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Empreendedorismo Colaborativo em Ambientes de Aprendizagem da Educação Básica: Um Estudo de Caso

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CONTEÚDO

CORRÊA, Atanael Lemos [1]

CORRÊA, Atanael Lemos. Empreendedorismo Colaborativo em Ambientes de Aprendizagem da Educação Básica: Um Estudo de Caso. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 05, Vol. 06, pp. 5-33, Maio de 2018. ISSN:2448-0959

Resumo

Este artigo sobre um estudo de caso apresenta considerações teóricas e práticas sobre a arte de empreender de modo colaborativo no ambiente de aprendizagem formal. Ao aliar empreendedorismo colaborativo à aprendizagem colaborativa, os alunos constroem empreendimentos tangíveis e intangíveis por meio de trocas de informação, de pontos de vista e de questionamentos. O contexto de aplicação do trabalho, Ensino Fundamental II, leva em consideração a interação entre professor e aluno por meio de textos e hipertextos ambientados em plataformas que possibilitam colaborações, no caso o Blog. O modelo de aprendizagem visa a instigar a cultura empreendedora pela educação, a fim de provocar mudanças sociais e promover a inclusão por meio do conhecimento colaborativo. Trata-se, portanto, de a educação promover o educando em sua forma de ser. Primeiramente, buscou-se conceituar o que é um empreendedor e em seguida procurou-se falar sobre necessidades de se instigar à prática empreendedora na realidade brasileira. A partir disso, apresenta-se uma proposta de empreendedorismo colaborativo na prática pedagógica por meio da construção de um Blog, sugerindo-se um planejamento adequado para todas as etapas do processo ensino-aprendizagem que visa à aprendizagem colaborativa. Os envolvidos são motivados intrínseca e extrinsecamente a partir da escrita de sua própria história e, também, porque querem ser reconhecidos por isso.

Palavras-chave: Blog, Educação, Empreendedorismo Colaborativo, Aprendizagem Colaborativa, Textos.

Introdução

Desde os tempos mais remotos o empreendedor foi visto como o homem que tem visão de negócio, e, por isso, não poupa esforços para realizar quaisquer que sejam os empreendimentos. Nessa perspectiva, se faz necessário refletir sobre a ação de empreender. Ao refletir acerca da palavra constata-se que Imprehendere é a palavra latina que deu origem a empreender, no português, já no século XV. Porém, somente, no século XVI, teria surgido, nesta mesma língua, a expressão “empreendedorismo”, originada, por sua vez, da expressão inglesa entrepreneurship. Por conseguinte, ao se fazer uma análise estrutural do vocábulo inglês Baggio e Baggio (2014) chamam atenção para o sufixo –ship, uma vez que, nesta língua, indica relação, posição, grau,  estado ou qualidade, como é possível perceber em partnership (parceria), leadership (liderança) ou fellowship (companheirismo). Esta análise vem a corroborar com a importância de se perceber o empreendedor como o ser humano que tem suas próprias características, mas que também se relaciona com outros segmentos e pessoas. Como afirma Paiva, Almeida e Guerra (2008) a constituição do homem enquanto ser social está baseada nas relações que ele mantém com outros seres humanos. Sendo assim, a perspectiva interacionista auxilia na compreensão da importância da cooperatividade para a vida em sociedade. Infere-se, que uma solução inovadora, por mais simples que seja, poderá ser disponibilizada com excelência quando é possível colaborar com parceiros que conhecem aspectos que fogem, muitas vezes à alçada de outrem. Esclarece-se, a partir dessa premissa, que a ação empreendedora, no âmbito de sua articulação, passa a ter reflexos em outros grupos sociais. Diante disso, tem-se o movimento da economia colaborativa como objeto de análise.

O movimento da economia colaborativa é uma nova forma de perceber o mundo. Este se dá por compartilhamento ou em rede, e, representa o entendimento de que diante de problemas sociais e ambientais, cada vez mais crescentes, a divisão pode substituir o acúmulo. Para Brito et al. (2016) este tipo de economia não é uma maneira para se negar os desejos individuais, uma vez que os colaboradores podem criar ou participar de empreendimentos com o intuito de obter determinada renda. Na sua essência, trata-se de um comportamento que atinge o consumidor, as empresas e a comunidade em geral, a partir de diferentes práticas. Muitas pessoas utilizam-se desta economia porque se sentem inseridas, sentem a influência do meio social. Do mesmo modo que outras são motivadas a compartilhar devido ao desejo de promover mudanças.

Criar uma cultura empreendedora que provoque, também, a mudança social e que promova uma forma de se relacionar que estimule esta capacidade, que inclua ao invés de excluir, pode ser um desafio para a educação formal, no Brasil. Ademais, o desejo de empreender, no país, existe. Pesquisa feita pela Endeavor (2013) apontou que 74% das pessoas percebem a atividade empreendedora como geradora de riqueza e benéfica a todos.  Nessa pesquisa foram analisados perfis empreendedores na sociedade brasileira num universo cuja amostragem envolveu 2240 respostas com 632 empreendedores e 1608 não-empreendedores. Também, a amostra entre 1000 participantes – 700 empreendedores formais e 300 empreendedores informais – sinalizou o desejo de 3 em cada 4 brasileiros em empreender. Todavia, o déficit educacional a suprir no país é preocupante, o que se faz pensar em investimentos na educação básica formal, de modo que seja possível promover futuros empreendedores. A sala de aula pode prover um ambiente colaborativo, afinal, no século XXI os jovens vivem em rede, o que possibilita um relacionamento mais democrático onde todos têm a mesma autonomia e poder de influenciar seu próprio futuro, assim como o futuro da comunidade em que se está inserido. É por essa ótica que se constitui uma educação para a cidadania, e, por conseguinte, para o empreendedorismo colaborativo. Segundo Albuquerque, Ferreira e Brites (2016), cidadãos reflexivos e empáticos são capazes de (re) construir cooperativamente ideias e propostas em diferentes contextos e situações. É a possibilidade que o educando tem de produzir um conhecimento significativo que lhe proporcionará novas formas de envolvimento no mundo.

Baggio e Baggio (2014) consideram que uma das maiores riquezas naturais do Brasil é o potencial empreendedor dos brasileiros. Segundo os autores, este potencial é pouco explorado, sobretudo porque antes é necessário superar alguns obstáculos essenciais à arte de empreender. No Brasil são problemas, a pouca autoconfiança do brasileiro, o não desenvolvimento de abordagens empreendedoras que correspondam às características profundas da cultura nacional, a pouca disciplina, a burocracia e a necessidade de compartilhamento. Nesse sentido, a proposta de uma educação que visa formar cidadãos reflexivos dispostos a inovar perpassa pelo sistema de ensino brasileiro, que Dolabela e Filion (2013) diz em ser “demasiadamente focado na transferência de conhecimentos e não suficientemente focado na aprendizagem de métodos independentes de pensamento imaginativo”.  Somado a isso, há que se pensar no que sinaliza a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) em documento disponível no portal eletrônico do MEC, sob o título “Educação Econômica e Empreendedorismo na educação pública: promovendo o protagonismo infanto-juvenil”. Nesse documento, fala-se da importância de se gerir uma escola democrática e participativa, autônoma e responsável, flexível e comprometida, atualizada e inovadora, humana e holística.  Isso está em concordância com os princípios norteadores do empreendedorismo e comprovam que tanto as definições iniciais como as atualizadas, a respeito desse campo de estudo, exigem do empreendedor comportamento em consonância com os definidos pela LDB. Conclui-se que a LDB quer uma escola empreendedora.

