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A recusa do licenciando em música na atuação em escola regular: problemas e soluções apontados por discentes e docentes de um curso de licenciatura em música

RC: 25029
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CONTEÚDO

ARTIGO ORIGINAL

ROCHA, Rafael Beling [1]

ROCHA, Rafael Beling. A recusa do licenciando em música na atuação em escola regular: problemas e soluções apontados por discentes e docentes de um curso de licenciatura em música. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 01, Vol. 05, pp. 78-86 Janeiro de 2019. ISSN:2448-0959

RESUMO

o presente trabalho expõe relatos de uma pesquisa de campo que teve o objetivo de descobrir qual é a opinião de alunos e professores filiados a um curso de graduação em música sobre a rejeição do aluno licenciando em atuar na escola de ensino regular. O texto se propõe a fazer um paralelo entre a opinião desses dois grupos, apontando possíveis causas, bem como possíveis soluções sobre temática. É importante ressaltar ainda que esta pesquisa se propõe a fomentar a necessidade de uma reflexão sobre a formação e atuação do docente em música.

Palavras-chave: Escola Regular, Licenciando, Educação Musical.

INTRODUÇÃO

O jornal Estadão de São Paulo publicou em página digital no ano de 2013 que, em média, oito docentes migram todos os dias para outras carreiras, abandonado assim as redes municipais e particulares de ensino. Isso significa que, apenas no estado de São Paulo, todos os anos, três mil professores desistem de dar aulas em escolas de ensino regular. [2] Dados semelhantes podem ser vistos em muitas outras cidades de nosso país, onde centenas de professores, das mais diversas áreas de ensino, abandonam a sala de aula em busca de atuações profissionais mais promissoras.

Não obstante, o ‘ser professor’ ainda possui atrativos para algumas pessoas. Segundo Louzano (2010) o professor da escola regular, por exemplo, encontra algumas atratividades na carreira docente. Essas atratividades estão ligadas a diversos fatores, que dentre os quais poderíamos apontar os seguintes:

1. Flexibilidade. A maioria dos professores tem a opção de trabalhar em tempo parcial e acomodar outros trabalhos dentro ou fora da escola onde atuam, de acordo com suas necessidades pessoais e financeiras;

2. Férias. Os professores têm geralmente férias mais longas (e mais frequentes) do que profissionais de outras áreas;

3. Taxas de desemprego baixas. Os professores raramente ficam desempregados por longos períodos de tempo;

4. Altruísmo. Os professores acreditam que podem contribuir para o desenvolvimento social (LOUZANO, 2010, p. 548).

Essa mesma autora, contudo, chega à conclusão de que mesmo todos esses atrativos “não são suficientes para compensar as condições negativas de trabalho, como o pouco reconhecimento público, e o baixo status, além dos baixos salários e poucas oportunidades de influenciar as políticas públicas, especialmente aquelas que afetam o trabalho docente em sala de aula”, dessa forma, o ‘ser professor’ tem se tornado, de fato, cada vez menos atraente. (MOREIRA apud LOUZANO, 2010, p. 549). Essa realidade, que já não é novidade para professores de áreas como matemática, português, química e física, chega, agora, a classe dos professores de música, uma vez que a lei n° 11.769/2008[3] que colocou a música como conteúdo obrigatório do componente curricular ARTE tem feito com que esse profissional ganhe novamente seu espaço na educação básica brasileira. Ou seja: muitos dos profissionais licenciados em música, e mesmo os que ainda estão em formação, os chamados licenciando, demonstram um índice considerável de recusa à atuação em escola regular (MORATO apud LOURO; SOUZA, 2013. p. 62).

Levando em consideração todos esses dados, essa pesquisa se propõe a apontar, na perspectiva de alunos e professores de um curso de licenciatura em música, quais seriam, para a realidade do professor desta área, os principais fatores que ocasionam esse “não querer” trabalhar na escola regular. A opinião dos alunos e professores que foram entrevistados será exposta em forma de diálogo, onde ambos expressarão seu ponto de vista, apontando problemas e soluções sobre o tema. Diálogo este, que têm simplesmente o intuito de fomentar de uma melhor compreensão do assunto.

