão, para distribuir algumas áreas de CG (COSTA, 2012).

Figura 6:  Cano da tubulação de água do Açude de Boqueirão sentido CG

Cano da tubulação de água do Açude de Boqueirão sentido CG
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

“A necessidade de segurança, convivência, permuta e, principalmente, da impossibilidade de a comunidade subsistir sem alimento, leva essas comunidades a passarem do estágio de nomadismo para a fixação em locais específicos” (Ibid, 1995, p. 4).

Além disso, a pequena parte melhor infra-estruturada e qualificada do tecido urbano acaba sendo um objeto de disputa, de cobiças imobiliárias, o que acaba também gerando uma deterioração dessas partes da cidade. A escassez de áreas de maior qualidade leva às alturas os preços de terra dessas áreas, mas os preços de terras periféricas sobem também, pois se coloca em curso um motor de especulação imobiliária que não existiria com essa força, se a qualidade urbana fosse mais bem distribuída pela cidade. E, logicamente, quanto maior o preço da terra, menor a capacidade de o poder público intervir como agente no mercado (ROLNIK; CYMBALISTA, 2000 p.3).

Para Abiko, Almeida & Barreiros (1995), a cidade enquanto empreendimento deverá satisfazer às necessidades individuais e coletivas dos vários setores da população; para tanto, se devem articular recursos humanos, financeiros, institucionais, políticos e naturais para sua produção, funcionamento e manutenção.

Em CG, a Avenida JK, após as transformações iniciais, foi revitalizada no intuito de garantir maior fluidez na mobilidade espacial, promovendo a expansão urbana na cidade, a construção de uma área de lazer e de prática de esportes para a população dos bairros que residem próximo à área, consolidando a lógica de reprodução do consumo na periferia da cidade, projetando-se também uma zona de pedestres e ciclistas (FERREIRA, 2014).

Na opinião de Goitia (1992 apud ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995), o grande desenvolvimento das cidades e das formas de vida urbana é um dos fenômenos que melhor caracteriza nossa civilização contemporânea. A cidade não é um feito recente, é resultante de um processo histórico. Ao longo deste século e do passado observa-se um aumento vertiginoso da migração da população rural para as cidades.

No que tange a avenida JK, como citado anteriormente o processo da urbanização é resultante de um processo histórico, já no governo do prefeito da época Veneziano, esse fez a revitalização da rua asfaltou e transformou o que antes era apenas uma via de mão única transformando em duas vias, antes era uma rua larga, onde ele enlanguesceu mais ainda, a qual transformou e colocou canteiro, fazendo com que ela se tornasse duas vias, a partir daí com a revitalização, com a área de caminhada, que se criou, e fez o complemento até o terceiro Contorno (COSTA, 2012).

Outra característica interessante a respeito da avenida, é que já depois do terceiro contorno a rua passa a ser mão única novamente, isso pois a prefeitura encontrou problemas ao indenizar as pessoas que moravam do lado da avenida (para o processo de expansão “duplicação”). Essas casas teriam que ser demolidas para dar lugar à nova avenida que se projetava. Encontraram-se dificuldades judiciais, pois alguns moradores não quiseram vender as casas pelos valores oferecidos, nesse sentido não foi possível permanecer o projeto da via como deveria de ser resultado, uma parte dela ficou, já mais para frente ela continua uma mão única (FERREIRA, 2014).

Figura 7: Final e interrupção da avenida

Final e interrupção da avenida
Fonte: Dados da pesquisa (2018).

A valorização observada na avenida pode ser relacionada, dentre outros indicadores, em especial a revitalização ocorrida na via, tendo em vista a formação no mundo ocidental, em especial nos países em desenvolvimento de uma nova classe média, tendo o lazer e o consumo, os motores dessas transformações urbanas, modificando áreas industriais, residenciais e comerciais decadentes, recuperando e desenvolvendo novas atividades de comércio e de lazer (FERREIRA, 2014).

Uma das grandes marcas desse século tem sido o “formidável crescimento dos grandes centros urbanos, que não se verificava anteriormente porque o avanço demográfico geral era muito mais lento e porque esse excedente demográfico não era absorvido desproporcionalmente pelas grandes cidades”. Contudo, nas últimas décadas, o ritmo de crescimento das cidades está sendo muito superior ao das possibilidades de previsão das autoridades públicas, a sua capacidade de assimilar os problemas e geralmente dos recursos disponíveis para proceder às reformas de grande vulto que se fazem necessárias para criar novas estruturas eficazes (ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995. p.44).