Em entrevista à Revista de Negócios, Dolabela (2004) fala que o empreendedorismo é um instrumento para o desenvolvimento de geração de riqueza, mas que, também, pode provocar a mudança cultural. A Pedagogia Empreendedora, a que ele defende, propõe uma nova forma de relacionamento entre as pessoas, no sentido de estar-se conectado em rede. Além disso, trata de promover o ser humano em sua forma de ser, ou seja, ele pode ser empreendedor ao desenvolver atividades na área da música, da poesia, política ou do funcionalismo público. Esta ideia também pode ser fortalecida, ao levar-se em consideração, o que explica Garavan e O’Cinneide (1994 apud Zampier  Takahashi, 2011) quando fala que o empreendedorismo pode ser cultural e experiencialmente adquirido. Afinal, para os autores a capacidade para empreender pode ser influenciada por intervenções na educação que visem o aprender fazendo, ou seja, explorando problemas de múltiplos pontos de vista e criando redes de relacionamento. É por esse prisma – em que alunos interagem entre si para empreender cooperativamente, na busca de um bem comum a todos – que este trabalho se propõe a refletir.

Em síntese, o estudo de caso descrito durante este trabalho é fruto do anseio deste pesquisador em prover um ambiente mais colaborativo para a classe de estudantes do 8º ano do Ensino Fundamental. A aprendizagem colaborativa, conforme Abegg e Marques (2012) se efetiva a partir de estratégias de ensino que valorizam o trabalho coletivo e proporcionam interações entre os envolvidos por meio de uma abordagem progressista, uma vez que os discentes passam a ser construtores e socializadores de conhecimentos por meio do diálogo com o outro. Para esse tipo de aprendizagem, pressupõe-se seres autônomos que cooperem entre si, tendo em vista o bem comum e a propagação do empreendedorismo em sua forma de ser. O objeto comum a todos é o texto, já que este estudo se dá nas aulas de Produção Textual em Língua Portuguesa. O texto, por sua vez, é fruto do trabalho solitário do aluno, que, geralmente, só compartilha com o professor, responsável pela avaliação. Contudo, o estudo prevê um docente muito mais catalisador e facilitador do processo ensino-aprendizagem. Sua tarefa, portanto, é instigar e mediar o conhecimento do educando, visando, sobretudo, instigar sua capacidade de empreender cooperativamente. O universo virtual, ou ciberespaço, é também responsável por agregar pessoas a partir de interesses comuns.  No tocante a ciberespaço, lança-se aqui a ideia de criação de um Blog para postar textos produzidos em sala de aula. A escolha pela criação do blog se dá porque além de possibilitar as relações entre textos e hipertextos, pode possibilitar a cooperação entre os estudantes, como também enfatiza Barbosa e Serrano (2005, apud Abegg e Marques, 2012) ao concebê-lo como uma ferramenta de apoio à prática pedagógica que facilita a produção coletiva e viabiliza a interação, colaboração e cooperação entre os indivíduos. Ademais, “o homem identificado com o mundo conexionista é flexível, adaptável, capaz de ‘tratar sua própria pessoa como um texto que poderia ser traduzido para diferentes línguas’ para explorar redes e circular por universos distintos” (Boltanski e Chiapello, 2009 apud Ferraz e Sasseron, 2017).

Em Nonaka e Takeuchi (2003, apud Ramalho e Tsunoda, 2007), é possível perceber que novos conhecimentos são criados quando ocorre a interação social entre os conhecimentos de cada indivíduo – tácito e explícito – e entre indivíduos.  Esses processos são fundamentais para a criação do conhecimento, para o compartilhamento e para a comunicação de informações em grupo, pois deverá revelar o conhecimento tácito, interno ao individuo. Segundo os autores, o compartilhamento e a comunicação realizada é denominado como processo de “socialização do conhecimento”. Nesse contexto, o objetivo deste estudo, então, é analisar a aprendizagem colaborativa na construção social do conhecimento por meio de trabalhos com textos e hipertextos.

Referencial teórico

Para Hisrich (1986 apud Bortololozzi, Cabral e Esteves, 2016) a palavra entrepreneur é francesa e ao traduzi-la para o português, literalmente, passa a significar “aquele que está entre” ou “intermediário”. Infere-se, portanto, que o empreendedor seja aquele que assume riscos e começa algo novo. Deste modo, o empreendedorismo está diretamente ligado à inovação, uma vez que exige a criação de algo novo, sobretudo, com aplicação comercial. Todavia, como lembra Martes (2010) a motivação do empreendedor, numa perspectiva schumpeteriana, não pode ser orientada apenas pela razão, nem tampouco seu objetivo final deve ser o lucro ou a satisfação de suas próprias necessidades. O sentido de sua ação deve ser buscado, antes, no que ele chama de “sonho e desejo de fundar um reino privado”. Para isso, ele deve ter o desejo de conquistar, alegria em criar e fazer coisas, impulso para lutar e provar-se superior aos outros. Assim, na concepção do autor o lucro é tido como uma consequência e tende a ser interpretado como um “índice de sucesso e sinal de vitória”. Também, faz-se importante lembrar-se do universo empreendedor como motor do sistema econômico de um país, de modo a se relacionar com as características pessoais e comportamentais dos seres humanos, estes produtos de uma sociedade. A Escola de Chicago, surgida na década de 1950, já aludia que não faria muito sentido pensar o indivíduo e o capital como exteriores um ao outro. Sobre esse aspecto da escola à época, Costa (2009) afirma que as competências, as habilidades e as aptidões do homem constituem, elas mesmas, pelo menos virtualmente e relativamente independente da classe social a que ele pertence: seu capital. Nesse sentido, esse indivíduo se vê induzido, sob essa lógica, a tomar a si mesmo como um capital, a tecer consigo e com os outros, uma relação na qual ele se reconheça – assim como aos seus semelhantes – como uma microempresa. É assim, nessa condição, que ele passa a se enxergar como uma entidade que funciona sob a necessidade permanente de fazer investimentos em si mesmo ou que retornem, a médio e/ou longo prazo, em seu benefício.

Tendo em vista a importância de prover um mundo mais cooperativo, vê-se que uma educação voltada, apenas para um aprendizado científico-cultural tradicional, não atende às expectativas de um mercado de trabalho onde a oferta de empregos formais também não acompanha o crescimento da entrada de jovens. Por isso, faz-se importante ressaltar a educação como promotora de um ensino capacitante que visa ao respeito à liberdade de pensamento crítico, de criatividade, de civismo e de compreensão global de si e dos outros seres humanos em um mundo partilhado (ALBUQUERQUE, FERREIRA E BRITES, 2016). Assim, propostas pedagógicas centradas no aluno, que estimulem o seu o lado criativo, inovador e flexível ao ensiná-los a “aprender a aprender” são necessárias. Por “aprender a aprender” cabe destacar que se trata de uma pedagogia pretendente a preparar o indivíduo para a sociedade que está em constante transformação. Como trata Buzzo & Treviso (2016), ela tem como base o conhecimento prévio do aluno. O professor, portanto, atua como incentivador no que diz respeito às suas buscas por novos conhecimentos, e desse modo, o educando passa a ser capaz de se adequar a essas mudanças sociais. Afinal, na teoria vigotskyana, segundo Lima (2009), o aluno tende a comparecer “como um indivíduo que tem o “direito” de ser sujeito da sua própria aprendizagem, desde que ela não ultrapasse os bem definidos limites dos conhecimentos espontâneos e do senso comum, produzidos na mais imediata cotidianidade”.