PROBLEMAS E SOLUÇÕES – VISÃO DOS ALUNOS

Antes de iniciarmos a descrição dos relatos de alguns alunos e professores de um curso de licenciatura em música, é preciso dizer que, por opção dos entrevistados, todos os dados – como nome e referência institucional, por exemplo – serão substituídos por nomes fictícios. Deste modo, nessa parte do trabalho buscaremos apresentar aquelas que, segundo os entrevistados, são possíveis causas da recusa dos licenciados em música na atuação na escola regular. Outra informação relevante é a de que as falas dos entrevistados serão descritas da forma original em que foram ditas pelos mesmos.

O primeiro argumentos que apresentaremos será do aluno “Miguel”. Ele afirma o seguinte:

– Eu acho que o grande problema de ser professor está na insalubridade das condições de trabalho. O cara vai trabalhar num lugar complicado, com crianças complicadas e às vezes numa escola de estrutura muito ruim. Você não vai ser valorizado por essa profissão e ainda no fim das contas, você vai ganhar muito pouco e ter que trabalhar muito, se estressando, se desvalendo dando aulas até não querer mais; Enfim, você vai fazer muito e vai receber pouco. Esse é grande problema. A coisa tem muitos problemas.

Segundo o próprio “Miguel” a solução para esse tipo de problema seria a seguinte:

Mas eu aponto uma solução que, na minha cabeça, resolveriam todos os problemas: Bom salário para o professor. Se você paga muito bem o professor a profissão é valorizada, aí você vai ter uma valorização da profissão. Por que infelizmente na nossa sociedade é assim: quem ganha mais é mais valorizado e quem ganha menos é menos valorizado; isso é um fato. Se você tem uma valorização do professor através do seu salário, você atrai bons professores. Porque o que acontece é que as pessoas se formam; os bons alunos vão fazer outras coisas, por que não querem ser professores. Os médios e os maus alunos, não tendo muito opção vão ser professores. Então você tem maus professores em sala de aula, recebendo mal e trabalhando muito. Se você aumenta o valor do salário, você valoriza o professore e ainda atrai excelentes profissionais que vão querer ganhar bem e vão fazer bem seu serviço e aí você melhora consideravelmente a educação. No meu ver, se você pagar bem os professores, (com mais intensidade na vez) mas pagar bem mesmo, uns 4 ou 5 mil como base, aí você vai ter uma boa educação no Brasil.

“Robson”, outro aluno do curso de licenciatura em música aponta outros fatores. Vejamos.

Eu fui pra faculdade com a intenção de não ter uma carreira na escola, uma atividade no ensino público. Mas com a oportunidade de estágio eu vi que eu poderia aprender e se possivelmente eu precisa-se exercer a profissão dentro da escola pública eu estaria aprendendo. Mas o estágio ta sendo um pouco frustrante pra mim. Eu estou indo pra sala de aula experimentar algumas coisas, porque apesar de ter tido as matérias pedagógicas que me preparam pra sala de aula, eu sinto que ainda estou tendo que experimentar algumas coisas com as crianças pra ver se funciona. O que ta acontecendo: eu estou me frustrando. Nas coisas que eu proponho eu não estou obtendo resultado esperado. Então é assim, eu já não tinha o objetivo de trabalhar na escola regular, e por enquanto, muito menos; por que ta sendo meio frustrante pra mim. Eu pensei que seria uma experiência positiva aonde eu iria me incentivar a continuar, mas no memento eu estou muito frustrado, porque algumas coisas que proponho em sala não dão certo.

A solução a pontado por “Robson” foi a seguinte:

Eu acredito que a solução é procurar cursos fora ou mesmo os oferecidos pela faculdade pra gente ter uma melhor formação. No momento eu vejo isso como o principal, porque foi o que faltou pra mim. Criar recursos para que os alunos, pelos menos pra mim seria melhor.

Outra aluna, “Carla”, traz ainda outra situação.

Eu percebo que muitos dos meus amigos já tocam e participam de grupos e acredito que muitos deles preferem esse lado artístico a do lado da educação; são poucos que se importam com a educação. Com o lado artístico o músico tem reconhecimento e sucesso muito maior, inclusive no lado financeiro; é muito mais lucrativo. Tem a ver também com o ego da pessoa.