Sendo assim, esse crescimento urbano produz tanto problemas tanto nos núcleos centrais, quanto nas periferias das cidades que sofrem com a falta de acessos e de transporte coletivo. Toda ordenação espacial ela é questionável se não existir uma adequada acessibilidade, meios de transporte público eficazes e uma rede viária capaz e inteligentemente planejada para atender toda a demanda necessária (GOITIA. 1992 apud ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS. 1995).

“Assim dizendo, a urbanização e a expansão não abarcam todas as áreas, reforçando descontinuidade espaço-temporal, ou seja, o que separa fisicamente segrega historicamente grupos e classes sociais distintas no processo espacial.” (SILVA. 2011, p.64). A regulação urbanística passa a ser tratada como um processo, com etapas contínuas: a formulação de instrumentos urbanísticos, sua aprovação na Câmara Municipal, sua aplicação conforme os objetivos originais, sua fiscalização e revisão periódica. Em todas as etapas está presente a política, na forma da explicitação de posições e da negociação entre as diferentes partes interessadas (ROLNIK; CYMBALISTA. 2000).

5. A TRANSFORMAÇÃO DA AVENIDA

Para Silva (2011), a cidade capitalista, como expressão da acumulação desigual dos tempos, mostra em suas formas as diferentes variações de exploração. Têm-se hoje espaços funcionais, espaços de luxo, viveiros de mão-de-obra, guetos marginais e outros, que de certa forma, seguem a mesma lógica da reprodução capitalista. Na cidade de CG, a Avenida JK foi revitalizada no intuito de edificar uma área de lazer e de prática de esportes por parte da população dos bairros que margeiam o encontro do bairro do Presidente Médici, na zona sul da referida cidade, projetando-se também uma zona de pedestres e ciclistas (FERREIRA, 2014).

A avenida ganhou uma proporção de grande importância para o bairro e de valorização comercial também, pois os donos dos seus respectivos lares começaram a perceber que ali seriam, na verdade, uma avenida comercial, o que realmente ela se tornou hoje, muitas pessoas vendendo suas casas, e outros fizeram recuo na casa e acrescentaram pontos comerciais à sua frente, com muita gente vindo caminhar de outros bairros ela começou a ter uma repercussão diferente. A avenida antes da revitalização traz características bastante peculiares (FERREIRA, 2014).

“A cidade moderna tem se deixado levar em demasia pelas prioridades definidas pelo tráfego. Para alguns, o tráfego é primordial e a sua solução deve orientar todas as outras soluções urbanas” (ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995. p.45). Para a população, sem sombra de dúvidas, um grande benefício que a revitalização da avenida trás são os investimentos que surgem a todo o momento (COSTA, 2012).

O cenário urbano mostra-se na atualidade como objeto de pesquisa dos mais complexos, tendo em vista a dinamicidade que o compõe. Uma de suas perspectivas mais abordadas tem sido a da valorização e especulação de certos espaços os quais, de acordo com os propósitos do capital, se sobressaem aos circundantes, seja por sua localização ou pela infraestrutura oferecida (FERREIRA, 2014). “A grande disputa pelas localizações mais valorizadas de algumas cidades originou uma série de experiências cujo objetivo é o de captar parte da mais-valia obtida com as atividades da incorporação imobiliária” (ROLNIK; CYMBALISTA, 2000, p.10).

Figura 8: Lojas situadas na Avenida JK

Lojas situadas na Avenida JK
Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Hoje, a avenida JK é uma das principais da cidade, primeiro pela questão do lazer, por muita gente de outros bairros caminharem por ela, ela ganhou a partida do gerador, ganhou uma conotação de importância muito grande para o bairro de um modo geral. Também tem garagem de ônibus na viação cruzeiro, fábricas de bolo, muitas academias, lojas de artigos naturais no seu entorno, comerciantes ambulantes com frutaria, água etc. (FERREIRA, 2014).