Consoante a isso, o estímulo aos jovens – para que esses desenvolvam projetos de vida que os auxiliem na busca por alternativas para driblar o desemprego a partir da criação de pequenos negócios – talvez, seja a saída para políticos, educadores e consultores públicos. Salgado (2013) salienta que a lógica que enaltece o empreendedorismo em detrimento de empre­gos estáveis não prioriza apenas a solução da emergencial crise de empregos em um país, mas também atua com a intenção de mudar a própria constituição de sua oferta. Nesse aspecto, a ideia é buscar, com o estímulo ao empreendedorismo, fazer crescer o número de trabalhadores autônomos. Estes, sendo autossuficientes, não estarão respaldados por leis trabalhistas que preveem direitos como décimo terceiro, férias e aposentadoria. Outrossim, a sala de aula enquanto espaço de ensino-aprendizagem pode criar meios para desenvolver a arte de empreender cooperativamente desde muito cedo, tendo em vista, que pode dela emergir empreendedores que, talvez, não deixarão de ser individualistas, mas que, poderão agregar valor à qualidade de vida da sociedade. Dolabela e Filion (2013) propõem que educadores se concentrem nos tipos de empreendedorismo que incluam valores individuais e coletivos. Segundo os autores, faz-se necessário, para o empreendedorismo, identificar e aproveitar oportunidades na área de trabalho dos indivíduos, entretanto essas oportunidades têm que gerar e agregar valor à sociedade na forma de conhecimento, bem-estar, liberdade, saúde, democracia, riqueza material, enriquecimento espiritual e melhoria da qualidade de vida. Em Casaqui (2012) vê-se que a exploração produtiva dos contatos, mercantiliza as relações, mesmo quando o indivíduo está preocupado com as causas sociais, e não em seu proveito próprio, como argumentam os discursos do campo do empreendedorismo social. Contudo, a educação empreendedora, tem de contribuir socialmente, e deste modo, deve voltar-se para o empreendedor humanitário – em negócios com ou sem fins lucrativos.

A priori, é bom entender a importância da economia colaborativa. De acordo com a Fundação Nacional de Qualidade (FNQ) em sua publicação “Economia Colaborativa” (2016) esta economia é vista como um novo movimento que, a partir das tecnologias digitais de informação e comunicação, deu origem a uma forma de pensamento que visa reduzir o desperdício, priorizar o aumento da eficiência no uso dos recursos naturais e combater ao consumismo desenfreado. Para Eckhardt e Bardhi (2015 apud Ferreira et al., 2016), a economia compartilhada é, na verdade, a economia do acesso. Sobretudo, porque a partir do compartilhamento faz-se troca social, sem fins lucrativos. Contudo, conforme defendido por Shirky (2011, p. 68), existem dois grandes tipos de motivação que levam os seres humanos a quererem empreender cooperativamente: a extrínseca e a intrínseca. As motivações extrínsecas estão ligadas à recompensa por fazer algo, ou seja, são externas à atividade. Já as motivações intrínsecas são aquelas em que a própria atividade já é a recompensa. Possibilitar um ambiente colaborativo dentro de uma organização – em que seres humanos sejam motivados extrínseca e intrinsecamente – implica em compreender que as tecnologias digitais aumentaram e facilitaram a proliferação da colaboração entre os indivíduos, entre instituições e entre ambos. A FNQ (2016), em “Economia Colaborativa”, descreve que as transformações sociais dependem da interação entre os diversos atores do ecossistema, esses representados por seres humanos, tecnologias, meio ambiente, banco de dados, dispositivos entre outros. Nessa perspectiva, estão dadas as condições para o surgimento de uma nova cultura em que os usuários são mais engajados e ávidos por participar.

Ao levar-se em consideração a aprendizagem colaborativa e a construção do conhecimento nos espaços virtuais, vinculados à escola, faz-se imprescindível pensá-los como sistemas muito mais complexos do que os espaços tradicionais. Segundo Coutinho (2007, apud Ramalho e Tsunoda, 2007) os ambientes colaborativos são mais interativos e menos estruturados, de modo a envolver processos de construção do conhecimento passíveis de adaptarem-se às mudanças, mas são altamente imprevisíveis em função de três variáveis: a conectividade, a diversidade e o fluxo de informações. Estas provocarão a interação e colaboração entre os estudantes, segundo a proposta interacionista de Vigotsky. Assim, ao ser citado por Caldeira, Silva e Magdalena (2015), Vigotsky (1998, p. 20) diz que é pela interação que o homem aprende e se desenvolve, e, por conseqüência, se modifica em o contato com a sociedade. Assim, ao adquirir cultura, ele modifica seu comportamento. Contudo, é o educador escolar quem tem de favorecer esta aprendizagem ao mediar a aprendizagem entre o educando e o mundo. É nesse sentido, que espaços virtuais podem ser concebidos como grandes contribuintes ao processo ensino-aprendizagem, tornando a tecnologia uma forte aliada à educação por possibilitar ao educando expressar suas ideias com liberdade e autonomia. Ademais, quando um aluno tem a oportunidade de postar um texto ou fazer um comentário numa plataforma colaborativa, como é o caso do Blog, por exemplo, ele além de poder transmitir seus pensamentos e opiniões (e ser reconhecido por isso), também pode interagir com seus colegas de classe, conhecer novos conceitos e adquirir mais conhecimentos.

O empreendedor

Não haverá desenvolvimento econômico em uma sociedade sem que existam na sua base líderes empreendedores. Economistas, então, entendem que para o processo de desenvolvimento econômico de uma nação são essenciais os sistemas de valores da sociedade, sobretudo, são fundamentais os comportamentos indi­viduais dos seus integrantes. Chagas (2000 apud Baggio e Baggio, 2014) sinaliza que o acúmulo de conhecimento já não é mais necessário, mais do que isso é precisa-se saber aprender, sempre. O empreendedor deve fazer e errar, pois assim ocorrerá a aprendizagem.

Segundo Schumpeter (1985, apud Martes, 2010) empreender é exercer uma função e não, portanto, uma condição perene para os indivíduos ou para a coletividade, visto que o empreendedor não pertence a uma classe social. Sua posição não é fruto de herança, mas sim, de conquista. Muitas vezes, segundo o autor, os empreendedores possuem função de direção sem que possuam título de propriedade da empresa, isso se dá porque estes correm riscos e estão sempre em busca de inovações significativas. Ao passo que, o conceito de empreendedor exclui proprietários e diretores que simplesmente “operam” o negócio já estabelecido ainda que corram riscos e tenham controle da propriedade.

Entende-se, então, o empreendedor como sendo o homem ou mulher que, constantemente, procura construir a realidade social, buscando o refinamento de si e das pessoas que estão ao seu redor, envolvidos em seu projeto realizador. Paiva, Almeida e Guerra (2008) consideram que a constituição humana está baseada nas relações sociais, e, por isso, a perspectiva interacionista ajuda a compreender que a ação empreendedora tem reflexos em outros grupos sociais de sua interação.

O empreendedorismo e a economia colaborativa

Empreender a partir de compartilhamentos é o princípio básico da economia colaborativa. Esta, também conhecida como economia compartilhada, segundo Shirky (2012) e Schor (2014), citados por Petrini, Santos e Silveira (2016), teve origem na década de 1990, nos Estados Unidos, impulsionada, mormente, pelos avanços tecnológicos que oportunizaram a criação de novos modelos de negócio baseados na troca e no compartilhamento de bens e serviços entre pessoas desconhecidas. Todavia, a economia colaborativa ainda é um movimento emergente na sociedade atual e está atrelada ao alto nível de compartilhamento de informações e integração digital.

Para Brito et al (2016) o comportamento voltado para o coletivo, tanto para o consumidor quanto para as empresas e para a comunidade, é a melhor maneira de explicar o que vem a ser a economia colaborativa. Nesse sentido, a dicotomia de pensamentos dos usuários não é empecilho para que a interação aconteça. Ademais, são as diferentes culturas que influenciam os comportamentos individuais, o que segundo Schwartz e Bilsky, 1987, apud Brito et al 2016) só é possível compreender se forem estudados os sistemas de valores pessoais de uma sociedade.