Para solucionar essa situação, segundo ela,

é preciso conscientizar o aluno da licenciatura da importância do professor de música na sociedade desde o primeiro ano, e que isso pode ser conciliado com a vida artística.

A quarta e última aluna que entrevistamos, “Duda”, diz que:

A educação (na escola regular), às vezes, é apresentada de forma muito mascarada pro aluno da licenciatura. Nós aprendemos na universidade coisas que, muitas vezes estão fora da realidade da escola. A falta de prepara já na faculdade é, em minha opinião um grande problema; isso leva o aluno a desmotivação. Eu me lembro de que quanto eu ainda era aluna da escola regular meus professores sempre diziam: “haa… o professor não é bem pago, não tem isso, não tem aquilo”. Isso também é um fator que me desmotiva bastante, eu não quero isso pra minha vida. Eu também percebo que a música não é vista como matéria, é apenas um entretenimento; o aluno não valoriza a aula; isso gera muitos problemas. Também tem a questão do que lecionar. Nós alunos não nós preparamos muito bem.

A solução apresentada por “Duda” é a seguinte:

O aluno precisa se moldar a esses problemas. Nós precisamos centralizar o aluno e pular esses obstáculos. Nós precisamos envolver mais com o sindicato. Com relação aos professores posso dizer de professores que saibam, de fato, o que é atuar na escola regular, não apenas nas teorias, mas na prática.

Percebe-se que pontos diversos são elencados pelos alunos. Partiremos agora para a visão dos professores. Ambos os grupos forma interrogados acerca das mesmas questões.

PROBLEMAS E SOLUÇÕES – VISÃO DOS PROFESSORES

A professora “Mara” construiu sua fala em cima da seguinte narrativa. Vejamos.

Bom, primeiramente eu acho que como a gente que tem acompanhado nos estágios acaba vendo algumas coisas. A valorização do professor, o salário, o reconhecimento da direção, coordenação…isso desestimula bastante e a gente acaba vendo esse quadro de muita gente não querendo ir pra escola regular. Na verdade existe um medo de entrar na escola, medo de enfrentar a escola. E por outro lado (com um sorriso) com o perdão da palavra, é um pouco de preguiça. A vida de professor é uma constante. Tem trabalho de mais, tem que atender família, crianças diferentes e com todo um ciclo social. É lógico que nos vamos ter muito mais trabalho, muito mais transtorno e isso ninguém ta querendo isso. Todo mundo quer as coisas muito fáceis. Então eu acho que esse é um dos pontos mais fortes: a valorização, salário baixo, e todo transtorno e trabalho que a gente enfrenta numa escola, principalmente como professor e aula especial.

Em sua visão:

Solução eu acho que tinha que começar já na licenciatura com os professore sendo mais firmes e exigindo uma maior responsabilidade dos alunos. Colocando maneiras e metodologias diferenciadas pra que a gente educasse nossos alunos da licenciatura a serem mais comprometidos e mais responsáveis. É isso que ta atrapalhando, por que a gente cria uma geração de professores fracos, que não são comprometidos e que não tem nenhuma responsabilidade com o trabalho e com a escola. Porque trabalhar com música é ter envolvimento o tempo inteiro. São os eventos, são os programas, são as aulas, os conteúdos, então é tudo a gente tem que ta integrado com a escola e nem sempre a gente consegue, né. Por conta disso eu acho que a gente tem que ter uma educação diferenciada. Já que a pessoa escolheu ser um professor de música, ela ta fazendo uma licenciatura em música, ela tem que estar conectado com isso, esse é o principal ponto. E depois, lógico, precisamos pensar outros formatos de como fazer isso, ou só aceitar pessoas que realmente estivessem comprometidos com a educação, por que o mercado depois seleciona por si próprio. Por mais que agente forme e tal, depois o cara paga lá na frente de certa forma. Se deu certo ou de não deu. Então se não funciona aqui ele vai ter que correr pra outros caminhos. O ideal é que a gente conseguisse, na licenciatura, conscientizar esse povo, ou aceitar só realmente viesse pra fazer bem feito, ou tentar é melhor o cara nem ser professor. Ta perdendo o tempo dele e o da escola, além de atrapalhar o processo de quem quer fazer bem feito.