A revitalização da avenida, para o bairro, muda toda a história de um povo que morava em seu entorno porque o que antes era apenas uma simples rua de chão batido passou a ser uma das principais avenidas na cidade, com vários benefícios para população (COSTA, 2012). Speck (2016) cita que as cidades grandes possuem bairros completamente autossuficientes, no sentido de comércio, escolas, hospitais e relacionados ao lazer e bem estar, e que isso garante ao morador facilidade de acesso.

Após a revitalização de toda a estrutura promovida pelo prefeito da época, Veneziano, novos aspectos foram conferidos ao bairro, por exemplo, os investimentos no bairro que antes era praticamente inexistente, passaram a existir de forma muito rápida, o qual foram tendenciosamente crescendo, hoje se tem até central de velório, a qual usualmente procura locais estratégicos de passagem de pessoas para que haja certa divulgação (FERREIRA, 2014).

Figura 9: Central de velórios da Avenida JK

Central de velórios da Avenida JK
Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Considerando-se que os desdobramentos acerca das questões habitacionais, perspectiva que se destaca no decorrer da JK, estes se encontram ligados intrinsecamente à produção e manipulação do espaço urbano, fato que carrega consigo grandes e visíveis disparidades, que se refletem na valoração do solo das cidades, o que evidencia um cenário de produção eminentemente capitalista (FERREIRA, 2014)

Uma área antes de baixo valor comercial que como exemplo podemos citar: que antes um terreno com medida de 12×30 custava em torno de R$ 7.000,00, após a sua requalificação, não se encontra terrenos com a mesma medida ou até menor no valor mínimo de R$ 70,000.00, além do mais a avenida passou a ser uma artéria de movimentos sociais, culturais e práticas esportivas. A mesma passou a ser uma artéria de grande poder econômico para o bairro e adjacentes (COSTA, 2012).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista que o presente artigo teve como proposta responder a seguinte questão norteadora: quais as principais mudanças e impacto da revitalização que ocorreram na avenida JK? Por meio dessa pesquisa, foi possível constatar quanto aos benefícios encontrados com a revitalização da Avenida JK para o bairro Presidente Médici e adjacentes, bem como as principais características do antes e do atual, caracterizando a importância dessa via para a cidade de CG.

Importantes benefícios foram percebidos, o que melhorou e facilitou o seu cotidiano, fortalecendo a descentralização socioeconômica, o que possibilitou um aumento do comércio local.  As atividades comerciais apresentam-se assim como as atividades fundamentais no crescimento demográfico e na urbanização da Avenida. A modernização ocorrida na avenida JK perpassa vários investimentos públicos ou privados, que caracterizam a configuração espacial da área, transformando-a em sua estruturação, o que concretiza complexas relações socioeconômicas.

Nesse aspecto observou-se que uma área antes de baixo valor comercial após a sua requalificação, não se encontra terrenos com valores próximos do valor comercial antes da revitalização, o que se refletem na valoração do solo da cidade o que evidencia um cenário de produção eminentemente capitalista, atenta-se também que a avenida passou a ser uma artéria de movimentos sociais, culturais e práticas esportivas.

Embora a pesquisa tenha demonstrado todos os benefícios da reforma nos aspectos sociais e econômicos, atentou-se também para a segurança é vista como algo ainda a ser conquistado, isso, pois a revitalização trouxe consigo o aumento da incidência de furtos. Esses anseios e reivindicações em prol de benefícios fazem parte da constante busca por melhorias. Faz-se necessário considerar a oportunidade de investimentos de novas pesquisas na área citada, uma vez que se trata de um processo complexo e a pesquisa não contempla todas as características peculiares dela.

REFERÊNCIAS

ABIKO, Alex Kenya; ALMEIDA, Marco Antônio Plácido de; BARREIROS, Mário Antônio Ferreira. Urbanismo: História e Desenvolvimento. 1995. 47 f. TCC (Graduação) – Curso de Engenharia Civil, Engenharia de Construção Civil, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1995. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4405055/mod_resource/content/2/urbanismo-historiaedesenvolvimento.pdf. Acesso em: 06 jul. 2022.

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SPECK, Jeff. Cidade Caminhável. Editora Perspectiva SA, 2016.

[1] Pós-graduação.

Enviado: Fevereiro, 2021.

Aprovado: Julho, 2022.

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João Paulo da Silva Brito

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