Benito e Dias (2017) afirmam que a economia compartilhada desestrutura o que parecia estar fortalecido pela cultura do consumo e potencializa a criação de novas empresas que, em pouco tempo, tornam-se gigantes no mundo do compartilhamento. Os autores citam grandes organizações como Airbnb, com aluguéis de imóveis, mas também a Uber que facilita a locomoção das pessoas nos grandes centros urbanos. Também, é possível perceber em Bostman e Rogers (2010, apud Benito e Dias, 2017) que a economia compartilhada permite às pessoas terem acesso a produtos e serviços sem necessariamente pagar pela posse deles. Desse modo, elas economizam tempo, dinheiro, espaço e tem a oportunidade de fazerem novos amigos, além de exercitar a consciência cidadã. Já por Chase (2015, apud Benito e Dias, 2017), entende-se que as plataformas possuem um papel valoroso no processo de geração de lucro e renda e ajudam organizar, padronizar e simplificar a participação dos usuários, haja vista que se trata de pessoas que vivem em diferentes lugares, possuem diferentes hábitos, interesses, talentos, experiências de vida, opiniões políticas, comunidades, posses de objetos e diferentes meios de transportes.  Ou seja, são representantes da diversidade que interagem e compartilham um terreno fértil que ainda está a se desenvolver.

O empreendedorismo no Brasil

Pesquisa feita pela da Endeavor em 2013, envolvendo 1000 participantes brasileiros, sendo esses potenciais empreendedores e até mesmo jovens e adultos que não pretendem abrir um negócio próprio, demonstrou a aspiração pelo empreendedorismo: 76% deles têm preferência por um negócio próprio a ser empregado ou funcionário de terceiros. Contudo, há uma falsa noção, entre boa parte dos entrevistados, de que empreendedores já nascem como tal, de modo que a arte de empreender seja algo intrínseco a esses. Bitencourt (2005) e Freitas e Brandão (2006) citados por Zampier e Takahashi (2011), entretanto, afirmam que, para desenvolver e ampliar as competências empreendedoras dos indivíduos é relevante o investimento no processo de aprendizagem, afinal, esta se constitui uma evolução necessária da aquisição de competências. Nesse sentido, é importante ressaltar, também, o que sinaliza Antal, Dierkes, Child et al (2001, apud Zampier e Takahashi, 2011) sobre a aprendizagem ser vista como competência e o conhecimento como um recurso. Assim, ambos são fatores-chave a favor da competitividade econômica e para a participação em várias dimensões da vida, sejam essas, social, cultural e política.

A pesquisa da Endeavor, de 2013, mostrou a necessidade de se fazer um esforço conjunto para diminuir a influência do dinheiro no Brasil, sendo para isso, necessário, de alguma formar expor as características do empreendedor que se deseja ver no país. Promover histórias e cultivar o fracasso para que os brasileiros tenham ideia de como funciona o universo empreendedor se faz necessário, afinal, como sugere Dornelas (2008, apud Baggio e Baggio, 2014) o empreendedor é aquele que detecta uma oportunidade e cria um negócio para capitalizar sobre ela. Para isso, ele deve assumir riscos calculados. Além disso, ele deve ter iniciativa para criar um novo negócio, paixão pelo que faz, utilizar dos recursos disponíveis de forma criativa provendo transformar o ambiente so­cial e econômico em que está inserido e aceitar assumir os riscos calculados e a possibilidade de não obter o êxito naquilo que deseja empreender.

A educação empreendedora

Os empreendedores aprendem por meio da experiência direta, das práticas, dos sucessos e dos insucessos, assim como pelos relacionamentos com outras pessoas. De acordo com Gherardi e Nicolini (1998) essa aprendizagem acontece quando é dado consentimento aos indivíduos na participação em atividades sociais, uma vez que somente no conjunto dessas situações – em que as atividades são realizadas – que o conhecimento será produzido, tendo sempre um local e um tempo de ocorrência específicos. Nessa perspectiva, disseminar a cultura empreendedora no ambiente educacional passa a ser uma necessidade, porque implica em disseminar uma visão de mundo e de vida em compromisso com a coletividade porque ao empreender desde cedo o jovem estabelece vínculos sociais políticos com sua nação e com o seu planeta. Em Costa (2009) é possível perceber a importância da disseminação da cultura empreendedora conectada à educação por meio de projetos sociais e assistenciais, esportivos e de formação técnico-profissional, como estando associada a tudo que seria decisivo e bom para o sucesso dos indivíduos, para o progresso e desenvolvimento sustentável e para o bem-estar da sociedade.

Pensar em estratégias educacionais que promovam o empreendedorismo na escola torna-se necessário porque dá ao ser humano a capacidade de criar suas próprias oportunidades. Segundo Drewinski (2009, apud Salgado, 2013) ao engajar-se, nesse sentido, a educação desloca o eixo da solução do desemprego das condições econômicas para o indivíduo. Não se trata, no entanto, de responsabilizar o indivíduo de forma gratuita, Dolabela e Filion (2013) explicam que o empreendedorismo aplicado à educação pode oferecer, a este ser humano, novas perspectivas para modificar os padrões e processos de aprendizagem existentes e oportunizá-lo o acesso para protagonizar o seu próprio destino, seja em sociedades menos desenvolvidas ou em estruturas sociais organizadas e sofisticadas.

Aprendizagem colaborativa na educação para o empreendedorismo

As sociedades precisam gerar mais comportamentos empreendedores e, sobretudo, necessita-se de mais pessoas capazes de criar e compartilhar riqueza. Essas pessoas são chamadas de intraempreendedores e empreendedores (DOLABELA e FILION, 2013). Na sala de aula, um professor com perfil intraempreendedor pode instigar comportamentos que visam levar o aluno a empreender de maneira colaborativa.

Alcântara, Irala e Torres (2004) distinguem cooperação de colaboração ao apresentarem a primeira como um processo mais centrado no professor que estabelece um conjunto de técnicas e processos que grupos de indivíduos aplicam para a concretização de um objetivo final ou a realização de uma tarefa específica. Já na colaboração o aluno possui um papel mais ativo. Panitz (1996, apud Alcântara, Irala e Torres, 2004) considera que a aprendizagem colaborativa seja uma filosofia de ensino e não uma técnica de sala de aula, afinal, ela sugere uma maneira de lidar com as pessoas que respeita e destaca as habilidades e contribuições individuais de cada membro do grupo. O autor considera, ainda, que na aprendizagem colaborativa exista um compartilhamento de autoridade onde são aceitas as responsabilidades entre os membros do grupo, nas ações do grupo.

De acordo com Gibb (2005, apud Ruskovaara e Pihkala, 2012) uma pedagogia empreendedora deve prover um ambiente de aprendizagem dinâmico. Nesse aspecto, as informações não são transmitidas à maneira tradicional, mas sim, são criadas colaborativamente. Do mesmo modo, os erros, dentro desta dinâmica, são aceitos como parte do processo. Outrossim, os métodos para semelhante propósito incluem a aprendizagem colaborativa entre os estudantes, por meio de atividades em grupo e projetos que levem o estudante a aprender para fazer. Numa perspectiva holística, significa considerar trabalhos em grupo como uma maneira de oportunizar a atividade empreendedora, visto que, segundo Albuquerque, Ferreira e Brites (2016), ao trabalhar em grupo a pessoa é colocada em um conjunto de relações interpessoais e de tensões. Isso significa inferir que ainda que cada aluno possa partir de ideias próprias, precisará aprender a enquadrá-las com outras ideias, ouvir novas opiniões e procurar enriquecer um projeto mais amplo. Por conseguinte, isso poderá adquirir uma dimensão estratégica aliando a educação à cidadania e ao empreendedorismo.