Outra professora, “Viviane”, segue na seguinte direção:

Eu acredito que uma das razões do porque da atuação do licenciado em música é ainda um entrave existe simplesmente porque ele tem múltipla outras opções. Ele pode estar dando aula na casa dele com um aluno ou um grupinho com muito menos desgaste e menos barulho. Ele pode atuar em ONGs, ele pode estar em projetos sociais, ele pode estar em igrejas. Ele pode estar ganhando o dinheiro dela apenas com a questão artística, simplesmente por que ele é um artista. Sabe… ele tem outras múltiplas formas de ter o “ganha pão” e pra que ele vai se submeter a toda aquela dificuldade da escola? A gente sabe que é um lugar que tem muitas dificuldade. É barulho, de aluno violento, de burocracias, de papel, muitas gente e um salário muito pequeno. Então pra que que eu vou me matar pra ganhar X, se eu posso, com muito menos esforço ganhar 3 X? Então eu acho que isso é uma coisas que influencia muito. Outra: o preparo do aluno na licenciatura. Se você for observar, a maioria dos cursos de licenciatura não entram em sala de aula no estágio. A maioria das grandes universidades brasileiras públicas não fazem estágio na sala de aula. Então como que o aluno vai pra sala de aula, se ele nem sabe o que é sala de aula? O professor dele nunca foi pra sala de aula. Ninguém incentiva a importância e vivência na sala de aula. Esse é um problemas que agente tem que estar olhado, por que a maioria dos professores de licenciatura, principalmente os mestres e os doutores, eles fizeram um carreira acadêmica mas não passaram pela sala de aula; nem pela escola pública, nem particular. Inclusive o MEC está colocando isso: dentro do corpo docente é preciso que haja uma porcentagem de professores que conheçam a escola. Esses professores a vezes se tornam até mesmo professes do estágio. Como é que eles vão ensinar se não tem vivência? Então acho que esse é um outro aspecto. A falta de incentivo; o professor não tem incentivo. Então se eu vou ser muito mais recompensado fazendo um projeto artístico pra que que eu vou pra sala de aula? Dar 40 aulas por semana pra ganhar uma merrequinha? São vários elementos, na verdade, uma combinação deles. Falta de preparo, falta de salário, falta de estímulo, falta de projetos práticos integradores. A própria escola, muitas vezes, reclama da aula de música. Por que faz barulho, ele (o professor) quer um espaço diferenciado, ele trabalha muito o emocional do aluno e outros professores ficam com ciúmes. A gente tem que levar tudo isso em conta. Pra o nosso aluno não se sinta prejudicado.

Quando a questionamos sobre a solução, ela afirma o seguinte:

Olha, né… Se eu soubesse estaria milionária, mas eu tenho algumas reflexões: Eu acho que a primeira é despertar a valorização e a importância disso para o desenvolvimento do aluno. Então se eu to num curso de licenciatura e eu sei que vai ser importante ter essa experiência com a música. É também valorizar o professor. Não só o professor de música. Sabe…pra que possa ganhar um salário digno fazendo uma coisa que ele goste. A alegria de ver o outro aprendendo é muito grande. Desenvolver no aluno o prazer de servir ao outro. Outra questão: é preparar bem o aluno. Conhecer o que se pode fazer, quais são as possibilidades e criar essa parceria entre escola e professor. Eu acho que o PIBID é um caminho pra criar essa parceria entre o licenciado e a escola, entre o professor universitário e a escola. Olha… o MEC ta exigindo que dentro dos cursos de licenciatura se tenha pelo menos 60% dos professores que tiveram mais de 5 anos na escola; que eles saibam o que é uma escola. É dar as mãos. É todo mundo fazendo, se dedicando nos estágios na escola.

Um terceiro professor faz afirmações bastante inusitadas. Segundo “Pedro”:

Pra mim isso é uma surpresa! Porque um aluno que entra num curso de licenciatura deve ter em mente que ele está se preparando para ser um professor da escola fundamental; lá está o seu principal campo de trabalho. No início desse ano eu fiz uma pesquisa com alunos do 1° ano da graduação e tive uma surpresa: um grande número de alunos quer ser professos da escola regular. Outra hipótese surge no momento que o aluno vem pra licenciatura simplesmente por não ter outra opção de emprego na área da música. Se eu quero fazer música, vou para a licenciatura, mas não que eu queira ser professor de escola regular. Eu faço a licenciatura porque eu não tenho acesso a um bacharelado em música, por exemplo.