Ao favorecer meios que facilitem o processo de cooperação e colaboração, seja este educativo ou não, a internet se constitui como um modelo de aplicação pedagógica. Mas, de acordo com Cord (2000, apud Alcantara, Irala e Torres, 2004) a virtualidade instrumental da internet se empobrece quando utilizada apenas para a troca de mensagens eletrônicas. Ao passo que Garrison e Akyol (2009, apud Pifarré, Guijosa e Argelagós, 2014) pontuam que o uso da Web 2.0 como suporte na construção do conhecimento colaborativo em ambientes de aprendizagem, proporciona muito mais do que uma simples interação. Isso se dá, porque ao querer validar o seu discurso, o estudante, por meio dessa prática, deixa claro quais são suas preocupações sociais e, também, quais são os assuntos lhes interessam mais.

A utilização do Blog como suporte na construção do conhecimento colaborativo e empreendedor nos ambientes de ensino

Schweder e Moraes (2013) afirmam que a apoteose da linguagem digital, nos dias atuais, alterou o comportamento da sociedade e fez surgir uma nova concepção de leitura e leitor. Nesse sentido, a linearidade da leitura de outrora, abriu espaço para o Hipertexto, o que segundo Dias e Moura (2010, apud Schweder e Moraes, 2013) possibilita aos seus exploradores construir diferentes compreensões devido a sua natureza rizomática. Em continuidade, Abegg (2009, apud Marques e Abegg, 2012) dizem que ao permitir que professores e alunos trabalhem sobre um tema em rede, colaborativamente, as plataformas conseguem acrescentar outras perspectivas ao processo de ensino-aprendizagem, tendo em vista que proporcionam novas maneiras de realizar as atividades de estudo, agregando dimensões como planejamento colaborativo de projetos com aplicações e funcionalidades específicas. Nesse sentido, pode-se afirmar que ao aprender colaborativamente adquire-se uma conduta cooperativa porque são os sujeitos que realizam as tomadas de decisões, o planejamento e as ações coletivas, ampliando, também, possibilidades de discussões que podem ser críticas e reflexivas (ABEGG et al, 2009).

O uso do Blog na Educação contribui para o processo ensino-aprendizagem, o que aliou a tecnologia à Educação. Mantovani (2006) apresenta o Blog como uma plataforma colaborativa que, em seu aspecto estrutural de publicação, se mostra como uma página da web atualizada frequentemente. Esta é composta por pequenos parágrafos apresentados de forma cronológica tal qual um jornal que segue uma linha do tempo com um fato após o outro. Nessa estrutura, os posts são acompanhados de datas e até horário de postagem, de modo que privilegia a postagem mais recente, já os textos postados podem ter assinaturas individuais ou grupais. De acordo com Amorim et al (2006, apud Caldeira, Magdalena e Silva, 2015) ao utilizar-se do Blog na Educação como ferramenta em sala de aula  permite-se que o aluno participe ativamente, seja na sua construção, na manutenção e na maneira de procurar informações do conhecimento, tendo em vista que os conteúdos expostos na plataforma devem ser verdadeiros, uma vez que serão públicos. Outrossim, o texto do aluno postado no Blog, pode ser compartilhado, o que possibilita um relacionamento democrático, como é possível em rede, onde, segundo Dolabela (2004, p.128) todos têm a mesma autonomia e o poder de influenciar seu próprio futuro, o de sua comunidade e, por conseguinte, disseminar o empreendedorismo.

Carvalho et al (2006) sinaliza que os blogs podem ser pessoais ou coletivos, de modo que podem estar abertos a todos ou afeitos a uma comunidade fechada que tem por finalidade discutir temas específicos de interesse para esse grupo ou turma. Em geral, constituem comunidades abertas, de comentários e sugestões, disponibilizando links e, muitas vezes, proporcionando encontros formais ou lúdicos. Deste modo, ao possibilitar interações variadas – como é possível em um Blog – a escola facilita a promoção do discente a ator social. Para Nussbaum (2012, apud Albuquerque, Ferreira e Brites, 2016) isso só é acessível ao ser humano quando este consegue experimentar de sua liberdade individual e responsabilidade coletiva. Segundo os autores, desta forma, socialmente falando, ele passa a ser menos espectador quando se pensa a educação num contexto que visa ao empreendedorismo. Ademais, a motivação relacionada à base do comportamento empreendedor se associa à persistência, à direção da ação e à intensidade do esforço. Logo, segundo Dolabela e Filion (2013) o ambiente de aprendizagem é capaz de estimular e desenvolver a confiança e a autoestima do aluno, somente se ele estiver mergulhado num sistema onde haja uma relação coerente entre sua ação e o mundo.

Procedimentos metodológicos

Este artigo é fruto de um estudo de caráter descritivo, ou seja, de uma pesquisa aplicada, exploratória e tipicamente de campo, que procurou investigar e aprimorar a capacidade empreendedora e cooperativa de 25 alunos do 8º ano que estudam no Colégio Tupy, escola de ensino básico privado, situada na zona leste da cidade de Joinville – SC. As aulas de Redação foram escolhidas para aplicação do estudo, uma vez que o objetivo foi trabalhar com a produção de textos ambientados em blog.

A pesquisa exploratória que serviu para realizar um estudo preliminar do principal objetivo deste trabalho foi realizada em outubro, mormente, as primeiras buscas se deram a partir das bases Scielo e Scopus.

Num primeiro momento, procurou-se pesquisar sobre a Importância do Empreendedorismo no Brasil e no mundo, e, nesse sentido, quatro artigos serviram de base para a construção do presente trabalho. Sobre a Economia empreendedora colaborativa, três artigos serviram como fonte de pesquisa. Mas, também, a publicação “Economia colaborativa” que faz parte da série de e-books desenvolvida pela Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) ajudou a compreender este fenômeno, assim como o livro A cultura da Participação, de Clay Shirky, publicado pela editora Zahar, em 2011. Com relação ao Empreendedorismo na Educação procurou-se entender o que a LDB apresenta sobre esta questão, além disso, cinco artigos foram pesquisados. Assim como um artigo sobre Argumentação e Colaboração a partir do Texto e dois artigos que falam de ensino-aprendizagem por meio da interação na sala de aula.

Ao aprofundar a pesquisa bibliográfica, relativa à educação colaborativa nos ambientes de sala de aula, foi acessada a base Scopus, em novembro de 2017, a partir do portal da Capes. No campo de busca, foram utilizados os termos “education entrepreneurship and collaborativelly”, restringindo-se a pesquisa aos títulos, resumos e palavras-chave, o tipo de documento foi limitado a “artigos”. Após a busca, três resultados foram encontrados. No entanto, a partir do Google Scholar um documento possuía bastante aderência ao presente trabalho por tratar da pedagogia empreendedora traçando um comparativo com o método tradicional de ensino. Já na base Scielo pelo menos três artigos chamaram atenção deste pesquisador, porque tratavam de empreendedorismo e conhecimento colaborativo e versavam sobre como os novos conhecimentos são criados quando ocorre interação social entre os conhecimentos de cada individuo.

Ao pesquisar os termos “blog e educação”, na base Scielo, foram encontrados pelo menos três resultados satisfatórios após a leitura dos títulos e resumos. No Google Scholar digitou-se os termos “blog and education” aonde um artigo foi selecionado, justamente porque pontuava o uso da Web 2.0 como suporte para construção do conhecimento colaborativo em ambientes de aprendizagem. Abaixo, é possível verificar alguns dos principais artigos que nortearam este estudo:

Tabela 1 – Tabela com os principais artigos utilizados no estudo de caso

Título do Artigo Autor Revista
Empreendedorismo: conceitos e definições. BAGGIO, Adelar F.; BAGGIO, Daniel K. Revista de Empreendedorismo, Inovação e Tecnologia
Weber e Schumpeter: a ação econômica do empreendedor. MARTES, Ana C. B. Revista de Economia Política
O empreendedor humanizado como uma alternativa ao empresário bem-sucedido: um novo conceito de empreendedorismo baseado no filme Beleza Americana. PAIVA, Fernando G.; ALMEIDA, Simone R.; GUERRA, José R. F. Revista de Administração Mackenzie
Economia compartilhada e consumo colaborativo: o que estamos pesquisando? PETRINI, Maíra; SANTOS, Ana C. M. Z; SILVEIRA, Lisilene M. Revista de Gestão
A economia compartilhada na região metropolitana de Campinas: vantagens e desvantagens. BENITO, André L.; DIAS, Reinaldo Revista Caribeña de Ciencias Sociales
Competências Empreendedoras e processos de aprendizagem empreendedora: modelo conceitual de pesquisa. ZAMPIER, Marcia A.; TAKAHASHI, Adriana R. W. CADERNOS EBAPE
Fazendo revolução no Brasil: a introdução da pedagogia empreendedora nos estágios iniciais de educação. DOLABELA, Fernando; FILION, Louis J. Revista de Empreendedorismo e Gestão de pequenas empresas
Educação holística para o empreendedorismo: uma estratégia de desenvolvimento integral de cidadania e cooperação. ALBUQUERQUE, Cristina P.; BRITES, Graça; FERREIRA, José Revista Brasileira de Educação
Grupos de consenso: uma proposta de aprendizagem colaborativa para o processo de ensino-aprendizagem. ALCÂNTARA, Paulo R.; IRALA, Esrom A. F.; TORRES, Patrícia L. Revista Diálogo Educacional
A construção e o uso do blog como ferramenta interdisciplinar: perspectivas e desafios. SCHWEDER, Sabine; MORAES, Ana C. ABRAPEC
Using a blog to create and support a community of inquiry in secondary education PIFARRÉ, Manoli; GUIJOSA, Alex; ARGELAGÓS, Esther E-learning and Digital Media
Blog como ferramenta pedagógica na produção colaborativa em educação ambiental. ABEGG, Ilse; MARQUES, Eliandra G. Revista Monografia Ambientais
Blogs na educação: construindo novos espaços de autoria na prática pedagógica. MANTOVANI, Ana M. Revista Prisma

Fonte: os autores

Assim, ao especificar o Blog enquanto a plataforma colaborativa, escolhida para aplicação deste estudo, leva-se em consideração o fato de que neste espaço é possível perceber o aluno em diferentes posições. Schweder e Moraes (2013) consideram que ele assuma uma posição passiva quando se limita a leitura dos posts feitos pelos colegas e dispostos na plataforma – onde, eventualmente, também faz algum comentário. Já quando o aluno é estimulado pelo professor a desenvolver alguma atividade no Blog, ele passa a assumir um papel de autor ou co-autor dos blogs. Nesse sentido, há um leque diversificado de atividades a serem desenvolvidas em que estão associados objetivos de aprendizagem e desenvolvimento de competências. Logo, a exploração dos Blogs, dentro desta perspectiva, visa a conduzir os alunos à pesquisa, seleção, análise, síntese e publicação de informação, com todas as potencialidades educacionais implicadas.

Para instigar os estudantes a pensarem sobre o objetivo de cooperar como deve ser o trabalho em plataformas colaborativas – tal qual o Blog – o professor propôs à classe que criassem um produto, que fosse vendável e tivesse uma aplicação social. Não exigiu que o produto fosse inédito, nem tampouco que fosse algo concreto, embora, eles devessem fazer uma pesquisa para perceber a viabilidade do projeto e preparar uma apresentação para possíveis investidores. Nessa apresentação eles deveriam responder a três perguntas básicas: O que? Por que e Para que? Essas dizem respeito à apresentação do produto, à justificativa de sua criação e inserção no mercado e à importância dele para a vida em sociedade. Também, sugeriu-se que eles preparassem algum material visual para ajudar no esclarecimento de dúvidas. Para isso, eles tiveram duas semanas de preparação. No primeiro dia de apresentação – que antecedeu outras seis aulas disponibilizadas – a classe sentou em semicírculo, sendo que se apresentaram, por primeiro, os voluntários. Todos sabiam que o “grande investidor” seria o professor que lhe atribuiria uma nota, todavia a plateia foi instigada a fazer perguntas e ponderações sobre o produto e sua aplicação social. A discussão foi mediada pelo professor, que exigiu cuidado a todos os presentes no momento em que proferissem a palavra. Como se trata de uma turma muito participativa limitou-se a três intervenções por apresentação.

Após o sexto dia foram feitas considerações sobre as apresentações e propôs-se a criação de um Blog interdisciplinar que deverá ser utilizado para postar trabalhos até o final do Ensino Médio. Falou-se da importância dele enquanto plataforma colaborativa no que tange às discussões que por ele podem ser promovidas, mas muito mais por viabilizar o trabalho com textos e hipertextos de uma maneira mais interativa do que no método tradicional. A proposta foi bem recebida pela maioria dos alunos, e, logo em seguida as tarefas foram divididas entre os integrantes da sala. Nesse contexto, colocou-se a necessidade de uma pessoa criar o Blog, três serem responsáveis por alimentá-lo com imagens e possíveis sugestões de aplicativos, uma pessoa para produzir o texto introdutório que apresentasse o perfil da turma e o objetivo do Blog e outras três para ajudar na correção das postagens e sugerir mudanças no texto dos escritores. Lave e Wenger (1991, apud Albuquerque, Brites e Ferreira, 2016) falam que a relação entre saber e fazer pressupõe que compreensão e experiência estão em conexão e são mutuamente constitutivos. Por isso, torna-se, nessa perspectiva, um elemento crucial de uma pedagogia empreendedora. Assim, como combinado, ficou que os textos deveriam ser produzidos no caderno da disciplina, em seguida compartilhado com um ou dois colegas da sala, para que o corrigissem, e somente depois, deveria ser postado no ambiente virtual. Após a postagem o professor deixaria uma semana em aberto – para que os estudantes pudessem ajustar pequenos erros que encontrassem (seu ou do colega). Para finalizar, o professor pediu que eles pensassem num nome para o Blog, para que na próxima aula pudessem fazer a escolha a partir de uma eleição.

Na oitava aula, cerca de dez nomes diferentes apareceram para oficializar o Blog. O professor orientou aos estudantes que escolhessem um nome que tivesse coerência com a identidade da escola, cujas origens estavam atreladas à indústria, mas também, deveria levar-se em conta o perfil da turma.

Figura 1 – Abertura do Blog com nome escolhido  pela turma. Fonte – os autores
Figura 1 – Abertura do Blog com nome escolhido  pela turma. Fonte – os autores
Figura 2 – Texto introdutório do Blog. Fonte – os autores
Figura 2 – Texto introdutório do Blog. Fonte – os autores

Nesta mesma aula, foi feita a primeira proposta de texto cujo tema seria a produção de uma narrativa que propunha criar um texto fictício em que uma situação inesperada pudesse proporcionar mudanças na vida de alguém (fig.3). Diante da proposta, esperava-se que alguns alunos em particular, perguntassem se poderiam relatar alguma situação ocorrida consigo, mas atribuí-la a um personagem (o que aconteceu). Nesse aspecto, importa o fato de que nessas pedagogias interativas seja importante que o aluno compareça como um indivíduo que tem o direito de ser sujeito da sua própria aprendizagem, sendo necessária também que ela não ultrapasse os bem definidos limites dos conhecimentos espontâneos e do senso comum, produzidos no cotidiano onde se dá a aprendizagem (LIMA, 2009). Coover (1992, apud Mantovani, 2006) reforça a importância da interação ao lembrar-se dos hipertextos como possibilidade para libertar os leitores da dominação do autor, uma vez que os transforma em “companheiros de viagem” no mapeamento e remapeamento dos componentes textuais. Nesse aspecto, abre-se espaço para autoria e autonomia, de modo que cada escritor é responsável não apenas por si mesmo, mas também pelo outro.