A solução para ele seria:

uma reforma da educação brasileira tem que passar por uma valorização deste profissional!

Nossa quarta e última professore complementa dizendo que,

Bom… eu vejo que esse é um problema multideterminado; ou seja, muitos aspectos estão envolvidos na configuração dessa questão. O nosso aluno, muitas vezes, vem pra universidade sem saber o que é uma licenciatura. Ele não vem pra sabendo que licenciatura é um curso para formar professores para educação básica; ele simplesmente se matricula num curso de música. Me refiro especificamente aqui onde trabalho como professora. A desvalorização do magistério é uma realidade. Hoje, no nosso país, ser professor é a ultima opção de uma pessoa.

A solução, segundo ela, deveria passar pelo seguinte ponto:

Nós precisamos de professores mais remunerados e que possam fazer seu trabalho com gosto, e não por falta de opção. Nós não podemos continuar a fazer jornada tripla para ter um salário digno. Também temos a questão da formação. Os alunos não saem da graduação se sentindo preparados pra enfrentar a realidade, principalmente da escola pública. Isso quer dizer que nós professores de graduação não estamos dando conta de preparar nossos alunos. Precisamos de uma reestruturação na grade curricular das licenciaturas para trabalharmos os conteúdos teóricos e práticos de uma forma que o aluno se sinta preparado para ir para a escola regular, principalmente a pública, que parece assustar mais.

ENTRE PROBLEMAS E SOLUÇÕES – HORIZONTES PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

Como vimos nas citações dos alunos e professores que foram mencionadas acima, os problemas que corroboram ao fato de que o professor licenciado em música tem recusado o trabalho na escola regular são multideterminados. Embora tenhamos visto a variedade de motivações, é possível perceber que dois aspectos são os que mais apareceram na fala dos entrevistados. Foram eles: a baixa remuneração e falta de preparo.

Sem dúvida esses dois problemas assolam não apenas a educação musical, mas muitos outros campos da educação, de forma geral. É mais do que emergente a nossa necessidade de buscar olhar de maneira crítica para esses problemas, compreendendo-os não como postulados, mas sim como uma realidade que pode ser transformada.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) e a atual Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2016), afirmam que o ensino de música é um direito de nossas crianças e jovens, e que as escolas regulares precisam garantir que todos os alunos no ensino fundamental se confrontem com essa linguagem artística ao decorrer dos anos do curso. Como garantir que a educação brasileira tenha um ensino de música de qualidade, levando em conta o cenário que construímos ao longo desse texto? Como encontrar soluções para resolver os problemas que apresentam dia após dia no cotidiano escolar? Essa é uma resposta que precisa ser construída coletivamente, levando em conta a gama de diversidades que caracteriza nosso país.

Esperamos que esse texto tenha contribuído para trazer a tona alguns dos desafios que são perceptíveis na educação brasileira. Desafios estes que podem ser vistos na sala de aula, mas que também estão presentes nas universidades e nos centros de formação de professores.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular – Documento preliminar. MEC. Brasília, DF, 2015.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Arte. arte / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997.

LOUZANO, P. et al. Quem quer ser professor? Atratividade, seleção e formação docente no Brasil. Quem quer ser professor? Est. Aval. Educ., São Paulo, v. 21, n. 47, p. 543-568, set./dez. 2010.

LOURO, A. L; SOUZA J. Educação musical, cotidiano e ensino superior. Tomo Editora, Porto Alegre. 2013.

Dados disponíveis em: < http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,por-ano-3-mil-professores-desistem-de-dar-aula-nas-escolas-estaduais-de-sp,1069886,0.htm> acesso em 14/11/13.

  1. Essa lei já foi substituída pela atual lei 13.278/2016.

[1] Doutorando em educação escolar Unesp-Araraquara, mestrado em música (Unicamp), licenciatura em educação artística com habilitação em música (Unasp).

Enviado: Março, 2018

Aprovado: Janeiro, 2019

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Rafael Beling Rocha

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