Figura 3 – Surpresas. Fonte: os autores
Figura 3 – Surpresas. Fonte: os autores

Como a classe sempre tem duas aulas sequenciais, a nona aula foi a que eles, já com os textos produzidos, compartilharam entre si, e foram convidados a postá-los no Blog. Nesta aula, o aluno mentor da plataforma, orientado pelo professor, apresentou à sala o Blog, explicou a metodologia das postagens, bem como foi instigado pelo professor a pedir sugestões à turma para melhorá-lo. O professor também sugeriu técnicas para ambientação do texto no ambiente virtual, assim como sugeriu que os mesmos fossem acompanhados de uma imagem referenciada que dialogasse com o texto produzido por eles. Os trabalhos, nesse dia, foram conduzidos, também cooperativamente, pois cuidou-se que os alunos corretores postassem seus textos e se propusessem a ajudar os colegas que estavam com dúvidas. Nesse sentido, importa o que afirmam Dolabela e Filion (2013) ao proferirem que a educação empreendedora deve explicitar o desejo de contribuir socialmente, e, priorizar, o empreendedor humanitário nos negócios que tenham ou não fins lucrativos.  Ao professor coube pedir à direção da escola que disparasse um e-mail a todos os professores anunciando a plataforma produzida pelos alunos e pedindo a colaboração te todos para que ajudassem a alimentá-la com produções feitas durante suas aulas.

A próxima proposta foi também uma narrativa, muito pessoal, aonde fosse possível resgatar memórias (fig.4). A proposta propunha que fosse resgatado algo do passado que lhe tivesse feito muito sentido, marcado a sua história. Na pedagogia do aprender a aprender, de acordo com Buzzo e Treviso (2016), o acúmulo de conhecimentos do indivíduo ao longo da vida é o ponto de partida para que, por meio da educação, este ser humano se desenvolva, socialmente falando. Logo, a presença da ciência e tecnologia tem um papel relevante no mundo em que se vive, visto que pode buscar uma aprendizagem permanente, com vistas na cidadania e no papel que se assume na sociedade. É um papel qualitativo, uma vez que as informações acumuladas pelos educandos devem ser transformadas e o conhecimento apropriado por ela ao ser explorado e atualizado. Ou seja, o processo de aprendizado é infinito, de modo que se deve sempre informar enriquecendo o conhecimento existente e dessa forma evoluir. Esta proposta de texto também foi produzida no caderno da disciplina durante as duas aulas. A proposta visava a que todos terminassem e compartilhassem com um colega, nos limites da aula, de modo que este o ajudasse a corrigir esta primeira versão. Contudo, já se esperava que alguns tivessem que terminá-lo em casa, dadas as características de cada estudante. Dolabela (1999, apud Costa, 2009) afirma que a cultura do empreendedorismo proporciona ao ser humano uma visão de mundo, e, por conseguinte, uma maneira de ser, de modo a fragmentá-los em mônadas, pois cada uma fica responsável apenas por si mesmo. Segundo o autor, numa pedagogia empreendedora, o empreendedor aprende sozinho. A partir disso, foi combinado com eles que deveriam fazer comentários em, pelo menos, dois textos da plataforma, visando com isso, a compor a nota final dos textos produzidos para a plataforma.

Figura 4 – Memórias. Fonte: os autores
Figura 4 – Memórias. Fonte: os autores
Figura 5 – Comentários feitos nas postagens do Blog. Fonte: os autores
Figura 5 – Comentários feitos nas postagens do Blog. Fonte: os autores

A terceira proposta de texto partiu de um seminário feito após os estudantes assistirem ao documentário Observar e Absorver, de 2016, dirigido por Júnior Marques de Carvalho Júnior. A escolha do documentário foi mediada pelo professor a partir de uma proposta de texto da apostila escolar que propunha falar das “pessoas invisíveis” que, geralmente ocupam pouco destaque na vida cotidiana, mas cujos afazeres são essenciais para promover a coesão social. O seminário resgatou episódios que saíram na mídia brasileira e levou a todos a refletirem sobre suas atitudes em relação aos seres humanos que exercem profissões consideradas subalternas. Após o seminário eles foram instigados a escolher um ou dois tipos de “profissionais invisíveis” para produzir um texto dissertativo em defesa da importância deles para a vida em sociedade. O texto foi produzido em casa e a postagem feita durante as aulas. Nessa oportunidade os estudantes se propuseram a fazer comentários nas postagens que escolheram ler.

Figura 6 – Profissões Invisíveis. Fonte: os autores
Figura 6 – Profissões Invisíveis. Fonte: os autores

Após o término das três postagens e diversas interações no Blog, foi feita uma pesquisa qualitativa, com os estudantes, a fim de saber qual foi o sentimento experimentado por eles ao terem seus textos divulgados e ao compartilharem seus conhecimentos com os demais colegas da sala. Para isso, o professor optou em colocar no quadro apenas a palavra “sensação” e deixou que eles conduzissem os textos ao seu modo, já que a intenção foi captar as motivações intrínsecas a cada um, haja vista que esta, segundo Nussbaum (2012, apud Albuquerque, Ferreira e Brites, 2016) não dependem de uma recompensa exterior, pois possibilitam ao ser humano um sentimento de autonomia ao mesmo tempo em que alguma necessidade pessoal dele é recompensada.

Considerações finais

Qualquer estudo sobre o empreendedorismo no Brasil e no mundo reafirma a importância desse fenômeno para as economias nacionais, bem como para as sociedades de forma geral. Encontrar o tipo de empreendedorismo que inclua mais do que exclua é adequado à realidade brasileira, e, portanto, uma investigação ser a ser feita.

A proposta deste artigo era verificar a hipótese de que esta afirmação também se aplica ao ambiente formal de educação, neste caso, com estudantes do 8º ano do Ensino Fundamental do Colégio Tupy, em Joinville – SC. Isto foi possível através do trabalho com textos e hipertextos em plataforma colaborativa, no caso, um Blog criado pelos próprios alunos que permitiu a interação entre eles. Durante os trabalhos foi possível perceber o desempenho dos estudantes no que diz respeito à integração, contudo, a análise dos resultados obtidos pode ser verificada com os textos devolutivos das atividades feitas, uma vez que estes representam o grau de satisfação e insatisfação no que tange ao empreendedorismo colaborativo aplicado no ambiente ensino-aprendizagem.

Como a intenção era captar as motivações intrínsecas a cada um – aquelas que não dependem de recompensa – a ferramenta desenvolvida e que serviu de termômetro para descrever essa motivação foi a produção de um texto pelo qual eles foram instigados a desenvolver a sensação que experimentaram ao colaborarem com a aprendizagem na sala de aula. Nesse sentido, eles foram encorajados a também falarem do seu conforto e desconforto em relação à proposta.

Dessa forma, a hipótese de que empreendedores colaborativos podem nascer em sala de aula foi avaliada positivamente. A avaliação dos textos produzidos pelos alunos permitiu compreender o envolvimento da turma a partir de quatro vertentes: a) insegurança; b) compartilhamento; c) liberdade; d) visibilidade.

A palavra “insegurança” apareceu nos depoimentos dos estudantes pelo menos dez vezes. Ela ganhou sinônimos e acepções como: medo, cobrança, intensidade, responsabilidade, divergências de opiniões. A sensação de ter seus textos lidos por toda a classe, e, não somente pelo professor, assustou a vários alunos, num primeiro momento. Alguns se preocuparam com a possibilidade de serem criticados de maneira destrutiva, de não serem compreendidos na sua individualidade e até reprovados pelos demais colegas. Entenderam, no entanto, que a responsabilidade seria maior se suas intenções era ser compreendidos sem que ocorresse alguma divergência. Uma aluna, em específico, relatou que costuma ser muito intensa em suas colocações e que ficou com muito medo que ocorresse alguns confrontos de ideias com as quais não conseguiria lidar. Contudo, 100% dos depoimentos, não relataram momentos de indelicadeza ou desrespeito.

O vocábulo “compartilhamento” apareceu nos depoimentos dos alunos, pelo menos dezoito vezes, a partir de sinônimos e acepções como colaboração, convivência, ajuda mútua, aprimoramento e identificação. Constatou-se, pela leitura dos textos, o contentamento por terem o olhar de seus pares a cuidar de sua escrita, a apontar-lhes erros cometidos, e, sobretudo, por terem a oportunidade de corrigir e terem seus textos corrigidos antes de postar no Blog, aonde o professor irá, também, lhe avaliar. Foram os estudantes que, durante a aula, ainda, descobriram que a partir da plataforma Wix, onde está ambientado o Blog, seria possível “curtir” o texto dos colegas, e isso foi o que muitos fizeram. No final da aula, vários alunos se propuseram a divulgar o Blog para que os professores das demais disciplinas pudessem visitá-lo e também se propusessem a postar os textos produzidos, durante as aulas de suas disciplinas, neste mesmo ambiente. Assim, quando o assunto era a importância do compartilhamento de idéias, a sensação prazerosa de ter seu trabalho elogiado por intermédio dos comentários que fazem parte da plataforma e a oportunidade única de ter o seu “estilo” reconhecido pelos demais e possibilitar que outros se identifiquem consigo foram muitas vezes descritas, nas suas devolutivas. Segundo alguns alunos, essa prática permite melhorar a convivência na sala de aula, ajuda muitas pessoas a perderem a timidez e, mormente, ajuda a acabar com o individualismo, que, de acordo com eles, não é saudável.

A palavra “liberdade” apareceu pelo menos nove vezes, algumas vezes a partir de sinônimos e acepções como discussões, ponto de vista e repertório. Nesse contexto, os depoimentos passaram a ideia da flexibilidade que uma plataforma colaborativa como o Blog proporciona para que cada uma das pessoas possa comparecer como empreendedores em sua maneira de ser. Conforme alguns depoimentos, os trabalhos feitos a essa maneira permitem que todos possam colocar seu ponto de vista com mais facilidade e, como conseqüência, mostrar o que sabe sem ser interrompido, como acontece nas aulas tradicionais onde nem sempre há espaço para isso. Novamente, o termo compartilhamento voltou à tona, uma vez que a troca de ideias foi levantada como resultado dessa liberdade proporcionada pelo trabalho colaborativo, inclusive com o professor. Com este, muitos alunos se sentiram mais a vontade para expressar o que pensavam, sendo que o próprio texto introdutório do Blog foi feito na interação com ele, haja vista que o aluno responsável por essa parte quis a sua opinião sobre o perfil da turma, de modo que não ficasse registrado na plataforma apenas o seu olhar e olhar de seus pares. Ou seja, ficou evidente a necessidade do aluno em produzir um texto onde fosse possível a ele, enquanto escritor, entender como é a personalidade da classe.

A ideia de “visibilidade” apareceu nos depoimentos como difusão, design, importância, atemporalidade, intimidade e até família. Isso porque ao relatarem suas experiências no trabalho com textos em plataforma online muitos alunos mostraram-se satisfeitos por divulgarem seus textos, inclusive para outras salas. Para esses alunos, ter seus textos divulgados online é de suma importância, inclusive suas famílias podem ter contato com seus textos que não ficarão agora restritos ao caderno, onde não se costuma ler. Uma aluna chegou a relatar que mostrou um dos textos ao irmão mais velho que o elogiou muito, foi uma maneira de eles se aproximarem, segundo ela. Outros alunos falaram sobre o aspecto atemporal a que estão propensos os textos postados no Blog, uma vez que você pode lê-los de qualquer lugar e a qualquer hora. Mas, também, houve aqueles que falaram que o design do Blog deve ser alterado a partir do próximo ano. O momento em que ficou mais claro a importância de ter os seus trabalhos reconhecidos foi quando um estudante descobriu que teria como comentar a postagem dos colegas e outro sugeriu que daria para escolher as “Top 3”, ou seja, os três melhores textos, produzidos pelos alunos, sobre determinado tema, poderia ser escolhido pelo professor e ocupar um lugar de destaque no Blog. Muitos alunos acharam a ideia interessante.

Verifica-se, deste modo, que a cultura empreendedora, se trabalhada na sala de aula do Ensino Básico pode promover a coesão social e a promover o conhecimento. A própria escolha do nome do Blog serve de reflexão sobre esse assunto. No momento em que escolhiam, dois nomes ficaram entre os preferidos: Ideias & Parafusos e Os não-maquinários. A justificativa pela escolha, segundo os estudantes, naquele momento, seria pelo fato da imagem da escola estar ainda atrelada à indústria, afinal ela nasceu a partir da Fundição Tupy, empresa esta que está situada em frente ao campus Unisociesc, onde se situa o Colégio Tupy. Segundo, alguns estudantes, o nome seria uma forma de mostrar à comunidade que no ambiente da escola também se produz conhecimento. Assim, no critério desempate venceu Os não-maquinários. Durante a construção do Blog, também, pode-se considerar que os alunos colaboraram, 100% deles se arriscaram ao postarem suas ideias por meio dos textos que hoje alimentam o Blog. Trata-se, portanto, de uma maneira de instigar os seres humanos a empreenderem seus conhecimentos, em grupo, sem perderem as suas individualidades, afinal ele também quer divulgar o que pensa e se propõe a inovar para ganhar a adesão de seus companheiros. Os envolvidos, então, são motivados intrínseca e extrinsecamente, primeiramente porque ganham desejam escrever a sua própria história, e segundo, porque fica evidente que querem ser reconhecidos por isso.

Em síntese, pode-se afirmar que os estudos sobre a aprendizagem colaborativa em sala de aula, ainda podem ser muito explorados. Contudo, que este tipo de aprendizagem leva ao empreendedorismo colaborativo, e, por consequência, qualquer produto desta atividade pode ter mais excelência porque o hábito de agir colaborativamente possibilita parcerias que conhecem mais sobre determinados aspectos do problema ou da oportunidade. Ademais, esta ação descentraliza a figura do professor, colocando-o como mediador do processo ensino-aprendizagem, o que pode contribuir para surgimento de seres humanos autônomos e com atitude para empreender.

Referências

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BAGGIO, Adelar F.; BAGGIO, Daniel K. Empreendedorismo: conceitos e definições. Revista de Empreendedorismo, Inovação e Tecnologia, v. 1, p. 25-38, 2014. Disponível em: https://seer.imed.edu.br/index.php/revistasi/article/viewFile/612/522. Acesso em 18/10/2017.

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[1] Aluno do mestrado em Engenharia da Produção – Centro Universitário Tupy – Unisociesc.

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Atanael Lemos Corrêa
POXA QUE TRISTE!😥

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